Noite limpa e calma, serena, brisa fresca, com grandes chances de diversão, esportes ao ar livre após anoitecer e um mutante esnobe chamado Leo cheio de si.
“Oh, yeah! Baby! Vocês nunca vão conseguir me superar! ¡Soy muy bueno para ustedes!”
A tartaruga de azul exaltava com um grande sorriso no rosto, vangloriando-se por outra vitória sobre o time adversário, balançando-se triunfante no aro de metal iluminado pelos postes do campo enquanto ria dos outros abaixo. Seu próprio time – Donnie, Mayhem e Mike, para ficar supostamente balanceado, mesmo que conseguisse jogar sozinho –, ainda assim, não estava tão animado com o ponto marcado.
“Urgh! Detesto quando ele fica assim...” Mike reclamou frustrado, Leo sempre se gabava de suas vitórias independente do que fosse, como Donnie. Aquela foi sua quarta cesta sem ao menos passar a bola para sua equipe, e o mutante não havia suado uma gota! “Toda vez é a mesma coisa, nem sei por que concordei em vir”, roxo disse de cara no celular, inconformado assim como o pequeno de presas do lado rosnando em concordância.
“Tempo!” Pediu April, fazendo um “T” com as mãos enquanto arfava por ar.
O outro time se reuniu próximo no lado oposto da quadra, perto da grade, cochichando, bolando uma estratégia em segredo contra azul; Leo rolou os olhos enquanto quicava a bola no chão, nem precisava escutá-los pois sabia que venceria independente do que planejassem.
“... e enquanto eu o bloqueio, Renji pega a bola, April distrai os outros e Casey finaliza com uma última enterrada.” Vermelho instruiu, falando baixo para cada um deles com seus braços ao redor de todos. Uma de suas mãos pousava sobre o ombro esquerdo do mestiço, transmitindo confiança pelo aperto firme dos dedões. “Certo”, assentiram, o problema não era mais vencer o jogo, e sim fazer um ponto e esfregar na cara de azul que ele foi superado por trabalho em equipe no basquete.
Seus punhos soaram altos quando socados juntos. “Eu irei TRUCIDAR aquele sorrisinho da CARA daquela tartaruga metida!” A garota fechou as mãos com força, expressão tensa, exibindo manchas brancas nas dobras dos dedos pela pressão em seu punho de forma exagerada.
Intensa.
Essa mina é psicótica, pensou o mascarado, lembrando de um chamado misterioso em seu telefone devolvido por Donnie – hackeado – para jogarem basquete logo ao escurecer; entrando em posição, concentrou-se.
Splinter soou o apito, retornando todos ao jogo. Leo foi bloqueado à frente de Rapha antes que pudesse reagir, manuseando a bola rapidamente de um lado para o outro entre o chão e as mãos sem sequer passar para os outros.
“O que foi, Raphael? Não consegue tirar a bola de mim?” Provocou, quicando ainda mais rápido enquanto procurava uma abertura; oh-ho-ho, não sabe o que lhe aguarda, Leonardo!
Num movimento rápido, talvez até demais para um humano, uma máscara de raposa cortou pelo ar e roubou a bola de um Leonardo surpreso. “Hey! Dissemos sem habilidades ninjas!” Azul protestou. “Nunca concordamos em não usar velocidade!” O mestiço rebateu enquanto corria, Rapha riu daquilo, vendo os outros se movimentarem e indo junto.
April imitava os passos de Casey ao longe, mantendo um olho nos movimentos do mutante roxo próximo. O mestiço foi barrado por Mike de repente, obrigando-lhe a jogar a bola para trás num 'ops’ quando cercado.
A garota de mecha roxa saltou no ar em direção aos céus, sendo interrompida em sua glória de agarrar o objeto por um tapa na bola de Donnie. “Desculpe aí, gata. Nada pessoal”, provocou, dando uma piscadinha quando ela o fuzilou com o olhar. April franziu o cenho, então bufou molestada, mais pela intervenção que pelo flerte.
O objeto sob a atenção de todos retornou rapidamente ao chão, praticamente um meteoro vindo de encontro ao solo. Leo seguiu até o ponto de impacto, mas foi interceptado novamente por Rapha bloqueando o caminho pelo tamanho avantajado; vermelho sorriu, provocante.
Mike conseguiu – pela primeira vez em todo o jogo – pegar a bola quando aterrissou perto de Mayhem, mas algumas cutucadas e risadinhas maléficas aqui e ali o distraíram no calor do momento, deixando Casey roubar a bola de suas mãos distraídas.
A partida permaneceu assim por longos minutos, até que April conseguiu roubar a bola e avistar uma garota de calças rasgadas nos joelhos com piercings e cabelo curto livre. Seu olhar cintilou, arremessou em sua direção; Mayhem latiu alto quando Casey pulou na trajetória da bola seguindo a cesta, prestes a marcar.
Boom! Leo esbarrou em sua frente, agarrando-se à bola antes que entrasse e enterrando-a no lugar da garota, marcando outro ponto para seu time de... ele mesmo.
“Uhum! Vai Leo! Vai Leo! Vai Leo!” A tartaruga requebrava em sua clássica dança vitoriosa, balançando os braços e fazendo a minhoca no chão – moonwalk para os recalcados. Beijinho no ombro, mi amor.
Casey seguia emburrada, pendurada pela gola da camiseta em um dos parafusos da cesta pelo pulo anterior e movimento súbito tê-la desequilibrado, arruinando sua jogada perfeita. “Alguém pode me ajudar?” Rapha a desceu depois, Leo foi mais rápido do que conseguiu prever ou acompanhar.
Jogou um braço por cima dele, olhando-o com aquela maldita amostra dos dentes debochada. Todos sabiam que ele estava brincando com fogo. “Mais uma vitória para Leonardo aqui. Como se sente sendo humilhado novamente por mim, Renji-kun?” Apontou para si com o polegar.
Renji revirou os olhos, então afastou-o bruscamente de si com um aperto no nervo do ombro, fazendo Leo se contorcer brevemente. “Derrotado? Sim. Humilhado? Não. Nem esperava ganhar de um idiota fanfarrão, de qualquer maneira.” Encolheu os ombros, soltando-o, jogou a blusa que deixara no banco à entrada da grade sobre o ombro e retirou-se da quadra.
Alguém chamou por ele. “Já vai?” Mike chiou um som triste, foi um milagre terem convencido o arqueiro e Casey a jogarem naquela noite de sexta – considerando que o mesmo esteve bem sumido nos últimos dias –, agora o mestiço estava indo embora sem se despedir. Renji parou, virou e percebeu vários olhares sobre ele. “Preciso, tenho... assuntos pendentes. Ambos os times jogaram bem.” Ele forçou um sorriso, reconhecendo que ninguém viu. “Vejo-lhes depois.” Acenou com as costas da mão. Os mutantes lhe observaram curiosos indo embora, virando uma esquina e desaparecendo pelas ruas escuras. Rapha ficou levemente desapontado, estava se divertindo com a sua companhia.
Casey, April e ele haviam combinado de sair algum dia mais tarde, um rolê com hóquei ou cinema entre os três humanos, mas até lá, ficariam sem notícias do mascarado.
Uma pena, nenhum deles sabia exatamente onde o arqueiro morava e dificilmente os deixaria se aproximar tão facilmente por ainda não estarem naquele nível de intimidade, nem mesmo para uma possível festa da pizza ou qualquer outra coisa.
Isso até roxo e laranja o seguirem secretamente.
Dando uma desculpa de que também estavam com coisas a fazer, Donnie e Mike usaram a mochila turbinada de roxo para seguirem discretamente a rota do arqueiro.
Foram longos quarteirões, alguns precisaram da assistência do bracelete para rastrear seu celular – achado por Mike – quando checava se estava sendo seguido. Renji realmente era muito cuidadoso, mas não o suficiente para os aparelhos e chip rastreador implantado no aparelho sem autorização por roxo.
Dane-se autorização, desde aquela vez que roubaram seu aparelho de portais e Nova York virou um caótico filme de investigação, Donnie estava cagando para privacidade. Ao notarem, ele pulou de uma sacada, aterrissou numa varanda próxima a um petshop e entrou pela janela de um apartamento 4 andares acima, subindo antes pela escada de incêndio, estranhamente.
Roxo usou a visão térmica dos óculos, percebendo que havia outra assinatura de calor dentro do apartamento. Pequena, fraca, sutil, quase imperceptível, mas ainda estava lá. Eles se aproximaram, precisavam descobrir o que Renji estava tramando.
Pararam diante da janela sobre a plataforma metálica, abaixando na escuridão da noite sobre aquele beco para não serem vistos. Donnie ergueu seu telescópio portátil para ambos olharem dentro do local iluminado com certa curiosidade, batendo levemente no vaso de planta e rezando pela péssima audição do arqueiro.
Nada muito extravagante. Parecia que Renji nem vivia ali para começar, muito minimalista. Havia apenas uma cama de solteiro no canto, algumas gavetas próximas à parede, uma TV antiga sobre a estante e um estranho, mas peculiar, tanque de aproximadamente 10 litros com forro de areia dentro próximo ao colchão – tudo aquilo à vista da porta do apartamento com cada seção em um canto diferente.
Em suma, o tanque apresentava uma pequena ilha de cascalho e areia elevando-se no centro cercada por uma fina camada de água. Nos cantos, existia uma pequena caverna artificial, pedrinhas comuns do tamanho de nozes e uma especial média rosa de superfície chata faziam a decoração. Acima do tanque, ficava uma lâmpada de forte iluminação para aquecer seu interior: a origem do segundo sinal de calor. Ao lado dela, um filtrador de água posicionado ligado na tomada.
Algo se moveu na cozinha, o arqueiro trazia consigo algo pequeno, verde e marrom escuro, quase um abacate entre seus braços entorno daquilo. Os mutantes não conseguiram evitar, sua sede de curiosidade estava lhes matando; prestes a bater na janela, roxo apoiou-se em falso, sua mão escorregou no mármore da janela devido ao orvalho e sua cara foi de encontro ao vidro bruscamente.
Renji virou assustado para o baque surdo do escuro, se acalmando irritado quando viu uma bandana laranja e braços mecânicos pela janela contorcendo-se como uma barata pisoteada, gemendo de dor.
“O que fazem aqui?” Exigiu sério, uma vez que os puxou para dentro do apê, o mestiço jogou rapidamente ambos no sofá da sala e apontou uma faca de cozinha para eles próximo daquela janela. “Wow, calma aí! Só estávamos curiosos!” Explicaram-se, tentando acalmá-lo; Renji tinha tendência a fazer coisas ruins quando mal-humorado.
O pequeno abacate em seu braço livre pareceu mover-se sutilmente, grunhindo sons. “Sabiam que a curiosidade matou a tartaruga?” Ameaçou, ficando um pouco mais próximo dos mutantes invasores com um ar assustador.
Mas não era o gato? Pensou Donnie; chacoalhou a cabeça, focando no que veio fazer. “Só queríamos te visitar, saber onde morava, te fazer companhia. É tão ruim assim nos ter por perto, Renji?” Mike perguntou, genuinamente preocupado com a resposta.
Grunhiu sem encará-los, podia ter certeza que estavam olhando-o pelas costas à espera de algo. O arqueiro andou pela outra janela até o tanque, depositando gentilmente o abacate amarronzado dentro enquanto procurava algo nos armários e geladeira.
Donnie e Mike arregalaram-se, percebendo, enfim e chocados, que aquilo dentro não era realmente um abacate podre como haviam imaginado, mas sim...
“UMA TARTARUGA?” Perguntaram em uníssono, incrivelmente surpresos.
Renji estremeceu, virou para eles e então arfou. “Sei o que estão pensando”, induziu, roxo particularmente não estava pensando em nada pela surpresa. “E não, eu não... ‘gosto’ de tartarugas como muitos amantes de animais por aí. Só achei esse aí atrás de uma lixeira há alguns dias, todo machucado, carapaça arranhada e ferida. O síndico do prédio, por sorte, permite animais de porte pequeno.”
Donnie franziu a testa. “Como assim? Você não o levou no veterinário?” Mike perguntou um pouco invasivo, levemente preocupado com o animal.
Renji grunhiu. Pôs algumas folhas de alface fresco com pequenas fatias de tomate picado num pratinho dentro do tanque, acariciou gentilmente a cabeça da tartaruguinha com uma pequena cicatriz atravessando o olho direito e virou com postura defensiva encostado na mesa para os mutantes, braços cruzados, ar sério.
“É claro que fui, idiota. Não sou tão estúpido assim, por isso todas essas coisas no tanque”, garantiu, um pouco duro demais. Renji contou como havia conseguido o animal.
Após aquela árdua batalha na Cidade Escondida, o mestiço escutou alguns barulhos vindo de trás de seu prédio quando chegou. Alguns gatos se reuniam em volta de alguma coisa escondida em meio aos latões. Chegando mais perto, ele reconheceu uma carapaça verde-amarronzada com padrões diferentes sendo arranhada constantemente pelos felinos e agiu.
No fim, os felinos se foram com apenas alguns chutes barulhentos nas latas, permitindo uma visão melhor sobre o ser machucado. A veterinária em que fora cuidou dos ferimentos e lesões do serzinho, mas como estavam cheios até a próxima semana, não teriam vagas para a tartaruga. Isso além do fato do pequeno animal ter engatinhado desesperado até Renji enquanto sob análises na mesa de exames, uma cena tão tocante para a milady que examinava quanto preocupante para o arqueiro que buscava seus resultados. Precisou ficar ao lado da tartaruga para que não se mexesse.
Renji, mesmo assegurando à dama que não desejava tal responsabilidade, tomou nota de cada mínimo detalhe que os veterinários lhe deram sobre como cuidar do animal até pelo menos terem vaga. Descobriu que o bichinho era bem mais medroso que outro qualquer, escondeu-se diversas vezes na caverna artificial, mas tinha um sorriso bonitinho enquanto comia alface.
O arqueiro ouviu duvidoso um fungado enquanto olhava as ruas pela janela, perdido em pensamentos; Donnie e Mike estavam prestes a chorar com a história dele. “Parem de chorar! Às vezes é irritante vocês sendo tão emocionais assim!” Vociferou, roxo rapidamente se recompôs – ao contrário de Mike.
“Então... Vai ficar com ele?” Donnie perguntou, havia alguns experimentos que podia fazer em seu laboratório que talvez o deixasse parecido consigo. Mike já havia pensado em mil e uma coisas com a pequena tartaruga, maioria envolvendo algazarras.
“É o jeito.” Deu de ombros. Droga! Eles pensaram. “Creio que seria estranho um de vocês tomando conta. Além disso, se os outros souberem que estou tomando conta de algo que já foi vocês um dia, nem sei quando sairão do meu pé com toda aquela melosidade e implicância de Leo.” Suspirou, apoiando ambas as mãos na mesa em que sentava olhando para as tartarugas.
Eles exibiram um sorriso encorajador para Renji. “Já pensou num nome?”
O mestiço bocejou, tinha acordado muito cedo recentemente para ir ao mercado comprar suprimentos e um tanque para o animal, fora cuidar constantemente do mesmo nos últimos dias. “Pensei em chamá-lo de Verde, por motivos óbvios”, caçoou.
Mike tensionou a mandíbula, ambos olhando incomodados para o mestiço de camiseta preta e shorts floridos; parecia à vontade no lugar, apesar de ainda permanecer de máscara. Será que ele dormia com ela?
“É claro que não vou chamá-lo disso”, respondeu suas carrancas com a mesma intensidade, rolando os olhos. “Até alguém colar um cartaz de tartaruga desaparecida, e vocês ficarem de bico fechado sobre este assunto, irei chamá-lo de algo... algum dia.” Ele coçou o queixo, pensativo. A tartaruga exibia alguns espinhos na carapaça igual a um certo mutante, chamando sua atenção. “Ainda me pergunto de que espécie exatamente ele é.”
Donnie levantou-se de prontidão, avançou até o tanque e examinou meticulosamente a tartaruga de Renji comendo alguns tomates com os óculos. “Olha só, que interessante,” soou surpreso, cativando secretamente o mestiço, “é uma Chelydra serpentina. Alguns anos mais velha do que quando fomos transformados, tamanho levemente superior, mas definitivamente é uma Tartaruga-mordedora de casco espinhento. Comuns aqui, da mesma espécie que a do...” Roxo pausou seus pensamentos, olhou para Mike, impressionado por um momento pela coincidência. “Rapha...”
Os mutantes miraram Renji, curiosos quanto a qual seria sua reação. Donnie levantou os óculos, aguardando. “Ótimo.” Soou sarcástico. “Agora tenho outro motivo para manter Spike em segredo.” Renji foi até a geladeira, pegou um pouco de água e então bebeu o copo gulosamente, parecia com sede ou nervosismo.
Mike soou confuso. “Por que isso é tão problemático para você, Renji?” Laranja começou a se aborrecer com uma questão tão boba quanto aquela.
O arqueiro o mirou. “Alou? Estamos falando do Raphael aqui. Seu irmão mais velho, super amigável, carismático, protetor e grudento. Ele pode querer vir conhecer o Spike a qualquer momento e acabar trazendo todo o pessoal para minha toca solitária.” Renji deu mais um gole com o pensamento do mutante vindo lhe visitar, surgindo à noite e batendo com um sorriso tímido na janela; por alguma razão, isso deixava sua garganta seca.
Donnie interviu, visivelmente cansado daquela palhaçada. “Parece que você só tá se fazendo de difícil agrado, como uma loira oxigenada num colégio cheio de piranhas bunda-doce.” Mike espantou-se. “Donnie!” Gritou, o mutante encarou o irmão. “O quê? É verdade! Nosso irmão já fez tanta coisa pelo Renji e esse aí ainda é ingrato o suficiente para não o deixar ao menos visitá-lo. Francamente, nem sei o que ele vê em você para tentar ser seu amigo.”
Duras. Palavras duras, mas verdadeiras. Sentiu todas como se fossem agulhas perfurando exatamente onde doía mais, ainda mais com vermelho envolvido. O que estava acontecendo? Palavras nunca o incomodaram daquele jeito. Alguma coisa deve ter mudado na convivência dos mutantes, ele sentia-se questionando as próprias ações quando seu eu antigo não teria dado a mínima e seguido em frente.
Quando Donnie guiava um Mike cabisbaixo para a saída daquele lugar onde não eram bem-vindos, Renji os chamou antes. “Esperem”, pediu ainda neutro, apesar do estado emocional confuso. “Só... sentem no sofá. Quero contar uma coisa.”
Os mutantes se entreolharam, duvidosos a princípio – principalmente Donnie. Mike sentou à esquerda, próximo da porta, enquanto roxo à direita, perto da janela aberta pronto para escapar caso necessário. Assim que se acomodaram, Renji pegou uma cadeira, sentou de frente para o sofá, fitou-os e ofegou, coçando a nuca.
“Olha, não me entendam mal, eu... aprecio a companhia de alguns de vocês.” ‘Gostar’ seria muito afetuoso; Leo obviamente não estava em jogo. “O problema é que... não sei lidar bem com... amizades.” Renji sussurrou áspero, olhando para o lado, desconcertado.
Os dois continuaram lhe encarando. “Você tem medo de demonstrar sentimentos?” Mike deduziu, o humano ficou levemente surpreso por sua adivinhação; balançou levemente a cabeça, confirmando – não medo, apenas sem prática.
“Meh, quem precisa de sentimentos? Daqui uns anos seremos todos escravizados por robôs de qualquer jeito.” Laranja cotovelou o lado de roxo, calando-o para que o arqueiro continuasse.
Existia uma garota na vida de Renji, uma deveras especial que o ajudou num ponto de sua trajetória para salvar sua mãe. Seu nome foi mantido em segredo, mas a história foi contada aos mutantes.
Ah, como eles brigavam! A cada dia que passavam juntos, ou era uma luta para sobreviverem a mutantes raivosos e facções atrás dos dois ou simplesmente aturarem mais um dia com o outro. Era divertido caçoar dela e de sua altura...
Mas aí, em um fatídico dia, ela o apunhalou pelas costas, literalmente. Renji nunca soube o porquê, apenas a viu andando calmamente longe pela ponte de Chicago naquele dia chuvoso, seu corpo foi imobilizado por um veneno paralisante na adaga que usou, deixando-o à deriva à própria sorte enquanto sua visão se tornava cada vez mais turva.
Ele chamou por seu nome, o primeiro nome do qual não sentia raiva ou desprezo. Mas ninguém veio. Não importava o quanto tentasse, sua voz o havia abandonado naquele lugar movimentado e, ainda assim, sem nenhuma alma bondosa para ajudá-lo. Quando o efeito paralisante finalmente passou, ele permaneceu lá, imóvel no chão molhado, tentando entender como e por quais razões ela teria feito aquilo com ele, traído, depois de tudo que passaram. Seus olhos não aguentaram a pressão e ele acabou desabando no chão, gritando por aquele maldito nome que uma vez o trouxe alegria e calor nos dias frios e sombrios de sua adolescência.
Mas ninguém veio.
O arqueiro finalizou a história, apoiando ambos os braços sobre as pernas de mãos juntas numa pose debruçada, reflexivo, fraco demais para encará-los após tanta vulnerabilidade. Então, de repente, dois pares de braços o envolveram. “O que estão fazendo?” Renji perguntou bravo, roco, sua voz transmitindo a tristeza e solidão daquele dia. “Eu não pedi por um maldito abraço.”
“Não precisou”, esclareceu laranja. “Como tartarugas, nós temos um sexto sentido. Podemos sentir os sentimentos fortes de alguém próximo”, Donnie explicou, forçando-se a não chorar novamente com aquele estúpido conto do estúpido arqueiro. “Acho que mais alguém sabe como se sente”, Mike sussurrou, apontando para o tanque com uma pequena tartaruga tentando escalar a parede de vidro.
Renji agiu no piloto automático, sentidos entorpecidos, levantou da cadeira e esticou vagarosamente os braços até pegar a tartaruga entre suas mãos; ela roçava a pequena cabecinha preocupada contra seu dedão, calos pela corda do arco, fazendo sons tristes de tartaruga enquanto olhava-o em busca de conforto para seu dono de coração pesado. O mestiço fraquejou, quase segurado pelos dois atrás de si, porém sua mente ordenou ‘recomponha-se’ antes.
“Me desculpem”, ele soou baixinho, alguma coisa escorria de sua bochecha esquerda. “Devo ser um grande fardo por perto, principalmente para Raphael.”
Mike apressou-se em afastar aquele pensamento para longe. “Tá brincando? Ele nunca para de falar de você quando estamos sozinhos!” Deixou escapar, Renji o mirou surpreso.
“É verdade.” Donnie confirmou, levantando um dedão para realçar seu incômodo. “Baseado nos meus dados, ele dificilmente falou tanto de alguém e suas habilidades em combate quanto ele fala de você conosco. Chega até a ser irritante, tem que estar lá pra ver, parece até que ele...”
Donnie cortou a fala no último segundo, recebendo olhares confusos e nada agradáveis do arqueiro em resposta. “Esquece, acho que me confundi com outra coisa. Meu ponto é: desde quando se conheceram, é perceptível o quão animado ele fica lutando contigo, Renji.”
O arqueiro pausou, não pela frase de roxo, mas sim pelas memórias que teve com vermelho: o primeiro dia, com o teste; a luta contra Tyler e Frank; Asagohan – tirando a parte do estrangulamento; a segurança e calor de seu aperto no parque... Caramba, eles até dançaram juntos Dirty Dance, pelo martelo de Thor! Isso sem mencionar a conversa na escada.
Mas era tudo pela missão, pelo menos, era isso que ele dizia-se. Acreditava que o mutante tinha afeto por ele, contudo, de amizade, talvez até por pena, se é que algum dia teve um amigo como ele.
“Tudo bem”, Mike e Donnie observaram enquanto ele se virava. “Me convenceram, vou levar a tartaruga para uma visitinha ao esconderijo... algum dia.”
“Achei que o nome dele fosse Spike”, relembrou Mike, rindo, fazendo carinho na cabeça dele.
“É um nome provisório!” Corrigiu o arqueiro, levemente enrubescido. Os dois riram de sua cara, tão vermelho quanto as linhas de sua máscara, igualzinho a Raphael na fonte termal.
Bagunça. “Donnie! Você atacou minha vila no Coin Master! De novo!” Laranja brigou com roxo, sua pequena vila foi atacada por ele três vezes naquela semana. “Não sei do que está falando”, deu de ombros, fuzilando Raph e Leo quando abriu o jogo e descobriu que ambos haviam feito o mesmo com sua vila. Mike teve sua vingança.
Isso que aconteceu quando Splinter deixou o covil por assuntos desconhecidos sob a vigilância de April. Eles pretendiam fazer uma surpresa para o aniversário do rato quando voltasse, os mutantes – com a ajuda dos humanos – decidiram fazer um bolo todos juntos.
Sujeira. As paredes, chão, teto, tudo estava coberto por massa de bolo jogada pelo liquidificador. O arqueiro encarou perplexo toda aquela situação, perguntando-se como ele e Mike foram deixar Leo em posse da máquina.
“Eu já disse, não foi culpa minha!” Defendeu-se Leonardo, os irmãos e April encaravam-no de maneira julgadora, como pais presenciando a algazarra da criança; Casey lambia a tigela. “Eu dei uma olhadinha para o lado e a tampa simplesmente voou pra cima! Renji, cê tem que me ajudar aqui, cara!”
O próprio estava deitado no chão numa pose engraçada – braços e pernas abertos; anjo na neve – quando tudo virou uma bagunça, caos pela massa voando em todos e ainda por cima deixando o chão escorregadio. Renji foi vencido pela gravidade quando pisou numa aglomeração de cascas de ovo e escorregou como numa cena de casca de banana, caindo duro de bunda no chão depois de praticamente voar com o pé. “Foi mal, Leo, não tenho nenhuma .cobertura pra você se esconder agora.” Brincou, apesar da dor no traseiro. Azul grunhiu irritado, os outros riram.
“Aqui”, Rapha ofereceu uma mão para Renji, “uma ajudinha.” Próxima coisa que ele soube, o arqueiro foi erguido sem esforço pelo mutante até ficar de pé. Embora com roupas diferentes após a partida de basquete, eles precisariam de uma bela ducha e removedor de mancha para suas vestimentas – todos eles. Bandanas tiradas quando chegaram.
Vermelho mirou o arqueiro, que o estava encarando de volta com aqueles olhos visíveis apenas a ele, curiosos. “Algo errado?” Perguntou Rapha. “Tem uma coisinha aqui”, ele apontou para a máscara, indicando algo no rosto do maior.
Raphael não conseguiu achar ao que ele se referia, esfregava constantemente as almofadas das mãos na própria face, mas sem sucesso – ao ponto de piorar. “Aqui”, soou o menor, “uma ajudinha”, repetiu sua fala anterior. O mutante ficou imóvel, petrificado, parado como uma estátua de olhos assustados enquanto Renji, lentamente, elevava as mãos até ele, mantendo sua cabeça quieta com uma palma na parte direita de seu rosto enquanto erguia o dedo, passando gentilmente seu polegar pelo outro lado, retirando o excesso de massa com cobertura entre sua outra bochecha verde e boca, perigosamente perto dos lábios.
“Glacê de morango, delícia. Muy bueno, Mike e meninas, mais um pouco de açúcar e ficará perfeito”, ele disse de costas para o maior, se aproximando de April e Casey ainda limpando o balcão de massa, antes disso levantando a máscara de raposa próximo a Rapha e lambendo a cobertura do dedo – olhar fixo nele, vermelho não conseguiu mirar outra coisa quando se entreolharam.
Raphael reconheceu, com muito espanto, o quão casual e nada desconfortável Renji pareceu e agiu. Ele simplesmente passou o dedo próximo de sua boca e ainda chupou os dedos, lambendo os beiços. Se não estivessem na companhia dos outros, teria recuado fascinado com o quanto aquilo lhe assustou.
Olhou para os outros: Mike, Donnie, Leo, April – especialmente –, Mayhem e Casey se entreolhavam, desconfiados de algo, sem deixar aparente o quê. Vermelho reparou que o arqueiro foi o único indiferente com aquilo, sem notar nada de suspeito nas próprias ações enquanto batia outra massa; ele estava começando a ficar mais confortável perto dele, até tocou seu rosto sem aquele desprezo na voz como nos primeiros dias. Isso animou internamente Rapha, aquele sentimento apavorante do momento se tornou apenas estranho, mas um estranho bom, quentinho e agradável em seu peito.
Algo peculiar aconteceu com vermelho: sua respiração dificultou, lambeu os lábios secos, suas bochechas estavam ficando quentes, coradas, vermelhas com o pensamento de sua proximidade íntima com o arqueiro. Por quê? Qual a razão?
Outros pensamentos selvagens correram soltos pela sua mente: conversar sobre Júpiter Jim a sós com Renji no seu quarto; seu jeito engraçado de olhá-lo quando o ergueu duas vezes no parque e na missão; a forma próxima e íntima como conversaram na escada, sinceridade e sentimentos à flor da pele; sua risada alegre; o abraço forte envolta de sua carapaça na noite da fonte termal...
Deve ter ficado um bom tempo fora de si pois, quando retornou sua atenção à realidade, notou um Leo travesso olhando com um sorriso pretencioso para seu irmão mais velho.
“Nossa, não sabia que seu ponto fraco era a bochecha, mano. Deve ter mesmo gostado da maneira como ele te tocou”, comentou, os outros apenas olharam de relance para seu rosto vermelho como a máscara enquanto o arqueiro foi ao banheiro.
“E-eu...!” Gaguejou e perdeu a voz, por que ele estava tão nervoso? Era apenas Renji! Seu rosto estava quente, assim como suas mãos suadas molhando as faixas; Raphael pensou ter ouvido tambores no esconderijo, mas percebeu, reparando melhor, que era apenas seu coração acelerado, errando algumas batidas, deixando suas orelhas e extremidades pulsando forte. Ele levantou o gorro, tentando fazer aquele sentimento passar. “E-ele só me pegou desprevenido, Leonardo! Só isso!” Rebateu, mas estava claro seu nervosismo na voz.
“Sei...” Casey e restante disseram, levemente suspeitos.
Leo riu do irmão embaraçado. “Hahaha! Rapha, você ficou igual uma pimenta!” Rapha franziu frustrado quando Donnie se juntou ao azul, gargalhando descaradamente enquanto sentava ao seu lado no chão limpo do corredor, seu rubor diminuiu um pouco pela raiva dos irmãos, mas ainda era visível em seu rosto o quão constrangido estava por ter gostado tanto daquela sensação de Renji tocando seu rosto.
Os outros continuaram a limpeza, vez ou outra mirando discretamente o grande mutante sentado à porta bloqueando a passagem. Eventualmente, teria que continuar a limpeza; Rapha se assustou quando Renji tocou seu ombro ao voltar do banheiro, tropeçando mais uma vez nas palavras enquanto o arqueiro o mirava confuso, continuando o trabalho.
Splinter eventualmente chegou no covil, dando de cara com um bolo bem grande na mesa escrito ‘Feliz Aniversário’ junto a um grito surpresa de todos. Surpreendentemente, no final da noite, ao fim da festa dele, o rato chamou pelo arqueiro até o dojô enquanto o pessoal estava ocupado.
Somente ele.
Renji fitou-o confuso à porta, retirando o chapéu de aniversário e brinquedo de assoprar postos em si por Leo e Donnie. “Mestre Splinter?” O rato surpreendeu-se, o arqueiro nunca o chamou disso antes, muito menos sentou no chão com os joelhos dobrados esperando por sua fala. “Algo errado?”
Seus dentes chiaram quando o ar dos pulmões passou por eles, o roedor costumava agir com calma e serenidade em momentos como aquele. Embora surpreso, manteve a postura rígida e disciplinada. “Lhe chamei aqui, Renji, para treinar sua técnica especial. Se quiser dominá-la, necessita foco.”
Renji fez um som de concordância com a garganta, assentindo. “Embora eu aprecie o gesto, nenhum dos outros cinco conseguiu me fazer ativá-la adequadamente durante os treinos.”
Splinter balançou a cabeça, negando. “Isso porque treinas com as pessoas e maneiras erradas.” Ele virou e andou até seu lado, parando sobre o arqueiro de posição inferior com um ar de seriedade, receoso, preocupação e nervosismo, todos conflitando em sua face. Então, abaixando e segurando seus punhos com cicatrizes e grandes hematomas nas pontas, continuou. “Precisa pensar, não com os punhos,” suas palmas rosadas seguiram pela extensão de seus braços, uma parando em seu peito sobre a camisa levemente rosada pelo glacê e a outra continuando até sua testa, descansando na mesma, “mas com a mente e o coração em harmonia.”
Renji ouviu atentamente, embora nada daquilo tivesse feito sentido. “Ainda não entendo como harmonia irá me ajudar a controlar meu poder.”
Splinter sorriu, acolhedor e compreensivo. “Você luta sozinho, Renji. Esse é o seu problema. Pode achar que está lutando ao lado dos meus filhos, mas alguma parte de você ainda crê que nada disso importa e que sempre será um lutador solitário. Está em guerra consigo mesmo.”
Ele fitou o rato, as linhas de sua máscara pareceram cintilar por um breve momento antes de retornarem ao estado normal. “E o que devo fazer?”
Sua expressão enrijeceu-se, o tom doce e caloroso em sua voz exauriu. “Infelizmente, apenas você pode responder esta pergunta, arqueiro.” Splinter voltou-se para as estantes, puxou de dentro das gavetas próximas uma pequena caixa de madeira e preparou um chá para o arqueiro ali mesmo, trazendo consigo um rádio e duas xícaras cheias na volta.
“Qual a razão disso?” Questionou, iriam fazer tricô se dependesse do rato. “Apenas tome o chá, relaxe a mente e permita-se ser levado pelas ondas do rádio”, instruiu o rato, entregando para Renji uma xícara antes de se sentar de pernas cruzadas e mãos unidas à sua frente, o mestiço lhe imitou.
O humano fez como dito, bebeu, suspirou e então soltou o prato sob a xícara que segurava ao seu lado no chão. Por longos minutos, ele escutou o rádio, os ruídos dificultando sua concentração. Então, foram substituídos gradualmente por ondas do mar – por mais louco que isso soasse –, calmas e repetitivas, relaxantes.
Quando abriu os olhos, não estavam mais no dojô, ou no esconderijo: tudo se tornou um lugar vasto e plano, vazio, com céu azul e hipnotizante de se olhar; um cheiro de água salgada invadiu seu nariz, embora não houvessem sinais de mar. “Aqui foi um pensamento”, proferiu o roedor. “Draxum e Mike também tiveram a mesma coisa há alguns anos.”
Ele levantou ambas as palmas como numa pose de meditação, duas borboletas extremamente brancas voaram até ele, pousando uma em cada mão enquanto levantava-as. “Renji, você sempre foi uma alma solitária”, Splinter direcionou uma das borboletas até ele, pela proximidade, o arqueiro percebeu que o pequeno voador possuía uma tonalidade e bordas avermelhadas, sombrias, caóticas. “Um assassino sem remorso, calculista, focado, profissional com a missão sempre em primeiro lugar, de sangue e alma fria como gelo.” A borboleta começou a reproduzir flashes de seu passado na superfície branca: mortes de bandidos; decapitação dos membros de alguns exportadores de humanos como gado; tortura de aliados ao Clã do Pé com suas armas e correntes. Tudo isso com sua máscara coberta de sangue dos inimigos, sede de vingança constante.
O rato recuou a borboleta, levantando a outra de tonalidade mais azulada para sua visão. “Mas já se perguntou como seria se usasse suas habilidades, não para matar, mas para proteger alguém?” A borboleta com bordas azuis da outra mão parecia diferente, mais quente e amiga que a outra, embora também reproduzisse imagens: laranja salvando-o daquela queda; Renji cozinhando com o menor na cozinha e retribuindo o favor no trem; Leo e ele disputando braço de ferro de forma amigável; a forma impressionada que ficou com o arco congelante melhorado por Donnie; sua figura salvando Raphael daquela queda...
Em todas, sua máscara parecia viva, quase alegre.
“Raphael...” Observou enquanto mantinha os olhos fixos na imagem do mutante de vermelho, tocando levemente a asa, seu sorriso gentil e meigo na escada tornando a escuridão dentro de si ligeiramente menor.
Então, algo inusitado aconteceu: ambas as borboletas começaram a voar para cima junto a milhares de outras, um enxame delas. Splinter gritou pelo arqueiro, mas o mestiço se contorcia no chão do dojô com uma coisa perfurando e quebrando sua mente: gritos.
As borboletas voavam velozmente pelo céu, cada uma com um flash diferente de seu passado que o atormentava: a cicatriz do laboratório; o sequestro de sua mãe; o acidente de seu pai; culpando Kakuri; o dia em que machucou ela mais do que apenas fisicamente com palavras.
Tudo parou de repente, o arqueiro retirou hesitante as mãos da cabeça que usou para tentar conter a dor dos gritos. Ao levantar-se, estava sobre um prédio gigante pairando Nova York, mas não uma Nova York comum no inverno.
Uma Nova York coberta, enterrada, completamente soterrada na neve, moradores e todo ser vivo infortuno andando nas ruas congelados.
Perderá o controle, sussurrou uma voz em sua cabeça, sombria. Se usar seu poder, machucará seus aliados ao invés de protegê-los. Nunca mais serão seus amigos.
Renji olhou para o lado, os irmãos, Mike, Donnie e Leo, estavam parados com feições de desespero em seus rostos, suas peles tão transparentes que o arqueiro conseguia ver através deles, inteiramente de gelo. Congelados por ele.
Então, ele virou mais sobre o terraço, passando por Tyler e Frank no mesmo estado e, para seu desespero, a estátua de Raphael completamente destruída e despedaçada no chão, sua cabeça sem a bandana olhando diretamente para ele, feições horrorizadas. Ele estava morto, por sua causa.
Foi tudo culpa sua.
“NÃO!” Esbravejou. Splinter foi jogado contra a parede por uma forte rajada de poder, batendo e derrubando alguns pergaminhos no chão. Avistou o do conto entre seus clãs, lançou o rabo e pegou o papel antes que o Mitsuki pudesse ver.
Mesmo sem o arco, Renji conseguia lentamente despertar alguns espinhos congelados ao seu redor enquanto gritava no chão, pesadelos sem fim devorando sua mente.
“¿QUE PASSA AQUI?” Leo literalmente se jogou na direção do pai quando passou pelo corredor, percebendo incríveis vultos de ar se formando ao redor do arqueiro dentro do dojô. “RENJI!” Tentou chamá-lo, mas o humano permanecia imerso em sofrimento.
Os outros ouviram a confusão e logo surgiram pela porta, encarando assombrados enquanto tudo ao redor de Renji virava uma superfície de gelos pontudos.
“Eu vou lá”, Rapha soou corajoso, um pouco de medo ressoando no fundo da mente.
“Tá maluco?!” Gritou Mike, suas vestimentas balançando ao vento forte assim como as dos demais. “Aquilo vai te congelar antes de sequer chegar perto!” Donnie alertou, ciente da alta chance de vermelho ser totalmente congelado caso se aproximasse.
“Aquilo não, Donnie”, o corrigiu. “Ele. Renji está sofrendo, e precisa de nós mais do que nunca. Eu vou, com ou sem ajuda.”
Com o pensamento de que chegar perto acalmaria o menor, Raphael seguiu bravamente pela tempestade que estava no aposento, cobrindo o rosto com a mão. “Renji!” Lhe chamou, o mestiço permaneceu imóvel enquanto era dominado lentamente pelo próprio poder. “Não precisa ter medo, estamos aqui!”
As vozes pioraram, estavam mais altas dentro de sua cabeça. O mestiço não estava aguentando, era demais para ele suportar sozinho. “Renji!” Gritou uma voz abafada na tempestade de sua cabeça, mas quem? Quem poderia estar chamando por um ser tão fraco, miserável, desprezível e repulsivo quanto ele? “RENJI!” Soou de novo, uma voz familiar clamando por ele. Voltou para a estátua de Raphael: estava se reconstruindo.
“RENJI!” Berrou o mutante próximo de si, o frio em seus braços e pernas tão intenso que chegava a queimar, dolorosamente. Rapha, num momento de desespero, abraçou o corpo praticamente congelado do arqueiro, sentindo com mais intensidade aquele frio devastador contra a pele. Seus gemidos de dor foram ouvidos por todos. “Acorda!”
A estátua falava com ele, como um ser de um pedestal abaixando para os miseráveis. “Por quê?” Ele respondeu aos sussurros, patético. “Sou apenas um fardo para vocês, não estariam mortos se não fosse por mim. Nem deveriam ter me resgatado.”
“Blasfêmia!” Exaltou a estátua de Donnie. “Se fosse o caso, nunca teríamos te encontrado!”
“Nem feito Asagohan juntos!” Laranja sorriu, havia se aproximado do olho da tempestade junto a roxo, enfrentando o congelante e árduo frio. “Ou cozinhado aquele bolo conosco!”
“Detesto admitir,” a estátua do azul era difícil de enxergar em meio à tempestade de neve, “mas não me arrependo de ter te salvado naquela noite, assim como não deves ter quando tirou aquela espada do meu pescoço... hermano.” Leo soltou, pela primeira vez, sincero diante dele.
Outras estátuas surgiram pelo lugar: April, Mayhem, Splinter, até mesmo Casey numa pose engraçada, jogando hóquei no gelo.
“Por favor, Renji...” Rapha falou consigo, apenas para ele, sua voz calorosa atravessando aquele inferno congelante, passando por suas barreiras e muros, até seu peito. “Volte para nós.”
Enquanto seus membros eram congelados lentamente, os mutantes e as humanas permaneceram naquela posição: abraçados a Renji, recusando-se a deixarem ir. Vermelho, praticamente dormente, seria o primeiro a recebê-lo mesmo que virasse picolé.
A ventania cessou de repente, o caos da tempestade foi sumindo aos poucos enquanto algo caloroso os esquentava abaixo, sumindo com os espinhos de gelo: Renji.
O arqueiro remexeu-se lentamente, como se estivesse acordando de um sono longo. Olhou para os que estavam lhe cercando com os braços; Raphael parecia confuso com um detalhe: seus olhos.
A parte azul, antes cobrindo praticamente toda a íris, foi vencida rapidamente pela vermelha, brilhando forte enquanto crescia envolta e de volta na pupila. Estavam descoordenadas, em guerra, o ciano avançando, pretendia dominar, enquanto o vermelho-alaranjado lutava incessantemente contra numa disputa sobre quem prevaleceria sobre quem. Eventualmente, quando todo o gelo ao redor derreteu e aquele calor emitido pelo arqueiro parou, suas írises voltaram à divisão igualitária original, agora normais e sem brilho.
“Renji?” Soou vermelho, apreensivo, ainda segurando-lhe.
Todos se levantaram, exceto pelo mascarado e o mutante; ambos se encaravam, próximos, bem próximos no chão. Splinter olhou para os pergaminhos novamente, sua estratégia de descobrir algum plano secreto do arqueiro com ajuda mística de Draxum tinha ido por água abaixo – terrivelmente. O roedor se aproximou, culpa nas ações e palavras. “Perdoe-me, Renji... Tudo que eu queria era saber mais sobre o Clã Mitsuki.”
As sobrancelhas dele claramente foram unidas com agressividade. “Clã Mitsuki?” Soou indignado, agressivo, levantando-se como uma fera. “Clã Mitsuki?! Eu renunciei àquele clã depois que trataram minha mãe como uma perda insignificante! Por que você não simplesmente perguntou antes de me dar aquela droga de chá?!” Renji avistou o pergaminho no rabo, Splinter não conseguiu intervir quando o arqueiro lhe arrancou o papel. O mestiço leu os versos, entendendo a preocupação com desgosto. “Por isso estava tão preocupado. Por uma profecia idiota sobre um conflito entre nossos clãs”, reconheceu, derrotado. Renji se dirigiu até a porta, sendo impedido antes por Rapha.
A mão verde do mutante segurava seu braço, incomodando-o, fez para tentar acalmá-lo. “Renji, espera! Splinter pode ter pisado na bola, mas ele tem boas intenções! Tudo que queria era o bem da nossa família, não pode culpá-lo por isso.”
O arqueiro suspirou, droga de voz profunda. “Esse não é o problema, Raphael.” Esclareceu com pesar. “Quando achei que finalmente havia encontrado pessoas em quem confiar,” ele virou o olhar em sua direção, frio como gelo nessa hora, “percebi que nem tudo é tão perfeito assim”, completou, tom mórbido. “Lamento, mas desta vez, você não pode ajudar. Eu realmente não pertenço a nenhum lugar.”
Raphael tentou por uma mão em seu ombro, garantindo-o que conseguiria controlar o poder eventualmente, porém Renji a afastou com a própria, segurando-a pensativo por alguns momentos, tão delicado na ação que o mutante não sabia que a causa de seu desconcentro durante a meditação e transtorno era a sua pessoa.
Renji seguiu para fora dos esgotos, para longe deles, rumo ao apartamento, sem se despedir dos outros no esconderijo. “Feliz aniversário novamente, Hamato Yoshi”, cuspiu antes de subir, dando as costas para o rato decepcionado consigo mesmo no chão da escada que dava para o bueiro.
O arqueiro sumiu pelos prédios, frio externo da noite e frio por dentro, se sentindo exatamente como naquela ponte: traído. Mas, desta vez, mais solitário do que nunca. Mutantes são todos iguais, sempre foram.
E sempre serão.
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