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História Querido destino - Liz


Escrita por: mariatfonsecas

Capítulo 13 - Liz


Liz

O mês e meio seguinte passou rápido. O Théo apareceu poucas vezes, então eu e a Mari tocávamos a empresa, nosso relacionamento caminhava devagar, sem pressão nem pressa, de um jeito que estava confortável pra nós duas, e nós até fomos no casamento do Théo e do Max. Estava tudo muito bem, alguma coisa tinha que acontecer.

Nós dormimos na casa dela na quinta. Ela terminava de se arrumar pro trabalho e eu lavava a louça quando senti uma pontada na altura da bexiga, uma dor chata, mas suportável. Quando terminei, senti algo escorrendo por minhas pernas.

Sangue.

Um turbilhão de coisas se passaram por minha cabeça.

— Amor – chamei e ela apareceu na cozinha.

Seu sorriso evaporou quando ela viu a linha que descia pela minha perna.

— Meu Deus, Liz. O que aconteceu?

— Eu não sei. Eu senti uma fisgada aqui – apontei a ela o lugar – e quando eu vi tava sangrando.

— A gente vai pro hospital agora – ela falou pegando nossas coisas.

Eu usava um jeans claro e a linha de sangue que descia por minha perna esquerda até o meio da panturrilha era facilmente notada. Cruzei as pernas, escondendo a mancha, e descansei no ombro dela enquanto esperava ser chamda.

Pouco tempo depois, uma enfermeira apareceu e me chamou. Nós nos levantamos e a seguimos. Ela parou em frente a uma porta, onde se lia “Atendimento 1”, abriu-a e nós entramos. Ela fechou em seguida.

O médico nos recebeu e nós sentamos. Ele analisou o prontuário e li bordado no bolso do seu jaleco “Dr. Marcelo”, em baixo, “Ginecologista”. Foi aí que meu coração gelou e diversas coisas passaram na minha mente. Se eu estivesse certa, aquele não era um bom sinal.

Ele começou perguntando o que tinha acontecido e eu expliquei. Em seguida ele se levantou e me chamou para deitar em uma maca. Fiz o que pediu, a Mari o seguia. Ele fez uns exames preliminares, me perguntando se havia dor onde ele apertava. Terminado, nós voltamos para sua mesa e ele disse:

— Bom, à primeira vista eu não consigo identificar o que seja. Faz quanto tempo seus últimos exames?

— Uns três anos. – respondi.

— Então eu vou te pedir um exame de sangue completo – ele anotava o que dizia – e um ultrassom de toda essa área abdominal. Vamos trabalhar por eliminatória – ele me entregou o papel. – Assim que ficar pronto você traz de volta pra eu ver. Você pode levar ali na recepção que as enfermeiras vão te levar pra fazer.

Nós nos despedimos e fizemos o que ele indicou.

Um tempo depois, com os exames em mãos, nós voltamos ao consultório. Assim que sentamos ela agarrou minha mão, segurando firme. Ela parecia mais preocupada que eu. O médico começou a olhar os exames, anotando suas conclusões.

— O exame de sangue está ótimo – ele guardou e abriu o ultrassom. – Tudo bem com os rins, pâncreas, baço – ele folheava –, bexiga normal – e na última folha vinha ele, o útero. Ele parou, o analisando demais, e foi aí que eu me preocupei. – Liz, você está grávida de gêmeos.

O QUÊ?

Eu só conseguia pensar no que a Mari tava pensando daquilo.

Merda.

— De quanto tempo? – ela perguntou.

— Umas nove semanas – ele respondeu.

Até aquele momento eu não tinha pensado naquilo, mas acabei me lembrando do dia que eu dormi com o Théo.

Merda.

Nós ficamos em silêncio por um tempo e ele continuou:

— Bom, a boa notícia é que nós achamos o motivo desse sangramento. A má notícia é que nós vamos ter que intervir – ele nos mostrou o exame, marcando com uma caneta o que ele nos indicava. – Há um coágulo aqui – ele circulou com a caneta, bem em cima na imagem.

Dava pra ver nitidamente dois bebês e eu quis surtar. Eu seria mãe de dois bebês. Eu estava ferrada. Sorri leve, querendo chorar, e levei uma mão à barriga.

— Eu não acho que seja algo grave – ele continuou – Nos seus exames antigos tem algo que indique a formação desse coágulo?

— Não – respondi ainda em choque.

A Mari percebeu minha falta de capacidade de raciocinar naquele momento.

— Doutor, ela sofreu um acidente três anos atrás, isso pode ter influência? – ela disse.

— Pode ser a causa. Algum vasinho pode ter rompido e os remédios terem coagulado o sangue, evitando uma hemorragia ou talvez nem isso. Casos assim são muito incertos, talvez o acompanhamento que ela teve não indicou essa formação porque era muito pequena, mas cresceu com o tempo. Agora o que nós vamos fazer é retira-lo e fazer um acompanhamento para evitar que volte.

— Mas e os bebês? – perguntei.

Ele se ajeitou na cadeira e meu coração errou uma batida. Eu nem imaginava que aquilo aconteceria naquele momento das nossas vidas, além de que eu não estava preparada pro que viria a frente, mas eu não ia fazer um aborto por nenhum motivo que fosse. Seria egoísta demais da minha parte “me livrar” de um “problema” que eu causei. Apesar de todas as circunstâncias que cercavam essa situação, eu enfrentaria aquilo. Com ou sem ajuda.  

— Nós precisamos retirar, Liz. Eu não posso te prescrever um anticoagulante nem esperar o parto. Esse sangramento que você teve é porque eles estão comprimindo o coágulo. Como é um procedimento invasivo, há o risco de afetar os fetos, mas se não tirar e ele estourar, nós perdemos vocês três – ele estava sério.

Aquilo me assustou um pouco. Doeu pensar que eles podiam não resistir. Eu me sentia mal por ter que fazer aquilo, por ter que violar o espaço e o tempo deles, mas era necessário.

— Tudo bem doutor – falei. – Vamos fazer isso.

— É uma coisa simples, parecido com uma colonoscopia. Depois o próprio corpo elimina o sangue. Eu quero te ver toda semana com um ultrassom novo, pra gente ver como vai a formação deles. Sempre quando você tiver um sangramento você vai me ligar e nós vamos olhar se é do coágulo ou não. O procedimento é rápido, mas eu quero que você fique em observação pelo menos até amanhã caso você tenha alguma reação contra o sedativo - ele apertou um botão e uma enfermeira apareceu na sala enquanto ele entregava todos os papéis e exames à Mari.

— Larissa, eu preciso que você arrume a sala dois. Leva a Ana com você. Depois você vem busca-la e me encontrem lá em quinze minutos. Ah, e já deixa um quarto pronto pra ela ficar até amanhã – ela assentiu com a cabeça e saiu. – Eu vou me preparar e te encontro lá. Vocês podem aguardar lá fora se quiserem – ele saiu da sala, nós o seguimos e sentamos na sala de espera.

Ela passou o braço ao meu redor e eu comecei a chorar.

— Vai dar tudo certo, meu amor. Fica calma – ela falou.

— Não é disso que to com medo – respondi, fungando.

— É de que então?

— De perder você também – falei.

Ela segurou meu rosto entre as mãos e sorriu.

— A gente não tava junto ainda, linda. Nós vamos passar por isso, ok? – eu balancei a cabeça em afirmação e ela secou meu rosto com os polegares.

Em seguida ela me deu um beijo breve e me abraçou forte, levando aquela preocupação embora.

Pouco tempo depois, a enfermeira apareceu. A Mari segurou minhas mãos e falou:

— Eu vou ligar pro Théo e nós vamos estar te esperando aqui quando acordar, tá bom?

Eu assenti com a cabeça e dei um beijo nela.

— Te amo – ela disse.

— Te amo – respondi.

Entrei atrás da enfermeira em uma sala toda azul clara, com uma maca e algumas outras coisas que eu não sabia o que eram, ela me entregou uma camisola e me indicou o banheiro para que eu me trocasse. Quando voltei, todos me aguardavam. O médico me acomodou na maca, me deixando na posição de parto, com as pernas pra cima e me explicou o que faria enquanto as enfermeiras terminavam de arrumar as coisas. Uma delas entregou uma seringa a ele, que pegou meu braço esquerdo e disse:

— Eu vou te aplicar um sedativo leve, não vai te apagar por muito tempo, mas você vai ficar sonolenta até amanhã – a agulha entrou. – Então... – a partir daí eu não ouvi nem senti mais nada, a inconsciência me dominou.



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