Allison desceu a escada e encontrou Lydia olhando a chuva cair pela janela. Ela conseguiu sentir a tristeza e angustia da amiga, assim que bateu os olhos nela. Lydia estava agindo estranhamente desde que chegou de sua misteriosa saída após a aula. Quando se aproximou, Allison percebeu que Lydia segurava algo.
— O que é isso? — perguntou ela.
Lydia virou-se para Allison e viu que ela se referia a rosa negra em suas mãos.
— Ah, isso? — ela mostrou a rosa — Eu encontrei perto do hospital.
— É linda... — Allison pegou a rosa de Lydia — E de verdade? — disse transformando sua frase de exclamação em interrogação.
— Eu pesquisei sobre o assunto e parece que existem.
Allison devolveu a flor para Lydia que voltou sua atenção para forte chuva. Ela ainda não havia perguntado o que estava acontecendo à Lydia. Lydia acreditava que a amiga, estava respeitando sua decisão de não dizer nada sobre o assunto. Afinal em que tipo de problema Lydia poderia se meter em uma semana, o tempo que ela havia acordado do coma? Allison devia estar pensando que se tratava de saudade dos pais que a esqueceram.
Desde que acordará de seu sono de seis meses, a lista de problemas de Lydia Martin só aumentava: Conversar com um pervertido que está em coma. Feito. Ver a mãe morta da amiga. Feito. Ser esquecida pelos pais. Confere. Sentir uma forte ligação pelo pervertido em coma e depois deixá-lo desaparecer do hospital. Duplo feito.
Um clarão iluminou todo o quintal, Lydia se surpreendeu quando viu um vulto no quintal, depois veio o som do trovão. Ela arregalou os olhos e se afastou da janela. Allison se aproximou e abraçou a amiga.
— Calma! É só um trovão — ela alisou o braço da amiga.
— Allison? — Lydia chamou a amiga que olhou em seus olhos — Você acredita em fantasmas?
Allison levantou uma sobrancelha.
— Fantasmas? — ela olhou para cima e depois voltou seus olhos à Lydia —Acho que sou leiga no assunto.
Lydia fechou os olhos assentindo e se aproximou da amiga pedindo um abraço. Ela abriu os olhos e viu a Victoria Argent perto da escada as encarando. Mas apesar de olhar para a filha, ela não parecia nada feliz.
— Eu vou dormir — disse enquanto se desgrudava de Lydia — Você vem?
— Eu vou ficar mais um pouco.
Lydia observou enquanto Allison passava frente a Victoria Argent. Ela parecia furiosa com a filha, mas Lydia acreditava que ela não poderia fazer mal algum a ela. Victoria a seguiu até o andar de cima. Lydia voltou sua atenção para o quintal procurando o vulto que vira anteriormente, mas não havia mais nada então ela suspirou aliviada.
Ela subiu a escada e foi para o quarto de Allison que acabava de se deitar. Ela deitou-se no cochão ao lado da cama da amiga e virou-se para o lado oposto dela.
— Lydia, está tudo bem? — perguntou Allison também virada para o lado oposto.
— Não — disse ela seca — Mas vai ficar.
Tudo estava escuro. Lydia olhou para as palmas de suas mãos e depois as virou olhando a cima delas. Ela podia ver apenas seu corpo que estava sendo refletido por uma luz interior. Todo o cenário começou a mudar, de repente ela estava no carro junto de Stiles que conversava ao celular.
— Eu chego aí em alguns minutos — disse Stiles.
— O que está acontecendo Stiles? — Lydia perguntou assustada.
Ela não obteve uma resposta, Stiles não estava a vendo e muito menos a ouvindo. Ele não fez nada além de esperar a outra pessoa no celular falar alguma coisa.
— Não se preocupe. Esse vai ser o dia mais feliz de nossas vidas — disse o garoto ao volante.
Lydia olhou para fora do carro e reconheceu aquela pista. Era a mesma que Allison e ela passariam se não tivessem se acidentado. Foi aí que ela entendeu. De alguma forma ela estava na noite do acidente, só que de outra perspectiva.
Ela tentou tocar o ombro de Stiles, mas assim como esperava, foi em vão. Sua mão atravessou o corpo dele como se ela fosse algum tipo de holograma. Ele estava há alguns metros de um acidente e ela não podia fazer nada.
— Stiles para o carro! — gritou ela.
Os faróis de um carro à frente aumentaram incontrolavelmente. Lydia abriu os olhos e escutou o som dos pneus cantando da freada se juntar com o som do trovão. Ela tinha acordado, mas não estava em sua cama e sim de volta ao cenário onde só existia escuridão. Ainda a única coisa que podia ser vista era seu corpo.
Novamente o cenário escuro começou a tomar formas e se transformar em outro cenário. Logo Lydia Martin estava em um cemitério. As estatuas de anjo eram assustadoras e pareciam estar olhando para ela. Longe de onde estava, Lydia pode ver um grupo de pessoas realizando um velório. Todos estavam vestidos de preto e ela não conhecia nenhum deles.
Ao perceber que assim como Stiles, ninguém podia a ver, ela correu até o túmulo aberto para ver quem estava na cova.
Antes que ela pudesse chegar, uma força maior a puxou e então ela se viu novamente no quarto de Allison. Ela se levantou assustada e acabou acordando Allison.
— O que foi Lydia? — perguntou ela meio sonolenta.
— Nada só um pesadelo.
Allison se sentou na cama.
— Sabe Lydia — ela começou — Depois do acidente eu frequentei uma psicóloga por quatro meses.
Lydia deu de ombros.
— Talvez você devesse fazer o mesmo — disse Allison não desistindo da amiga.
— É. Talvez eu devesse — disse ela enquanto voltava a fechar seus olhos.
Na manhã seguinte Lydia desceu para a cozinha e encontrou Allison comendo cereal com leite. Ela sorriu para a amiga.
— Bom dia!
— Bom dia! — ela terminou de engolir o cereal — Você pensou sobre a psicóloga?
— Sim, eu vou marcar um horário com ela e ver no que vai dar — ela puxou uma cadeira e se juntou a Allison à mesa.
— Que bom — Allison sorriu sem graça — Porque eu marquei um horário para você — ela entregou um papel para Lydia.
— O que? — ela pegou o papel — Você marcou sem me consultar?
— Tecnicamente eu te consultei antes — ela piscou para Lydia — Eu só não esperei sua resposta.
— Mas esse é no horário da aula — lamentou Lydia.
— Tudo bem, depois é só levar uma declaração que você estava numa psicóloga.
Lydia sentou-se aguardando ser chamada pela Dra. Morrell. A recepcionista mastigava um chiclete fazendo um barulho muito desagradável. A cada vez que ela mastigava, Lydia sentia-se um passo a mais de voar na garganta dela e ensiná-la a mastigar um chiclete com a boca fechada, mas não demorou muito e a recepcionista a mandou entrar.
A doutora estava sentada em uma cadeira de rodinhas com as pernas cruzadas em seu consultório que mais parecia uma sala de visitas.
— Bom dia Lydia! Pode se sentar — disse a Dra. Morrell mostrando o sofá com a cabeça.
Ela se sentou e colocou as mãos entre as pernas. A doutora não disse nada e nem Lydia. Depois de alguns segundos de silêncio com Lydia olhando freneticamente para os lados sem realmente saber para onde olhar, a psicóloga finalmente abriu a boca.
— O que está acontecendo? — disse ela entrelaçando seus dedos e apoiando o queixo.
— Ah, você sabe. Só o de sempre — ironizou Lydia —Teve um acidente, eu entrei em coma, acordei, meus pais viajaram antes de eu acordar.
A Dra. Morrell olhou fixamente para Lydia com desaprovação e depois anotou alguma coisa em seu caderno. A feição indiferente da psicóloga incomodava a garota mais do que a recepcionista mastigando aquele chiclete com a boca aberta. De repente ela tinha se arrependido de ter aceito ir a essa psicóloga. Afinal se Lydia contasse a história real para ela, acabaria com uma roupa de força em um manicômio.
— Me desculpe — disse Lydia se levantando do sofá.
O fato de não estar preparada para conversar com ninguém foi a causa do arrependimento eminente de Lydia. Ela saiu do consultório correndo e só parou quando se viu na calçada há um quarteirão do consultório da psicóloga. Voltou a caminhar normalmente como se nada tivesse acontecido.
Haviam algumas poças d’água da chuva do dia anterior na calçada e na rua. Algumas pessoas que passavam seguravam guarda-chuvas e estavam bem agasalhados. Do outro lado da rua, Lydia viu Derek Hale com as mãos no bolso de seu casaco. Ela olhou para o rosto dele e percebeu que ele estava com a mesma cara trancada do outro dia. Talvez fosse do feitio dele.
Ela aumentou os passos e atravessou a rua para encontrá-lo.
— Ei! — gritou ela acenando com a mão.
Derek olhou diretamente para ela e depois aumentou os passos fingindo que não a viu, mesmo sendo claro que ele tinha visto ela.
— Que rude! — disse ela colocando as mãos na cintura.
Lydia correu até ele e quando alcançou seus passos, ela começou a caminhar a seu lado.
— Bonito dia, não? — ela sorriu ironicamente.
Derek devolveu um sorriso amarelo a ela.
— Ei, qual o seu problema? — ela franziu a testa — Eu só quero saber mais sobre a sua ligação com o Stiles.
Silêncio. Ele não respondeu nada à Lydia. Lydia olhou para baixo e viu que havia barro seco nos sapatos de Derek com alguns pedaços de folhas de grama grudado nele. Ela juntou as peças. Sentiu-se ameaçada por um momento, parou de caminhar e o deixou seguir seu caminho, mas a vontade de saber o que ele estava fazendo lá, era maior do que seu medo. Então ela voltou a segui-lo.
— Você estava no gramado da Allison ontem à noite. Não estava?
Derek congelou.
— Eu sabia! — Lydia concluiu.
Ele se virou e lançou um olhar frio para Lydia que congelou.
— Você não sabe com quem está se metendo — ele franziu os olhos — Ou melhor, você não sabe com “o que” está se metendo.
Ela não conseguiu fazer mais pergunta, apenas observou enquanto Derek se distanciava. Sentiu gotas pingando em seu corpo e logo a chuva começou a cair novamente. Apesar de estar na chuva e longe de casa, ela só conseguia pensar se Stiles estava seguro e seco.
A chuva já havia parado quando Lydia chegou a sua casa, mas ela continuava ensopada. Subiu para o quarto, tirou a roupa e enrolou uma toalha a seu corpo. Allison havia saído com Scott. Seus mimos com Lydia haviam acabado assim que foi dispensada na noite anterior para sair com o namorado. Tudo que Allison precisava era de ter certeza que a amiga poderia se cuidar sozinha.
Lydia deixou a toalha cair em seus pés, perna por perna, entrou na banheira, deslizou escorando a cabeça na banheira e fechou os olhos para finalmente relaxar. A água estava tão quente e perfeita que fazia Lydia querer ficar ali para sempre.
Seus olhos começaram a ficar pesados e a demorar mais para abrir depois de cada piscada. Lydia os fechou definitivamente até ficar desacordada.
— Droga — praguejou Lydia —Estou aqui novamente!
Lydia se viu no cenário escuro e vazio de sua mente. Ela começou a caminhar sem rumo até sentir pisar em um gramado. As paisagens começaram a aparecer, revelando que Lydia estava novamente no cemitério. Ela viu as mesmas pessoas ao redor deu uma cova.
— Eu preciso ser mais rápida desta vez — disse ela que começou a correr.
Quando chegou à cova, ela encarou todos que pareciam tristes e reconheceu algumas pessoas. Sua mãe estava de óculos escuros e com um lenço abafando o choro. Um pouco mais atrás estava Derek com um sorriso perverso olhando diretamente para ela. Ele parecia ser o único que podia realmente vê-la.
Lydia virou-se lentamente para a cova onde viu ela mesma com as mãos sobre o peito. Sua mãe se aproximou do buraco e jogou um pouco de terra que segurava e depois voltou para mais uma sessão de seu profundo choro no ombro de uma das pessoas desconhecidas. Após sua mãe se afastar, Derek se aproximou, olhou para Lydia do túmulo, depois para a verdadeira Lydia e mostrou uma rosa negra que segurava. Era idêntica a que ele havia deixado para Lydia no estacionamento do Hospital. Ele soltou mais um pouco de seu sorriso maquiavélico e então jogou a flor no túmulo.
Lydia acordou em sua banheira apavorada com o som do telefone da casa tocando. Ela se levantou da banheira, enrolou a toalha a cima dos peitos e foi até a extensão no quarto de Allison atender.
— Alô? — falou ela virando os olhos.
— Lydia? Aqui é a Melissa.
As pernas de Lydia ficaram bambas. Será que ela tinha alguma noticia de Stiles.
— Sra. McCall?
— Estou ligando para avisar que o Stiles foi encontrado — apesar de estar no telefone, Lydia sentiu certa energia alegre de Melissa — Ele nunca esteve em perigo.
— O que? — Lydia sacudiu a cabeça — Como assim?
— Parece que assim que acordou, ele foi direto para casa, mas seu pai demorou a perceber.
Lydia deixou escapar um suspiro de alivio.
— Muito obrigada por me avisar, Sra. McCall — ela desligou a chamada.
Os problemas de Lydia, ou os que ela sentia que eram dela, estavam começando a desaparecer. Stiles tinha acordado e estava seguro, agora ela poderia perguntar sobre sua ligação com Derek Hale. O lado negativo para Lydia é que ela terá de descobrir o porque de ela estar dentro daquele túmulo, uma vez que ela pense que seus sonhos estão refletindo alguma mensagem para ser entendida na realidade.
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