REESCREVENDO AS ESTRELAS
Capítulo 04 — And see that it was hopeless after all
[I figured it out
Saw the mistakes of up and down
Meet in the middle
There's always room for common ground
You and I, One Direction]
Chanyeol ainda não tinha certeza se era mesmo uma boa ideia.
Não sabia o que tinha dado em si na noite anterior para que tivesse concordado com a ideia de Baekhyun; voltar às origens de ambos e reviver o início do relacionamento que cultivaram só para que, assim que a viagem terminasse e retornassem à cidade, se separassem em seguida parecia crueldade. Não apenas consigo, mas também com Baekhyun porque conseguia ver que não era o que o Byun também queria.
Ainda assim, após uma noite de sono conturbada onde pouco dormiu, pensando em tudo que havia acontecido naquele fim de semana, Chanyeol acordou na manhã seguinte sem encontrar os motivos certos para dizer a Baekhyun que não gostaria de seguir em frente com aquela ideia.
Porque havia uma pequena parte em sua cabeça tentando ganhar força que lhe dizia que também queria essa viagem, que não podia fazer tão mal assim se despedir de seu casamento com boas memórias de Baekhyun. Seu lado racional tentava subjugar essa voz que vinha do fundo de sua cabeça, mostrando todos os contras possíveis e como era uma ideia que tinha mais chances de dar errado do que em render algo positivo, mas Chanyeol sempre foi um homem teimoso.
E ele deu ouvidos àquela voz.
Baekhyun já havia pensado em todos os detalhes da viagem quando a propôs na noite anterior, então Chanyeol não tinha que se preocupar com nada além de fazer sua mala. O Byun dissera que havia reservado um quarto em um hotel para ambos porque seria um pouco desconfortável caso ficassem na casa de seus pais; ainda não tinham contado a ninguém sobre a separação e sabiam que seria difícil manter as aparências caso estivessem a todo momento cercados pela família. Chanyeol não havia pensado nisso até então, mas conseguia entender qual era o sentido por trás da proposta.
Sempre fora um livro aberto para as pessoas mais próximas de si e tinha certeza de que não conseguiria manter suas mágoas escondidas por muito tempo caso precisasse agir como um casal feliz e sem problemas ao lado de seu marido por uma semana inteira. Baekhyun o conhecia muito bem, afinal.
Com tudo pago, tudo que precisavam fazer era dirigir até a cidade natal de ambos e torcer por uma semana tranquila. Chanyeol não tinha tantos motivos assim para estar temeroso com a viagem; não era como se odiasse Baekhyun e estar ao seu lado por uma semana fosse penoso. Na verdade, se lhe perguntassem até uma semana atrás, era tudo que mais gostaria — seu marido distante do trabalho por alguns dias e disposto a lhe entregar toda atenção que precisava. O problema, na verdade, era outro.
Não tinha certeza se seria capaz de passar uma semana ao lado de seu marido e manter firmeza em seu pedido de separação, não quando experimentaram tantas idas e vindas onde Baekhyun voltava a ser o marido perfeito apenas para deixá-lo na mão de novo semanas depois. Não queria continuar vivendo nesse ciclo e sabia que precisava dar um basta, mas como poderia controlar seu coração quando em nenhum momento lhe faltou amor?
Restava ao Park que confiasse que saberia qual era a decisão correta quando a hora chegasse e se permitir aproveitar de uma última viagem, sem que pensasse demais a respeito de algo que nem mesmo tivera início ainda.
Era só uma semana. Que mal poderia causar dentro de dez anos do relacionamento que mantinham?
Naquela manhã, Baekhyun já estava terminando de ajeitar as malas no porta-malas do carro enquanto Chanyeol aguardava em silêncio para que pudessem dar início à viagem. Ainda um pouco pensativo, decidiu que, de início, seria melhor que deixasse claro que aquela não era uma viagem de casal, então era melhor que não estivesse próximo do Byun a todo momento. Conseguia perceber alguns olhares de soslaio vindos do mais velho, mas permaneceu firme em sua posição, fingindo estar vendo alguma coisa em seu celular.
Passou a ter algo de verdade para ver quando recebeu uma mensagem de Minseok.
[08:20, 19/01/2022] Kim Minseok: Você tem mesmo certeza do que está fazendo?
[08:20, 19/01/2022] Kim Minseok: Você não precisa se machucar em busca de novas memórias, Chanyeol
Havia contado aos amigos antes de dormir — depois que desistiu de dormir cedo quando não conseguia deixar de pensar no proposto por Baekhyun — e, desde então, Sehun e Minseok não deixavam de mandar mensagens se certificando de que estava certo do que fazia. Conseguia entender os amigos; fora para eles que correra quando as coisas estavam ruins e eles sabiam sobre o pedido de separação. Só não queriam que se machucasse mais e Chanyeol estava agradecido por isso.
Mas, ao mesmo tempo, também sabia que não teria paz consigo mesmo se não desse ouvidos àquela voz que lhe mandava ir, nem que fosse para ver no que as coisas dariam. Ainda que houvesse uma grande chance de que tudo desse errado, o Park estava disposto a pagar para ver.
[08:22, 19/01/2022] Park Chanyeol: Está tudo bem, Minseok
[08:22, 19/01/2022] Park Chanyeol: É só uma semana e eu também estou com saudade dos meus pais, será bom vê-los de novo
[08:23, 19/01/2022] Park Chanyeol: O que quer que aconteça daqui em diante eu tenho certeza de que será para o melhor
[08:24, 19/01/2022] Oh Sehun: Se você tem tanta certeza, tudo bem
[08:24, 19/01/2022] Oh Sehun: Mas espero que Baekhyun não esteja usando dessa viagem para tentar te convencer a se manter nesse ciclo vicioso que vocês vivem
Chanyeol olhou de relance para o marido que agora fechava o porta-malas do carro, dirigindo-se até o banco do motorista. Encontrou o olhar de Baekhyun por alguns segundos antes de desviar de volta ao celular, engolindo em seco discretamente. Desde a noite anterior, seu marido não fizera qualquer menção a convencê-lo do contrário, mantendo-se distante e respeitando seu silêncio quando o percebeu. O olhar triste fazia conjunto à expressão em seu rosto, mas em nenhum momento Baekhyun tentou jogar como se fosse sua culpa. Não era de seu feitio não reconhecer seus próprios erros.
[08:26, 19/01/2022] Park Chanyeol: Baekhyun não faria isso, eu o conheço
[08:26, 19/01/2022] Park Chanyeol: Nós estamos indo agora, então eu falo com vocês mais tarde
[08:27, 19/01/2022] Kim Minseok: Boa viagem, Yeol. Espero que essa viagem seja o desfecho que vocês precisam
Chanyeol também esperava que sim.
“Tudo certo para irmos?”, Baekhyun perguntou, tirando-o de seus pensamentos.
Chanyeol guardou o celular no bolso, assentindo. “Tudo certo”, confirmou. “Vamos lá.”
O início da viagem se mostrou um pouco desconfortável, para se dizer o mínimo. Era inevitável que comparassem aquele momento a tantos outros que passaram naquele mesmo carro, em como conseguiam conversar um com outro de maneira mais livre, sem que parecesse tão forçado. O silêncio agora se fazia presente no que antes fora o conjunto de suas risadas juntas e era, sinceramente, triste.
Baekhyun não conseguia deixar de olhar, vez ou outra, para o homem sentado ao seu lado, distraído com a paisagem que passava pela janela. Não conseguia ler Chanyeol como outrora, se estava satisfeito em estar ali ou desconfortável ao seu lado; não saber sobre o Park também o deixava nervoso porque não sabia como era suposto que agisse ao seu lado.
O silêncio nunca foi uma companhia presente no relacionamento dos dois e, agora mais do que nunca, mostrava-se sufocante.
Não sabia se deveria tentar iniciar uma conversa com Chanyeol. Desde que acordaram, seu marido havia falado o suficiente consigo para que entendesse que ele não gostaria que se aproximasse e Baekhyun respeitou isso. As coisas ainda eram muito recentes e o pedido de separação continuava a ecoar em sua cabeça como imaginava que também acontecia com o Park. Talvez essa fosse a maneira que o mais novo encontrou para se proteger e o Byun não poderia culpá-lo por isso só porque já sentia sua falta e nem mesmo saira do seu lado.
Por isso, resolveu que a única maneira de aliviar o silêncio entre os dois era deixar que outros sons se fizessem presente, na esperança de que Chanyeol pudesse relaxar e quem sabe aproveitar a viagem ao seu lado. O propósito dessa semana de volta ao passado era trazer boas memórias quando pensassem um no outro e não conseguiriam fazer com que isso acontecesse caso continuassem a agir como se fossem dois estranhos viajando juntos pela primeira vez.
E Baekhyun sabia muito bem de algo que sempre funcionou com seu marido.
A primeira música começou a tocar assim que o rádio foi ligado.
Chanyeol devolveu o olhar com surpresa ao perceber o silêncio sendo interrompido repentinamente. Baekhyun tinha um sorrisinho no canto dos lábios, em resposta ao questionamento mudo que o olhar do mais novo trazia. Baekhyun engoliu um comentário saudoso frente à nostalgia que olhar para Chanyeol nesse momento lhe trazia, em tempos mais fáceis.
“Você sempre gostou de cantar enquanto viajávamos juntos”, Baekhyun explicou, seu olhar de volta ao trânsito. Era mais fácil falar sem que estivesse olhando para Chanyeol e se sentindo vulnerável e exposto por algo tão bobo quanto uma recordação cotidiana. “Nós temos umas boas horas até chegarmos à praia, então... Achei que não faria mal voltarmos a alguns hábitos antigos.”
Chanyeol não havia pensado nessa possibilidade enquanto tentava se manter distante de tudo que pudesse aproximá-lo de Baekhyun novamente. Contudo, o Byun não fez nada além de incentivá-lo a voltar com hábitos dos quais realmente gostava, deixando que a música tocasse sem que interferisse enquanto continuava a dirigir, os olhos atentos à estrada e em nada mais. Não tinha certeza se o mais velho percebeu o olhar contínuo de Chanyeol, mas esperava que sim, só para que ele também pudesse perceber o agradecimento silencioso que transmitia.
O mais velho não estava fazendo nada além de tentar tornar aquela viagem agradável para ambos e Chanyeol decidiu que não faria mal algum se contribuísse.
Começou a cantarolar baixinho a música que estava tocando, ainda mantendo os olhos focados na paisagem em sua janela. Era uma música pop recentemente lançada e Chanyeol já a tinha escutado uma vez ou outra por indicação de Sehun e era exatamente o que precisavam naquele momento; não havia nenhuma lembrança atrelada àquela música, nada que lhe fizesse pensar no futuro em coisas que poderiam machucá-lo. Era apenas Olivia Rodrigo cantando drivers license e que Chanyeol sabia um verso ou outro da música.
Fazia parecer como se fosse simples, fácil. Apenas mais uma viagem como todas as outras que fizeram em outros tempos, com a voz de Chanyeol embalando o trajeto em conjunto ao cantor que soava no rádio. Baekhyun já havia se acostumado com isso, quase como se as coisas estivessem se encaixando, finalmente se colocando em seu devido lugar. Se fechasse os olhos, mesmo que por um segundo, Baekhyun ainda conseguia visualizá-los sem que houvesse o fantasma da separação pairando sobre suas cabeças.
Mas não havia tempo para que fugisse para sempre.
Olhou de soslaio para o marido, percebendo que Chanyeol já estava um pouco mais relaxado, os ombros menos tensos e a postura menos retraída. Baekhyun sorriu; ao menos, ainda era capaz de fazer com que seu marido se sentisse menos desconfortável ao seu lado, então quem sabe nem tudo estivesse perdido. Seu casamento poderia estar acabado e Baekhyun reconhecia sua culpa, mas a última coisa que gostaria era de fazer com que os dez anos que passou ao lado do homem que escolheu para sua vida se resumisse em momentos de silêncio e desconfortos.
Chanyeol permaneceu cantarolando baixinho quando a música terminou e Taylor Swift começou a tocar em seguida, entoando a viagem de ambos com willow. Os dedos do Park tamborilavam contra a própria coxa no ritmo da música, um sorriso tranquilo adornando seus lábios enquanto sua voz ecoava pelo veículo, trazendo calmaria e tranquilidade. Baekhyun poderia passar o restante de sua vida ouvindo-o cantar.
“Life was a willow and it bent right to your wind”, Chanyeol cantarolou baixinho. Baekhyun ainda se recordava do quanto Chanyeol gostava da cantora, por todas as vezes que o forçou a ouvir consigo. Nunca fora seu estilo favorito de música, mas parecia perfeito nesse momento.
Se a vida fosse mesmo como um salgueiro, Baekhyun adoraria que fosse possível que continuasse a seguir pelo caminho que Chanyeol soprasse. Contudo, precisava admitir que alguns desejos não eram mais tão possíveis quanto um dia soaram. Por ora, bastava que pudesse ter essa última viagem, a despedida que sabia que mereciam um do outro para que, quem sabe, Chanyeol tivesse mais motivos para sorrir do que para se entristecer quando se recordasse dele.
Baekhyun olhou para o marido mais uma vez, deixando que seu sorriso aumentasse de tamanho com a visão que possuía e que ainda fazia seu coração pular uma batida. Ao menos, para Baekhyun, era uma certeza de que Chanyeol jamais deixaria sua cabeça.
Concentrado na paisagem que se movimentava do lado de fora, Chanyeol não percebeu o sorrisinho que preenchia o rosto de seu marido.
. . .
A viagem correu de maneira tranquila depois disso.
Baekhyun não fez mais nenhuma tentativa de aproximação, mantendo a conversa de maneira casual entre uma música e outra, comentando sobre os pontos turísticos pelos quais passavam. Chanyeol o respondia de igual maneira até o momento em que as coisas já pareciam fluídas como não imaginavam, trocando amenidades a respeito dos locais que já visitaram em outros momentos e o que esperavam fazer nessa semana de férias. Vez por outra, o Byun também ecoava a voz de Chanyeol em algumas músicas, retomando os duetos que eram comuns nas viagens anteriores do casal.
Seria mentira se Chanyeol dissesse que isso não o deixava um pouquinho aliviado. Tinha suas ressalvas quanto à viagem proposta de maneira tão repentina por seu marido porque não conseguia entender o que Baekhyun ganhava com aquilo. Tirar uma semana de folga do trabalho, manter-se distante de tudo que norteou suas últimas semanas e passar sete dias ao seu lado parecia algo suspeito demais para que não desconfiasse. Contudo, deveria imaginar que, bom, era Baekhyun. Seu marido sempre foi uma caixinha de surpresas e não seria diferente dessa vez.
O problema é que, ao mesmo tempo em que eu o deixava aliviado, também o deixava um pouquinho magoado.
Era difícil tentar entender seus sentimentos quando se tratava de Baekhyun. Não deixara de amá-lo de uma noite para a outra, por isso era difícil perceber como seu marido havia aceitado seu pedido de separação sem oferecer qualquer outra solução para os dois. Era difícil pensar que Baekhyun também estava desistindo de ambos, abrindo mão daquele relacionamento, ainda que Chanyeol tenha sido o primeiro entre os dois a expressar esse desejo. No fundo, havia uma esperança de que Baekhyun faria qualquer coisa para mantê-lo por perto e Chanyeol teve suas esperanças derrubadas quando Baekhyun nada fez.
Sentia falta de quando o relacionamento dos dois era tão fácil que nem mesmo enfrentavam problemas em entender o outro. Sentia falta de quando podia olhar para o homem ao seu lado e saber o que ele estava pensando apenas em uma troca de olhares, em um dividir de sorrisos. Agora parecia ter um muro entre ele e Baekhyun onde em outros momentos apenas houve pontes e Chanyeol não sabia qual foi o ponto decisivo para essa mudança.
Quem sabe essa viagem pudesse mostrá-lo. Quem sabe ainda houvesse espaço para que reconstruíssem as pontes de outros tempos, ainda que não mais no mesmo sentido. Baekhyun sempre seria uma parte importante de sua vida, presente em seus dias desde sua adolescência, e não gostaria de cortar contato só porque escolheram que o casamento não mais funcionava para os dois.
Poderiam encontrar um meio-termo, certo? Não precisava ser assim.
Chegar à antiga cidade onde nasceram e cresceram trazia uma onda de nostalgia para o casal, imersos em seus próprios pensamentos com a chegada. A música já soava como um som ambiente, há algum tempo esquecida onde nem Baekhyun tampouco Chanyeol continuou a cantar em conjunto. Chegar à cidade depois de algumas horas de viagem parecia oficializar o propósito daquela viagem, recordando-os do motivo de estarem ali e trazia um gosto agridoce à boca.
Baekhyun engoliu em seco discretamente, olhando de soslaio para Chanyeol. Seu marido olhava o mar pela janela enquanto se dirigiam ao hotel onde reservou o quarto de ambos e não tinha certeza de qual era a expressão em seu rosto. Sentia-se nostálgico? Triste, feliz, animado? O próprio Byun trazia dentro do peito um misto de todos esses sentimentos, sem conseguir decidir qual deles era o predominante.
Sentia-se nostálgico em voltar ao lugar onde cresceu depois de tantos anos sem visitar a cidade e perceber que poucas coisas haviam mudado. Sentia-se triste pela circunstância que o forçou a retornar, mas feliz porque havia chances de fazer novas memórias naquele lugar, porque as coisas sempre deram certo para ele e Chanyeol enquanto moravam próximos ao mar. Sentia-se animado pela perspectiva de rever sua família e quem sabe esquecer, só por um momento, o que poderia acontecer quando voltassem à capital.
Não sabia se Chanyeol estava se sentindo da mesma maneira que ele, mas Baekhyun esperava que, ao menos, a semana na praia pudesse trazer de volta um pouco da felicidade que desejou ser capaz de continuar a proporcionar a seu marido. Era o mínimo que podia oferecer depois de todos os erros que cometeu no casamento de ambos.
O hotel escolhido por Baekhyun ficava próximo à orla da praia porque se recordava do quanto Chanyeol gostava do mar e queria que ele estivesse o mais próximo que conseguisse. Ao mesmo tempo, era distante o suficiente das casas de suas famílias para que tivessem uma desculpa plausível para não estarem com os pais a todo momento, sustentando a farsa de um casamento perfeito. Havia pensado em todos os detalhes.
Fizeram o check-in rapidamente, ganhando as chaves do quarto e subiram até o andar indicado mais uma vez em silêncio. Chanyeol olhava vez por outra para o mais velho, esperando qual seria o próximo passo dos dois agora que finalmente chegaram. O clima descontraído de dentro do carro parecia muito distante agora que uma nova questão se aproximava: Baekhyun havia reservado um quarto para os dois. Dividiriam a mesma cama mais uma vez por uma semana antes de partirem caminhos?
Quando o mais velho abriu a porta, permitindo que entrasse primeiro, Chanyeol percebeu que estava errado.
O quarto reservado por Baekhyun oferecia duas camas de solteiro lado a lado com uma mesinha de cabeceira entre as duas onde um abajur estava. Havia também uma mesa de frente as duas camas onde poderiam deixar o notebook, caso necessário — e Chanyeol se questionou se Baekhyun teria trazido o trabalho junto com eles —, além de um guarda-roupa onde deixariam suas coisas. Por último, uma porta os levava ao banheiro conjunto do quarto e havia uma pequena varanda de frente para o mar.
Chanyeol estava maravilhado, olhando ao redor com curiosidade. Baekhyun conseguia entender qual era a principal questão rondando a cabeça do mais novo.
“Eu não queria que você ficasse desconfortável com nada nessa viagem, então eu peguei um quarto com duas camas de solteiro”, explicou. “Não queria que você pensasse que era um plano para reconquistá-lo.”
Mais uma vez, o Park sentiu o velho incômodo no peito com a ideia de que Baekhyun nem mesmo tentara. Diferente da última vez, escolheu verbalizá-la — se o Byun fora apanhado de surpresa com o pedido de separação na manhã anterior, Chanyeol queria saber o porquê de ter desistido tão facilmente do que tinham.
“E isso nem mesmo passou pela sua cabeça?”, perguntou.
Um momento de silêncio foi o que ganhou em retorno, com Baekhyun evitando seu olhar. O Park não o pressionou a responder; embora tivesse suas próprias mágoas e estivesse curioso de verdade com o que passava na cabeça de Baekhyun, sabia que não era justo que o pressionasse em algo que, se estivesse em seu lugar, também não seria algo fácil de responder.
Nem mesmo sabia qual era a resposta que esperava. E se Baekhyun não mais o amasse e só estivesse esperando por esse momento? E se estivesse sendo tão difícil para ele que não saberia como colocar em palavras? E se, e se, e se...
“Na verdade, não acho que seja o que eu mereço depois de tudo”, Baekhyun voltou a falar, surpreendendo-o. “Eu só quero que nós tenhamos boas lembranças um do outro, Chanyeol. Depois de tudo que vivemos juntos, acho que é o que nós dois merecemos.”
Trazia um aperto nao peito perceber que havia muita tristeza acumulada nos olhos de seu marido quando voltou a olhá-lo, mas o Park não sabia o que deveria responder. Baekhyun podia esconder o quanto quisesse e Chanyeol sabia que ele era bom nisso quando queria, mas tivera anos para aprender a lê-lo e Baekhyun não conseguia mascarar sua tristeza tão bem quanto imaginava. Perceber que aquele olhar continuava a afetá-lo como antes trazia um gosto amargo à boca do mais novo, difícil de engolir.
Chanyeol concordou com um assentir, mas nada mais disse. Era o que ambos mereciam, é claro, mas Chanyeol acreditava que mereciam muito mais. Mereciam ter o casamento que juraram um ao outro, mereciam ter a vida que planejaram juntos quando o pedido de casamento foi feito, todos os sonhos que prometeram quando eram apenas adolescentes sonhando alto demais em um futuro do qual nada sabiam até então.
Mas, por ora, era o que tinham e Chanyeol aceitaria o proposto.
Ciente do clima pesado que a conversa deixou no ambiente, Baekhyun pigarreou, deixando sua mochila aos pés da cama mais próxima à porta, vendo Chanyeol fazer o mesmo com a outra cama. Olhou-o com um sorrisinho nervoso, coçando a nuca como era uma mania que tinha quando se sentia nervoso — e que seu marido não deixou de perceber, acostumado aos pormenores de seu comportamento desde que eram apenas adolescentes sonhadores.
“O que acha de irmos até a praia?”, Baekhyun propôs. “Eu sei que você adora o mar e está um dia quente, então... Parece uma ótima maneira de começarmos nossa estadia aqui.”
Chanyeol deu um breve sorriso, sentindo o peito aquecer por perceber que Baekhyun também se recordava dos pequenos detalhes a seu respeito. Tinham uma vida tão agitada na capital que pouco tempo sobrava para que visitassem cidades litorâneas, sempre com a promessa de que no próximo feriado ou nas próximas férias conseguiriam. Era um pouco triste perceber que fora necessário o pedido de separação para que conseguissem, mas estava disposto a não deixar que isso continuasse a nortear suas ideias ali.
Baekhyun tinha um propósito com aquela viagem e Chanyeol havia concordado com ele.
“Tudo bem, vamos”, Chanyeol concordou com um dar de ombros.
Havia um sorrisinho em seu rosto que trouxe certo alívio a Baekhyun. Sabia que não conseguia mascarar seus sentimentos como gostaria de seu marido, mas era bom saber que Chanyeol não havia encarado como uma maneira de sensibilizá-lo. É claro que estava triste, não queria deixar que Chanyeol fosse embora, mas escolhera respeitar sua decisão e a última coisa que gostaria era que seu marido entendesse o contrário.
Se fosse para que Chanyeol mudasse de ideia — e Baekhyun o receberia de braços abertos —, precisava partir dele.
O Sol atingiu seus rostos no momento em que deixaram o lobby do hotel, caminhando calmamente até a orla da praia. Não havia muitas pessoas presentes porque chegaram próximo ao horário de almoço e provavelmente estavam evitando o Sol quente em algum lugar mais tranquilo, mas isso não impediu Chanyeol. Baekhyun o assistiu caminhar à sua frente, ganhando a areia primeiro e como o sorriso nasceu em seu rosto de maneira espontânea.
Havia se acostumado ao Chanyeol que cuidava de uma galeria de arte e que estava sempre correndo de um lado para o outro, atendendo ligações enquanto tinha e-mails pendentes para responder. Quase havia se esquecido de como, enquanto adolescentes, seu marido fazia com que visitassem a praia várias vezes por semana porque era um local que lhe transmitia paz e onde sentia que podia se conectar à natureza.
Anos depois da última visita que fizeram àquela cidade, Chanyeol estava mais uma vez com um sorriso tão grande em seu rosto que fazia com que seus olhos se fechassem, o rosto banhado pelo Sol e Baekhyun sentiu seu coração bater mais forte, impactado com a imagem que tinha à sua frente. Park Chanyeol era mesmo o homem mais bonito do mundo, não tinha como ninguém competir com a imagem que tinha à sua frente.
“Eu senti muita falta desse lugar”, Chanyeol comentou, virando-se para ver Baekhyun e percebendo como seu marido o estava encarando.
Sorriu um pouco envergonhado por estar sendo observado e Baekhyun devolveu o sorriso, constrangido por ter sido apanhado. Pigarreou baixinho, aproximando-se a passos rápidos para cobrir a distância que Chanyeol abriu entre eles quando alcançou a areia, parando ao seu lado. A maresia chegava aos dois de onde estavam e as ondas quebravam suavemente contra a areia, convidando-os a um mergulho. Baekhyun também precisava admitir que sentia falta desse clima. De tudo que um dia possuiu debaixo daquele mesmo Sol, ouvindo o mesmo quebrar das ondas.
“Então o melhor que nós fazemos é aproveitar, certo?”, Baekhyun propôs.
Chanyeol assentiu, mantendo o sorriso em seu rosto quando voltou a caminhar rápido pela areia, afundando os pés entre os grãos e rindo para si mesmo com a bagunça que estava fazendo. Baekhyun permaneceu olhando-o um pouco distante, admirando como era fácil para o Park voltar a ser o mesmo adolescente por quem se apaixonou naquela mesma praia, divertindo-se sozinho enquanto brincava com a areia, chutando-a para longe e procurando por Baekhyun em seguida.
Se fechasse os olhos, quase conseguia sentir como se tivesse dezessete anos mais uma vez e uma vida inteira pela frente ao lado do único garoto que um dia fez com que pensasse que conquistar o mundo não seria tão importante quanto conquistá-lo. Se fechasse os olhos, quase conseguia ouvir sua própria risada ecoando a de seu marido, imersos no mundo que construíram repleto de promessas e anseios.
Ao abri-los, Baekhyun não conseguia acreditar em como conseguira perder o castelinho de areia que construiu com Chanyeol.
. . .
Estar ao lado um do outro foi mais tranquilo do que esperavam.
Talvez fosse o ambiente. Talvez fosse a proximidade com o mar que fazia com que Chanyeol não pensasse tanto assim em tudo que estava vivendo em seu casamento, focado em aproveitar daquele momento onde podia matar a saudade que sentia de um lugar que lhe fazia falta. Talvez fosse o fato de que Baekhyun sabia que era uma das últimas vezes que o veria dessa forma, então era melhor que guardasse em sua memória da melhor forma que conseguisse.
De toda forma, tranquilidade era justamente o que lhes faltara nos últimos meses, então era bom poder sentir a calmaria correndo entre os dois.
Permaneceram na praia por boa parte do tempo, concordando que poderiam visitar suas famílias no dia seguinte. Estavam cansados da viagem e ainda não tiveram tempo suficiente para elaborar uma desculpa plausível para a visita repentina e que certamente pegaria seus pais de surpresa porque conheciam a rotina dos filhos na capital; Chanyeol não queria contar às famílias sobre o pedido de separação e Baekhyun o agradeceu por isso, porque também não queria que precisassem lidar com esse fantasma sobre suas cabeças nos próximos dias. Lidariam com ele quando a hora chegasse, mas não agora.
O único momento em que se fez necessário deixar as ondas para trás foi quando o cansaço se uniu à fome por mal terem comido no horário de almoço, com Chanyeol ansioso em retornar à praia e aproveitá-la enquanto estava vazia. Um lanche de um dos quiosques à orla da praia foi o suficiente por ora, mas seus corpos começavam a pedir por mais quando o Sol começou a se pôr e Baekhyun tinha uma ideia diferente de onde poderiam ir agora.
O Park já começava a se encaminhar em direção ao hotel para que pudessem comer no restaurante do estabelecimento quando seu marido segurou sua mão suavemente. Seus passos foram interrompidos pelo gesto repentino e a surpresa se estampou em seu rosto; desde a noite anterior, Baekhyun estava evitando qualquer contato consigo e Chanyeol entendia que era em respeito à sua decisão. Ainda assim, ter seu marido tão próximo e o contato entre suas peles fez com que uma corrente elétrica passasse por seu corpo de maneira involuntária.
O que poderia fazer quando seu corpo ainda respondia a cada toque do homem que amava? Não poderia negar para si mesmo.
Baekhyun pareceu perceber a surpresa em seu rosto porque seu olhar vacilou entre a mão que ainda segurava seu pulso e de volta ao seu rosto, soltando-o em seguida e dando dois passinhos para trás. Chanyeol reprimiu o suspiro na garganta porque não era suposto que sentisse falta do toque que mal havia se dissipado de sua pele. Um breve momento de silêncio se seguiu ao gesto onde nenhum dos dois sabia o próximo passo.
Baekhyun odiava a sensação de estar caminhando em cima de ovos com alguém que o conhecia melhor do que ninguém no mundo, mas não havia nada que pudesse fazer. Chanyeol estava agora em um campo no qual não tinha muito acesso e precisava aceitar que talvez já não o conhecesse como conheceu dez anos atrás.
Mas isso não o impediria de mostrar-lhe todas as razões pelas quais um dia se apaixonaram pelo outro, de tentar quem sabe refrescar todas as memórias compartilhadas ao decorrer da última década. E, para que isso acontecesse, sabia que não havia melhor lugar para que jantassem que não fosse a antiga lanchonete na qual sempre iam aos finais de semana e que costumava ser a favorita do mais novo.
“Você se lembra da lanchonete da senhora Kim, que costumávamos ir aos fins de semana?”, Baekhyun começou a falar após um pigarro, tentando dissipar o silêncio incômodo que se formou. “Eu pensei... Bom, eu pensei se você não gostaria de visitá-la. Eu acredito que ainda esteja aberta.”
Chanyeol precisava admitir que não havia pensado na lanchonete desde que chegaram, mas talvez porque havia muito deles em cada pedacinho daquele lugar — de cada encontro após a escola, de cada escapadela aos fins de semana —e talvez ainda não estivesse pronto para a chuva de nostalgia que estar lá com Baekhyun novamente traria. Contudo, sabia que era uma coisa que só conseguiria ter certeza quando enfrentasse e não podia negar que era um de seus lugares favoritos em sua cidade natal.
E com seu marido encarando-o com expectativa nos olhos bonitos, Chanyeol nem mesmo encontrou em si vontade de negar aquele pedido.
“Já faz tanto tempo que eu me surpreenderia se ela ainda se recordasse da gente”, Chanyeol brincou.
“Eu não duvidaria da memória daquela mulher”, Baekhyun riu baixinho, contente porque havia uma aceitação implícita naquela resposta. “Vamos?”
Chanyeol concordou e apanharam o carro para uma curta viagem pela cidade até a lanchonete. O local ficava próximo de onde seus pais moravam, por isso era tão comum que se encontrassem ali em todas as oportunidades que possuíam enquanto ainda moravam na cidade. A viagem não levou mais do que quinze minutos embalado pelo som da rádio mais uma vez, enquanto ambos estavam imersos em suas próprias expectativas sobre como seria estar ali mais uma vez.
A fachada do prédio continuava exatamente como Chanyeol se recordava dela, com a mesma estética antiga que simulava os diners que costumava ver em filmes americanos antigos. Conseguia se recordar de como Baekhyun adorava passar pelos corredores da lanchonete como se fosse o rei do mundo unicamente por fazer parte do time de futebol da escola. À época, Chanyeol só conseguia achar uma gracinha como ele ficava com o peito estufado e o rosto erguido.
Dez anos depois, a memória ainda aquecia seu peito da mesma maneira que fizera enquanto adolescente.
O interior também trazia nostalgia, embora estivesse certamente mais moderno e reformado. Os assentos vermelhos brilhantes continuavam os mesmos dos quais se recordavam, o chão de ladrilhos coloridos entre branco e preto faziam harmonia ao conjunto; havia bancos também vermelhos de frente ao balcão onde uma senhora estava assistindo televisão, aproveitando-se da calmaria de seu estabelecimento. Dez anos se passaram, mas a senhora Kim permanecia a mesma mulher da qual tinham recordação do sorriso aberto e gentil.
E não demorou para que a presença dos dois se fizesse notada com a sineta que tinha à porta anunciando a chegada de um novo cliente.
Chanyeol permaneceu encarando-a com um sorrisinho, sem saber se ela se recordaria de ambos como se lembravam dela, e esperando pelo próximo passo da mulher. A senhora Kim abriu um grande sorriso, saindo de trás do balcão para cumprimentar seus recém-chegados clientes.
“Olha só para vocês dois”, a mulher os recepcionou. “Ainda mais bonitos do que quando vinham até aqui! Como é bom saber que ainda estão juntos.”
Baekhyun engoliu a verdade como um remédio amargo, mantendo o sorriso em seu rosto ao agradecer os cumprimentos. Chanyeol também pareceu um pouco desconfortável, desviando o olhar do sorriso constante da mulher ao encará-los, mas não o suficiente para que ela percebesse que alguma coisa estava errada. Não era necessário que contassem àquela mulher que os adolescentes que se acostumou a ver naqueles sofás rindo e partilhando a vida juntos já não mais eram os mesmos.
“Encantadora como sempre, senhora Kim”, Baekhyun devolveu o elogio. “Não poderíamos vir à cidade e não vir até essa lanchonete que sempre significou muito para nós.”
Chanyeol o encarou de soslaio com o comentário, questionando-se o que poderia ter por trás dos dizeres de Baekhyun. Suas palavras pareciam genuínas e embebidas em nostalgia, mas também traziam alguma coisa que não conseguia decifrar, principalmente porque quando Baekhyun devolveu o olhar, esperando que dissesse algo, encontrou mais uma vez a nuance de tristeza que viu naqueles olhos enquanto estavam no quarto de hotel.
Mas não tinha tempo para pensar nisso, não agora.
“Eu não encontrei milkshake melhor do que o seu em lugar algum”, Chanyeol gracejou.
A mulher riu, leve. “Ora essa, um galanteador por aqui”, respondeu. “Sentem, sentem, eu já irei tirar os pedidos de vocês.”
O casal agradeceu, escolhendo uma mesa mais ao fundo do salão onde teriam mais privacidade. A noite mal estava começando e, se as coisas continuavam como dez anos antes, não demoraria para que outras pessoas chegassem em busca de um jantar descontraído em um ambiente tranquilo. Seria melhor se permanecessem escondidos antes de encontrarem mais rostos conhecidos. Para o primeiro dia de retorno, era suficiente.
O cardápio se encontrava à mesa e não levaram muito tempo para escolherem seus jantares. A senhora Kim avisou que traria seus pedidos em breve e pediu que se sentissem à vontade, mais uma vez reiterando como era bom encontrá-los novamente e saber que continuavam juntos. Baekhyun mais uma vez sorriu sem que seu sorriso alcançasse os olhos, mas passou despercebido pela mulher que já havia voltado a seus afazeres.
Mas não a Park Chanyeol. Nada sobre Baekhyun passava despercebido para seu marido, que anotou mentalmente mais um detalhe sobre o qual adoraria conversar com Baekhyun quando a hora chegasse.
Alguns pontos simplesmente não se encaixavam.
“É muito bom estar de volta”, Chanyeol comentou para quebrar o clima. “Não achei que seria tão... Fácil me ajustar à cidade mais uma vez, mas nem mesmo percebi quando a noite chegou porque estava sendo tão bom na praia... Eu sentia falta disso.”
Baekhyun sorriu mais uma vez, contente por sua ideia estar dando certo. “Acho que nós precisávamos desse mergulho no passado”, comentou. “Voltarmos às coisas que um dia foram tão importantes e acabamos... Deixando de lado.”
Chanyeol não tinha como deixar de concordar. Desde que passaram pela placa de bem-vindo à cidade, seu sentimento predominante era a nostalgia. “Certamente traz muitas lembranças”, concordou. “Não foi... Não foi uma má ideia, no final das contas. Voltar aqui.”
Baekhyun odiava a si mesmo pelo resquício de esperança que acendeu em seu peito por perceber que a nostalgia afetava Chanyeol da mesma maneira que fazia consigo; conseguia enxergar a saudade nos olhos de seu marido e a vontade fervorosa em seu peito de que fosse dos dois. Da vida que juraram um para o outro, dos momentos partilhados, da presença que deixaram em cada cantinho daquele lugar.
Mas não podia dizer nada disso a Chanyeol.
“Espero que os próximos dias sejam tão bons como esse”, optou em dizer.
A conversa foi interrompida com a chegada da senhora Kim com os pedidos dos dois, deixando à frente de cada um o prato escolhido. A mulher carregava o mesmo sorriso de outrora olhando-os darem as primeiras bocadas com um olhar satisfeito.
“É por conta da casa hoje”, a mulher disse. “Depois de todos esses anos, é como ver meus próprios filhos voltando.”
Agradeceram mais uma vez e foram deixados sozinhos para que aproveitassem de sua refeição. Em um primeiro momento, nenhum dos dois escolheu dizer nada, aproveitando a companhia um do outro enquanto saboreavam os pratos que eram seus favoritos quando mais novos. A senhora Kim até mesmo trouxera o milkshake que Chanyeol amava, provando o quanto se recordava dos dois.
Chanyeol deu um longo gole em seu milkshake. “Ah, eu adorava isso”, riu baixinho. “Vai ser a parte mais difícil de deixar para trás quando voltarmos.”
Baekhyun ecoou seu riso, agindo por puro reflexo quando ergueu o braço, alcançando o rosto do marido para limpar a marquinha de sorvete que se formou em seu lábio superior e que Chanyeol não havia percebido. O Park parou para encará-lo, surpreso mais uma vez pela aproximação do mais velho, mas deixou que um sorrisinho escapasse em seu rosto, agradecendo baixinho pelo cuidado.
Baekhyun voltou ao próprio lugar, um pouco envergonhado pela maneira como agiu de maneira inconsciente. Era algo comum entre os dois quando eram um casal de adolescentes e a paixão era tudo que os norteava. O cuidado com Chanyeol fazia parte de si mesmo, acostumado a estar sempre olhando-o; era um lado que não deixou para trás conforme envelheciam, mas que, em algum momento, se perdeu em meio à rotina que criaram.
Era mais fácil quando eram adolescentes, Baekhyun sabia disso. Mas não deixava de viajar por sua cabeça o pensamento de que não deveria ser tão mais difícil dez anos depois, não quando ainda era o mesmo apaixonado pelo homem à sua frente como se tivesse colocado seus olhos pela primeira vez no garoto com rosto escondido em um caderno de desenho.
Chanyeol percebeu o olhar fixo, olhando-o de volta com um sorrisinho encabulado. Baekhyun foi incapaz de não sorrir de maneira automática em resposta; se encontrassem as respostas certas nessa viagem de volta ao passado, talvez não precisasse ser tão difícil dez anos depois.
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