Os dias pareciam passar mais devagar depois que Evelynn havia lhe feito a proposta. Além do mais, Ahri estava curiosa para descobrir se a mulher poderia ajuda-la com seu pequeno probleminha chamado bloqueio criativo – ou completa falta de aptidão. Mas ela não ligara, não deixara nem mesmo uma única mensagem. Já completava uma semana inteira e Ahri estava começando a perder as esperanças. Afinal, era de Evelynn que ela estava falando, a mulher que simplesmente desapareceu da sua vida sem razão alguma e na semana seguinte fazia parte de uma das bandas mais famosas da américa. É de se imaginar o choque que foi, ela se perguntando se a amiga tinha sido sequestrada quando na verdade ela só foi tentar a vida do outro lado do mundo. Isso sem dizer uma única palavra é claro.
Ahri estava cansada da completa falta de comprometimento de Evelynn. A sensação que tinha era que sempre a estava perseguindo e ela não gostava de perseguir ninguém.
Bufou, escorando a cabeça na poltrona velha. Ela havia se encolhido ali no meio, de modo que pudesse deitar com a cabeça em um dos braços do móvel enquanto as perna se penduravam no outro. O caderninho de capa de couro tinha algumas frases rabiscadas. Ela chamava aquilo de processo criativo, mas uma parte zombeteira de si nomeava de desastre gourmet. No momento só poderia ler as frases “Evelynn é uma idiota” e “sinceramente com raiva”. Ela encarava aqueles rabiscos como se uma grande ideia revolucionaria viesse a surgir dali – Ahri lera algo sobre encontrar criatividade na intensidade dos sentimentos. Mas aparentemente, sua mente não estava de fato focada naquilo.
O celular tocou, e ela se apressou para tentar alcança-lo com uma das mãos, o que acabou a fazendo cair no processo.
- Auch – Ela tocou o ombro que colidira com pequena mesa de centro e logo em seguida pegou o celular só para encontrar um numero desconhecido na tela. Ahri atendeu sem hesitar – Boa noite.
- Gumiho, você não vai acreditar, essa semana foi uma loucura – Evelynn dizia do outro lado da linha. O coração de Ahri parara de bater por um instante, simplesmente por ouvir aquela voz e saber que ela não havia fugido – Um filho da puta bateu no meu carro e ainda veio dizer que a culpa era minha. Aí você sabe, tive que entrar em contato com um dos meus advogados antigos e mandar o meu bebe para o concerto.
- Nossa, e você está bem? – Ahri se ajeitou sobre o carpete empoeirado, escorando seu queixo sobre o braço que descansava sobre os joelhos dobrados.
- Eu? Ah, sim, eu estou ótima. O babaca que não vai estar, depois de ter que pagar por tudo que me causou.
- E o carro?
- Bom, ficou amassado é claro. Era... – Sua voz sumiu por um instante – Só um momento – Ahri ouviu o barulho de teclas do outro lado da linha – Aquele Lexus LC, cor de vinho. Você deve se lembrar dele.
- Não é o seu carro favorito?
- Isso, esse mesmo. Você deve imaginar o quanto eu queria socar a cara daquele babaca. Mas o que eu quero dizer mesmo é que... Bom, você pode vir amanhã?
- Amanhã? – Ahri se levantou, tentando encontrar onde deixara a agenda com os números de telefone das corretoras, mas a falta de luz do apartamento não a estava ajudando – Eu preciso saber o que eu posso levar. Você não me deu detalhes.
- Só traga as roupas que você vai usar, eu não tenho muito espaço aqui.
- Eu preciso levar outras coisas. Como o meu notebook e o violão.
- Um violão? – Ahri ouviu mais barulhos de teclas sendo apertadas – Eu não sabia que tocava.
- Eu estou tentando aprender, para compor melhor, essas coisas.
- Certo, eu acho que cabe um violão. Só não traga muitas coisas, tipo, só o essencial.
Ahri revirou os olhos, e por fim achou a agenda com os números, oque a fizera dar um pequeno pulo comemorativo.
- Tudo bem, e... Você poderia me buscar? Eu estou sem carro.
- Meu deus, Ahri. Eu vou ver o que posso fazer, mas eu te ligo – Eve suspirou do outro lado da linha – Até amanhã, beijos – E desligou.
Ahri ficou um tempo com o celular mudo no ouvido. Evelynn conseguia ser especialmente insuportável quando queria. Mas no final, ela acabou ignorando todo o desconforto para começar a arrumar suas coisas.
...
Depois de todo um discurso desgastante sobre o quanto era importante ter seu próprio carro, Evelynn finalmente havia concordado em busca-la em seu apartamento. O caminho foi silencioso, a dona do carro se limitava apenas a olhar para frente e se concentrar nos carros em movimento. Evelynn sempre buscava os caminhos mais vazios para que pudesse correr um pouco além do limite e quase matar a pobre Ahri do coração. Mas Ahri não se dava o luxo de reclamar. A verdade é que o clima estava tão estranho que se as janelas não estivessem abertas, o carro com certeza sofreria alguma espécie de implosão e mataria as duas junto, de uma vez só.
Quando o carro parara enfrente ao enorme apartamento prateado, Evelynn se recusara a entrar na garagem e preferira estacionar o veiculo em frente a porta. O que para Ahri era extremamente estranho e duvidoso, uma vez que Evelynn odiava quando tinha que deixar seus automóveis em locais desprotegidos.
- Estão fazendo uma reforma – Foi o que ela disse quando Ahri questionou e depois seguiu para dentro do prédio.
O apartamento de Evelynn, ao contrario do que ela tinha dito por telefone, era bastante espaçoso. Os sofás almofadados eram enormes e aconchegantes, o que foi um alivio para Ahri, já que teria que dormir ali por sabe-se lá quanto tempo. As janelas estendiam-se do teto ao chão, onde entre elas havia uma enorme porta de vidro que dava para uma boa cobertura. Ahri podia ver através do filtro de luz da janela a tão importante jacuzzi estalada no chão da cobertura. Os moveis eram um tanto que modernos, embora tudo fosse feito de madeira escura e o que não era madeira assumia um tom roxo ou preto.
- Não poderia pertencer a outra pessoa – Ahri comentou, soltando uma das malas sobre o carpete com desenhos de losangos sem preenchimento.
- Ei, não deixe as suas coisas aí! – Evelynn repreendeu – Vai ficar espalhado.
- Tudo bem, mas onde você quer que eu deixe?
- Ah, bom... Eu não pensei nisso – Disse reflexiva, enquanto procurava com os olhos um local menos desconfortável onde Ahri pudesse guardar suas coisas.
- Eu preciso deixar em algum lugar.
- Eu sei, você pode... Eu não acredito que estou dizendo isso, mas... Você pode deixar no meu closet? Você pode... pegar o que quiser quando precisar, mas por favor, não toque em nada que não seja seu.
Ela franziu as sobrancelhas, como se estivesse realmente preocupada.
- Cruzes Evelynn, eu sabia que você era meio doida com carros, mas não pensei que fosse com tudo.
- Não fui eu que decidi que dividiríamos uma casa – Ela resmungou, virando as costas para Ahri.
- Acho que é por isso que você nunca assume relacionamentos – Provocou, rindo, enquanto a seguia para o corredor.
- Cale a boca, sua idiota – Evelynn rolou os olhos.
Depois de guardar suas coisas no closet, Evelynn a expulsara do quarto e avisou que teria que sair. Ahri apenas balançou a cabeça e seguiu para o sofá – seu espaço limitado e começou a escrever em seu caderno.
O dia passara rápido, mas a tarde começou a se tornar entediante. Absolutamente nada que escrevia parecia bom. Para Ahri era tão difícil compor que a tarefa se tornava insuportavelmente desgastante com o passar do tempo. Ela até mesmo tentou aprender mais algumas notas de violão, mas no fundo ela nunca gostou de fato do instrumento. No final do dia decidiu tentar inventar alguns paços de dança, embora tudo parecesse um pouco desajeitado.
Ela mudou a localização de seu “estúdio” para a cobertura. A noite já começava a pintar o céu e seu corpo começava a falhar. Mas ela continuava com os movimentos aleatórios enquanto uma batida de um pop remixado explodia para fora de seus fones de ouvido. Seus olhos estavam fechados enquanto o vento tornava-se mais consistente e gélido sobre a sua pele. Existia uma certa conexão entre Ahri e a musica, algo que a fazia se perder por horas e esquecer do tempo. Algo que a fazia se sentir em casa.
Ela entoava as letras das musicas sem perceber que cantava auto demais, dançava em seu próprio ritmo, esquecendo completamente o que inicialmente viera fazer. A luz da lua brilhava sobre sua pele, sendo esta a única coisa que iluminava o local escuro. Foi quando por um só momento ela decidira abrir os olhos, só para verificar se realmente estava sozinha. Para sua surpresa, ela não estava.
Evelynn a encarava da porta de vidro. Seus olhos pareciam perdidos, mas não demorara muito para que ela recuasse levemente e endireitasse sua postura.
- O que você está fazendo? – Ela questionou, franzindo as sobrancelhas.
Ahri abriu a boca para falar, mas a fechara duas vezes antes que de fato dissesse alguma coisa.
- Eu... Estava tentando criar uma coreografia.
- Para mim parecia passos aleatórios – Evelynn deu de ombros, enfiando uma uva em sua boca.
- Claro, mestre da dança. Por que não vem aqui e tenta então? – Ahri cruzou os braços. O suor do corpo escorria pelas curvas bem desenhadas de seus braços e coxas.
- Em primeiro lugar, é você que decidiu que quer ser a super original e autentica – Evelynn se sentou em uma das poltronas dispostas no lugar – Em segundo, eu não costumo me dar o trabalho de tentar coisas nas quais eu não seja excelente. Até porque, existem muitas coisas em que sou boa. Então porque perderia meu tempo me humilhando? – Ela ergueu uma de suas sobrancelhas e Ahri desviou os olhos.
- Eu não estava me humilhando.
- Eu não estou dizendo que estava ruim. Se quiser pode dançar o quanto quiser – Ela riu levemente e Ahri jurou ter visto um vislumbre de indecência em seu rosto – Mas não tem como isso ser uma coreografia.
- Ótimo, então não sei oque faremos – Ela ajeitou o cabelo molhado de suor. Suas orelhas estava encolhidas e sem graça, evidenciando seu desanimo.
- Algumas pessoas ficam boas nas coisas depois de um tempo – Evelynn comentou e Ahri se sentou no chão, abraçando os próprios joelhos.
- Já faz um tempo – Ela murmurou, com os olhos perdidos no piso de pedra.
Evelynn espremeu os lábios em uma linha reta, permitindo que o silencio invadisse o local por insuportáveis segundos. Seus olhos estavam fixados na expressão triste de Ahri. Em outras ocasiões ela simplesmente levantaria e iria dormir, mas a sua consciência trataria de lhe importunar eternamente caso fizesse isso neste momento.
- Inferno, eu odeio quando você faz essa cara – Grunhiu, mas a garota não respondera absolutamente nada – Porque não me mostra uma de suas letras? Talvez elas sejam boas.
Ahri se encolheu ainda mais, como se pudesse diminuir o seu tamanho e se esconder de sua própria vergonha. Ela nem mesmo tinha uma letra escrita para mostrar. Tudo que ela tem feito até então parecia inútil, como se ela tivesse jogado fora todos esses anos. Por mais que tentasse alcançar o que queria, mais distante parecia estar de concluir seu objetivo. Era como uma túnel sem saída em que a cada momento ela se sentia mais perdida, como se o teto estivesse desabando e a soterrando para debaixo dos seus sonhos.
- Talvez Hyuk estivesse certo – Ela sussurrou, se esforçando para impedir que as lagrimas saltassem para fora de suas orbitas – Eu não sei se ele encontrou alguém para me substituir, mas já estou começando a sentir esse tal arrependimento.
- Oh, querida, Hyuk nunca soube de nada. Nós vamos dar um jeito – Evelynn fez menção de levantar e ir até ela, mas acabou desistindo no meio do processo – Amanhã, nós iremos em algumas gravadoras. Deve ter alguém que queira te ensinar como... Como se faz essas coisas. Eu não sei.
- Será? – Ela ergueu minimamente a cabeça.
- Com certeza – Evelynn afirmou, embora não tivesse a mínima noção – Agora, pare com isso. Nós precisamos dormir.
Ela se levantou e seguiu em direção ao seu quarto.
- Eu deixei algumas cobertas no sofá – O som de sua voz se desfez como fumaça e Evelynn já não estava presente.
Ahri deitou sobre o piso de pedra, as ires alaranjadas miravam para o céu escuro de Seul. Ela não sentia vontade de se levantar, mas acabou o fazendo quando o vento se tornara frio demais para suportar.
Na manhã seguinte Ahri acordou com o nariz entupido. Mas a primeira coisa que lhe viera a mente foi a promessa que Evelynn lhe fizera na noite anterior. Seus pés tocaram o chão gelado sem dar a mínima para a temperatura e trabalharam rapidamente para alcançar o quarto de Evelynn. Ahri batera algumas vezes na porta, mas quando nenhuma resposta viera, sua impulsividade acabou fazendo com que entrasse no quarto. O lugar estava escuro, as enormes cortinas pretas tampavam completamente a entrada do sol. Mas mesmo com a falta de claridade, não demorou para perceber que Evelynn não estava ali. Sua cama estava perfeitamente arrumada, como se ninguém houvesse dormido no local.
Era obvio, foi uma completa idiota por ter acreditado em Evelynn. Ela nunca cumpria promessas, sua palavra vali tanto quanto lixo. Bufou, absolutamente irritada. O animo matinal sumia com a mesma velocidade que aparecera. Ahri voltou e procurou seu celular pela casa, tentou ligar para Evelynn incontáveis vezes, mas as chamadas nunca eram atendidas. Até mesmo pensou que ela poderia ter desistido e ido embora, mas suas coisas estavam exatamente como no dia anterior e ela nunca as deixariam para trás. Chateada, decidiu tomar um banho e resolver o resto por si mesma. Não seria Evelynn quem a impediria de correr atrás do que queria e depois quando voltasse, talvez, mudaria de ideia sobre fazer uma dupla. Não queria gastar mais tempo de sua vida com coisas que não a levariam a lugar nenhum.
Ela vestiu seu casaco de couro branco e saiu do apartamento. Ela tinha em mente alguns lugares que poderia ir. Pegou o metro para chegar ao centro da cidade e iniciou sua busca pelas empresas da lista imaginaria criada em sua cabeça.
A Brave Star foi a primeira que encontrou. A moça da recepção parecia cansada e indisposta ajudar, mas quando Ahri disse ser quem era, uma espécie de animo repentino pareceu ter a consumido por completo. Logo ela estava na sala de um dos melhores agentes da empresa. Um homem de 1,70 de altura e barba por fazer a cumprimentou com um sorriso enorme. Suas feições eram um tanto que estrangeiras e ela tirara a prova quando ele começara a falar.
- Bem vinda a Brave Star – Ele disse, em um sotaque visivelmente americano – É uma honra receber alguém como você, Ahri.
- Obrigada – Ela sorriu, logo após se sentar na poltrona indicada pelo homem.
- Pode me chamar de Luke. Agora me diga, o que a fez vir até nós?
- Bom... – Ahri suspirou profundamente. Ela procurava as palavras corretas para falar, mas seu nervosismo a estava lhe deixando louca – Você sabe que eu deixei a GP há alguns anos, certo?
- Correto – Ele juntou suas mãos, o sorriso enorme nunca deixava o seu rosto.
- Então... Eu estou procurando outra gravadora que possa me ajudar.
- Isso parece maravilhoso. Nós podemos abrir um contrato agora mesmo. Mas antes, poderia dizer porque decidiu deixar a Golden Productions?
Ahri engoliu em seco. Ela apertava sua mandíbula com tanta força que seus músculos faciais começavam a doer.
- Esse é o problema – Sua voz veio um tanto que baixa, mas Luke pareceu ter entendido muito bem. Seus sorriso sumiu lentamente enquanto seu rosto se tornava sério e concentrado – A GP não me deixava participar das produções das musicas. Eu queria algo que me permitisse, não sei, ser eu mesma.
- Eu entendo Ahri, existem muitos artistas que chegam a esse nível. Mas eu espero que também entenda que eu precisarei de algum trabalho seu para avaliar. Você sabe, nós não podemos nos comprometer com algo cuja não sabemos os riscos.
Ahri suspirou demoradamente. Seus olhos fitavam os pés da mesa de madeira.
- Eu tenho algumas, mas não estão terminadas – Ela disse, enquanto puxava seu caderno de dentro da bolça.
Luke pegou o caderno de suas mãos e folheou algumas paginas, lendo rapidamente as letras feitas por Ahri. Durante todo o processo seu coração parecia querer saltar pela boca, suas mãos tremiam tanto que ela decidira esconde-las em seus bolsos. A sensação era como se um mundo inteiro estivesse a julgando a partir de um único homem.
- Hum... Elas não são horríveis. Mas falta bastante para atingir o nível profissional.
- Mas... Vocês não poderiam me ajudar a alcançar esse nível? Eu sei dos riscos e tudo, mas eu prometo que vou me esforçar.
Luke lhe devolveu o caderno, seus olhos pairavam pensativos sobre Ahri.
- Eu gostaria poder de fazer isso, eu realmente gostaria. Mas não posso. Existem muitos artistas talentosos por aí. Mesmo sabendo que você tem potencial como cantora, não posso assumir esses riscos.
Ahri franziu as sobrancelhas. Os olhos chateados buscaram algum lugar para olhar que não fosse Luke.
- Mas se mudar de ideia e quiser abrir um contrato padrão conosco, saiba que estamos aqui – Ele lhe entregou um cartão e Ahri jogou o papel dentro da bolça.
Com o coração quebrado, Ahri seguiu para a próxima empresa, e para próxima, até que chegasse ao final da lista. Aparentemente, não existia tal coisa como o que Evelynn havia falado. Ou então, ela era realmente muito ruim em compor, pois todas as gravadoras não haviam aceitado a ideia muito bem. Dentro de sua bolça haviam cartões de telefone de tantas produtoras que Ahri mal se lembrava o numero correto. Todos haviam deixado claro que se caso ela abrisse mão da liberdade de sua carreira, seria contratada. Agora, no final do dia, ela achava a ideia plausível. Afinal, depois de tanto tempo, era obvio que não conseguiria conquistar o que queria.
Ela voltou para o apartamento com o humor infinitamente pior do que de quando saiu. Os olhos estavam transbordando com as lagrimas que tentara esconder o dia todo e para piorar, o corpo começava a doer devido a toda exposição ao frio. Ela se deitou no sofá e escondeu sua cabeça com o edredom. As lagrimas despencaram finalmente, sujando suas bochechas enquanto Ahri tentava impedir os soluços que escapavam de seus lábios. Ela se sentia derrotada, completamente incapaz. Foi estupida quando acreditou que poderia ser diferente, foi ingênua quando decidiu deixar a Golden e burra quando aceitou Evelynn como parceira e suas palavras vazias. Ela simplesmente não era suficientemente boa. Deveria aceitar o que estavam lhe oferecendo antes que se arrependessem e voltassem atrás.
- Ahri? – A voz de Evelynn surgira no cômodo. Ela era a ultima pessoa que Ahri desejava ver no momento – Você está bem? Eu te procurei o dia inteiro.
E realmente havia procurado. Ahri fizera um favor a si própria quando não atendeu nenhuma de suas chamadas, ou ao menos era assim que ela pensava.
- Você esqueceu – Ahri disse entre soluços e Evelynn se aproximou do sofá.
- Eu não esqueci, eu...
- Eu estou farta das suas mentiras Evelynn – Ela por fim se levantou, as bochechas e os olhos estavam vermelhos de tanto chorar. Evelynn se assustou com a movimentação repentina e acabou recuando alguns passos – Eu... Eu fui em varias gravadoras. Fui chutada por todas elas, ninguém quis me ajudar coisa alguma e você nem mesmo estava lá para me apoiar. Eu pensei que éramos uma dupla – As lagrimas escorreram de seus olhos. Ahri fungou e voltou a se sentar, seu corpo estava tão débil que era doloroso ficar de pé.
- Ahri, você parece doente – Ela disse, com uma preocupação genuína e rara. Evelynn até mesmo se aproximou para tocar seu rosto, mas Ahri se afastou abruptamente.
- Isso não importa, Evelynn. Não importa nenhum um pouco – Ela se encolheu no sofá e escondeu o rosto entre as palmas das mãos.
- É claro que importa. Não seja idiota – Evelynn grunhiu – Eu preciso ver se esta com febre – Ela fez menção de se aproximar de novo, mas Ahri estapeou sua mão antes mesmo que pudesse toca-la.
- Você não entende, não é? Você não dá a mínima. Sabe quantos anos eu me esforcei para conseguir?
Evelynn revirou os olhos e Ahri bufou.
- Eu já disse que não esqueci.
- Então porque não estava aqui? Ou você só queria que as coisas dessem errado?
- Eu não queria que nada desse errado Ahri, quanto desespero – Evelynn suspirou impaciente – Eu saí mais cedo para conseguir uma entrevista com a pop/star edition. Eu conheço alguém que conhece a dona da empresa e essas coisas demoram para serem feitas. Ela não estava muito feliz comigo, desde a ultima vez... Bem, não importa.
Ahri ergueu as sobrancelhas. Suas orelhas se esticaram de repente e os soluços diminuíram até que cessassem.
Então ela não havia lhe deixado, não havia esquecido de suas promessas. Na verdade, era Ahri quem tomou isso como um fato. Mas ela não poderia culpar a si mesma, considerando a personalidade problemática de Evelynn.
- Por que não me avisou?
- Eu não queria te acordar – Evelynn cruzou os braços e virou o rosto – E eu tentei te ligar, mas você não atendia esse maldito celular.
- Você poderia ter deixado um bilhete.
- Vou tentar pensar nisso da próxima vez – Ela bufou – Agora, me deixa ver sua temperatura.
Evelynn tocou sua testa com a palma das mãos. A temperatura gélida fez contato com a pela quente de Ahri. Seu olhar preocupado fitava o rosto surpreso de outra.
- Acho que você está gripada.
- Essas coisas passam, eu só preciso dormir.
- Então vá dormir – Evelynn, retirou sua mão, se afastando para que pudesse recriar sua distancia segura.
- Não Eve, eu preciso que me conte como foi a entrevista.
Evelynn balançou a cabeça. Um pequeno sorriso moldou seus lábios.
- Eu não fiz a entrevista. Apenas conversei com uma das agentes por telefone. Uma tal de Irelia.
- E o que ela disse? – A postura de Ahri estava completamente diferente da anterior. Sua costas estavam eretas e os olhos enormes, como se não quisesse perder absolutamente nada do que Evelynn estivesse disposta a falar.
- Eu expliquei a situação, ela disse para mandar uma de suas letras por e-mail.
- Ah não... – Ahri juntou os lábios de forma que quase se formava um bico – Vai ser exatamente como os outros.
- Eu disse que você... Não era muito boa nisso e ela falou para considerarmos criar um grupo – Evelynn explicou e decidiu se sentar na outra ponta do sofá.
- Um grupo? Como assim um grupo?
- Uma banda, eu não sei. Como aqueles grupos de K-pop – Evelynn riu da ideia e escorou as costas no sofá – Ela falou que talvez, se encontrarmos pessoas que são boas nessas outras coisas, pode dar certo. Ah, ela também disse que se encontrar alguém interessado vai entrar em contato.
Ahri se aproximou de repente e agarrou suas mãos como se dependessem delas para não cair. Ela sorria abertamente, com os olhos enormes de felicidade.
- Isso é ótimo Eve, é maravilhoso. Você mesma disse que queria uma banda.
- É um grupo, sei lá Ahri – Evelynn puxou suas mãos e tentou se afastar ainda mais, mas não havia espaço suficiente para que fizesse isso.
- Nós podemos chamar de banda, podemos chamar do que quisermos – Ahri estava tão absurdamente feliz que Evelynn nem mesmo teve coragem de recusar a ideia. Ela não sabia se ia se sentir confortável com outras meninas, mas não queria afetar o humor de Ahri outra vez – Eu vou começar a procurar agora mesmo.
Ahri se apressou para levantar e buscar o notebook, mas Evelynn a puxou de volta para o sofá.
- Não, você não vai – Ela ordenou, franzindo as sobrancelhas em uma expressão séria – Você precisa descansar.
- Eu já estou bem – Ahri revirou os olhos e se preparou para levantar outra vez. Mas Evelynn agarrou seu braço com mais força e a puxou para si, fazendo-a cair de costas em cima de suas pernas. Sua cabeça bateu sobre o braço do sofá, gerando um som de estalo oco.
- Inferno! Você se machucou? – Evelynn afundou seus dedos na nuca de Ahri, tateando a parte traseira de sua cabeça a procura de algum machucado.
Ahri a fitava com o olhar paralisado, como se pela primeira vez realmente a enxergasse. Evelynn ficava diferente quando olhado por outro ângulo. Seus lábios se destacavam mais, principalmente com a cor vermelha, mas Eve sempre preferiu o roxo. Não tinha problema, Ahri acreditava que mesmo se seus lábios estivessem pintados de roxo, continuariam bonitos de qualquer forma. Eram tão bem desenhados que surgira uma vontade incompreensiva de toca-los. Se bem que Ahri poderia fingir que algo estava errado e só precisava concertar uma parte borrada.
Ela engoliu em seco e Evelynn desceu um pouco mais os dedos e começou a acariciar o lugar. Seus olhos encontraram os de Ahri, reluzentes, como se estivessem vidrados em algo, e continuaram o percurso até parar na parte em que o decote da blusa exibia os seus peitos. Seu coração errara algumas batidas, enquanto sua respiração começava a ficar mais pesada.
- Isso é bom – Ahri sussurrou, fazendo com que Evelynn fosse tragada de volta a realidade. Ela puxou sua mão rapidamente e Ahri quase bateu a cabeça outra vez.
- Você precisa dormir, ok? – Evelynn se levantou com cuidado, enquanto Ahri se ajeitava sobre o sofá.
- Ok... – Ela sussurrou e se enfiou debaixo das cobertas.
...
Durante os próximos dias, Ahri decidiu ignorar o que quer que seja que havia ocorrido entre ela e Evelynn. Era mais fácil, e como Eve fazia o mesmo, não teria porque trazer o assunto a tona. Irelia ligara em poucos dias com noticias maravilhosas. Aparentemente boa parte de Seul queria fazer parte do grupo, Ahri podia imaginar o porque. Devido a isso, a mulher acabou decidindo marcar um teste com as melhores artistas da lista e pediu para que Evelynn e Ahri decidisse quem deveria entrar para o grupo.
As cantoras chegaram no lugar marcado meia hora mais cedo. Evelynn virava uma garrafa de agua em sua boca enquanto Ahri seguia saltitante pelos corredores do estúdio.
- Você precisa se acalmar. Assim não vai passar nenhuma credibilidade – Evelynn comentou. Ela olhava para sua unhas bem feitas como se tivesse orgulho do que via. Ahri ignorou o comentário e só de fato se recompôs quando chegaram ao local do teste.
As cortinas vermelhas tampavam a parte do fundo de um enorme palco. O local se assemelhava a um estúdio antigo de teatro, com uma quantidade razoável de cadeiras para a plateia. Irelia se encontrava na primeira fileira, juntamente com Ahri e Evelynn. A mulher trajava um terno feminino e segurava uma prancheta com folhas impressas, um anel dourado ressaltava um de seus dedos. Ela exibiu um desses sorrisos sociais quando as duas se aproximaram e chamou a primeira pessoa da lista.
As apresentações seguiram a medida que as artistas eram chamadas por ordem alfabética. Ahri e Evelynn passaram horas observando os diversos estilos de dança e timbres vocais. Alguns chegavam a ser interessantes, mas em suma maioria tudo parecia um tanto que comum e monótono. Depois de certo tempo naquela mesma posição, Ahri começava a bocejar e escorar sua cabeça no ombro de Evelynn, quem tentou insistentemente acorda-la, mas após a terceira vez, ela acabou desistindo e a deixando deitar em seu ombro. Mais uma dezena de garotas se apresentaram e nada parecia diferente, até que uma garota, chamada por Kai’sa entrara no palco.
- Boa tarde, eu sou Kai’sa e vim direto de Hong Kong – Ela disse, em um obvio sotaque chinês. Evelynn já começava a mexer em suas unhas explicitando seu próprio tedio, quando ela continuou – Eu venci o Can you dance, um campeonato avançado de dança que acontece anualmente em Hong Kong. Passei a maior parte da minha vida dançando e quando não, era provavelmente porque estava dentro de um avião lotado de pessoas. Viajei para diversos lugares do mundo procurando novas culturas e novos estilos de dança. A musica foi o que me salvou de mim mesma, ela faz parte de mim, e por isso decidi fazer o teste.
Evelynn arqueou as sobrancelhas e acordou Ahri que quase começava a babar.
- Ei, não vem babar em mim não – Ela se afastou e Ahri a fitou meio grogue sem entender o que diabos estava acontecendo – Presta atenção, ela parece ser boa.
Ahri bocejou, tapando a boca com uma das mãos, e voltou seus olhos para o palco. O som agitado começara a soar das caixas de som. Kai’sa mantinha as pálpebras fechadas enquanto a musica parecia entrar em contato com os poros de seu corpo. Quando ela começou a se mover, o tempo parecia ter parado. Seus passos se encaixavam com tanta suavidade nas batidas do som que pareciam fazer parte da musica, de modo que não faria mais sentido ouvi-la sem poder ver a obra de arte que se estendia no palco. O corpo de Kai’sa parecia reagir instintivamente, como se mesmo se ela quisesse parar, não conseguiria. De alguma forma, Evelynn soube, que o que ela dissera era inteiramente verdade. Aquela mulher era uma espécie de captador que recebia as ondas sonoras e as codificavam tão perfeitamente que era capaz de libera-las através de seu corpo de uma forma física e visível. Era perfeito e de fato bonito de ser visto. Mesmo Ahri que estivera sonolenta durante metade das apresentações acordou de seu coma profundo para admirar aqueles movimentos. Era um vislumbre do que ela tentava alcançar, mas nunca conseguiu.
Quando a musica parou, Ahri foi a primeira a bater palmas, quase que em instantâneo. Seu sorriso se expandia como se mal pudesse acreditar no que estava vendo.
- Deus, você é incrível – Ela disse e as bochechas de Kai’sa ficaram tão vermelhas como um tomate.
- Não que seja muita coisa, mas... Foi a melhor até agora – Evelynn disse, em tom áspero.
- Obrigada – Sorria de cima do palco. Parecia verdadeiramente feliz com sua performance e para Ahri não havia nada mais justo.
- Obrigada você por essa oportunidade – Ahri respondeu, os olhos brilhavam como se tivesse acabado de encontrar o que queria.
- Nós vamos entrar em contato.
- Com certeza vamos – Ela riu, e Evelynn franziu as sobrancelhas brevemente, acreditando ser um exagero todo o deslumbramento de Ahri.
Ao fim das apresentações, Ahri aproveitara que Evelynn e Irelia conversavam sobre termos de contrato para escapar e ir comprar um café. O moço da lanchonete a atendera com um sorriso carismático no rosto, e Ahri acabou decidindo dar-lhe um pouco mais de gorjetas.
Ela se sentia aliviada pelas apresentações terem acabado, nunca pensou que seria tão chato ficar horas vendo pessoas dançar e cantar. Ela sempre gostou de musica, mas tudo aquilo era demais. A sensação era de repetir o mesmo vídeo centenas de vezes. Uma certa parte de si se sentia culpada por ter perdido metade das apresentações. Mas ela não pode evitar, o sono parecia ter se instalado no momento em que se sentou naquela cadeira. Bom, agora não tinha porque reclamar, ela pensou e bebericou de seu copo de café.
- Com licença – Uma garota loira que tinha mais ou menos a mesma altura que Ahri a chamou. Ela se encostou perto de sua mesa com as feições paralisadas de vergonha – Desculpa, eu não queria interromper.
- Tudo bem – Ahri sorriu de forma tranquilizantes, meio que para mostrar que não havia problemas.
- Eu trabalho aqui, com a equipe de gravação e... Todo mundo sabe que eu sou sua fã a um tempão. A Irelia me disse que você viria, então eu tive que vir – Ela desviou os olhos, enquanto bagunçava o cabelo loiro – Isso deve ser estranho.
- Talvez agora que faz... Bem, um bom tempo desde o meu afastamento. Mas não precisa se preocupar, é bom ver que algumas pessoas ainda se lembram de mim.
- Eu fico feliz que esteja voltando – Ela disse, e o sorriso simplesmente surgiu em seu rosto – Meu nome é Lux, nós com certeza vamos trabalhar juntas em algum momento. Mas se precisar de qualquer coisa antes disso, você pode me ligar. Eu não sou a pessoa mais poderosa daqui, mas com certeza tenho uns contatos – Ela entregou um pequeno filete de papel com o numero do seu celular.
- Obrigada, Lux – Ahri pegou o papel de sua mão. Seu coração se aquecia com a lembrança terna de como era se sentir querida.
A garota simplesmente a abraçou, como se fosse um impulso grande demais para evitar. Ahri não a afastou de forma alguma, embora demorara algum tempo para entender o que estava acontecendo, apenas devolveu o abraço caloroso.
- Muito obrigada, Ahri. Eu espero que tudo dê certo pra você – Ela disse após solta-la e logo em seguida se virou e adentrou um dos corredores da empresa.
- Quem era aquela? – Evelynn perguntou em tom de desprezo. Ahri saltou com o susto que tomara.
- Meu deus Eve, você quase me matou do coração.
- Você merece isso depois de quase ter babado no meu ombro.
Ahri riu, e Evelynn a fitou com seriedade.
- Eh, me desculpa por isso. Não foi intencional – Ela deu de ombros e ambas se viraram em direção a saída – Aquela garota trabalha aqui, se chama Lux.
- Pensei que fossem amigas – Evelynn comentou, enquanto abria a porta de saída para que Ahri passasse.
- Não, mas ela parecia ser legal. Era uma fã.
- Ah, claro que ela parecia legal. Fãs sempre parecem ser legais, até que um dia surgem dentro do seu armário como um psicopata obcecado.
Ahri deu gargalhadas do comentário de Evelynn. Era obvio que ela estava exagerando, pensou, mas mesmo assim não se conteve em alfineta-la.
- Se um fã seu fizer isso, eu não me chocaria – Ela deu um leve sorriso e Evelynn a fitou com uma indignação explicita.
- O que você está insinuando?
- Nada mesmo – Ahri riu e Evelynn revirou os olhos. As duas entraram no carro e logo o automóvel estava em movimento.
Ahri ligou o som em uma das rádios mais famosas da Coreia. Uma banda conhecida de K-pop começou a tocar e Ahri seguiu cantando a musica durante boa parte do caminho.
- Você sabe que precisaremos de uma casa maior, ne? – Ela ergueu uma de suas sobrancelhas. Evelynn pareceu não ter gostado da ideia. Uma espécie de mal humor se instalou visivelmente em seu rosto.
- Você quer dividir a casa com ela também?
- Não ela, mas elas. Eu acho que precisamos de pelo menos mais duas integrantes – Ahri comentou, como se não percebesse o desconforto de Evelynn.
- Duas? Ahri, você viu o quão foi difícil pra encontrar uma só? E sem falar que ela pode ser insuportável. Nem ferrando.
- Ela não vai ser insuportável e além disso, nós não sabemos se ela escreve tão bem quanto dança.
Evelynn se calou por um momento. Ela parecia considerar a ideia, mas algo em seu rosto deixava claro que não estava gostando da situação.
- Eu não sei Ahri...
- Qual é, você e eu seremos as vocalistas principais, a Kai’sa a coreógrafa principal e ainda precisaremos de ao menos mais uma para escrever as letras.
- Certo, certo. Mas elas podem morar em sua própria casa. Quando concordei em morar com você, não estava dizendo que poderia chamar o resto do mundo para vir também – Ela resmungou.
- Eve, você sabe como é difícil você gostar das pessoas? Se queremos que isso dê certo, precisamos estar unidas. Se você não se conectar com o restante das meninas, com certeza vai acabar saindo do grupo – Ahri esperou que Evelynn dissesse algo, mas como ela não respondeu, ela continuou – Eu não quero que você vá embora.
- Tudo bem – Ela bufou – Mas que saco. Se elas forem insuportáveis você que vai ter que resolver essa merda.
- Combinado – Ahri cantarolou, satisfeita por ter conseguido fazer Evelynn mudar de ideia.
O restante do caminho ocorrera em silencio. Evelynn batucava com suas enormes unhas sobre o volante, enquanto descontava sua frustração no acelerador do carro.
Ahri agradeceu por não terem morrido no caminho.
...
Mesmo depois do teste planejado por Irelia, Ahri não conseguia encontrar se quer uma única pessoa para preencher a vaga faltante. Kai’sa já havia sido avisada que se tornaria uma integrante do grupo e que elas entrariam em contato quando estivesse tudo pronto. Mas ainda sim faltava a ultima peça para que tudo estivesse perfeito e Ahri ainda teria de encontrar uma casa maior, confortável e dentro dos preços acessíveis no momento. Tudo aquilo demonstrara dar muito mais trabalho do que o esperado.
Ela segurava o notebook com uma ânsia quase que desesperadora. Procurou entre artistas solo e iniciantes sem visibilidade, mas nunca era exatamente o que queria. A sensação de desespero começava a se tornar presente outra vez.
Ela estava quase desistindo e indo dormir, mas algo na lista de vídeos ao lado a chamara atenção. No titulo estava escrito “Akali, a rapper mais irada que já ouvi”. Ahri nem era tão fã de rap, mas acabou clicando por pura curiosidade. O vídeo expandiu na tela e um garoto de mais ou menos uns quinze anos de idade aparecia agitado e sorridente. Ao fundo, podia ouvir o som do tumulto e a musica pesada que parecia estar em sintonia com a plateia.
“Vocês não vão acreditar, eu a encontrei e agora sou seu fã. Pode apostar! Olha só esse som”
O garoto virou a câmera para um palco improvisado. O lugar parecia ficar debaixo de um viaduto. Haviam pichações nas paredes e uma quantidade exorbitante de pessoas. Ao fundo, uma garota baixinha usava roupas de estilo. Quando ela rodopiara no ar o som tornou-se mais grave e depois ameno. A tal Akali começara a cantar em perfeita sintonia com a musica. Sua voz se encaixava com as batidas que mesclavam o som com o barulho da plateia. As rimas improvisadas saiam de forma tão perfeita que por um momento Ahri duvidara que aquilo era de fato improvisado.
Ela arregalava seus olhos enquanto fitava a tela como se estivesse obcecada com o que via. Um sorriso de satisfação pairava sobre seus lábios. Ela já sabia quem seria a ultima integrante. Agora era conseguir traze-la para o grupo.
- Eve! Você não vai acreditar – Ela se levantou do sofá o quanto antes, correndo para sua colega de casa afim de conseguir sua opinião.
Amanhã, elas teriam um grande dia. Pois essa Akali não conseguiria fugir mesmo se tentasse.
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