História Sapphic Stories - Uma Exclusiva com Lily Saunders (A Atriz e a Jornalista)

 

Havia muitas muitas razões para não se embebedar com as pessoas com quem você trabalha, manter as coisas profissionais era uma boa estratégia como uma regra em geral. Hannah sabia disso e pelos seus primeiros meses trabalhando no site de entretenimento This is it ela tinha seguido essa regra. Mas aí Patrick o cameraman disse que ele ia pagar uma rodada pra todo mundo para celebrar o seu noivado com Lucas da contabilidade e parecia meio rude recusar essa vez, Patrick geralmente era aquele que a acompanhava quando ela ia fazer entrevistas, e também alguém que ela achava que podia ser um amigo realmente e não apenas um colega. 

Em retrospecto ela acha que ela deveria ter ido mas não bebido, porque infelizmente Hannah era o tipo de pessoa que fazia coisas idiotas quando ela bebia. 

Coisas como dizer “Sabe aquela atriz que todo mundo diz que vai ganhar o Oscar ? Não, eu não estou falando sobre Meryl Streep, tipo sim tem sempre uma chance da Meryl ganhar porque ela é Meryl, mas eu estou falando da outra, a jovem. Sim Lily. Lily Saunders. Eu costumava ser amiga dela” e aí quando eles não acreditaram nisso ela faz algo bem mais idiota ainda como convidar seus colegas ainda presentes no bar para o seu apartamento de um quarto e vasculhar seu armário até achar a caixa com as fotos que ela mantinha escondida e mostrar para todos os doze dos seus colegas de trabalho ela e garota it do momento sendo bem amigáveis. E aí acordar às seis da manhã seguinte com uma ressaca massiva, um monte de seus colegas de trabalho ainda presentes e dormindo em partes aleatórias do apartamento e basicamente toda a comida da geladeira não mais presente (e a que estava presente estava na forma de vômito também em partes espalhadas também em partes aleatórias do apartamento). 

Ela foi para a cozinha tomou um remédio para sua dor de cabeça e começou a catar os lixos espalhados. Ela ouviu o som de passos se aproximando, e ela viu alguns segundos depois Patrick na entrada da cozinha. 

“Eu acho que a celebração pro meu noivado acabou com a sua sala” ele disse. 

“Não apenas minha sala”

“Sinto muito”

“Tudo bem, não é todo dia que alguém fica noivo, vale a pena celebrar”

“Eu vou te ajudar a limpar. Vai ser um bom treino pra quando eu for um homem casado responsável” 

“Certo, eu vou aceitar” 

Eles recolheram o lixo e limparam o vômito no corredor. Agora só faltava a louça. 

Hannah lavava, e Patrick secava e guardava. Pouco após eles começarem ele perguntou :

“Então porque você nunca mencionou que você conhecia Lily Saunders ?”

“Você conta pra todo mundo sobre todo mundo que estudou na mesma universidade que você ?”

“Se eles estivessem prestes a ganhar um Oscar, sim eu falaria.” 

Hannah riu. 

“Então você só quer saber porque ela é famosa ou você é um fã ?” 

“É claro que eu sou um fã. Quem não ama Lily Saunders ?”

Por um momento Hannah ficou quieta. 

Então Patrick continuou :

“Então como vocês se conheceram ?”

“Faculdade. Eu já falei”

“Sim, mas são os detalhes que dão alma a uma história. Vamos, você é uma jornalista. Você sabe disso” 

“Tá. Foi numa festa. Em geral as pessoas dos cursos de humanas se davam bem e eu fui convidada pra essa festa do departamento de teatro uns três meses após o início do meu último ano. Algumas horas se passaram e eu estava cansada então eu estava prestes a ir de volta pro meu dormitório, mas aí eu notei esse babaca que eu conhecia que fazia administração falando com essa garota que eu não conhecia, e ela estava muito claramente desconfortável e ele claramente ou não estava se tocando ou ele estava gostando de deixar a garota daquele jeito, então eu andei até ela e disse ‘Ei nossa carona chegou, vamos’ e ela pegou a oportunidade imediatamente e foi comigo para fora da festa” 

“Eu já vi isso acontecer, minhas desculpas em nome do meu gênero”

“De qualquer maneira assim que nós estávamos fora da festa ela me agradeceu e disse que o nome dela era Lily e que ela era uma caloura, e nós começamos a andar juntas na direção dos dormitórios femininos, nós conversamos um pouco sobre coisas básicas, o que ela estudava, qual era a impressão dela da faculdade até agora, em cinco minutos nós chegamos e nos despedimos. E eu achei que seria apenas isso, mas aí no dia seguinte quando eu saí da aula ela estava esperando por mim do lado de fora da sala e ela disse que ela queria me pagar um café para me agradecer por salvar ela, eu aceitei e nós fomos e foi divertido”

“Isso é bem fofo”

“Eu também achei. E no dia seguinte ela estava lá de novo, e no que veio depois disso. Nós nos tornamos amigas e nós passamos boa parte daquele ano na companhia uma da outra, falando sobre bandas e vendo filmes. Eu não notei na época mas eu acho que ela estava realmente solitária, ela tinha se mudado de uma cidade pequena pra uma enorme sem conhecer ninguém e ela ainda não tinha feito amigos no curso dela, poderia ter sido qualquer um realmente”          

“Mas ainda assim ela escolheu você”

“Lily tem três irmãs mais velhas, eu acho que ela viu em mim algo similar”

“Sim, talvez. Então o que aconteceu, porque vocês não são mais amigas ?”

“Apenas o que acontece com quase todo mundo, eu me formei e eu consegui emprego em outra cidade e ela ficou por mais três anos eu acho pra completar o curso dela. Nós perdemos contato”

Hannah se sentiu grata por estar lavando a louça enquanto ela tinha essa conversa, por poder olhar para o copo e a esponja em suas mãos ao invés de para os olhos de Patrick. Mentir para alguém enquanto olhando eles direto nos olhos sempre sentia um pouco pior. 

“Mas ainda assim não explica porque você nunca mencionou ou postou alguma foto de vocês juntas, algo como uma throwback tuesday, poderia atrair um pouco de atenção pros seus artigos, as pessoas fazem isso o tempo todo”

“Eu não sei, pareceu ruim usar ela para isso. Tipo se fosse qualquer outra pessoa que eu conhecia do departamento de teatro que tivesse se tornado famosa eu teria feito, mas Lily sempre foi tão introvertida, tão privada. Eu realmente não entendia porque alguém assim ia perseguir atuação como uma profissão, isso até eu ver ela no palco. Eu costumava odiar Romeu e Julieta, isso até eu ver a Julieta dela. Ela tem uma paixão nela pela profissão apesar de não se encaixar tanto assim com a personalidade dela. Com a maioria dos atores esse papo de fazer pela arte é pura besteira para cultivar uma imagem profunda, mas com Lily era verdade. Eu realmente acho que ela se sentiria tão feliz fazendo peças em um teatrinho qualquer pra uma audiência de vinte pessoas do que fazendo filmes que vão pra todo mundo. Quando eu pensava no futuro dela eu sempre via ela em teatros, a primeira vez que eu vi um billboard com o rosto dela foi bem surreal”

“Eu imagino”

“Eu acho que nós acabamos aqui. Agora é esperar o resto do pessoal acordar”

“Não. Eles estão abusando” Patrick disse já pegando uma panela do armário e uma colher de pau e já começou batendo na direção da sala.

Sendo recebido por grunhidos e xingamentos dos colegas de trabalho. 

“Vamos todo mundo, nós abusamos da hospitalidade da Casa Novak o suficiente. É hora de ir” 

E aí seguido por mais grunhidos, mas dessa vez seguido pelo movimento de jornalistas, fotógrafos e designers se levantando, recolhendo seus pertences e indo na direção da porta.

“Obrigada” Hannah disse para Patrick pouco antes dele sair.

“De nada. Te vejo depois” ele disse fechando a porta e deixando Hannah sozinha no apartamento. 

Ela foi para seu quarto, segundo o relógio demoraria umas duas horas até que ela precisasse começar a se preparar pro trabalho então ela programou o despertador. Com sua cabeça contra seus travesseiros uma pergunta que Patrick fez continuou voltando para sua cabeça :

Quem não ama Lily Saunders ?

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Um pouco mais tarde, chegando no escritório Hannah viu que muitos dos seus colegas tinham vindo direto do apartamento para o trabalho, brevemente ela se sentiu grata por ter podido ficar um pouco mais na sua cama e ter tido tempo para tomar um banho antes de ir. Talvez o dia iria ser bom afinal apesar do começo um tanto auspicioso. 

Isso até ela chegar na sua mesa e ver um post it rosa na tela de seu computador com a frase : A Chefe quer te ver.

Provavelmente haveria um dia em que ela não se sentiria mais tão intimidada pela editora em chefe do site, esse dia no entanto não tinha chegado ainda. 

Ela se dirigiu até a sala e assim que ela chegou a secretária disse :

“Entre, ela está te esperando” 

Hannah bateu na porta de leve. 

“Quem é ?” disse a voz de dentro da sala. 

“Hannah. Hannah Novak, eu ouvi que você quer falar comigo” 

“Entre”

Hannah abriu a porta e encontrou Vanessa Harrisson, a editora em chefe, sentada atrás da sua mesa, seus olhos focados no celular em sua mão ao invés dela. 

“Bom dia Senhorita Novak, por favor se sente”

“Bom dia, do que isso se trata ?”

Sua chefe tirou os olhos do celular, olhou para ela e disse :

“Lily Saunders”

Hannah pausou por um momento, ela tinha certeza que a chefe não tinha ido para o bar junto com eles na noite anterior. 

“O que tem ela ?”

“Me informado que vocês duas costumavam ser próximas. Eu quero que você use essa conexão para nos conseguir uma entrevista” 

“Eu só conheci ela por um ano, na verdade nem um ano. Eu estava me formando quando ela era uma caloura, ela provavelmente nem se lembra de mim” 

“Ela se lembra. Eu já pedi a entrevista para a agente dela e ela disse sim” 

Por um segundo o mundo pareceu parar, e Hannah se encontrou completamente sem palavras. 

Sua chefe viu o silêncio como um sinal para continuar a falar :

“Ela está filmando em locação em uma cidade vizinha, ela concordou em falar com você as quatro amanhã. O carro vai levar você e Patrick para lá após o almoço, eu recomendo que você use o resto do dia pra preparar suas perguntas”

“Eu não posso pegar uma história nova, eu nem comecei minha análise do novo clipe da Gigi Bloom”

"Passe para Camila, ela pode fazer" 

"Eu não posso ir"

“Eu sei que é rápido, mas você dá conta”

“O tempo não é o problema. Nós não acabamos nosso contato nos melhores termos, certo ? As coisas ficaram estranhas entre eu e Lily no final” 

“Talvez ela queira se reconciliar, talvez ela sinta muito pelo jeito que as coisas acabaram”

“Se tem alguém que precisa se desculpar sou eu”

“Bem, então eu sugiro que você veja isso como uma oportunidade que o universo te concedeu de fazer isso” 

“Hugo e Marcia provavelmente vão ficar putos, eles que geralmente cobrem as reportagens de cinema, geralmente eu fico com música, eles vão achar que eu estou invadindo o território deles” 

“Acredite ou não eu sei quais matérias que os jornalistas do site que eu sou editora chefe fazem geralmente. E foi Marcia foi que me avisou sobre sua conexão com Lily Saunders. E mesmo que eles façam drama não importa, uma exclusiva com Lily Saunders não é algo que aparece todo dia. Ela é muito privada, ela não tem instagram, e ela só posta no twitter uma vez a cada seis meses e ela só dá pouquíssimas entrevistas, nem mesmo após a nominação ela deu uma apenas mandando um comunicado para a imprensa através da agente dela dizendo que ela se sentia honrada pela nominação. Se ela der uma pra gente é garantido que muita gente vai acessar para assistir, isso pode ser ótimo para o site e para você pessoalmente”

Hannah se deu por vencida.

“Certo, eu vou começar minha pesquisa” 

“Bom ver que você entende”

Hannah voltou para sua mesa resignada a seu destino, tentando gravar aquele momento em sua mente como uma lição porque ela não devia ficar bêbada ao redor dos outros. Porque quando Hannah ficava bêbada, ela fazia coisas idiotas como contar coisas que ela não devia, convidar metade do escritório para sua casa...e tentar beijar garotas hétero. 

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Tinha acontecido faltando pouco mais de uma semana para ela se formar, em geral Hannah considerava isso uma benção porque ter que aguentar anos de tensão estranha e Lily evitar ela teria sido insuportável. Dez dias foi apenas doloroso e triste.

Durante a maior parte do ano ela tentou muito não se apaixonar por Lily. Ser algo como uma irmã velha legal, ou uma mentora de algum tipo, uma amiga que sabia um pouquinho mais sobre vida do que ela e podia ajudá-la durante aqueles turbulentos primeiros anos da vida adulta, algo platônico e simples. Mas o problema era que irmãs mais velhas em geral não sonhavam em como seria beijar suas irmãzinhas. 

Mas tudo bem, era apenas uma queda idiota por uma garota que não gostava dela desse jeito, ela tinha tido essas antes e o melhor a se fazer era apenas esperar passar, ficar com outras garotas e outros garotos ver se talvez sentimentos por alguém com quem ela tivesse alguma chance surgiram, e no fim ela teria apenas uma bela e pura amizade com a garota mais doce que ela já havia conhecido. 

Ou ao menos esse era o plano até ela arruinar tudo na última noite do Festival de Inverno. 

O departamento de teatro geralmente organizava uma peça de Shakespeare por ano para ser apresentada no final do festival, naquele ano foi Romeu e Julieta e para o ódio da maior parte das alunas do curso de teatro Lily foi escolhida para interpretar Julieta. Isso levou a um pequeno boicote da parte dos outros alunos achando que era injusto dar um papel principal para uma aluna do primeiro ano. O boicote se deu na forma de gelo dos outros alunos e de recusas para ensaiar suas falas com ela exceto durante o ensaio oficial semanal na presença de seus professores, e qualquer um que fosse visto quebrando o boicote e ajudando ela receberia um tratamento similar. Então pelo mês que precedeu a apresentação quase todas as noites Lily ensaiou suas falas com Hannah. No começo ela reclamou um pouco da escolha de peça, que ela preferia muito mais que fossse Muito Barulho por Nada ou Hamlet, Hannah tinha lido Romeu e Julieta no ensino médio e tinha detestado achando uma peça idiota sobre adolescentes idiotas agindo como idiotas porque eles ficaram cegos por hormônios. 

Durante aquele mês ela ganhou um pouco mais de apreciação pela peça, Mercutio em particular se tornou um de seus personagens favoritos. 

Mas ela achou que ela não entendeu a peça completamente até a noite da apresentação quando ela viu Lily no palco. Porque sim Romeu e Julieta eram jovens e idiotas, e eles estavam apaixonados daquele jeito avassalador que só acontece quando você é jovem e idiota. E eles não mereciam ser punidos por isso, eles mereciam a chance de viver aquele amor sem a interferência do ódio e violência perpetuados por suas famílias. 

Talvez Romeu e Julieta era o tipo de peça que você não conseguia apreciar completamente a não ser que você já tivesse se apaixonado desse jeito também. 

E ela estava. Não era apenas uma queda, não ia passar tão facilmente. 

Pelo resto da apresentação ela se encontrou movendo sua boca de acordo com as falas de Romeu durante a peça. E quando o ator fez a cena em que Romeu tentava sugar restos de veneno dos lábios de Julieta com um beijo ela imaginou que eram seus lábios contra os de Lily, ela se permitiu fantasiar isso até as cortinas se fecharem e os aplausos começassem e as luzes se acendessem. 

Então ela iria até a Lily e agiria como se nada tivesse mudado em seu coração. 

E ela fez isso, ela bateu palmas. E depois foi até os bastidores lhe parabenizar. Mas quando elas chegaram na festa do elenco um pouco depois ela teve que se afastar, ficar perto de Lily agora sentia errado, atração era fácil, amor não era. 

Alguns dos alunos da turma de Lily vieram falar com ela lá a parabenizar por ter representado a turma tão bem, pelo jeito o boicote finalmente tinha terminado. Hannah usou isso como uma oportunidade para se afastar. 

Ela pegou um ponche e outro e outro. Na fila ela começou a falar com um dos estudantes de jornalismo, um que estava alguns semestres antes dela. Ela já tinha falado com ele antes e nessas ocasiões ela o achou engraçado e até meio charmoso, mas agora ele apenas parecia chato. Mas Hannah não tinha certeza se ele era mesmo chato ou se essa era sua opinião simplesmente por ele não ser Lily. 

Ela estava prestes a fingir receber uma mensagem urgente de celular pra se livrar da conversa quando Lily apareceu e disse :

“Hannah nossa carona chegou, vamos” ela disse oferecendo sua mão e Hannah a pegou. 

Quando elas estavam do lado de fora Lily se aproximou da sua orelha e sussurrou : 

“Deja vu” 

“O que ?” 

“Sabe daquela primeira noite, quando você me salvou”

“Sim, eu acho que nós estamos quites agora”

“Nós nunca vamos estar quites”

“O que você quer dizer com isso ?”

“Que esse ano, essa cidade, teria sido um inferno se eu não tivesse te conhecido. Antes de te conhecer eu estava honestamente pensando em desistir do curso. E aí você apareceu e este se tornou um dos meus melhores anos da minha vida” 

“Você está exagerando” 

“Não, eu não estou” Lily disse e segurou as mãos de Hannah entre as suas “E eu não sei como eu vou aguentar no próximo ano, eu vou sentir a sua falta tanto, eu já sinto a sua falta” 

E havia lágrimas em seus olhos. E havia amor. E por um segundo Hannah achou que havia desejo. 

E um segundo foi o suficiente. Porque ela se inclinou e beijou Lily. 

Pela sua experiência geralmente quando uma garota hétero é beijada por outra garota há três reações típicas, algumas beijam de volta pensando como uma aventura, outras dizem que elas sentem muito mas que elas não te veem dessa maneiras, e há aquelas que congelam. 

Lily foi uma das que congelou. 

Ela apenas parecia assustada, e Hannah também estava. Ela abriu sua boca para começar a se desculpar quando Lily correu para longe dela, correu e correu enquanto Hannah ficava parada observando. 

No próximo dia ela tentou se desculpar de novo, indo até o prédio do departamento de teatro e esperado por Lily sair de uma das suas aulas. Mas quando Lily saiu da sala e seus olhos se encontraram por um momento, ela imediatamente ficou com uma expressão de pânico e voltou para dentro da sala. 

E Hannah entendeu que se desculpar não adiantaria. Estava arruinado. Lily provavelmente achava que toda a sua amizade era uma mentira, apenas um plano elaborado de sedução dessa mulher gay mais velha e luxuriosa que queria levar uma jovem ingênua para o mal caminho. Você pode se encaixar no estereótipo de lésbica predatória quando você na verdade é bissexual ? Hannah não tinha certeza. 

Ela também não tinha certeza se importava. 

Pelos seus últimos dias na faculdade ela não procurou Lily de novo, e tão pouco foi procurada por ela. No dia da sua formatura quando ela foi chamada para pegar seu diploma ela achou ter visto Lily de longe no fim do auditório olhando para ela. Mas quando ela olhou novamente Lily não estava mais lá. 

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Na manhã da entrevista Hannah acordou sem uma ressaca e com seu corpo se sentindo perfeitamente bem, mas sua mente em tumulto. Porque a agente de Lily tinha dito sim para a entrevista ? 

O mais provável é que ela tivesse perguntado pra Lily e ela tinha dito sim. Mas isso só levava a mais um monte de perguntas. 

As horas que seguiram o seu despertar passaram tortuosamente devagar. Hannah preencheu essas horas reassistindo algumas das outras entrevistas que Lily tinha dado ao longo dos anos, primeiro para garantir que ela não perguntaria nada que já tivesse sido perguntado em excesso segundo para simplesmente se acostumar a ter o rosto de Lily na sua frente novamente. 

Um pequeno segredo seu é que ela nunca tinha visto nenhum dos filmes de Lily, ela até havia tentado algumas vezes, mas toda vez que o rosto dela aparecia na tela tudo que ela conseguia pensar era nas circunstâncias que tinham acabado sua amizade. 

Pouco após o meio dia o carro apareceu para levar ela e Patrick para a cidade onde o novo filme de Lily estava sendo filmado. 

Patrick conseguiu cochilar um pouco na viagem, Hannah ficou acordada e alerta tentando em vão se concentrar na paisagem ao redor da estrada ao invés do que a aguardava no final daquela jornada. 

Eles apresentaram suas credenciais para o porteiro e foram para o local indicado por ele. La esperou encontrar um dos assistentes de produção que lhe diria para esperar um pouquinho, e o pouquinho provavelmente seria umas duas horas, como tinha sido com a maior parte de entrevistas com músicos que ela tinha feito ao longo de sua carreira. 

E havia alguns assistentes de produção presentes, mas também havia Lily. 

Lily ainda parecia mais nova do que ela era, apesar dos vinte e cinco anos ela ainda era frequentemente escalada como uma adolescente em filmes. Mas para Hannah que na verdade tinha a conhecido quando ela estava saindo da adolescência, agora ela parecia razoavelmente mais velha, seu rosto tinha afinado um pouco e seu corpo tinha ganhado um pouco mais de curvas. Mas a principal diferença era seus olhos, agora estes pareciam diferentes, não velhos exatamente, mas mais sábios talvez. 

“Olá Hannah” Lily disse. 

“Oi” Hannah disse. 

Por um segundo Lily se moveu como se fosse abraçá-la, mas aí ela parou e lhe estendeu a mão ao invés disso. E Hannah a segurou. 

E era estranho. Tão estranho. Certamente apertos de mão não deviam durar tanto tempo ? Certo ?

Felizmente Patrick disse :

“Prazer em conhecê-la. Grande fã. Você tem alguma preferência de local para a entrevista ?”

“Sim ! Uma das nossas assistentes de produção ajeitou uma área para esse fim” Lily disse e só aí largou a mão de Hannah. 

“Você poderia nos mostrar onde é?” Hannah perguntou. 

“Sim. É claro. Venham comigo” Lily disse indo por um dos corredores, e eles seguiram. 

Eles chegaram em um espaço com duas poltronas brancas com um fundo azul. 

“Isso vai funcionar. Hum, geralmente eu monto duas câmeras pra entrevistas desse tipo eu coloco duas câmeras se focando em cada rosto, mas nesse cenário específico eu acho que seria mais interessante enquadrar vocês duas no mesmo frame. O que vocês acham ?”

“Tudo bem por mim” Lily disse. 

“O que quer que você ache melhor, eu confio no seu julgamento” Hannah disse. 

E ele começou a montar o equipamento enquanto as duas ficavam paradas esperando, Hannah considerou pegar o seu celular e fingir mandar texto com alguém para evitar ter que falar com Lily. Mas antes dela pegar, Lily disse :

“Eu sinto muito por ter feito vocês virem até aqui. Eu queria ir a cidade para a entrevista mas me foi me dito bem claramente que isso atrapalharia todo o nosso cronograma de filmagens" 

“Tudo bem, é bom sair da cidade as vezes...você sabia que era eu que faria a entrevista ?”

“Sim, eu vi algumas entrevistas suas, eu gostei daquela com o Kyle de Everest que saiu dois meses atrás” 

“Então você ainda é uma fã de Everest ?”

“E você não é ?”

“Eu nunca fui uma fã, eu apenas gostava de algumas músicas e eu achava que o baterista deles era sexy. Ainda acho, você viu a campanha pra calvin klein que ele fez ?”

“Não realmente. Eu ouvi a respeito”

“Procure e me agradeça depois”

“Eu não acho que seria do meu interesse na verdade”

“Então eu assumo que Matt o psicopata ainda é o seu favorito”

Essa era uma das coisas que ela mais costumava brincar a respeito na época, Matt um dos vocalistas da banda e o favorito de Lily, na opinião de Hannah era apenas bonzinho demais, perfeitinho demais, fazia ela pensar que ele provavelmente estava escondendo um lado negro, o que levou a um um monte de brincadeiras a respeito dele secretamente ser um serial killer que quando criança afogava cachorrinhos para se divertir. Lily sempre reclamava quando ela fazia essas brincadeiras, mas as vezes ela ria enquanto ela fazia isso. 

“Sim Matt, o não psicopata, ainda é meu favorito” 

“Talvez nós poderíamos fazer uma concessão e chamar ele de Matt, o Schrödinger psicopata”

“Não” Lily disse rindo. 

“Vamos, segundo o FBI há um total de cinquenta serial killers ativos nos Estados Unidos, nós temos certeza absoluta que Matt do Everest não é um deles ?”

“Sim, nós temos”

“Eu estou apenas dizendo que caso na sua vida de famosa você conheça ele, não deixe ele te levar para um segundo lugar”

“Ele é bem melhor do que o Nate, o seu favorito, eu nunca entendi porque você sempre defendeu ele”

“Bem nós bissexuais idiotas precisamos defender uns aos outros. Comunidade baby”

“Ele nem estava fora do armário na época em que a banda estava ativa”

“Sim, mas eu sei lá, eu me identificava com ele. Quando a entrevista da Vanity Fair saiu eu não tive um momento de choque mas sim de algo como : Oh é por isso que eu gosto de você, agora tudo faz sentido”

“Eu acho que eu entendo”

Naquele momento Patrick limpou a garganta para chamar a atenção das duas. 

“Já está tudo pronto, nós podemos começar” 

As duas se sentaram nas poltronas e elas começaram a falar sobre a temporada de prêmios, seus projetos mais recentes, sobre a falta em Hollywood de diretoras femininas comandando grandes projetos, filmes da Disney, o império de mídia de Rupert Murdoch, e um pouco de Everest também porque Hannah não conseguiu resistir a tentação de fazer a atriz super séria Lily Saunders falar em câmera sobre seu amor por boybands. Ao contrário do que ela tinha temido a caminho dali, a entrevista simplesmente fluiu com ela raramente tendo que parar para olhar suas notas e roteiro para entrevista. Nos dias antigos geralmente era assim também, um assunto puxava o outro facilmente. 

Após de mais de meia hora gravando Hannah decidiu que já era o suficiente, a maioria das gravações não duravam mais de dez minutos. Após Patrick terminar de desmontar o equipamento Hannah disse :

“Obrigada pela entrevista, eu acho que vai ser muito bom para site”

“De nada”

“Foi bom te ver de novo, adeus Lily”

“Hum...vocês querem uma tour do set ? Pode ser bem divertido”

“Eu não tenho certeza, nossa chefe provavelmente vai querer que a gente edite a filmagem e poste ainda hoje”

“Por favor fique. Eu não te vejo há tanto tempo. Apenas um pouco mais, por favor”

“Certo. Nós podemos fazer uma tour eu acho” 

Os três foram para ao set de filmagem, no caminho Patrick continuou dando olhares meio curiosos na direção de Hannah e Lily, ela não tinha certeza se era porque ele não entendia o que estava acontecendo ou se era porque ele entendia um pouco demais. 

Ela até achou que ele ia lhe perguntar algo a respeito, mas no instante em que eles chegaram no set de filmagem Patrick ficou encantado com as câmeras presentes no local, Hannah não via o porque daquela animação toda mas segundo ele o equipamento era muito impressionante, e ele foi falar animado com um dos outros cameramans presentes. 

Os olhos de Hannah percorreram o estúdio, era um lugar interessante, e era muito estranho pensar em Lily naquele lugar.

“No que você está pensando ? ” Lily perguntou. 

“Apenas que eu nunca achei que você acabaria fazendo filmes. É bom que esse tenha sido o caso mas quando eu pensava em você eu sempre te visualizava fazendo teatro”

“Eu amo teatro, eu gostaria de voltar pra teatro um dia. Provavelmente eu vou quando as pessoas se cansarem de mim. E foi teatro que me trouxe ao cinema. Eu fui escalada pra interpretar Diana nessa produção Off-Broadway de Next to Normal e Phillipa Martin estava lá e ela achou que eu ia ser boa para o papel da irmã da protagonista desse filme que ela estava escalando”

“Eu gostaria de ter visto. Next to Normal sempre foi meu musical favorito”

“Eu sei. Eu quase te convidei. Eu até cheguei a escrever um email, escrever e reescrever ,mas eu não mandei”

“Porque não ?”

“Eu não tinha certeza se você queria me ver” 

“Tem algum lugar que a gente possa falar em privado ?”

“Sim, eu tenho um camarim” 

Ela foi na direção que Lily indicou, se Patrick notou que elas tinham saído ela não tinha certeza. O camarim ficava no final do corredor e havia uma estrela com o nome de Lily na porta. 

Elas entraram e aí elas estavam sozinhas. 

E as coisas estavam estranhas de novo, até mais estranhas do que durante o aperto de mão que durou um século. 

“Eu-” as duas começaram a dizer mas pararam. 

Quando Lily não voltou a falar Hannah disse :

“Vá em frente. Continue”

“Eu sinto muito pelo que eu disse, e por ter te feito ficar após a entrevista, eu não queria te deixar desconfortável e agora é claro que eu fiz isso” 

“Eu sinto muito também”

“Porque ? Você não fez nada de errado hoje”

“Não hoje, eu estou falando sobre cinco anos atrás. Naquela noite eu estava bêbada, e eu sei que essa é uma péssima desculpa. Mas você devia saber que naquele momento eu realmente achei que você queria que eu te beijasse, e eu estava errada, e eu sinto muito por isso ter acabado com a nossa amizade”

“Você não estava errada” Lily disse suavemente olhando para baixo. 

“O quê ?”

Lily levantou seus olhos e disse mais claramente :

“Você não estava errada. Eu queria que você me beijasse. Eu não estava pronta para que você me beijasse, mas eu queria. E quando eu recrio aquela noite na minha cabeça, e eu faço isso bem frequentemente, eu sempre te beijo de volta. Sempre. As vezes eu até esqueço que não foi isso que aconteceu”

“Mas na realidade você não beijou” 

“Eu sei. Mas-”

“Eu devia ir, eu já fiquei aqui tempo demais” Hannah disse e saiu do camarim, deixando Lily sozinha lá. 

Ela andou até o final do corredor e aí parou. 

Lily queria ser beijada por ela naquele dia. Isso sozinho deveria ser o suficiente para lhe trazer um pouco de paz. Ela podia voltar para o seu trabalho agora, ela já tinha feito o que ela tinha vindo ali para fazer. Ela podia voltar para o seu trabalho e sua vida de sempre. E passar o resto da sua vida recriando esse dia em sua mente se perguntando o que Lily quis dizer com aquilo. 

Hannah percorreu o corredor de volta ao camarim sabendo que ela nem podia culpar o álcool desta vez, ela estava completamente sóbria em plena luz do dia. Era apenas ela mesma, seu coração cansado e as coisas que este lhe dizia que precisava para ser feliz. 

Quando ela abriu a porta, ela achou Lily sentada no sofá. 

Havia lágrimas nos seus olhos, havia amor, havia desejo e Hannah achou que ela podia ver esperança também. 

“Você disse que você não estava pronta naquela época. Isso significa que você está pronta agora ?” 

“Sim, eu estou” 

Pela segunda vez na sua vida Hannah Novak beijou Lily Saunders. 

E desta vez ela foi beijada de volta. 

 

FIM