História Quer irritar os céus? - .único

Adão estava estressado naquela divina manhã, não negaria. Havia passado as últimas horas recebendo reclamações sobre como revelar o extermínio de demônios iria prejudicar a ordem do céu. Não era como se fosse culpa dele, afinal. Não entendia porque sempre pegavam no seu pé. Adão apenas tinha falado da boca pra fora; não era tão difícil perceber isso. Mas ainda assim, como sempre, era o alvo principal de discussões. Estava cansado de receber ordens, de estarem sempre esperando o máximo dele. Porra, ele era Adão; o fodendo primeiro homem a pisar na porra da terra! Deveria ter mais moral, e não obedecer regras igual um cachorrinho em treinamento. 

Com tais pensamentos em mente, decidiu parar na frente da casa de um anjo muito bem conhecido por si. São Pedro era seu nome, um afeminado loirinho que enchia o seu saco sempre que podia. Em dias onde desobedecer regras divinas era mais divertido do que caçar demônios, Adão casualmente visitava São Pedro para os dois quebrarem um pouco as regras. Não era nada além de beijos e fodas não significativas. De qualquer forma – e em palavras mais simples –, estava puto e queria descontar a raiva beijando alguém. E quem melhor se não o maior ex-gay de todos os céus? Que se dizia ter se curado dessa horrível doença, e que no final das noites implorava para que Adão fosse mais fundo? Obviamente era sua melhor opção. 

A porta rapidamente foi aberta, revelando um São Pedro ainda de pijamas e com cara de sono. Ele lentamente levantou uma sobrancelha e se certificou que não tinha ninguém ao redor para ouvir a conversa deles. 

— Adão? O que faz aqui a essa hora? — Ele perguntou, e Adão imediatamente abriu um sorriso. — Não me diga que... Entra logo! — E assim São Pedro o puxou para dentro de sua casa. Afinal, conversar no meio da rua não era a melhor ideia. Seria arriscado se alguém os visse. 

— A porra da chefia tava reclamando comigo de novo! Fiquei de saco cheio esperando ela terminar de cuspir na minha cara. — Adão iniciou seus lamentos, recebendo em resposta um suspiro de São Pedro. 

— Quem mandou você dizer na frente de todos sobre o extermínio? Você sabe muito bem que essa é a única regra que você não pode quebrar de jeito nenhum. 

— Esse negócio de não poder quebrar regras enche a porra do meu saco. Porra, se você respira já aparece um anjo pra te repreender. Parece que em fila de cu eu já entro tomando. — Adão lamentou enquanto se jogava no sofá, com São Pedro lhe acompanhando e sentando-se ao seu lado. 

— Por que você gosta tanto de irritar os céus? 

— Eu não gosto. — Adão pensou um pouco mais na resposta. — Eu gosto de me sentir livre, de fazer tudo que eu quero sem ter anjinho pra reclamar. Gosto de ser eu, de me divertir. O problema é que pra isso eu tenho que fazer a Sera ficar meia hora gritando no meu ouvido. E quando finalmente arranjo oportunidade pra dizer "agora vai" aparece alguém do meu lado dizendo "só se for pra trás." — Disse e São Pedro riu de suas lamentações. 

— Então, por que veio em minha residência? Não vai achar a solução dos seus problemas aqui. — São Pedro disse, encarando Adão com expectativa no olhar. Ah, maldita homossexualidade dentro do seu ser, que lhe fazia ficar mais emperiquitado do que gata no cio. Felizmente, não era amor, paixão, ou algo do gênero. Era apenas uma vontade tremenda de dar para ele até o dia amanhecer. Nada demais. 

— Vim buscar mais problemas, se você não se incomodar. — Adão sorriu cínico, do jeito que São Pedro mais adorava. Sua bicha interior chegava a gritar quando avistava aquele sorriso nos lugares. Adão era o tipo de homem no qual fazia São Pedro ter pensamentos que não se pode falar em uma igreja; ou, no pior dos casos – e ironicamente o seu caso – no próprio céu. 

— Quer irritar os céus, Adão? — Sorriu, se aproximando mais de Adão no sofá. 

— Não precisa perguntar duas vezes. — E assim, São Pedro não tardou em avançar nos lábios de Adão de forma desesperada. Ambos suspiram ao sentirem o contato de suas línguas se encontrando e enroscando-se uma na outra. Adão sentia que desceria para o inferno a qualquer segundo, mas mesmo assim decidiu continuar. São Pedro por outro lado, agradecia a Sera por ter irritado tanto Adão ao ponto dele vir parar em sua casa. Fazia tempo que os dois se encontravam dessa forma tão íntima, então não negaria que ficou bastante feliz ao ver Adão em sua porta. 

Os dois se separaram após um tempo pela falta de ar, e Adão imediatamente sorriu de um jeito em que São Pedro entendeu o recado. Em seguida, os dois se agarraram até conseguirem chegar no quarto mais acessível do momento. E naquela madrugada, dois anjinhos aproveitaram mais do que deveriam o conforto das camas celestiais.

Adão poderia dizer que se encontrava com São Pedro apenas por rebeldia, ou por algo relacionado a isso. Mas em seu interior, sabia que estava viciado naquele loirinho, e sabia que não iria largar desse vício tão cedo. Talvez nem quisesse, pois enquanto tivesse São Pedro para lhe ajudar a irritar os céus, iria aproveitar daquela oportunidade.