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História Re:Zero Fukkatsu Mirai - Shousetsu - Re:Zero - Reenterpretando a Vida Em Outro Mundo Do Zero


Escrita por: Subaru_Sad1

Notas do Autor


Este é um projeto IF! (E se?). Um capítulo especial divergente da rota principal da história, que é lançado em dias comemorativos (ou 1 de Abril).
Os capítulos “IFs” serão 4 a 8 vezes maior que um capítulo comum (algumas vezes até bem mais do que isso), pois é uma história única que diverge do ramo principal, e pode ser dado como canônica.
Nessa ramificação da Realidade os personagens podem ter personalidade e características distintas da principal, pois dependendo dos acontecimentos, podem mudar drasticamente.
O ponto de divergência deste IF ainda não foi revelado, mas é essencial que tenha lido ao menos o início (Arco 1) para entender.

Dica: Leia no seu tempo. Leia um pouco caso se enjoe, memorize a parte em que parou, e volte outra hora ;)

Feliz Halloween :)

Capítulo 26 - Re:Zero - Reenterpretando a Vida Em Outro Mundo Do Zero


Fanfic / Fanfiction Re:Zero Fukkatsu Mirai - Shousetsu - Re:Zero - Reenterpretando a Vida Em Outro Mundo Do Zero

Você não pode mudar seu destino, disse Deus. O que já está escrito, NÃO pode ser reescrito. O que está feito, está feito. Isso é um fato. O óbvio. Não há dúvidas. É assim que as coisas fluem...

Como a água. Um rio cheio de água corrente. Fluindo sempre reto. Para frente, sem voltar atrás. Pois séria impossível um rio que retrocede em seu fluxo.

Mas... Com isso, surgiu um pensamento. Vários pensamentos. Se... O que já está feito, não pode, de maneira alguma ser mudado. Significa que não pode ser dito o contrário? Que o que está descrito é absoluto e deva ser levado como a total e absoluta verdade do mundo?

Não... Mesmo que pegue um livro, e leia-o do começo ao fim. Página por página. Linha por linha. A cada parágrafo descrito e recitado. Como uma música, ele abre brechas para a interpretação.

O poder da mente de interpretar o que nos dizem, e o que lemos como sendo verdade ou mentira, existe. E está em nosso domínio individual, como um ser humano.

E... No momento em que você interpreta uma história de maneira diferente, é aí que uma segunda visão passa a ser revelada. A revelação de uma nova gama de possibilidades. Tudo isso, ao interpretarmos diferentemente...

O “Poder da Mente" é incrível, e ela pode Moldar isso à sua vontade. E é por isso que eu nunca deixei de acreditar... É por isso que eu jamais, e em toda a minha medíocre vida, eu deixei de acredita que...

Ao ser convocado a um mundo paralelo de fantasias... Eu transcenderia em poder destrutivo, e me tornaria o maior herói que este mundo já viu.

Eu sou, Subaru Natsuki. Tenho 17 anos, e essa é a minha versão desta história... Interpretada por mim.

Aquele fraco, é inexistente aqui...

Foi o que ela disse...

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— Hum... Então é isso... É isso mesmo. É exatamente isso. Ser isso é só o que eu poderia pensar, então.

Parado de pé em uma praça altamente movimentada. Um garoto com roupas bem diferentes das que os que se encontravam ali vestiam, se via aparentemente perdido.

Tudo ao redor parecia ser irreal. As construções. As pessoas. A atmosfera em si. Este rapaz estava se indagando, e pensando por algum instantes, o que de fato ocorreu.

Lembrou que saía de uma loja, a noite, em pleno século 21. Mas então, de súbito, sua consciência, seu corpo, sua alma... Foram milagrosamente tele transportados de forma repentina há o que parecia ser, uma era medieval.

Medieval, que nem as que existiam em seu mundo. Mas... Isso não era uma viagem ao passado. Como dito antes, “seu mundo", pois este, nem de longe poderia se dizer que era a terra.

Quando chegou aqui, a primeira coisa que seus olhos notaram, foi a estranha aparência dos residentes locais. Viu que alguns se assemelhavam sim com sua aparência, fora o cabelo colorido. Porém... O resto...

Esse fatídico resto, fez sua mente estalar como nunca antes. Ao ver esses seres de aparência animalesca como répteis, tigres, leões, lobos e cavalos. Subaru Natsuki percebeu o irreal. O inviável... E o que ele mais esperava.

Um mundo paralelo de fantasias com a temática medieval.

— Sim. Eu finalmente... Finalmente...

Quando se tocou que era isso. Seu cérebro treinado que percebeu em míseros segundos, começou a transbordar reações químicas por todo o seu corpo. A serotonina, adrenalina e ansiedade foram crescendo aos montes naquele jovem recém convocado.

Uma sensação adormecida... Um sentimento encolhido com o tempo. Subaru em resumo, era triste. Era deplorável em seu mundo original. Um zé ninguém...

Mas aqui... Aqui ele viu a chance perfeita de largar todo o ser medíocre que ele era, e partiu com os braços abertos para esta nova realidade.

Literalmente... Ao ver aquelas mãos escuras vindo do além, no meio da rua. Subaru não pensou duas vezes ao concluir que era uma convocação mágica. Meio sombria... Porém mágica.

Saltou disparado até aquela presença e sentiu se agarrando a ela. Apertou forte. Apertou fundo. Abraçou e não a soltou.

Era quente. Era agradável... Sentiu pulsar. Sua alma pulsar. Seu peito bater mais forte do que jamais bateu antes.

Aquela presença negra o recebeu com todo o carinho do mundo. Com todo o afeto, amor, compaixão, solidariedade, alegria, luxúria e ternura.

Quem era essa pessoa? Esse ser? Esta presença inexplicável? Ele não sabia. Mas não importava pensar nisso agora. Estar junto dos braços desse ser de sombras, feito de silhuetas indistinguíveis, fez o rapaz se esquecer de tudo, e não se importar com mais nada.

“Essa história que tanto sonhei... É sobre isso, não é?”

Pensou ele enquanto lentamente cerrava os olhos e ia se afogando neste mar de sombras e escuridão. Não dava medo porque Ela estava ali. Não era frio, porque ela estava ali. Não se sentia solitário, porque Ela estava ali. Se sentiu acolhido...

Porque Ela estava ali.

A figura, com todo o carinho do mundo, suspirou em seu ouvido, enquanto o segurava e entrelaçava braços e pernas no garoto.

— Acorde...

E como reação a isso, ele voltou a si. E se encontrava agora, nesta praça movimentada em um mundo diferente.

— Eu finalmente... Fui convocado para um mundo paralelo!!!

Gritou para o ar, retirando toda a sua emoção de estar aqui. Era a primeira vez que se sentia vivo, depois de tanto, mas tanto tempo.

As pessoas não ligaram para o rapaz, pois estavam muito ocupadas com suas vidas cotidianas, ou apenas decidiram o ignorar ao pensar que ele era um maluco. E sendo assim, sem hesito algum, o menino partiu em retirada daquela área.

— Que incrível! É realmente um mundo paralelo! Olha essas casas!

Correu admirando cada local. Cada detalhe ele observou. Era incrível e não podia perder nada. Estava extremamente fascinado com a sua própria situação atual, que desejou não ser um sonho.

Um menino de roupas nada medievais, era assim que podia ser identificado no meio da multidão desnorteante.

Correu por mais um pouco, onde o grito de alguém o fez parar de imediato.

— Aahhh!! Socorro! — Berrava a dona da voz ao se ver em uma situação de risco.

Subaru rapidamente olhou em volta, e viu que a pessoa que havia gritado, era uma mulher indefesa. E que ela estava caída no meio da rua, onde uma carruagem em alta velocidade iria passar.

Estreitou os olhos quanto a isso e então, num salto único e super impulsionado. O menino saiu do lugar que estava e resgatou a donzela.

Foi como num flash de luz. Rápido obstante para que ninguém ali visse o tamanho poder e habilidade extraordinária que este corpo possuía.

Não soube de onde venho toda essa devoção de poder extremo. Mas sábia que algo iria acontecer, assim que o pensamento de “salvar" fosse aplicado. E foi o que ele fez. Ele salvou a pobre coitada como um anjo protetor, que só se revelou na última hora.

Sem asas, sem aura angelical, e de nem aparência esbelta. Mas o coração e a ocasião o condecoraram como um magnífico benfeitor.

— Você está bem, senhorita?

A voz dele foi sussurrada no ouvido desta pessoa, que se arrepia por estar tão perto. Ela, olhou para ele em pânico, sem saber ao certo o que de fato havia acontecido. No entanto, percebeu que por algum motivo, ainda estava intacta e com a cabeça no seu devido lugar.

— Sim, eu estou...

Respondendo isso, sua sensação de espaço e senso ao redor começou a normalizar. E conforme ficava nítido na mente dela que foi o Subaru que a salvou, a garota percebeu que estava não mais no chão, mas sim nos braços deste herói desconhecido.

— .....

— Que bom que não se machucou. Sabe como é, né? Essa história é feita pra mim brilhar. Hehe.

Piscou um olho ao demonstrar seus esbeltos dentes de marfim.

A jovem resgatada, o admirou... Reconheceu que era este o jovem que a salvou. E mais do que isso... Que tirou um pouco do seu tempo, para fazer essa ação imprudente, como saltar na frente de uma carruagem.

— Você...

Foi o que saiu de voz dentre os lábios desta mulher, quando seu som foi abafado e interrompido pelo bater de palmas de dezenas de habitantes que passavam e presenciaram esta cena única em suas vidas.

Contemplava e o admiravam pela bravura e extrema agilidade deste rapaz.

Subaru vendo isso, sentiu que tudo faria sentido. Que sua vida iria melhorar e ser igual a que ele interpretava nos mangás, light novels e animes que acompanhava.

Sendo o centro das atenções, e aplaudido por todos. O rapaz sentiu na vontade de demostrar seu carisma, expondo todo o seu orgulho e bravura acumulados neste ato.

— Haha! Isso aeeee!!! — Brandia alto para que todos naquela rua o escutasse. O reconhecessem. Que soubessem que ele havia finalmente chegado.

E como reação, a dezena de plateia foi a loucura, e aplaudiram mais alto. Uns até gritavam e berravam de volta, pela tamanha emoção. Encorajando ainda mais o coração de Subaru Natsuki.

— Vem, vou te descer com cautela.

Agora, voltando a atenção no principal, que era a segurança desta jovem. Subaru colocou ela de pé, de forma vagarosa, ao chão. Assim que a moça se recompôs.

— Obrigada! Muitíssimo obrigada!

Contendo toda a sua empolgação. A mulher se expressou devidamente. Mas os seus desejos mais profundos, era de abraçarem este garoto com toda a força do mundo, e o ressaltar como um grande herói.

— De nada. Foi só o meu dever como herói da pátria. Você sabe... Hehe.

Piscou o olho mais uma vez, e nisso a recém-salvada jovem, amoleceu o olhar para com o Subaru. Era até válido dizer que a vontade de leva-lo para jantar, como retribuição por ter salvo a sua vida, passava pela cabeça dela.

Subaru mais uma vez dirigiu a sua atenção ao aglomerado que ali surgiu. Ele até mesmo idealizou um discurso sobre proteção para conscientizar a todos, e mandar aqui e agora. Mas...

— Me perdoe! Me perdoe!

Esses pedidos de perdão cessaram a sua nem-começada-pauta, e o fizeram dirigir sua atenção a tal.

O dono dessa súplica, era um senhor de idade vestindo um suspensório. Seus cabelos grisalhos e óculos, indicavam que já estava velho e que não era bem da visão.

Este indivíduo, correu em direção à Subaru e assim que chegou até ele, prostrou seu mais profundo arrependimento, quando se ajoelhou e pôs sua testa diretamente no chão sujo, bem em frente a mulher.

— Peço que perdoe um velho como eu! Eu quase cometi o maior erro de toda a minha vida!

A multidão se aquietou, tal como Subaru que só observava o que iria acontecer daqui pra frente.

Não cabia a ele esse desfecho. Se a garota iria perdoar este velho ou não, só dependia da mesma. Da dona deste perdão.

Então esperou pacientemente com a face arrastada no concreto da avenida. Sua vergonha, foi totalmente assumida aqui, e ele estava buscando pela redenção de quase ter cometido um pecado.

A mulher vendo isso, sabia que precisava agir agora. Estavam todos a olhando, e até mesmo o seu salvador, estava esperançoso sobre algo.

Em meio a tantos olhares, ela não pensou duas vezes ao dar o seu veredito.

— C-claro. Eu perdoo você! Está desculpado!

Assim que recebeu sua redenção, o velho levantou sua testa do chão e a olhou com grande culpa e alívio.

— Obrigado... Obrigado...!

A multidão que parou a rua, foi a loucura. Estavam todos carregados com o calor do momento. Aplaudiram, assoviaram e gritaram a favor. Fizeram um alvoroço coletivo jamais visto na história desta avenida.

As carruagens foram parando aos poucos, assim que a passagem era interrompida. Seus condutores olhavam aquilo, se perguntavam o que estava havendo. E outros mais impacientes, xingavam e reclamavam sobre o bloqueio repentino composto por dezenas de pessoas.

Se levantando, o velho, mais uma vez, pediu desculpas, e apertou firmemente as duas mãos na palma da moça.

Logo, virou sua atenção ao Subaru.

— Obrigado. Você é um grande herói.

— Eu? Hahaha... Talvez eu seja um? Você sabe o que dizem. Comecem por pequenas coisas.

O homem assentiu com essa frase, virou para a moça se desculpou pela terceira vez o incômodo e se despediu, vendo que sua carruagem estava atrapalhando a via.

Aos poucos, os curiosos foram se dispersando um por um, assim que já não havia mais nada para ver ali.

— Você... Você quer que eu pague um jantar ou algo assim? — Perguntou a jovem timidamente, enquanto ajeitava uma mecha de cabelo para trás da orelha.

Uma reação um tanto comum entre meninas mais tímidas. Era claro o interesse que ela estava tendo em Subaru. E esperou que ele aceitasse essa cortesia.

— Me desculpe, moça. Eu tenho que recusar.

— Tem certeza? Por que? Eu tenho que retribuir de alguma forma... Você quer dinheiro?

— Dinheiro? Não, não. Eu não quero isso não. Só fiz o meu dever quando vi a vida de alguém em perigo, só isso. Não precisa retribuir.

Subaru estava extremamente confiante. Decidiu que só de ter a salvado, foi o suficiente, e que não precisava de mais nada. Mas a garota pareceu não gostar muito dessa ideia, no que ela o abordou novamente, agora, pondo as mãos em seu peito.

— Por favor, eu imploro! Eu faço qualquer coisa para retribuir o que você fez por mim!

A ideia de qualquer coisa era extrema demais. Sorte a dela que Subaru não estava com as mais perversas intenções aqui.

— Está tudo bem, moça. Mas se é pra fazer algo. Uuhhh.... Vejamos....

Pensando com os olhos semiabertos, ele buscava em sua mente, o que de fato poderia agregar a ele, e a esta jovem.

— ....

Esperou pacientemente, enquanto o olhava da mais profunda forma que um olhar aberto pode proporcionar. E... Conforme Subaru pensava, a multidão havia deixado de dar atenção e tudo voltou ao seu devido normal. Parecia que nada havia acontecido aqui.

Logo...

— Já sei!

— O que é!? Vamos, me diga!

Com sua resposta finalmente na ponta da língua, Subaru pega nas mãos da jovem, e antes de qualquer reação, ele as afasta de si, respondendo assim:

— Só peço que propague a minha ação, para todos que conhecia. Diga a eles como eu sou, e que eu a salvei. Isso é tudo.

— S-só isso...?

Realmente era muito pouco. Uma coisa simples demais comparado ao “Faço qualquer coisa". Mas esse era o “qualquer coisa" de Subaru. Ser reconhecido. Era só o que ele poderia pedir neste momento.

— Sim. Se fizer isso para mim, eu agradeceria tanto...!

— Eu faço! — Exclamou com exatidão. — Deixa comigo, que eu faço!

Sorrindo com a espontaneidade dela, o rapaz agradece, e então, se retira dali.

A jovem ficou o seguindo com os olhos, onde via cada vez mais as costas de Subaru se distanciarem do ponto onde estava. Ela nunca mais iria esquecer este ocorrido...

Se sentindo realizado, Subaru Natsuki triunfou no meio da multidão, como que ocultando a sua presença, e assim, seguindo em frente.

Ele, com aquela ação de pura bravura e altruísmo, havia marcado de vez, a sua chegada para um mundo paralelo.

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A atmosfera era pesada dentro daquele beco. Subaru se encontrava aqui, pois havia andado pela cidade a procura de pessoas para ajudar. Andou por tudo, todos os cantos que podia se imaginar.

Quando o acesso pelo chão ficava difícil de ser alcançado, devido as circunstâncias de essa área ser extremamente movimentada, o que causava em várias ruas caóticas cheias de pessoas e carruagens movidas a dragão, o Subaru optava por seguir pelos becos.

Quando os estreitos e longínquos becos ficavam apertados, coisa que era bem comum devido a quantidade de casas e edifícios compartilhando a mesma rua, ou até mesmo se viam sem saída alguma, o Subaru ia pelos telhados.

Quando os telhados eram ruins aos movimentos, e as telhas eram soltas, pois obviamente um telhado não é um lugar feito para se ter acesso e vagar deliberadamente, o Subaru desistia, já que dali de cima seria o pior lugar que ele poderia ficar, pois a vista misturada com a movimentação esmagadora da multidão desta área comercial não o ajudava em nada, então saltava de volta ao chão.

Ele procurou pelo o que se fazer. Se via mais perdido que uma criança, e seu senso de direção também não era os dos melhores. Andou a toa sem achar nada visivelmente atraente ou que condizia com o que de fato estava a procura.

E toda essa frustração em uma tarde sol, no meio de tanta gente estressada, apressada e suando, o levaram até a entrada deste beco. Ali era mais quieto e ele podia respirar livremente, sem a pressão de estar sendo esmagado pelo povão despreocupado.

Pensou que estava sozinho, até então aparecer três indivíduos com cara amarrada vindo o atazanar.

E é aqui que ele se encontrava agora...

— Vai passando tudo, o espertinho! — indagou de forma ameaçadora e autoritária, como se ordenando ao Subaru a dar a eles sua sacola de compras do super mercado.

— Hah! Vocês não vão tirar nada de um pobre falido como eu. Então por favor, se não querem se machucar, peso que deem o fora!

Subaru ordenava com uma postura ereta tentando transparecer que era um grande homem. Queria demonstrar que estava falando sério, e isso dava ênfase no seu comando, que aos olhos dos três patetas, nem se abalaram. Acharam que o Subaru não passava apenas de uma piada.

E como uma piada, só o que tirou foi sorrisos desses três imbecis que aparentemente não sabia aonde estavam se metendo.

— Cale a sua boca ôh merdinha. Passa logo essa sacola pra cá antes que eu decida brincar um pouco com você!

O bandido do meio com o dedo apontando fez pouco caso de isso, e novamente falou com arrogância. O comentário do Subaru só o deixou mais aborrecido. No entanto, o jovem de roupas esportivas pareceu nem se abalar. Ele continuou mirando eles com suas mãos nos bolsos da calça enquanto transmitia um sorriso debochado.

Com esse sorriso, e comportamentos inalterados de Subaru Natsuki, o bandido se aborreceu ainda mais.

— Do que é que tu tá rindo heim ôh palerma!? Tá achando que aqui é brincadeira? Passa logo essa merda!

Insistente eles eram. E essa insistência toda causava à Subaru uma náusea em ver que até em outro mundo existiam tipos como esses três. Para Subaru, esses tipos eram os mais detestáveis de pessoas. Sempre se favorecendo em cima dos mais fracos. Era inadmissível que isso continuasse por muito tempo.

Enquanto no seu mundo, já presenciou esse tipo de agressão, várias e várias vezes, e nunca pode fazer nada, pois sabia que era um fracote e se achava um derrotado que não tinha nem onde cair morto, e que no pior dos casos acabaria por apanhar e ser humilhado junto da pessoa que estava tentando salvar.

Aqui, nesse mundo novo, Subaru Natsuki, o jovem moreno de olhos Senpaku cor castanho que beirava o dourado, usuário de um traje esportivo nada comum à época em que se encontrava, poderia agir como bem entendesse, já que essa história provavelmente se trataria dele.

— Ahhh... Tudo bem então. Eu já cansei disso. Vou bater em vocês três. Um por um... Não, pra falar a verdade, pode vir os três de cada vez. Vou bater nos três com um único braço e ver no que dá. Duvido que irão conseguir me derrotar, seus panacas sem ouvidos!

Dizendo isso, o menino dobrou seu braço para trás enquanto prevalecia com o sorriso e o olhar confiante em seu rosto. Subaru poderia estar abusando da sorte. Irritar ainda mais esses assaltantes poderia acarretar na sua morte certeira. No entanto, essa história era feito para ele brilhar, independente das circunstâncias. Então como se soubesse de isso, ele colocou em sua mente que havia zero por cento de chances ao ser derrotado aqui.

Na verdade, a margem de erro ultrapassava zero a uma escala infinita. Seria até mesmo irracional dizer que teria algum tipo de “chance de derrota", já que literalmente não haveria como ser derrotado. Não depois do teste de força e agilidade que fez ao salvar aquela moça a alguns minutos atrás. Logo, era por isso a autoestima extremamente elevada deste Subaru.

E como se não fosse segredo para ninguém. Os indivíduos se zangaram. Se sentiram ofendidos e desrespeitados. Parecia que agora a piada era eles. E como sendo assaltantes orgulhosos, não se dariam o luxo de levar esse desaforo, ainda mais, que aos olhos deles, para um cara vestido de forma estranha.

Então elevaram seus sentimentos a flor da pele e deixaram serem controlados pela raiva interna que borbulhavam em seus estômagos e lhe cegavam sobre a literal força absoluta de um jovem sem dinheiro que mal sabia ler.

— Vai se foder seu merdinha!

— É! Tá achando mesmo que aqui é brincadeira né!? Tu vai ver só!

— E depois não vá se arrepender da surra que irá levar!

Disseram furiosos e como se desrespeitados pelo seu alvo. Um alvo que aparentemente parecia leve. Burro. Fácil... Acabou por ser, seu pior inimigo.

— Certo, certo, certo. Podem vir!

Dando o sinal com a única mão que usaria para este combate. Subaru Natsuki se vangloriava como sendo um ser imbatível. E realmente era como se fosse. Sendo assim, esses três zé ninguém não seriam um incômodo.

Foram os três em conjunto para cima do rapaz que permanecia firme. Cada um pegou sua arma. O da esquerda e maior retirou um facão das costas, um bem enferrujado diga-se de passagem. Aquilo mais servia como um porrete do que um facão propriamente dito, já que a crosta de ferrugem era tanta, que o objeto nem cortava mais. No mais pessimista dos casos, poderia fazer o oponente morrer de tétano.

O do meio retirou duas facas bem pontudas e afiadas. Não eram facas de combate, mas também não eram simples faquinhas. O tamanho das lâminas gêmeas era razoavelmente perfeito para se entrar na carne e causar um dano aos órgão vitais. É fácil dizer que dentre os três, esse aí era o mais perigoso. Mas não para Subaru que os via como sendo meras baratas.

Já o último, o terceiro deles era o mais nanico, e só pegou um bloco de tijolo do chão. Sendo assim, era fácil dizer que ele não teria arma alguma, então Subaru poderia derrotar este mesmo sem se preocupar tanto. Não que houvesse algum tipo de preocupação para início de conversa. Essa era mais umas daquelas hipóteses sem sentido aqui.

Foram os três correndo e orgulhosos de suas vitórias. Cada um com um olhar sedento no rosto, a espera de machucar o alvo com seus objetos e armas. Mal podia esperar para sentirem a gratificante sensação da pancada que dariam no rapaz que julgavam ser um fracote indefeso.

Chegaram perto o suficiente para o grandão tentar acertar o Subaru com o facão dele. Moveu aquilo pra baixo e Subaru nem se moveu, ficou parado esperando o ataque pois sua confiança extrema era o que motivava seu coração que estava fervendo como um fogo escaldante de um super vulcão em erupção.

A pancada bateu no braço que Subaru usou para defender, o grandalhão não esperava que aquele simples e comum braço fosse tão rígido assim, a ponto de tremer sua mão e quebrar a arma ao meio. Na cabeça dele, simplesmente não fazia sentido. A lógica não se aplicava aqui, de forma alguma poderia se aplicar.

Desviando para o lado onde não havia ninguém, Subaru se esquivou da estocada que o do meio desferiu com a faca. Preferiu se esquivar, mas ele tinha total certeza de que mesmo ficando parado, aquilo nem o prejudicaria. Estava se sentindo um “superman".

E foi com essa síndrome de “superman" que ele mirou no nanico do tijolo. Com o grandão inativo por um momento, e o do meio estocando a faca no ar enquanto ia para frente, Subaru tinha total visão do terceiro oponente, e iria finaliza-lo.

Ao ser mirado pelo alvo, o nanico tentou reagir. Subaru fechou sua mão e impulsionou um soco reto que pegasse na fuça deste que era baixo. Sim... O golpe não foi de todo reto, mas o impulso mesmo assim seguiu para frente. E como que fazendo o Subaru de bobo, o nanico colocou o tijolo na frente do soco. Acarretando assim na destruição total daquele pobre objeto.

A mão de Subaru entrou em contato com o tijolo e afundou para dentro enquanto esmigalhava-o em centenas de pedaços vermelhos. Fez a mão do nanico quebrar no processo, assim que seu braço afundou para trás com o impulso do golpe do Natsuki que não parava de mover-se para frente.

— Guaaaahhhggg!!!

Sentindo dor extrema com o braço fraturado. O nanico gemeu para os seus, onde seus gritos acompanhados de uma expressão cômica de dor, ecoaram por todos os quatro cantos cardinais. E assim, perdendo totalmente o foco da batalha...

Com essa perda de atenção, o rapaz de moletom chamativo parou o soco, girou o corpo e desferiu o golpe de mão fechada na outra parte do rosto desse nanico, fazendo sua mandíbula estremecer com impacto recebido. Então o levou com o seu punho grudado no rosto desse baixinho, e com o rosto do mesmo, como se fosse uma luva de boxe, ele socou a cara do magrelo da faca.

Com a mente oscilando com tal impacto, o magrelo revirou os olhos enquanto babava litros de saliva. Largou a faca e se deixou ser levado pelo golpe, onde a mão fechada de Subaru era a condutora. O magro sem saber o que tinha acontecido, perdeu a consciência e apagou. Apagou antes de sua cara, que era empurrada pela face do nanico, que por sua vez era empurrada pela mão do Subaru, bater no rosto do grandalhão.

O grandão não conseguiu desviar para nenhum lado e foi recebida com uma pancada tripla. O peso do rosto dos dois aliados mais a mão do Subaru os levando fez este sem saber onde estava. Foi prensado entre os golpes e a parede, o que acarretou automaticamente na sua quebra de consciência.

Assim, parando o soco do século e deixando os três caírem em conjunto no chão.

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Com a queda dos três, Subaru percebeu que era forte. Incrivelmente forte, e que se garantia com qualquer um. Foi com esse pensamento e orgulho no olhar, que ele iria sair deste beco, quando...

— Mas o que!? Caramba... foi você quem acabou com esses três aí?

Perguntou uma nova figura que chegava apressadamente pela entrada desta ruela. Era loira, baixinha e vestia roupas rasgadas e meio acabadas. Subaru interpretou como sendo uma mendiga de rua. Mas mesmo para uma mendiga, ela era bastante bonita. Seus olhos vermelhos davam um charme a mais para a sua aparência chamativa.

Esta garota... Pensou por um breve momento que talvez fosse ela seu interesse romântico neste mundo. Pois pelo que sua mente treinada de otaku antissocial lhe dizia. Um encontro assim, com uma menina em mundos de fantasias só podia acarretar em uma única coisa...

— Sexo...

— O-o que!? O que tu tá murmurando aí o esquisitão?

Subaru não se tocou que falou isso com a voz ao invés de manter nos pensamentos. Felizmente foi bem baixo, quase que um sussurro, então passou despercebido. Mas agora era inegável os seus desejos carnais e luxurioso vindo a tona. Pensou que não deveria ignorar isso de forma alguma. E daí que ela se vestia que nem trapos? Era bonita e podia dar ótimos filhos no futuro, foi o que pensou aqui.

Sem fazer rodeios, sem brecha para escutar o negativo ou faze-la sair correndo. Subaru foi até a mesma num salto e se ajoelhou agarrando-se nas vestes da jovem. Causando um desconforto a moral da menina recém chegada.

— Por favor case-se comigo! Eu te dou tudo o que quiser e almejar!

Que espécie de loucura era essa? Pensou a loira. Ela o repudiando da forma que podia, negava este lunático com unhas e dentes.

— Ai, qual é o seu problema, ôh malucão!? Sai, vai fazer a minha calça cair! Sai logo daqui! Está me atrapalhando!

— Não por favor não! Eu estou apaixonado por tu beleza, ôh bela dama, buque de flores! Seja minha, e eu serei teu! Agora vamos, me beije de forma aleatória como se tivesse encontrado o seu príncipe encantado!!

Com uma cara de extremo desgosto, a loira sentia repulsa e não podia compreender o que se passava na cabeça deste rapaz que julgou ser um lelé da cuca.

Isso era estranho demais, horrendo demais. Ela não iria se casar e beijar um esquisito que viu num beco qualquer sem mais nem menos.

— Sai, você nem me conhece! Larga de ser palhaço! Eu vou te dar um soco!

— Pode me bater a vontade! É essa magia de mundos de fantasias que eu estava procurando! Subaru Natsuki é um novo homem! Um que não se envergonha de nada e quer ter o mundo na palma da sua mão!!

— Mas do que diabos você está falando?! Eu te avisei!

Zangada com esse estorvo, a loira cerra o punho e o direciona com força e velocidade até a face de Subaru. O mesmo nem desviou enquanto agarrado as vestes da mesma. E sendo assim, o golpe bateu em cheio.

A sensação que a garota sentiu em sua mão foi parecida a de ter socado concreto bruto. Arregalou os olhos quando seus dedos doeram mais do que quando se aperta uma porta na mão. Uma face de aço?? Pensou ela

— Gihhhhh!!!

Gemendo de dor, ela tentou aguentar... Mas seu corpo estremecido dizia o contrario. A menina caiu de joelhos enquanto segurava o pulso dolorido.

— Mas que raios! Sua cara é feita do que?!!

Olhos lacrimejando, ela suportava a intensa dor. Subaru se sentiu meio culpado por ter ferido ela não diretamente, então tentou ajudar. Ajudar do jeito dele...

Pegou a mão dela e retirou a luva. Logo, começou a beijar de forma aleatória cantos irregulares da parte de cima da palma...

— O-que... O-que está acontecendo aqui... Eu me pergunto...

— Não se preocupe com isso minha linda. Está tudo sob controle. Eu serei seu escudeiro nessa viagem única chamado, “destino".

— Esquisitão! Esquisito até demais!!

A loura definitivamente havia tomado um rumo bem aleatório para a sua vida. Ao entrar neste beco comum, onde literalmente nada de mais poderia acontecer. Se deparou com a maior esquisitice do mundo. Um garoto parado que aparentemente derrotou três pessoas, e que quando questionado sobre isso, foi correndo e se segurou em suas vestes enquanto falava palavras absurdas.

O que deveria se levar a sério? Pensou. Não... Isso realmente deva se levar a sério? Parecia encenação. Uma piada indecente, onde ela era o alvo e esses eram os atores. Mas que tipo de louco perderia o seu tempo atazanando outras pessoas num beco?

Além de que, esse indivíduo era realmente, literalmente, inconfundivelmente super estranho. Com palavras que não fazem sentido, agia de forma exagerada e despreocupada. Vestia trajes incomuns a vista, e seu estilo de cabelo, tanto na cor quanto no corte, eram diferentes.

Ao se ver confrontada por tudo isso, a menina recém chegada começou a repensar suas rotas de fuga. Não queria perder mais nenhum segundo aqui. Pra falar a verdade, não é que não queria, como também, não podia. E a razão para isso era...

— Eu finalmente te encontrei, sua ladra!

A voz saiu dentre os ouvidos de ambos. Um terceiro havia aparecido ali, isso se ignorarmos os três caídos. A menina loira fez uma expressão nada agradável, como se tivesse sido pega fazendo algo que não devia. Já Subaru, ele virou o rosto e olhou para o dono da voz que entrava pela via do beco. E lá ele viu...

Viu uma belíssima donzela escarlate, que brilhava em tom de branco. Pele pálida que poderia ser confundida com uma enferma. Cabelos tão claros quanto a neve de um dia frio, parecia ceda, parecia mágico, era irreal.

Um vislumbre tão majestoso que fez se esquecer completamente da loira perto de si e vidrar toda a sua atenção à aqueles olhos roxos que brilhavam como pedras preciosas. Era como se o tempo fora congelado, e tudo que lhe dizia... Que o seu coração dizia, era...

— Eu preciso te ter meu amor...

Murmúrios foram jogados ao ar. Sua visão, seu coração, atenção, desejos o fizera cair em tentação. A mais pura aflição. Até mais por quando viu a loira chegar.

Mas... Sempre existe algo para desmantelar esses desejos. Existia algo que o impedia de chegar até ela... Uma força maior. Era medo? Poderia ser chamado de medo? Sim... O medo faz o corpo estremecer, ficar imóvel...

Porém, aqui ele realmente se via imóvel. Tudo estava parado, e nada se mexia. A loira estava parada como uma estátua, a donzela albina estava inexpressiva. O tempo pareceu congelar diante da própria presença de seu encontro. Como se fosse algo tão poderoso eles se verem, que o mundo não podia conceber tal cenário, e entrou em colapso.

— ....

Diante desse tempo parado, Subaru estendeu sua mão. Se levantou e a estendeu na tentativa de alcança-la, toca-la, chegar até ela. Mas seus pés não se moviam, como se pregados em pleno solo por parafusos em uma tábua colada ao chão, nada era movido, nem mesmo tremido.

— .....

Tentava falar, mas sua boca não se abria. Tentava gritar mas suas cordas vocais não emitiam som ou quaisquer vibrações necessárias para um cântico. Tudo era travado. Bloqueado como uma marionete, um boneco de madeira. Todas as suas ações e vontades foram retiradas por uma força maior. Sua liberdade havia sido tomada.

— .........

Foi como resposta a esse atentado, que das sombras, atrás de si, algo surgia, contorcendo-se na escuridão, pronto para submergir. Algo inexplicável, como se toda a quebra do senso comum fora aplicada agora. E dali, mãos, braços, torço, cabeça... Um corpo saía. Uma mulher? Um homem? Não sabia o que era. Não podia virar e olhar.

A insegurança tomou conta dele, foi como um abraço, aquele espectro pálido de escuridão o agarrou entre os braços e juntou seu corpo com o dele, assim esfregando o corpo e acariciando a cabeça em Subaru de forma desordenada enquanto alisava as mãos em cada parte deste menino.

Parecia o adorar, o amar, o proteger, o saciar... Apenas com a presença misteriosa, Subaru sentiu suas vontades se esvair daquela pessoa a sua frente. Atenção, sentimento, compaixão, vontade, desejo, alegria, excitação, acolhimento, proteção, inveja... Ele fora tomado por esses sentimentos enquanto se esquecia da moça do beco, e tentava com todos os poros do seu corpo, se virar para o que julgou ser a moça de trás.

Mas era inútil, era injusto, era pecaminoso, era incorreto. Queria poder se virar e abraça-la. Queria segurar essa presença em seus braços e beija-la, acariciar as curvas do seu corpo. Fungar enquanto chupava o pescoço, e fazer amor com ela ali mesmo.

Queria tê-la só para si. Possui-la só para si. E abafar esse calor carnal no amor que ela poderia oferecer. Tudo era irrelevante, e só se tratava dela.

Ela era o tudo pra ele. E ele, o tudo para ela.

Tristeza... Estava triste, revoltado com ódio de não conseguir se mexer. Queria ao menos falar com esta presença. Nem mesmo a carícia em seu corpo que ela fazia ao esfregar as mãos desordenadamente por cada canto do Subaru estava ajudando.

Então, como forma de uma promessa, ela moveu seus lábios até o seu ouvido, e como se fosse um juramento de que iam se ver novamente, disse:

— Eu te amo...

Foi rápido, imperceptível. Tudo voltou ao normal e esse momento eterno foi para o esquecimento como se nunca viesse a existir.

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Naquela ruela desprovida de atenção, existiam três indivíduos que estavam na parte de dentro do beco, e mais três que estavam mais ao fundo, sendo esses os que Subaru capotou com sua intensa força física e agilidade sobre-humanas. Sendo assim, neste canto espremido entre 2 edifícios enormes, era possível perceber a existência de seis pessoas.

Como dito antes, três delas estavam apagadas e se encontravam em um mal estado. As que estavam mais a frente, era uma garota de cabelos prateados e roupas expansivas com detalhes bordados em roxo. Uma baixa que ficou sem entender nada do porquê de um moleque subitamente a abordar num beco, e o próprio Subaru, que era esse moleque.

Este que por sinal estava suando frio enquanto ofegava com seus olhos marejados em turva visão. Não entendiam o porquê dele abruptamente estar daquele jeito. Nem Subaru pareceu entender. Ele foi recoberto por uma sensação agoniante de sufoco repentina, e também não era como se fizessem caso disso. A preocupação das duas, era além da atenção e inquietação deste estranho.

Como se prevendo o que a moça de branco ia falar, a loira se levantou vagarosamente entortando o rosto pronta para ouvir poucas e boas. Mas diferente de isso, ela levantou voz primeiro.

— Eu já sei o que você quer comigo...

— Se já sabe, então porque não pulamos as apresentações e me faça o favor de me devolver que me roubastes?

Dizia inquieta enquanto apontava a palma para a loira que estava de costas. Parecia não ser um simples gesto de aparências. Era como se realmente fosse sair algo daquela palma.

Com o ar gelado fluindo pelo seu cangote, a suposta ladra entorta os lábios. Algo nessa sensação gélida lhe dava más lembranças. Talvez fosse por isso a correria toda? Estava fugindo desta moça de cabelo branco. Se esse era o caso, a aparição repentina de Subaru foi realmente um furo nos planos.

— Eu tenho um trabalho a fazer, sabe? Não espere que eu simplesmente te devolva o que havia roubado.

— Você tem razão. Mas não vê que está no fim da linha? Resistir será inútil, e tentar escapar também. Então vamos terminar logo com isso. Me devolva o meu brasão, se resolva com seja lá quem está trabalhando, e parta pra outro tipo de trabalho. Um que seja mais honesto, de preferência.

Aproveitando que estava falando, a jovem donzela incentivou ao repreender a ladra, lhe dando lição de moral enquanto torcia para que a conversa se encerrasse por aqui. E por mais que estivesse parada ouvindo isso, a loira revirava os seus olhos cor de rubi pra lá e pra cá, na esperança de encontrar uma falha. Uma saída...

— É mesmo? Bom, é difícil seguir o honesto quando a sociedade te reprime e não da a mínima para você!

A forma com que a loura falava isso, podia ser notado a dor e o pesar em sua voz de ódio. Uma vítima da sociedade, onde o único caminho que encontrou para se favorecer foi a trilha do roubo. Se tornar uma ladra de rua, e fazer furtos ordenados por toda a capital.

Quem tinha a culpa? Era realmente tudo culpa desta pequena menina que aparentava ter seus 14 anos? Ou do mundo que a reprimiam e não lhe estendia uma mão amiga? Era provável que se ela não agisse assim, estaria morta de alguma forma, seja de fome ou de frio, pois a falta de possibilidades para uma jovem largada como essa, eram extremamente reduzidas.

A moça de branco encarou a jovem ainda com sua palma imóvel. Falta de oportunidades... Ela sabia bem o que era isso. Sabia que, quando se está por baixo, quase que no fundo do poço, a sua vida deixa de ter um sentido. Ou você morre com isso, ou busca um sentido para continuar vivendo.

A gatuna das roupas rasgadas aqui, podia muito bem escolher morrer na miséria e deixar tudo para trás. Mas, ao invés disso, ela preferiu buscar um sentido para a sua vida, do que se abandonar. Decidiu lutar pelo seu próprio destino, a morrer como alguém covarde que nunca tentou. Mesmo que isso significasse decair para o lado do crime.

— Eu sei que pode ser difícil. Mas esse jeito de levar a vida não é nada primoroso.

Irritada, a menina se vira.

— E o que diabos você sabe!? Não sabe de nada! Como uma patricinha que nem você, saberia!? Não tem como saberem! Nem ao menos conseguem idealizar um terço do que nós, pobres e carentes, sofremos!

Expulsando toda a sua raiva sobre as palavras da albina. A loira havia desistido de procurar uma fuga, e optou por confrontar a sua perseguidora com discurso de ódio. Para ela, alguém da alta sociedade como essa a sua frente, jamais entenderia as dores que havia passado, e a vida que levava em meio às “favelas".

— ....

— Heh... Claro que não saberiam. Vocês nem se importam, não é mesmo!? Estão mais ocupados vivendo em suas belas mansões, desfrutando da melhor vida possível, enquanto os outros que nem EU, estão se ferrando pois não tem o que comer! Então não me venha me dar lição de moral quando você e seu grupinho, separado do nosso, estão errados também!

Indignada, a ladra tirava tudo do peito. Para ela a existência dessa a sua frente era repugnante. O governo do país em que vivia estava totalmente errado, e se pudesse subir ao poder, de alguma forma, iria desmantelar toda essa divisão de ricos e pobres, e daria uma nova cara a este estado com o dinheiro público. Já até sonhou com isso algumas vezes...

— Você está certa. Tudo isso que falou faz sentido...

— Viu só. Você mesma admitiu que-

— Mas isso não se aplica a mim!

— Huh?? Voc-

— Essas palavras que disse, não se aplicam a mim e a minha forma de pensar!

Cortando a gatuna pela segunda fez, a donzela se pronunciava:

— O que você falou, tudo é verdade. Esse país está dividido, eu sei disso, eu li sobre isso. E é por isso que estou aqui. Para mudar essa concepção de que só os ricos se prestigiam mais, e os pobres continuem sem oportunidades. Eu vou mudar tudo isso, é pra isso que estou batalhando!

Sim... Um sonho. Um sonho de querer fazer o que achava correto. Esse era o sonho desta jovem-moça.

Escutando o discurso da donzela, a ladra demonstrou estar surpresa. Mas mesmo assim, fechou a cara.

— Mentira! É tudo mentira! Vocês não ligam para gente como nós! Como eu posso ter certeza do que está falando!?

— Por que eu já fui como você...

— Heim??

— Não, ainda sou como você... Eu também sou descriminada pela sociedade, e muita gente me odeia...

Seus olhos entristeceram para baixo quando falou isso. Uma verdade que doía no peito. Lembrou de sempre ser jogada constantemente contra todos. Nunca pôde escolher um lado, nunca deram chances a ela. Sempre esteve sozinha, e rebatida por todo mundo. Era isso que marcava mais e mais em sua mente de querer realizar seu sonho, e acabar com essa discriminação.

Por outro lado, a gatuna não fazia questão de dar ouvidos.

— .... Vem cá... Eu não tô nem aí pelo que-

— E eu estou cansada disso! Estou cansada de ter que suportar esses olhares de desprezo! De ser renegada por tudo e todos! É pra isso que eu luto!

Lutava bravamente, todos os dias para que conseguisse chegar no topo. Tantos dias sem sair do quarto, apenas estudando, lendo e aprendendo... Era essa a pessoa que falava agora. Uma mulher brava que iria cortar esse mal pela raiz.

— ......

Mais uma vez, a loira foi cortada e forçada a escutar. Ela não conseguia esconder a sua cara de surpresa. As palavras da albina, de alguma forma estava a atingindo.

A ladra sentiu que eram todas verdades. Não havia um traço de mentira em seu olhar determinado. E isso... Isso era assustador demais. Era assustador alguém que se dizia ser reprimida, lutar pelos seus direitos. Essa loira era assim. Encontrou uma semelhança entre ela e a jovem de cabelo branco, mas diferente da jovem, a loira nunca tentou lutar contra esse mundo cruel.

A jovem prosseguia:

— Então, para que eu mude isso. Preciso desta insígnia. Só assim irei chegar ao topo do reino, e mudarei esse país! Quero construir uma nação onde todos possam viver felizes! Onde todos possa ser iguais! Esse é o meu objetivo!

— Mas o que...

Sem saber ao certo o que dizer, a menina permanecia na defensiva. Mesmo com tudo isso sendo verdade. O fato dela ainda estar em missão de roubo, só tornava a sua escolha mais difícil. Porém...

— Eu concordo com a moça... Você deveria ouvir ela.

O ainda ofegante e suado, Subaru Natsuki, que estava só escutando enquanto se recompunha, levantou voz pela primeira vez nesta conversa, ao se ver encostado na parede como um moribundo.

A atenção das duas foram direcionadas até ele, o que fez cada uma agir de sua própria forma em relação a isso. A donzela assentiu ao se ver apoiada por um estranho. Já a outra...

— O que? Então o esquisitão aqui estava do lado dela esse tempo todo!? Estava me enganando?!

— Como se fosse possível. Eu nem conheço esse daí. — Quem falou isso foi a donzela. O que deixou Subaru meio triste.

— Não precisa falar assim pro cara que tá do seu lado! Apesar de ser verdade!

Os três pararam e ficaram se encarando. Era provável que a gatuna das mãos leves estivesse pensando em fugir por aquele beco escuro. Estava farta de tudo isso. No entanto, o seu bom senso oscilava em sua mente para que fizesse o correto. E eu não me refiro a terminar com seu roubo, como sendo o correto aqui.

Mas ela precisava de mais um empurrãozinho. E esse era...

— Escute, menina. Roubar não é o certo. Eu sei que deve estar passando por necessidades mas... peço que entenda. Você vai mesmo tirar de outro, só pra satisfazer seus próprios desejos?

A loira baixou um pouco o rosto parecendo se conscientizar. Ela sabia que não era algo de se orgulhar. Nem mesmo era chamado de profissão. Existia outros nomes para descrever isso, como sendo um “trabalho ilegal”, coisa que era inegável de se dizer que não era.

A jovem dos olhos cor de ametista, vendo que a ladra parecia não querer mais reagir contra, caminhou até a mesma em passos suaves e colocou sua mão naquele ombro de forma amigável, ao se descer o rosto até a mesma que era mais baixa.

A loira pega de surpresa com o toque, e principalmente com a aproximação repentina da figura, tremeu o corpo em um espasmo único, e logo, virou sua atenção a garota.

— Eu não te culpo por fazer isso levando a vida que você tem. Mas queira por favor me entregar o brasão? É muito importante para mim.

O jeito que falava era suave e sutil. A baixinha não conseguiu detectar nenhum tipo de hostilidade vindo da mesma. Era como se realmente não guardasse ressentimento. Talvez essa de cabelo prateado tenha absorvidos as intenções, motivos e sentimentos da ladra, como base de suas palavras.

Encarando aquele rosto gentil, a loira vira sua atenção para o rapaz que estava assediando ela a alguns minutos atrás. O mesmo parecia ter mudado de repente, e agora, assentia pra ela com os braços cruzados, como se dissesse “faça o certo".

Então, se sentindo sem saída e sem mais motivos para continuar essa fuga. A ladra suspira.

— Está bem. Tome aqui, moça.

Vendo que se rendeu, Subaru encarou essa situação como sendo mais uma boa ação concluída. Isso de fato poderia aumentar os seus status como um herói. E a moça do vestido bordado sorriu.

A menina pôs a mão no tope que vestia e, tirou do busto uma pequena insígnia preta muito bonita, com detalhes de dragão em dourado e uma pedra brilhante em vermelho no centro. Só de bater o olho nessa coisa, o menino percebeu o motivo do roubo. Com toda a certeza aquilo valia muito dinheiro.

E sendo algo precioso que valesse tanto, estava claro as intenções da loira de querer roubar da albina. Mesmo assim, para ele, e talvez pra qualquer um, isso não justificava nada. As consequências de cometer um roubo, pode ser muito pior do que umas simples advertências e meia dúzia de palavras, como ocorreu com ela aqui.

— Tá aqui, moça. Foi mal por ter roubado. Era um trabalho, sabe?

Disse ao entregar o amuleto, no que em resposta a isso, a jovem o pega e diz:

— Obrigada. E... Esse trabalho seu é muito arriscado, além de trazer benefícios só para você. Então eu quero que repense sobre isso e não faça mais de novo, entendeu?

— Tá bom, entendi, entendiii...!

Resmungou por ter que escutar mais uma das advertências da jovem. E Subaru que presenciava isso de perto, soltou um sorriso pelo clima ter aliviado e tudo ter se resolvido.

— Olha, olhando daqui, parece que são mãe e filha discutindo. Hahahahaha...

Rindo disso, Subaru foi recebido pelo olhar das duas, que ao se entre olharem, responderam.

— Se ela fosse minha filha, não estaria roubando pelas ruas.

— Se ela fosse a minha mãe, eu provavelmente não estaria roubando pelas ruas.

Vendo que suas respostas foram praticamente idênticas, elas se olharam e soltaram um breve sorriso abobalhado. E isso indicava que esse desentendimento todo já havia acabado cem por cento.

Subaru sorriu.

— Éah, vocês são um pouco parecidas. Aproposito, qual é o nome de vocês? Eu me chamo Subaru Natsuki, estou falido mas prazer em conhecer vocês duas!

Com essa indicação de nome, a ladra se viu obrigada a dar o dela também. O mesmo aconteceria com a albina posteriormente.

— Eu me chamo Felt. Não tenho essas coisas chiques como um nome de família que nem você tem, ôh tarado.

— Tarado?? Poxa que isso, Felt. Eu tava só brincando, sabe?

— Brincando? Aquilo me pareceu bem real. Seu maluco!

— Ah, vai fica xingando agora? Eu tô falando que era brincadeira! Eu estava sobre a síndrome de “isekai" !!

Tentou se justificar, dar desculpas, e de nada adiantou. Felt nem entendeu o que ele quis dizer, acarretando nela virar o rosto com desgosto e o chamar de “tarado", pela segunda vez. Subaru ficou mais triste ao ver que sujou sua moral. Soltou um breve suspiro e se desculpou...

A moça vendo isso, achou o clima tão agradável, que julgou como sendo boas pessoas. Então...

— Acho que não tem problema em revelar o meu nome a vocês. Eu me chamo Emília. Só Emília mesmo. Também não tenho um nome de família como você, Subaru Natsuki.

— E ela já tá me chamando pelo nome! Gente eu vou desmaiar.

Brincou ele com sua atitude energética. Coisa que deixou uma Felt de olhos cerrados enquanto o mirava.

— Hum... Parece as palavras de um tarado.

— Tu vai ficar insistindo mesmo nisso, heim mulher!???

Felt claramente iria continuar tendo essa imagem de Subaru após o acontecimento de antes.

Emília riu, e isso apaziguou o clima.

E é com esse tema de paz, que eles saíram de vez daquele beco, deixando três encrenqueiros para trás como se fossem lixos descartáveis. E talvez eles não fossem?

Caminhando pela rua da cidade, o novo trio de passagem conversavam.

— E você realmente acabou com aqueles três, huh? — Pergunta Felt. E como se vangloriando, Subaru responde com um ar de glória.

— E foi só com um soquinho bem dado na fuça, hehehe...

— Realmente muito interessante, maninho. Mas enfim... Acho que vou voltar com o bolso vazio e dizer que é uma pena eu não ter conseguido o roubo.

— Já vai? Eu achei que estávamos virando um grupo aqui!!

O esperançoso e carregado de expectativas, Subaru Natsuki ataca novamente. Ele achou que essa seria aquele típico de situação onde o grupinho seria formando após o entendimento dos integrantes. Mas isso não era como nas obras que via, afinal das contas, Felt ainda está em missão e ela tem mais o que fazer, seria óbvio.

— Tá maluco? Não me leve a mal, mas por mais que a gente tenha se entendido, não somos tão amigos assim.

Ouvir isso definitivamente deixou Subaru triste. Era como se seus sentimentos fosse pisoteados pelos sapatos da loira.

Com tal, Emília se sentiu na obrigação de responder com:

— Ora... Nada impede de que isso aconteça, sabe? Pois a base para ter uma equipe, ou um grupo de amigos é a reconciliação em primeiro lugar.

— Só podia ser a Emília mesmo!!

Com o agrado repentino de Subaru, Emília se sentiu afrente e demonstrou um sorriso confiante. Felt por outro lado...

— Tá, tá, tanto faz. Mas olha só... É melhor que você cumpra com o que disse.

— Com o que eu disse? — Indaga a albina levantando uma sobrancelha.

— É... Com o lance de lutar pelo seus direitos e tudo mais... Eu meio que gostei bastante dessa ideia então... — Ela estava de fato se envergonhando enquanto falava isso abertamente.

Subaru não perdeu tempo em jogar um “incrível! As suas bochechas estão ficando vermelhas!” o que em resposta, Felt o olhou com hostilidade, lhe dando um “cala a boca!”. Sendo estimulada pela impaciência ela completou:

— Então eu gostaria mesmo que você governasse esse reino, tirando a gente dessa vida de humilhação!

Seus olhos se estreitaram quando pronunciou isso, coisa que fez a aparência em relação a ela diferenciar da ladra raivosa e sem coração que lutava por puro egoísmo próprio que aparentava ser.

Emília ao ouvir isso sendo direcionada a ela, prostrou uma postura mais decidida, juntamente de um olhar convicto.

— Eu irei. Pode contar comigo!

A loira esbanjou um sorriso quando viu as verdades cruciais nas palavras da jovem. Então...

— Bom, acho que é isso. Até um outro dia, moça do brasão, e... Garoto vulgar.

— Já disse pra parar com os apelidos! Poxa... Falei que estava alterado, droga...

Rindo de um Subaru que suspirava, a menina acenou para ambos e se pôs a retirar dali. Os dois remanescentes a observaram enquanto se afastava. Era uma baixinha bem ágil para a idade dela, pensavam.

— E lá se vai ela. Foi legal o pequeno momento. — Esclarece Subaru.

— Realmente, Subaru. E obrigada pela pequena ajuda. Eu te agradeço.

A feição generosa de Emília, fazia o coração de Subaru pulsar. Era algo incontrolável... A beleza dela parecia nunca se esvair. Ainda mais agora, que ele a olhava de perfil. Era realmente muito bonita. Para Subaru, uma pintura criada por Deus.

E como resultado desses sentimentos internos, sentiu uma pontada oscilar em seu peito. Mais precisamente, um aperto que surgiu no coração.

— Gah!!

— S-Subaru??? O que foi?

De súbito ele se via transparecendo muita dor, no que apertava o peito com as duas mãos. Emília chegou mais perto para lhe dar apoio e atenção.

— Heh... Se preocupa não, Emília. Isso é nor-... Aahhgg...!

Esbugalhando os olhos, a dor era tamanha, que Subaru nem conseguia manter um raciocínio. Apertava... Apertava o peito como um castigo. Uma penitência por algum ato que cometeu.

Ou que pensou...

Salivava feito um maluco. Emília tentou usar algo que se parecia com uma mágica de cura, ao emitir sua luz verde das palmas das mãos. Mas Subaru não se mantinha parado. Caiu de joelhos por ter que suportar tremenda dor.

Suportar... Não era isso. Não estava suportando. Estava só sendo torturado mesmo. Seus olhos lacrimejavam a medida que parecia se intensificar.

— Ghhhhhh!!!

— Minha nossa, Subaru! O que deu em você!??

Preocupada, a garota se agacha diante dele que se jogou no chão ao perder o desempenho das pernas.

Um aperto invejoso que o agarrava. O esmagava como uma barata ridícula e fraca. Um sofrimento sem fim... Não parecia ter fim.

E, diante dessa agonia, podia escutar uma voz que vinha do além e sussurrava em seu ouvido.

— Não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, acorde, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não...

A voz era incessante, e sua mente foi tomada pela dor. Esbranquiçou os pensamentos, tornou-se vazio. E nesse vazio que estava sua mente, essas palavras eram as únicas coisas que vagavam por lá. Como uma lavagem cerebral do terror, só podia se escutar essas palavras. Só entendia isso...

— Subaru! Hey! Você está sentindo dor!? Está ferido!? Vamos, me diga!

Preocupada, Emília ficou no desespero sem entender a cena. Subaru subitamente começou a ter espasmos... Alguém estava lhe punindo. Punindo friamente por algo que fez...

— P-para... Por... Favor...

Tentava pedir par que parasse. Para que a dor sessasse, e essa voz repetida saísse de sua cabeça. Mas não adiantava. Ele não estava em posição de pedir algo aqui. Não poderia estar, sendo o único a sofrer, jogado naquele chão sujo da rua, não tinha moral para dar ordens.

— Puck! Puck!

Um nome surgiu fortemente dos lábios de Emília. Pareceu chamar por alguém. Um conhecido talvez? Essa resposta só se revelou quando o mesmo, se materializou em pleno ar.

Não surgiu vindo das ruas. Nem do céu e da terra. Mas sim, aparecendo do ar como partículas luminosas que se fundiam e se moldavam no formato de um gato cinza de olhos azuis. Era pequeno, do tamanho de uma palma, mas era por ele quem a jovem chamava, logo, mesmo parecendo frágil, o gato deveria ter seu grau de importância.

— Me chamou, Lia? — Indaga o felino que flutuava como um balão de gás.

— É o Subaru. Ele está assim de repente. E meus poderes curativos parecem não funcionar! Você tem alguma ideia do que seja? Por favor!

O felino que até então, estava acompanhando tudo escondido no cristal que Emília mantinha no pescoço, ficou intrigado com esse gesto da menina. Não eram amigos. Ela e Subaru mal se conheciam. Mas como tinha um bom coração, e ele a ajudou, simplesmente seria desumano ignora-lo neste estado. Então...

— Hum... Vejamos...

O pequeno ser, flutuou até a face do menino deitado ao solo, que espumava e se contorcia. Entortou o rosto vendo esse gesto incomum. Não achou nada que talvez fosse uma maldição ou projétil disparado. Então moveu-se em pleno ar e analisou o rapaz de ponta a ponta.

Foi para um lado e para o outro. Tudo isso enquanto a Emília tentava acalma-lo com sua mágica, o que parecia funcionar de leve, ao menos ela queria acreditar nisso. E junto do olhar de algumas pessoas que catavam o incidente repentino por pura curiosidade, Puck deu seu veredito à garota.

— Lamento, Lia. Não encontrei nada de incomum no seu amigo aqui, o Subaru, que fosse parecido com uma maldição, veneno ou o que fosse.

— Essa não...

Reagiu pasma com o que ouvia. Essa resposta do gato só fez parecer que o tratamento de Emília se tornasse mais distante. Ele continuou:

— O meu palpite, é que seja algo fisiológico. Do próprio Subaru em questão. Sugiro que continue oferecendo seus esforços a ele. Se não melhorar, só a Beatrice poderia ajudar.

— Beatrice? Mas é muito longe! Não se sabe se ele duraria até a mansão!

Entrando em conflito, a menina exclamava preocupada com o cruel desfecho que o seu recém-amigo levava. De fato, se sua magia não desse cabo dessa agonia que o Subaru estava passando, existia alguém muito mais superior a ela, em outro lugar, distante da capital. Mas seriam horas de viagem...

No entanto... Olhando para o mesmo, pensou em algo. Ou melhor, em alguém. Um pensamento surgiu como um estalo. Uma imagem em sua mente.

— E aquele curandeiro que trabalha para a Senhorita Crush!? Ele não pode ajuda-lo!?

— Hum... Se é isso que tem em mente, talvez possa ser uma ótima ideia, Lia. Não é tão perto daqui, mas ainda assim fica na capital real. Se chamarmos a empregada para nos levar, poderíamos ter uma chance de salvar esse daí.

Uma esperança. Surgiu uma esperança de que Subaru fosse salvo. Se os tratamentos de Emília eram falhos e sem sentidos, então tinha um que definitivamente seriam melhor e poderiam lhe oferecer ajuda concreta. Esse era conhecido como o maior curandeiro do Reino.

— Não...

Gemendo no chão, o próprio Subaru negou essa ajuda. O que causou uma estranheza à Emília e Puck que estavam junto dele.

— O que? Como assim “não", Subaru? Está ferido, e precisa ser tratado. Infelizmente é algo além da minha magia de cura!

— Mesmo assim... Emília... Não precisa tanto... Já estou voltando ao normal.

O fato dele conseguir falar ao invés de só padecer ali no chão, indicava que estava a se recuperar. No entanto, essa crise dada em Subaru foi súbita demais. Não tinha certeza se realmente estava bem, ou se estava só se fingindo de forte.

Receosa, Emília pergunta:

— Tem certeza, Subaru? Olha... É o mínimo que eu posso fazer por ter me dado aquele pequeno apoio. Por favor, se está mal, deixe me ajudar. Eu não posso ignorar isso.

Palavras... Essas palavras desta garota faziam a mente e o coração de Subaru entrarem em confusão. Estava dividido. Ao mesmo tempo que era gracioso, sentia que se continuasse a receber dessa graça, só iria acabar por se corroer ainda mais.

— Sim... Eu estou bem... Já tô melhorando...

— Hum... Não me parece mentira, Lia. Acho que foi apenas um “alarme falso", mesmo ele tendo todas aquelas contrações e tudo mais.

Puck que tinha respondido de acordo com a confirmação de Subaru, assentiu em respeito a isso. Porém, a jovem ainda não estava totalmente convencida. Seu olhar transmitia isso.

Mesmo o Subaru sendo um recém-conhecido, ela era do tipo empática, e não conseguia ignorar que ele estava simplesmente convulsionando no meio da rua.

Rua essa que os mais interessadinhos sem ter o que fazer, começaram a circular visto que o espetáculo já estava por terminar. Não que ver uma pessoa tendo algo parecido com um ataque epiléptico seja um entretenimento. Mas a curiosidade humana permanecia, e era tão incomum que eles não conseguiam passar batido sem ao menos olhar de relance.

— Mas Puck...

Ofegante, Subaru pareceu ter perdido o mal estar. Aquele tormento infernal, onde sentia sua alma ser castigada da pior forma possível, casualmente foi desaparecendo deixando para trás uma carcaça de vida desengonçada e sem esperanças.

— Subaru...

Replicava os nomes com sua voz se sentindo prepotente. Subaru não podia culpa-la. Sabia que ela queria ajudar, como também sabia que esse atentado ao seu ser, era algo além dos poderes de Emília, ou até mesmo, de qualquer um aqui.

Não sabia dizer como, mas sentia que era algo muito fora do comum. Assim como seus poderes absurdos. Eram duas forças absurdas. Seria esse ser, a pessoa que o convocou e lhe deu tais “boost" de força? Pensava.

Cansado de ficar com a face sobre o chão gélido que cheirava a terra. O menino se ergue apoiando as mãos no chão. Foi reerguido com auxílio de Emília, que assim que o viu se esforçando, tomou atitude para o ajudar.

De pé, ele sentia-se restaurado. O pior já passou. Assim como venho de repente. Ele sumiu de repente. Foi como num piscar de olhos.

Sem deixar vestígios.

Recebido pelo olhar complacente da jovem, Subaru se sentiu obrigado a dar um sorriso dizendo, “estou bem", a ela. Que, com certa relutância, preferiu aceitar esse desfecho e confiar na palavra de Subaru, ao invés de discordar e prolongar ainda mais esse assunto. Porém, o aconselhou:

— Bom, Subaru. Não deixe de visitar um médico depois. Tudo bem?

— Ok mas... Por que eu sinto que está falando isso meio como que se estivesse se despedindo?

— Eu realmente estou. Agora que já tenho o meu brasão, não há mais nada a tratar aqui. Então é por isso que estou voltando pra casa.

— O que!? Não, pera aí... Eu não quero que você se vá assim!

Deixar o possível amor de sua vida escapar sem ne mesmo passar um tempo descente com ela. Isso estava realmente certo? Subaru sentia que não. Por isso tentou mantê-la consigo.

— Do que está falando? Olha... Fico feliz de te ver bem. Mas eu realmente tenho de voltar. Prometo visitar assim que puder, está bem?

— Uhh. Bom...

Quando pensou no que ia dizer, uma voz surgiu olhando para eles.

— São realmente vocês!

Viraram os três a sua atenção para o dono da voz que se encontrava parado na rua.

O que viram, era um jovem homem vestindo um manto marrom. Calçava botas. Tinha o cabelo aparentemente amarrado por algo.

E um chicote na cintura.

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Olhares foram jogados um para o outro. Parecia que esse dia não poderia ficar mais esquisito. Só parecia pois...

— Que bom vê-los a salvo. — Dizia o misterioso homem encapuzado que demonstrava alívio em sua feição.

Tanto Subaru quanto a Emília e Puck, ficaram surpreso e curiosos com isso. Quem seria essa pessoa? Nenhum dos dois se lembravam de ter visto esse jovem-adulto ao longo de sua vida, quanto menos o Subaru que acabara de ser convocado e não fazia ideia de nada e nem sobre ninguém. Então, a ação mais comum a se tomar agora é...

— Com licença, mas... Nos conhecemos? — Questionou ela.

O homem com um semblante de surpreso, retirou seu capuz e sorriu.

— Acredito que não, individualmente. Mas eu sei quem você é, senhorita. Trabalha como marquês, certo?

— Ah, sim. O marquês Roswall a quem deve estar se referindo? Se for isso, está certo mas...

Mas ainda não explicava o motivo dele aparecer como se estivesse os procurando. Então...

— Sim, sim... Me desculpe. Vou me apresentar devidamente. Eu me chamo S... Kurosaki. Não tenho nome de família, e estou de passagem pelo Reino de Lugunica a procura do marquês e feiticeiro mais poderoso do Reino. — Falava com um tom de cavalheirismo, parecia ser alguém respeitoso e refinado, apesar de sua aparência não condizer muito com isso.

Emília que escutou essas palavras, começou a coincidir as coisas e compreendeu.

— Ah, entendi. Pois bem... Já estava a caminho da mansão agora mesmo. Então se quiser vir conosco, Kurosaki, sinta-se a vontade.

— Eu concordo. Não sinto malicia em suas palavras, então presumo que esteja falando a verdade.

Quem afirmou isso foi Puck, gato espírito que sempre acompanhava a Emília e a chamava de “Lia".

— Ohhh... Um grande espírito, eu suponho. Muito obrigado por acreditar em minhas palavras, caro espírito maior. — Prostrou respeito curvando a cabeça, ampliando as afirmações de Puck sobre este jovem ser uma boa pessoa.

— Olha, parece que você tem modos.

As aparências foram boas e bem receptivas por todos. Todos menos...

— Espera, espera, espera. O que está havendo aqui? Emília quem é esse cara?

Levantando a voz pela primeira vez nessa conversa, Subaru foi alvo de atenção. Testa franzida, e olhos excêntricos. O rapaz não havia gostado nem um pouco da chegada de uma segunda presença masculina.

— Este, Subaru, é...

— Não se preocupe, senhorita Emília. Deixe-me me apresentar ao nosso amigo.

Falando no meio da fala de Emília. Kurosaki decidiu tomar a iniciativa por si só. Foi até Subaru e estendeu a mão.

— Eu me chamo Kurosaki. Prazer em conhece-lo, Subaru.

Com um leve sorriso receptivo no rosto, o homem tentava amigavelmente se apresentar enquanto esperava o toque do menino na sua palma. Mas Subaru não gostou nem um pouco disso. Na sua mente, as palavras “metidinho" e “nojentinho" vieram a tona enquanto olhava para este a sua frente.

Entortando a cara como quem está com nojo, o rapaz pigarreou a garganta, tirando todo o muco que estava preso, então cuspiu na própria mão e o comprimentou com a palma cheia de catarro.

“Haha! Toma essa seu riquinho playboyzinho de uma figa! Regra numero 3 pra espantar e lidar com tipinhos como você: Cuspa catarro na mão!”

Rapidamente ao cumprimentar este rapaz, a face de Subaru se endireitou com um sorriso torto de satisfação, e esperou alguma reação.

Ele iria ficar zangado? Iria ficar com nojo? Qual impressão teria sobre Subaru? O próprio moleque se perguntava isso com uma aura de vitória.

O jovem olhando para as mãos apertadas, disse:

— Hahaha! Essa foi boa heim. Tenho que dizer.

— O que?

Pego de surpresa, o menino não entendia o porquê dele não se zangar. Esperou algo, e recebeu o inverso. Isso não fazia sentido na cabeça de Subaru. Então retirou a mão e dobrou os braços emburrado.

A garota e o gato se entre olharam vendo aquele gesto, e a única coisa que venho na mente dela era... “coisa de homens...”.

— Bom, podemos ir a mansão agora? A minha assistente deve estar preocupada.

— Certo. Mas antes, eu queria saber, Emília... — Kurosaki interroga com um tom mais sério.

— Hum? Pois diga.

— Bom... Eu ouvi de um senhor mais tarde sobre um incidente de roubo por essas ruas. Pela descrição que me deram quando eu perguntei, não eram dúvidas. Eles falavam sobre você. Por acaso você foi roubada, Emília?

Arqueando as sobrancelhas com isso, a jovem não esperava que esse boato se espalhasse tão rápido. Pensou que a fofoca nesta cidade realmente fluía feito um rio e passava de boca em boca. Então meio abobalhada, respondeu:

— Ah, não, não. Foi tudo um mal entendido. Digo, eu fui mesmo roubada mas... O Subaru aqui me deu uma pequena ajuda a convencer a ladra de me devolver a minha insígnia, e agora está tudo bem.

— Lia!!

Gritou Puck para a garota que falou um pouco demais... Quando Emília se tocou que tinha revelado que roubaram a sua insígnia, ela pôs as mãos na boca rapidamente. Isso era um erro... Espalhar que algo tão importante assim havia sido roubado, só iria desvalorizar a responsabilidade que Emília tem com a candidatura a ser governante deste Reino.

— Hum... Entendo. Que bom que se resolveram sem eu precisar intervir.

Entretanto, o homem não pareceu levar isso na pior. Talvez não tenha prestado atenção? Não, isso seria improvável... Era esperto, tinha um ar de isso. E por ser esperto, que ele não fez tanto caso para tal? Era nítido que ele apoiava a Emília agora. Na verdade já ficara nítido quando sua relação com o tal marquês Roswall, que abrigava a Emília em seus domínios, fora revelados.

Puck suspirou fundo, tirando o peso dos pulmões. Emília sorriu bobamente. E quanto a Subaru...

— Escuta aqui ô cara. Ninguém precisa da sua ajuda não.

— Subaru? O que é isso? — Indagou a garota ao ver que o seu recém conhecido amigo, falava de um jeito arrogante para com um aliado. Na verdade, Subaru era mais considerado um aliado do que um “amigo" também.

— Não, Emília. Fala pra ele fala... Que fui EU quem acabou com os três idiotas num beco e não deixou a Felt escapar, hehehe!

— Bom... Isso é...

Procurando o que responder, a jovem tentava se pronunciar. Porém não foi preciso, quando Kurosaki se sobre saiu na frente.

— Caramba, Subaru. Parabéns. Tem potencial para se tornar um grande guerreiro no futuro. Não duvide de isso.

O apoio moral deste que vos falava, fez o garoto revirar os olhos em desprezo. Ele definitivamente não havia gostado deste Kurosaki. Um ciúmes provavelmente. Mesmo que Subaru não seja do tipo que fica com ciúmes de tudo...

Com um “eu não te perguntei nada" em mente, o rapaz se manteve de bico calado. Emília já estava dando partida quando o homem pergunta algo.

— Então vocês se encontraram com a ladra éh? E ela fugiu depois disso?

— Hum? Bom... Ela foi em bora. Mas isso depois de nos reconciliarmos e entrarmos em um consenso.

— Consenso, huh? — Indaga pondo a mão no queixo. — E ela disse que iria para casa, ou algo do gênero?

Quando questionada mais uma vez, Emília não entendia todo esse motivo de preocupação, mas conseguia ler que nos olhos dele, seriam de muito valor tais respostas, mesmo que um dos olhos pareça falso. Talvez de vidro? Uma lente...

— Falou que voltaria e... conversaria com o tal “comprador" sobre a minha insígnia roubada. Por que?

Viu que o rosto sereno dele mudou para um de surpresa misturado com espanto. Algo nas palavras de Emília não o agradaram.

— Não é possível... A Felt está em perigo! Disso eu não tenho dúvidas! Eu irei lá verificar.

— E-espere? Do que está falando? Como assim?

—”O bonzão aí já tá se achando é? Pfff... Do que ele sabe...?” — Pensava o ingênuo garoto enquanto encarava de canto de olho.

O homem respondeu a donzela:

— Soube que uma assassina irá aparecer pelas favelas no período da tarde. Estou seguindo os rastros dela, e por coincidência, acabamos ambos vindo e se alojando em Lugunica. A Felt definitivamente está em risco!

— Minha nossa... Uma assassina? Isso não pode ser possível...

— Mas é. Então peço que por favor, vá até onde sua assistente está a esperando e fique com ela. Eu irei até as favelas e localizarei a Felt.

— Espera aí, oh maluco... Que viagem é essa que tu tá falando? Como assim a Felt está em perigo? Que raios de assassina é essa?

Ouvindo a conversa, Subaru não deixou de interrogar dezenas de coisas. Respondeu-se o homem:

— A Felt, ladra que roubou o brasão pode se deparar com um destino cruel, Subaru. É meu dever impedir isso. Infelizmente eu sou o único que pode, agora. A menos que tenham avistado um homem com cabelos vermelhos e uniforme real pelas redondezas... Vocês viram?

— Não eu não vi. Emília, você viu?

— Também não sei de quem se trata, Subaru. Mas se a Felt pode estar em perigo, então eu quero ajuda-la! — Respondeu a garota com convicção.

— Nem pensar...

— Huh?

— É muito perigoso. Se “Ele" não pode... Só eu posso. Vocês dois, vão até a sua assistente e me esperem na entrada de Lugunica. Eu volto assim que der cabo dela.

Era impossível não perceber a inquietação no semblante deste jovem. Ele estava realmente falando a verdade pelo que parecia. E... Sua aura transmitia uma sensação de...

— Um guarda... Você é um guarda?

Escutando essa pergunta, ele fecha os olhos como quem pensava. Durou menos de um segundo e os abriu. Sorrindo disse ao se despedir:

— Um soldado nômade é o que se adequa mais pra mim. Até mais tarde!

O homem correu se afastando dos demais e se juntando a caótica movimentação das ruas. Emília tentou estender a palma...

— Esp-

— Lia. Deixe-o ir.

Mas Puck interviu assim que deu seu veredito.

— Puck...?

— Percebesse que ele está determinado. Não vamos ignorar seus desejos.

— ...

Quieta, ela avistava o rapaz desaparecer na multidão. A oportunidade de intervir havia sido tomada. Já não havia motivos para continuar com isso. Então...

— Está bem...

Aceitou e respeitou os desejos do jovem, mesmo que não o conhecendo devidamente, Emília confiou em suas palavras. Deveria ser um homem forte e hábil, pensou. Então qualquer tipo de dúvidas começaram a esvanecer como lápis no papel. Um lápis cujo era apagado pela borracha branca da certeza. Da esperança.

Pois se ele era um soldado, o mais óbvio é que saiba lutar, ou defender o próximo. Deixou nas palavras dele, afinal, um conhecido do tal marquês de sua mansão, não deveria ser derrotado facilmente. A não ser que... A oponente seja igualmente ou mais habilidosa quanto. Mas esse tipo de pensamento deva ser ignorado da mente. Emília não queria ser cúmplice indireta da morte de uma pessoa de bem.

— Vamos retornar para a carruagem!

Em um tiro certeiro, ela exclamou aquilo, assim que esvoaçando seus cabelos de forma glamurosa e seduzente, partiu em liderança para fora daquela avenida, indo em direção ao seu objetivo.

Mas algo estava incerto em Subaru. Ele tinha uma impressão estranha sobre aquele homem.

“Ele de repente toma toda a atenção que deveria ser minha. Recebe todos os elogios e boa impressão da garota que eu gosto e seu “pet”. Paga de sabichão e agora quer se achar o herói desta história?...”

Parado, enquanto se sentia afastado da atenção de Emília, o menino se sentia inconformado com esse desfecho. Era redundante o rumo que essa história estava tomando.

Sua mente foi consumida pela idealização de que Kurosaki iria roubar tudo o que ele iria conquistar. Toda a glória... Toda a atenção, créditos, dignidade e reputação. Tudo seria desfeito e tomado por ele. Até mesmo, aquela que imaginou ser o amor de sua vida. O homem de capa iria tirar tudo isso dele, e o deixaria como um mero coadjuvante.

Subaru temia isso. Ser um zé ninguém, figurante de sua própria vida, seria que nem voltar a estaca zero. Até mesmo em um mundo onde existia para ele ser forte e alvo de admiração, iria ser jogado de lado ficando como um mero espectador? Isso não é egoísmo demais? Isso não seria como um castigo, difamando sua imagem ate mesmo nos seus maiores sonhos?

Incrédulo e tomado por todos esses pensamentos negativos, a mente de Subaru Natsuki escureceu... Como uma nevoa densa que o privou da razão. Aquela voz... Guiado pelo sussurro de uma verdadeira bruxa, o garoto sucumbia...

“A culpa é dele... É dele... É dele... É dele...”

Como se agarrado a essa voz, seus olhos se cegaram, e foi dominado.

Isso estava errado... Sentia que era ruim. Mas... Mesmo assim, um sorriso torto surgiu em sua face.

— Vamos ver quem realmente merece ficar com o título de “herói”, Kurosaki...

Neste momento, Subaru Natsuki foi tomado pela inveja. Só havia inveja. Apenas inveja.

Ele o invejava...

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As ruas eram super movimentadas. Pessoas que andavam as pressas. Lojistas querendo comercializar seus produtos. Carruagens que se locomoviam 10 vezes mais rápido. E tudo isso era superado pela anormalidade de Subaru que corria feito um lunático pelos telhados.

— Heh... Hehehehe... Hahahahaha!

Seus olhos estavam sendo direcionados a Kurosaki. Sua atenção, almejando-o. Sua mente, querendo-o. Sua consciência, refletindo sua imagem. Estava obcecado. Caçando aquele jovem como uma fera sem controle. Uma fera que sentia divertimento na sua caça.

Na sua mente, só o que podia ser ouvido, era o desejo forte da inveja que o dominava.

“Só estará satisfeito quando ele desaparecer...”

— Sim... E depois que ele sumir... A Emília será toda minha! Toda minha! Minha, minha, minha, minha, minha!!

Subaru sem nem dizer a garota em questão aonde estava indo, simplesmente deu meia volta e seguiu pela esquina por onde o jovem de cabelo preso havia ido. Sua mente estava repleta de um desejo amargo que dominava sua alma, corroía ele por dentro e o fazia enlouquecer. Foi privado da razão, e só lhe restou a breve loucura.

Esse comportamento não era definitivamente composto por um herói. Mas ali não havia ninguém que pudesse dizer isso. E mesmo que dedos fossem apontados em sua direção, ele ignoraria todos e seguiria em frente, independente das circunstâncias, ocasiões, momentos e causalidades.

Para ele, era como se fosse uma espécie de messias. Era a ordem e o caos. Quem decidiria o futuro daquele que julgasse ser incorreto, movido por apenas um sentimento. Um pecado...

A inveja.

Quando Subaru desapareceu da vista de Emília, a garota assim que percebeu o desaparecimento repentino, olhou em volta e chamou pelo seu nome, mas de nada achou ou foi respondido. Ele já estava ficando inalcançável. E sua mente, pesada com um desejo distante.

— Kuorsakiii!!!

Num salto daquele telhado, ele jogou seu corpo para frente quando avistou dali de cima, um Kurosaki que estava em movimento sobre uma carruagem de transporte. Era provável que o homem, astuto que era, comprou a viagem até certo ponto em comum, para assim chegar mais rápido as favelas. No entanto, um grande empecilho surgia em seu caminho.

— !!!

Como uma bala de canhão recém disparada a queima-roupa, Subaru Natsuki aterrissou em cima daquela carruagem, destruindo-a por completo. O impacto foi tão rápido e poderoso, que junto do estrondo da mesma se partindo em pedaços de tábuas e rodas, os pés do rapaz pareceram atingir o asfalto com força, causando o levantamento de uma enorme nuvem de poeira aos céus.

A visão se tornou obstruída, e Kurosaki antes de conceber o que havia acontecido, teve seu campo de visão girando feito uma esfera, até que bateu com seu corpo no chão e foi rolando sobre o espesso chão de pedras posicionadas.

Um ataque? Não compreendeu o que aconteceu, só soube que o que quer que fosse aquilo, não atingiu seu corpo por pouco. Era pesado... Uma explosão pesada que venho...

— De cima? Ahg...

Recuperando a sensação de espaço rapidamente, ele olha ao redor e só o que sua comprometida visão pela nevoa consegue capitar, era a roda naquela carruagem.

— Mas que diabos... O que foi isso?

Confuso, ele se erguia do chão o mais rápido que podia. Olhou ao redor enquanto gritos de pessoas ecoavam por tudo o que a audição podia se ouvir.

—”Mas que diabos...!? Um ataque éh?”

Retirando seu chicote da cintura, ele olhava para a cortina de fumaça que se esvaía mostrando a silhueta de...

— Então você quer ser o “heroizinho"? Kurosaki...

— Essa voz... Mas que porra é essa!

Incrédulo sobre aquela voz muito familiar, o homem se mostrou impaciente diante da forma que cada vez se tornava mais nítida.

Arregalou os olhos espantado quando viu quem aquela pessoa era...

— Hoy, Kurosaki... Vamos ver qual herói é o mais forte?

— Subaru...? Como... Como tem tanta força?! Por que causou essa destruição?!

Rindo, ele respondeu:

— Fufufu... Ah, isso? Isso é só uma coisinha, sabe? Na verdade... Na verdade... N-na verdade... K-Kurosaki... — Começará a gaguejar feito um delinquente enquanto esmagava seu coração com uma mão. — Eu vim te matar...!!

— !!!

Subitamente, a uma velocidade sobre-humana, como num simples piscar de olhos que o homem deu, viu em frente do seu olhar o pé de Subaru que saltou até ele pronto para lhe oferecer um ataque direto, certeiro e assassino.

Não havia questionamentos, ele matou algumas pessoas com a destruição da carruagem. Suas mãos estavam sujas com sangue de vítimas, e ele estava prestes a matar mais um.

Porém...

— Uh! Ah!!

Por pouco... Ele desviou por um mero resquício desse ataque, quando usou sabiamente suas autoridades da “Gula” que pegava emprestado 30% das habilidade físicas e mágicas de Subaru, junto da “ira" para incrementar o próprio corpo. Porém, isso nem de longe era motivo de orgulho, pois foi acertado por pouco. O chute passou pela face de Kurosaki, e arrancou fora sua orelha direita.

Assim que sem controle nenhum de seu corpo, Subaru Natsuki abriu um rombo na parede da estrutura a qual foi direcionado e adentrou junto dos tijolos o interior da casa.

O barulho exorbitante que se assemelhava a uma explosão foi ouvido aos montes, e na direção desse estrondo, o homem deslizava no chão enquanto pressionava sua orelha ensanguentada.

— Ghhh... Merda! De onde surgiu toda essa força!? Está possuído? Sendo controlado? Ou... É por que essa é uma realidade diferente? O que diabos aconteceu com esse outro eu...!

Sejam lá quais forem as circunstâncias, algo verdadeiramente estava errado. Esse tipo de coisa não deveria ser comum nem de longe. E Kurosaki percebeu isso. Sentiu isso com a perda de sua orelha esquerda, cujo sangue fresco escoria diante de seus dedos e respingavam pelo pescoço, ombro e chão.

Uma força anormal. Uma sensação esquisita... Esse era mesmo o Subaru de sempre? Na verdade... Seria mesmo, algum tipo de “Subaru Natsuki", ou talvez outra coisa? Era de se pensar com esse surto repentino.

As pessoas ao redor se mantinham paradas. As carruagens pararam e os habitantes testemunhavam. Não sabiam do que se tratava. Não poderia permanecer ali.

— Todos vocês! Saíam logo daqui! É muito perigoso! Sou um segurança local, e ordeno que se retiram logo!

Sua voz tremia por todas as direções, a medida que o homem ordenava aos berros para que os habitantes escapassem.

Olhares e feições de pânico foram jogado para todas as direção a medida que o terror se alastrava por todos os cidadãos daquele quarteirão.

O homem levantou sua voz mais uma vez...

— Não estão me ouvindo!? Eu disse que-

Mas os olhares de pânico, entraram ainda mais em pânico, quando aquele braço atravessou o tórax do que falava...

— Você fala demais, amigo...

A voz daquele garoto problemático surgia sobre seus ouvidos, como uma névoa embutida no terror. O braço desse menino estava passando diretamente por dentro do peito de Kurosaki, tomando uma tonalidade totalmente vermelha e escarlate da ponta dos dedos até o cotovelo.

O sangue fresco e avermelhado recobriu como uma tinta aquele braço, que respingava aos montes no solo, formando uma pequena poça adiante do ferido.

Com essa dor aguda que preenchia seu peito em dor e mais dor. A agonia saiu como num fluxo de sangue que subia pela garganta...

— Blaaahgg...!

O gosto metálico era suficiente para saber que sua essência vital estava se esvaindo como um riacho morto.

E mesmo sabendo disso, virou o rosto...

— Por... que...?

Uma resposta seria suficiente para salvar sua vida? Não... Claro que não, isso era óbvio. Mas... Queria uma última confirmação.

Era humilhante perceber que havia perdido desse jeito. Após tantos feitos, nenhum dos que lutou se igualava em força como esse Subaru demonstrava ter. Um grande vexame...

Com o braço esquerdo ainda empalando os pulmões do amigo como se fosse uma lança. Subaru apertou fortemente o seu coração sentindo as fortes batidas cardíacas. Então respondeu:

— Porque ela pediu... Ela mandou eu fazer...

Não conseguia ver seu rosto, mas Kurosaki sentia na voz de Subaru que ele não tinha nenhum pingo de remorso em estar causando isso. A sangue frio, ele atravessou a mão no peito do suposto aliado, ferindo seus órgãos e quebrando seus ossos... Tudo por que foi mandado?

Com intensas dores no torço, e uma grande dificuldade de se respirar, Kurosaki sentia que ali era o seu fim. Não havia o que ser feito. Ele era forte e tinha habilidades notórias. Mas um homem ainda é um homem. Sua carne ainda se torna frágil contra impactos diretos. Até mesmo uma bala, se pego desprevenido, pode lhe causar a morte.

Juntou suas últimas forças de vontade, parra coletar uma última informação...

— Quem... Te pediu isso...?

Então, sentindo ainda mais aquele braço sendo estocado como uma facada pra dentro da carne, o homem derrama litros de sangue no chão que saía de sua boca e tórax.

Presenciado essa cena de violência extrema, os cidadãos começaram a gritar e se moverem desesperadamente para seus entes queridos, em puro caos e terror. Aquela rua se tornou uma maré de sangue, e só poderia ser reconhecida como “a rua da tortura”, pois era o que parecia.

Diante do olhar impiedoso do assassino. Kurosaki só podia agonizar em dor enquanto esperava sua vez...

Mesmo que lutasse com tudo o que tinha, percebeu que jamais poderia vencer. Subaru era mais rápido que a Elsa. Mais bruto que o “Terceiro General Divino” no Posto do “Imperio Volachia” cujo era reconhecido por seu tremendo poder esmagador.

Talvez apenas duas pessoas no mundo poderiam dar conta desse Subaru. O “Primeiro General Divino” e o “Santo da Espada" cujo o poder é incomparável e absoluto. Deixou nas mãos deles para caso Subaru se tornasse uma ameaça.

Com a resposta saindo dos lábios do assassino, o homem sente sua cabeça ser tocada pelas mãos do mesmo. Uma em cada canto, com sua ainda atravessada mão no peito.

Então...

— Foi Satella quem pediu, Kurosaki...

Sorrindo ele expôs essa revelação chocante. Os olhos do homem se arregalaram com o espanto de saber que foi a Bruxa em pessoa por ter induzido ele a isso. Mas como? E por que? E dês de quando ela é capaz de conceder tamanha força descomunal? Isso estava estranho demais. Mas não parecia ser mentira.

Rindo com a verdade exposta, o garoto solta um grande suspiro em sua face que se deleitava em puro prazer ao ver o seu inimigo sofrendo com a dor da morte, causada por suas próprias e nuas mãos.

— Até nunca mais... Kurosaki-Kunn...!

Apertando as mãos entre o crânio do homem, Subaru exerceu força. Kurosaki sentiu como se seu cérebro fosse explodir de tanta dor e pressão sendo emitida. Seu crânio fez vários “cracks" e “cracks”, a medida que parecia se rachar...

— Ghhhhhh!!!!!

Foi o último som que ele emitiu de suas cordas vocais, antes de seus miolos serem prensados pelas mãos do Natsuki e vazarem pra fora.

Kurosaki foi mandado direto para a escuridão, e em sua mente antes de morrer, se sentiu traído por si mesmo. Traído por quem mais confiava e amava... Traído por aquele que conviveu por toda a sua vida, ou, longos 17 anos...

Um fim trágico ao breve herói...

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— E é por isso que eu matei ele. Hehe...

Naquela rua, se via pessoas que de tanto se acumular, fizeram um círculo. Todos olhavam com espanto para o que estava no centro do círculo...

A atmosfera pesada, parecia querer engolir a alma de todos que se mantinham presentes naquele local em particular. Não era um espetáculo, estava mais como um circo dos horrores...

No centro deste círculo, se via duas pessoas e um gato flutuante. Uma delas, a menina, olhava em choque para aquele que estava lavado de sangue. Algo saiu da boca dele naquele momento, mas Emília e nem as pessoas de fora pareceram entender.

— O-o que...? Subaru... De onde é todo esse sangue...?

Com uma feição de assombro em seu rosto pálido, a garota questionou pela décima vez. Era impossível conceber uma coisa dessas. Do que diabos ele estava falando?

E, com seus olhos vazios como se o corpo estivesse sem alma. Subaru disse sem indiferença no olhar ou compostura na voz.

— Eu disse que matei o Kurosaki. Se é que era realmente o nome dele. Eu atravessei seu peito, com essas mãos... Por você, Emília-Tan!

— Você... Matou... Ele... Por... mim...?

Horrorizada, seus belos olhos se tornaram turvos pelas lágrimas que se acumulavam. Isso era cruel. Cruel demais. Que tipo de mundo era esse? É esse o país que ela quer governar? Caiu de joelhos no chão.

— Não... Isso não... Como você... Como você pode dizer uma coisas dessas?

Perplexa, seu olhar foi em direção a Subaru, que ainda se mantinha irrelevante sobre tudo isso.

— Mas é verdade. Matei e pronto. Rápido e fácil. Agora ele não irá mais nos atrapalhar, Emília-Tan!

Parece que expressar o nome dela fazia a pouca feição do rapaz transparecer algum tipo de humanidade.

Mas o que diabos era isso? Esse era o mesmo Subaru de antes? De minutos atrás? Era impossível ser. Não importa o quanto Emília olhasse, ela não conseguia achar traços do Subaru alegre e abobalhado que conheceu no beco.

Estava olhando diretamente para um monstro. Seus olhos estavam vazios e escuros, e Subaru parecia inexpressivo sobre a morte de uma pessoa de bem. Ele definitivamente foi tomado por algum tipo de “parasita" ou algum espírito maligno...

— Não dê ouvidos a Ele, Lia! Parece que nos enganamos sobre você, Subaru Natsuki. Você não passava de um farsante! Um lunático em busca de se aproximar de minha filha!

O gato cinza falava com ódio e rancor nos olhos. Seu dever era proteger a quem chamava de “filha". E se Subaru for uma ameaça, ele definitivamente teria que acabar com a ameaça aqui mesmo.

Mas Emília, ela...

— Não pode ser... Não pode ser... Não pode ser... Não pode ser... Não pode ser... Não pode ser...

Agarrada a seus braços de forma apreensiva, ela estremecia o corpo enquanto sua mente mostrava a imagem daquele homem de manto.

— Ele falou que ia voltar... Disse que resolveria e que não precisava da minha ajuda... Então por quê? Por que ele teve de morrer assim?!

— Lia...

Ao desespero de Emília, Puck a olhou com ressentimento. Ela não conhecia aquele homem. Mas saber que a morte dele foi indiretamente por culpa dela, a deixou muito abalada. Jamais aceitaria a morte de uma pessoa boa, ainda mais conhecida de Roswall. Por isso, entrava em temor.

O seu peito apertava como um veneno. A culpa entalava na garganta como um bloqueio para a sanidade. E tudo o que ela conseguia fazer, era admirar aquele chão perplexa com as notícias.

Em falar em sanidade... Subaru aparentava não ter mais nenhuma. Havia se tornado o contrário de herói. Um marginal psicopata sem coração e empatia alguma pelo próximo.

Ele, ainda com os olhos fixos em Emília, torceu o lábio fazendo um estalo, e então, abriu o zíper da jaqueta até a metade. Dali ele pôs sua mão...

— Se não acredita olhe aqui.

Pegou algo estranho, e jogou para frente. Quente e vermelho... Aquilo pulsou no chão várias vezes enquanto ia rolando até os joelhos de Emília.

Arregalou os olhos quando aquele órgão apareceu diante de seu marejado campo de visão.

E não só ela, como todos os cidadãos também se espantaram ao ver o que o rapaz ensanguentado tirou da jaqueta.

Um coração...

— Isso é...

— É dele. Eu arranquei pra te mostrar. O coração de um bravo herói. Não é tão surpreendente quanto se imagina, não é mesmo? Ele fez “tbum-babum” na minha mão enquanto arrancava ele, hahahahaha. Não é engraçado?

“Engraçado”? O que era pra ser engraçado aqui? Nada tinha graça. Nada era engraçado. A pior das piadas. Era horrendo... Tão horrível que Emília preferiu gritar ao invés de “rir"...

— NÃÃAAAAAOOOO!!!

Em choque, pasma, ela sentiu que sua pressão caía enquanto gritava em puro pânico. Não era exagerado... Era angustiante.

Rapidamente, vendo aquele pedaço de carne no chão, Puck jogou sua magia de gelo nele, e o fez congelar.

— Miserável! Como ousa fazer isso com minha filha!?

Nessas palavras, estava claro que sua maior preocupação era a jovem Emília, que arregalava os olhos desesperada enquanto entrelaçava seus dedos nos fios de cabelos.

Em resposta a isso, aquele garoto estranho respondeu com uma expressão nula.

— Que foi? Se ela queria tanto o coração dele... O amor dele...! — E logo, se enfureceu. — Então porque ela não engole ele logo de uma vez!!?

O que aconteceu com o menino de antes? O que parecia alegre e atrapalhado? Seria tudo um sonho? Uma mera falsidade? O que todos ali deveriam pensar sobre?

Era como se aquele Subaru de antes, estivesse morto...

— Seu humano petulante... Eu não planejo ser gentil com você. Saía desta cidade...-

— Não irei sair. Eu quero a Emília.

— De um único passo... E eu te congelo aí mesmo onde está!

Sua fúria era real. A comoção naquela via era densa. E Subaru... Ele...

— E você acha que pode contra mim!? O maior herói que esse mundo já teve!? Hahahaha! Está enganado! Redondamente enganado! Francamente errôneo! Seu... Tolo!

Se ele era o convocado, a lógica seria que fosse insuperável...

— Você não passa de um inseto perante a mim. Saiba se colocar em seu lugar. Isso não é uma atitude digna de um “herói”. O tolo aqui é você...!

— Eu sou o escolhido... Portanto, posso ser o que eu quiser. Fazer o que EU quiser. Falar o que EU quiser. E quando EU quiser! Sendo assim, eu posso até mesmo ser um...!!

A lógica seria que ele fosse insuperável, podendo se tornar até mesmo um vilão manchado...

— Um malfeitor! — Gritou Puck que usou da mana para formar dezenas de estacas de gelos variadas em tamanho, que iam do tamanho de uma palma a o de uma cabeça, se formarem ao seu arredor.

Os cidadãos vendo que isso começou a virar uma enorme confusão, (como se já não estivesse ruim o suficiente), começaram a se afastar aos poucos. A maioria se retirava, deixando os mais curiosos para trás.

— Um “Rei Demônio”!! — Gritou estendendo os braços para os céus ao começar a rir que nem um lunático. — Ahahahahahahahahaha!!

Subaru Natsuki sentia toda a sua emoção e empolgação vazarem de seu corpo. Uma fantasia surreal estava tomando conta de sua mente. Pra ele, era como um jogo... Uma peça de teatro, onde o mundo era o seu palco para realizar as mais diversas cenas em questão.

Tendo a visão daquele jovem que se babava ao dar intensas gargalhadas aos céus. Puck o olhou com desprezo. Não passava de um maníaco.

— Pobre alma conturbada... Serei generoso e farei o favor de me livrar de você, para que não sofra com essa ilusão idiota.

— Você não entende! Tudo isso... Tudo isso...!! Todo esse poder! Toda essa possibilidade! Eu posso fazer tudo!! Ser qualquer um!! O velho Natsuki não existe mais! Eu... Aqui mesmo, irei recomeçar do zero!! Haha!!

Sua voz arranhada ecoava pelos ouvidos de todos que contorciam a face em escutar. Palavras de um louco. Eram todas palavras sem sentido e embasamento. Subaru deixou o poder subir a cabeça...

— Calado! Suas falácias me dão nojo!

Cansado, Puck moveu a palma para frente, como quem desliza o ar. Foi como uma ordem, e seus espetos de gelo seguiram conforme o ordenado. Voaram em direção a Natsuki Subaru a uma velocidade que pareciam arranhar o ar.

Era parecido com mísseis que ao invés de explodirem no alvo, se estilhaçavam e cravaram no chão.

No ar, podia se ver o menino que acabara de saltar. Desviou dos projéteis pulando até uma distância de 15 metros.

— Então o pet dela resolve mesmo me atacar, huh?

A uma distância de cima o garoto que iria cair pela gravidade se sentia livre e leve como um pássaro. O ar batia em sua pele, e a voz em sua cabeça dizia que ele podia fazer tudo. Iria deixar aquele pobre coitado e recluso Subaru Natsuki do mundo moderno e seria o maioral em um mundo de fantasias.

— Eu te avisei. Agora sofra as consequências por fazer a Lia chorar! — Disse convocando centenas de projéteis de gelo ao seu redor.

Subaru riu:

— Hahahahaha! Isso mesmo! Vamos ver quem vence! Que essa seja a última batalha! O herói escolhido irá derrotar a besta peluda e salvar a donzela só para si!! — Falava ao cair em cima de um telhado.

— Não me leve a mal mas... Isso me parece sequestro!

Lançando suas centenas de projéteis na direção daquele garoto, as laminas voaram e colidiram todas contra as telhas e estruturas. Subaru pulou para a casa ao lado, e junto desse salto evasivo, o gato disparava mais e mais.

O povo assistindo, se sentiam ameaçados pela demonstração de poder, e junto dos destroços de telhas e paredes que caíam sobre suas cabeças, tomaram a opção de evacuar e saírem todos dali.

Subaru que pulava de telhado a telhado de forma ágil e anormal, ria enquanto apertava o peito.

— Uuoooh hoho!! Você é realmente um gato beeem mágico não é mesmo!? Eu tô realmente adorando esse mundo!!

— Calado seu maníaco! Espero que adore a cela de uma prisão também...!

— E quem vai me prender!? — Pousa na casa acima de Puck e Emília. — Ninguém tem o poder que eu possuo! Nem você! Nem Kurosaki! E nem ninguém!!

Saltou babando pra cima do gato que juntava as patas preparando o que parecia ser uma enorme magia.

— Achou mesmo que eu estava atirando aleatoriamente? Eu só estava te atraindo pra cá. E agora que está bem diante dos meus olhos... Não pode escapar!

O brilho em suas patas se intensificou em uma luz maior, e logo... Mirou em Subaru que caía, uma massiva estaca de gelo que iria colidir com o rapaz e o transformar em carne moída.

— ...

— Até nunca mais...!

Aquilo foi voando em direção ao jovem, que em pleno ar não teria por onde desviar. Seria impossível até mesmo para ele. Sem o apoio de quaisquer estrutura para usar como apoio, ele teria que levar o ataque em cheio...

Mas... Um apoio achou... E estava vindo em sua direção.

Quando aquela lança massiva de gelo chegou perto suficiente de Subaru, a uma velocidade que cortava o ar. O rapaz a uma velocidade e reação maior ainda, conseguiu por suas mãos sobre a ponta do ataque e saltar seu corpo por cima antes que aquilo o esmigalhasse em pedacinhos.

Foi rápido, ágil, efetivo... Foi pura adrenalina. Adrenalina essa que fazia seu coração pulsar centenas de vezes por minuto. Subaru estava se divertindo como nunca antes em sua vida...

— Haha! O que disse, gatinho?

Com uma voadora ele chegou com tudo. Sentiu a sola do seu pé adentrar o asfalto da rua e ir deslizando conforme fazia um trajeto no chão arrebentando todo o entalhamento de pedras.

Ele errou o ataque...

— Falei para não me subestimar, humano!

A voz surgiu atrás de Subaru que assim que parou seu pé, se virou para então perceber os demais projetos e estacas gigantes de gelo virem o perfurar.

— Isso tá intenso demais! Não quero que acabe nunca!

Sem tempo para ficar desviando, o menino começou a socar e chutar cada agulha que viriam a o atingir. Era surpreendente que com apenas as mãos nuas e sem nenhum equipamento, ele se sobressaía sobre essa chuva de facas.

Mas, não era de todo efetivo. Partes de seu torço, pernas e braços sofreram alguns cortes que rasgaram sua roupa. No entanto, essa sensação de ardência que seus ferimentos emitiam, o deixava mais e mais pilhado na batalha.

— Você é durão. Mas isso era apenas uma distração!

Revelando o seu verdadeiro ataque, Subaru viu o céu ser recoberto por uma sombra colossal. E assim que parou de estilhaçar os projéteis menores, percebeu o maior vindo em sua direção.

Era imenso, do tamanho que tampava uma rua inteira. Deveria ter uns 30 metros de comprimento. Um ataque destrutor capaz de destruir moradias inteiras numa única tacada.

— Haaaa!! Você é incrível, Puck!! Essa luta é digna de um verdadeiro mundo de fantasias!!

Entrando em extremo êxtase, Subaru Natsuki foi alvejado em cheio por aquele ataque mortal. Seu corpo afundou no chão e foi levado pela rua conforme era soterrado pela gigantesca lança congelante.

Não haviam pessoas nas ruas, então ninguém seria atingido. Estava tudo vazio. Mas não era como se Subaru parasse para prestar atenção em algo assim, quando estava sendo esmagado por uma estaca imensa pra dentro do chão.

Aquele quarteirão estava um caos. Puck tinha o poder para destruir toda essa cidade se bem quisesse. E Subaru... Ele estava segurando todos os ataques sem nenhum tipo de proteção ou arma a parte.

O caos perpetuou destruindo completamente o chão, até que se chocou com um prédio e foi adentrando e arruinando toda a vista que tinha pelo caminho.

Com essa inegável batalha caótica, Emília ergueu a cabeça. Vendo Puck flutuando naquele céu, a fez se levantar e chamar por ele.

— Puck! Puck!

Ouvindo o seu chamado, o gato cinza dirigiu sua atenção a garota.

— Lia! Saia daqui! É muito perigoso!

— Mas Puck! Está destruindo a cidade! E ainda por cima... Está atacando o Subaru! Você nem ao menos tentou questiona-lo sobre isso!?

O fato de ver ela se preocupando com um lunático feito Subaru, fez o gato amolecer o olhar severo. Ele pensava que Emília era muito boa para um mundo assim. Ela era pura demais... Tinha que proteger essa garota a todo o custo.

Flutuou até ela...

— Emília... Minha preciosa filha...

— Puck... Vamos acabar logo com isso... Olhe ao redor. Está tudo um caos...

A forma que Emília olhava para o espírito felino. Era um olhar triste que ele simplesmente não conseguia ignorar. Nunca conseguiu.

— Lia... Mas ele é um mal feitor. Tem certeza?

— Por favor, Puck! Ele só está confuso... Tenho certeza que se ele me escutar, vai parar com isso.

Era incrível como Emília era tão amável. Puck sorriu pensando na sorte de ter uma filha tão doce e perfeita quanto essa.

— Para uma carinha assim... É impossível eu dizer n-

— Se distraiu... A cabeça caiu!

Junto dessa voz, que era claramente a de Subaru. O gato arregalou os olhos quando sentiu sua visão desequilibrar e decair de seu próprio corpo.

Como num piscar de olhos, Subaru partiu a cabeça de Puck com sua mão, usando-a como uma lâmina mortal e poderosa. O corpo então foi separado e caiu para o outro lado...

— P-Puck!!

Emília processando isso, de automático, gritou o nome daquele que considerava seu pai.

Ainda compreendendo, ela arregalou os olhos, pasma com a cena da cabeça do gato se separando da base. E como era um espírito, não havia sangue...

Porém, as partículas luminosas que saía do corte indicava que estava morrendo.

— Puck!! Não!!

Se ajoelhando, ela pega a cabeça do animal...

— Por favor! Fale comigo! Não suma!

Falou isso pois o felino começou a ficar transparente. Era como se sua vitalidade começara a desaparecer, sendo assim... O seu corpo e sua vida.

— Lia... Eu...

— Não, Puck... Não... Por favor... Não me deixe... — A aflição que ela sentia agora, fazia entrar em desespero. Sentiu sua face se molhar com as lágrimas que escorriam e pingavam no que restou do gato.

— Lia...

— Não... Por favor, Puck... Papai! Não morra! Eu... Eu vou te curar! — Tentou com sua magia de cura. Mas até mesmo ela sabia que era fútil. Seu nível com esse tipo de mágica não era alto o suficiente para tal ferimento.

O gato estava morrendo... Seus olhos semi-abertos indicavam isso. E, com a transparecia maior da que a de um vidro, ele desapareceu no ar, deixando as palavras:

— Eu te amo... Emília...

— ....

Boquiaberta... Ela tentava conceber o choque que acabara de acontecer. Seu pai, aquele que esteve com ela por anos, acabou por virar partículas no ar...

Ele... Ele realmente havia morrido?

Emília estava arrasada... Sua mente não estava acompanhando tanto sofrimento de uma só vez. Ela travou...

— Foi um final lindo, diga-se se passagem. Hahaha!

Quem disse isso e em um tom debochado, foi o jovem que estava em sua frente. Mas tudo o que via em seu campo de visão, eram os sapatos rasgados dele.

— .....

— Foi realmente um espetáculo, heim. Haha! Eu tô com tudo muleque! Pode vim até Deus pra cima de mim que eu “tanco” no braço!!

— ......

Na mente de Emília, se passavam perguntas. “Quem é ele?”, “por que está falando tudo isso?”, “por quê, Puck teve de morrer assim?”, “de quem é a culpa?”.

Atordoada, ela se mantinha em sua cabeça, ignorando o mundo exterior. Sua vontade se esvaiu, e ela não transparecia estar consciente dos arredores.

— Hey, Emília-Tan? Tá me ouvindo? Eu estou aqui em sua frente! E-M-I-L-H-A TAN!! Alôo!!?

O silêncio dela era estranho para ele. Mas não importava. Pois mesmo que aquele gato fosse incrível. Para Subaru... Que achava que poderia fazer de tudo. Substituir esse “pet" seria a tarefa mais fácil do mundo.

— Emília...? — Ele chega mais perto dela. — Eu sei que gostava daquele gatinho. Mas olhe para o lado bom. Você tem eu! Haha!

Escutando isso, fez ela reagir em resposta. Ajoelhada, olhou pra cima, indo de encontro com a face do rapaz.

— Lado... bom...? — Perguntou com um rosto atônito.

— Sim!! Euzinho! Hehe... — Se gabava coçando o nariz de forma despreocupada e animada.

Não era certo...

— Eu vejo... Sim... Você foi... O que restou... Não é mesmo?

— Emília?

Sentiu o ar congelar de repente...

— Ei... Me responde, Subaru... Por que fez isso?

— Hehe... O que foi, Emília-Tan? Você tá estranha, sabe?

Pressionado sobe o olhar penetrante da donzela. Emília marcava aquele Subaru em sua mente conforme uma friagem emanava de seu corpo.

Foi súbito. O vento frio se transformou em uma nevasca de uma hora pra outra. E tudo foi engolido por gelo e neve. Ele foi recebido por uma enorme ventania na cara...

— Ei... Subaru... Você mentiu pra mim sobre tudo aquilo, não é mesmo? O lance de “formar um grupo...”.

— O-o que? Aahhgg...

Como se a neve não fosse o bastante, Subaru também sentiu seu coração ser esmagado com força. Algo nas palavras de Emília o fizeram lembrar do que tinha dito, e como se proibido de pensar demais, a dor venho como uma mão invisível que só exercia uma única função. Esmagar seu coração e faze-lo sofrer...

— Me responde, vai... O que foi que eu te fiz... Heim, Subaru...?

— Gah... Emília, eu... Aahhhggg...

Apertando o peito com ambas as mãos, o menino cai de joelhos na neve que se formou sobre seus pés. Emília se levantou posteriormente e o encarou com seu olhar penetrante de cima, enquanto via ele agonizar em dor.

Subaru parecia um rato. Um rato que se afogava em seu próprio desespero.

Seu próprio carma...

Congelado de cima a baixo, ele resistia aquela dor intensa da forma que podia. Mas parecia não parar de jeito nenhum. Era inútil tal resistência fútil.

— Ahhhggg...

— Vai, me responde, Subaru... Por que o Puck teve que morrer? Por que você matou ele?

— Ggghhhh...!!

Não conseguia responder nenhuma de suas perguntas. Não conseguia pensar direito. Sua mente, sua alma seu coração estavam em desequilíbrio.

Seu corpo entrava em colapso conforme a temperatura decaia dezenas ao zero negativo. Seu espírito se via confuso... Perdido em um moinho de escuridão.

O que fazer? O que poderia ser feito?

Estava um caos, Natsuki Subaru estava um caos total. A falta de empatia por ter matado... O seu orgulho por achar que era algum tipo de esperança. E o controle mental que sofria da voz do outro lado... Tudo isso estava deixando ele em pedaços.

Seus cacos começariam a partir. Rachar tanto que nem mesmo ele seria capaz de se reconhecer.

“Por que... Por que Emília me olha assim? Por que não posso simplesmente viver feliz? Eu... Eu sou realmente eu? Quem eu tive que matar para conseguir isso?”

Estava confuso. Se perdia em seu próprio interior. Não conseguia conceber que esse olhar compulsivo de reprovação estava sendo diretamente jogado a ele. Um herói não deveria ser visto assim...

“Eu sou um herói? Não é pra isso que vim até esse mundo? Não sei...”

Queria continuar acreditando que era. Mas se vasculhasse nas memórias desse mesmo dia, veria que estava cada vez mais se desviando do caminho em que deveria...

“E pelo quê? Pelo que ou por quê, eu fiz isso? Não sei... Não sei... Não sei... Não sei... Não sei...”

Estava se sentindo culpado por ter matado aqueles dois? Não sabia...

Estava feliz por ter esses poderes? Mas não foram eles que os deixou assim? Não sabia...

“Será que eu sempre fui mau? Afinal o que é o bem e o mau? Eu estou fazendo certo? Isso não me parece nada certo, nada certo...”

Enquanto entrava em sua crise existencial e emocional, ele era punido com o aperto da bruxa e a atenção fria da donzela. Estava entre duas entidades e não sabia qual era mais cruel.

A rua... Não. O quarteirão virou um imenso picolé de puro gelo, frio e neve... Uma era glacial estava tomando conta da parte Oeste da grande capital de Lugunica como uma praga.

Quem poderia parar isso? Pessoas eram congeladas vivas e estruturas se transformavam em enormes congeladores impossíveis de sustentar vida.

— .....

Mas nada era tão doloroso e amargo, quanto o olhar da jovem para com o rapaz estirado no chão.

Ele levantou o rosto e estendeu seu braço congelado até ela...

— E...milia...

Até mesmo falar era difícil. Respirar matava seus pulmões a cada arfada. E ver ela assim corroía sua alma...

Ela parecia inalcançável. E ele não conseguia pensar conscientemente a respeito de isso tudo. Só o que queria era alcança-la. Toca-la. Se fizesse isso, sentia que tudo poderia ficar bem.

— Ggghhh....

Retirando os joelhos do gelo, Subaru tentava se levantar. Não sentia suas pernas... A circulação sanguínea estava fraca e não aquecia seu corpo. A face era dormente e seus dedos tão gélidos que o tato era esquecido.

Mesmo assim queria sentir ela. Tocar em seus ombros, em sua face e dizer que estaria tudo bem.

Mas ele não estava se convencendo demais? Na verdade, é provável que era ele o que procurava ser confortado aqui.

— E... milia...

Com suas juntas rígidas, parecia que iria se partir caso exercesse algum movimento. No entanto, não queria saber de isso. A dor do peito parecia ficar cada vez mais fraca, parecia transparente. Estava sumindo. O que lhe deu foco para pensar somente em um único objetivo.

Os olhos de Emília se encontravam com os dele. Um transmitia insegurança e o outro confusão. E nenhum dos dois podiam ler os reais sentimentos de cada um. Nem mesmo Subaru e Emília conheciam os próprios. Tudo era por puro impulso emocional.

Ele erguendo seu corpo, de alguma forma, parecia que conseguiu firmar seus pés. E com sua face pálida, ele estendeu seu braço-gelo até ela.

— Emília... Tudo vai... Tudo vai ficar bem...

Subaru não tendo certeza de nada e nem dele mesmo, se pôs a por uma única coisa na mente... essa garota. Não importa o que fez, e nem como fez. Só o que queria era acalma-la. É valido ressaltar que o pensamento de fugir com a mesma, passou por sua cabeça.

“Eu tô tão confuso... Mas que se dane isso. Que se dane tudo... Ela está livre da intervenção daqueles dois. E agora... Agora só tem a mim. Ficar ao lado dela, é só o que eu quero neste momento!”

Estava claro suas intenções. Para ele, era justificável dizer que eliminou Puck e Kurosaki, causou um alarde na cidade, e fez Emília se perder em emoções que nem mesmo ela conhecia, só por que queria ter a sua atenção.

E de certa forma, ele estava tendo...

Seus dedos quase tocavam a face da garota. Estava quase lá e só precisava impor um pouco mais de força. Porém, seus braços não estavam tão flexíveis como de costume, e seus pés não correspondiam direito. Era como um corpo fantasma.

Mas...

— Emília...!

— El fula!!

No meio de tanta agonia glacial, um grito foi ouvido. Não só ouvido como sentido. Subaru não sentia cem por cento do seu braço, mas agora... Agora ele realmente não sentia seu braço.

Pois não havia mais braço para ser sentido...

— Gah! Mas o que?!

Um corte invisível passou despercebido, arrancando ele na altura do cotovelo. Dividiu em dois, e a parte desprendida caiu junto do pouco sangue que ainda não fora totalmente congelado.

— Senhorita, Emília!

Com forças para se virar, Subaru virou a cara para o lado, seguindo a voz que surgia do além. Foi então que viu a pessoa que arrancou fora seu braço.

— Uma... Empregada...?

Ignorando toda a ventania e o impiedoso inverno que se alastrava por toda a cidade. A jovem de cabelos rosas que vestia um vestido de empregada, apareceu diante de Subaru.

— Senhorita Emília...! Peço que se recomponha! Ei, está me ouvindo!

Ignorada pela “rainha do gelo”, a empregada caminhou contra a brisa congelante que fazia sua pele gritar, e tentou a trazer de volta para o mundo.

Chegou perto o suficiente para acaricia-la.

— Eu vi tudo, senhorita Emília. Eu sinto muito... Não consegui agir a tempo.

Semi-cociente da realidade a sua volta, Emília virou a atenção para a jovem que lhe tocava com preocupação em seu olhar.

— Ram...

— Senhorita Emília, olhe em volta, olhe tudo o que está causando. Isso realmente é a atitude e modos de alguém que quer governar este reino?

E como se tentando compreender os arredores, ela girou sua visão. Tudo estava tomado pelo frio incessante que retirava o calor, deixando somente um deserto azul e sem vida.

A culpa bateu mais forte...

— O que eu... estou fazendo...?

Era justificável que pessoas e suas moradias, seu meio de vida pagassem caro pela perda de seu ente querido? Emília pensou nisso. E teve a conclusão de que não era justo. Ela não iria repetir o mesmo erro pela segunda vez... Não que nem aquela floresta.

O clima começou a amenizar...

— Ram...

— Eu sei, senhorita Emília... Eu sei...

Ram a segurou, ajudando a donzela de pele pálida a se recompor.

Mas...

— Você... Você...!!! Sua vadiazinha! O que pensa que esta fazendo com aminha Emi-

Sangue respingando ao chão, o olhar arregalado e principalmente a dor de ter a garganta rasgada, foi o que fez aquele Subaru se calar.

— Ghhhh...!!!

Caindo no chão, ele apertava seu pescoço com sua única mão. Porém, o sangue que escorria parecia não ter para onde ir se não pela abertura formada.

Rolou, se contorceu e agonizou. O sangue fresco que escorria entre os dedos de Subaru Natsuki formava um tapete pegajoso que lentamente ia se expandido, tingindo a neve em vermelho carmesim.

O ataque venho daquela de cabelo rosa que apontava uma varinha pontuda em sua direção.

— Sua... S-sua...

Mesmo com seu gogó partido ao meio, tentava se pronunciar com raiva. E não era como se isso fosse apelar para a sua salvação. A feição em seu rosto, que era de dor e ira, deixou aquela empregada com repulsa.

— Senhorita Emília... Eu resolvo isso. Você não tem que ver... Volte para a carruagem.

— Está bem... — Respondeu ela obedientemente com seu coração partido e alma desorientada.

Emília não queria mais ficar aqui, e desejou que fosse tudo um sonho ruim. Ao menos pra ela era um sonho ruim...

Se afastou dali abalada com toda essa tragédia. Seu psicológico frágil não aguentava tudo isso. Então só o que fez foi cambalear até o fim da rua, para o mais longe possível.

Sem dúvidas era o pior dia de sua vida.

Subaru vendo isso do chão, não queria que ela fosse em bora. Não queria se separar dela. Não depois de todo esse desfecho. Então estendeu sua mão ensanguentada até ela. Como se tentando alcança-la.

Como se pedindo por ajuda...

— E... milia...

— Fula!

Mais uma vez o cântico soou, e seguido desse som, o seu braço foi partido fora como se estivesse no caminho de uma serra descontrolada.

— Hã...?

O choque de ter seu membro superior dividido assim como o anterior fez ele entrar em choque.

— Aaahhhh!! O que você fez?!! Meu braço... Meu braço!! — Gritava rolando para um lado e pro outro.

— Calado!

Recebendo a pesada sola do sapato da empregada no meio da fuça. Subaru teve seu nariz quebrado. Sentiu o “crack” junto do som macio de sangue que esguichou pelas narinas.

— Ghhh...!!!

— Não me olhe assim, sua praga imunda... Me diga... Quem te mandou?!

O impiedoso e confuso garoto estava olhando de baixo, o desdenhoso olhar de repulsa daquela mulher. Foi ela quem arrancou seus braços e separou ele de Emília.

— Você... É uma pedra no meu caminho... Sua troglodita ma-

— Me responda devidamente!

Pisando mais forte, ela carimbou pela segunda vez a sua sola na testa dele, que grunhiu em dor ao ser afundado cada vez mais baixo na neve.

— ....

— Você tem ideia do que fez? Sabe o que você causou aqui?

Não respondeu, usou a boca para conseguir oxigênio e dispersa a fadiga. A sua garganta já não sangrava mais, o sangue coagulou e estancou no ferimento. Mas isso era longe de estar bem.

Nada aqui indicava estar bem...

— Sobre as ordens do Marquês Roswall... É minha responsabilidade cuidar da senhorita Emília. Sendo assim, para aquele que cometeu assassinatos e atentou contra a mesma... Terei que aplicar a pena de morte...!

Uma empregada que trabalhava para esse tal marquês, e que era encarregada de proteger a donzela albina. Seu nome parecia ser Ram, e ela parece ser importante, assim como tal “dono da mansão” que Subaru escutou antes.

Mas nada disso importava agora...

“Não... Eu não vou morrer aqui... Não assim... Não neste lugar... Não agora! Não, não, não, não, não, não!!”

— Preparasse para morrer.

— Não!!

Aquele odioso pé sobre sua cara começou a ser empurrado com sua própria testa. Subaru estava tentando se erguer do chão com o apoio de suas pernas e torço. Coisa que seria impossível para alguém normal. Mas ele... Ele já deixou de ser normal no exato momento em que chegou neste mundo.

— Ghhhhh!!!

— Hah! Tolo, isso é inútil...! — Falou pressionando o pé cada vez mais forte na cara dele.

— Cala a boca!

Em um ato impulsivo e desesperado, o rapaz jogou o pé da Ram para o lado ficando entre as pernas dela. Uma posição exposta demais ao seu ver.

Estava de guarda aberta, então aproveitou esse milésimo de segundo, para saciar sua vontade de arrebate-la.

Sorrindo, ele partiu mirando os dentes no pescoço da jovem a fim de mata-la a mordidas.

— Guaahhh!!

Gritando isso, ele se ergueu cravando suas mandíbulas na carne da garota com tanta força, que sua arcada dentária entrou pra dentro jogando sangue para os lados.

— Aaahg!! Maldito!

Como uma fera, ele apertava cada vez mais sua boca raivosa na garganta de Ram, sentindo o húmido e quente fluído sanguíneo cair dentre seus dentes e se acumular na boca.

— Não... vai...

O corpo de Subaru levava a Ram para baixo pois era pesado, e isso facilitava que seus dentes viessem a rasgar sua pele com mais facilidade. Porém, ela não iria se dar por vencido facilmente.

Com sua varinha em mão, ela estocou aquilo no buxo do rapaz e recitou:

— Fula!!

Acarretando numa enorme pressão de ar perfurando o estomago de Subaru e destruindo suas costas ao sair pelo outro lado.

Explodindo em sangue, ele revira os olhos com essa dor exorbitante. Cair agora iria lhe dar a derrota, porém, a morte seria breve...

Entretanto, isso significava que esse esforço desesperado seria em vão. E não era isso que almejava.

Juntando mais forças, ele começou a mastigar o ferimento do pescoço enquanto riachos de sangue respingavam em sua face.

Ram cai de joelhos junto deste que não a soltava. A dor era tamanho que ela tinha contrações involuntárias pelas diversas mordidas que rasgavam a sua pele.

Lavada de sangue, ela range os dentes e perfura o abdômen do Subaru respeitadas vezes. Como uma faca, aquilo foi entrando e saindo de sua carne macia de forma fácil enquanto ela recitava sua magia.

— Fula!! Fula!! El fula!!

E em todas elas as entranhas do jovem saíam pelos buracos de suas costas junto de um bolo de sangue e vísceras, manchando a neve em vermelho.

Os impactos foram tantos que a espinha se separou em duas, que era o que ligava o corpo de Subaru. Sem ela, ele se dividiu em dois. A parte de baixo separou-se da parte de cima que se mantinha grudada na garganta da Ram como um encosto.

O pensamento de “sé é pra morrer. Te levarei junto" prevalecia na mente conturbada e semiconsciente do jovem.

Ignorou tudo e apenas focou em seus dentes arrancando a carne.

Ele, mesmo separado, mordia tanto a garganta da jovem, que começou a arrancar pedaços, e assim que não aguentava mais acumula-los em sua boca, os cuspia para fora e rapidamente prendia seus caninos avermelhados no alvo.

Um buraco enorme era visível no pescoço da garota. Sua tireoide estava severamente danificada. O oxigênio não fazia questão de entrar, e quando tentava inalar o ar, era afogada pelo seu sangue intruso que escorria através dos vazios respiratórios, entupindo e alagando seus pulmões.

E tudo aquilo, saía pela boca com tossidas que tinham gosto de morte.

Ela estava fraca, e os dentes dele corroíam sua pele como um parasita. Então...

— F... l...

Cravou aquela varinha com força na nuca do indivíduo. O mármore atravessou o casco do crânio e cravou no órgão responsável pelo sistema operacional do corpo humano, o cérebro.

O aperto na mordida sessou, como se estivesse morrido. A vida parecia sumir para ambos os corpos jogados naquela neve.

Ram se atirou pra trás junto do corpo desanimado do seu inimigo. A visão do céu nublado tomou conta de seus olhos.

E como uma sentença de morte, fracamente recitou de seus lábios pálidos-avermelhados...

— Fu...la...

A cabeça explodiu em dezenas de pedaços. A sua visão foi coberta pelo vermelho que esguichou em sua face, e ela relaxou seu corpo naquela neve.

A imagem dos pedacinhos de cérebro voando pelo ar era lenta. Como fogos de artifícios, eles explodiam no chão tingindo o branco com sua tinta vermelha...

Ela não conseguia respirar, e mesmo desprovida de oxigênio, se forçava a procura-lo, enquanto a visão do céu se enfraquecia.

Se sentia consumida pelo frio, e afogada num mar de sangue. A sua energia vital vazava como uma piscina furada.

A mente estava cada vez mais distante, até que se tornasse inalcançável.

Ela, antes de cair no limbo escuro...

“Me desculpe, Patrão Roswall... Por não conseguir te acompanhar corretamente em sua jornada... Me desculpe, senhorita Emília... Por duvidar de você na maioria das vezes, e te achar incapaz... E, me desculpe, Rem... Minha fofa querida irmãzinha... Por talvez nunca ter sido uma boa irmã para você. Eu queria ao menos que soubesse disso...”

Se despediu de todos enquanto se suplicava mentalmente. Seus olhos carmesins permaneceram abertos mesmo após a ausência da alma, ao lado daquele cadáver desfigurado que derretia o gelo com seu conteúdo vital e restos de massa cerebral.

Quanto a Subaru...

Subaru se distanciou para o limbo junto daqueles que havia matado. Um escuro caloroso onde sentia ser envolvido pela sombra de alguém.

De quem era sombra? Não fazia questão de abrir os olhos para olhar. Só estava a deriva do nada, enquanto seu ser era vagarosamente tomado por esse ser a sua espreita. Um alguém familiar.

A mente de Subaru Natsuki foi cada vez ficando mais vazia... mais vazia... vazia... Estava tão oca que ele perdeu a sensação de tudo ao redor.

Era inútil tentar forçar e retoma-la de volta, pois a sombra acabará de engolir seu corpo dos pés a cabeça.

Como se domando-o. Possuindo-o. Fundindo-se com seu ser... A entidade tomou conta de Subaru Natsuki, e o digeriu...

Nada mais daquele jovem atordoado foi deixado. Só o que restou foi um cadáver em um mundo esquecido.

E nada mais...

“A inveja é um sentimento pecaminoso que pode corromper a mente e alma daqueles que estão sobre sua influência. Ela destruiu um mundo virtuoso de relações afetivas, deixando-as ambíguas e sem valor. Mas pra mim... Isso ainda é amor. Sim... Uma forma de amar o que outro tem, ainda mais do que suas próprias conquistas, e colocar-se diante de tal dominação... Um amor invejoso.”

“Me diga... Subaru Natsuki. Qual a sua forma de amar? Por acaso já sonhou com um mundo ideal?”


Notas Finais


>[Rota da inveja]<

Feliz Halloween!!


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