Meereen era tão grande quanto Astapor e Yunkai juntas. Tal como como suas cidades-irmãs, tinha sido construída de tijolos, mas enquanto Astapor era vermelha e Yunkai amarela, Meereen era feita de tijolos de muitas cores.
(Daenerys V - A Tormenta de Espadas)
***
Daenerys Targaryen ergueu o rosto para o alto, enquanto uma chuva fria sibilava através de um céu escuro para transformar as ruas de tijolo da antiga cidade em rios. Seus fios gelados lavavam seu rosto sujo de fuligem e suor, escorrendo pelo pescoço e pelo aço negro da armadura que ela ganhou de presente da guilda dos Feiticeiros das Sombras, depois que um de seus magos tentou roubar-lhe a vida durante sua estadia em Asshai.
A chuva apagara a maior parte dos incêndios, mas nuvens de fumaça ainda se erguiam da ruína fumegante que havia sido a pirâmide de Hazkar, e da grande pirâmide negra de Yherizan, onde Drogon fizeram seu covil na escuridão. Do lado de fora das muralhas da cidade, onde um dia ficara o acampamento rebelde, tufos de fumaça subiam contra as nuvens cor de ardósia, como fitas negras retorcidas ao sabor do vento. Após reunir-se com os exércitos liderados por Daario, capturar os mestres e saquear o acampamento, Daenerys havia montado mais uma vez em seu dragão e varrera com fogo o que sobrara do local, até que restasse apenas cinzas e pó sobre os seus pés.
As tendas de melhor qualidade foram reaproveitadas para abrigar os doentes afetados pela égua descorada e durante os primeiros dias, enquanto Daario partia para capturar os mestres que haviam fugido pelas estradas vermelhas depois que Daenerys Targaryen descera dos céus em seu dragão, ela e Benerro se dedicaram a ajudar os doentes, preparando unguentos e porções para aliviar a dor e o sofrimento dos mais aflitos. Apesar de seus esforços, muitos não resistiram ao fluxo sangrento e uma nova fogueira de corpos precisou ser acendida. Os que se recuperaram, foram levados para dentro da cidade, onde a doença estava mais controlada, mas a cidade... estava estranhamente vazia.
- Chegou junto com a notícia da sua morte – Daario havia lhe contado, enquanto seus homens saqueavam o acampamento rebelde – Em questão de dias, metade da cidade estava morta e o cheiro no ar... – ele franziu o nariz – Todos os dias... queimávamos pilhas e mais pilhas de corpos e sobre a ordem de Razdal zo Naqqan isolamos os locais mais afetados e instruímos a fervura da água e dos alimentos conforme o ensinado pelas Graças. Os Grandes Mestres se aproveitaram do caos trazido pela doença para conspirar contra Razdal zo Naqqan. Ele foi morto em sua cama enquanto dormia e a cidade caiu nas mãos dos desgraçados logo em seguida. Eu me escondi assim que soube, sabia que eu seria o próximo, eu estava aqui lutando por você... – ele fez uma longa pausa antes de prosseguir - Depois reuni alguns homens, agitei os civis e matamos alguns deles. Nós tomamos a cidade de volta, porém alguns conseguiram escapar. Tinham aliados. Eu consegui colocar minhas mãos em alguns e os interroguei. Descobri que eles estavam se reunido em Yunkai e preparavam uma ofensiva contra nós. Não tínhamos homens suficiente para proteger a cidade e lutar com os miseráveis. Tivemos que espera-los aqui.
- Eles montaram um mercado de escravos diante das muralhas da cidade – Dany havia comentado amargamente.
- Sim, muito ousados. Tinham esperanças que eu perdesse a cabeça e pretendiam restabelecer o mercado dentro das muralhas de Meereen. Conseguiram o apoio de Braavos e seu Banco de Ferro. Estávamos prontos para morrer defendendo os portões quando vimos o dragão.
- Este um estava em Volantis com seus companheiros quando soube do estranho movimento de barcos misteriosos carregando pessoas em direção a Baía – Verme Cinzento falou andando ao lado de Dany – Estávamos a caminho de Naath, mas mudamos o curso para cá. Chegamos antes do cerco começar. Apesar dos barcos, não somos bons marinheiros e como Daario tivemos que aguardar para lutar.
- Vocês fizeram o bastante - a rainha declarou – agora precisamos encontrar os culpados. Eu quero os mestres. Todos eles.
Assim eles foram levados até ela uma a um. Alguns foram capturados no acampamento rebelde e outros pegos por Daario e seus dothrakis ao longo das antigas estradas ghiscaris. Entre eles estava Yezzan zo Quaggaz, o homem que ela deixara vivo no passado, por insistência de Tyrion Lannister. Os prisioneiros usavam luxuosos tokas, sujos e poeirentos, mas que sinalizavam o que eles eram. Eles a encaravam lividamente, como se estivessem diante de um fantasma. Apenas Yezzan zo Quaggaz ousou encará-la com olhos duros feito pedra.
- Parece que seu reino acabou - ele riu, mostrando dentes sujos de sangue.
- Nós tínhamos um trato – Daenerys o ignorou, a voz calma e profunda como um lago. No dia que recuperara Meereen, esperava nunca mais precisar olhar sua cara de doninha, mas ali estava ela. – Sem correntes, sem chicotes, sem escravos e você espalhando para o mundo o que aconteceu quando Daenerys Targaryen chegou a Baía com os seus dragões.
Ele abriu outro sorriso, dessa vez duro como os seus olhos.
- Eu só vejo um agora.
Dany se aproximou dele devagar, o suficiente para sentir seu hálito fedido contra a pele morna de seu rosto:
- Dois. Está diante de um deles, feitor. Abra seus olhos ou poderá se queimar, embora nem isso poderá salvá-lo – ele cuspiu no rosto de Daenerys, para surpresa de todos. E antes mesmo de passado o susto, as lanças dos imaculados estavam entre os dois e Daario o chutava no estômago, derrubando-o no chão.
- Puta! – Ele chiou, arfando de dor, enquanto os outros mestres se encolhiam um contra o outro – Quem você pensa que é? Você não passa de uma cadela invasora!
- E você não passa de um covarde traidor. Eu nunca devia tê-lo deixado viver!
Ao longo eles ouviram um estrondo quando as chamas de Drogon acertaram a pirâmide de Hazkar e momentos depois, parte dela desmoronou em uma ruína esfumaçada. Daenerys limpou o cuspe do rosto, sentindo o fogo queimando em seu estomago e a irritação do dragão. Um dos mestres havia urinado no tokar enquanto o fogo de Drogon engolia o resto de Hazkar.
- Nós assinamos um acordo de paz, todos nós. Vocês o quebraram quando recolocaram pessoas em correntes e assassinaram Razdal zo Naqqan. Irão pagar por isso.
- Nos disseram... que você estava morta - um dos mestres murmurou com o pouco de dignidade que lhe restava, um homem rechonchudo e empoado que fazia parte dos Sábios mestres de Yunkai.
Um silêncio caiu sobre as pessoas reunidas no terraço da Grande Pirâmide, foi Daenerys que o rompeu:
- As pessoas falam o que querem acreditar. Eu estou aqui. Eu voltei e voltarei quanta vezes forem necessárias. Ninguém voltará para correntes enquanto eu viver - rosnou.
- Você não tem o direito de nos julgar. O sangue da velha ghis merece um julgamento justo.
- Na verdade eu tenho, vocês romperam com o nosso acordo. Traficaram e acorrentaram pessoas, recolocaram meus libertos em correntes. Posso fazer com vocês o que eu quiser - a lividez no rosto deles lhe deu um pouquinho de satisfação – Mas deixarei que sejam julgados pelo seu próprio povo e ficarei aqui para garantir que as coisas ocorram sem maiores problemas – deixou a ameaça velada pairar no ar antes de completar - Serão acusados pelo assassinato de Razdal zo Naqqan e pelo pacto quebrado comigo – Voltou-se para Verme Cinzento e depois para Yezzan zo Quaggaz que continuava caído no chão – Quanto a você, seu julgamento serei eu. Eu, Daenerys da Casa Targaryen, a primeira de seu nome, Mãe dos dragões e Quebradoras de Correntes te sentencia a morte - as palavras queimaram em sua boca. Era a primeira vez que dizia aquilo de si mesma desde muito tempo. Gostava como soava - Nunca mais quero olhar para sua cara traidora - completou - Verme Cinzento, retire este homem da minha frente. Certamente ele não merece uma morte limpa. Coloque-o na muralha da cidade com as tripas de fora para que ele morra lentamente e para que todos vejam o que acontece com quem quebra a palavra com Daenerys Nascida da Tormenta.
E assim foi feito. Yezzan zo Quaggaz agonizou por cinco dias contra o arenito multicolorido da muralha de Meereen antes de finalmente morrer. Naquele meio tempo, Daenerys havia voado para Yunkai e Astapor em Drogon para conferir a situação da cidade amarela e da cidade vermelha de perto. Um levante sangrento havia atingindo ambas as irmãs assim que a notícia de seu retorno alcançou os astaporis e yunkaítas.
Os cativos não aceitaram suas correntes e pegaram em armas contra seus mestres. Um banho de sangue havia sido derramado nas ruas de ambas as cidades. Yunkai cheirava a morte quando Daenerys pousou com Drogon dentro de suas muralhas amarelas. Os libertos haviam tomado o controle da cidade e os mestres que sobreviveram eram agora seus prisioneiros. Os libertos a receberam emocionados com sorrisos e lágrimas nos olhos, os mestres, com cautela. Todos alegaram veementemente que haviam sido forçados pelos “acusados de Meereen” a retomarem com o tráfico e que toda a bagunça dentro da cidade era inconcebível.
- Fácil falar quando você segura o chicote – ela sibilou para o sábio mestre Grazdan mo Eraz em Yunkai, quando o homem teve a coragem de dizer aquilo na sua cara – Deve ter sido muito difícil para vocês.
- Fomos ameaçados.
- Yezzan zo Quaggaz é um de vocês.
- Um louco! Ele passou por aqui em busca de apoio para seus planos insanos e quando não o demos, voltou-se para Braavos como uma cadelinha com o rabinho entre as pernas, desonrando o sangue antigo da Velha Ghis . Mas muitos o seguiram e alguns deles se reuniram com os Grandes Mestres de Meereen para retomar a cidade das mãos do mercenário tyrosh. Os que aqui ficaram pegaram novamente em chicotes e em correntes, mas fugiram quando souberam que você havia voltado dos mortos.
- Eu não morri - ela mentiu.
- Para muitos de nós sim. Você saiu daqui para retomar o trono dos seus antepassados. Eu não vejo nenhum trono e soube que um rei aleijado se senta em seu lugar.
- As pessoas acreditam no que querem, eu acredito no que eu vejo e eu vi... meninos recém cortados em Astapor para se tornarem eunucos e belas meninas e meninos em sua cidade para serem treinados nos caminhos dos sete suspiros.
- Muitos já o eram, eles apenas...
- Foram recolados em coleiras de ouro, sim, eu vi – ele se encolheu diante da fúria fria em sua voz. Daenerys estreitou os olhos e um tufo de fumaça escapou das narinas de Drogon – Vocês perderam, sabem disso. Eles nunca aceitarão suas correntes novamente. Lutarão contra vocês até o fim e vocês nunca mais irão levantar o chicote contra quem quer que seja, nobre ou plebeu, serão sentenciados a morte se tentarem... e caso insistam... eu trarei fogo e sangue sobre as suas cabeças.
Depois disso nenhum dos Sábios Mestres sobreviventes fizeram objeções quando ela os convidou para comparecer a Meereen para o julgamento dos mestres capturados no acampamento. Ela voltou a cidade protegida pela escuridão da noite. Drogon estava agitado quando eles pousaram sobre a Grande Pirâmide e a deixou logo em seguida, voando em direção as ruínas de Hazkar. Naquela mesma noite, a pirâmide de Yherizan queimou e desmoronou e ele fez um ninho entre suas ruínas fumegantes. A chuva que caiu na manhã seguinte lavou a cidade e apagou a maior parte dos incêndios. Daenerys e Verme Cinzento atravessaram a cidade para ver se alguém havia sido ferido durante o comportamento agressivo do dragão. Daenerys tentou fazê-lo deixar Yherizan, mas só conseguiu ficar suja de fuligem e poeira. Drogon estava enrolado numa grande bola de escamas e espinhos negros e nem se deu o trabalho de olhar para a cara dela.
- Hazkar e Yherizan estavam abandonadas minha rainha, Daario Naharis massacrou seus moradores durante a revolta e depois isolou o local devido a égua descorada.
Daenerys baixou o rosto da chuva que lavava a fuligem e a poeira grudada em sua pele.
- Eu não entendo, ele nunca agiu assim, nunca atacou sem mim depois que eu o domei.
- Ele atacou pirâmides.
- Casas.
- Montanhas na perspectiva dele, Vossa Graça. Seus dragões gostavam de se enrolar em pedras, Drogon não é diferente.
Daenerys não estava convencida, ela sentia que alguma coisa estava acontecendo com Drogon, só não conseguia entender o quê.
- Se ele começar a queimar toda pirâmide que ver não poderei ficar aqui por muito tempo, não quero que ninguém diga que Daenerys Targaryen não consegue controlar o seu próprio dragão. Vamos logo com esse julgamento.
A carcaça de Yezzan zo Quaggaz apodrecia nas muralhas quando finalmente chegou o dia do julgamento que reuniu no mesmo lugar tanto nobres quanto plebeus de todas as partes da Baía dos Dragões. O lugar escolhido havia sido a Arena de Daznak, o mesmo local onde ela montou Drogon pela primeira vez. Daenerys gostaria de ter chegado montada nele, levantando poeira e cortando o vento, mas o dragão continuava em Yherizan, como uma mulher gorda e ambiciosa enrolada em suas joias.
Ela chegou a arena na companhia de Daario e Verme Cinzento, vestindo sua armadura de aço valiriano, a visão fazendo todos prenderem a respiração. Daenerys sentou-se num lugar de honra entre os dois homens que seguiam com ela e de onde estava, pode ver um mar de rostos zangados e felizes. Daario disse algumas palavras e logo em seguido os réus foram levados para a tribuna montada no centro da arena onde seriam interrogados, a presença dos acusados dividiu a arena entre vaias e silêncio pétreo.
Um a um eles foram ouvidos, assim como testemunhas capturadas por Daario no acampamento rebelde, como alguns feitores. Alguns mestres de Astapor e Yunkai também foram ouvidos, entre eles Grazdan mo Eraz, que assim como a maioria das testemunhas, discursou intensamente contra os atos rebeldes. O júri era composto por lideranças das três cidades, inclusive lideranças abolicionistas que estavam presentes para representar os interesses dos libertos.
Daenerys não tomou parte da decisão, ela havia abdicado de sua coroa quando navegara para Westeros e agora as três cidades da Baía dos Dragões pertenciam a seu povo. Mas não era segredo para ninguém no tribunal de que lado ela estava. Ela não participou do veredito, mas sabia que sua presença exercera um peso considerável na decisão final. Todos foram condenados por seus crimes e seriam executados conforme as leis de Meereen. Daenerys só se retirou depois que todos eles foram enforcados.
- Pensei que você mesma fosse matar todos esses idiotas – Daario comentou enquanto eles se retiravam de volta para a Grande Pirâmide.
- Eu gostaria – ela confessou enquanto eles andavam - mas os derrotei no momento em que desci dos céus com Drogon. Já houve mortes o suficiente e é bom que a cidade decida... é bom que os nobres vejam que houve justiça... é bom que sintam medo de mim. Que lembrem aonde reside o poder e ameaça. Eles mesmo condenaram seus pares, não há mais o que falar. Precisamos deles para que os libertos não morram de fome, para isso precisamos tê-los ao nosso lado, trabalhando conosco. Precisamos garantir que a próxima geração não tenha a mesma afeição por correntes. Vamos pedir gentilmente que as famílias dos culpados nos entregue reféns, vamos cria-los do nosso lado. É a última chance que darei a eles.
- Vou cortar o pau dos feitores.
- Eles ajudaram a condenar os mestres.
- Eles disseram que cortariam o pau de Daario Naharis.
- Eu sinto que você não está pedindo a minha autorização.
- Eu não estou – ele sorriu acariciando o par dourado de mulheres nuas e sensuais, que ornamentavam seu esguio punhal de Myr. Durante muito tempo, Daenerys sentiu-se atraída por aquele gesto. Não daquela vez, embora estivesse grata pela companhia dele.
A Grande Pirâmide era uma coisa monstruosa, com duzentos e cinquenta metros de altura e havia sido o lar de Daenerys na época em que ela se tornara rainha de Meereen. Daario havia insistido que ela ficassem em seus antigos aposentos, um lugar arejado e espaçoso que ficava na parte mais alta da pirâmide cujo cada centímetro a lembrava de Missandei.
Andara, a garota que ela havia comprado e libertado no acampamento a ajudou tirar a armadura e em seguida Daenerys se enfiou com um suspiro dentro das águas quentes da banheira, fechando os olhos e relaxando o corpo. A armadura valiriana era mais leve do que as armaduras comuns, mesmo assim ela ainda estava se acostumando com seu novo vestuário, seus ombros doíam e as costas também - mas me sinto mais protegida quando estou dentro dela.
Uma batida suave soou contra porta e ela abria os olhos quando Daario entrou. Por um instante, sentiu-se estranha, até lembrar-se como ele era ousado e tudo o que eles viveram no passado. No entanto, Daario parou a uma distância respeitosa da banheira onde ela estava afundada até o pescoço.
- Trouxe um presente para a mais bela das rainhas - em seus braços ele carregava um vestido de profunda seda azul – Você voltou usando uma bonita armadura, mas creio que ela não seja adequada para um banquete.
- É muita consideração a sua, se preocupar com o que eu vou vestir para as crias da harpia.
Ele abriu um sorrisinho sínico.
- Prefiro você como você está agora, mas temo não ser adequado.
- Um pouco de bom senso? - ela brincou.
- Não, eu sou egoísta mesmo - ele riu quando ela não disse nada – Vamos, Verme Cinzento também tem boas notícias – ele acenou educadamente e saiu em seguida, deixando o vestido para trás.
Daenerys deixou a banheira, secou-se e inspecionou o vestido que ele lhe trouxera. Era bonito... bonito demais. O tipo de roupa que ela usava quando era rainha de Meereen, embora discretamente sensual. Seu tecido suave escorreu pelo seu corpo como um jarro de água sendo derramado e repousou perfeitamente sobre suas curvas. Não queria saber como ele se lembrara daquilo, mas, de repente, sentiu algo dentro de si despertando lentamente, um tipo de vaidade esquecida. Um desejo de parecer bonita e radiante depois de tanto tempo. Uma vontade de aproveitar o momento e celebrar suas conquistas. Escovou seus cabelos até que eles escorressem como um rio de prata sobre seus ombros e depois encontrou Verme Cinzento e Daario a esperando no solar, onde ela costumava receber suas visitas. Benerro também estava entre eles, saboreando as doces tâmaras com mel de Meereen. Verme Cinzento assumiu uma postura dura quando a viu, como se a qualquer momento estivesse pronto para receber uma ordem. Daario por sua vez, se demorou, sem pudor, em seus quadris e seios antes de cravar os olhos em seu rosto. Também foi estranho sentir seu rosto queimando.
- Você está deslumbrante, Daenerys – Benerro comentou em tom espirituoso, quebrando a tensão.
- Ela sempre está – Daario fungou de cara fechada pro sacerdote.
Daenerys entrelaçou os dedos junto ao seu colo, sentindo de repente falta do anel de sua mãe que costumava ficar em um de seus dedos. O vazio em suas mãos a deixou desconfortável, porém algo mais urgente chamou sua atenção. Ela olhou para as arcas espalhadas pelo solar e depois desviou os olhos para os homens que a observavam.
- O que são essas coisas?
- Vossa Graça não as reconhece? – Verme Cinzento perguntou e pela primeira vez ela prestou mais atenção nas arcas. Aproximou-se de uma delas vendo o dragão de três cabeças de sua casa entalhado em ouro sobre a tampa de madeira, as escamas suaves espalhadas pela dimensão da caixa. Um bolo cresceu em sua garganta quando Dany tocou o dragão de três cabeças e enfim compreendeu o que estava diante dela.
– São as minhas coisas – ela sorriu, engasgou e chorou ao mesmo tempo, enquanto se ajoelhava para abrir a tampa da arca que guardava alguns dos seus vestidos.
- Carregamos tudo o que podemos carregar. Não deixamos nada do que você levou para trás. Não sabíamos aonde você estava, mas sabíamos que poderia nos encontrar caso estivesse... viva... Tínhamos esperanças...
Dany levou a mão a garganta, segurando novas lágrimas.
- Os livros... os livros que Jorah me deu de presente?
- Tudo, minha rainha – ele falou ferozmente, tentando sem sucesso controlar suas próprias emoções – Não poderíamos permitir que eles a violassem ainda mais, que suas coisas fossem roubadas ou insultadas. Trouxemos tudo conosco e as carregamos conosco como um tesouro. Usamos... Um pouco do ouro... Mas apenas o suficiente para sobrevivermos, mas muito de nós, prestamos serviços nesse meio tempo e ganhamos por isso então....
Ela havia andando até ele e o tocado no braço para tranquiliza-lo.
- Não precisa se justificar. Você é um bom amigo. Eu não me importo com o ouro. Não tenho palavras o suficiente para expressar o quanto eu estou grata por você ter poupado as minhas coisas. Quando eu era pequena, minha família perdeu tudo o que tínhamos, todas as joias, o ouro e as sedas. Todo o legado e toda a história. Isso significa muito para mim, serei eternamente grata, obrigada. Não sabe o quanto... me doía pensar em tudo sendo destruído...
- Eu não podia, não depois do que eles fizeram...
Um silêncio pesado caiu sobre o solar, seu desaparecimento ainda era uma incógnita para eles, com exceção de Benerro, Verme Cinzento e Daario ainda não entendiam o que havia acontecido. Os olhos de Verme Cinzento estavam duros, cheios de ódio e lágrimas petrificadas.
- Nós deveríamos tê-lo matado. Eu deveria. Deixá-lo viver foi um erro. Não sei aonde eu estava com a cabeça em concordar com um exílio para aquele traidor e sua corja de conspiradores.
Daenerys sabia. Pensou em Aisha e sua vela de vidro e nos sonhos que ela enviou para ele.
- Não sei o que ele fez a você, mas eu o odeio. Odeio todos eles.
- Jon Snow, ele...
- Ele a matou, não matou? – Daario perguntou friamente – Com a ajuda do anão, não foi? Esse sacerdote aí a trouxe de volta, foi isso que aconteceu? Você saiu daqui pra morrer, Daenerys?
Daeneryse Benerro se entreolharam brevemente.
- Aonde você estava esse tempo todo? – Daario quis saber.
- Volantis – ele não precisava saber do resto.
- Volantis?
Ela hesitou, mas sabia que podia confiar neles.
- É...fui levada por Drogon para o Templo Vermelho... Foi lá que eles me trouxeram de volta – um novo silêncio caiu sobre o solar, mais pesado do que o primeiro, era muito mais chocante ouvir a verdade em voz alta, até mesmo para ela. Era a primeira vez que falava sobre aquilo com alguém que não fosse Benerro ou Aisha.
- Então ele disse a verdade... – Verme Cinzento parecia decepcionado, mas não menos furioso.
- Depois que eu acordei...eu precisei...precisei de um tempo para me recuperar...de tudo... não foi fácil... – ela não conseguiu falar sobre Rhaenyra, ainda não...
- Eu posso imaginar que não – Daario sibilou, andando pela solar como uma pantera perigosa – Quando fiquei sabendo o que havia acontecido, meu primeiro impulso foi atravessar o mar e levar desgraça sobre aquele anão e os seus Sete Reino, a única coisa que me impediu foi a sanha dos Grandes Mestres, malditos.
- Eu fico grata, mas...queimei uma cidade inteira, não fiz bons amigos lá...
Daario a olhou como se estivesse a vendo pela primeira vez desde que eles se reencontraram.
- Jon Snow não a traiu por causa disso – Verme Cinzento retrucou.
- E o que importa? – Daario chiou - Eu disse a você, um rei ou é a carne ou é o açougueiro, uma rainha não é diferente. Eles a insultaram e a traíram.
Eu queimei crianças e as pessoas que eu queria proteger, não me parece ter sido certo. Daenerys respirou fundo:
- Eu sei que é difícil assimilar tudo o que aconteceu, mas... eu estou aqui e aqueles que me traíram irão pagar, eu prometo.
Verme Cinzento a olhou duramente.
- Vossa Graça pretende voltar?
- Eu irei voltar. Por Missandei, Rhaegal, Viserion e por todos os que eu perdi... eu irei voltar. Tomarei o que é meu e deixarei Westeros de joelhos – Jurou. Em seguida olhou dentro dos olhos de seu leal amigo e falou – Me encontre após o banquete, precisamos conversar... sobre o Rei da Noite.
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