ㅡ Esta é a sua sétima detenção este mês. ㅡ Arthur Ketch reclamou com seu sotaque britânico, fazendo soar mais como um monte de relinchos aos ouvidos de Dean.
ㅡ E daí? ㅡ Dean resmungou, curvando sua cadeira para trás, as pernas bem abertas enquanto encarava o segundo marido de Mary com desgosto, vendo-o se curvar para frente na mesa e cruzar as mãos dando-lhe o olhar familiar de desaprovação. ㅡ Por que você me chamou aqui de novo?
Dean olhou entre e o garoto de aparência estranha parado desajeitadamente contra a parede adjacente a eles segurando a alça de sua mochila carteiro como se não soubesse o que fazer com as mãos.
Não era incomum Ketch solicitar sua presença em seu escritório para algum assunto sério ㅡ talvez ele achasse que poderia chamar isso de "coisa de pai e filho", mas Dean preferia engolir uma dúzia de cactos do que chamar Ketch de pai. O cara era tudo, menos convencional, e para Dean nada era pior do que sentar no escritório de seu padrasto, esperando por outra conversa maravilhosa sobre responsabilidade e futuro.
No entanto, era tipicamente um empreendimento privado e Dean honestamente não tinha ideia de quem era o garoto.
Dean nunca o viu por aí antes, mas ele era péssimo em lembrar os rostos das pessoas com quem flertava; muito mais ocupado em sorrir para elas em um segundo e estar afundando seu pau em um buraco quente até o esquecimento no próximo.
Só que esse cara não uma de suas conquistas; isso Dean sabia com certeza. Dean realmente não, bem não mexia com pessoas que pareciam... uh...
Era difícil não colocar isso no que Mary chamava de palavreado rude, mas por mais que tentasse se expressar da maneira mais inofensiva possível qualquer termo para descrever o cara era cruel. Olhando bem e com muita atenção dava pra ver que o sujeito não era feio, só que também não fazia muito esforço pra se ajudar em termos de aparência. "Desleixado" parecia uma aproximação adequada. O pior tipo de gente na opinião de Dean.
Qual era a dificuldade em usar um pente, afinal? Ou fazer um corte decente? Aquilo mais parecia uma bagunça louca de fios espetados do que cabelo humano. Sem falar que a cor era de um castanho feio, doente e irregular nada atraente, poderia muito bem ter uma marmota na cabeça e ninguém notaria a diferença.
Dean adivinhou que ele era um dos nerds imaculados por causa dos óculos grossos e pela maneira como vestia o uniforme. Sem amassados, sem qualquer costumização própria. O blazer azul marinho totalmente abotoado, mas dava para ver uma pequena parte do colete cinza por baixo, parcialmente coberto pela gravata azul medianamente torta e com um nó mal feito. Nah, risque isso. O dano da gravata era mais como uma ausência de habilidade em dar um nó decente. Isso sem falar que sua postura dava a impressão de ter um consolo de quinze centímetros na bunda.
Dean encarou seus coturnos esperando não ser pego olhando, porque e se isso que fosse contagioso?
Ele tentou focar sua atenção no que Ketch dizia, e não no ser bizarro olhando para o canto da parede como se tentasse cavar um túnel com o poder de sua mente.
ㅡ Não se lembra de vandalizar nossa biblioteca histórica? ㅡ Ketch perguntou, já cansado, embora apenas dez minutos tivessem se passado. Dean deu de ombros, incapaz de lembrar. ㅡ Você escreveu "chupadores de rola" nas paredes com tinta spray e desenhou genitálias em detalhes nas estantes.
Dean gargalhou. Ele jurava que o nerd esquisito quase riu também, mas se acalmou e disfarçou uma tosse em vez disso.
ㅡ Essa foi uma das boas.
ㅡ Não, não foi. Foi vulgar e inapropriado ㅡ Ketch suspirou, apertando a ponte do nariz. ㅡ Se você não fosse filho da minha esposa, o resultado seria expulsão.
Dean pousou a cadeira no chão. As narinas dilatadas. O ar na sala de repente tenso.
Dean lançou seu olhar mais gelado para Ketch e o combinou com seu sorriso característico de escárnio.
ㅡ Então, tipo, eu dependo da sua generosidade?
Ketch o ignorou, recostando-se na sua cadeira de espaldar alto e continuou falando:
ㅡ Acho que não preciso lembrá-lo de que você também abandona aulas três vezes a cada semana? Comparecer ao treino de vôlei não é desculpa para suas ausências durante o horário de aula. Sem falar que insiste em praticar coito nos depósitos e salas de aula vazias. E pelo amor de Deus não tente negar.
ㅡ Vamos, velho. Você sabe como me sinto sobre a escola ㅡ Dean bufou, mantendo a voz fria. Ele deu uma olhada rápida para o garoto no canto, percebendo que ele estava ouvindo atentamente a conversa.
Dean cutucou o canto da boca com a língua; ele odiava intrometidos. Quando seus olhares se encontraram, Dean levantou uma sobrancelha com desprezo. O menino ficou tenso, desviando o olhar para o chão na mesma hora.
Bom. Pelo menos ele sabia seu lugar.
ㅡ Sei e é por isso que vou negar sua inscrição na faculdade. ㅡ disse Ketch, e no segundo em que essas palavras saíram de sua boca, Dean se retrucou por reflexo.
ㅡ Você não pode fazer isso. ㅡ suas sobrancelhas franziram de ódio, as mãos em cada lado dele se fecharam em punhos.
ㅡ Sim, eu posso. Se quiser seguir sua carreira no vôlei sugiro que faça por merecer. ㅡ Ketch disse severamente, cruzando as mãos sobre a mesa. ㅡ É do seu lugar no time olímpico que estamos falando.
ㅡ Que porra, Arthur! Seja razoável e pense nisso civilizadamente. ㅡ disse ele, a voz subindo de forma desigual esperando que soasse convincente. Seu padrasto, por outro lado, não ficou nem um pouco impressionado.
ㅡ Tivemos essa conversa meses atrás, antes de você começar seu último ano. ㅡ Ketch respondeu suavemente, ignorando a maneira como a boca de Dean estava aberta, pronto para discutir. ㅡ A esta altura não confio mais em você, então estou te colocando nas mãos do meu presidente do conselho estudantil.
ㅡ O que- Com licença, senhor?
Dean virou a cabeça para o garoto imediatamente surpreso. Oh, aquela não era sua voz, era?
Porra.
ㅡ Você me ouviu, Sr. Novak. Seu histórico é imaculado e mais impecável do que qualquer outro registro que vi em meus anos dirigindo este colégio interno.
Dean revirou os olhos, agarrando os cabelos.
ㅡ Eu... obrigado, mas- há outras pessoas, talvez- outros que podem ser mais... adequados. Como... como Kevin Tran! Oh, ele é ótimo, eu garanto. Posso falar com ele, vou ver o que posso fazer, Kevin certamente- com certeza pode ser mais capaz. ㅡ disse o Novak tropeçando nas palavras. Seus olhos estavam arregalados quase em pânico.
Dean gemeu internamente. Esse cara era realmente presidente do conselho quando mal conseguia falar?
ㅡ Entendo sua hesitação, Sr. Novak, mas temo que Kevin seja muito tolerante com Dean devido sua reputação. Minha decisão é final, portanto vocês dois vão trabalhar juntos para reabilitar o histórico de Dean. ㅡ Arthur bateu palmas, mostrando aos dois adolescentes um sorriso de boca fechada.
ㅡ Mas nem temos aulas juntos. ㅡ Novak rebateu quase choramingando. Ele estava retorcendo a alça de sua mochila em ambas as mãos com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos.
Dean admitiu que ficou um pouco chocado por esse sujeito esquisito não parecer deleitado por ter a chance de estar ao seu lado vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Dean poderia citar alguns que matariam para estar no lugar do Novak.
Embora, quanto mais ele pensava sobre isso, mais parecia difícil de engolir.
Ele, Dean Winchester, um dos caras mais bem afeiçoados da escola, andando por aí com alguém tão abaixo da média quanto Novak não era algo que se pudesse imaginar imediatamente.
Era como misturar abacaxi com pizza. Cheetos e leite. Salame e uvas.
Não era só a sua carreira no vôlei que ele trabalhou duro para ter, mas sua reputação também estava em jogo aqui, porra. Este seria o fim de sua vida. Seu padrasto realmente queria arruinar toda a sua existência desta vez.
ㅡ Ah sim, vocês tem. Dean simplesmente nunca vai às aulas. Ele é um garoto inteligente, mas temo que suas prioridades tenham sido... mudadas. ㅡ disse seu pai. ㅡ E antes que eu me esqueça, porque acho que o Sr. Novak aqui é um exemplo brilhante de comportamento estudantil, optei por revogar Dean de seu dormitório particular. Parabéns, rapazes, vocês agora são colegas de quarto.
Foda-se não.
ㅡ Woah, woah, woah. ㅡ Dean levantou-se, estendendo as mãos, impedindo o Ketch de continuar. Pelo canto do olho, ele notou Novak cobrindo o rosto com ambas as mãos desamparado. ㅡ Esse é o meu espaço, cara. Eu trabalhei pra ter isso.
Ele não sabia por que se sentia traído, mas era como se tivesse levado uma rasteira.
ㅡ Exato. Agora você vai trabalhar para recuperá-lo. ㅡ disse Ketch, levantando-se da mesa. Ele caminhou até ficar na frente de Dean estendeu a mão e deu tapinhas em sua bochecha, ironicamente da mesma maneira que Dean fizera com Bela na semana anterior. ㅡ Sr. Novak, já arranjei para você se mudar para a cobertura ainda esta semana. ㅡ disse ele com a atenção voltada para o menino ao lado deles.
Dean baixou a cabeça, a mandíbula cerrada com força.
ㅡ Quanto tempo isso vai durar? ㅡ Novak perguntou, sua voz derrotada quando Ketch estava prestes a sair da sala.
Dean fechou os olhos com força, rezando para que este calvário não levasse mais do que um mês-
ㅡ Quatro meses e então vocês podem voltar ao normal quando as férias de inverno começarem ㅡ disse Ketch.
Com isso os ombros de Dean cederam, um músculo contraindo-se na curva de sua mandíbula tensa.
ㅡ Eu vou agora para que vocês dois possam se conhecer. Amanhã, quero que vocês dois comecem a trabalhar no histórico de Dean o mais rápido possível. ㅡ e com isso, a porta se fechou, deixando Dean e o Novak sozinhos.
Dean respirou fundo pelo que pareceu uma eternidade. Então inclinou a cabeça para cima, as sobrancelhas franzidas de raiva.
ㅡ Você não vai dizer nada? ㅡ perguntou.
O Novak o encarou com o que parecia repulsa contida e Dean teve que se segurar para não limpar o chão com ele por se atrever olhá-lo dessa maneira.
ㅡ Ele é o diretor. O que há para dizer? ㅡ Novak zombou, inclinando-se para pegar uma pilha de cadernos na mesa de Ketch e agressivamente empurrando-os dentro da mochila.
ㅡ Alguma coisa que eu deva saber talvez. ㅡ Dean respondeu quase rosnando, cruzando os braços sobre o peito.
O mais jovem dos dois inclinou a cabeça fazendo uma careta cheia de desconfiança.
ㅡ Sério, Dean? Você realmente quer saber alguma coisa sobre mim?
Bem, que se dane.
A maneira como cara falou fez Dean odia-lo. Dean já tinha tido o bastante dessa merda por um dia, não precisava se obrigar a aturar mais isso também.
ㅡ Quer saber? Foda-se. ㅡ ele estalou, chutando a cadeira ao se levantar, suas botas fazendo um ótimo trabalho em ressoar a cada passo pesado. Dean ficou satisfeito com a maneira como Novak se afastou dele. ㅡ Eu não me associo com gente do seu tipo mesmo.
Dean forçou um sorriso, certificando-se de espalhar as palavras com o máximo de amargura e ódio que podia antes de bater a porta atrás dele. Seriam quatro longos meses e Dean já estava cansado de cada dia por vir.
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