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História Re:Destino - Priscilla IF


Escrita por: aalone

Notas do Autor


Sobre esta história, ela está na minha cabeça há meses, principalmente depois de ler algumas histórias em que o Subaru tem seu nome devorado pela Gula. Então, decidi fazer de forma um pouco diferente e, embora seja uma one-shot, talvez se torne uma fic longa mais detalhada no futuro. Quem sabe?

Então, aqui vai uma pergunta retórica: O que aconteceria se Subaru se juntasse ao grupo de Priscilla depois de ter seu nome devorado por Lye Batenkaitos?

(História também publicada no AO3)

Capítulo 1 - Priscilla IF


Fanfic / Fanfiction Re:Destino - Priscilla IF

O ambiente se via pesado, mergulhado em uma tensão que poderia afogar o menor dos preparados e consumir toda a sua vontade. Um conflito de interesses, de desejos, de posse. Duas majestades que se encaravam com tamanho desprezo e raiva que tudo à sua volta se mostrava irrelevante, mergulhado em seus sentimentos. O calor das chamas e o frio do gelo se chocavam frente à vontade daquelas duas existências, e todos que se viam ao redor delas temiam por suas próprias seguranças, embora devessem manter-se firmes, por seus próprios valores e desejos alinhados.

O olhar, quente como a mais poderosa das brasas, da matriarca vollachiana, fixava-se na figura à sua frente com um desprezo inegável, como se aquilo à sua frente não passasse de um mero incômodo inferior, até mesmo indigno de sequer poder contemplar sua existência soberana. Mas o outro lado não iria ceder, devolvendo o olhar com uma seriedade e uma grande fonte de irritação, embora, ali no fundo, houvesse uma centelha de dúvida e nervosismo.

— O que meros animais pensam que estão fazendo ao tentarem invadir a minha casa? — o leque se move graciosamente pelos seus dedos, abrindo-se em frente ao seu rosto e tampando uma parte de suas feições. Seus olhos, tingidos pelo desprezo, encararam cada criatura patética sentada em seu estofado luxuoso, cuja mulher, neste exato instante, desejava incendiar até não restar pó. — Eu nunca deveria esperar o mínimo de consciência de um meio diabo e seus cachorros, afinal. — ela conclui, desgostosa ainda assim. Seu olhar queimou na direção do restante da comitiva que pertencia, com acompanhamento da meio-bruxa.

Um dia que deveria ser regado pela paz e o sossego de um descanso merecido foi interrompido por moscas tão irritantes. Priscilla estava de péssimo humor, e Schultz permitir a entrada daqueles plebeus apenas aumentou ainda mais a frustração da majestade carmesim. Ela entendia, no entanto, vendo o porte do animal loiro, que seu pequeno Schultz era uma criança; afinal, era fácil intimidá-lo. Priscilla sentiu seu interior ferver ainda mais, seus dedos formigando pelo desejo de encerrar aquilo tudo de uma vez.

Infelizmente, ela deveria manter a calma.

— Olha, Priscilla, nós não estamos aqui para discutir. — apesar dos insultos, a candidata rival decidiu manter sua calma e agir com a diplomacia que lhe foi ensinada, sabendo bem que irritar a figura à sua frente não era uma opção válida. Priscilla era conhecida por seu comportamento volátil, e eles, por teoria, invadiram as terras que a matriarca possuía; então, naturalmente, não poderiam se exaltar. — Mas você sabe o que buscamos, então, se possível…

— Deixe-nos ver o Subaru da Betty, eu acho. — a voz levemente energética, mas bordada em um desespero infindável, de uma pequena garotinha, se fez presente no recinto. Seus olhos de borboleta brilhavam em lágrimas não derramadas, e sua tristeza evidente fez todos ao redor da meio-elfo se entristecerem automaticamente. — Precisamos dele, eu preciso dele, do meu contratante, eu suponho. — sua voz estava baixa, aguda, embaralhada pelo choro que ameaçava sair de sua garganta. Beatrice, a pequena Beako, de todos, era nitidamente a mais afetada. Uma visão que poderia entristecer até mesmo o coração do dragão divino.

Priscilla encarou tal momento com tédio, no entanto, não parecendo nem um pouco afetada pela demonstração de tristeza que o espírito tão inútil demonstrava. Seus dedos se moveram em um movimento acelerado, abanando seu próprio rosto com as pequenas ondas aéreas produzidas pelo leque, aliviando seus próprios sentimentos fervorosos.

— A estupidez de vocês plebeus, ao que parece, vem por osmose. — o tom cortante da matriarca flamejante cortou como sua lâmina, mantendo o desprezo evidente. Beatrice recuou; normalmente o grande espírito sabiamente poderia rebater, mas sua própria culpa a impedia de sequer encarar Priscilla. No fundo, ela sabia que não podia. — Meu eu divino já tinha conhecimento da estupidez de cada um de vocês cachorros, mas o que demonstra agora apenas me dá vontade de os incinerar vivos. Vocês sujam meu lar com suas presenças imundas. — ela rebateu, a mão apertando com força moderada o cabo de seu leque.

A candidata meio-elfa se encolheu. Apesar de suas próprias forças, não ter o apoio dele a minava, não só em um âmbito popular, mas em um lado mais pessoal. Emilia se sentia tão forte quando estava ao lado dele, capaz até mesmo de se impor ao Arcebispo da Ganância, mas agora ela se sentia pequena, acuada diante da fera flamejante.

— Olha como você fala, sua vagabunda. Meu eu incrível não vai deixar que você nos ofenda e nem brinque com o capitão com seus jogos nojentos. — a criatura animalesca de cabelos dourados logo vociferou, atraindo a atenção de todos para si e um olhar exasperado de um homem de vestes verdes ao seu lado, que parecia querer silenciá-lo, mas não possuía a força necessária. O que restou foi deixar o rapaz falar. — Devolva o capitão para nós! Ele é o cavaleiro da princesa, não seu cachorro! — Garfiel Tinsel, o escudo do acampamento, vociferou, irritado, nervoso, mas convicto de sua própria ideia. Eles precisavam do seu capitão de volta, a todo custo!

— Oh, ho, parece que a besta fera nojenta tem algumas presas guardadas. — Priscilla zombou, pouco incomodada com as falas ou desejos deles. Muito pelo contrário, parecia mais um pequeno teatro, um show particular que, embora irritante, talvez fosse aproveitável.

— Priscilla-sama, peço perdão pela forma como meu amigo tratou. — sabendo que não poderia parar o garoto, Otto, o ministro dos assuntos internos, decidiu agir, principalmente com a resposta agressiva. Desrespeitar um candidato ao trono era uma ofensa da qual seu amigo inapto não estava acostumado, o que tornava a situação pior. — Mas, se possível, nós gostaríamos de ter uma conversa com Natsuki-san. Nós agradecemos muito por ter ficado com ele quando nem mesmo nós fomos capazes. — todos acabaram virando o olhar em culpa. Priscilla revirou os olhos. — Mas recuperamos o que nos era precioso, ele, e gostaríamos de apenas ter uma conversa, se possível.

Como um mercador, Otto deveria ser especializado em como lidar com pessoas e, principalmente, como fazer acordos. Exigir coisas como seus companheiros tanto exigiam apenas os colocava em maus lençóis com a figura nada paciente da candidata flamejante. Ele tinha que saber jogar, e seu jogo deveria envolver aquele que um dia o salvou, que lhe deu um propósito. Convencer Priscilla de qualquer coisa era impossível, pois ela não ouvia ninguém, mas seu amigo, ele poderia se sentir tocado!

— Humpf, pelo menos um de vocês tem um cérebro na cabeça, e não é um porco completo. — Priscilla bufou, nem um pouco impressionada com a atitude do mercador. Ela conhecia bem o jogo dos mercadores; sua principal rival era uma, embora Anastasia não passasse de um mero inseto que ela logo esmagaria. — Mas a estupidez permanece enraizada em seus cérebros toscos e primitivos. Meu eu divino deve lembrar que o plebeu que está comigo. — ela fechou o leque abruptamente, causando uma leve reação de susto nas figuras à sua frente. — É meu cavaleiro, e não seu, meio diabo. — o sorriso pequeno e curvado de puro deboche não passou despercebido, e aquilo não só entristeceu Emilia e Beatrice, como enfureceu o restante. — Isso tudo é medo? — seu sorriso se tornou maior.

Uma intensa energia vermelha-rubi circulou o corpo do garoto de cabelos dourados, que cerrou seus dentes em uma fúria inegável, um calor que o tomou. Otto se desesperou. Sabia o quanto Garfiel era apegado à figura de Natsuki, e as provocações de Priscilla não ajudavam nem um pouco.

— Creio que não faz sentido manter Barusu aqui, Priscilla-sama. — Otto suspirou de alívio ao sentir a voz fria de Ram, a empregada da mansão, reverberando. Por sorte, foi o suficiente para impedir que Garfiel cometesse alguma loucura, uma na qual levaria as chances deles, que já eram poucas, ao completo zero. — Pelo pouco que sei de você, sei que porcos preguiçosos e perversos como Barusu não são o tipo de pessoa que você gosta de ter por perto. A presença dele deve irritá-la, então você pode nos devolver para voltar à sua rotina. — a garota de cabelos rosas retrucou, sem perder a chance de ofender o garoto, embora não fosse por maldade.

— É verdade. Subaru é muuuuuito bom garoto para você destratar ele! — Emilia decidiu intervir de sua própria forma, muito satisfeita com o argumento apresentado. Eles sabiam o quão mal Priscilla já havia tratado Subaru no passado por motivos simples, ao ponto de até mesmo esquecê-lo, embora antes daquela estratégia. O próprio compartilhou no passado o quão desgostosa era Priscilla. Talvez a matriarca só buscasse os irritar, mas trancafiou o coitado e o soltava só quando queria, como um cachorro.

Aquela imagem mental causou arrepios na meio-elfo.

Priscilla apenas os encarou, revirando-o novamente em um tédio considerável, ou uma irritação plausível, difícil de saber. Mas a situação era claramente desagradável, no sentido dela estar sentindo mais raiva do que deveria, e seu desejo de invocar a espada Yang ainda queimava em seu estômago. Ela poderia simplesmente queimá-los, reduzi-los a nada, queimar suas almas de um modo que até o ciclo de reencarnação seria visto como impossível.

— A mera existência de vocês não só me irrita, como mancha todo o meu ambiente com tamanha estupidez e incoerência, plebeus miseráveis. — ela rosnou, para a prévia surpresa dos outros, que não imaginavam que seus comentários seriam tão irados. Priscilla não possuía motivos para se irritar com a verdade, certo? — O plebeu é meu cavaleiro e isso não vai mudar, não importa o quanto suas fúteis existências choraminguem como ratos pútridos. Achem o que quiser; o pensamento limitado de porcos liderados por um meio diabo incompetente pouco me importa e tampouco afeta meu eu divino. — Priscilla atacou novamente, sua perna cruzando sob a outra e seus olhos queimando em cada um deles, que se encontram sem reação pela “explosão” de Priscilla. — A partir do momento em que vocês preferiram acreditar em um patético espírito. — Beatrice se encolheu ainda mais, com pequenas lágrimas escapando de seus olhos. — ao invés da verdade, o plebeu deixou de ser de vocês. Ou melhor, deixou de ser o cachorro que vocês tanto amavam chutar. — Priscilla, pela primeira vez desde o início da conversa, vociferou, o que assustou consideravelmente a todos, principalmente Emilia.

A candidata meio-elfa sentiu um aperto em seu peito, não só pelas palavras duras e verdadeiras que a nobre de vollachia emitiu, mas também por ver a mulher defendendo Subaru com um calor que ela nunca viu antes, nem em si mesma. Emilia, quando se lembrava dele, fazia de tudo por ela, até mesmo enfrentando o conselho de sábios para salvar sua honra, brigou com ele e oficialmente o expulsou de seu acampamento. Como ele retribuiu? Salvando sua vida a troco de nada e enfrentando uma das três grandes feras majuus e um dos monstros arcebispos do culto das bruxas. E mesmo assim, ela nunca o defendeu da forma como Priscilla o fez, apesar de tudo. Seu coração se apertou em miséria. Só bastou Beatrice o acusar e ela o atacou, sem nem ao menos lhe dar o benefício da dúvida.

A pequena espírito se sentiu quebrada, pelo peso da verdade que esmagava seus pequenos ossos. Todo dia, desde que se recordou plenamente, ela se culpava, ela se feria, ela chorava, amaldiçoando sua própria existência, sua própria inutilidade. Ela sabia como reconhecer um Arcebispo; inferno, ela até mesmo já tinha feito isso com o próprio Subaru quando ele chegou na mansão pela primeira vez. Beatrice não sabe o que a fez reagir daquela forma, mas se culpa todo santo dia por isso, por ter o acusado sem provas, e o olhar de traição que ele lhe deu… a assombrará para sempre.

Os outros apenas se encolheram, vítimas de sua própria ignorância, da qual não podiam negar. Durante o julgamento, todos ficaram presos às palavras de Beatrice, mesmo com a bênção de Crusch e Reinhard alegando que as palavras de Subaru eram verdadeiras. Eles escolheram ignorar a presença mais amada entre eles, agir como se ele fosse um inimigo, inventar mentiras apenas para se satisfazerem. A necessidade era inexistente. Por sorte, Priscilla testemunhou a favor dele, e pela falta de provas, ele foi colocado sob as ordens dela, enquanto o vazio no acampamento Emilia surgiu. Todos os dias pareciam carregados, pesados, como se algo faltasse, algo que nenhum deles saberia nomear na época, mas agora sabem. Aquele acampamento nasceu com Subaru, apesar de tudo.

Eles se sentem péssimos.

Antes que qualquer nova palavra fosse proferida, seja por Priscilla em sua raiva ou pelos apelos fracos do acampamento Emilia, um baixo som de porta sendo aberta foi ouvido. Todos, imediatamente, viraram seu olhar para ela.

Priscilla deu um sorriso simples, não parecendo carregar a mesma malícia ou arrogância costumeira. Não, era mais… vivo, bonito, algo tão charmoso que a deixava ainda mais encantadora.

— S-Subaru… — a voz baixa de Beatrice reverberou, revelando a figura que passou pela porta, o que todos ali queriam ver: seu cavaleiro, seu contratante, seu capitão, seu amigo ou simplesmente seu irmãozinho mais novo idiota.

Adentrando o cômodo, era possível ver Subaru Natsuki, o antigo cavaleiro da meia-elfa Emilia e atual cavaleiro de Priscilla Barielle. Sua presença era diferente, de uma forma que fez a pobre candidata de cabelos prateados ficar com as bochechas e ponta das orelhas queimando em vermelho, o que irritou consideravelmente a matriarca vollachiana que percebeu, mas nada falou. Para os outros, a mudança era nítida, não só em aparência, mas na própria forma como Subaru caminhava, mesmo de forma consideravelmente relaxada.

Seus cabelos, antes grossos e volumosos, em um penteado mais levantado, agora estavam relativamente mais curtos e lisos, caindo em um penteado mais baixo. Seus olhos sanpaku, normalmente tão intimidadores, brilhavam em um certo carinho, que fez o coração de Emilia se apertar sem nem saber o porquê. No entanto, a mudança mais notória foi em seu físico, percebido pela falta de camisa do mesmo. Seus músculos, outrora magros, agora possuíam mais massa e volume, dando-lhe um aspecto de notável força. As inúmeras cicatrizes que o rapaz conquistou em suas diversas batalhas eram ostentadas com demasiada glória, como troféus, e não símbolos de fraqueza. Junto a algumas antigas, ele adquiriu novas, que apenas destacavam sua nova figura. Sua postura, ereta, era confiante, algo que o mesmo jamais demonstrou em seus mais de um ano no acampamento Emilia. Se não fosse seu cabelo preto tão incomum, poderia ser facilmente outra pessoa.

— Subaru… — Emilia sussurrou o que todos estavam pensando, observando a figura caminhar em passos lentos. Ela estava feliz, apesar de tudo. Subaru deve ter ouvido a conversa deles e vindo os ver, conversar, deixar que eles se explicassem, os perdoar, deixar aquela mulher vil e retornar tudo a como era. Ele era um bom garoto, afinal, um garoto que ela sabia que amava com todas as suas forças!

— Capitão… — Garfiel mordeu o lábio inferior, tomado pelo seu nervosismo. Embora esperançoso, como Emilia, o escudo não era tão ingênuo; Subaru parecia aquecido, envolto em chamas calorosas e gentis. Pouco incomodado com Priscilla, pelo contrário.

— Natsuki-san. — Otto murmurou. Sendo o mais realista, ele nem sabia como sentir. Subaru sequer parecia notar sua presença, tampouco olhou para eles; seus olhos estavam fixos em Priscilla de uma forma tão calorosa que era desconfortável, como se somente ela existisse ali. O mercador possuía medo, e sua esperança parecia ser reduzida cada vez mais.

— Barusu… — Ram, incrivelmente, era a que menos conseguia reagir. As palavras duras de Priscilla ainda martelavam em sua mente, e ela parou para pensar se o garoto realmente gostava de seus comentários, ou melhor, os levava sem seriedade, ou se eles o afetavam, e aquilo aterrorizou a empregada. Ser a causa do sofrimento daquele que ela enxerga como um irmão mais novo era uma dor que ela não conseguia apagar.

Beatrice nem mesmo conseguiu dizer seu nome, muito afetada por seus próprios sentimentos em desordem. Ela estava feliz, mas se sentia um lixo, então não merecia estar feliz. Ela era um péssimo espírito, um espírito horrível, e não podia exigir nada dele, mas queria; ela era egoísta, queria correr, abraçá-lo, ouvi-lo chamar de Beako, queria receber os tapinhas na cabeça que tanto amava. Seu egoísmo queria superar a razão, e ela se viu querendo acreditar que poderia voltar a ser a Betty do Subaru, e que ele fosse o Subaru da Betty novamente.

Todos do acampamento Emilia encaravam Subaru com seus próprios sentimentos queimando no âmago. Qual poderia ser a reação dele? Ficar bravo? Compreensível! Chorar? Talvez. Correr e os abraçar? Um sonho! Mandá-los embora? Um pesadelo!

Tudo chegou ao seu clímax quando Subaru ficou do lado de Priscilla, ao ponto de todos congelarem, suas respirações travadas.

O cavaleiro se moveu, quase como se estivessem em perfeita câmera lenta. Antes que eles sequer fossem capazes de pronunciar pedidos de desculpas e cuspir desejos de reconciliação, Natsuki pegou Priscilla no colo, em estilo nupcial, para o completo choque dos outros restantes. Emilia sente seu coração afundar, e seus olhos, que queimavam em esperança e um amor silencioso, agora se fechavam, se quebravam, se estilhaçavam como um vidro caindo ao chão.

Priscilla deu um sorriso zombeteiro, abrindo o leque em seus dedos e o abanando enquanto era carregada por Subaru de volta para a porta por onde ele saiu. Por mais que a matriarca tivesse fingido irritação, era nítido e até irritante o quão satisfeita ela estava com a situação, como se tivesse provado um ponto, um ponto cruel que nenhum deles queria aceitar, mas agora teriam que enfrentar.

Subaru Natsuki era o cavaleiro de Priscilla Barielle.

Eles nem ao menos foram capazes de reagir. Quando Emilia estendeu a mão para chamá-lo, gritar por ele, exigir uma resposta, qualquer coisa, o som cortou sua voz, com a porta sendo fechada e apenas o silêncio e a incredulidade restando.

Dentro do cômodo de novo, Priscilla apenas mantém seu sorriso curto enquanto é depositada na luxuosa cama de casal pelos braços de Subaru, que logo a envolvem perfeitamente em uma conchinha calorosa, voltando a dormir como se nada estivesse acontecendo em sua volta. A matriarca vollachiana poderia dizer em sua mente que aquela visão era agradável, algo que o corpo forjado pela guerra jamais havia experienciado antes, mas que parecia tão certo mesmo assim. Era como se seu lugar sempre fosse ali, e aquilo a deixava mais boba do que ela gostaria de admitir; na realidade, Priscilla jamais admitiria, mas não é como se não fosse óbvio.

— Plebeu idiota. — ela xinga, mas sua própria voz não carrega malícia ou desprezo, apenas um carinho que beira ao amoroso. Somente ela sabe quantas noites aquele homem aguentou em agonia desenfreada, no qual um dia ela julgaria patético, mas aprendeu a encarar como um gesto de força. Nem mesmo ela entendia a totalidade do trauma, mas compreendia a superação, pois esteve lá. Isso era o mais importante. — Acorde, seu idiota! — com um movimento levemente carregado, Priscilla acertou seu leque na cabeça do cavaleiro.

O homem ali deitado resmungou pelo “ataque” sofrido. Mesmo não sendo um golpe pesado, Priscilla era muito mais forte que ele, o que normalmente o faria se sentir emasculado, mas agora era somente um detalhe agradável. De toda forma, pela dor do impacto, o garoto foi obrigado a abrir os olhos novamente, desta vez consciente do mundo ao seu redor.

— Aí, Pris. Por que você me bateu? — ele resmungou ao acordar, colocando a mão na cabeça, na região acertada por Priscilla. O golpe realmente doeu, afinal.

— Para você acordar, plebeu. Você fez mineself passar vergonha agora, espero que esteja preparado para as consequências! — ela estendeu a mão para o lado enquanto curtas labaredas faiscavam por entre seus dedos. Uma ameaça velada que fez o garoto despertar por completo.

Antes que Priscilla pudesse concluir sua ameaça e invocar sua tão temida espada Yang Vollachia, o cavaleiro já estava de pé ao lado da cama, sua postura ereta e firme, não como um cachorro, ou um mero plebeu, mas sim como um cavaleiro, um rei. Priscilla aprovou silenciosamente, satisfeita com os resultados que alcançou.

— Desculpa, Pris. Eu não faço ideia do que eu fiz ou como te envergonhei. — Priscilla fechou o cenho ao notar a falta de sinceridade do mesmo com seu pedido de desculpas. — Você sabe que eu não consigo acordar sem você. — ele deu uma piscadela, relaxando mais sua postura.

— Que seja, você ainda será punido por tamanha transgressão à minha imagem, meu Rei. — o pequeno sorriso selvagem que apareceu em seu rosto fez Subaru engolir em seco, mas ele não se amedrontou! Ele era homem! Menos másculo que Priscilla, mas ainda homem! Aguentaria muito bem a punição por suas transgressões, e aquele olhar dela já o fazia estremecer brevemente. Ele já sabia o que seria. — Agora vá se arrumar e resolver o maldito problema que você me arrumou, matador da baleia branca, da preguiça e da ganância. Lidar com cachorros me estressou demais. — a vollachiana murmurou.

Subaru franziu o cenho, confuso com as palavras dela. Ele percebeu que seu nome havia retornado quando Reinhard e Crusch foram visitá-lo, mas não entendeu a implicação geral da frase de Priscilla. Mas, bem, se sua dama pediu, ele faria. Jamais contrarie as ordens de Priscilla Barielle, ou melhor, Prisca Natsuki.

Caminhando até o guarda-roupa que eles dividiam, Subaru observou o mar de tecido com uma cautela impressionante. Ele adquiriu um gosto considerável por moda e se vestir bem, embora isso tenha vindo de uma obrigação e não um desejo pessoal, mas aprendeu a apreciar. Seus dedos se estenderam, tocando gentilmente o tecido surrado de seu casaco típico, que ele usava quando chegou naquele mundo há mais de dois anos, quase três. Tantas coisas aconteceram nesse meio tempo, boas, ruins e definitivamente ótimas. O lembrava de quando se deparou pela primeira vez com o desconhecido, de quando saiu daquela simples lojinha…

Ele esperava que seus pais estivessem bem, vivos e saudáveis, e torcia para um dia poder vê-los novamente, nem que por um mísero segundo. Tantas memórias.

De toda forma, ele deixou aquilo de lado. Aquele casaco era apenas uma memória que permaneceria guardada, não era mais sua realidade, seu presente. Apenas um passado.

Seus dedos logo subiram, tocando a peça de roupa que, dentre todas que ele adquiriu com Priscilla, era inegavelmente a que ele mais gostava de usar: seu uniforme de cavaleiro. Pegando-o em seu braço, Subaru se trocou com esmero, tomando um cuidado a mais com sua própria aparência, algo que no passado ele odiava fazer, não importava o quanto insistissem para ele se cuidar. Subaru era um rapaz atraente, no final das contas, embora Priscilla achasse Natsumi bem mais. Emasculante, no mínimo.

Com o trajeto devidamente posto, bastou apenas ajeitar seu cabelo, puxando-o para trás, mas deixando uma pequena mecha cair por sua testa. Seu visual finalmente completo levou uma quantidade não muito elevada de tempo; bom, se comparado com as cinco horas que ele levou para se arrumar daquele jeito pela primeira vez, trinta minutos era um ótimo tempo.

— Meu eu divino já disse o quanto aprova esse visual? — a voz de Priscilla ressoou, calma, sossegada, como se a turbulência que o pobre Schultz tinha que suportar não fosse nada mais do que um incômodo. — Você deixou de ser um mero cachorro para ser um rei. — ela saudou com graça, admirando as curvas de seu cavaleiro, em especial os belos glúteos. Subaru ficou levemente vermelho em suas bochechas; ela nem se deu ao trabalho de disfarçar.

— Inúmeras vezes. — ele comentou, com um pequeno sorriso baixo. Há quase dois anos atrás, quando seu nome foi devorado pela Gula, ele jamais imaginaria que seu destino seria tão bom, tão rico, tão… perfeito. — “Obrigado, irmão.” — mentalmente, ele agradeceu ao antigo cavaleiro de Prisca, Aldebaran. Um pensamento agradável, embora com tons de saudade evidente.

— Que sirva de lembrete. — ela decidiu, fazendo o cavaleiro apenas rir baixinho. Ele devia tudo à Priscilla, e seu corpo, sua alma, suas autoridades, tudo era pela sua dama, suas damas.

Subaru caminhou suavemente até a presença confortável da mulher de cabelos alaranjados e agachou-se suavemente, beijando o estômago de Priscilla, que riu baixinho em uma troca carinhosa, incomum, mas apreciada.

— Mal posso esperar pra ter nossa pequena Helena nos braços. — ele murmurou apaixonado, depositando seu ouvido no abdômen liso de Priscilla. O bebê nem havia começado a se formar ainda, mas ele já era tão atencioso… a matriarca realmente se apaixonou pela pessoa certa, no fim, assim como sua mãe tanto falou um dia.

— E se for um menino? — ela arqueou a sobrancelha, curiosa, no mínimo.

— Então mal posso esperar para carregar nosso Perseus nos braços. — ele responde categoricamente, mas com sua voz carregando um amor tão puro e genuíno. Ele já amava aquele bebê com toda a sua vida, e Prisca se sentiu agraciada. — Eu te amo, Pris, com toda minha alma. Eu prometo que amarei, cuidarei e protegerei a ti e a nossa linda bebê com tudo o que tenho. — sua voz, carregada de uma paixão tão forte, aqueceu o coração da matriarca, que sorriu levemente.

— Sei que vai, você não seria idiota o suficiente para não se entregar pela nossa família. — ela provocou, o que ele devolveu com um sorriso. Honestamente, eles poderiam passar o dia inteiro apenas assim, juntinhos; Prisca não reclamaria. Infelizmente, no entanto, plebeus inúteis ousam tirar sua paz, e era melhor ele resolver logo. — Agora vá, resolva esse problema logo e salve a pele do Schultz. É uma ordem de sua rainha. — ela ordenou, mantendo o sorriso ainda.

Pobre Schultz!

Subaru é rápido em se levantar, assumindo novamente uma pose mais confiante que Prisca tanto apreciava. O que quer que fosse, ele estava pronto.

— E não se esqueça, você é meu. — seu tom, carregado pela possessividade amorosa, fez com que o pobre cavaleiro se apaixonasse ainda mais por sua dama.

— Para sempre seu, meu amor. — ele manda um beijinho para ela antes de caminhar até a porta.

Prisca apenas balança sua cabeça. Ela gostaria de ver como Subaru lidaria com seus fantasmas do passado, mas ela já sabia, afinal, ela quem determinou isso. O que restava era apenas esperar, e isso ela poderia fazer tranquilamente sem ter que lidar com plebeus liderados por um meio diabo irritante.

Enquanto Prisca voltava a descansar, Subaru permitiu que um pequeno suspiro escapasse por entre seus lábios, pensando no que exatamente se tratava a situação e o que estressou a matriarca tão cedo; era um incômodo, sem dúvidas. Ele precisava averiguar e resolver.

Seus dedos logo tocaram a porta, e suavemente, a porta foi aberta. O que quer que fosse, ele lidaria de frente.

— O que é isso? — sua expressão tornou-se exasperada ao ver o caos que se encontrava na sala, o que ele nem ao menos sabia como encarar ou lidar. A bagunça era enorme e a dor de cabeça foi instantânea.

No seu campo de visão, era possível ver Garfiel Tinsel sendo segurado por Heinkel van Astrea e outro membro do acampamento Priscilla, quase transformado, tentando pular para cima da porta na qual Subaru acabava de sair. Emilia chorava, pingentes de gelo, enquanto era inutilmente consolada por Ram e Otto. Beatrice parecia estar em um estado catatônico, sem nem ao menos conseguir se mexer, um único músculo sequer.

Do lado do acampamento da meio-elfa, o choque foi imediato ao encararem a porta sendo aberta novamente e de lá saindo a figura que eles tanto amavam, que tanto apreciavam, e também a que enchiam eles de tamanha culpa incorrigível. Ali, ele, seu cavaleiro, seu contratante, seu amigo, seu capitão, seu irmãozinho. Depois de quase dois anos sem o ver, esquecendo dele, de quem ele era, do que ele fez por cada um deles. A dor era excruciante.

Mas, ao mesmo tempo que era ele, também não parecia, não demonstrava; era como se fosse um outro eu, ou talvez, um novo eu.

Subaru não vestia mais seu moletom surrado; suas vestes agora possuíam um tom nobre, real, digno de um cavaleiro. Seu traje consistia agora em um longo casaco laranja escuro, abotoado em prata com três abas separadas. Havia um padrão branco e serpentino que corria ao redor da gola, com uma cabeça de cobra pendurada no ombro esquerdo do casaco e sua cauda descendo pelo lado direito, até a parte inferior do casaco. Um forro dourado percorre as bordas do casaco e um padrão de flores douradas e sedosas decora o forro interno. Cada punho do casaco também possui cinco tiras abotoadas douradas com forro dourado. Por baixo do casaco, Subaru usa um lenço laranja claro enrolado no pescoço, que pende sobre um colete preto sem mangas que revela seus braços e ombros bem torneados. Ele usa luvas pretas sem dedos, um cinto marrom de pele de cobra com fivela prateada, calças pretas com um padrão de escamas na superfície e botas em um preto-azeviche de cano alto com duas tiras de fivela dourada no topo.

Seu cabelo também teve sua mudança; do momento em que eles se lembravam até o momento dele liso agora pouco, para agora penteado para trás. Subaru estava lindo, atraente, bem cuidado, como ele sempre teve potencial para ser. Emilia se sentiu pior, presa em uma sensação de autoaversão. Até mesmo quando cuidado por outra senhorita, ele parecia melhor do que quando estava com ela. Priscilla estava certa? Subaru era realmente o cavaleiro dela? Ela o perdeu? Seu coração se apertou enquanto ela chorava.

— Capitão! — Garfiel sibilou, sem nem ao menos acreditar no que via. Claro, durante esses quase dois anos, ele já havia visto Subaru, mas com as memórias voltando, parecia agora duas pessoas diferentes. Até mesmo em postura, nos mínimos detalhes.

— Que bom que você chegou, pirralho. Já tava difícil de segurar. — o rude Heinkel vociferou, soltando o braço de Garfiel, que acabou caindo, sem conseguir se mexer exatamente, seu corpo travado pela presença de seu capitão.

— Barusu, você… — Ram nem ao menos sabia como completar sua frase, seu corpo travado ao ver a figura de seu irmãozinho ali, novamente, depois de tanto tempo. Ela ainda se lembrava, ou melhor, se lembra do momento que o conheceu, de quando ele salvou a vida de sua Rem, de quando ela se apaixonou por ele; Rem tinha um péssimo gosto, por sinal, de como eles eram família, apesar dos insultos. Mas agora ele estava tão diferente; sua postura era carregada de nobreza e cavalheiria, e cada passo era uma imposição de uma figura única, algo digno de acompanhar o eu divino de Priscilla Barielle.

O que aquela mulher fez com Barusu, Ram não sabia, mas mesmo assim era surpreendente. Era realmente como se fosse… outra pessoa.

— Natsuki-san. — Otto sibilou, sem nem ao menos ter o que falar ou o que sentir. Era demais, simplesmente, a figura que ele tanto prezava, que salvou sua vida, que o encarou como um amigo, apesar do bullying. Era tão diferente…

Beatrice nem ao menos conseguiu dizer algo, pois sua garganta estava presa, fechada pelo choro, a tristeza que afetava sua alma, sua existência, a culpa que a corroía, o egoísmo que a destruía. O pequeno grande espírito estava em uma espiral de autoaversão ainda maior do que a de Emilia, pois, quando você é a culpada direta pelos piores acontecimentos da sua vida, é simplesmente difícil aceitar ou sequer pensar. Inconscientemente, a pequena Beako tentou estender seus braços, desejando, ansiando pelo toque, por ele a pegar no colo novamente, abraçá-la, dar tapinhas em sua cabeça. O quanto ela ansiava por ser seu espírito novamente e poder chamá-lo de contratante, com o mesmo orgulho que tanto já sentiu e sempre sentiria. Para viver ao lado dele pelos próximos anos enquanto ele cumpria sua promessa de criar apenas memórias felizes com ela. Mas como ele poderia cumprir se ela mesma quebrou essas promessas?

Subaru, contudo, não sabia bem o que sentir. Demorou um tempo considerável para ele entender o que Prisca queria dizer com aquelas palavras, talvez porque já havia se passado tanto tempo que ele havia até mesmo deixado de lado, mesmo que seu nome já tivesse retornado. Honestamente, a situação era muito mais complicada agora e ele já estava com dor de cabeça, mas precisava resolver o problema, claro.

— Heinkel, por favor, pode ir. Você também. — ele acena com calma para o cavaleiro de cabelos ruivos e o outro membro, que agradecem silenciosamente. Lidar com pessoas tão instáveis era muito chato, principalmente para os dois. Sem nem mesmo se despedir, eles saem do recinto, indo embora imediatamente. — Schultz-kun, prepare um chá para nossos convidados, por favor. — Subaru dá um aceno suave para a criança, que responde em claro alívio por poder sair daquela situação. O pobre coitado estava aterrorizado, não por menos; eles eram assustadores!

Com os outros três partindo, sobrou apenas o antigo cavaleiro da meio-elfa junto de todo o acampamento que foi atrás dele. Subaru permitiu que uma lufada pesada de ar escapasse de seus lábios ao observar as cinco pessoas, seus antigos amigos, companheiros e dama, parados à sua frente. Seu olhar não possuía desgosto, raiva ou desprezo costumeiro que poderia vir de Priscilla; era apenas algo… calmo, controlado, como se seus verdadeiros sentimentos sequer existissem, ou estivessem perfeitamente bem escondidos por todas as camadas reais que circulavam seu corpo.

Se inclinando, Natsuki sem pressa se senta no sofá luxuoso à frente de seus antigos companheiros. Sua perna direita se cruza acima da esquerda, e sua postura permanece reta, ereta, firme, sem abaixar a guarda por nenhum momento. Aquilo encheu o coração deles de dor, a realidade das circunstâncias os esmagando completamente.

Um silêncio desconfortável se instalou no recinto, marcado pela espera de Subaru e a falta do que dizer do acampamento Emilia. O que eles poderiam dizer? “Sinto muito, por favor, nos perdoe. Volte para a gente, seja meu cavaleiro, meu contratante, nós te amamos”; seria simplesmente doentio. Diferente da imagem que construíram baseada em todo o relacionamento e em como conheciam a princesa carmesim, eles esperavam que seu amigo estivesse mal, e talvez pudessem estar lá de verdade para ele, mas só a forma como ele se portava já mostrava o quão melhor ele estava sem eles. Aquilo doía.

— Honestamente… — decidido a acabar com aquele silêncio constrangedor, Subaru decide começar, vendo que o outro lado não estava disposto a comentar — Eu não esperava que vocês viessem até mim, mas também deveria esperar por isso, creio eu. — ele comentou, seus olhos sanpaku, tão intimidadores, cravando-se nas figuras à sua frente, que pareciam menores, mais frágeis. — E então, o que desejam nas terras de minha senhora? — ele já sabia, claro, mas ainda ansiava por ouvir da boca deles.

Ouvir aquela frase, contudo, doeu profundamente em Emilia, afundando ainda mais seu coração já apertado. Mesmo que mantivesse sua postura, o “minha senhora” saiu em um tom tão… carinhoso, de uma forma que há quase dois anos atrás ele só iria se dirigir a si própria, mas agora era pra outra pessoa, outra mulher, outra… Subaru ainda a amava?

— S-Subaru! — a voz de Beatrice saiu arrastada, apesar de tudo, ela foi a primeira a verbalizar o que todos sentiam, mas eram incapazes de expressar. Aquela voz carregada de tanto sofrimento. — P-Por favor, nos perdoe, eu acho. Nos desculpe, nos desculpe, perdoe esse espírito inútil e nojento, eu acho. Por favor, me perdoe por te machucar, por te trair, por ser um péssimo espírito, eu suponho. — Beatrice chorava profundamente.

Ela ainda se lembrava do julgamento, como a acusou tão fácil, como, mesmo com a verdade sendo dita por ele inúmeras vezes, ainda se rejeitou a aceitar. O olhar de traição ao ver ela testemunhar contra ele, ao ser chamado de cultista. Beatrice se odiava.

— Capitão, eu, por favor… — Garfiel mordeu seu lábio inferior com tanta força que o sangue escorreu, mas o próprio não ligou e tampouco percebeu. Ele se odiava, principalmente por ter ameaçado seu capitão, quando ele tentou falar para Emilia, por ter mandado ele ficar longe. Ele era o seu capitão, seu ídolo, sua figura máxima. O demi-humano se sentia completamente incapaz.

Nem Ram e nem Otto eram capazes de dizer algo, pois a dor deles já era verbalizada pelos outros. Otto também testemunhou, e embora tenha sido o mais racional, ele ainda sim escolheu não dar o benefício da dúvida, mesmo com Subaru detalhando coisas que seriam muito difíceis para alguém de fora saber. Como ele pôde ser tão cego?

— S-Subaru-kun. — a voz quebrada de Emilia ressoou, seus olhos ametistas brilhando em lágrimas não derramadas. Ela apertou o sofá, sua força élfica o desmanchando consideravelmente, mas ela não se importava. Ela só se importava com o garoto à sua frente, seu cavaleiro. — M-Me perdoe, por ter te deixado tantas vezes, por ter te abandonado quando você mais precisava. — sua garganta se fechou, e ela riria da ironia se não fosse tão trágico. Ela o abandonou uma vez, e Crusch o resgatou, e agora ela o abandonou de novo, e Priscilla foi seu porto seguro. Que tipo de dama ela era? — Por nunca ter te dado a resposta que você queria, por te fazer esperar tanto tempo, meu cavaleiro. Eu te… — antes que ela pudesse completar sua frase, o próprio Subaru a silenciou, elevando seu dedo indicador direito até os lábios e fazendo um breve som de “shhhh”.

Uma segunda lufada de ar escapa dos lábios de Subaru enquanto ele balança a cabeça, parecendo apenas decepcionado, sem muito o que dizer, mas claramente desgostoso.

Antes que ele pudesse iniciar seu diálogo e responder seus antigos companheiros, a pequena criança de cabelos rosados surge na sala com a chaleira e algumas xícaras, nas quais ele logo serviu chá para os convidados, embora os mesmos sequer estivessem a fim de tomar. Subaru, no entanto, foi recebido com uma mistura de coloração marrom, que ele parecia gostar bastante, visto que bebeu de imediato, embora tenha mantido sua classe até mesmo no mais singelo toque.

— Café continua sendo a melhor bebida de todas. — ele soltou um suspiro suave, depositando a pequena xícara em um pratinho especial. O calor da bebida e a cafeína ajudaram a pôr sua mente no lugar para a conversa que eles teriam, sabendo bem o quão complicado seria. — Antes de tudo, eu peço que não me interrompam para o que eu tenho a dizer. Só respondam quando eu sinalizar, entendido? — Seu tom de voz não deixou espaço para discussão, e todos, com pressa, acenaram em concordância — Ótimo.

Subaru fez uma pequena careta, pensando em quais palavras ele poderia dizer. Se fosse há um ano, talvez fosse um discurso mais emocionado, uma emoção mais crua, um desejo de abraçá-los, chorar, perdoar e voltar a ser o cavaleiro, voltar para o acampamento do seu primeiro amor. Ele definitivamente teria muito o que dizer. Até mesmo voltaria a usar o Retorno se precisasse, mas não foi.

Desde que se juntou ao acampamento Priscilla, Subaru morreu uma única vez, e foi muito mais por acaso do que por desejo, mas o principal, ele não sentiu a dor de ser causado por um amigo. Ali, na sua frente, nenhuma daquelas pessoas era isenta; todas foram responsáveis por pelo menos uma morte dele, e aquilo era o mais aterrorizante: pensar que ele caminhou tantas vezes ao lado da morte por um sentimento tão ruim que o dominava. Aquilo era insano; ele era insano.

Um suspiro; era hora de resolver isso.

— Antes de qualquer coisa, devo reiterar que não possuo ódio ou ressentimento pelo que aconteceu. — ele decidiu começar, e pode ver o rosto de todos ali se iluminar minimamente com suas palavras. O cavaleiro sentiu pena, mas não comentou. Emilia parecia disposta a falar, mas não falou, e ele agradeceu por isso — Por mais que tenha soado como uma traição, eu posso entender que vocês estavam trabalhando com informações limitadas logo após um ataque de todos os Arcebispos em Pristella, então me averiguar, apesar de tudo, era problemático; não os culpo por desconfiar, embora os culpe por não dar ao menos o benefício da dúvida. — ele pontuou, vendo que precisava matar a esperança que parecia surgir a cada uma das palavras proferidas. Era difícil ser honesto, pois qualquer comentário seria alimentar algo inexistente. — Eu fiquei bastante amargurado, mas aprendi a superar. Agora é apenas um passado, um passado que não faz mais parte de mim. Entendam isso. — deu ênfase por fim, bebericando mais um pouco da bebida quente em seguida.

Suas palavras, duras, atingiram em cheio o acampamento Emilia, que engoliu em seco, cada um preso em sua própria aversão. Era verdade, sim; Subaru parecia tão bem, eles deveriam agradecer só por não serem odiados.

— Subaru, você disse. — Emilia sibilou, chorando lágrimas de gelo enquanto observava seu antigo cavaleiro. Ela interrompeu, olhando para ele com uma tristeza e agonia tão grande que o deixou com pena genuína — Você prometeu que me amava, que me esperaria, que… que… — ela chorou mais, o que deixou todos ao redor ainda mais angustiados com a figura frágil de sua senhora.

Subaru suspirou, balançando a cabeça novamente. Infelizmente, o preço de fazer tudo por ela foi muito grande, não só da parte dele, como de todos. Eles focaram tanto em deixar Emilia estudar política que esqueceram que a parte mais importante era a comunicação, aprender a lidar com a frustração, saber responder, saber lidar com pessoas e sentimentos. Ele esperava que um choque de realidade fosse o suficiente.

— De fato, eu prometi. — ele murmurou, vendo o olhar ametista dolorido brilhar levemente, quase como se estivesse mais… feliz. Quando Emilia abriu a boca, Subaru a cortou friamente — Mas, quando eu fui esquecido, essa promessa naturalmente foi desfeita, afinal, você nem ao menos se lembrava que ela existia. — ele continuou. Era duro, sim, mas necessário, e embora Ram parecesse desgostosa, Otto entendeu o suficiente para não deixar ela interromper. — Emilia, eu sei que nunca fui a pessoa mais sã do mundo e quebrei muitas promessas, mas essa eu não quebrei, pois fui esquecido, e então decidi viver minha vida, recomeçar, criar um novo nome para mim; afinal, eu nunca existi como seu cavaleiro. Pris me acolheu, me deu uma chance quando o reino inteiro estava contra mim, me deu uma chance, e eu estou feliz aqui. Eu não sou mais o Matador da Baleia Branca, do Grande Coelho, da Preguiça e da Ganância, mas sou Subaru Natsuki, Matador da Serpente Negra, da Luxúria e do Orgulho. — Os outros puderam notar uma certa arrogância nas falas dele, um orgulho por seus títulos, o que fomentou sua nova identidade. — E cavaleiro de Priscilla Barielle, Bastião do Acampamento Priscilla, é imutável. Eu agradeço pelo tempo que passamos juntos, mas ele é somente passado agora, e ficará assim. — finalizou, mantendo completamente sua compostura a cada palavra dita.

Era cruel, ele sabia, mas não se arrependia de dizer, mesmo quando Emilia abaixou a cabeça em um choro silencioso, sem nem ao menos conseguir dizer algo, apenas soluçar baixinho, com pedras de gelo caindo de seus olhos. O ambiente ficou consideravelmente mais frio, mas não o suficiente para ser preocupante. Subaru suspirou.

— Pris…? — parecendo ser a única a ter notado, Ram decide levantar a voz. Otto já tentava consolar sua dama, e apesar de tudo, e do próprio pedir para ela não falar nada, Ram foi firme. — Barusu… qual é a sua relação com sua… dama? — dizer aquilo tinha um gosto amargo, mas ela ainda queria saber.

Subaru levou sua mão até a nuca, coçando levemente, suas bochechas assumindo uma coloração avermelhada tão natural que afundou ainda mais o estômago deles, que já sabiam da resposta mesmo sem ele dizer.

— Onii-san e Priscilla-sama são casados! — pronto para defender seu senhor e sua senhora, o pequeno Schultz aparece. Todos no acampamento Emilia sentem o coração se apertar como se algo os estivesse esmagando. Eles pensaram que Priscilla o tratava mal, mas agora…

— Noivos, Schultz-kun. Somos noivos. Só vamos nos casar depois que a seleção real acabar. — ele deu um pequeno tapinha na cabeça do garoto, que agradeceu com um sorriso. Beatrice chorou, de inveja e egoísmo.

— Eu… entendo. — Ram se calou, tendo a resposta que buscava. Ela nem poderia dizer um comentário espirituoso sobre a lascividade de Barusu ou como ele era um porco nojento, pois não tinha mais esse direito. Subaru estava certo; ele seguiu em frente e agora estava feliz, quase casado, com uma família, pessoas que o respeitavam, mais do que ela respeitou. Ram queria sumir.

Os outros nem ao menos sabiam como reagir a essa informação. Emilia não conseguia parar de chorar; Garfiel apertou seus punhos, embora estivesse feliz mesmo assim, por seu capitão ter encontrado a felicidade, mesmo que não com a princesa. Otto não tinha direito a sentir muita coisa, mas ficou feliz pelo seu amigo, ou antigo amigo. Beatrice nada disse; a realidade já estava instalada na sua cabeça há muito tempo. Ela perdeu, perdeu seu contratante.

Subaru suspirou. A conversa foi mais tranquila do que ele esperava. Talvez a culpa tenha ajudado eles a entender mais fácil, ou sua própria postura, ou a sua Pris. Quem sabe? Pelo menos ele não teve que se explicar demais ou se manter em um looping de horas te do que repetir as mesmas coisas.

— Beatrice. — seu olhar caiu no espírito, que foi a única com a qual ele não se dirigiu, apesar dela ter sido sua maior parceira. A traição que ele sentiu quando ela o acusou foi muito maior do que a acusação dos outros, e por muito mais tempo ele remoeu a figura dela, mas agora… agora não, ele aprendeu a deixar o passado no passado. O espírito apenas o encarou com seus olhos trêmulos. — Como eu disse para todos, eu digo para você, especialmente. Eu não te odeio, muito pelo contrário, sempre vou carregar nossos momentos com todo o carinho do mundo. — ele suspirou, observando o corpo de boneca, frágil, mas com aquela pequena centelha de esperança solitária que ele viu em Emilia. — Não voltaremos a ter um contrato, pois eu já fiz contrato com outros espíritos. — ele foi rápido em avisar, cortando qualquer chance ou esperança que o espírito pudesse vir a ter.

— Eu… entendo, eu suponho. — ela choramingou. Não tinha como um espírito inútil e nojento feito ela ainda estar com um contratante tão incrível quanto ele; ela não merecia. Ela era um fracasso como espírito.

No entanto, em meio a sua autoaversão, ela não pode reparar em nada, até sentir um calor inconfundível em sua cabeça, um calor que ela tanto já sentiu no passado e tanto ansiava por sentir novamente. Subaru havia se movido em uma velocidade que nenhum deles foi capaz de perceber, e agora, dava leves tapinhas na cabeça do espírito. Apesar de sua culpa ser enorme, o gesto caloroso fez um pequeno sorriso, imperceptível, surgir em seus lábios.

— Mas, quem sabe no futuro você não… — ele acaba corando suavemente, e também sentindo um arrepio incomum na espinha. Prisca odiaria sua ideia, mas ele realmente apreciava Beatrice apesar de tudo — Deixa pra lá. — ele deu um sorriso nervoso, mas manteve o tapinha na cabeça dela.

— Ah sim, onii-san, você quer que ela seja o espírito da filha que você e a Priscilla-sama vão ter? — o inocente Schultz ataca novamente, sendo recebido apenas por um olhar horrorizado do próprio Subaru e uma expressão chocada de todos, especialmente de Emilia, que agora queria fugir dali.

A última memória boa, de quando eles se beijaram pela primeira vez, de quando ela acreditou que estava grávida, de quando ela passava a mão na barriga no ano posterior ao santuário, pensando em uma pequena Chocorina. Esse momento… não existe mais. Subaru seria pai, e não com ela.

— Desculpe por atrapalhar, mas precisamos ir embora. — guiada pelos seus desejos, Emilia se levantou, mas não se despediu; ela apenas correu. Ela não aguentaria mais ficar ali, e saber que perdeu tudo por causa da maldita Gula, perdeu o homem que a amava, seu futuro, perdeu tudo.

Ram suspirou ao ver sua suserana partir sabendo bem o que se passava na cabeça da meia-elfa, mas ela não podia julgar, nem xingar Barusu, afinal, era a vida dele, sua filha, sua família; ela não poderia ser cruel dessa forma.

— Com sua licença, Barusu. — é tudo o que ela diz, no entanto, antes de partir, para acompanhar Emilia e consolá-la. A ideia de que seu antigo cavaleiro não só era cavaleiro de uma rival, como noivo e pai da filha que ela estava esperando, era demais para a mente da jovem candidata.

Otto e Garfiel acabaram sorrindo levemente, apesar das circunstâncias terríveis. Entendiam que era o momento de partir, mas ainda assim.

— Parabéns, Natsuki-san/Capitão. — ambos disseram em uníssono. Apesar de tudo, eles ainda eram amigos, e Subaru agradeceu a eles por isso.

— Antes de ir, Otto. Meili ainda está com vocês? — ele arqueou a sobrancelha, o que foi devolvido pelo garoto de verde, confuso.

— Sim, por quê?

— Preciso falar com ela um pouco sobre algumas coisas, e também gostaria de tê-la oficialmente sob minha guarda. — ele responde, simples, mas direto, para o espanto dos outros dois. Subaru realmente estava falando da pirralha assassina? Tê-la em sua guarda.

— Capitão, mas essa fedelha… — antes que Garfiel pudesse concluir, Subaru o corta com um movimento de mão.

— É um pouco mais complexo e não vale a pena explicar, mas eu estou falando sério. Eu quero Meili sob minha guarda, então se puderem facilitar e informar Roswaal sobre isso, ficaria grato. — ele responde. Subaru não precisava justificar seus pensamentos e ideias, por mais absurdas que fossem.

Meili era apenas uma criança, uma que ele estava disposto a cuidar, consertar e ter como filha.

Otto suspirou, balançando a cabeça.

— Até quando você não está no acampamento, você ainda me causa problemas, Natsuki-san. — ele balbuciou, coçando a nuca com o novo trabalho que adquiriu, mas devia isso ao seu antigo amigo depois de tudo. — Eu vou ver o que posso fazer.

— Já é ótimo — ele murmurou, agradecido.

— Bom, se o capitão quer, quem meu eu incrível é para contrariar. — ele tentou se angriar com um comentário levemente sarcástico, o que não funcionou muito, mas não foi recebido com hostilidade. Apenas com um aceno. Garfiel ficou triste, mas entendeu.

Enquanto isso, a pequena Beatrice aproveitava em silêncio os tapinhas na cabeça que recebia. Ela e Subaru sempre possuíram um vínculo mais especial do que qualquer coisa, e Subaru jamais iria odiá-la, assim como ela não o odiava, apesar de o acusar, pois sempre sentia algo no peito quando pensava que deveria odiar o Arcebispo, e no final nunca conseguia.

— V-Você… tava falando sério, eu suponho? — As pupilas em formato de borboleta brilhavam uma expectativa enquanto ela inutilmente tentava limpar suas lágrimas e seu ranho. Aquilo poderia ser a melhor coisa a acontecer com ela.

Subaru apenas esfregou a cabeça dela mais um pouquinho, o que ela aproveitou com gosto.

— Quem sabe? Você precisa me convencer e principalmente, convencer a Pris de que é qualificada o suficiente para ser o espírito guardião da nossa filha. Mas quero que saiba que não será nada fácil. — ele garante, voltando ao seu tom sério.

Mesmo que fosse seu antigo espírito, sua filha sempre seria a coisa mais importante do mundo para si, e ele não aceitaria ninguém incompetente perto dela, principalmente com um papel tão grande em mãos.

— E-Eu prometo que serei o melhor espírito de todos, eu suponho! — ela diz, convicta. Uma promessa, hein, os outros sempre foram melhores em cumprir isso do que ele.

— Você terá muito trabalho. — ele sorri baixinho, retirando a mão da cabeça dela, para desgosto dela, que não reclamou, no entanto. Ela não tinha esse direito. — Agora vá, os outros estão te esperando. — ele pede, por fim.

Beatrice não podia ficar ali, não ainda. Mas vejamos o que o futuro lhe aguarda.

Com a saída do espírito, a casa volta a ficar silenciosa, e ele se permite sorrir levemente, mesmo que pouco. Apesar de tudo de ruim, ele não reclamava da nova vida que tem, do que ele conquistou e principalmente, do novo significado para seu nome. Ele não era um herói, nem um escravo do destino; ele era Subaru Natsuki, simples e objetivo, e preferia bem mais essa versão. Agradecia a Aldebaran por isso, que mesmo apesar de tudo, foi quem o salvou.

Até pensou em Rem, mas considerando que Ram sequer a citou, e ele ainda não recebeu a autoridade da Gula, a situação não era boa.

— Você é sempre tão bocudo, sabia? — Subaru riu, acariciando a cabeça do pequeno Schultz, que corou um pouquinho, nervoso, e levemente culpado. — Não se preocupe, foi bom ter dito; me deu um pouco de coragem. Prisca vai me matar depois, mas é a vida. — ele gargalhou. Adultos são tão estranhos. — Enfim, cancele qualquer coisa que eu tenha hoje. Vou passar o dia com a Pris. — antes que o pequeno sequer pudesse falar algo, Subaru já havia desaparecido. Schultz choramingou.

De volta ao quarto, o cavaleiro deu um sorriso suave, mais amoroso, bordado com o mais refinado do carinho, ao ver Prisca relaxando, presa em um sono confortável, um tipo de visão que um dia parecia tão rara, ao ponto de mesmo começar a ser comum, ele ainda não se acostumar. A beleza etérea daquela deusa era algo além da compreensão humana, e conviver com ela o fez entender que quando ela se autoproclama uma divindade, é porque ela de fato é uma. Subaru poderia adorá-la por dias a fio. E aquela linda mulher era sua futura esposa e mãe de sua linda filha, que, embora nem tenha nascido, já possuía o amor eterno de dois pais dispostos a tudo por ela.

Ele se desfez do casaco, o pendurando junto ao seu colete, e se desfez de suas botas, voltando a ficar apenas de calças, com seu torso nu livre. Deitando suavemente na cama, ao lado dela, o garoto depositou um suave beijo em sua testa, um atestado de amor profundo.

— Eu te amo, Pris. — seu murmúrio foi bordado com algo tão caloroso que, mesmo em meio ao seu sono, um sorriso nasceu nos lábios da mulher. Ele riu baixinho, descendo até embaixo e beijando o abdômen dela suavemente. — Eu também te amo, pequena. O papai mal pode esperar pra te pegar nos braços.

O cavaleiro logo voltou para cima e a segurou com todo o cuidado e amor do mundo nos braços, envolvendo seu corpo como um vidro delicado com seus braços e voltando a dormir sossegado. Como ele lidaria com Prisca após ela descobrir sobre a ideia dele? Pensaria depois; agora ele só queria desfrutar da companhia de sua amada suserana.



Notas Finais


Espero que tenham gostado. Peço desculpas se ficou muito exagerado, é a minha primeira vez trabalhando com os personagens de Re:Zero, e lidar com a Priscilla é muito mais difícil do que parece.

Algumas explicações caso você esteja confuso: Ao contrário das histórias típicas desse tropo, aqui, Subaru não foi torturado nem nada, porque, embora Beatrice tenha atestado seu cheiro, Reinhard e Crusch também atestaram que ele estava dizendo a verdade, o que criou um impasse impossível de lidar na época, já que poderiam prender um inocente ou um arcebispo. Aldebaran, que não se esqueceu dele porque ele também era da Terra (não sei se Subaru não é indiretamente afetado pela Gula por ser da Terra ou por ser o Sábio, mas aqui é porque ele é da Terra) conseguiu convencer Priscilla a testemunhar a seu favor e impedir que ele fosse preso, o que o levou a ser forçado a entrar no acampamento dela, mas ele gostou de estar lá.

Para aqueles que ficaram confusos com a aparência do Subaru, imaginem o Vergil do DMC 3, só que em vez de azul, é laranja.

Talvez eu crie mais one-shots como este, mas com os outros candidatos. Já tenho uma base para Crusch e Anastasia. Mas quem sabe?

Fazia anos que eu não escrevia nada... foi um ótimo exercício.


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