O taxista deixou primeiro o Carl na sua casa. Josh e eu saímos para ajuda-lo a sair do carro. Ele abraçou-me.
- Até daqui a pouco, Mah. - disse Carl, sorrindo de lado.
- Até, Carl. - sorri.
- Josh. - olhou para ele. - Parabéns por ter ganhado o concurso.
- Obrigado, Carl. - apertaram as mãos.
Vimos ele entrar em casa e voltamos para dentro do carro.
- O Carl é mesmo um cara legal. - disse Josh.
- Sim, demais!
Minha mão estava parada no banco do carro, olhando pela janela via a areia da praia e o mar agitado. Sinto uma mão morna em cima da minha e quando viro para olhar, Josh sorriu. Logo o carro parou e eu estava em casa. Ele olhou pela janela, vendo a entrada da minha casa, lamentou-se baixinho. Ia sair, porém fez sinal para que eu esperasse. Embora não houvesse entendido, fiquei ali. Josh saiu do carro e deu a volta para abrir a minha porta e estendeu a mão. Segurei sua mão e saí do táxi.
- Obrigada. - agradeci quando já estava do lado de fora.
- De nada. - ele sorriu. - Nos vemos daqui a pouco?
- Claro.
- Está bem. - deu um beijo na minha bochecha e depois entrou no carro.
Acho que aquele Josh finalmente voltou. Que saudades! Fechei a porta de casa e encostei-me nela. Ainda estava pensando em tudo que aconteceu hoje. Logo voltei a Terra, pois minha mãe começou a me gritar.
- Maya! Faltam 10 minutos para as 21 horas, a hora da festa! Por que demorou tanto?!
- Eu queria saber o resultado e acabou demorando.
- Está bem, está bem! - disse fazendo sinais com a mão, como se fosse para eu parar de falar. - Vá trocar de roupa rápido! Daqui a pouco os convidados chegam e eu não quero receber todo mundo sozinha.
- Mãe, quem é "todo mundo" exatamente?
- A família toda, ué!
- Ai, mãe! Estou fazendo 17 anos e minha festa tem que ter a família toda? - choraminguei.
- Ué, você não quis saber da festa. Então convidei todo mundo mesmo. Dá próxima vez faça a lista.
- Com todo o prazer! - e subi as escadas.
Minha mãe mandou trocar de roupa, mas vou tomar banho. Tudo bem que eu não queria festa, mas já que vai ter, preciso estar cheirosa, né? Fui direto para o banho. Ainda estava pensando no Josh. Ele é o único menino que me faz ficar desse jeito. Sonho com ele acordada. Foi passando um filme do dia de hoje, desde quando ele veio aqui em casa até agora. Sorri ao lembrar. Minha mãe gritou e eu despertei dos meus pensamentos. Lembrete: Arrumar um jeito da minha mãe gritar menos.
Saindo do banho, coloquei o meu roupão azul turquesa e fui procurar uma roupa. Minha mãe bateu na porta.
- Já estou quase pronta! - disse quando a escutei entrando no quarto.
- Como sabia que você iria procurar uma roupa para vestir hoje, trouxa uma. - entregou-me uma caixa com bolinhas rosa. Espero que o quê tenha dentro dessa caixa não seja rosa.
Abri a caixa com medo do que seria, mas felizmente era algo agradável e bonito. Era um vestido branco sem manga, com uma renda quase imperceptível, uma pequena gola em V e saia rodada. Não curto muito vestido, mas esse era lindo!
- Parabéns, filha! - sorriu.
- Obrigada, mãe! - lhe dei um abraço. - Eu amei!
- Finalmente acertei?
- Você sempre acerta, mãe.
- Nem sempre, né? - ri dando língua. Olhou para o relógio em seu pulso. - Vou descer. Não demore, Maya.
- Está bem.
Ela saiu do quarto e fechou a porta. Rapidamente vesti o vestido, sequei o cabelo e por último calcei meu All Star tradicional. Precisava de um toque da Maya, né? Mesmo assim, achei que precisava de algo além do meu tênis. Olhei no armário e achei o estava faltando. Coloquei o meu cinto fino preto para dar um toque final. Passei perfume, aquele que meu pai me deu. Falando nele, nem me ligou para desejar parabéns. Que ótimo pai que eu tenho! Nem o Dimitri, que sempre liga, não ligou hoje. Tentei falar com ele, mas não me atendeu. Será que ainda era por causa do Otávio? Foi só um beijo e nunca mais vai acontecer. Depois daquela festa só falei com ele uma vez. Desisti de entender o motivo do Dimitri e resolvi descer para a festa.
O salão do playground fica perto do parque das crianças. A quadra e a piscina ficam um pouco mais distante. O salão é mobilhado. Assim que você entra tem um balcão com bancos, geralmente onde fica o Open Bar. Tinha dois homens de roupa preta jogando as garrafas para cima ou girando nos dedos, barmans. Ao lado direito tem umas mesas (poucas) e um espaço para a mesa do bolo. Não sei que caralhos (só falando assim mesmo) minha mãe quis fazer com a mesa do bolo! Era branco, com umas cores que davam a impressão que estavam caindo pelo bolo, como se fosse tinta. Atrás do bolo, tinha o painel que era preto com notas musicais e tinta escorrendo também. O tema do meu aniversário era tinta escorrida e ninguém avisou? Aproximei-me e vi uns potes de tinta néon, daquelas que servem para pintar o rosto. Ah! Agora sim! A festa é néon! Mais que merda, mãe! Os parentes me viram (merda!), fui até eles. Cumprimentei todos, só faltava a minha tia, e ela é A tia. Sabe a do "pavê ou pra comê?" ou "e os namoradinhos?", minha tia é assim. Toda vez que me vê pergunta isso, T-O-D-A!
- Parabéns, Mayainha! - disse ela me abraçando. Odeio esse apelido também. Medo de alguém da escola escutar e passar a me chamar assim.
- Obrigada, tia! - forcei um sorriso.
- Você está bonita! - sorriu de orelha a orelha. Sei que sou feia, tia, não precisa lembrar. - Está crescida! - só na idade mesmo, tia. Continuo baixinha. Truque para ouvir discurso de aniversário de tia: Sorria e concorde com a cabeça. Isso que estou fazendo. - Está com um corpão! Um bundão! Ih, agora até peito tem! - disse me olhando de cima a baixo. Discretamente cruzei os braços para tampar meus seios e sorri torto. - E os gatinhos, Mayainha? Hein?! Sua mãe andou me contando umas coisas... - sorriu maliciosamente. O quê minha mãe contou?!
- Os gatinhos estão certamente no gatil, em loja de animais ou na rua mesmo. - sorri. - Tia, preciso ir. - virei-me e fui para o outro lado do salão. - ela ficou abismada com a minha resposta. Estou nem aí! Ela falou do meu peito! Meu peito! Disse que não tinha peito, que abuso! Sei que fui abusada também, mas ela mereceu!
Do outro lado do salão, tem um espaço lounge, onde tem sofá, puffe, uma luz mais fraca. Obviamente é a parte ficódromo da festa, né. O lounge fica perto da pista de dança. No teto, em cima da pista de dança tinha aqueles balões coloridos, em forma de dado, estrela, bomba. Me amarro nesses balões! No momento o DJ estava tocando Fifth Harmony, a nova música delas, Slegdehammer. Certamente minha mãe deu uma listinha com músicas que eu gosto, pois DJ nenhum toca Fifth Harmony, a não ser que você peça.
If you could take my pulse right now
It would feel just like a sledgehammer
(Oh, oh, oh, oh, oh, oh,oh)
If you could feel my heartbeat now
It would hit you like a sledgehammer
(Oh, oh, oh, oh, oh, oh,oh)
Fiquei no espaço lounge mesmo cantando a música das meninas. Tirei uma foto dos balões e postei no Twitter. Nenhum amigo meu tinha chegado ainda. Só parente, affe! Fui até o Open Bar pegar um drink. Escolhi um de frutas vermelhas. Tem menos álcool e minha família não vai pegar no pé. A partir das 22 horas que o pessoal da escola começou a chegar, mas a pessoa que eu mais queria que chegasse, não havia chegado.
Josh POV
Estava atrasado para a festa da Maya. Andei o shopping todo atrás de flores para dar a ela e felizmente encontrei, mas infelizmente estou atrasado. Cheguei em casa igual um furacão. Deixei o buquê em cima da mesa, a blusa na sala, o sapato no corredor, a calça na porta do meu quarto e a cueca no banheiro mesmo. Ouvi minha mãe me xingar, mas ignorei. Entrei no banho e deixei a água cair sobre o meu corpo. Relaxei um pouco e depois saí. Enrolei a toalha na cintura e fui procurar por uma roupa. Peguei uma blusa branca de gola, no meio da blusa tinha uma listra preta e outra em um tom de azul fraco. Não fechei os dois botões da gola, deixei aberto. Não gosto muito de blusa desse estilo, mas é aniversário da Maya e preciso estar apresentável. Vesti um jeans escuro e calcei um Vans Atwood Skate preto. Deixei o cabelo arrepiado, jogado um pouco para o lado. Coloquei o celular e a carteira nos bolsos, peguei o buquê e o outro presente que pretendia dar à Maya. Estava saindo de casa quando escuto minha mãe dizer para esperar.
- Vou de táxi, mãe! - gritei da porta.
- Eu vou também, filho. - disse aparecendo toda arrumada com um vestido longo bege. - Vamos juntos. - sorriu.
- O quê?! - ri sem acreditar.
- A Débora me convidou, Josh. Não quer que eu vá?
- Não posso chegar com você no meu pé, mãe. Hoje é um dia muito importante para mim, para nós... Maya e eu.
- Estou vendo. - disse olhando para as flores. - Joshua, eu espero você entrar primeiro, não me incomodo. Agora, vamos?
- Tá, mãe. - rolei os olhos.
Só o que me faltava! Minha mãe chegar comigo no aniversário da Maya. A noite não poderia ficar pior.
Josh POV - END
Estava na pista de dança com as meninas. Estava tocando eletrônica. Babalu queria que tocasse funk, mas pedi para ela esperar. Afinal de contas, funk só se toca no auge da festa e a minha ainda estava começando. Luana fez com quê Thiago dançasse também. Ela balançava seus braços e ele fazia o passinho "para um lado e para o outro.". Esses dois são tão fofos! Cadu e Bob estava parados segurando um copo de bebida nas mãos olhando suas respectivas namoradas, ou ficante no caso do Cadu. Caio e Claudia estavam sentados no mini sofá, Caio cochichava algo em seu ouvido que a fazia rir. Carl estava sentado no Open Bar.
Everyday people do
Everyday things but I
Can't be one of them
I know you hear me now
We are a different kind
We can do anything
We could be heroes
We could be heroes
Me and you
We could be
Estava dançando com os braços para cima, cantando a música, sentindo a música quando de repente, todos se viram apenas para um único lugar. Luana abre um sorriso maior que o do gato da Alice No País das Maravilhas. Acompanhei o seu olhar e quase caí dura no chão. O Josh havia chegado, segurava um embrulho branco com alguns detalhes em preto e um buquê de tulipas azuis. Sorri ao vê-lo, ele sorriu de volta.
- Parabéns, Maya! - deu-me um beijo na bochecha e um abraço. - Bom, sua cor preferida é azul, então em vez de comprar um buquê de rosas, comprei um buquê de tulipas azuis. - sorriu. - Pensando bem, acho que ficou azul de mais. - rimos. - Desculpa.
- Está tudo bem, Josh. - disse pegando da sua mão. - Eu amei as flores, mesmo não precisando de outro presente. Só a tornozeleira estava ótimo.
- Não queria chegar de mãos vazias.
- Poderia ter me dado só as flores. Não gosto de dar trabalho à você.
- Você não me dá trabalho algum e eu estava te devendo esse presente.
- Por que? O que é? - perguntei curiosa.
- Abra. - sorriu. Ia deixar o buquê em cima do sofá quando reparo que a festa toda estava olhando para nós, a música tocava, mas ninguém estava prestando atenção.
- Vamos para outro lugar. - peguei sua mão e o puxei para fora. - Mãe, guarda pra mim? Obrigada! - disse entregando o buquê ao passar pela minha mãe, que estava próxima na porta ao lado da tia Michelle. O levei para um banco próximo a quadra. Ninguém estava jogando bola e provavelmente nem iriam jogar. Sentamos no banco. Abri a embalagem devagar para não rasgar e abri um sorrisão ao ver o que era. - Sábado à Noite 3! Minha trilogia preferida depois de Jogos Vorazes! - o abracei de lado. - Você disse que não ia me dar.
- Não. Eu falei que você teria que esperar até o seu aniversário.
- Obrigada, Josh! Eu amei! Sério!
- Não precisa agradecer, Mah. Você merece muito mais. - sorriu. Sorri mirando o chão. - Você está muito bonita, Maya. Na verdade, você sempre foi bonita.
- Não precisa puxar meu saco só porque hoje é meu aniversário.
- Não puxo sacos, nem encho bola... - levantou meu rosto fazendo com quê olhasse para ele. - Eu só falo a verdade.
- Ah, é? Posso te testar, então? - sorri marotamente.
- Claro. - sorriu. Sentei em cima do calcanhar (famosa perninha de chinês), endireitei a barra do vestido para não aparecer meu short que estava por baixo e virei para ele, que colocou a perna direita de lado, para poder olhar para mim também. - Se demorar a responder, será válido como falso.
- Tudo bem, manda bala!
- Mesmo reclamando na minha frente que odeia Jogos Vorazes, quando está sozinho você assiste e gosta. Verdadeiro ou falso?
- Verdadeiro.
- Sabia! - lhe dei um tapa no braço. - Por que na minha frente você vive reclamando?
- Porque você fala muito sobre ele e se eu conto que gosto, você não ia calar a boca. - riu. Dei língua.
- Você ainda escuta N'Sync. Verdadeiro ou falso?
- Verdadeiro. - respondeu rindo, porém rapidamente.
- A Vivian beija mal. Verdadeiro ou falso?
- Falso. - arqueei a sobrancelha. - Ela não beija mal, mas prefiro o seu beijo.
- Sempre desejei que ela beijasse mal e nenhum garoto quisesse mais ficar com ela.
- Por que essa revolta toda?
- Porque ela só vivia para beijar alguém e se ela não beijasse mais ninguém, não seria mais a Vivian. Seria só uma menina qualquer.
- Beijar o bairro todo não a faz alguém, só faz ter fama de alguém. - assenti com a cabeça, concordando. - Tem mais pergunta?
- Sim. - ele assentiu a cabeça para que eu continuasse. - Você parou de beber. Verdadeiro ou falso?
- Falso, mas juro que vou parar! - rimos juntos.
- Última pergunta, Josh.
- Beleza. Estou indo bem até agora?
- Está. - ele bateu palmas comemorando. Eu sorri. Respirei fundo. - Você me ama. Verdadeiro ou falso?
- Verdadeiro. - ele respondeu. A resposta que teve mais firmeza na sua voz. - Nunca deixei de te amar, Maya. - Josh se aproximou, faltava milímetros para nos beijarmos quando... Minha mãe resolveu aparecer. Valeu, mãe!
- Maya Telesco Soares! - gritou. - A festa é lá dentro. - olhou para o Josh. - Ooh! Está bem, podem ficar mais cinco minutinhos. Se passar, eu volto aqui.
- Obrigada, mãe. - forcei um sorriso. - Ainda ama a minha mãe? - olhei para o Josh.
- Mães têm esse dom de estragar os melhores momentos da sua vida, mas também têm o dom de estarem nos melhores momentos.
- Isso não ajudou. Ainda a odeio por nos atrapalhar. - Josh riu e se levantou.
- Vamos voltar para a festa. - esticou a mão. Levantei-me e peguei o presente.
Voltamos para a festa de mãos dadas. Obviamente todos olharam. Minha tia estava com um sorriso de orelha a orelha e fazendo sinal positivo com a mão. Ignorei. Deixei o presente na caixa de presentes e fui até o Open Bar com o Josh.
- Vai querer o quê? - perguntou o barman.
- Beijo na Boca. - Josh arqueou a sobrancelha. - O drink, obviamente. - o barman riu e começou a preparar. O drink contém vinho branco, licor de morango, suco de morango e refrigerante guaraná.
- E você, Romeu? - perguntou o outro barman. Josh e eu nos entreolhamos e sorrimos.
- Sex On The Beach. - arqueei a sobrancelha. - É o drink, meu anjo. - passou a mão no meu rosto. O drink contém licor de pêssego, suco de laranja e groselhia. - Até porque dessa fruta eu não gosto.
- Nem eu! - gritou o barman de longe.
- Está aqui, aniversariante. - disse o barman entregando-me o drink com um canudinho verde.
- Obrigada. - sorri de lado.
- Aqui, Romeu! - disse o outro. O canudinho do Josh era preto.
- Valeu!
Fomos para o espaço lounge. Ficamos bebendo e conversando. Quando terminei de beber, as meninas me chamaram para dançar. Tentei resisti, pois queria ficar com o Josh, mas acabei parando na pista de dança. Começou a tocar um rap mas tinha uma batida dançante. Não aquela batida de ir até o chão ou dançar igual a Beyoncé, mas dançar de um jeito mais leve, descontraído.
Sabe, eu gostei da sua simplicidade
Rosto de menina, linda, mulher de verdade
Nunca te vi, mas ai quando cê chegou
Eu já tava com uma saudade
Não sei do que, não sei da onde, nem sei por quê
Acho que eu já sonhava com você
E sendo ou não um sonho, levantaria todo dia
Te levaria café na cama
Estava dançando com a Babalu, Vivian e Luana. Thiago já havia se juntado a seus amigos. Babalu começou a fazer sinal para quê Cadu se aproximasse, ele chegou todo sem jeito na pista, então a puxou para um beijo. Olhei para o Josh, que ainda segurava seu copo e mordia o canudo. Conversava com Thiago, mas vez ou outra olhava para mim. Voltei a dançar.
Eu reinaria na sua vida sempre
Daria toda a alegria sempre
Mandaria buquês de acácias amarelas
Com um bilhete perguntando se cê sai comigo sempre
Olhei para ele de novo, que arqueou a sobrancelha e levantou o copo. Queria que ele viesse ficar comigo, dançasse comigo. Amigos não dançam juntos? Ok, está na cara que a fase "amigo" já passou. Quero voltar a ser sua namorada. Mas poxa, ele não toma atitude! Quer um trabalho bem feito, faça vocês mesma. Pois bem. Resolvi fazer alguma coisa. Comecei a dançar para o Josh. Sou péssima com esse negócio de seduzir, mas tentei mesmo assim. Com a mão, joguei o cabelo para o lado. Rebolei com o quadril, mas não fui até o chão. Dei uma voltinha, joguei o cabelo de novo e sorri. Ok, estava um pouco fora do ritmo, mas funcionou, Josh colocou o copo na frente da boca e sorriu. Não aquele sorriso debochado, mas um sorriso do tipo: "Estou caindo no seu jogo." e se contia para não olhar. Eu amei essa reação!
Josh POV
Estava terminando o meu drink quando vi a Maya dançando. Ela rebolava, jogava o cabelo e aquele sorriso... Aquele sorriso levado, que me atiça. Obviamente queria me provocar e estava conseguindo. Tentei disfarçar, colocando o copo na frente da boca e olhando menos, mas era impossível. Ela é linda e estava dançando belíssimamente também. Ok, sensualmente. Maya nunca se quer dançou na frente de tanta gente a não ser daquela vez que bebeu muito. Tirando isso, ela nunca foi de dançar e agora estava ali, praticamente dançando para mim. Não podia ficar parado.
Josh POV - END
Deixa eu ficar, deixa eu falar
Deixa eu fazer, deixa eu mostrar
Você vai curtir, você vai gostar
Hoje a noite é nossa, hoje a noite é nossa
Josh mirou o chão e sorriu. Continuei dançando sensualmente, do meu jeito é óbvio. Ele largou seu copo no murinho da parede e foi andando lentamente na minha direção. Fingi que não vi e fiquei de costas para ele. De repente, Josh segurou a minha cintura e a balançou lentamente. Começou a dançar, ainda segurava a minha cintura. Fui para um lado e ele para o outro. Fizemos isso mais duas vezes e então, Josh virou-me, fazendo com que eu ficasse de frente para ele. Pegou minha mão e girou-me mais uma vez. Dançamos no ritmo da música. Joshus pegou minhas duas mãos, fez com que eu ficasse de costas pra ele e abraçou-me por trás. Soltei sua mão e voltei a dançar mexendo no cabelo. Ele sorriu marotamente. Rebolei mais uma vez com quadril e senti sua mão na minha cintura, olhei para o lado e Josh dançava na mesma sintonia que eu, porém um pouco mais duro. Homem não sabe rebolar, né? A música acabou e começou a tocar outra. Paramos de dançar.
- Quer beber alguma coisa? - perguntou Josh falando no pé do meu ouvido.
- Não, quero pegar um ar. - falei. Ele sorriu já entendendo o que eu quis dizer. Estava na cara que queria fugir da festa de novo.
- Let's go! - disse ele segurando a minha mão.
Fomos para o mesmo banco, perto da quadra e continuava sem ninguém lá. Sentamos e desta vez, sentei comportadamente.
- Acho que sua família não gostou que dançamos juntos. - disse ele mirando o chão.
- Estou nem aí. Não dancei para eles, dancei para você. - ri de leve. Josh levantou o olhar e riu também.
- Sério? Nem percebi. - rimos. Olhei para o chão envergonhada. - Sinceramente, eu amei você ter dançando para mim, principalmente daquele jeito, mas preciso perguntar... Por que?
- Porque eu estou com saudades de ter você para mim, de ter você ao meu lado.
- Eu também. Ia falar com você em uma boa oportunidade, mas só fomos interrompidos até agora. - passou a mão no cabelo. - Maya, eu errei muito, fui uma péssima pessoa e namorado. Estou voltando a ser eu mesmo, aquele Josh que você conhece desde pequena. Sou uma pessoa melhor agora. Nunca mais vou ser daquele jeito. - respirou fundo e segurou a minha mão. - Maya Telesco Soares, namora comigo... De novo?
- Nós definitivamente não conseguimos ficar separados. - Josh sorriu. - Sim, Joshua Ryan Hutcherson. Eu quero namorar com você de novo. -Josh colocou lentamente sua mão na minha nuca. Minha respiração ficou ofegante, como fazia tempos que não ficava assim! Selou seus lábios nos meus. Sua língua pediu passagem e obviamente, cedi. Foi um beijo tímido e tranquilo. Não queria que a intensidade aumentasse por enquanto, gosto de beijos calmos. São os melhores beijos. Quando o beijo acabou, encostou sua testa na minha e sorriu.
- Podemos repetir? - perguntou.
- Não precisa perguntar, basta me beijar. - sorri e o puxei pela nuca.
Esse beijo já não foi tão tímido, foi calmo e um pouco mais intenso. Mexia em seu cabelo durante o beijo. Como estava com saudade de fazer isso! Como estavs com saudade dele!
Caio POV
Estava com a Claudia no Open Bar observando a festa. Tinha muitos familiares dela. Esperava menos gente da família. De qualquer forma não posso mais perder tempo com isso. Preciso fazer hoje.
- E aí, Caio? O que vai ser? - perguntou Claudia bebendo seu drink Blue Lagoon.
- Estou esperando o aleijadinho sair do salão. Não posso pega-lo aqui dentro, vai dar muito na cara. - mexia com o canudo o drink Pina Colada, tentando pensar em algo.
- Eu posso leva-lo para fora, ele não me conhece.
- O Carl não é burro, Claudia. Ele sabe muito bem que você está comigo.
- Ah...
- Só sei que não pode passar de hoje. - bebi um gole.
Caio POV - END
Eu e o Josh continuamos sentados perto da quadra. Desta vez, eu estava encostada no braço do banco e minha perna estava em cima da perna do Josh.
- Você ainda está usando a tornozeleira que eu te dei. - passou de leve a mão na tornozeleira.
- Se depender de mim, nunca vou tirar. - sorri.
- E a sua tatuagem?
- Vou fazer e coloco a tornozeleira na outra perna. Tenho duas pernas, tá lembrado? - sentei-me ficando ao seu lado.
- Claro que lembro. - ele me deu um selinho. - Falando em perna, preciso falar com o Carl.
- Agora? Vai me deixar aqui sozinha?
- É importante, meu anjo. Eu volto já. - me deu mais um selinho e entrou correndo para o salão.
Que estranho! O que ele tem de tão importante? Levantei-me para ir atrás do Josh quando escuto alguém dizer "psiu". Olho e vejo um menino alto de blusão preto dobrado até o cotovelo aberto, blusa gola V na tonalidade marrom desbotado, calça jeans, coturno e uma touca preta na cabeça. Era o Dimitri, o velho Dimitri de volta. - Dimy! - corri para abraça-lo.
- Parabéns, Mah! Tudo de bom para você! - disse meio ao abraço.
- Obrigada! Achei que você me odiaria para sempre. - falei ao desfazer o abraço.
- Não, claro que não!
- Por que nunca mais me respondeu então?
- É complicado, Maya.
- Descomplica. - cruzei os braços.
- Descomplica é um ótimo canal de vídeo aula no Youtube. - riu. Dei língua. - Olha, meu pai mandou isso para você. - entregou-me um cartão.
"Maya, meu amor, parabéns e tudo de melhor para você! Perdoe por não ter ligado ou te ver pessoalmente. Estou muito ocupado com os negócios, me perdoe. Assim que eu ficar um pouco livre, vou aí te dar um abraço! Aqui vai seu primeiro cartão de crédito. Use com sabedoria! Papai te ama!"
Embaixo dos dizeres, tinha um cartão de crédito? É isso mesmo? Obrigada, pai! Agradeci mentalmente.
- Está ocupado, mas pode escrever cartinha?
- Na verdade, a Clara escreveu antes do ocorrido. - disse Dimitri passando a mão no cabelo.
- Que ocorrido?
Dimitri POV
Ontem à noite, a minha irmã deixou o computador ligado e foi tomar banho. Meu pai entrou no seu quarto para avisa-la da festa da Maya e nisso, o computador avisou que tinha nova mensagem em seu e-mail. Meu pai resolver abrir por curiosidade e acabou não gostando muito. Era uma mensagem do nosso professor de matemática. Ele é alto, magro mas tem braços fortes, pois suas blusas de mangas parecem que vão rasgar por causa do braço grande. Cabelo de mauricinho, jogado para o lado, usa óculos e tem 26 anos. As meninas babam por ele. A Ana Clara nunca babou, quero dizer, até precisar. No ano passado, ela estava praticamente reprovada em matemática. Fez de tudo para aumentar a nota e para convencer o professor a lhe passar e bom, o único modo de convence-lo foi seduzir. O pior, foi na sala de aula e eu vi. Passava os recreios pelo corredor da escola, até que um dia, ouvi um barulho estranho na nossa sala e acabei vendo os dois transando. Tento tirar essa imagem da cabeça até hoje. Clara gostou e eles continuam se vendo até hoje. A mensagem dizia:
"Quando vamos nos encontrar de novo, meu amor? A outra noite foi maravilhosa! Tudo é maravilhoso com você!"
Meu pai conhece todo o corpo estudantil da escola e quando muda de professor, ele faz questão de saber quem é também. Com as pressões dentro de casa, senhor Fábio a colocando para fazer estágio na empresa e que ela vai comandar no futuro, pois eu sou um bobão, Clara começou a se drogar. Inicialmente era maconha, ela ficava feliz, ria a toa, mas ela foi começando a usar outras e isso está me preocupando. Depois de ver a mensagem, meu pai decidiu:
- Vocês dois vão para os EUA e só voltam para comandar a empresa! - ordenou.
Eu e Ana subimos para os nossos quartos. Ia entrar no meu, mas resolvi entrar no seu. A vi abrindo um pacote de cocaína.
- Sai, Dimitri! Quero ficar sozinha!
- Clara, você precisa parar com isso. - me aproximei dela, que afundava a cara na droga deixando o nariz branco. - Para falar a verdade, achei que tinha começado por causa do papai, mas agora já nem sei mais. - ela me ignorou. - Ana Clara! - a puxei pelo braço, fazendo com quê olhasse para mim. - Para com isso! Você é melhor do que isso!
- Você não me conhece, Dimitri! Pode ser meu irmão, mas não me conhece. - passou a mão no nariz.
- Claro que conheço. Você é uma menina adorável, mesmo sendo muito chata e eu te amo. - ela gargalhou na minha cara.
- Vai dizer isso para a Maya, vai!
- Não! Só quero saber o motivo.
- Quer saber? Está bem. - ela me soltou. - Eu odeio a minha vida, Dimitri! O-dei-o! Posso ter tudo o que quero, mas ao mesmo tempo não tenho. Minha mãe prefere mil vezes ir ao shopping fazer compras ou ir ao Spa, do que saber como foi meu dia ou como estou. Meu pai acha que dar cartão de crédito compensa tudo, mas não compensa nada! E ainda vem com história que preciso ficar no lugar dele na empresa porque você não tem maturidade. Ajo como filha perfeita para sobreviver na sociedade, me drogo para aguentar a merda de vida que tenho.
- Por que você nunca me disse isso? Por que nunca compartilhou isso comigo?
- Porque você estava pior do que eu, Dimitri! A diferença é que você sempre demonstrou e eu não. - respirou fundo. - Você não sabe, mas ver a Maya com o Josh só te fazia ficar pior e mesmo assim, você cismava de ficar atrás dela e não me ouvia.
- Eu amo a Maya. - disse seriamente.
- Sabe que não devia, né? - assenti com a cabeça. - Sabe que estamos saindo do país por causa disso, não é? Tipo, se ele não tivesse visto meu e-mail, você ia sozinho. Meu pai quer separa-lo da Maya. Vocês ficando juntos, não ia conseguir a guarda da Maya.
- A Maya não gosta de mim, não desse jeito. Espera! Como ele sabe?
- Ele viu você tentando dar um beijo nela. - respirou fundo. - Faça ele desistir da guarda dela, Dimy. A Maya não merece sofrer como nós.
- Ela já sofreu, Clara e sofre até hoje por causa dele. - dei dois passos para trás, alcançando a maçaneta. - Clara? - ela jogava a cocaína dentro de um saco.
- O que?
- Você se importa com a Maya. - ela sorriu envergonhada e assentiu a cabeça. - Por que vivia implicando com ela?
- Porque achava que a Maya não merecia a vida que tem. - mirou o chão. - Ela tem amigos, um namorado que olha para ela apaixonado, uma mãe amiga que está sempre ao seu lado e nunca deu valor. - olhava atentamente para ela. - Eu ficava com ciúmes e só sabia implicar. Quando não aguentei mais a barra, passei a me drogar. No fim de semana que ela passou aqui, eu estava completamente drogada.
- Clara, - me aproximei dela novamente. - Eu te amo e sempre vou estar aqui com você, mas por favor, para de usar essas coisas.
- Está bem.
- Promete?
- Prometo. - e lhe dei um abraço apertado.
Desci até o escritório para falar com o meu pai. Bati duas vezes na porta até que ele concedesse minha entrada. Pedi licença e entrei.
- Pai, quero falar com você.
- Se for sobre a viagem... - disse sem tirar a cara do computador.
- Não é sobre a viagem, pai. É sobre a Maya, minha irmã. - cerrei os olhos quando disse a tal palavra. Acho que foi a primeira vez que disse a palavra "irmã" em voz alta.
- O quê tem a Maya?
- Eu vou para o EUA, faço faculdade lá e volto para assumir a empresa, mas... - ele olhou-me de relance. - Você precisa cancelar o processo. Não vai mais lutar pela guarda da Maya.
- E se eu não fizer isso? - girou a cadeira e se levantou, parando na minha frente.
- Eu volto e faço você perder sua empresa.
- Você é um adolescente burro! - riu.
- Não sou mais um adolescente, já tenho 18 anos e não sou nem um pouco burro. Observo tudo o que você faz, pai. Falir sua empresa seria fácil.
- E como você viveria sem o meu dinheiro?
- Trabalharia. Passaria a ganhar o meu dinheiro e a comprar as minhas coisas sem o seu consentimento. - ele me olhou sério. - Viver sem o seu dinheiro seria a melhor coisa na minha vida.
- Você está blefando, Dimitri. - cruzou os braços e sorriu de lado.
- Tenta para você ver. - encarei-o.
- Está bem. Você vai para o EUA e a Maya fica com a Débora.
- Se eu souber que você mentiu, eu volto e faço o que prometi. - virei e saí da sala.
Jamais tinha enfrentado meu pai daquela maneira, mas foi preciso. Não já basta eu e a Clara com tantos problemas e ainda quer fazer a Maya passar por isso também? Nunca! Jamais! Se ele não cumprir com o trato, eu volto e não respondo por mim.
Dimitri POV - END
- A Clara está se drogando, Maya. - respirou fundo. - E nós vamos para os EUA daqui a pouco, vamos ficar alguns anos lá.
- Meu Deus! Eu lembro quando a zoei por causa disso, mas nunca pensei que fosse sério. - lembrei de sua ultima frase. - Espera! Vocês vão para os Estados Unidos?! Daqui a pouco?! Anos?!
- Sim, Maya. Vamos fazer faculdade, vamos morar lá por alguns anos. - ele entregou-me uma embalagem vermelha. - Esse presente é meu. Não pude dar algo melhor, pois meu pai cortou meu dinheiro.
- Não precisava me dar nada, Dimy. Só você vir já é um grande presente. - abri o embrulho e era um porta retrato com uma foto nossa. Eu havia tirado aquela foto! Foi em um dos dias que passei na casa do meu pai. Eu e o Dimitri estávamos fazendo careta. Ele o símbolo do rock com uma das mãos e dava língua, eu também fazia o símbolo do rock com a mão e fazia biquinho.
- Para que você nunca se esqueça de mim.
- Nunca vou esquecer de você, Dimitri! - lhe abracei.
- Preciso ir, Mah. - disse ao se soltar do abraço.
- Vou sentir saudades. - disse a ponto de começar a chorar. Estava me segurando.
- Eu também. - beijou minha testa. Dimitri virou para ir embora, virei para entrar no salão. - Maya! - ele gritou. Olhei e quando me dei conta, já estávamos nos beijando. Foi uma ação muito rápida. Os lábios do Dimitri eram macios, seu beijo era doce e calmo, como uma brisa de verão (Sei que não tem nada a ver brisa com beijo, mas quando você beijar alguém que é assim, saberá o que estou dizendo). Sem perceber, acabei correspondendo o beijo. Tudo o que não havia entendido, agora entendi. Dimitri gosta de mim. Por isso não me apresentou como irmã, nunca me chamou de irmã, nunca gostou da Mel, na Pool Party... Por isso ficou tão revoltado por eu ter beijado o Otávio. Isso que ele queria me falar quando foi na minha casa. Mas ele é meu irmão, a gente não podia... E ele sempre soube que eu amo o Josh. - Maya... - segurou a minha mão. Ainda estava surpresa com tudo aquilo. - Eu precisava fazer isso antes de ir embora. Quando eu voltasse podia ser tarde demais. - mirou o chão. - Sei que você só me vê como irmão e que ama incondicionalmente o Josh. - olhou nos meus olhos. - Bom, eu também te amo, mas não é como irmã. Acho que esse tempo longe do Brasil vai me ajudar a colocar a cabeça no lugar e aí sim, poderei te amar do jeito certo: Como uma irmã. - respirou fundo. - Me desculpe, Maya. - e soltou minha mão.
- Dimitri... - segurei seu braço. - Eu não sabia. Desculpa nunca ter percebido antes. Não sei o que dizer. - ele sorriu de lado. - Para mim, você vai sempre ser o meu irmão, não importa o que aconteça.
- Vai fingir que isso não aconteceu?
- Não vou fingir que nada aconteceu, isso só faria com quê a gente se afastasse. Você me beijou e eu correspondi. - coloquei meu cabelo atrás da orelha. - Eu não sei exatamente como reagir a isso. - ri nervosa. - Mas você precisa saber que... - respirei fundo. - Dimitri, eu e o Josh voltamos a namorar. Há alguns minutos antes de você chegar aqui.
- Desculpa, Maya. Eu não... não...
- Está tudo bem, mas eu preciso contar à ele. Já escondi muitas coisas dele e por conta disso, brigamos muito.
- Tudo bem, claro! Você deve contar ao Josh, a culpa é minha.
- Você não tem culpa de nada, Dimitri. Você vai embora e não vamos nos ver por alguns anos, acho que faria a mesma coisa se estivesse em seu lugar. Suas últimas horas no Brasil, você precisava arriscar. Eu entendo. Só não vamos deixar que esse beijo atrapalhe nossa amizade. Ou... você não aceitaria uma Maya amiga? - sorri, ele sorriu também.
- Claro que aceito. - abraçou-me. - Melhor ter você como amiga do que não tê-la ao meu lado. - sorri sem graça.
- Promete que vai falar comigo todo dia, nem que seja por e-mail, que eu acho um saco?
- Prometo. Vou te mandar e-mails diários. - sorriu de lado. - Agora preciso mesmo ir, Mah.
- Boa viagem, Dimy. - sorri. Ele abraçou-me mais uma vez e desta vez, foi embora.
Josh POV
Lembrei que não podia relaxar. Caio, é o Stalker e ele está aqui. Queria contar à Maya, mas Carl contaria. Fui até ele para saber quando iríamos contar. Chegando ao salão, ele estava sentado no espaço lounge.
- Carl, acho que devemos contar agora. - sentei-me ao seu lado.
- Eu também. Onde ela está?
- Lá fora, perto da quadra. - o ajudei a levantar.
Estávamos seguindo para fora do salão, quando me puxaram pra dançar. Estava tocando funk. Disse que não queria, mas insistiram. Começaram a falar meu nome e a bater palma.
- Dança aí que eu vou lá. - disse Carl. Assenti com a cabeça.
Como iria dançar aquilo, meu Deus?
Sarra novinha no grau, vem rebolando por cima
Sarra, sarra
Sarra novinha no grau, vem rebolando por cima
Me colocaram no meio da roda e bateram palmas. Alguns gritaram "Vai, Josh!". Estiquei os braços, juntei as mãos e rebolei. Cadu e Bob resolveram me acompanhar na dança. Bob prendeu sua blusa na boca, deixando seu abdômen definido aparecer e rebolou. As meninas foram à loucura. Cadu posicionou-se com as pernas mais abertas e com movimentos bruscos, rebolou.
- Porra, Bob! Tá fazendo "grind on me"? - perguntou Cadu que já tinha parado de dançar, que nem eu.
- Bora, bora! - Bob tirou sua camisa branca, jogou-se no chão e começou a mexer seu corpo, rebolando. Cadu fez a mesma coisa.
- Não vou fazer isso, não. - gargalhei alto e procurei uma saída da roda. Ninguém me deixou sair. - Ah, cara... Qual é! - riram. Sendo assim, tirei a camisa, joguei-me no chão e fiz o grind on me também. Cadu, Bob e eu nos levantamos e fomos aplaudidos pelas meninas. - Caralho, não acredito que vocês me obrigaram a fazer isso! - dei um tapa na cabeça de cada um.
- A Maya amou, olha lá. - Bob apontou para a entrada da pista, Maya estava parada sorrindo. Ele vestiu a camisa.
- Eu também! - disse Babalu abraçou o Cadu.
- Eu não gostei, você só pode fazer isso para mim! Escutou Robert? - reclamou Vivian, que depois lhe deu um selinho.
- Já volto, galera. - disse indo em direção à minha namorada.
Josh POV - END
Depois de me despedir do Dimitri, voltei para a festa. Josh não voltava nunca e não queria ficar naquela quadra sozinha. Quando coloquei o pé no salão, vejo uma rodinha no meio da pista. As meninas gritavam que não se acabavam mais. Sem entender, aproximei-me. Josh, Bob e Cadu estavam fazendo grind on me. Aquela dança que os meninos fazem rebolando no chão ou na parede. Mordi o lábio inferior ao olhar para o Josh, obviamente. Quando eles acabaram de dançar, Joshua veio na minha direção sem camisa. Ele devia estar malhando, pois algumas marcas de abdômen definido começavam a querer se formar por ali. Vinha segurando sua blusa branca na mão.
- Podia dormir sem ter visto isso. - falei.
- Foi tão ruim assim? - arqueou a sobrancelha.
- Não. - coloquei um braço em volta do seu pescoço. - Não mesmo. - coloquei o outro e o beijei. Josh sorriu e olhou para as pessoas que estavam atrás de mim, minha família.
- Melhor eu vestir a camisa.
- Sim. - concordei e olhei para trás. Josh vestiu a camisa e depois passou a mão pelo cabelo.
- Então, cadê o Carl?
- Estava no lounge, sentado. - disse olhando ao redor.
- O quê? Não, ele foi falar com você lá fora. Estava indo com ele quando me puxaram para dançar.
- O Carl não foi falar comigo, eu estava falando com o Dimitri lá fora, não vi o Carl. - falei firmemente.
- Maya, precisamos encontra-lo agora! - Josh saiu puxando-me pelo braço. Fomos até a quadra e Carl não estava lá. - Puta que pariu! Sabia que não devia deixar ele sozinho!
- O que está acontecendo, Josh? Você e o Carl estão de segredinho desde o concurso. Exijo saber o que está rolando!
- O Caio, Maya. É ele! - Josh passou a mão desesperadamente no cabelo. - O Carl descobriu e pediu para que eu o ajudasse a confirmar e é ele. Esperou o Carl sair do salão para pega-lo. - segurou meus ombros. - O Caio vai mata-lo, Maya!
- O quê?! Como você só me conta isso agora?! Eu deixei o Caio vir a festa com a Claudia! Eu colaborei para isto, Josh! Você devia ter me contado!
- O Carl ia te contar! Eu queria contar no concurso mesmo, mas ele não deixou, disse que não era hora.
- E agora, depois dele ter sumido, é a hora?! - sentei-me no banco e apoiei a mão no joelho. - Não acredito que isso está acontecendo, cara!
- Vou procurar por ele, Maya. Fique aqui.
- Não! - levantei-me rapidamente. - Vou com você!
- Não, Maya. Fica aqui. Ele está descontrolado, pode ser perigoso.
- Foda-se! O Carl é amigo, já apanhou e levou tiro por minha causa! Não vou deixa-lo morrer!
Procuramos ao redor da quadra e não vimos ninguém. Estava começando a ficar preocupada, onde que Carl estava?
Carl POV
Estava indo falar com a Maya sobre o Caio. Josh ficou do lado de dentro dançando funk. Queria ter ficado e visto, seria uma cena hilária. De longe, vejo a Maya e um menino. Certamente é seu irmão. Maya falou dele e mostrou foto. Eles estavam, estavam... Se beijando. Parei no meio do caminho e pensei em voltar outra hora. Dei meia volta quando vi o que não queria ver. Claudia e Caio bem atrás de mim.
- Demorou para sair da toca, aleijadinho. - cerrou os punhos e empurrou-me. Acabei caindo no meio dos arbustos. Pegou-me pela gola da camisa. - Hoje você não escapa. - e saiu me arrastando para uma casa onde ficavam as coisas do zelador, não havia ninguém lá. Sentou-me na cadeira, colou uma fita adesiva na minha boca e amarrou os meus braços e pernas.
Maya e Josh não sabem onde estou, não tenho como avisar, nem gritar ou sair correndo.
Carl POV - END
Caio POV
Depois de amarrar o aleijadinho, voltei para a festa. Josh estava dançando, Maya nem na festa estava. Peguei um drink no Open Bar e voltei para o casa do zelador.
- Carl, Carl... Você não foi nem um pouco amigável comigo. Te avisei tanto, cara. Não queria te matar, mas... São ósseos do ofício. - dizia andando de um lado para o outro. Tentei dizer algo, mas foi em vão. Caio percebeu e tirou a fita da minha boca.
- O que você vai ganhar me matando? A Maya já sabe.
- Vou matar a Maya também. - sorriu.
- Por que, Caio?
- Porque só vou ser feliz quando vocês dois estiverem mortos.
Caio POV - END
Vimos a luz da casa do zelador acesa. Com certeza o zeladora não era, ele só fica lá de manhã, a tarde e em dias da semana, hoje é sábado. Resolvemos ir até lá. De frente para a porta, escutamos a voz do Caio. Josh chutou a porta, que abriu batendo na parede.
- Caio! - disse Josh ao entrar na casa. - Calma, vamos conversar. Por favor.
- Caio... - olhei para Carl. - Não, por favor. - implorei.
- Conversar o quê? Não tem nada para conversar.
- Por que está fazendo isso? - perguntei em meio as lágrimas.
- Por você nunca ter me dado uma chance! Por tirar meu único amigo! Você nunca gostou de mim, você tem pena de mim!
- Não, Caio! Nunca tive pena de você. Você era meu melhor amigo.
- E quando éramos crianças? Hein? HEIN! - gritou.
- Eu era muito boba quando criança, Caio, mas não sou mais assim já faz um bom tempo.
- É sim! Sempre foi! - puxou-me pelo cabelo. - Por isso que vou te matar que nem ele! - jogou-me em cima do Carl.
- Caio! - Josh puxou seu ombro. - Para com isso, cara. A gente pode te ajudar. Você não é assim.
- Sempre fui. - seu olho estava vermelho. Limpou o suor do rosto com as costas da mão. - Quem você acha que te fez cruzar com a Maya naquela festa, a que o Carl apanhou? Quem fez você ir até a festa? Quem armou para baterem no Carl? Quem fez você esbarrar com a Maya e caírem na cama? - gargalhou. - Você estava bêbado e precisava ir ao banheiro. Tinha um no andar de baixo, mas eu te levei para o andar de cima. Tinha visto a Maya no quarto e fiz com quê o Carl saísse de lá. Fiz você encontrar a Maya. - ele olhou pra mim. - O Josh sonhava acordado com você. - ria descontroladamente. - Quando menor, ele gostava de você, Mah. - olhei para Josh que mirou o chão. Josh nunca havia me dito isso. - Nunca te disse, né? - riu mais uma vez. - A Maya estava preocupada demais em correr atrás daquele cabeçudo da sala que eu esqueci o nome. O sentimento por você apagou, mas quando ele te viu de biquíni naquela última tarde de férias, a chama tinha voltado. Ele me contou que não parava de pensar em você, não é, Joshua? - deu dois tapinhas na cara dele, que continuava a olhar para o chão. - Josh bêbado faz tudo o que tem vontade e quando te viu naquela noite, bom, só queria uma coisa...
- Isso é mentira! - gritou Josh e olhou para mim. - Eu não ia te usar, Maya. Eu realmente gostei de você quando mais novo e gosto agora, te ver de biquíni naquele dia, fez com que os sentimentos voltassem. Não parei de pensar em você desde então, mas não desse jeito que ele diz. Jamais te usaria.
- Comendo ou não a Maya, eu fui lá e tirei foto! Vocês estavam tão desesperados que repetiram na casa de praia também, onde eu estava. Foram burros demais ao achar que o Stalker não estaria lá e que todos estavam dormindo.
- Não aconteceu nada na casa de praia. - falei.
- Aconteceu o suficiente para que o seu pai pensasse que vocês transaram. - sorriu. - Seu irmãozinho, deixou o celular jogado na sala e não tinha senha. Copiei o número do pai de vocês e enviei a foto.
- Você que batizou o meu copo, não foi a Vivian. - pensei em voz alta.
- Claro! Vivian é uma loura burra, não sabe fazer nada. Ia fazer com que ela me ajudasse, mas optei pela Claudia.
- Mas você... Não lembro de te ver naquela noite.
- Eu sou invisível. Você estava puta pelo Josh ter dado em cima de outra menina. Acabou deixando o copo de lado. Paguei ao garçom para batizar seu copo.
- O garçom que você matou. - concluiu Carl.
- Sim, ele mesmo. Só matei porque ele queria me internar. Depois de ver o estado da Maya, disse que sou maluco. Esperei que ele passasse por mim e o matei no banheiro da boate.
- E o meu amigo, o João? - perguntou Carl.
- Esse eu matei por ter achado o vídeo. Você levou dois tiros por tentar mostrar o vídeo a Maya, mas você parece um gato! Não morreu! - parecia irritado. - Todos que matei tiveram motivos para morrer.
- Motivos ridículos! - disse Carl. Caio tirou a arma na cintura e mirou em Carl. - Saiu matando e prejudicando as pessoas por quê?
- Porque tenho raiva de todos vocês! - gritou. - Amigos são aqueles que estão em todas as horas, mas vocês não estiveram. Agora querem, não é? - perguntou com um sorriso maníaco em seu rosto. - Agora é tarde! - gritou.
- Claudia, por que concordou com isso? - perguntou Josh. - Por que?
- Porque queria você só pra mim e o Caio me prometeu isso.
- Ele vai te matar, sua idiota! O Caio está te usando. Ele quer me matar porque estou com o Josh, se você ficar com ele, vai te matar também. - falei. Ela olhou para o Caio desconfiada.
- Cala a boca, Maya! Estou cansado de ouvir sua voz! - mirou a arma na minha cabeça.
- Você não vai atirar mais em ninguém! - Josh pulou em cima de Caio para pegar o revólver.
Claudia olhava assustada. Eu tentava desamarrar Carl para que buscasse ajuda, quando ouvi um disparo. Não queria virar o rosto para olhar. Claudia que estava perto de mim, caiu no chão. Não tava baleada. Se ela desmaiou... Olhei lentamente para ver quem tinha sido baleado. Entrei em choque no mesmo segundo, não consegui fazer mais nada. O Josh levou o tiro. Sua blusa estava vermelha de tanto sangue. Comecei a gritar histericamente. Arrastei-me até o seu corpo.
- Aaaahhhh! - chorava de soluçar. - Não, Josh, não! - segurei seu rosto. Estava trêmula e gelada. - Não me deixe! Por favor! - encostei meu rosto em seu peitoral. - Você é o meu Peeta. Eu te amo, Joshua Ryan Hutcherson. - lágrimas escorriam pela minha bochecha.
- Não queria fazer isso, não queria fazer isso... - Caio deu um passo para atrás olhando para o seu revólver e sentou no chão. Suas mãos tremiam.
De relance, vi Carl se levantar com a muleta. Rapidamente, uma bala atravessou seu ombro, o mesmo que o da outra vez. Caio estava furioso.
- Você não vai ficar vivo! - dizia enquanto andava na direção de Carl que tentava se esquivar. - Você. Não. Vai. Ficar... VIVOOO!! - gritou pisando na perna machucada do menino. Escutei o osso da sua perna quebrar. Tampei os ouvidos de nervoso. Carl gritava e chorava muito. Caio pisou de novo, Carl gritou para que parasse, mas ele pisou na outra perna. Não sabia se tentava ir embora ou se ajudava. Levantei-me decidida pela segunda opção. Mesmo trêmula, peguei uma pá que estava jogada no canto. Caio socava a cara de Carl e dizia a mesma frase repetidas vezes: "Você não vai ficar vivo!". Passei pelo corpo de Josh de novo.
- Eu... Vou... Te salvar, m-meu a-mor. - gaguejei. - E... O Carl t-também. - aproximei-me por trás do Caio, juntei o pouco de força que ainda tinha e bati com a pá na cabeça dele, que caiu no chão. - C-Carl... - coloquei a mão em seu rosto, depois no pulso. Ainda estava batendo. Ele estava vivo. - Carl, precisamos sair daqui.
- M-Maya... Não sinto as minhas pernas. - disse com a voz fraca. - Não... Vou conseguir andar.
- Me empresta o celular? - ele olhou para o bolso. Peguei o celular do seu bolso e disquei o número da Luana. Meu celular havia ficado no salão.
Ligação On:
Luana: Alô?
Maya: Luana, preciso da sua ajuda é urgente. Caso de vida ou morte!
Estava chorando.
Luana: O quê foi, Mah? Por que está chorando?
Maya: Venha até a casa do zelador, é no final do play. Chama os meninos, preciso de ajuda e venham rápido. Por favor! Rápido!
Luana: Está bem, calma. Estamos indo agora! - desligou o telefone.
Ligação Off
- Maya, aconteça o que acontecer, não se vingue do Caio. Não é com vingança que você vai resolver algo.
- Está bem.
- E aconteça o que acontecer, não abandone o Josh. - assenti com a cabeça e lhe abracei. - Depois da tempestade, sempre vem o sol. No momento, você é o sol dele, vá ficar com o Josh. - olhei para o outro lado e o vi estirado no chão, coberto de sangue.
- Carl...
- Vá, Maya. Estou bem. - ele tossiu. Estava muito fraco. Levantei-me para ir até o Josh. - Maya? - parei no meio do caminho e olhei pra ele. - Te amo, com o todo o respeito e amizade, é óbvio. - sorriu de lado.
- Eu também te amo, Carl. - sorri de lado e voltei a chorar. Chegando perto do Josh, peguei alguns pedaços de papel higiênico e tentei estancar um pouco o sangue.
Luana POV
Pela voz da Maya, era sobre aquele assunto de Stalker. Thiago e eu chamamos os meninos. Babalu e Vivian quiseram ir também. Fomos todos procurar pela casa do zelador. Felizmente, logo achamos. Corremos até ela e ficamos boquiabertos com o quê vimos. Josh no chão cheio de sangue, Carl ensaguentado também, Maya no chão, Caio com uma arma deitado no chão e Claudia desmaiada. Bob e Cadu foram pegar o Josh. Thiago ajudou a Maya a levantar o Carl, que ainda estava vivo. Babalu e Vivian foram ver se Claudia estava com alguém ferimento, se estava viva.
Luana POV - END
Eu e Thiago segurávamos o Carl. Caio havia pisoteado suas duas pernas. Estávamos saindo daqui quando vejo alguém se levantando e não era o Josh, era o Caio. Colocou a mão na cabeça, mas quando viu o que estava acontecendo, mirou e apertou o gatilho. Bob se jogou por cima dele para impedir que atingisse alguém, mas era tarde. A bala vinha na minha direção, cerrei os olhos. Senti um peso sobre mim e caí, mas não senti a bala entrando. Abri os olhei e vi o Carl jogado aos meus braços. Seus olhos estavam fechando lentamente.
- Nããããoooo! - gritei. - Carl! Não, por favor! Carl! - lágrimas começavam a rolar. Olho para o lado e vejo Bob tirar o revólver da mão de Caio e lhe dar um soco no rosto. - Nãããooo! - segurei sua mão. - Não, não, não!
- Maya, ele pulou do meu colo. Me desculpe! Eu não... Me perdoe! - desesperou-se Thiago.
- Carl... - segurei seu pulso e não pulsava mais. - Me desculpe. - encostei o ouvido em seu coração e havia parado também. - It's too late to apologize. - fechei os olhos. Uma lágrima solitária escorreu em meu rosto.
- Precisamos levar o Josh ao hospital. Sua situação é grave, está perdendo muito sangue. - disse Cadu.
- Vem, Maya. - Luana segurou minha mão para que eu levantasse. Ela evitava chorar. Quando levantei, lhe dei um abraço apertado e voltei a chorar.
Em pouco minutos, a ambulância chegou e levou Josh e Caio. A Claudia eles conseguiram fazer com quê ela acordasse depois. Afirmaram que Carl tinha mesmo falecido. Meus familiares não entenderam nada, em um minuto estava todos dançando se divertindo e no outro, um banho de sangue. Troquei meu vestido ensanguentado por uma calça jeans e um moletom. Fui direto para o hospital, queria saber como estava a situação do Josh. Já perdi o Carl, se eu perder o Josh... Nem sei o quê faço da minha vida.
Tia Michelle estava aos prantos. Babalu e Vivian estavam com os olhos inchados de tanto chorar. Bob limpava as lágrimas com as costas da mão. Cadu olhava para os pés, seu cabelo, como é um pouco grande, escondia seu rosto. Porém o chão estava molhado por causa do seu choro. Luana estava abraçada com Thiago, seu rosto claro, estava vermelho de tanto chorar. Thiago não chorava, mas seu olhar estava distante e triste. Sentia-se culpado por não ter conseguido salvar Carl. Minha mãe chorou escondido de mim, eu escutei do corredor. Na minha frente ela tentava se manter forte. Viu o menino nascer e agora estava à beira da morte.
Sentei-me perto da Luana para esperar alguma notícia do médico. O doutor falou que a cirurgia para tirar a bala ocorreu bem, mas ele ainda não estava completamente fora de risco. Josh estava no quarto, mas em observação. Pedi à tia Michelle se poderia ser a primeira a entrar. Ela deixou. Josh estava pálido, com os lábios roxo. Fui até o lado da cama e segurei sua mão. Estava gelada. Respirei fundo e disse:
- Josh, estou aqui. - algumas lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. - Você vai ficar bem. This I promise you. - a frase que ele sempre me dizia quando algo não dava certo, dizia que tudo ficaria bem e que prometia aquilo a mim.
Não acredito que aquilo estava acontecendo comigo. O amor da minha vida, o homem pelo qual sou incondicionalmente apaixonada está a beira da morte. O Carl, a melhor pessoa que já conheci em toda a minha vida, morreu. Só de pensar em seu nome, escuto seus gritos pedindo para que Caio parasse de pisotear sua perna e lembrei das suas últimas palavras:
"Aconteça o que acontecer, não abandone o Josh."
"Te amo, com todo respeito e amizade."
Acho que não serei capaz de demonstrar o quanto sou grata por tudo o que fez por mim. Queria lhe pagar em dobro e em ações. Não tenho como tirar a dor da sua mãe ou do seu pai. Se eu tivesse visto aquele vídeo... Nada disso teria acontecido. Carl estaria do meu lado rindo, brincando e falando besteiras ou frases inspiradoras. Josh e eu estaríamos juntos, vendo filmes ou apenas nos beijando mesmo. Por que destruo tudo? Isso é tudo culpa minha! Continuei segurando sua mão e rezando para que ele sobrevivesse. Jamais conseguiria viver sem esses dois homens na minha vida. Não vou conseguir, não dá. Lágrimas escorriam com intensidade pelo meu rosto.
- Maya, a Michelle quer entrar. - disse minha mãe,assenti com a cabeça e saí do quarto.
Do lado de fora, todos ainda estavam lá. Bob e Cadu pararam de chorar e estavam com suas respectivas namoradas. Luana me deu um forte abraço e disse que tudo acabaria bem. Aquilo era o que eu mais queria, que acabasse e bem. Logo precisamos ir embora, já estava tarde e estávamos em um número grande de pessoas.
No caminho para casa, fomos em silêncio. Minha mãe não perguntou nada e eu também não queria falar. Chegando no meu apartamento, vi a bolsa de presentes, o do Josh estava logo em cima. Subi correndo, pois queria chorar. Minha mãe me seguiu. Chegando ao quarto, joguei-me na cama. Mamãe me aconchegou em seu abraço. Ela não disse uma palavra ou tentou mudar meu humor, saberia que não ia adiantar de nada. A dor precisa ser sentida. Quando li no livro do John Green, não entendi exatamente, mas agora sei o que ele quis dizer.
Na manhã seguinte acordei com dor de cabeça. Não havia dormido direito. Tive pesadelos. Josh caindo no chão, Carl gritando e Caio gargalhava.
"Você não vai ficar vivo"
"Você não vai ficar vivo"
E não ficou. Essa frase ecoava na minha cabeça. É domingo e não tem escola. Ouvir metade do pessoal me desejando pêsames, sendo que está pouco se lixando para mim, é o que exatamente eu não preciso agora. Levantei-me e olhei no espelho. Meu rosto estava inchado. Minha mãe entrou no quarto para avisar que o enterro do Carl seria às 10 horas. Olhei no relógio e eram 9 horas. Desci para comer alguma coisa, mesmo não estando com fome, mas precisa colocar algo no estômago ou desmaiaria. Comi pão e tomei nescau. Minha mãe tomava café e comia torrada. Olhava para a parede e passava um filme na minha cabeça, de tudo o que aconteceu ontem.
- Filha.. - minha mãe colocou sua mão em cima da minha. Olhei assustada. - Sei o quanto é difícil, mas tente não pensar na noite de ontem.
- É inevitável, mãe. - segurei o copo com as duas mãos e bebi um gole de nescau. - Inevitável.
Acabei de tomar café e subi para tomar banho. A água escorria pelo meu corpo e eu fiquei parada por um bom olhando para o nada de novo. Balancei a cabeça e resolvi tomar logo banho. Minha mãe tem razão. Preciso evitar esses pensamentos. Cheguei no quarto para trocar de roupa, quando escuto algum vizinho ouvindo sertanejo.
Mas eu, eu, eu
Prefiro estar aqui te perturbando
Domingo de manhã
Automaticamente essa música me lembrou o Josh, que ainda estava internado. Todo fim de semana ele vinha me acordar de manhã e me perturbava até a gente sair para algum lugar. Sempre preferi ficar em casa dormindo, mas o Joshua não, sempre preferiu procurar o que fazer na rua. Também queria estar te perturbando em um domingo de manhã, Josh. Respirei fundo para não chorar e fechei a janela, abafando o som. Vesti uma regata preta com o símbolo do Red Hot Chilli Peppers, a banda preferida do Carl. Vesti um jeans escuro e meu Vans preto. O tempo estava fechado, então, coloquei meu blusão quadriculado vermelho por cima da blusa. Coloquei meu Ray Ban Aviador, pois meus olhos estavam muito inchados e deixei o cabelo solto mesmo. 9h40 min eu desci. Minha mãe estava com um vestido preto e sapatilha.
Chegando ao cemitério, deparei-me com todos os meus amigos. Luana, Thiago, Vivian, Babalu, Bob e Cadu. Eles mal conheciam o Carl e mesmo assim vieram. A professora do curso também lá, com um óculos redondo. Provavelmente havia chorado. Dei pêsames aos seus pais e depois sentei-me ao lado da minha mãe para ouvir o padre falar. Belas palavras que ele disse. No final do seu discurso, ele perguntou se alguém queria falar algumas palavras para Carl. Levantei o braço. O padre fez sinal para que eu me aproximasse.
- Bom dia. - todos responderam cabisbaixos. - Sou uma amiga do Carl. Eu o conhecia do curso de inglês. Bonito, carismático, popular, porém o menino que conheci esse ano era muito mais do que isso, um menino pelo qual me encantei. Éramos apenas amigos, mas ele foi a melhor pessoa que já conheci na vida. Com seus conselhos e observações brilhantes sobre a vida, ele encantava todos por onde passava. - peguei o celular do bolso e liguei o som.
Fly away on my Zephyr
I feel it more than ever
And in this perfect weather
We'll find a place together
In the water where I center my emotion
All the world can pass me by
Fly away on my Zephyr
We'll find a place together
- Essa música é da sua banda preferida, Red Hot Chilli Peppers. Escutando-a lembro dos momentos que passei com ele, rindo, brincando, jogando video game, vendo filme ou das conversas no curso. Momentos que jamais esquecerei, momentos que com outro amigo jamais terei. O Carlos é insubstituível. - senti uma lágrima escorrer. - É verdade que ele encontrou um lugar melhor, mas eu daria o mundo para ver seu rosto e estar perto dele outra vez. Você foi muito cedo e agora a coisa mais difícil é dizer adeus. Não vou e não quero, pois sei que de alguma forma, você estará ao meu lado. Te amo, com todo o respeito e amizade, Carl.
Bob, Vivian, Cadu, Babalu, Thiago e Luana ficaram em pé. Chegando a frente deles, todos me abraçaram. Um abraço em grupo. Chorei mais ainda. Voltei ao meu lugar. O caixão do Carl foi enterrado. Antes de ir para casa, fui mais uma vez falar com os pais do Carl. Não sei exatamente o que falaram para seus pais. Eles pensam que foi assalto ou algo do tipo. Pensei em contar realmente o que houve, mas acho que agora não é hora, então apenas lhe desejei pêsames mais uma vez. Fiquei em casa olhando para o teto. Esperava dar a hora da visita do Josh. Às 14 horas fui para o hospital. Michelle havia dormido com ele. Ela saiu para tomar café e deixou-me com ele. Segurei a mão do Josh, que estava gelada.
- Estou aqui. Não vou te abandonar. - disse tocando seu rosto. - Você vai ficar bem.
Sentei-me na cadeira ao seu lado e continuei segurando sua mão. Queria chorar, mas já estava cansada e sem força para tal ato. Tia Michelle entrou no quarto com a caneca de café na mão.
- A situação dele ainda é grave? - perguntei. Ela assentiu com a cabeça e sentou-se no pequeno sofá bege, o qual ela havia dormido noite passada provavelmente.
- Depois que o Chris se foi, Josh se manteve forte para cuidar de mim. Mesmo tão jovem fisicamente, mentalmente ele já era um homem. - lembra sorrindo de lado. - Sei que desta vez não será diferente. Joshua vai ser forte como sempre foi. - passou a caneca de café para a outra mão.
- Com certeza. Sempre foi muito persistente. - passei a mão em seus cabelos. - Ele vai conseguir reagir.
Michelle e eu ficamos em silêncio por alguns minutos, até alguém bater na porta. Achei que era o médico avisando que o horário de visita havia terminado, mas olhei a hora no celular e ainda restavam 2 horas de visita. Quando a porta se abriu, fiquei boquiaberta. Michelle não sabia quem era.
- Desculpe, mas não te conheço. Quem é você?
- Sou Claudia, am... conhecida do Josh. - disse mirando o chão. Tia Michelle olhou para mim, que bufei. Como ela tinha coragem?! Tia Michelle sentiu que precisávamos conversar. Ela só não sabia que aquela mocinha contribuiu para que o seu filho estivesse naquele estado.
- Vou deixar vocês a sós. - disse se levantado. - Meia hora. - olhou para mim, que assenti. Ela saiu do quarto.
- Como ele está? - perguntou Claudia se aproximando de Josh. Levantei-me.
- Como você acha que ele está? - disse em um tom grosseiro.
- Maya, eu não queria que terminasse assim...
- Ah, não? Você dá corda pra maluco e queria que terminasse como? - ela abriu a boca, mas continuei a falar. - Ah, não! A ideia era matar Carl e eu. Bom, um vocês conseguiram. Está feliz?
- O Carl morreu? - ela parecia chocada. - Eu não... Desculpe, Maya.
- Não aceito suas desculpas. A propósito, nem devia se desculpar comigo.
- Eu realmente não sabia, Maya. Eu desmaiei depois que o Josh levou o tiro. Não soube de nada que aconteceu depois.
- Caio atirou no Carl, que morreu na hora.
- Meus pêsames. - disse ela. - Sabe onde o Caio está?
- Não e não quero saber. - olhei nos olhos dela. - Me diz, Claudia, como você consegue?
- O quê?
- Viver sabendo que ajudou a levar uma pessoa à morte.
- Eu... Já vou. - disse dando passos para trás. - Tchau, Maya. - e saiu desenfreada.
Claudia saiu do quarto, dando entrada para Michelle.
- Ela era amiga do Caio? O ajudou? - perguntou a mãe do Josh, eu apenas desviei o olhar. Ela havia entendido tudo.
Bob, Thiago e Cadu chegaram para visitar o amigo. Carlos Eduardo disse que Babalu estava atordoada com tudo o que aconteceu, mas que no dia seguinte, depois da aula, iria visita-lo com a Vivian, que também estava abalada. Afinal de contas, Josh foi seu amor durante vários anos. Segundo Thiago, Luana não parava de chorar e tinha pesadelos com a morte de Carl. Acordava chorando e ligava para ele, que passou a dormir na sua casa para que ela evitasse de ter pesadelos. Deixei os meninos com o Josh e fui para casa. Estava morta de cansaço, olhos pesados, mas não conseguiria dormir. Tudo ainda me assombrava.
Havia acabado de tomar um banho morno. Secava o meu cabelo com a toalha em frente ao espelho. Reparo que no canto esquerdo, tem uma foto minha, do Josh e do Caio quando menores. Eu e Josh ríamos felizes, mas Caio forçava um sorriso. Nunca reparei naquilo, ele nunca sorria naturalmente, sempre forçava. Para mim, era o seu normal. Pensando melhor, nunca reparei de verdade no Caio. Se tivesse, tinha percebido seu ódio mortal por mim. O problema é que ele sempre se mostrou o contrário, sempre foi muito amável comigo. Sei que quando criança era uma Vivian da vida. Metida, esnobe, me achava melhor que todos porém depois que fiquei um pouco crescida, percebi que aquilo tudo foi uma fase de criança, uma péssima fase por sinal. Tanta gente legal falava comigo, Caio principalmente e eu esnobava. Passei a falar com todos e depois veio outra fase minha, a fase "anti-social". Me fechei por causa das zoações da Vivian por eu ser gordinha. Meus únicos amigos eram Caio e Josh. Ou apenas Caio, já que passei a gostar do Josh. E pensar que ele já gostou de mim quando pequeno. Esse mundo realmente dá voltas!
"Aconteça o que acontecer, não se vingue do Caio."
Lembrei-me do que o Carl disse. Estou com muita raiva do Caio, muita mesmo! Mas também estou com uma certa pena. Se ele estivesse realmente bem, não mataria 4 pessoas e tentaria me matar, ou mataria? Onde será que ele está agora?
Caio POV
Lentamente abri um dos olhos. Não reconheci aquele lugar. Abri o outro olho. Pisquei duas vezes e tudo começou ficar mais claro, literalmente. Estava em um quarto todo branco e fechado. Sentei-me na cama e olhei ao redor. Do lado esquerdo tinha um sofá e uma pequena prateleira com livros. No lado direito tinha um armário. Atrás de mim, uma parede também branca e no alto dela, um vasculhante e um ar condicionado. Na frente da cama, tinha uma porta. Fui até ela. Estava trancada. Por que estou trancado em um quarto branco? Bati na porta e gritei para me tirarem dali. Ninguém foi até lá. Bati mais uma vez, porém mais forte. Nada de novo.
- O que estou fazendo aqui? - me perguntei. - Que lugar é esse?
A porta se abriu e um homem alto com óculos e uma prancheta na mão entrou.
- Olá, Caio! Como está se sentindo?
- Normal. - respondi. - Que lugar é esse? O que faço aqui?
- Sente, Caio. Precisamos conversar. - me sentei no sofá, o homem se sentou ao meu lado. - Me chamo Humberto e serei seu amigo daqui em diante.
- Eu escolho meus próprios amigos. - falei.
- Está bem. - disse ele calmamente. - Caio, você não fez coisas muito legais e estamos aqui para ajuda-lo.
- Eu não preciso de ajuda! - levantei-me. - Estou bem, quero ir embora daqui!
- Caio...
- Quero ir embora daqui! Agora! - segurei a gola da sua camisa. Ele pegou o alque-toque e disse algo. Em menos de cinco minutos, várias enfermeiras entraram no quarto e me seguraram a força na cama. O tal de Humberto aplicou uma injeção em mim e disse:
- Vai ficar tudo bem. - e eu apaguei.
Caio POV - END
Minha mãe deixou que eu faltasse a escola na segunda e terça, pois tive péssimos pesadelos. O curso de inglês? Bom, eu saí. Não aguentaria ficar lá e saber que não veria mais o Carl entrar pela porta, arrastando o chinelo e com fones de ouvido. Seria muito doloroso para mim. Na quarta, precisei ir a escola. Estava no final do 3º bimestre e repetir o 2º ano está fora de cogitação. O colégio não parecia o mesmo. Kentucky que sempre foi animado e barulhento, hoje estava silencioso e triste. O tempo continuava fechado e parecia que ia chover. Passei pelo pátio interno antes de ir para o corredor das salas e no enorme mural tinha uma foto do Josh, em que ele está sentado na areia da praia, vestindo uma camisa térmica de surfe e uma bermuda. Seu cabelo levemente molhado e bagunçado, e sorria de boca aberta. Seu melhor sorriso. Ao lado da sua foto estava escrito: "Força, Josh! Estamos com você!". Tive vontade de chorar quando vi. Saí correndo para a minha sala. Ainda não tinha ninguém lá. Durante a aula, a minha turma nunca esteve tão quieta. Ninguém prestava atenção no conteúdo, mas também ninguém atrapalhou com brincadeiras.
No recreio, a chuva resolveu cair. Luana me chamou para ficar com ela, as meninas e os meninos. Vi a Claudia isolada no canto. Todos a olhavam de cara feia. Uma menina que passou ao meu lado disse:
- Escutei dizer que ela que mandou atirar no Josh. - referiu-se a Claudia.
- Queria se vingar da Maya. - disse a outra.
Balancei a cabeça negativamente, coloquei os fones de ouvido e pluguei no celular. Deixei as músicas tocarem no aleatório. Esse povo nem sabe o que realmente aconteceu e quer falar. Fofoqueiro é a pior espécie de ser humano. Obviamente que meu celular escolheria uma música deprê, ele sabe tudo de mim, tem vida própria. A melodia é triste, mas a música em si, é bonita.
Every step I take
Every move I make
Every single day
Everytime I pray
I'll be missing you
Thinking of the day
When you went away
What a life to take
What a bond to break
I'll be missing you
Depois de tocar I'll Be Missing You, começou a tocar McFly, Not Alone. Ela é tocada no violão. Amo músicas acústicas e essa é simplesmente perfeita.
Life is getting harder day by day
And I, I don't know what to do what to say, yeah
And my mind is growing weak every step I take
It's uncontrolable now they think I'm fake
Yeah
'Cause I'm not alone (no, no, no)
But I'm not alone (no, no, no)
I'm not alone
Olhava ao redor e todos estavam no refeitório por causa da chuva. Bob, Cadu, Babalu e Vivian conversam sobre qualquer coisa tentando se distrair. Luana comia seu biscoito lentamente e Thiago olhava para o nada, com o olhar distante. Os outros alunos continuavam julgando a Claudia e passavam por mim com cara de pena. Sinceramente, pena é a última coisa que quero desse povo. Eles estão assustados com o que houve, mas ao mesmo tempo não ligam. Tirando Bob, Thiago, Cadu, Babalu, Thiago, Luana e Vivian, ninguém mais vai visita-lo no hospital. Tenho certeza.
People rip me for the clothes
I wear, yeah yeah
Every day seems to be the same
They just swear, yeah
They just don't care
They just don't care
They just don't care
'Cause I'm not alone (no, no, no)
But I'm not alone (no, no, no)
Resolvi sair do refeitório. Todo mundo junto, me olhando e fofocando, estava me sufocando. Luana disse algo, mas não ouvi por causa da música. Li seus lábios, ela perguntava aonde que eu iria. Disse que iria andar por aí. Lu se ofereceu para ir, recusei. Quero ficar um pouco sozinha. Usava o moletom que Josh me dera naquela noite que a tia Michelle quase nos pegou no flagra. A estampa da blusa dizia "Keep Calm", mas a última coisa que conseguiria manter naquele momento era calma. Estava agoniada pelo Josh estar internado, agoniada por ter que aturam esse povo da escola em vez de ficar ao seu lado, segurar sua mão e dizer: "Está tudo bem. Estou com você.". Começou a tocar outra música. Desta vez era Avril Lavigne, Wish You Were Here.
I can be tough, I can be strong
But with you it's not like that at all
There's a girl that gives a shit
Behind this wall, you just walk through it
And I remember all those crazy things you said
You left them running through my head
You're always there, you're everywhere
But right now I wish you were here
Coloquei o capuz e ainda pela área verde. Não tinha ninguém lá. A chuva não estava forte, mas dava para molhar e pegar resfriado, porém I don't care. Precisava de ar livre. Vi a árvore em que sentávamos todos os dias. Josh disse quando me pediu em namoro que a escola era um lugar especial, pois tudo aconteceu lá. E era verdade. Aqui que descobri que gostava dele, aqui que nos beijamos oficialmente, aqui que ele me pediu em namoro, aqui que aconteceram as brigas, aqui que eu fizemos as maiores loucuras de amor e aqui que ele fez as melhores declarações que eu já tive em toda a minha vida. Música e violão. Duas coisas que ele sabe que amo, e usou bastante a seu favor. Não consigo acreditar que o cara que me fez sentir todos os sentimentos possíveis, até os que eu jamais imaginei ter, está se esvaindo das minhas mãos. Não posso deixar que ele vá embora. Preciso fazer algo, mas não tinha nada que eu podia fazer. Só queria ele aqui.
Damn, damn, damn
What I'd do to have you here, here, here
I wish you were here
Damn, damn, damn
What I'd do to have you near, near, near
I wish you were here
Quando estava indo para o corredor das salas, todos que estavam no refeitório, pararam para me ver. Devem estar achando que sou louca por estar na chuva. Foda-se eles. Segui para o corredor e tinha um casal se agarrando lá. Rolei os olhos e continuei andando. Bebi um pouco d'água no bebedouro e fui até o banheiro, que era ao lado. Me olhei no espelho e estava ensopada. Fui até a porta e a tranquei. Tirei o moletom e coloquei para secar no secador automático. Sei que servem para secar as mãos e provavelmente demoraria para secar um moletom, mas não estava com pressa e existe mais 4 banheiros nesse colégio. Enquanto o meu casaco secava, olhei ao redor. Foi nesse banheiro que o Josh ia me pedir em namoro, foi no dia que o vi abraçado com a Claudia. Balancei a cabeça negativamente, se eu começar a pensar nessa individua, vou começar a chorar porque vou me lembrar da festa. O moletom estava razoavelmente seco. Então o deixei de lado e tirei a calça jeans. Sim, estava de calcinha no banheiro da escola. Ouvi o sinal tocar, mas continuei dentro do banheiro secando o meu jeans. Pelo menos era escuro e não ficou tão sujo. Enquanto esperava cochilei rapidamente. Escutei Caio gritar: "Você não vai ficar viva, Maya!" e bateram na porta. Me estremeci toda e a calça caiu no chão. Ela estava bem menos seca que o moletom, mas pelo menos não estava mais encharcada. Vesti a calça jeans. Assegurei-me que estava com o zíper fechado e vesti o moletom de novo. Abrindo a porta, vi que era Luana.
- Era você? Me assustou, Luana! Cacete! - coloquei a mão no coração.
- Desculpa, mas estava desesperada atrás de você. O que fazia trancada no banheiro?
- Secando a roupa. - respondi simplesmente seguindo para a sala.
- Aonde? - perguntou Luana atrás de mim.
- No secador.
- Onde a gente seca a mão? - segurou meu braço.
- Sim. Não quero ficar resfriada. Se eu ficar doente não vou poder visitar o Josh.
- Entendi. Vai com a gente hoje? - perguntou.
- Claro.
- Tá bem. Se for liberada primeiro, espere a gente onde... - parou para pensar no que ia dizer. Certamente achou que não devia falar sobre aquele lugar, onde ele me encontrava todos os dias.
- Onde eu esperava o Josh? - ela assentiu com a cabeça. - Tudo bem. Até mais tarde. - ela me abraçou e seguiu para a sua sala.
O sinal da saída tocou. Eu, Babalu e Vivian ficamos no corredor esperando pela Luana e o meninos. Dia de semana a visita é às 13 horas. Tínhamos 30 minutos para chegar ao hospital. Comecei a ficar agoniada, a 22 não era liberada de jeito nenhum. Aos poucos os alunos foram saindo. Graças a Deus! Gritei em pensamento. Claudia é uma das primeiras a sair, saiu cambaleando, se segurando na parede. Não parecia estar bem. Bob veio logo atrás, viu que ela ia cair e a segurou. Robert está sempre na hora certa pelo visto. Nos aproximamos.
- Claudia! - Bob a chamava. Ela não respondia. - Claudia? - e nada. - Acho que ela desmaiou.
- Ela precisa ir ao hospital. - falei.
Nos dividimos em 2 táxis para ir ao hospital. Deixei que as meninas fossem visitar o Josh e eu ficaria com a Claudia. As meninas não tinham visto o Joshua e se os meninos ficassem com ela, provavelmente não saberiam o que fazer. Traisac ficou no soro por alguns minutos e fez algumas exames. Ela estava sentada na maca e eu em pé próximo a porta. Estávamos esperando o resultado do exame.
- Obrigada, Maya. - disse ela.
- Não ache que somos amigas agora. Fique sabendo que só te trouxe para cá porque era caminho. - disse sem olhar para a sua cara.
- Eu sei, mas você não foi visitar o Josh. Está aqui comigo.
- Claudia, não faça me arrepender de trazer você aqui. - olhei para ela. - Sou uma pessoa boa, diferente de você!
- Eu também...
- Não, você nunca foi uma pessoa boa. - disse seriamente.
A médica entrou na sala segurando uns papeis na mão.
- Claudia Traisac? - a médica olhou para mim.
- Me mataria se fosse ela. - a médica então, parou na frente da Claudia.
- Bom, estou o resultado dos exames.
- Estou indo. - disse colocando a mão na maçaneta.
- Fica, Maya. Por favor. - pediu Claudia. Rolei os olhos e voltei para o meu lugar.
- Posso? - perguntou a medica. Claudia assentiu. - O resultado do exame é que você está grávida, Claudia.
- Grávida?! Não, não! Não posso estar grávida! Isso não é possível!
- Você usou preservativo na sua última relação sexual? - Claudia parecia tentar se lembrar. Eu estava boquiaberta. Balançou a cabeça negativamente. - Você toma anticoncepcional? - Claudia balançou mais uma vez a cabeça negativamente. - Pílula do dia seguinte?
- Não. - mirou o chão.
- Claudia, isso que você fez não foi certo. Não se pode ter uma relação sexual sem se proteger. Isso é perigoso! Deu sorte que está apenas grávida.
- Apenas grávida?! - gargalhou. - Espera! Você não é minha mãe, não é o meu pai! Não tem o direito de me dar sermão! - exaltou-se Claudia, saindo porta afora. A porta bateu, fazendo com que eu cerrasse os olhos.
- Obrigada. - e saí lentamente do consultório.
Claudia não estava no corredor. Não faço a mínima ideia para onde ela foi. Só sei que ela não é problema meu. Já fiz muito a trazendo até o hospital. Indo a caminho do quarto do Joshua, encontrei com Thiago, Bob e Cadu sentados na sala de espera. Cadu parecia estar jogando no celular só por distração, Bob olhava para a televisão mas não prestava atenção, Thiago estava sentado todo desleixado na cadeira olhando para a parede e a tia Michelle estava de olhos fechados segurando um terço, que tem levado todos os dias desde sábado à noite. Chegando ao quarto do Josh, bati duas vezes na porta. Luana abriu. Peguei Vivian secando as lágrimas com as costas da mão.
- Eu saio para você ficar. - disse Vivian fungando. Segurou a porta e saiu. Babalu passou a mão no meu ombro, sorriu cabisbaixa e saiu do quarto também.
- Vou sair para a mãe dele entrar. - disse Luana. Segurei seu braço.
- Fique aqui comigo. Por favor. - ela assentiu com a cabeça. Passei a mão no rosto de Josh e lhe beijei na testa. Sentei-me no pequeno sofá branco. Luana se sentou ao meu lado.
- Ainda estou tentando entender como isso chegou a esse ponto. Três pessoas mortas e uma internada. - passei as duas mãos no cabelo, fazendo com quê ele ficasse para trás.
- Eu também não sei, Mah. - respirou fundo.
- Diz ao Thiago que ele não tem culpa, Luana. Tudo aconteceu muito rápido. No segundo que fechei os olhos por causa da bala, Carl se jogou. Não tinha como o Thiago evitar.
- Todos estão se culpando Maya. Cadu por ter chamado Josh para dançar em uma má hora, Bob por não ter desarmado Caio enquanto ainda estava no chão e Vivian por ter feito da sua vida um inferno durante esse tempo todo.
- Vocês não têm culpa de nada. Eu que fui burra, devia ter visto a merda daquele vídeo! Se eu soubesse que era o Caio, jamais tinha o convidado para festa. Teria agido totalmente diferente com ele!
- Não adianta se culpar. Agora a única coisa que temos que fazer é rezar para que o Josh saia dessa. - Luana me abraçou de lado.
- O que será daquela criança? Coitada! - ri de nervoso.
- Criança? Maya, você está... - Luana olhou para a minha barriga.
- O quê? Não, eu não! Claro que não! Sou virgem... ainda.
- De quem está falando, então?
- Promete não contar para ninguém?
- Prometo.
- A Claudia está grávida e provavelmente é do Caio.
- Meu Deus! - tampou a boca. - Mas o Caio está completamente descontrolado, como vai criar um filho?
- Claudia também não está nada bem também. Gritou com a médica e saiu correndo do consultório.
- Meu Deus! O que será dessa criança?
- Do jeito que a Claudia é louca, deixa a criança no lixo.
- Cruzes, Mah!
- É verdade, Lu. A Claudia é maluca, cara. - escutamos alguém bater na porta. Era a mãe do Josh.
- Posso ficar um pouco com ele?
- Claro! - respondemos. Saímos do quarto para a Michelle ficar com o Josh.
Claudia POV
Saí correndo para casa. Eu não podia estar grávida! Não mesmo! Meus pais vão me matar! Bendita hora que resolvi transar na escola, maldita hora que deixei rolar sem camisinha. Que raiva! Eu não posso ter essa criança. Preciso arrumar um lugar onde aborte. Não vou ser mãe aos 17 anos, não mesmo!
Antes de entrar em casa, parei na lojinha para comprar Fini. Estava com fome. Entrei de mansinho em casa. Meus pais nem podem sonhar que estive no hospital. Olhei a sala e não tinha ninguém, passei correndo. Perto de entrar no quarto, minha mãe me chama.
- Está correndo por quê? - perguntou minha mãe. Ela usava roupa de ginástica, provavelmente tinha chegado da aula de pilates. Fiquei de frente para ela. - Não quero você comendo isso! - puxou o saco de Fini da minha mão. - Isso engorda!
- E se eu quiser engordar? O corpo é meu! - tentei pegar da sua mão. Não consegui.
- Se engordar, vai morrer solteira.
- Não ligo. Me devolve, mãe. Por favor.
- Não. - ela saiu andando para a cozinha.
- Estou com fome.
- Tem a salada do almoço.
- Eu quero o meu Fini!
- Não, Claudia Traisac! - e jogou o Fini no lixo. Vendo as balas caindo dentro do lixo, uma por uma, me deu vontade de chorar.
- Eu te odeio! - ela deu de ombros. Corri para o meu quarto.
Eu odeio a minha vida!
Claudia POV - END
Caio POV
Minha cabeça girava, certamente por causa daquela injeção. Não lembro de ter feito nada demais para parar aqui. Sentei-me na cama. Preciso dar um jeito de fugir daqui. Imediatamente! De repente a porta do quarto abre. Dei um pulo da cama, mas logo sentei ao ver quem era.
- Como você está, filho? - perguntou minha mãe me abraçando.
- Por que estou aqui?
- Porque você matou três pessoas, Caio! Três! - gritou o meu pai. - Só não foi para a prisão porque você tem problema mental. Sabe o quanto essa brincadeira poderia ter me custado?! Se meus clientes descobrem que meu filho matou três pessoas! Eu sou demitido e bye bye cargo de presidente!
- Não fala assim com ele! Para de pensar no seu trabalho. - minha mãe tentou conter o meu pai.
- Quem que eu matei? - sorri maníacamente.
- João, Joe e Ca... Ca alguma coisa. - respondeu meu pai. - O que eu quero saber é: Como conseguiu arma, Caio?
- Carl! Consegui matar aquele filho da puta! - comemorei. - Conseguindo, pai.
- Filho, como pode comemorar? Isso é ruim, muito ruim! O Josh está internado por sua causa.
- O Josh está bem?
- Ele... - minha mãe foi interrompida.
- Não! Ninguém está bem, seu babaca! Se sua mãe tivesse deixado te meter a porrada quando menor, você não tinha feito essas merdas.
- Você não entende! - lhe empurrei. - Você nunca entendeu! - lhe empurrei mais uma vez.
- Caio! - minha mãe tentou me segurar. A empurrei, fazendo com quê caísse no sofá.
- Oh, seu moleque! - meu pai me empurrou. Lhe dei um soco no nariz. Ele caiu no chão.
- Eu te odeio! - chutei sua barriga. - TE ODEIOO! - desta vez chutei inúmeras vezes. Vi minha mãe saindo para chamar os médicos. Peguei o que estava mais perto de mim, um livro, e taquei na sua cabeça. Ela saiu e gritou por socorro. Logo vários médicos entraram no quarto, me seguraram e me deram duas injeções. Mais uma vez apaguei.
Caio POV - END
Duas semanas depois e já era Setembro. A escola já tinha voltado ao normal. Gente gritando, correndo, falando besteira, zoando os outros. Passei pelo mural do pátio interno e a foto continuava lá. Como estou odiando frequentar a escola nesses dias! Queria ficar ao lado do Josh quando ele acordasse. O médico falou que ele já saiu da área de risco, mas ele não acorda. Está vivo e ao mesmo parece que não.
Os meninos tentavam retomar com a sua vida, mas de longe você via que era difícil. Seu parceiro de todas as horas, que sempre estava contente, brincando, não estava ali. Principalmente para Bob. Quando se juntavam, era merda na certa, como dizia Thiago. Na hora do recreio, eles resolveram jogar bola na quadra. Eu e as meninas ficamos na arquibancada assistindo. Na verdade, fiquei ouvindo música e aleatória a tudo.
I swear i'll make you happy all the time
There's nothing stronger than you and I
Believe me
There's only you in my mind
Cause the reason of my smile
The reason of my smile
Is you
Is you
Is you
Ok, péssima música que o meu celular escolheu. Não é o tipo de música que preciso escutar agora. Como tem vida própria, deve achar que quero melhorar o humor, mas não. Só quero que o Josh acorde, fale, ande, sorria, me beije. Essa canção trouxe de volta todas as lembranças que no momento queria esquecer. O cantor diz que a menina é o motivo do sorriso dele, eles juntos são fortes e que ela é a única na mente dele. O Josh é o único na minha mente também, não sei se juntos somos fortes. Tanta coisa aconteceu quando estávamos juntos e acabamos nos separando por isso. Porém, a razão do meu sorriso é definitivamente o Josh, e no momento não queria ouvir música que fale disso. Sempre que escuto uma coisas animada ou com letras românticas lembro do Josh, da gente. Na praia, na casa dele, na minha, nas manhãs que ele me acordava e depois acabava em guerra de travesseiro, na escola, no trote esse ano, aquele sorriso de menino levado que só ele sabe fazer... Cara, tanta coisa passava pela minha cabeça que resolvi trocar antes que começasse a chorar.
I was thinkin about her, thinkin about me
Thinkin about us, what we gonna be?
Open my eyes, yeah; it was only just a dream
So I travel back, down that road
Will she come back? No one knows
I realize, yeah, it was only just a dream
Essa combinava mais com o meu humor. Olhava para os meninos jogando. Cadu já tinha tomado uns 3 gols. Thiago corria jogando o cabelo para o lado. Bob esperava a bola chegar. Reparo que a Claudia está sentada na primeira fileira da arquibancada, comendo Fini e lendo algum livro. Olhando para o lado está Vivian e Babalu lendo revista de fofoca. Luana estava lendo Fallen. Quando acabou o futebol e obviamente o recreio, voltamos para a sala. Conversava com a Lu sobre quem iria visitar o Josh hoje, quando Claudia esbarra em um pessoal que andava na nossa frente.
- Já está tão gorda assim, é?! Olha por onde anda! - disse a menina.
- Eu sou a gorda, mas você que usa blusa tamanho G. Interessante. - respondeu Claudia.
- É que meus seios são grandes. - disse timidamente.
- Vou fingir que acredito. - sussurrou Claudia e piscou com o olho esquerdo. A menina saiu batendo pé.
Claudia foi ovacionada por todos. Apenas me despedi da Luana e entrei na minha sala. Os três últimos tempos foram um saco! Hoje Bob e Cadu que iriam comigo visitar o Josh. Rachamos um táxi até o hospital. Tia Michelle estava com uma xícara de café na mão. Todo dia ela bebia café, segundo ela, a faz ficar calma. Josh já não estava mais pálido ou com o lábio roxo. O que me incomoda mesmo é que ele não dá sinal de vida! Depois de visita-lo, Bob fez questão de me deixar em casa.
Ainda abrindo a porta do apartamento, escuto vozes e não eram apenas da minha mãe. Entro em casa e dou de cara com a mãe do Caio. O que ela fazia aqui? Será que ele está também? Entrei segurando a mochila na frente do corpo. Medo do que o Caio possa fazer desta vez.
- Maya, a Estela veio pedir desculpas pelo o quê o Caio nos causou.
- Ahn, tá.
- Maya, sei que a intensão era acertar você e me perdoe por ter que passar por tudo isso. Caio nunca foi um filho perfeito, mas também jamais imaginaria que faria uma coisa dessas.
- Você sempre disse que ele era perfeito. - falei. Ela mirou o chão. - Acho que nem tinha como a senhora reparar se ela faria ou não uma coisa dessas. Você nunca deu atenção a ele e isso é desde quando éramos pequenos.
- Maya! - minha mãe chamou minha atenção.
- O quê? Ela sabe muito bem que um dos motivos dele ter feito isso foi ela e o seu marido! O Caio é carente de atenção! Se apegou apenas ao Josh, pois era o único que ele achava que se importava. Me odiava porque para ele, eu queria tirar seu amigo das suas mãos e por isso quis me matar. Só que... O Carl se jogou na minha frente. - lágrimas começaram a escorrer. - E o Josh está lá entre a vida e a morte. Você não sabe como é ver o amor da sua vida deitado em uma cama durante semanas, em coma! Sabe como é isso? Já passou por isso? - ela balançou a cabeça negativamente. - Se sentiria como? Eu sinto que estou morrendo aos poucos. Quero morrer! - gritei. Tentava me controlar, mas estava abalada demais e acabei dizendo tudo o que pensava. Corri para o quarto.
Daqui a pouco minha mãe entraria para me reprimir por ter falado tudo aquilo. Queria me arrepender de cada coisa que disse, mas não conseguia. Era a mais pura verdade. Joguei a mochila no chão e deitei-me na cama. Meia hora depois minha mãe apareceu e disse que a Estela se sentiu culpada, mas que era para eu ir visitar o seu filho. Ele precisa dos amigos neste momento. Não disse nada, então, minha mãe deixou o nome da clínica e o endereço em cima da minha escrivaninha caso eu resolvesse ir.
No dia 12 de Setembro, em um domingo à tarde. Como tinha feito em todos os dias. Chegando ao seu quarto, Michelle dormia no sofá segurando seu terço. Ela com certeza está mais cansada que eu. Sentei na cadeira perto da maca e segurei a mão do Josh, como sempre faço.
- Oi, Josh. - falei. - Estou aqui com você e queria muito que abrisse pelo menos o olho. - respirei fundo. - Você vai ficar bem logo.
Apoiei o cotovelo na perna e o rosto na mão. Levantei o rosto achando ter sentido algo, mas me enganei. Olhei para o chão de novo. Levemente sinto o dedo do Josh se mexer. Levanto da cadeira e solto sua mão. Ela se mexia bem lentamente. Ele está vivo, ele está se mexendo! Queria simplesmente gritar, mas não podia. Seu olho parecia querer abrir. Segurei sua mão de novo. Devagar, piscou os olhos duas vezes.
- Maya. - disse com a voz fraca e olhos abertos. Intensas lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Chorava de felicidade. Nunca estive mais feliz na minha vida!
- Josh. - passei a mão em seu rosto. Ele sorriu de lado. - Vou acordar a sua mãe. - fui até o pequeno sofá e sacudi o braço da tia Michelle, que logo acordou. - O Josh, tia! O Josh! - mal consegui me expressar com tamanha alegria.
- O quê tem o Josh? - perguntou assustada. Quando chegou perto da maca, Josh disse "Oi, mãe.". Ela começou a chorar também. Aproximou-se do filho, encheu de beijos e abraços. - Você está vivo, você está acordado! Obrigada, senhor! - olhou para cima. - Obrigada!
- Estou vivo. - disse ele.
- Vou avisar ao médico. - disse tia Michelle antes de sair do quarto.
- Achei que tinha te perdido, Josh. - disse, tentando conter as lágrimas.
- Você nunca vai me perder. - segurou minha mão. - Nunca. - lhe abracei.
Quando o médico chegou, tivemos que sair. Josh teria que fazer outros exames. Só do fato dele estar acordado e falando já me deixou feliz! O doutor nos avisou que ele teria que ficar mais ou menos uma semana em observação. Se tudo corresse bem até lá, poderia sair, se não teria que ficar mais. Se Deus quiser ele sairia logo.
Assim que cheguei em casa, avisei as meninas e o meninos sobre o Josh ter acordado. Todos comemoraram. Enquanto falava com a Vivian, senti que ela havia chorado. Ela com certeza foi a que mais chorou com isso tudo. Estou gostando dessa nova Vivian, ela é tão mais... humana(?). Minha mãe ficou tão contente que pediu pizza para comemorar. Acho que tudo está voltando ao normal. Oh, glória!
No dia seguinte, um lindo céu azul surgiu. Rio de Janeiro sem sol não parece Rio de Janeiro. Coloquei o moletom preto do Josh, aquele que havia usado todas aquelas semanas direto, na cintura. Podia estar sol e calor, mas na sala ainda é frio por causa do ar condicionado. Na hora do recreio, os meninos já sorriam. Thiago parava de olhar para o nada, Bob e Cadu voltavam com as suas brincadeiras. Vivian e Babalu voltavam a falar pra caramba. Luana lia seu livro com gosto, em vez de ler apenas para distração.
- Ei, Mah! Podemos ir visita-lo hoje? - perguntou Bob.
- Claro!
- Tem certeza? Somos um número grande de pessoas e tal. - disse Cadu.
- A gente reveza. Cada um fica um pouco. - falei.
- Beleza. - disse Thiago. - Quero muito ver como ele está.
- Eu também. - disse Vivian.
- Ele está bem, olhos abertos, mexendo os músculos. Só não pode falar muito.
- Só dele estar bem, estou feliz. - disse Bob.
Quando bateu o sinal do final do recreio, fui até o banheiro. Encontro com a Claudia apoiada na pia. Será que estava passando mal de novo? Ela olhou para mim e deu de ombros. Entrei em uma das cabines para fazer xixi. Quando saí, Claudia continuava no mesmo lugar. Eu ainda não gosto dela, ainda a odeio, mas vê-la daquele jeito era triste.
- Claudia, está tudo bem?
- Está! - disse grosseiramente. Já me arrependi de ter sido educada.
- Ok. - virei para abrir a porta. - Quer saber? - parei na sua frente. - Cara, você é muito ingrata! Te levei ao hospital, sendo que nem era minha obrigação! Agora estou aqui de boa vontade e você me trata desse jeito! Você e o Caio se merecem mesmo! Tenho pena dessa criança! - coloquei a mão na maçaneta.
- Maya... - disse ela sem olhar para mim. - Sabe onde o Caio está? Eu preciso falar com ele.
- Ele está internado em uma clínica psiquiátrica. - e bati a porta.
Chegamos ao hospital. Todos queriam ver o Josh. Como só pode entrar 4 por vez. Thiago, Cadu, Bob e Vivian entraram primeiro. Aceitei entrar por último, pois queria ficar um pouco a sós com o Josh. Fiquei na sala de espera com a Luana, Babalu e a tia Michelle.
Josh POV
Estava assistindo televisão quando Bob, Thiago, Cadu e Vivian entraram no quarto. Sorri ao vê-los. Podia reclamar todos os dias por eles me perturbarem, mas sinto saudade também.
- E aí, cara! - disse Bob apertando a minha mão.
- Coé, Josh! - disse Cadu bagunçando o meu cabelo.
- E aí! - disse Thiago apertando a minha mão.
- Oi, Josh. - disse Vivian timidamente.
- Oi, pessoal! - sorri. - Fico feliz que vocês vieram me ver.
- Viemos todos os dias, cara. - disse Thiago.
- Nos revezamos para vir de te visitar, mas você estava em coma e não nos viu. - completou Bob.
- Ainda tem mais gente pra te ver. - sorriu Cadu.
- A Maya deixou que eu entrasse primeiro. Daqui a pouco ela vai entrar com a Babalu e a Luana. - disse Vivian. Sorri ao ouvir nome da Maya. Estava com tanta saudade dela! Queria abraça-la, beija-la mas não posso fazer isso agora.
- O que tenho perdido?
- Bom, seu time está uma merda! - disse o tricolor, Bob.
- Seu time rouba em todos os campeonatos, Bob. Já era pra estar na terceira divisão, se não fosse essa roubalheira! - disse Cadu.
- Boa, Cadu. - falei rindo.
- Pelo menos no meu time não tem bandido. Flamenguista é uma raça desgraçada! - disse Bob. - Foi mal, Josh. Mas verdade seja dita, só tem ladrão naquele time. - estava apenas rindo. Bob é Fluminense, eu e Cadu Flamenguistas, Thiago é Botafoguense. Caio era Fluminense também. Por falar nele, onde será que ele estava.
- Melhor ladrão do que viado. - gargalhou Cadu.
- Robert! - chamou a atenção Vivian. - Ele não quer saber disso.
- Obrigado, Vivian. Eu já ia dizer isso. - disse Thiago.
- Tudo bem. - sorri.
- O que você quer saber? - perguntou Thiago.
- Como ficou depois que levei o tiro?
- Bom... - respirou fundo Bob. - O Carl morreu. - não queria acreditar que aquilo tinha mesmo acontecido. O Carl que depois de dias odiando, descobri que era um legal, agora está morto. Respirei fundo.
- E o Caio?
- Ninguém sabe do paradeiro dele. - respondeu Cadu.
- Claudia?
- A Claudia tem ido para a escola, mas se isola. É odiada por toda a escola. Acham que ela que mandou atirarem em você. - disse Vivian. - Acho que ela está provando do próprio veneno.
- No fundo, a Claudia é uma pessoa boa. Não merecia tudo isso, mas de uma certa forma, pediu para que acontecesse. - falei. - Sabe que você podia ter acabado assim? O Caio queria que você o ajudasse.
- Eu jamais faria isso. Ajudar a matar pessoas? Claro que não!
- Você tinha uma fúria muito grande por mim e pela Maya. Certamente aceitaria.
- É, talvez. - respirou fundo. - Olha, Josh. Desculpe por todo o transtorno que causei à você e a Maya. Sério mesmo. Estou tentando ser uma pessoa melhor e só serei se as pessoas que tanto magoei, me perdoassem.
- Eu te perdoo, Vivian. - ela se aproximou de mim e me abraçou.
Os meninos e a Vivian ficaram por mais alguns minutos comigo no quarto. Depois Maya, Babalu e Luana entraram. Abri um sorriso enorme quando vi que a Mah entrava, principalmente por estar vestindo o moletom que havia lhe dado. Babalu falou o quanto estava feliz de me ver e que não aguentava mais me ver de olhos fechados. Luana falou que finalmente os tempos difíceis estavam passando. Maya falou o quanto contou os minutos para me ver hoje. Tenho os melhores amigos do mundo, os melhores amigos que uma pessoa pode ter. Triste é saber que a pessoa que eu mais considerava, é um assassino. Matou três pessoas e queria matar o amor da minha vida. Foi difícil acreditar nisso, até vê-lo com um revólver na mão e mirar na cabeça da Maya. A primeira coisa que veio à minha cabeça era tirar a arma dele, ele acabou atirando em mim e eu não pude ajudar mais. Me culpo por ter me jogado na frente da arma. Devia ter sido mais cauteloso, ter pensado mais. Agi afobado e quase morri. Pelo menos minha namorada está a salvo e quando eu sair do hospital, farei um jantar para nós. Voltamos a namorar, né? E a tradição é que depois que começa o namoro, o casal precisa ter a primeira saída juntos. Bom, quando a pedi em namoro da primeira vez, nosso encontro foi na minha casa. Nós vimos filme e depois quase que acabou rolando, aquilo que se rola quando um casal está sozinho. Desta vez, planejarei outra coisa. Não quero que acabe igual antes. Não é que eu não queira fazer, mas ainda temos tempo para isso. Então, só quero passar um tempinho ao seu lado, a sós.
Josh POV - END
Ainda faltava mais algumas horas para o horário da visita acabar. Apenas com olhares, fiz com quê a Luana entendesse que eu queria ficar sozinha com o Josh. Ela rapidamente entendeu e levou Babalu com ela. Josh sorriu ao ver que finalmente estávamos sozinhos. Sorri de volta. Segurei sua mão. Ele fez sinal para que eu deitasse ao seu lado. Disse que era melhor não. A qualquer momento o médico podia chegar e reclamar. Joshua negou e pediu mais uma vez. Como esse menino é insistente! Deitei-me ao seu lado. Josh abraçou-me de lado e disse:
- Te amo. - beijou minha testa.
- Te amo mais. - falei aconchegando-me em seu peitoral.
Logo o médico entrou dizendo que a hora da visita tinha acabado e que o Josh precisava descansar, pois o dia hoje havia sido agitado. Não reclamou por eu ter deitado ao lado do Josh. Ele disse que isso é o que acontece quando se é muito irresistível, eu e o médico rimos. Seu senso de humor havia voltado. Josh realmente estava ali, não era um sonho. Antes de ir embora, lhe dei um selinho, pelo menos era para ser. Não queríamos nos separar, mas era preciso. Disse que iria visita-lo todos os dias até ele sair do hospital. Impressionei-me quando o Josh disse que não.
- Eu estou bem agora. Relaxa, Maya. Durma um pouco, fique de pernas pro ar, mas descanse. Estou bem, estou ótimo.
- Mas, Josh...
- Maya, - passou a mão lentamente no meu rosto. - Você não dorme bem há dias por minha causa. Vá descansar, meu anjo.
- Está bem. - lhe dei mais um selinho e saí do quarto.
Chegando em casa a primeira coisa que fiz foi dormir. Josh tem razão. Não tenho dormido direito, preciso descansar. Dormi tanto que só acordei no outro dia de manhã. Ainda era terça feira, precisava ir para a escola. Vontade zero de ir para o colégio hoje. Liguei o som para ver se a preguiça passava um pouco.
My spirit
Our story
I know I never felt this way before
You give love
New meaning
And now we're opening a brand new door
No one else can make me feel so fine
No one else is ever on my mind
Come to me, set me free
Love can last an eternity
Play your part within your heart
Let your Love Show
Yeah..
Saí do banho gritando a letra. Essa música é contagiante, você escuta e dá vontade de sair berrando o refrão. Amo músicas assim! É, a preguiça tinha passado. Rapidamente coloquei o uniforme e o tênis. Estava penteando o cabelo quando minha mãe entrou no quarto.
- Olha, parece que o bom humor voltou. - disse dona Débora da porta.
- Sim, mãe! Se o Josh está bem, eu estou bem e tudo está bem também! - pulei em seu colo.
- Entendi, mas você não é mais uma garotinha e a mamãe não tem mais 20 e poucos anos. - minha mãe estava quase caindo comigo em seu colo.
- Eu sei. - ri. - Queria voltar a ser uma garotinha só para ter quem me levar para a escola. - minha mãe sorriu entendendo o que eu quis dizer.
- Sorte a sua que hoje vou mais tarde para o consultório. Pega as suas coisas que eu te levo para a escola. - disse saindo do quarto.
- Yes! - comemorei levantando os braços.
Corri para pegar a mochila e desci. Minha mãe ligou rádio e colocou em uma estação que eu gosto. Milagre, porque geralmente ela coloca naquelas estações que só toca música velha. Olhando pela janela do carro, vejo a praia e no rádio estava tocando Nothing To Lose do Emblem3. Imediatamente lembrei do Josh falando que imaginou aquela música quando estávamos nos beijando. Só ele mesmo pra pensar nessa música durante um beijo. Eu mesma só escutei os anjos cantando "Aleluia".
Na aula sentei perto da Babalu e da Vivian. Luana e os meninos são da outra sala. Sempre achei a divisão de turma da escola péssima. A partir do 9º ano que as turmas são divididas e desde essa série que Josh e eu ficamos separados. Luana e Thiago sempre foram da mesma sala. Absurdo, né? Qual é o problema com a gente? Tudo que nos chamaram atenção algumas vezes por conversarmos, mas todos anos nos deixar separados é muita sacanagem! Espero que no ano seguinte a gente fique na mesma sala.
Na aula de História da Arte, a professora estava sentada escrevendo algo em seu caderno e tinha passado do livro para que nós fizemos. Obviamente todos ficaram conversando. Babalu, Vivian e eu ficamos jogando três cortes com uma bolinha de papel. Vivian mirou a bola em mim, mas desviei. Fui até o final da sala pegar o papel quando reparo que ela havia parado no lugar onde o Caio costumava sentar. De uma certa sinto sua falta, mas daquele Caio legal que me fazia rir e me apoiava. Porém aquele nunca foi o Caio de verdade, ele nunca quis o meu bem. Peguei a bola de papel e voltei para o meu lugar.
Na hora do recreio, a tia Michelle me ligou dizendo que hoje os familiares iriam visitar o Josh e talvez eu não conseguiria vê-lo. Perguntei quando que o Josh ganharia alta, ela disse que na sexta à tarde. Fui até o refeitório avisar ao pessoal que hoje não daria para visitar o Josh.
- Pessoal! - chamei ao chegar perto da mesa. - Hoje não vai dar para visitar o Josh.
- Por que? - perguntou Thiago.
- Porque os familiares dele vão visita-lo. - todos ficaram um pouco cabisbaixos. - Porém, na sexta feira ele vai levar alta e eu estava pensando em fazer uma festinha de boas vindas para ele.
- É uma boa, Mah! - disse Bob.
- Sim! Poderia ser na minha casa mesmo. - falei. Puxei uma cadeira para sentar à mesa.
Continuei a falar da minha ideia para a festa surpresa. Todos ficaram bastante animados com a ideia. Todo mundo topou, só precisava falar com a minha mãe, que provavelmente vai topar e com a tia Michelle que também vai. Estava rindo das palhaçadas que Cadu fazia, quando vi que a Claudia parecia passar mal de novo. Estava sentada em uma mesa isolada de todos com a cabeça baixa. Desta vez não iria atrás dela. Minha cota de trouxa já esgotou esse ano. O sinal bateu e fui para a sala. Ainda no corredor conversando com as meninas, Claudia vinha andando lentamente. Certamente não estava bem. Algumas meninas do 3º ano passaram esbarrando de propósito em seu braço, fazendo com quê ela batesse na parede e caindo no chão. Luana e Babalu correram para ajudar Claudia. Eu continuei no mesmo lugar. Vivian achou um absurdo e resolveu tirar satisfações. Tentei segurar seu braço, mas foi em vão.
- Ei! Não é porque estão no topo da pirâmide social que podem sair batendo em todo mundo! - gritou para as meninas do 3º ano.
- Ela estava andando igual uma lesada. - disse uma menina rolando os olhos.
- E daí? Você é lesada de natureza e nem por isso te bati. - cruzou os braços. Coloquei a mão no rosto prevendo a hora que as duas iriam sair no tapa.
- Não batemos nela. - disse outra colocando a mão na cintura.
- Vocês são ridículas! - Vivia riu sarcasticamente.
- Engraçado que você amava ser ridícula com a gente, né? Agora prefere ficar com esse povinho, aí. Que fase, Vih! - sorriu ainda com a mão na cintura.
- Esse povinho são meus amigos, coisa que você jamais terá. Se um dia você precisar de ajuda, quem vai te ajudar? Essa daí? - gargalhou para a menina ao lado. - Essa vai ser a primeira a fugir! A propósito, seu namorado já resolveu a ejaculação precoce? - todos ao redor ficaram boquiabertos. A menina ficou vermelha de tanta vergonha. - Corto o meu pescoço e não digo como fiquei sabendo. - Vivian apontou para a menina. - Grande amiga, viu! - deu meia volta e saiu sorrindo.
- Essa é a minha namorada! - Bob sorriu e lhe deu um beijinho.
Vivian, Babalu e Luana levaram a Claudia para beber água e respirar um pouco. Eu e os meninos fomos para a sala de aula.
Luana POV
Maurinho deixou que ficássemos um pouco fora da sala para ver com a Claudia estava. Ela bebeu um pouco de água e um pedaço de biscoito. Estávamos sentadas na área verde. Esperávamos que Claudia dissesse algo pelo menos, mas não disse nada.
- Claudia? - ela olhou para mim. - Você está melhor? Como está se sentindo?
- Por que estão me ajudando? - disparou.
- Porque você... - Babalu tentou explicar.
- Era para vocês me odiarem! - ela se levantou. Nos levantamos também.
- Garota, você parecia passar mal e ainda te derrubaram no chão! - disparou Vivian.
- Não precisam me ajudar. Sei me defender sozinha!
- Estamos vendo! - Vivian cruzou os braços.
- Claudia... - tentei dizer algo.
- Se querem me ajudar, só diga onde o Caio está. - disse simplesmente. - Eu não... Não conheço sua família, não posso chegar e pedir o endereço da clínica.
- Por que vai atrás daquele maluco? Ele não fez bem à ninguém, Claudia. - disse Babalu.
- Porque... Porque sim! - disse firme.
- Não temos o endereço. - disse Vivian.
- Quero dizer, só a Maya. - mirei o chão.
- Ótimo! Porque a Maya sim me odeia! - saiu batendo o pé.
- Olha, não sei vocês, mas devíamos internar essa daí também, viu. - ironizou Vivian.
- Ela está passando por um momento difícil, Vivian. - falei. Fomos andando para a sala.
- Que momento difícil?
- Ela tem passado mal quase todos os dias, acredito que esteja grávida. - disse Babalu.
- Talvez seja aquele Fini que ela come. - chutou Vivian. Paramos na porta da minha sala.
- Não é isso. Olha, isso não pode sair daqui. - falei. As duas assentiram com a cabeça. - Ela está grávida sim e é do Caio. - Vivian ficou chocada.
- Meu Deus! - tampou a boca.
- Por isso ela quer tanto ver o Caio. - disse Babalu. Assenti com a cabeça.
- Mais que porras ele ajudaria estando internado?
- Não sei, poderia apoia-la, sei lá. - falei. - Meninas, façam com quê a Maya dê o endereço para a Claudia.
- Tudo bem. - disse Babalu. Vivian assentiu com a cabeça. E assim entrei na minha sala e elas seguiram para a dela.
Luana POV - END
No final da aula, Vivian e Babalu tentavam me convencer a dar o endereço do Caio para a Claudia. Falei que no dia seguinte daria, pois naquele momento não estava comigo. Como elas souberam da gravidez da menina? Traisac jamais falaria. Eu só sei porque estava lá na hora. Aí, que passou pela minha cabeça, Luana. A mesma disse que a Claudia está passando por muita coisa e eu não devia ser muita dura com ela. Eu ignorei. Falando com a Vivian e Babalu seria uma chance de me fazer mudar de ideia e a Lu conseguiu. No dia seguinte na escola, dei o endereço para Claudia e nem um "obrigada" ela disse. Contei até dez mentalmente para não me aborrecer.
Claudia POV
Na quinta feira depois da aula, fui até a clínica onde Caio estava internado. Maya havia me dado o número. Troquei a blusa da escola por uma simples branca de gola V. Estava com medo, não sabia qual seria a sua reação. De qualquer forma, tenho que contar, ele é o pai! Preciso saber o que fazer e preciso da ajuda do Caio. Nunca pensaria que chegaria a esse ponto: pedir ajuda ao Caio. A recepcionista pediu para que eu esperasse um pouco. Estava trêmula. Bebi um pouco de água para me acalmar. De nada adiantou obviamente. Passaram-se 10 minutos e me chamaram para entrar. O homem que me levou até seu quarto disse que eu tinha 30 minutos para falar com ele. Caio não tem sido um bom paciente, agrediu à todos que lhe visitaram e por isso sua hora de visita foi reduzida. Neste momento fiquei com medo e pensei em voltar para casa. Deixa de ser medrosa, Claudia! Gritei em pensamento. Fechei os olhos, respirei fundo e entrei no quarto. O enfermeiro avisou que ficaria por perto caso algo acontecesse. Quase pedi para que ele entrasse comigo. O medo era muito grande!
O quarto era todo branco e fechado. Na cama não tinha ninguém. Continuei olhando em volta quando levei um baita susto! Caio estava na parte mais escura do quarto, sentado no chão encostado na parede. Sua barba que estava aparada na festa da Maya, hoje já está maior. Cabelo bagunçado, olhar era fundo e doentio. Estava mais magro também. Ele levantou o olhar, me viu e continuou no chão.
- Oi, Caio. - disse tentando parecer o mais calma possível. Não me aproximei.
- Oi, Claudia. - respondeu sem olhar para mim.
- Por que está sentado no chão?
- Não aqui pelo chão, estou pelo escuro. Branco nunca foi minha cor favorita. - assenti com a cabeça. - A lâmpada queimou e não deixei que vissem e consertassem.
- Entendi.
- O que faz aqui? - perguntou levantando do chão.
- Te ver. Quero dizer, vim visita-lo.
- Por que? - aproximou-se de mim. - Você não viria aqui se tivesse algo para contar. O que houve, Claudia?
- É que...
- Algo com o Josh? - arregalou os olhos.
- Não. O Josh ainda está no hospital.
- O que é então?!
- Estou grávida! - disse rapidamente fechando os olhos. Quando abri, Caio ria. - É sério. Você é o pai.
- Como é?! Isso não pode ser possível! Você não transou só comigo, você transa com vários que eu sei. - quando ele disse isso, me senti uma vadia. Dormi com alguns meninos sim, mas nunca me achei uma vadia.
- É, mas ultimamente era só com você, Caio. Estava pensando e bom, na nossa última vez, rolou sem camisinha.
- Quando foi isso?! - ele parecia bravo, dei um passo para trás.
- Na festa da escola, no vestiário. - disse voltando a ficar trêmula. Nunca o tinha visto naquele estado.
- Que você ficou me atiçando! Estou lembrando agora. Você! - apontou o dedo para mim. - Você fez de propósito! Armou para ficar grávida! O Josh não te quis, aí, armou para mim! Fique sabendo que eu também não te quero! Não vou assumir esse filho!
- Caio... - choraminguei. Queria chorar, mas precisava me manter forte. - Não foi nada disso! Eu não, eu... Você acha que eu armaria para ficar grávida aos 17 anos? Acha mesmo?! - assentiu com a cabeça e depois passou a mão no cabelo. - Não foi a primeira vez que transamos sem preservativo. Achei que nada aconteceria. - ele parecia não se importar. - Por favor, Caio! Preciso da sua ajuda. Meus pais não sabem e eu...
- Foda-se, Claudia! F-O-D-A S-E! - gritou. - Se vira! Não vou te ajudar com isso.
- Eu te ajudei com todo esse plano louco! - gritei.
- Ajudou porque quis! E outra, eu sabia que o Josh jamais ia te querer. - gargalhou.
- A Maya tinha razão... Você estava me usando! Você não presta! - gritei.
- Você também não. - sorriu maniacamente.
- Pelo menos não fui eu que atirei no meu amigo dizendo que o amo e que ele é o único que me importo de verdade. Coisa feia, viu! - forcei um riso. Caio parecia chocado. Falar do Josh é o que mais faz Caio perder a cabeça. Afinal de contas, só Josh prestava para ele. - Sim, o Josh está em coma. Entre a vida e a morte. Parabéns, Caio! Atingiu o seu objetivo, porque de uma certa forma você acabou com a vida da Maya... e com a de todos nós. - andei até a porta e a bati.
Assim que saí da clínica me debulhei em lágrimas. O que eu faria agora? Conto aos meus pais? Não posso contar à eles. Também não posso abordar, pois não tenho dinheiro e é muito caro. Todo o dinheiro que peço aos meus pais tenho que justificar. Pedir tanto dinheiro assim não teria justificativa e eles jamais me dariam. Ter falado do Josh foi golpe baixo, mas é a verdade. Mais cedo ou mais tarde ficaria sabendo que seu amigo está muito mal no hospital. Fiz sinal para um carro e fui para casa.
Claudia POV - END
Caio POV
Josh está entre a vida e a morte por minha causa. O que eu fiz ao meu amigo? Ele nunca vai me perdoar. Preciso falar com ele, mas ele está em coma. Como farei isso?
Sentei na cama tentando pensar em algo. Uma vez quando menor, me falaram que quando a gente morre, encontro com os mortos no céu. Aquilo me deu uma ideia.
Caio POV - END
Estava pesquisando sobre um trabalho de filosofia no computador. Viro para pegar um folha branca na gaveta da escrivaninha e vejo o endereço da clínica do Caio. Olhei para o relógio, eram 15 horas. Não sei o que deu em mim, mas algo me dizia para ir visita-lo. Meus pressentimos são fodásticos! Sempre que os escuto, me dou bem. Será que ainda dava tempo de visita-lo? Queria como ele está. Será que a Claudia foi lá? Ah, foda-se! Vou assim mesmo.
Bloqueei a tela do computador, permaneci com a minha regata preta, vesti uma calça e calcei um tênis. Deixei um bilhete para a minha mãe e fui para a rua. Pela a primeira vez quase não tinha táxi passando. Não sei ir até lá de ônibus. Finalmente um táxi vazio passou. Fiz sinal e ele parou.
Caio POV
Amarrei o lençol no ventilador. Só faltava fazer o aro para colocar minha cabeça. Espero que Josh me perdoe e nós possamos continuar a sermos amigos. Melhor no céu que na Terra, onde ninguém me entende.
Caio POV - END
Não queriam me deixar entrar, pois ele já havia tido visita. Implorei muito, disse que sou sua amiga e que precisava vê-lo. De tanto insistir, me deixaram entrar. Um enfermeiro disse que eu não teria muito tempo, pois o paciente precisava descansar e etc. Entrando no quarto, dou de cara com Caio enrolado com um lençol no pescoço, que estava preso no ventilador e seus pés estavam fora da cama. Ele queria se matar!
- Caio! - corri para tira-lo do lençol. Ainda estava vivo, seus olhos estavam abertos e ele balançava a perna e os braços. - Para de se mexer! - começou a me chutar e a me dar socos. - Eu quero te ajudar! Deixa eu te soltar, Caio! - aproximei-me.
- N-não! Eu quero me desculpar. - disse puxando o pouco de ar que lhe faltava.
- Que? Não fala, só deixa eu te tirar... - ele me chutou mais uma vez. Por que me chutava? Por que queria se matar? - Caio, eu te perdoo. Não te odeio mais, sério. Você não quer morrer realmente. Deixa-me ajudar. - disse de longe tentando-o acalma-lo.
- Não, você, não! - puxou o ar mais uma vez. - Vou falar com ele. Sai daqui!
- Com o Josh? Ele... Meu Deus, Caio! - Caio começou a piscar os olhos e a parar de se mexer. Aproximei-me mais uma vez para tira-lo de lá. Ele me empurrou com as mãos. Resolvi sair para buscar ajuda. Rapidamente três enfermeiros entraram no quarto e o tiraram de lá, colocando-o na cama. - Caio? Caio? - passava a mão em seu rosto.
- Desculpa, bro. - foi a última coisa que ele disse antes de seus olhos fecharem.
E foi assim. Caio morreu nos meus braços. Eu não queria acreditar naquilo. Não queria acreditar que mais uma pessoa morreu nos meus braços. Pelo o que eu entendi, ele queria se desculpar com Josh, mas morrendo? Joshua não morreu, está vivo. Por que quis se matar? O meu perdão não foi apenas para convence-lo a não se matar, ele foi sincero. Se eu tivesse vindo antes, nada disso teria acontecido. Não era para ser assim! Não era para ninguém morrer! Mais que merda! Merda de vida que eu tenho!
Os médicos tiraram Caio do meu colo e o colocaram em um saco preto. Ver seu rosto pálido sendo encoberto foi muito doloroso. Uma dor que não sei explicar. Talvez uma dor pior que a de quando vi Carl caindo ensaguentado em meu colo. Comecei a chorar desesperadamente. Me deram água, mas nem bebi. Meu celular começou a vibrar. Era a minha mãe me ligando. Atendi e pedi para que ela me buscasse. Rapidamente dona Débora chegou ao hospital e então lhe disse o que tinha acontecido. Ela apenas me abraçou. Estela chegou chorando à clínica também. O pai de Caio não chorava, mas parecia triste. Pedi desculpa por tudo o que disse naquele dia, a mãe dele apenas disse:
- Pelo menos ele foi embora sabendo que tem uma boa amiga como você.
- Ele nunca me considerou amiga. - mirei o chão. - Olha, eu tentei mesmo salva-lo, mas ele não deixou.
- No fundo, ele sabia que você era uma grande amiga, mas infelizmente, meu filho não olhou no fundo do seu coração. - respirou fundo. - Você tinha razão, Maya. Fui uma péssima mãe nesses 17 anos. Sabe aquele ditado: "Só vai dar valor quando perder."? - assenti com a cabeça. - Me define no momento. - lhe dei um abraço. - Fico contente por ter tentado salvar meu filho, mesmo depois de tudo que ele lhe causou.
- Na hora eu só queria tira-lo daqui. Não pensei em nada do que aconteceu. Só em tirar o Caio dali... - mirei o chão mais uma vez. - E falhei.
- Para mim você não falhou. - sorriu de lado. O médico chamou por Estela, fazendo com que eu voltasse aos braços da minha mãe.
À noite, não consegui dormir direito. Tive pesadelos com Caio.
"Eu quero me desculpar."
"Vou falar com ele. Sai daqui!"
"Desculpa, bro."
Essas palavras ecoavam na minha cabeça. Sentei abraçando os joelhos. Minhas mãos tremiam. Fechava os olhos e vinham imagens da morte do Carl, do Caio e de Josh ensaguentado no chão. O dia amanheceu e eu continuava no mesmo lugar, com a mesma expressão e com o mesmo pesadelo. Minha mãe entrou no quarto e se assustou ao me ver igual zumbi sentada na cama. Ela me abraçou e fez cafuné na minha cabeça. Consegui dormir.
Escutei vozes familiares e abri um dos olhos. Babalu, Luana e Vivian estavam no meu quarto. O que fazem aqui? Ah, não! A festa surpresa do Josh.
- A dorminhoca acordou! - disse Babalu, sentada na cadeira da escrivaninha.
- Finalmente! Já estávamos quase arrumando um príncipe para te dar uns beijos. - brincou Vivian, que estava sentada minha poltrona pendurada no teto.
- Oi, Mah! Como você está? - Luana estava sentada na cama, ao meu lado.
- Não muito bem. - sentei-me na cama ajeitando o edredom para cobrir meu pijama da Minnie.
- Sua mãe nos contou o que houve com o Caio. - disse Luana.
- É, mas a gente não queria tocar no assunto. Essas semanas foram tão difíceis. - completou Vivian.
- Tudo bem. - falei.
- Você não teve culpa, Mah. - disse Babalu.
- Não sei. Às vezes acho que sim.
- Não tem essa, Mah. A culpa não foi sua. - Luana colocou a mão no meu ombro. Forcei um sorriso.
- O Josh saiu do hospital? - perguntei.
- Sim, mas foi para casa. - disse Luana.
- Os meninos estão lá com ele. - disse Babalu.
- Ele soube?
- Acho que não. O último snap que o Bob mandou, eles estavam jogando vídeo game e Josh ria. - disse Vivian mostrando o print.
- Achamos melhor não dizer nada agora. Ele acabou de sair do hospital. - disse Luana.
- O Josh precisa saber! É o melhor amigo dele! Caio morreu pedindo desculpas à ele!
- Calma, Maya. - Babalu levantou-se da cadeira.
- Tem certeza que é melhor dizer agora? - Luana não estava certa daquilo.
- Claro! Prometi ao Josh que jamais esconderia nada dele. - falei.
- Então vamos até a festa dos meninos. - disse Vivian com a mão na cintura.
Rapidamente tomei um banho e troquei de roupa. Fomos andando até a casa do Josh. Não é longe mesmo. Em 10 minutos chegamos até lá. Tia Michelle estava na cozinha, fazia um lanche para os meninos. Provavelmente ela também não sabia e deve estar se perguntando o porquê de não ter feito mais a festa surpresa na minha casa. Ela cumprimentou as meninas e eu, e disse que os meninos estavam no quarto. Cadu sem camisa todo largado no puffe, parecia estar cochilando. Josh estava sentado na cama com as pernas esticadas segurando um controle, Bob também sem camisa porém estava mais na beira da cama segurando o outro controle do vídeo game e Thiago sentado na cadeira da escrivaninha pensativo. Ao ver aquela cena pensei: Primeiro, por que menino sente tanto calor para ficar sem camisa o tempo todo? Segundo, em como Josh estava feliz por estar com seus amigos novamente. Não queria estragar sua felicidade, porém tinha que lhe dar aquela notícia.
- Maya! - deu pause no jogo. Ele fez como quem ia se levantar. Rapidamente me aproximei dele, que me deu um selinho. - Achei que você ia me buscar no hospital.
- Desculpa não ter ido... É que...
- Galera! Acabou de sair o lanche e eu sei que vocês estão com fome. - gritou Vivian. Os meninos logo entenderam a indireta. Luana deu a mão a Thiago e foram os primeiros a sair. Bob olhou para Josh, sorriu de lado e saiu também. - Bah, o namorado é seu. - apontou para Cadu que dormia no puffe. Babalu rolou os olhos.
- Acorda, vagabundo! - chutou a perna de Cadu.
- Ai, caralho! - Cadu colocou a mão na perna. Josh riu da situação do amigo. Babalu começou a puxa-lo pelo braço. - O que foi?
- Vamos, Carlos Eduardo! Levanta! - ele se levantou e olhou para Josh e eu. Logo havia entendido e saiu sem reclamar. Babalu fechou a porta quando saiu.
- O Cadu não é mole. - riu Josh. Sentei ao seu lado. - Aconteceu alguma coisa? Todo mundo não saiu só por ter comida de graça. - assenti com a cabeça. - É sobre você não ido me buscar no hospital? Se for, não tem problema. O importante é que a minha namorada está aqui agora. - sorriu.
- Fico feliz por você me desculpar por não ter ido, mas não é sobre isso que quero falar.
- Tudo bem. - ajeitou-se na cama e olhou em meus olhos. - Sobre o que é?
- Como prometi que não esconderia mais nada de você. Quis ser a primeira a te falar. - Josh olhou-me desconfiado. - Ontem fui visitar o Caio na clínica psiquiátrica. - Josh assentiu com a cabeça. - Quando cheguei ao seu quarto... - respirei fundo. - Ele estava se matando, Josh. Se enforcando. Tentei tira-lo de lá o mais rápido possível, mas ele começou a me bater para que eu me afastasse. Falei que tinha perdoado, mas então, disse que queria se encontrar com alguém e pedir desculpas. Queria tanto tira-lo daquela situação que não entendi o quê quis dizer. Depois de um tempo que eu entendi que era você e comecei a contar a ele que você está vivo, mas ele não ouvia mais. Caio começou a ficar asfixiado. - lágrimas começavam a escorrer pelo meu rosto conforme me lembrava. As lágrimas de Josh desciam lentamente. - Chamei os médicos, que rapidamente o tiraram de lá, mas já era tarde. Deitaram ele na cama e a última coisa que ele disse foi: Desculpa, bro. - Josh fungava e enxugava as lágrimas com as costas da mão.
- Ele achou que eu tinha morrido? - assenti com a cabeça. - Eu estava em coma! Por que falaram a ele que morri?! Quem disse isso?!
- Eu não sei. Realmente... Não sei.
- O Caio... - voltou a chorar. E desta vez, chorava igual bebê. Eu o abracei.
Minha mãe deixou que eu dormisse na casa do Josh. No dia seguinte iríamos ao enterro. Durante à noite, de madrugada, olhei para o outro lado da cama e ele não estava. Desci da cama, calcei o chinelo e peguei um moletom seu. Andei de braços cruzados, pois estava frio. Não tinha ninguém na sala, nem no banheiro, nem na cozinha. Abri uma brecha da porta da tia Michelle e ele também não estava lá. Fui até a janela da sala e de lá, o vi sentado no banco do playground, vestindo sua calça de moletom cinza, regata branca justa ao corpo e chinelo. Será que estava sonâmbulo? Ele nunca foi disso, mas para tudo tem uma primeira vez, né. Desci de pijama e moletom mesmo.
- Josh. - coloquei a mão em seu ombro. - O que faz aqui?
- Precisava arejar a mente. Desculpa se te acordei. - olhou carinhosamente para mim.
- Tudo bem. Eu acordei sozinha. - sentei-me ao seu lado. - Está muito tempo aqui?
- Não, estou aqui faz uns 20 minutos.
- Vamos subir. Você acabou de ganhar alta, pode ficar doente se continuar nesse sereno.
- Daqui a pouco eu vou, Mah.
- Tudo bem. Vou ficar aqui com você. - aconcheguei-me em seu braço, que estava gelado.
- Eu devia ter percebido que o Caio não estava bem. Amigos são assim, né? Percebem quando o outro não está bem e eu não percebi.
- Ninguém percebeu, Josh. Ele não deixou que ninguém percebesse.
- Tudo o que ele fez foi errado, mas nunca o culpei por isso. Sei que no fundo, Caio não queria fazer nada disso.
- Eu também.
- Ele morreu para falar comigo, Maya e eu estou aqui vivo. Se eu tivesse ido com você...
- Josh, ele estava atordoado com tudo. Conforme os anos passaram, a bola de neve só cresceu e agora ela estourou de uma péssima forma.
- Infelizmente. - mirou o chão. - Vamos voltar. Você tem razão. Está tarde. - Josh levantou e me levantou também. - Você ama usar os meus moletons, né? - abraçou-me de lado.
- Não existe moletom mais confortável que o seu. - sorri de lado. Caminhamos de volta até seu apartamento.
Deitamos na cama e desta vez, Josh dormiu e não acordou mais. No dia seguinte precisei acordar mais cedo, pois tinha que ir para casa tomar banho para ir ao enterro. Combinei com Josh que o encontraria lá. Vesti um jeans claro, uma camisa branca, um cardigã preto e uma bota marrom cano baixo sem salto. Deixei o cabelo solto mesmo e coloquei o meu Ray Ban Aviador de todas as horas. Minha mãe mais uma vez colocou um vestido preto e sapatilha. Chegando ao cemitério, Josh e o pessoal já estavam lá. Vestia uma calça jeans, um tênis preto, blusa branca, um casaco de couro marrom e um boné vermelho. Luana usava uma calça jeans, uma blusa preta, casaquinho cinza e sapatilha preta. Thiago usava uma calça bege, uma camiseta preta do Ramones, um blusão por cima e um All Star tradicional. Bob usava uma blusa de manga cumprida cinza folgada ao corpo, dobrada até o cotovelo, jeans escuro e Vans preto. Vivian usava uma legging preta, uma blusa quadriculada vermelha como vestido e um coturno preto. Babalu usava uma calça jeans clara justa dobrada na barra, um moletom azul marinho e um Vans vermelho. Cadu vestia jeans escuro, camiseta gola V branca com uma estampa preta, casaco cinza que por dentro era quadriculado vermelho e um DC Shoes preto. Como podem imaginar, o tempo virou de novo, o sol foi embora do Rio de Janeiro e o tempo nublado voltava a reinar. Cumprimentei os pais de Caio e depois me juntei a Josh. O padre disse algumas palavras e perguntou se alguém queria falar. Joshua continuou no mesmo lugar com a mente distante. Pois bem, enterraram o caixão de Caio e Josh disse:
- Está desculpado, bro. - Josh olhou para mim e me abraçou.
Claudia POV
De longe via o enterro do Caio. Ainda não acredito que eu o matei. Eu que falei sobre o Josh mesmo sem ter certeza. Não sabia que já tinha acordado e muito menos saindo do hospital. Joshya voltou e eu aqui, grávida sem poder fazer nada e sem ninguém para me ajudar. O que será de mim e dessa criança? Quando a barriga aparecer, serei expulsa de casa. O que será de mim, senhor?!
Claudia POV - END
Um mês depois...
Já era Outubro, tudo tinha voltado ao normal, mas em alguns momentos a morte de Caio e Carl passavam pela nossa mente e nos assustava. Ninguém jamais vai esquecer desses acontecimentos, porém aos poucos estamos seguindo em frente com nossas vidas. Ou pelo menos tentando. Não será fácil, mas impossível também não será. Depois de tudo o que aconteceu, entrei no meu e-mail e tinha uns 50 e-mails do Dimitri. Ele não estava brincando quando disse que mandaria diariamente. Tinha fotos lindas da Califórnia, em algumas Ana aparecia também e não estava abatida igual antes, parecia melhor. Segundo Dimy, lá não é tão ruim quanto pensava e que um dia me levaria para conhecer. No último e-mail dizia que eu já tinha esquecido dele. Ri ao ler. Respondi dizendo as coisas que aconteceram e por isso não o respondi antes. Ouvi a campainha tocando. Era Josh. Saí do meu e-mail e fui atender a porta. Hoje seria nosso primeiro encontro oficial. Ideias de Joshua Ryan Hutcherson.
Abri a porta e lá estava ele. Levantou o olhar lentamente e sorriu. Esse sorriso mais esse olhar, me deixam louca! Josh usava uma camisa gola V, blazer marrom, calça jeans e um sapatênis preto. Seu cabelo estava levemente penteado para o lado. Eu usava um vestido azul escuro rodado com detalhes em um azul mais claro. All Star branco e deixei o cabelo solto com uma trança atrás. Minha mãe atrapalhou o clima de romance, disse que estávamos lindos e que era para termos juízo, aquele bláblá de sempre. Josh disse que não voltaríamos tarde e assim seguimos para o nosso encontro. Estava ansiosa. Queria saber o que ele estava aprontando.
- Acho um saco a gente ter que ir de táxi para tudo quanto é lugar. - disse Josh segurando a minha mão. Estávamos no elevador. - Queria ter 18 logo e ter o meu carro.
- Espero ansiosamente por isso. Carona todos os dias para o colégio. - sorri. - Seu aniversário já está chegando.
- É, mas não sei se vou ganhar um carro.
- Trabalhe para ter um.
- Vou fazer isso. - me beijou. Tivemos que parar, pois o elevador tinha parado na portaria.
Pegamos um táxi e seguimos para o lugar misterioso. Paramos na frente da porta da escola. Não entendi.
- Josh, paramos no lugar certo? - ele assentiu com a cabeça indo até o outro lado para abrir a porta. Saí do carro.
- É aqui. - ele balançou a chave na sua mão.
Como ele conseguiu a chave do colégio? Josh pagou o taxista e abriu o portão da escola, fechando logo depois que entramos. Nunca frequentei a escola à noite. É estranho, não parece a mesma.
- Vai começar a se explicar agora ou depois?
- Depois. - respondeu risonho.
- A gente não podia estar aqui, Josh.
- Calma, meu anjo. Está tudo sobre controle.
Andamos pelos corredores vazios da escola. Admito que fiquei com um pouco de medo. Segurei o braço do Josh, que riu. Chegando à quadra, Josh acende a luz e consigo ver uma mesa redonda com dois lugares no meio dela. Estava forrada com uma toalha branca e tinha um castiçal com velas acesas. Aproximando-me mais vejo que tem dois pratos com uma tampa de prata em cima. Josh puxou a cadeira para que eu sentasse. No fundo tocava Halo da Beyoncé, mas em uma versão instrumental. Sei essa música de có. Fiquei cantando mentalmente.
It's like I've been awakened
Every rule I had you breaking
It's the risk that I'm taking
I ain't never gonna shut you out
Everywhere I'm looking now
I'm surrounded by your embrace
Baby I can see your halo
You know you're my saving grace
You're everything I need and more
It's written all over your face
Baby I can feel your halo
Pray it won't fade away
I can feel your halo, halo, halo
Can see your halo, halo, halo
Can feel your halo, halo, halo
Can see your halo, halo, halo
Josh sentou-se no seu lugar e sorriu. Colocou sua mão em cima da minha e falou:
- Pode cantar se quiser. Coloquei instrumental para ficar um clima mais romântico.
- Já cantei a parte que eu queria. - sorri. Ele sorriu de volta.
- Bom, eu que fiz o jantar e você sabe que não sei fazer muitos pratos. Pois bem, a janta será massa. - tirou a tampa do seu prato. - Molho de tomate, presunto, mussarela, calabresa e um pouco de queijo minas.
- Por acaso é isso que você pede quando vai ao Spoleto? - ri.
- Cacete, até isso você sabe de mim? - ele gargalhou.
- Claro! Sei tudo sobre você. - apoiou-se sobre a mesa e me beijou.
- Eu tentei fazer suco de laranja, mas ficou uma grande merda. - rimos. - Então, fui no mercado e comprei refrigerante.
- Tudo bem, Josh.
Depois de jantar, Josh me levou até o auditório. Estava achando um máximo andar pela escola no meio da noite sem me preocupar com diretor, coordenador, inspetor, alunos chatos e fofoqueiros. Joshua colocou o DVD para começar e subiu correndo, pois eu escolhi sentir no fundo do auditório. Ele não me disse qual filme assistiríamos, apenas colocou. Segundo meu namorado, eu gostaria da escolha. Quando apareceu tinta caindo, papel sendo recortado, já sabia que filme era aquele. Nada mais, nada menos que o meu filme preferido: She's All That (Ela é Demais). É um filme de 1999, eu mal andavam com as próprias pernas quando esse filme foi lançado. Uma tarde estava sem nada para fazer e resolvi assistir a Sessão da Tarde e foi aí que me apaixonei. Não sei exatamente o motivo. Por ser um comédia romântica leve, o charme de filmes dos anos 90 ou o charme de Freddie Prinze Jr. que está um gostoso nesse filme, cá entre nós. A história conta sobre Zach Siler (Freddie Prinze Jr.) que é o popular da escola, jogador de futebol e presidente da classe. Quando volta das férias, sua namorada lhe dá um pé na bunda. Ele diz aos amigos que ela é substituível, seus amigo diz que é impossível e duvida que consiga transformar outra menina em rainha do baile. Para sacanear mais Zach, seu melhor amigo que escolhe a menina, e a escolhida é a tímida Laney Boggs.
Percebi que Josh não parava de olhar para mim o filme todo. Um olhar apaixonado e bobo. Fazia tanto tempo que ele não me olhava assim que fiquei tímida. Josh passou o braço por trás dos pescoço, encostou seu rosto no meu ombro e continuou olhando para mim. Desta vez fazia como palhaçada. Sorri de leve e voltei a ver o filme.
- Psiu! - ele chamou.
- Oi, meu amor! - sorri e olhei para ele.
- Te amo, meu anjo.
- Também te amo. - sorri. Ele levantou a cabeça do meu ombro e me beijou. O beijo começou lento, devagar, como quem não queria nada mas a intensidade foi aumentando e ficando mais rápido. Josh levou o descanso de braço que estava entre nós e voltou a me beijar. Puxou-me mais para si. - Josh, - apoiei minhas mãos em seu peitoral para que ele parasse. - Melhor a gente voltar a ver o filme, não é? - nossas respirações estavam ofegantes.
- Sim, claro. - voltou ao seu lugar, ajeitou sua roupa e passou a mão no cabelo. Ajeitei o meu vestido. Ele abaixou o descanso de braço novamente. Ri de leve. Não o culpo pelo o que aconteceu, ou estamos separados ou acompanhados pela nossas mães e amigos. Só agora que tivemos um tempo para ficarmos só nós dois, sozinhos, depois de quase 2 meses. Certamente isso iria acontecer.
Quando o filme acabou, nos beijamos de novo, mas desta vez um beijo mais contido. Josh pegou o DVD e apagou a luz do auditório. Voltamos para a quadra. Parecia que Joshua tinha tudo programado, nunca o vi planejar algo. Ele sempre foi do tipo desorganizado. Era engraçado vê-lo daquele jeito. Pegou um violão que estava na arquibancada e disse para eu me sentar porque faria um show para mim. Assenti com a cabeça e sentei-me na arquibancada. Josh puxou a cadeira uma das cadeiras que havíamos sentado mais cedo e a colocou alguns centímetros de mim. Começou a tocar os primeiros arcordes.
I'm no superman
I can't take your hand
And fly you anywhere
You wanna go (yeah)
I can't read your mind
Like a billboard sign
And tell you everything
You wanna hear but
I'll be your hero
Conhecia essa música só não lembrava de onde.
I, I can be everything you need
If you're the one for me
Like gravity I'll be unstoppable
I, (yeah) I believe in destiny
I may be an ordinary guy
Without his soul
But if you're the one for me
Then I'll be your hero
Obvio que conheço essa música! Só que eu havia escutado em versão de estúdio. E na minha singela opinião, a maioria das músicas ficam melhores em versão acústica, parece tão natural, tão melhor de se ouvir.
(Could you be the one, could you be the one for me?)
Then I'll be your hero
(Could you be the one, could you be the one for me?)
Then I'll be your hero
Tem uma parte da música que diz "Se você for a ideal, você pode ser a ideal para mim? Então serei o seu herói.". Quando Josh terminou de cantar, falei:
- Sim, posso ser a ideal para você. - ele riu e andou até onde eu estava.
- Then I'll be your hero. - tocou o último acorde. Sorri. - Essa você vai adivinhar antes que eu comece a canta. - ele começou a tocar novamente. A música é trilha sonora do filme que acabamos de ver. Kiss Me, Sixpence None The Richer. Comecei a cantar junto com Josh e a balançar a cabeça no ritmo da música. Ela é tão boa de se ouvir.
Oh, kiss me beneath the milky twilight
Lead me out on the moonlit floor
Lift your open hand
Strike up the band and make the fireflies dance
Silver moon's sparkling
- So kiss me... - completei a música.
So kiss me
Josh desceu da cadeira, mas continuava tocando.
- So kiss me...
- Com todo o prazer. - lentamente colocou a mão na minha nuca e beijou-me. Mesmo tendo beijado Josh inúmeras vezes, sempre quando ele coloca a mão na minha nuca, minha respiração fica ofegante e parece que é o primeiro beijo. Isso pode parecer loucura! Mas é a verdade. Talvez por isso que seu beijo é tão bom e viciante ou é bom e viciante por eu amar tanto esse garoto que nem consigo explicar através de palavras. Ele sabe que eu o amo e eu sei que ele me ama. É isso que importa. Depois de tocar violão, fomos para casa. Josh não arrumou nada e não quis me falar como conseguiu a chave da escola. Mais tarde descobriria. Mulher é pior que FBI quando quer.
Era meia noite quando Josh me deixou em casa. Não queria que ele fosse embora. Essa noite foi tão perfeita que não queria que acabasse.
- São meia noite. - ele segurou minha mão. - Vai fazer um pedido?
- Já fiz e você?
- Também. - brincava com a minha mão. - O que você pediu? - levantou o olhar. Nossos olhos se encontraram.
- Que essa noite não termine. - sorri envergonhada.
- Eu pedi para que a gente não se separe. Nem que o motivo seja uma briga boba. - passou a mão no meu cabelo. Lembrei do beijo do Dimitri e eu precisava falar. Antes tarde do que nunca, né?
- Eu preciso te dizer uma coisa. - mirei o chão.
- O que foi?
- No meu aniversário, quando você foi falar com o Carl e me deixou sozinha na quadra, o Dimitri apareceu. - Josh assentiu. - Disse que foi me desejar feliz aniversário e que estava de partida, iria estudar nos Estados Unidos.
- Por que?
- Ele não disse, mas acho que meu pai o mandou pra lá.
- Entendi. Continua.
- Então, já tínhamos nos despedido, eu estava voltando para o salão quando... O Dimitri me chamou de novo, olhei, e num movimento rápido, ele me beijou. - Josh não se revoltou ou soltou a minha mão. Parecia calmo.
- Você correspondeu ao beijo? - perguntou calmamente.
- Sim, mas foi tudo muito estranho. Eu não sei porque correspondi.
- Porque você estava envolvida emocionalmente com ele. Dimitri estava se despedindo, vai estudar fora, talvez vocês nunca mais se veriam. Era o último encontro dos dois. Ele pensou: Por que não? - disse bastante calmo. - Depois que você me contou que ele terminou o namoro, mudou o visual e ficou mais próximo, passei a desconfiar que Dimitri gostava de você. Só que... - ele riu. - Maya, você é lerdinha demais! Ele praticamente gritava na sua frente e você nada. - riu. Por que ria? Era para estar gritando comigo e jurando nunca mais querer saber de mim. Eu beijei o meu irmão!
- Então, você não está chateado? Não quer terminar?
- Depois do beijo, o que você pensou?
- Somos irmãos. Nunca o vi de outra forma e de repente descubro que ele era apaixonado por mim. E a gente se beija! - Josh me observava atentamente. Continuei. - Me sinto culpada por não ter percebido antes.
- Você percebeu, Maya. Só não quis ver. - acariciou o meu rosto. - Olha, estou sim chateado, mas entendi a situação. Acho que eu no lugar dele, faria a mesma coisa. Mas não quero terminar.
- Foi um erro. Me perdoe.
- Maya, tudo bem. Não se preocupe com isso. Fiquei feliz por você ter me contado.
- Eu disse que não omitiria mais nada de você.
- Eu sei, meu anjo. Te amo, tá? - me abraçou.
- Também te amo. - ele me beijou.
Depois do beijo precisei subir. Eram meia noite e meia. Minha mãe que estava acordada perguntou aonde tínhamos ido. Não podia falar que era a escola, ela surtaria. Falei que fomos à um restaurante e depois em uma balada. Dona Débora pareceu ter acreditado. Tomei um banho e entrei no quarto enrolada com o meu roupão azul turquesa. Meu celular tocou. Mensagem do Josh. Corri para ver.
"Entra no Facetime ;P "
Respondi:
"Ok, só um minuto. Acabei de sair do banho, vou colocar o pijama."
Ele respondeu na mesma hora.
"Não precisa, não! Haha to brincando. Eu espero (: "
Ri com a sua mensagem.
"Muito engraçadinho vc, viu! rs"
Coloquei uma camiseta larga, um sutiã e um short de moletom. Liguei o ar condicionado e depois fui para o Facetime chamar o Josh, ele logo atendeu a chamada. Na tela do celular só via a parede do seu quarto e a cabeceira da cama. De repente Josh levanta o rosto dizendo "Heey!", obviamente eu me assustei. Joshua gargalhou. Josh usava uma regata preta e seu cabelo estava levemente bagunçado. Estávamos conversando quando Josh se enfiou debaixo das cobertas e disse para eu ficar calada. Sua mãe tinha entrado no quarto. Ele fechou os olhos, mas faltava pouco para sorrir. Tia Michelle saiu do quarto e Josh pôde voltar ao normal. Conversamos mais um pouco, mas eu não queria dormir, então pedi para que Joshua cantasse para mim.
When I'm with you girl I swear
I don't need anything
Anything, oh no, no no (yeah)
When you chill on the couch
Ain't gotta go out that's fine with me
Yeah, said that's fine with me (yeah)
You popped in a movie, that didn't fool me (no)
We both know why you're here
Bad intentions in the air
So just breathe (just breathe)
(...)
She knows even though all these girls
Hit my phone like free throws (free throws)
I don't need those, no, no
I don't need those
Head to toe, you're so beautiful
You're my girl so don't forget it
- Josh é música para dormir e não para me agitar mais. - ri.
- Essa música é maneira, pô.
- E desde quando você escuta música de viner feat Emblem3? - arqueei a sobrancelha.
- Verdade, não escuto, porém essa música é boa e viciante. - rolei os olhos. - Está bem, vou cantar outra. Deixa eu pensar.
Aconcheguei-me no travesseiro e deixei o celular apoiado no abajur do criado mudo. Josh estava com a cabeça encostada no travesseiro, porém ainda segurava o celular com a mão.
- Posso? - assenti com a cabeça.
E hoje eu descobri
O quanto eu te quero
Ursinho de dormir
Vem que eu te espero assim
- Você sempre sabe as músicas que eu gosto.
- Assim como você sabe tudo sobre mim, eu sei tudo de você. - deu uma piscadela.
Voltou a cantar.
Eu vou te levar pro mar
Nas pedras eu vou te amar
E ao ver o sol se pôr
Eu vou te chamar de amor
E eu vou te levar pro céu
Pra onde você quiser
Eu tenho um beijo pra depois
Pra brindar o infinito de nós dois
De nós dois, de nós dois
Não é "chamar", é "matar" mas acho que nós dois já temos trauma o suficiente com essa palavra. No lugar da palavra "beijo" o certo é "beck" que significa cigarro de maconha, mas Josh e eu não fumamos e nem queremos fumar. Certamente por isso que ele substituiu a palavra. Eu já estava começando a pegar no sono.
De nós dois, de nós dois
I love you, I love you
Uuh uuh
Josh POV
Maya pediu para que eu cantasse para ela dormir. A primeira cantei de palhaçada, mas a segunda foi séria. Escolhi cantar Ursinho de Dormir, Armandinho. É um reggae romântico que eu gosto muito. Troquei algumas palavras para combinar mais com o clima. Perto de terminar a música, Maya começou a pegar no sono.
- I love you. - sorri de lado e desliguei a chamada no Facetime.
Deixei o celular de lado, coloquei o braço embaixo da cabeça e olhei para o teto. Parando para pensar no dia de hoje, tanto tempo que eu não ficava com a Maya que agora acho que estou grudento demais. Ri de leve. Acho que vou maneirar um pouco. Não quero que a Mah me ache chato. Meu aniversário está chegando. Minha mãe queria fazer uma festa por ser "Os 18 anos do meu filho!". Sim, foram palavras dela. Depois do último ocorrido, não quero festa, não por enquanto. Queria mesmo era ficar quieto em um lugar sem agitação.
No dia seguinte levantei-me para tomar café. Minha mãe tomava o seu café preto. Era um domingo com cara de segunda. Sentei-me a mesa, coloquei um pouco de suco no copo e peguei alguns pães de queijo.
- Mãe, a gente tem alguma casa que seja tranquila e longe da cidade?
- Tem a casa de praia da sua avó, mãe do seu pai. É uma ilha particular em Angra dos Reis. Por que?
- Porque quero ir para lá. Você me perguntou o que eu queria fazer no meu aniversário, então, isso. Ficar nessa casa de praia com você e a Maya.
- Tudo bem. Podemos pedir a chave à ela e planejar tudo. - comemorei. - Com uma condição.
- Sabia! - rolei os olhos. - Fala, mãe.
- Nada do casal dormir juntos. Débora me mataria e você ainda está se recuperando.
- Está bem, mãe.
Acabei de tomar o café e corri para ligar para a Maya.
Josh POV - END
- SÉRIO? Claro que eu vou! Minha mãe? Claro que deixa! - olhei para atrás e minha mãe estava séria e com as mãos na cintura. Tinha acabado de tomar café quando o Josh ligou perguntando se eu queria ir para Angra com ele e com a tia Michelle. É óbvio que eu aceitei! - Está bem. Te amo mais! Beijú!
- Onde que eu te deixei ir, Maya Telesco?
- Mãe, posso ir para Angra dos Reis com o Josh e a mãe dele? Por favor! - me ajoelhei. - Estou implorando!
- Vou ligar para a Michelle pra saber mais sobre isso. - pegou o telefone fixo e começou a discar. A campainha tocou. - Vai atender, Maya!
- Estou de pijama, mãe.
- Não quer viajar mais, não?! - gritou de longe.
Subi até o meu quarto para pegar um moletom e desci correndo para atender. Era um homem com um terno preto e segurava uma prancheta branca nas mãos.
- Débora Telesco, por favor.
- Mããee! - gritei. - É pra você! - rapidamente dona Débora chegou na porta.
- Débora Telesco?
- Sim.
- Isso é para a senhora. - entregou um envelope. - Assine aqui, por favor. - esticou a prancheta. Percebi que minha mãe passou rapidamente o olho no papel e assinou. - Obrigado e tenha um bom dia. - o homem foi embora.
- O que é isso, mãe?
- É sobre a sua guarda, Maya. - disse fechando a porta.
- Mas ainda nem fomos depôr.
- Talvez agora que fomos chamadas. - disse abrindo lentamente o envelope. Quando abriu, apenas deu na minha mão e andou até a cozinha. Rapidamente peguei para ler.
"Gostaríamos de informar à senhora Débora Telesco que o caso da guarda legal da menor de idade, Maya Telesco Soares foi cancelado."
Não acreditei quando li aquilo. Não mesmo! Comecei a pular, gritar, dançar! Fui até a cozinha falar com a minha mãe. Por que não comemorou? Ela estava de costas para mim, com a mão apoiada no balcão e um copo de água.
- Mãe! Mãe! Eu vou ficar com a senhora, por que não está feliz? - ela olhou para mim e vi que ela estava chorando. Dona Débora odeia chorar na minha frente, sempre que pode evita.
- Estou feliz, filha! Muito! - sorriu enquanto as lágrimas caíam. - É que... Isso é um alívio muito grande. Pensei que ia perder a minha menininha.
- Sua menininha está aqui, mãe e só vai embora quando a senhora quiser. - lhe abracei.
Para minha mãe não ficar sozinha, tia Michelle resolveu chamar a amiga para lhe fazer companhia. Nem preciso dizer que não gostei nem um pouco, né? Nossas mães juntas é a pior coisa que podia acontecer! Iríamos na sexta à tarde e voltaríamos no domingo à noite. Domingo é o aniversário do Josh. Passei um tempo pensando em que poderia te dar. Nos outros aniversários eu dava blusa ou apenas um CD, mas agora a gente namora, né? Eu preciso dar algo melhor ou mais significativo. Josh é apaixonado por música e agora que sabe tocar violão, sua paixão ficou mais forte. Outro violão? Uma palheta? Como dar um presente é tão difícil! Ele sabe exatamente o que me dar e eu não sei o que dar à ele! Preciso comprar antes de viajarmos obviamente.
Finalmente veio uma luz na minha mente! Depois da escola, convoquei as meninas para comprarem um presente para o Josh. Obviamente que disse a ele que a gente ia no shopping ver biquíni ou algo do tipo. A verdade é que fomos em uma feira de artesanato que estava rolando no Rio. Tia Michelle disse que provavelmente Josh ganharia um carro. Será surpresa. Pois bem, pensei em comprar algo que ele pudesse colocar no carro e lembrar de mim. Depois de tirar sua carteira, Joshua não vai largar nunca mais seu carro. Andamos por algumas horas pela feira. Babalu e Vivian compraram brincos artesanais. Eu comprei uma pulseira, aquela que minha mãe diz que é mulambo. Luana comprou um filtro dos sonhos rosa. Andamos mais um pouco e finalmente achei o que estava procurando.
Na sexta feira depois da aula, Josh foi até a minha casa ajudar a pegar as malas. Eu falei que não precisava, mas ele insistiu. Eu, minha mãe e ele pegamos um táxi para levar as malas. Chegando ao condomínio do Josh, tia Michelle já arrumava as coisas no carro. Ajeitou nossa mala também e depois entramos no carro. Não tivemos tempo de tirar o uniforme. Minha mãe concordou que eu poderia ir atrás com o Josh. Nos primeiros minutos da viagem, Joshua e eu, dividimos o fone para escutar música. Cada um escolhia uma. Algumas horas se passaram e eu acabei dormindo no ombro do Josh. Levantei o rosto rapidamente e ele também dormia. Aconcheguei-me nele novamente e dormi.
Chegamos em Angra dos Reis eram 17 horas. O quintal era a praia propriamente dita. Do lado de dentro eram mobílias simples, porém aconchegantes.Tia Michelle fez um pequeno tour pela casa, que tem 4 quartos, 2 banheiros, sala de jantar, sala de estar e cozinha. No final do tour, voltamos para a sala.
- Maya dorme comigo e Josh com você. - indagou minha mãe. Rolei os olhos.
- Claro! - concordou tia Michelle.
Josh pegou minha mão e levou-me em direção à praia.
- Onde vocês vão? - perguntou minha mãe.
- Aonde mais nós iríamos, mãe? Estamos em uma ilha privada.- disse andando de costas segurando a mão ao Josh, que riu. - Praia! - gritei de longe.
No quintal, o chão era de madeira, havia duas mesas brancas com quatro cadeiras e um churrasqueira. Deixamos nosso tênis ali mesmo e descemos os três degraus da escada de madeira, sentindo a areia em nossos pés. Fomos andando na areia de mãos dadas até o mar. A água estava gelada, mas era tão limpa. Tão diferentes das praias do Rio que são imundas e verde. Essa a água era azul e a areia clara. Praia mais linda que já. O sol estava indo embora e a paisagem ficou linda.
Débora POV
Da janela via Josh e Maya de mãos dadas com o pé na água. E pensar que quando menor, minha menininha fugia quando a onda batia na areia. Hoje ela admira o mar com o namorado. É difícil para mim vê-la desse jeito, com 17 anos, namorado e ter perdido 2 amigos. Ela tem se mantido forte o tempo todo. Sua personalidade é forte e é isso que mais admiro na minha filha, além da beleza, é claro.
O casal se beijou. Acho que tenho sido muita dura quanto ao namoro. Josh é um menino adorável e ele faz bem à Maya. Por que não consigo parar de monitora-los? Ela não é mais uma criança e não vai cometer o mesmo erro que eu. Até porque Josh já provou que não é nenhum Fábio da vida. Preciso parar de ter medo por ela, preciso deixar de uma mãe super ultra protetora. Tenho que deixa-la ir.
Michelle apareceu ao meu lado com um celular na mão. Estava na direção dos meninos na praia.
- Michelle, o que está fazendo?
- Tirando foto, ué. - sorriu como se fosse óbvio. - Josh vai me agradecer por isso!
- Ele gosta que você tire foto quando o mesmo está distraído? A Maya odeia que eu faça isso.
- Josh também não gosta, mas depois que vê acaba gostando. - piscou com o olho direito. - Olha! Ficou bom! - disse dando o celular na minha mão. Ela tirou duas fotos. Uma o casal estava de mãos dadas de costas para nós e a outra eles estavam se beijando.
- Eu não acerto uma, Michelle. - saí da janela e sentei-me no sofá bege que tinha na sala. - Inventei de fazer festa e foi o pior aniversário de sua vida, vivo marcando em cima quando o assunto é namoro... Não sei o que faço.
- Você acertou sim, Debby. Acertou em ter essa filha tão maravilhosa que é a Maya. E quanto a namoro, Josh pediu pra parar de fazer interrogatório. - ri.
- Michelle, o Josh é menino, meninos não falam sobre namoro com mãe.
- Eu sei que não, mas queria tanto saber de tudo, estar por dentro dos assuntos!
- Certas coisas não quero saber de tudo. - ri sem graça. - Tenho como evitar saber detalhes, né? - olhei para Michelle.
- Você é mãe de uma menina e infelizmente, não, não tem como evitar. - rimos. - Vamos fazer um lanche para eles ou jantar?
- Lanche. - nos levantamos do sofá e fomos para cozinha preparar um lanche para eles.
Débora POV - END
Depois de brincarmos de pique-pega (sim, pagamos esse mico! Sorte que não tinha ninguém na praia), sentamos na areia. Josh estava com braço em volta do meu ombro.
- Josh?
- Fala, meu anjo. - ele tirou o braço e apoiou na areia para me olhar melhor.
- Por que você nunca disse que gostou de mim quando menor? - ele coçou o cabelo. Estava nervoso.
- Porque você gostava do Luiz.
- Que Luiz?
- Um menino da nossa sala, no 7º ano. Um dentuço.
- Irk! Nem lembrava que gostei daquele menino. - ri.
- Sim, você gostou e vivia correndo atrás dele. Então, achei melhor esquecer ou tentar. E eu só tentei mesmo. - sorriu sem graça.
- Se arrepende?
- Do quê?
- Dos seus sentimentos por mim terem voltado. Você queria esquecer e...
- Não! Claro que não! Se eles voltaram, é porque o que sinto por você é forte demais para ser apagado. - sorri.
- Ainda quero entender porque foi ao me ver de biquíni. - Josh gargalhou. - Como se o meu corpo fosse fodástico! - Josh riu mais ainda.
- Foi a primeira vez que te vi de biquini, Mah. Você só usava maiô. - ri sem graça. - E bom, sou lerdo e depois de tantos anos, só algo assim para fazer com quê eu me tocasse.
- Fazer você se tocar de que? - arqueei a sobrancelha e sorri.
- De que você é a menina perfeita para mim. - ia beija-lo, quando continuou. - A propósito, seu corpo é fodástico sim e não falo isso por ser seu namorado. - sorri maliciosamente e o beijei. Com a mão na sua nuca, o fiz cair na areia. Abri uma das pernas fazendo com quê eu ficasse por cima de Josh.
- Fala por ser o que, então? - Josh abriu um sorriso, puxou-me pela nuca e me beijou. Obviamente, fez com que eu caísse na areia e ficou por cima de mim.
- Por ser homem. - beijou meu pescoço. - E por conhecer. - beijou o outro lado do meu pescoço. - Cada curva do seu corpo. - passou a mão por dentro da minha blusa, acariciando minha cintura de dentro para fora. Apenas uma vez que ficamos completamente nus um na frente do outro, e ele já gravou cada traço do meu corpo? Bom, ele não é o único. Aquela noite ainda está bem viva na minha mente. Voltou a beijar a minha boca. A brincadeira já estava indo longe demais. Quando estávamos correndo, havia visto a minha mãe na janela, e se ela visse essa brincadeira? Com certeza não acharia que era brincadeira. Para falar a verdade, já deixou de ser brincadeira há tempos! Mais uma vez fiquei por cima de Josh.
- Melhor pararmos por aqui, nossas mães podem nos ver. - Josh olhou para trás e se sentou. Continuava sentada em seu colo.
- Está bem. O último. - referiu-se ao beijo. Entrelacei minhas mãos na nuca do Josh, joguei o cabelo para o lado e o beijei. Josh estava com as mãos para atrás apoiadas na areia. O beijo foi ficando cada vez mais intenso e quente. Ele segurou minha cintura e puxou-me mais para si. Sua outra mão estava nas minhas costas, por dento da blusa, conforme passava seus dedos pelo meu corpo, a camisa subia. Senti um ventinho na barriga, mas continuei. Automaticamente tirei sua blusa e vi a cicatriz da cirurgia no lado esquerdo da sua barriga, em forma de uma linha reta. Aquelas lembranças voltaram com toda a força. Caio, Carl, Josh.
- Fomos longe demais. - disse ofegante. Levantei-me de cima do Josh e fui andando para a casa. Joshua pegou sua blusa no chão e me seguiu.
- Maya, - segurou meu braço. - O que houve? Foi por que me exaltei um pouco? Desculpa. - disse ofegante também.
- Não foi por isso, Josh. Já perdi a conta de quantas vezes perdemos o freio em um amasso. - ri timidamente. Ele sorriu de lado.
- Por que então?
- A sua cicatriz. - Josh olhou para o seu abdômen e passou levemente o dedo. - É a primeira vez que eu vejo. Ela me trouxe lembranças das quais não quero lembrar.
- Essas lembranças também surgiam quando olhava para ela. Na primeira vez foi muito difícil para mim. Ela é o símbolo daquela tempestade toda que nos rodeou e eu consegui passar por tudo isso e permanecer vivo. Agora a vejo mais como uma tatuagem do que uma cicatriz. Ela não me incomoda mais.
- Entendi. - ele me abraçou de lado.
- Não deixe que o medo impeça você de jogar.
Pegamos nosso tênis que estavam no quintal, batemos bastante na roupa do lado de fora, pois estava cheia de areia e depois entramos. A casa cheirava a hambúrguer. Fomos até a cozinha e lá estavam elas cantando alguma coisa e colocando o hambúrguer no prato.
- Meu Deus! O que houve com vocês? - minha mãe perguntou assustada ao ver nosso estado. Não adiantou nos limparmos antes.
- Anjos de areia, tia. Sabe como é, né? Brasil não tem neve, o jeito é fazer anjo na areia. - explicou Josh. Eu ri.
- Ai, meu Deus! Joshua você é retardado! - disse tia Michelle, me fazendo gargalhar. - Como vai fazer anjo de areia de uniforme? Vá direto pro banho!
- Deixa a Maya ir primeiro, eu quero comer. - ia pegar um hambúrguer, quando sua mãe bateu na sua mão.
- Não vai comer enquanto não tomar banho!
- Que caralho! - Josh seguiu para o banheiro. Eu continuava rindo.
- Vai também, Maya. - disse minha mãe. Rolei os olhos e fui para o outro banheiro.
Perto da cozinha, tem um corredor reto com dois corredores um de cada lado. Um banheiro no corredor esquerdo e outro banheiro no corredor direito. Não vi para qual corredor Josh havia ido, estava preocupada demais em rir com a bronca da tia Michelle. Optei pelo banheiro da direita. Não ouvi barulho de chuveiro, devia estar vazio. Saí abrindo a porta quando dei de cara com Josh pelado. Ele tampou a genitália com as mãos. Fechei os olhos, dei meia volta e fechei a porta. Andando apressadamente para o corredor oposto, sinto uma mão me puxar para atrás. Era Josh e desta vez estava com uma toalha amarrada na cintura.
- Se queria tomar banho comigo era só avisar, meu anjo. - sorriu maliciosamente.
- Deixa de ser ridículo! Eu achei que você estivesse no banheiro do outro corredor.
- Ridículo por quê? Namorados não podem tomar banho juntos?
- Não aqui, não agora e muito menos com nossas mães na mesma casa.
- Banho junto só depois do casamento, então? - cruzou os braços.
- É, isso mesmo. - cruzei os braços também.
- Estava pensando em te pedir em casamento quando a gente tivesse uns 24 anos, mas vou antecipar esse plano. - sorriu. Espera! Josh pensa em casar comigo?
- O-o quê?!
- Maya, - aproximou-se. - Eu quero me casar e construir uma família com você.
- Você não pode estar falando sério. - ri nervosa. Ele quer mesmo ter uma vida comigo? Construir uma família? Eu sempre pensei nisso, sempre quis, mas nunca achei que ele quisesse. - Tem 17 anos, Josh. Diz isso agora e depois pode muito bem não acontecer.
- Posso ser brincalhão, mas não estou brincando desta vez. - segurou o meu rosto com as duas mãos. - Sim, somos jovens e o futuro à Deus pertence, mas vou fazer de tudo para permanecermos juntos até a eternidade.
- Então, eu aceito. - sorri.
- Tomar banho comigo? - arqueou as sobrancelhas e sorriu.
- Não, seu bobo! - o empurrei. Ele riu. - Eu quero, eu aceito construir uma família com você.
- Te amo, Maya. - passou a mão na ponta do meu cabelo.
- Te amo, Josh. - o beijei lentamente.
- Cof! Cof! - tomamos um susto e nos separamos. Era minha mãe. Dona Débora parou para analizar a cena. Josh apenas de toalha, nós estávamos em um corredor escuro, nos beijando quando deveríamos estar tomando banho separadamente. Me fudi. - Acho que você devia voltar para o banho. - disse olhando para Josh.
- Sim, senhora. - Josh voltou correndo para o banheiro.
- E você devia começar o seu.
- Mãe, não é nada disso que você está pensando.
- Não estou pensando em nada por enquanto. Vai para o outro corredor, Maya. - assenti com a cabeça e segui para o outro corredor. - Toma! - jogou a toalha para mim, que agarrei com as mãos. - Só por isso que vim atrás de você , por causa da toalha.
- Obrigada, mãe.
- Maya, confio em vocês, mas não me faça perder a confiança. - concordei com a cabeça e segui para o banheiro.
Quando saí do banho, vesti um short de malha e uma camiseta de manga curta. Quando cheguei na sala, Josh estava sentado no sofá. Vestia uma bermuda preta tactel e uma regata branca justa. Ele tem usado mais regatas justa, talvez seja por causa da cicatriz. Devorava o hambúrguer que estava na sua mão. Nossas mães pareciam estar colocando o papo em dia. Fui até a cozinha montar meu hambúrguer. Só coloquei queijo. Não gosto de alface, nem ketchup, nem mostarda. Sentei-me ao lado de Josh para comer. Depois do lanche, ligamos a televisão para vermos um filme. Obviamente nossas mães que escolheram. O filme era tão bom que as duas dormiram.
- Quer ver outro filme? - perguntou Josh.
- Pode colocar no que você quiser. Não estou muito a fim de ver filme. - dei de ombros.
Josh ficou vendo algum filme sobre zumbis enquanto eu estava no celular. Dimitri mandou mais e-mails do EUA. Eu o respondi dizendo que estava em Angra comemorando o aniversário do Josh e que viajar com mãe é um suco. Fechei o e-mail e entrei no meu Twitter. Tuitei algumas coisas e depois saí também. Josh ainda via o filme de zumbis. Seu filme acabou e não tinha mais nada de bom na televisão.
- Acho que viajar com nossas mães não foi a melhor das ideias. - disse ao olhar para tia Michelle.
- Não mesmo. - ri. - Principalmente por nossas mães nos amar tanto, a ponto de não saírem do nosso pé.
- Pelo menos vou passar meu aniversário ao seu lado. - abraçou-me emendando um beijo na bochecha.
- Se a gente estivesse na Barra seria diferente?
- Sim, a galera toda iria pra minha casa e a gente não ia ter um tempo para nós.
- Isso é verdade. - entrelacei meus braços em volta do seu pescoço.
- Então de uma certa forma, ter vindo pra cá, foi uma boa. -ele sorriu. Assenti com a cabeça e nos beijamos.
Nos levantamos do sofá ainda nos beijando. Josh prendeu minhas pernas em sua cintura e voltou a beijar meus lábios. Estávamos no corredor. Desci do seu colo.
- Boa noite. - falei.
- Boa noite, meu anjo. - beijou minha testa. - Durma bem. - passou a mão lentamente na minha bochecha.
- Você também. - lhe abracei. Direcionei-me para o primeiro quarto do corredor, Josh foi para o corredor oposto. - Sonha comigo! - disse de longe.
- Nem precisa pedir, já sonho todas as noites com você. - disse virando-se para mim.
Agimos como o combinado: Cada um em um quarto. Nossas mães só querem nos proteger, mas é muito chato dormir em um quarto sozinha sabendo que seu namorado está logo no corredor oposto. Demorei um pouco a pegar no sono. No meio da madrugada vi minha mãe entrar e deitar para dormir na cama ao lado. Com certeza suas costas começaram a doer por dormir no sofá e resolveu levantar.
De manhã, tomamos café no quintal de frente para a praia. Nada melhor como tomar café da manhã sentindo a maresia. A paisagem estava tão linda que resolvi tirar uma foto. Nem tive coragem de colocar filtro, ela sem nada já estava perfeita. Josh logo chegou no quintal, sem camisa e vestindo a mesma bermuda da noite anterior.
- Bom dia! - disse ele sorrindo.
- Bom dia, filho.
- Bom dia, Josh.
- Bom dia, meu amor! - respondi. Ele me deu um selinho e sentou-se ao meu lado.
- E aí, quais são os planos para hoje? - perguntou.
- Praia? - disse obviamente.
- Ah, não! Vamos dar uma volta por aí.
- Eu topo!
- Achei que você quisesse ficar em um lugar quieto. - disse tia Michelle.
- Sim, quero e já estou. - sorriu sarcasticamente.
- Algo me diz que eles querem se livrar da gente, Michelle.
- Claro que não, mãe. Só queremos dar uma volta mesmo.
- A cidade é longe daqui, vocês não podem dirigir e eu e a Debby queremos ficar nesta praia. - disse tia Michelle.
- Amanhã completo 18 anos, por favor.
- Joshua, você não tem habilitação. Não vai dirigir enquanto não tiver habilitação. - Josh bufou.
- Tudo bem a gente fica aqui mesmo. - disse colocando minha mão em cima da sua. Josh rolava os olhos.
Nossas mães já estavam de biquíni, então logo depois do café elas foram para a praia. Josh e eu fomos nos trocar. Tinha acabado de amarrar a parte de cima do biquíni preto e colocar um short jeans (eu sei, pra quê colocar short se a praia é praticamente um centímetro da casa? E respondo, não gosto de sair desfilando de biquíni puro, mesmo não tendo ninguém), quando escuto alguém bater na porta. Gritei para entrar.
- Está pronta? - perguntou Josh. Ele vestia uma bermuda de tactel listrada verde com cinza, sem camisa e descalço.
- Estou quase. Ainda vou passar protetor solar.
- Quer que eu passe em você? - puxou-me pela cintura e sorriu.
- Não precisa.
- Está bem. - beijou meu pescoço. - Se precisar de ajuda, é só falar.
- Tá bom.
- Acho mó merda a gente não poder dar uma volta.
- Eu também, mas sua mãe tem razão... É longe, você não habilitação. Melhor ficarmos aqui.
- A primeira coisa que eu vou fazer quando tiver habilitação e um carro, será te trazer pra cá novamente. - passou levemente a mão em meu cabelo.
- Adoraria vir aqui de novo, só com você. - ele sorriu e beijou-me.
- Vou deixar você terminar de se arrumar. - segurou minha mão. - Te espero na praia.
- Está bem. - sorri de lado.
Demorei alguns minutos para passar o protetor solar. Coloquei meu Ray Ban Aviador e saí. Quando cheguei a praia, Josh estava na água com a sua mãe. Dona Débora, a minha mãe, estava deitada em cima de uma canga laranja pegando sol. Ao lado dela, fiz um pequeno montinho para servir de travesseiro e estendi a minha canga. Deitei de barriga para cima, pluguei meu fone de ouvido no celular e deixei a música rolar. Começou a tocar The Pretty Reckless, Fucked Up World.
Back door bitches begin' me to hold
The cash and cuffs patterned silver and gold
We're like diamonds in the sky, that is what we have sold
No mountain made of money can buy you a soul, baby
Ooh, I can see it
Ooh, I can see it
Ooh, I can see it
Coming down
Ooh, I can see it
Ooh, I can see it
Ooh, I can see it
Coming down
Estava distraída com a música e quase pegando no sono, quando sinto uma sombra e uma chuva em cima de mim. Sim, chuva com um sol de quase 40 graus. Abaixo os óculos e vejo Josh em pé na minha frente rindo, mexendo no cabelo para a água cair em mim. Ah, essa era a chuva e a sombra.
- Chegar e dizer "Maya" não serve, né? - disse ironicamente.
- Serve, mas te molhar é mais divertido. - sentou-se na areia ao meu lado. - Não vai na água?
- O que acontece se eu não for? - com a mão joguei o cabelo para o lado esquerdo. - Não estou com nenhum livro para você ameaçar jogar na água. - Josh riu.
- Verdade, mas posso usar outras coisas contra você. - sorriu convencido.
- É mesmo?! O quê?
- Seu cabelo está tão bonito hoje... - passou a mão nele lentamente e depois colocou a mão na areia.
- Não, Josh! Isso não! - cheguei para o lado.
- Ué, mas nem estou fazendo nada. - pegou um bolo de areia na mão.
- Mas vai! E sei bem o que você vai fazer. - ele levantou a mão que estava com o bolo de areia. Na mesma hora deixei o celular de lado e levantei correndo. - Não, Josh! - o vi deixando deixando a areia cair, mas correu atrás de mim.
- O que foi, Maya? - ele gargalhava.
- Ei, vocês dois! - gritou minha mãe. - Vão brincar pra lá. Estão me sujando de areia com esse corre-corre.
- Concordo, tia. - numa corrida rápida, Josh conseguiu me pegar.
- Não, não! Não! - choraminguei. Josh colocou-me no colo, segurando minha perna e pelas costas.
- Que lindos! Josh vira pra mamãe! Quero tirar uma foto! - Josh virou todo sorridente para posar para a foto. Sorri de lado.
- Olha, finge que estamos em lua de mel e o mar é a nossa casa.- sorriu. Nesse exato momento parei de reclamar. Me dei conta que ele me segurava igual o noivo segura a noiva depois do casamento, que precisa entrar com o pé direito e carregando a noiva no colo.
- Se você continuar fazendo essas brincadeiras idiotas só para eu ir na água, desisto de casar com você.
- Não está falando sério. - olhou para mim.
- Não teste minha paciência, Joshua Ryan.
- Nem ouso a fazer tal ação. - sorriu e colocou-me em pé na água.
- Muito sábio você. - disse seguido de um beijo.
Quando saímos da água ficamos um pouco deitados na areia. Acabamos dormindo e minha mãe foi nos acordar para o almoço. Entrei para tomar banho e eu estava com uma marca de biquíni afiadíssima! Isso que dá dormir na praia. Acho que nunca fiquei com uma marquinha tão forte. Coloquei uma regata cavada e por baixo sutiã preto, um short de tactel e fiquei descalça mesmo. Josh parecia um camarão de tão vermelho. Eu ri ao vê-lo daquele jeito. Usava uma bermuda branca com uma estampa preta na lateral e estava sem camisa. Provavelmente estava ardido e não aguentaria ficar de camiseta. Vi sua cicatriz e desta vez, não fiquei assustada querendo fugir. Josh tem razão. Não devemos deixar que o medo nos impeça de jogar. O almoço foi peixe, arroz e salada. Da salada só comi o alface. Eu e Josh tivemos que lavar a louça do almoço. Obviamente que eu detestei a ideia inicialmente, mas depois, acabei gostando. Josh não parava de fazer palhaçadas e de me molhar. Parecia que tinha tomado outro banho. Minha mãe e a tia Débora acabaram dormindo mais uma vez no sofá. Josh e eu aproveitamos para ficar no quintal depois de acabar de lavar louça. Olhava para o mar enquanto Josh massageava os meus pés.
- Você é um ótimo massagista. Como só fui descobrir isso agora? - ele riu.
- Sou ótimo em muitas coisas. A senhorita já deverir saber. - brincou.
- Em quê mais você é ótimo e eu não sei. - cruzei os braços e dobrei a perna, ficando próxima dele.
- Em te beijar. - sorri, logo ele me beijou. Sem querer coloquei a mão em seu ombro ardido. - Ai! Devagar!
- Desculpa. - mordi o lábio. - Temos que cuidar disso. Vem! - o puxei pela mão.
Sempre quando viajo para lugares que tem praia, levo um creme para passar caso eu fique ardida. Fomos até o meu quarto. Josh sentou na ponta da cama, enquanto fui pegar o creme.
- Vira. - pedi para que ficasse de costas para mim. Pinguei um pouco do creme na mão e passei dos ombros até as costas. - Você precisa passar protetor, Josh.
- Eu esqueço.
- Mentira! Você tem preguiça, isso sim. - ele gargalhou.
- É, isso também. - passei mais um pouco nos ombros já que era a área que mais ardia. Josh segurou minha mão e ficou de frente para mim. Me olhou com um olhar apaixonado. - Obrigado por cuidar de mim.
- Você cuida de mim e eu cuido de você. Lembra?
- Para falar a verdade, não. - rimos. - Desculpa, meu anjo.
- Você estava bêbado e cantou o trecho da música do Lucas Lucco. Disse que o combinado era você cuidar de mim e eu de você. - sorri de lado.
- Então assim será. Mômozin, vamos fazer assim: Eu cuido de você e você cuida de mim. - passou a mão no meu rosto. Minha respiração ficou ofegante. Ele me beijou. O beijo foi calmo. Uma das mãos de Josh estava na minha nuca e a outra na cintura. A minha estava na sua cintura também. Joshua encostou sua testa na minha e sorriu de lado. - Eu te amo. - sussurou.
- Eu te amo mais. - pus minhas mãos em seu rosto e voltei a lhe beijar.
Logo voltamos para a sala antes que o beijo esquentasse. Josh conseguiu vestir uma camiseta, porém larga desta vez. Vimos alguns filmes antes do jantar. Quando deu a hora do pôr do sol, Josh e eu fomos até a praia ver. A janta foi a mesma coisa do almoço. Estamos bem de cardápio. Perto da meia noite, ninguém dormiu. Obviamente para desejar feliz aniversário a Josh. Dando a hora tão desejada, tia Michelle abraçou o filho e chegou a chorar, certamente por lembrar do marido. Minha mãe deu os parabéns também. Fui até o quarto pegar o seu presente. Nossas mães nos deixaram a sós na sala por um tempo.
- Parabéns, tudo de bom! E que você seja muito feliz.
- Se eu estiver com você, serei. - sorri timidamente.
- Olha, pensei em vários tipos de presente para te dar. Até outro violão eu pensei. - Josh sorriu. - Acabei decidindo por algo que quando você olhasse se lembraria de mim.
- Não precisava me dar nada, Mah.
- Precisava sim. Seus 18 anos, cara! Claro que precisa. - peguei o embrulho azul e lhe entreguei. - Feliz aniversário, Josh. - ele sorriu de lado e me deu um selinho. Havia lhe dado uma pequena mandala azul. - Isso é uma mandala, Josh. - ri de leve. - Para você colocar no seu carro. Como ela é azul, significa equilíbrio, paciência, harmonia e serenidade, tranquiliza o corpo e a mente. Ajuda nos casos de insônia e estresse. Não se pode dirigir com sono, nem estressado, certo?
- Certíssimo. - ele sorriu. - Obrigado pelo presente, meu anjo. Eu adorei. - me deu um beijinho. - Agora só falta o carro.
- Em breve ele virá. - sorri de lado.
Josh POV
Depois da meia noite, minha mãe e a tia Michelle, deixaram que eu e a Maya ficássemos sozinhos e foram dormir. A Mah me deu uma mandala para colocar no carro. Eu gostei, pena que não tenho um carro para colocar o presente.
Ficamos na sala assistindo programas chatos até 1h30min da manhã. Depois fomos para um quarto livre, no corredor da minha mãe. Estávamos deitados na cama, um ao lado do outro, apenas conversando. Meu braço em volta da Maya e ela aconchegada ao meu peitoral. Dei um selinho, depois outro e mais outro, ela segurou meu rosto e me beijou direito. Sorri entre o beijo. Passei a mão por dentro da sua blusa, alisando a cintura. A mão dela passava pelas costas e desceu até a minha bermuda. Enrolou o dedo no elástico, brincando com o mesmo. Fiquei por cima dela e beijei seu pescoço. Em seguida tirei a camisa. Ela tirou minha bermuda, deixando-me apenas de cueca boxer azul marinho. Lentamente tirei sua blusa, deixando-a apenas de sutiã preto. Beijei o colo do seu pescoço. Eu já estava excitado, ela já estava excitada. Quando lembro que não trouxe camisinha. Parei na mesma hora.
- Maya... - disse ofegante. - Não posso, não podemos.
- Por que? - disse também ofegante.
- Não trouxe camisinha.
- E daí? Está com medo?
- Não!
De repente abro os olhos e estou no mesmo quarto, mas a Maya estava ao meu lado dormindo, não estava seminua, usava pijama. Eu estava com uma bermuda e blusa. Aquilo não aconteceu, foi um sonho. Devia saber, a Maya jamais tiraria minha bermuda ou não ligaria de transar sem camisinha. A Mah não é assim. Ela tem medo de engravidar ou de dar algo errado. Que sonho estranho! Passei a mão no cabelo e tentei voltar a dormir.
No dia seguinte, Maya me acordou com beijinhos. Não sabia o que tinha rolado na outra noite, como dormimos. Transar eu sei que não, mas o que fizemos?
- Bom dia, meu amor! - disse mexendo em meu cabelo.
- Bom dia, meu anjo. - sorri. - Nós dormimos juntos?
- É, a gente estava conversando e acabamos caindo no sono. Fique tranquilo, nossas mães não falaram nada.
- Tudo bem. Então... - sentei-me na cama. - Hoje é o nosso último dia aqui, o que vamos fazer?
- Praia. - riu.
- Estou cansado de praia. Vamos ficar aqui dentro, então.
- Por mim tudo bem, mas vamos pelo menos tomar café?
- Claro.
- Te espero na lá fora. - me deu um selinho.
Josh POV - END
A noite passada foi a primeira que não aconteceu nada. Quero dizer, estávamos sozinhos, em um quarto, nos beijando muito mas não ficamos animados, não nos pegamos loucamente a ponto de transarmos. Acho que a pegação da sexta feira valeu pelo fim de semana todo. Lembro de ter sido acordada pela minha mãe e ela não estava com voz brava, estava calma. Esse novo comportamento da minha mãe está bastante estranho para mim. Se fosse há alguns dias atrás, teria gritado e brigado comigo por ter dormido na mesma cama com o Josh, sendo que era pra ter dormido no mesmo quarto que ela. Não entendo as mães. Sério.
Tia Michelle e a minha mãe foram para a praia. Eu e o Josh ficamos do quintal olhando. Se eu estivesse sozinha aqui com a dona Débora, certamente a essa hora já estaria entediada e pedindo para ir embora, mas com o Josh é diferente. Nunca fico entediada. Nunca me canso dos seus beijos, carinhos ou palavras.Nunca me canso de nada relacionado ao Joshua.
Na volta para o Rio de Janeiro, minha mãe iria dirigir. Josh e eu fomos no banco de trás novamente. Saímos de Angra dos Reis às 20 horas. Estava um silencio no carro. Josh e eu não dormimos, pois fizemos isso a tarde toda. Tia Michelle dormia no banco da frente e minha mãe estava concentrada na pista.
- Vou cantar uma música para vocês! - disse Josh animado. Minha mãe olhou pelo retrovisor e riu. - É sério, pô! Quer ouvir que música, Mah?
- A primeira que vier na sua cabeça. - falei. Posso me responder por escolher essa opção conhecendo o Josh pelo o que conheço, acabaria cantando "Lepo Lepo".
- Beleza.
Cut the music up
A lil' louder
Yeah
Ao ouvir esse pedaço já sabia que música era. Creio que seja a versão do Lil Wayne de How To Love. Josh não ouve Justin Bieber.
You had a lot of crooks tryna steal your heart
Never really had luck, couldn't never figure out
How to love
How to love
You had a lot of moments that didn't last forever
Now you in the corner tryna put it together
How to love
How to love
Chegamos em casa perto da meia noite. Minha mãe parou o carro na garagem do nosso condomínio para que a tia Michelle pegasse o volante. Josh e eu nos despedimos e em seguida sua mãe seguiu com o carro. Chegando em casa morta de cansaço. Só joguei a mala no chão do quarto e me joguei na cama. O sono estava batendo fazia tempo.
Acordei no dia seguinte com o despertador gritando no meu ouvido. Quase taquei ele pela janela, porém me lembrei que é um iPhone 5s e provavelmente minha mãe não compraria outro para mim. Sendo assim, apenas desativei o despertador e voltei a dormir.
- Mayaa! Hoje tem aula! Levanta dessa cama agoraaaa! - por que precisa gritar tanto?
- Tá bom! - gritei. Voltei a dormir.
Sinto puxarem a minha perna. Agarrei-me no lençol. Senti o meu corpo encostar no chão. Finalmente viro para olhar quem tinha feito aquilo. Dona Débora.
- Escola. Agora, Maya. - e saiu do quarto.
Rolei os olhos e levantei do chão. Tomei um banho rápido, vesti o uniforme e fui para a escola. Chegando na entrada, encontrei com a Luana.
- Oi, Mah! - disse sorrindo.
- Oi, Lu! - disse bocejando.
- Eita, a viagem foi cansativa pelo o visto.
- E como! Cheguei meia noite em casa e ainda fui arrastada da cama agora de manhã. Literalmente arrastada. - Luana gargalhou. Sentamos em um banco no pátio externo.
- E aí, me conta. Com foi essa viagem? Aconteceu algo de interessante? - arqueou a sobrancelha.
- Foi boa e não aconteceu nada de interessante que a senhorita quis dizer.
- Por que não? Vocês sozinhos, em uma casa de praia completamente isolada...
- E duas mães corujas no nosso pé o tempo inteiro. - ri. - Acho que isso explica porque não rolou nada.
- Poxa, que chato! - assenti com a cabeça. - Calma, Mah. Tem muito tempo para isso.
- Eu sei.
- Baile do colégio! - disse Vivian ao se sentar ao meu lado. Babalu sentou ao lado da Luana.
- O quê? - ri sem entender.
- Eu escutei o final do papo de vocês e já entendi tudo. É perfeito!
- O quê?!
- Maya, deixa de ser lerda. Ela está falando que na noite do baile é uma boa oportunidade. - disse Babalu.
- Ela não estvava de lerdeza. Só nervosa. - disse Luana.
- Eu não preciso disso. Posso fazer a qualquer hora. - blefei. As meninas gargalharam na minha cara. Até a Luana.
- Maya, sabemos que você é virgem. Não me incomodo e não vou contar a ninguém. - disse Vivian. - E estava falando que seria perfeito se acontecesse depois do baile. Só estou falando mesmo, pois quem decide isso é você.
- Eu não sei, tenho que falar com o Josh.
- Falar com o Josh? Não! Nada disso! - exaltou-se Vivian. - Ele pode ficar nervoso e na hora brochar. Não aja como algo planejado, aja como algo natural.
- Como se planeja algo sem planejar?
- Você não vai planejar, amor. Pode dar uma ideia de vocês saírem depois ou de irem para a casa dele ver um filme. Sem pressão. Talvez role só um filme mesmo.
- Maya, até que a ideia da Vivian não é ruim. - disse Luana. - Digo, a parte de ir para a casa dele depois. Pelo o que você disse, sua mãe é mais encanada com isso, então vai para a casa dele.
- Aí, faz com que ele peça para a mãe dele sair e a casa fica livre para vocês. - disse Babalu.
- Preciso pensar sobre isso.
- Está bem, você que sabe. - disse Vivian.
Josh POV
Encontrei com Thiago no caminho para a escola. Ele me desejou feliz aniversário e perguntou como foi a viagem.
- Pô, foi legal. Seria bem mais se nossas mães não estivessem por perto.
- Que merda, bro. - riu. - Ei! E quanto ao baile?
- Ah, cara... Não to a fim de tocar mais não.
- Nem eu, cara. Vamos falar com o Jorge?
- Sim, assim ainda dê tempo para ele arrumar outra banda.
- É, mas você ainda vai no baile, né?
- Vou sim e levarei a Maya. - sorri.
- Vou levar a Lu.
- Tava pensando em sei lá, fazer algo diferente, mas tenho medo da reação da Maya.
- Primeira noite de vocês? - perguntou tranquilamente. Eu todo envergonhado por falar disso com ele e Thiago tranquilão.
- É...
- Não faça nada, cara. Apenas deixe a casa livre e a leve até lá. Não diz nada para a namorada, porque elas não gostam da ideia de planejar isso. Falam que estão forçando e que não respeitam e etc.
- Entendi.
- Não é o local ou a arrumação que faz especial, é a pessoa. Se você for especial para a Maya, a noite será especial para ela.
Chegamos na escola e vimos as meninas sentadas no banco conversando. Maya estava entre elas, e com uma cara de sono. Coitada da minha namorada.
Josh POV - END
Vi o Josh entrar com o Thiago. Ele foi até a mim e beijou-me. O sinal tocou e tivemos que ir para a sala de aula. Josh deixou-me na porta da minha sala e depois seguiu para a dele. Na minha turma não se falava em outra coisa a não ser o tal baile. Aconteceria só em Dezembro, mas todos já estavam comentando. Outra coisa que comentavam também é que a Claudia estava mais gordinha. Ninguém ainda tem certeza, mas já falam que ela está grávida por continuar passando mal nos corredores da escola. Segundo as minhas contas, ela está com 3 meses.
Claudia POV
Cheguei da escola e encontrei os meu pais na sala. Foi estranho já que nunca estão por lá quando chego do colégio. Meu pai estava sério e minha mãe impaciente, andando de um lado para o outro.
- Claudia Traisac, senta aí. - disse meu pai, referindo-se ao sofá. Me sentei. O que estava acontecendo?
- Sua mãe achou isto nas suas coisas. - ele me entregou um papel. - Você engordou. Quer nos dizer alguma coisa? - era o papel do exame, quando fiz há 3 meses atrás, nele estava afirmando que estou grávida.
- Você está grávida! GRÁVIDA! - gritou minha mãe. - Quem é o pai desta criança? Quem é?!
- Ele... Ele morreu. - mirei o chão.
- Por acaso é aquele maluco que matou sei lá quantos adolescentes? - perguntou meu pai. Como ele sabia do Caio? Não respondi sua pergunta. - Ótimo, Claudia. Você vai ter esse filho?
- Vou.
- Está bem, mas não aqui.
- Pai, você está...
- Sim, estou. Você não mora mais nesta casa, não é mais minha filha. Em alguns meses será maior de idade, não vai precisar mais de nós. Graças a Deus.
- Pai, e como vou me cuidar e cuidar de uma criança?
- Problema é seu! Não mandei você ter filho!
- Mãe... Você não vai falar nada?
- Estou decepcionada com você. - e saiu da sala.
- Pode passar a noite aqui, mas amanhã quando chegar do trabalho não quero mais te ver. - foi para o escritório. O que eu vou fazer agora? Onde vou morar?
No dia seguinte depois da escola, fiz minhas malas e fiquei do lado de fora do corredor. Não sabia para onde ir. Vivian mora no mesmo condomínio que eu, mas não nos falamos. Josh mora no prédio ao lado, mas não quer me ver nem pintada. Sentei no paralelepípedo da calçada e comecei a chorar. Ouço passos e levanto a cabeça com medo de ser meu pai, mas não era ele, era o meu vizinho Raphael. Provavelmente vinha da praia. Todo dia ele corre na praia. Alto, magro, cabelo levemente arrepiado e olhos azuis. Nunca falei com Rapha, sei seu nome por sua mãe gritar tanto pelo condomínio.
- Oi. - disse ele timidamente. - Está tudo bem com você?
- Não muito... - ele olhou das malas para mim.
- Precisa de lugar para ficar? - assenti com a cabeça. - Pode ficar lá em casa, se quiser. Meu irmão está fazendo faculdade em São Paulo, então, seu quarto está vazio.
- Não quero incomodar sua mãe.
- Minha mãe adora casa cheia. Já deve ter escutado seus gritos na janela. - assenti sorrindo. - Então! Não será incomodo algum.
Aceitei a hospedagem que Raphael me ofereceu. Ele pegou minhas balas e fomos andando para sua casa que era mais para o final da rua. Perto de entrar na sua casa, resolvi abrir o jogo. Se a mãe dele percebesse antes, poderia culpar o menino.
- Raphael. - o parei segurando o braço. Ele virou olhando para mim. - Preciso contar algumas coisas antes e talvez você não queira mais me abrigar na sua casa.
- O quê foi?
- Estou grávida de 3 meses. O pai faleceu há alguns meses atrás. Já fiz coisas terríveis nessa vida que não quero mencionar agora.
- Que coisas terríveis? Matou alguém? - riu.
- Quase isso. - ele ficou sério. - Olha, você é um cara legal e acho melhor não te enfiar nas minhas burradas.
- Claudia, não me importo que esteja grávida ou que tenha feito coisas horríveis. Você não ficará na rua, principalmente grávida.
- Seus pais não vão querer uma menina grávida dentro de casa.
- Meu pai faleceu faz alguns anos, você não morava aqui ainda.
- Meus pêsames.
- E minha mãe, cara... - riu. - Eu falo com ela e está tudo certo.
- Tem certeza? - assentiu. - Tá bom.
A dona Meredith me tratou super bem na sua casa. Quando soube que eu estava grávida, disse que faria tudo o que eu quisesse. Me assustei, ninguém nunca havia me tratado assim.
Claudia POV - END
Na quarta feira quando cheguei na escola, todos riam para mim, outros viravam a cara. Não entendi, mas continuei andando em direção a minha sala. O sinal já tinha tocado. Abri a porta e o professor ainda não havia chegado. Babalu e Vivian correram e pararam na minha frente. Tomei um susto.
- Parabéns, amiga! Precisa representar no baile! - disse Vivian.
- Você e o Josh! Já pensou se os dois ganham?! Que lindos!
- Ganhar o que? - perguntei confusa.
- O rei e rainha!
- Mas o que...
- Você estão concorrendo à rei e rainha do baile! - disse Babalu como se fosse óbvio.
- O primeiro baile da escola e vocês já estão destinados a ganhar.
- Claro, né! É Joshya, não é qualquer merda! - disse Babalu jogando o cabelo.
- Gente, mas eu não me inscrevi nisso...
- Você não se escreve, amor. Os alunos que escolhem quem vai concorrer e obviamente os mesmos escolhem quem vai ganhar.
- Meu Deus! - passei a mão no cabelo. - Estou concorrendo contra quem?
- Aquela puta do terceiro ano e outra puta do terceiro ano. - disse Vivian.
- Terceiro ano só tem puta, amiga. - disse Babalu.
- Sim, mas ano que vem, seremos nós e não somos putas. - elas fizeram highfive.
- Querem continuar?
- Ah, sim! O Josh está concorrendo com o brocha e com o Bob. - Vivian deu de ombros. - Esse povo é tão trouxa que vota em menino que brocha! O cúmulo do absurdo!
- Espera! Você está torcendo pro Josh?
- Não quero que o Bob ganhe, se ele ganhar, as putas vão em cima dele e se elas forem, haverá chacina. - sorriu.
- Lógica, amor. - Vivian e Babalu fizeram highfive de novo.
- Meninas, não vou ganhar nada.
- Vai sim! Você teve votos o suficiente, se não, nem estaria concorrendo.
- Mah, você com certeza ganha! Joshya é fofo, engraçado, perfeito, Joshya é tudo. - disse Babalu. Acabei rindo.
- Acho que está exagerando um pouco, só um pouco. - falei.
Fomos andando para a sala. Eu sou candidata a rainha do baile. Isso é um sonho ou o que?
2 meses depois...
Último dia de aula no colégio Kentucky, no dia seguinte sairia os resultados finais. Como tradição, no último dia de aula ocorre a guerra de bola d'água. A brincadeira é só entre o Ensino Médio. No ano passado, fomos massacrados pelo terceiro ano. O último ano sempre vai em cima do primeiro, obviamente por serem mais novos. Cada uma usa uma cor de blusa diferente para diferenciar. Esse ano, primeiro ano é rosa chiclete, segundo ano verde fluorescente e último ano azul. Depois da guerra d'água, pulamos na piscina. O Jorge enlouquece com essa parte, pois vira uma bagunça, mas tradição é tradição, né!
Estava no vestiário com as meninas terminando de me vestir. Coloquei um short preto e a blusa da cor da minha série. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo frouxo e ficaria descalça mesmo. Afinal, vamos correr pela escola e certamente correr de chinelo molhado não daria certo. Vivian estava em frente ao espelho se maquiando. Babalu amarrando a parte de cima do biquíni e Luana prendendo o cabelo. Eu também estava com um biquíni por baixo. Não entendi o motivo da maquiagem da Vivian. Esperava que fosse a prova d'água, caso contrário, seria engraçado a maquiagem toda desfeita. Saímos do vestiário e fomos para quadra. Josh estava descalço, com uma bermuda preta de elástico e sem camisa. Sua blusa verde estava presa na bermuda. Mexia no cabelo enquanto falava algo com os meninos. Thiago estava de bermuda tactel azul marinho, as mangas da sua blusa estavam dobradas e descalço. Bob fez sua blusa de cinto e prendeu na bermuda tactel tribal preta com vermelha, exibindo seu abdômen super sarado e seus braços musculosos. Estava descalço também. Cadu com uma bermuda tactel florida estilo surf na cor azul, blusa amarrada no braço esquerdo e descalço também.
- E aí, estão preparadas para derrotar o inimigo? - perguntou Bob.
- Claro! - respondemos. Josh me abraçou de lado e me beijou.
Vimos a Claudia de uniforme direcionando-se para a arquibancada.
- Ué, ela não vai jogar? - perguntou Cadu.
- Ela não pode, amor. - disse Babalu.
Logo o terceiro ano entrou na quadra vestindo sua camisa azul. Três dos alunos puxavam um carrinho. Um com bolas azuis, outro com rosa e outro com verde. Para cada turma. As regras são: A turma que ficar mais seca, vence. A brincadeira é apenas dentro da escola e no primeiro andar. Acaba quando ninguém tiver mais bola d'água. Para fiscalizar, tem os inspetores, mas eles fogem mais do fiscalizam. Sempre tem uns meninos que jogam bola d'água neles de sacanagem. Pode pegar quantas bolas quiser para jogar ou pode deixar no carrinho e voltar para buscar mais, porém são poucos os que fazem isso. Pode jogar mais de uma bola no mesmo adversário também. Não pode passar o jogo escondido para não ser atingido, nem se esconder no banheiro por muito tempo. Não pode jogar bola d'água em ninguém do fundamental. E nesse ano, especificamente, não pode jogar bola na Claudia, pois esta está grávida. Só vale jogar depois que todos saírem da quadra e se espalharem pelo colégio. É literalmente uma guerra de bola d'água.
Ficamos em volta dos nossos carrinhos e já fomos pegando várias bolas. Coloquei algumas dentro da blusa. Josh colocou algumas dentro da bermuda e muitas nas mãos. O primeiro ano estava assustado, mas eles estavam lá porque queriam. Não é obrigatório participar. Afinal, é apenas uma brincadeira de fim de ano. O Fundamental sempre arruma inúmeras desculpas para sair de sala e olhar, todo ano é assim. Eu era assim. Queria ir logo para o Ensino Médio para brincar disso, agora queria voltar para o Fundamental. Maurinho fez a contagem.
- 3... 2... 1 e... JÁ! - gritou. Josh, Thiago, Luana e eu saímos correndo para o lado oposto de Babalu, Vivian, Cadu e Bob.
Corria olhando para atrás. Por enquanto só tinha algumas meninas do primeiro ano. Podiam ter nos acertado, mas não fizeram nada. Logo vimos alguns meninos do terceiro. Cada um acertou uma bola nas meninas do primeiro. Viramos no corredor das salas do Fundamental. Vimos eles passarem direto. Resolvemos entrar no banheiro mais próximo, o masculino. Da brecha da porta vimos alguns, os mesmos meninos que acertaram as meninas do primeiro, passar. Estavam sem bola, certamente acertaram mais alguém e acabaram as munições. Saímos do banheiro e atacamos. Eles nos xingaram e correram para a quadra, talvez para pegar mais munição. Vimos Vivian e Babalu molhadas pegando mais bolas. Cadu e Bob não estavam com elas. Os meninos do terceiro ano correram atrás de nós. Nos acertaram. Levei uma bolada nas costas. Sorte que era de água. Josh levou na cabeça. Alguns pivetes do primeiro ano passaram nos acertando, acertei uma na cabeça de um deles. Os caras do terceiro foram atrás do garotos do primeiro. Josh me deu duas bolas que tinha escondido. Resolvemos ir para a quadra. O carrinho do terceiro ano tinha pouca munição. Percebi que Thiago e Luana não voltaram comigo. Fomos para perto da piscina e fui atingida pelas meninas do terceiro. Acertei minhas duas bolas nelas. Uma em cada. Elas estavam sem nada, sendo assim, Josh correu atrás delas e tacou uma bola em cada. As duas me acertaram. Sendo que podia ter acertado o Josh também, mas as duas jogaram em mim. Era algo pessoal comigo, só pode. Voltei para a quadra sozinha. Josh não voltou. Encontrei com Babalu e Vivian, que me deram algumas munições. Atacamos mais algumas meninas chatas do primeiro ano. Um grupo enorme do terceiro ano chegou na quadra para pegar o resto das munições. Eu, Vivian e Babalu nos entreolhamos. Já sabíamos o que aconteceria. O primeiro ano já estava sem munição. Alguns estavam sentados no chão da quadra. As meninas que acertamos, foram se juntar a eles. Só restou a gente, o segundo ano. Corremos para a Área Verde e vimos Josh, Thiago, Bob e Cadu nos mandando voltar. De volta a quadra, tinha outras pessoas da nossa turma, mas estavam cercadas. Nos cercaram também. Sendo assim, perdemos o jogo. O pior nem foi perder para o último ano, foi ficar atrás do primeiro ano. Ficamos tão molhados, mais tão molhados que a 1ª série do ensino médio estava mais seca do que nós.
- Uuuh! Sai da frente! Sai, que o terceiro é chapa quente! - ficaram cantando em grupo. - E quem ficar parado vai tomar um "tá ligado!" - começaram a pular. Mais convencidos, impossível!
- Terceiro ano faz toda uma tática, cara. Sendo que o importante é a brincadeira, a diversão. - disse Thiago.
- Eles não sabem brincar. - disse Babalu cruzando os braços.
- Ano que vem vamos mostrar para essa galera o que é ganhar com diversão. Os caras encurralaram a gente, mano. Como vamos ganhar de uns malucos desses? - disse Cadu.
- Guarda essa pra você, Cadu. Você só se escondeu. Não ajudou ninguém. Queria ganhar como? - perguntou Bob. Rimos.
- Ano passado foi divertido. Em vez de jogarmos no pessoal das outras turmas, jogamos em nós mesmos. - falei. Todos riram e concordaram.
Recordando o primeiro ano, enchemos mais algumas bolas e jogamos entre si. Outros alunos fizeram o mesmo. Estava tudo bem, tudo divertido até quererem acertar na Claudia, que estava sentada na arquibancada. Sua barriga já estava maior agora e bom, todos sabiam que ela estava grávida, só não sabiam de quem. Por causa disso ela é chamada de puta. Claudia tentava se esquivar das bolas, mas uma acabou pegando na sua barriga. Aquilo podiam machucar o bebê. Vou me arrepender por isso, mas fui até as meninas do terceiro ano. Josh e os outros me seguiram. Quando uma das meninas ia jogar, segurei seu braço.
- Não faça isso.
- Ah, é? Quem vai me impedir?
- Sério, cara. Pra quê jogar bola d'água nela?
- Porque ela está seca. - riu.
- Não é obrigatório jogar. - disse Josh. - Deixem ela.
- Sabia que ela está gravida? O filho pode ser seu, Josh.
- O filho não é meu. - disse sério.
- Se quer saber de quem é o filho, eu falo, não precisa perguntar para os outros. - disse Claudia descendo a arquibancada. - O filho é do Caio. - Josh parecia abismado, ele não sabia.
- Você pegou o maluco? - gargalhou. - Que pena de você.
- Pelo menos ela conseguiu um filho. - disse Vivian entrando na frente da menina. - Coisa que você e seu namoradinho brocha nunca vão ter. Que pena de você. - a menina do terceiro ano rolou os olhos e foi embora. Claudia não agradeceu por termos ajudado.
Depois daquela situação, pulamos na piscina, todos juntos. A piscina estava um pouco cheia, mas dava para andar, não estava apertado nem nada.
- Sou muito lesada! - tampei o rosto.
- Verdade, mas qual foi a lerdeza desta vez? - Josh riu.
- Esqueci de tirar a camisa.
- Não tem problema. - Josh aproximou-se de mim. - Eu tiro para você. - sorriu e levantou minha blusa fazendo com quê eu ficasse apenas de biquíni.
- Obrigada. - sorri. Jogou minha blusa longe, parou em cima do banco encostado na grade.
- Estava pensando, você podia dormir na minha casa depois do baile. - encostou suas costas na parede da piscina e puxou-me pela cintura. - Ver um filme, ficar juntinho, sei lá. Passar um tempo juntos.
- Sua mãe vai estar lá e da última vez... - ri ao me lembrar. - Melhor não.
- Minha mãe não vai estar lá. Só será você e eu.
Lembrei do que as meninas falaram. Sobre planejar e não planejar. Resolvi pôr o plano em ação.
- Está bem. Eu vou. - Josh sorriu e me beijou.
Cheguei em casa e disse que iria para a casa do Josh depois do baile. Minha mãe obviamente perguntou se a Michelle estaria. Respondi que sim. Odeio mentir para a minha mãe, mas desta vez é necessário. Se eu falasse que não, teria que voltar para minha casa e meia noite, horario da Cinderela.
No dia seguinte, fui de manhã até a escola pegar o resultado. Consegui passar direto mesmo com as notas do 3º bimestre um pouco baixas. Foi quando Josh estava no hospital, morte do Carl, do Caio... foi um bimestre bastante perturbador. A sorte é que meu primeiro bimestre havia sido brilhante! E foi isso me salvou. Josh também passou direto. Ele precisou chegar aos 25 pontos, três pontos a menos que todos os outros, pois passou um bimestre inteiro no hospital. Lembro de ir na sua casa e o ajudar com a matéria. Cadu e Vivian foram os únicos que ficaram de recuperação. Os outros passaram direto. Luana passou com quase 35 em todas as matérias. Essa é a nossa nerdzinha. No resto da semana, não teríamos aula (quem não ficou de recuperação, né). No sábado ocorreria o baile. Os meninos desistiram da YOLO. Acharam que faltando um membro, não seria a mesma coisa. Até porque nenhum deles sabe tocar baixo. Jorge, o coordenador, contratou um DJ mesmo.
Na sexta fui no shopping procurar um vestido para o baile com as meninas. "Noite nas Estrelas" era o tema do baile e pedia traje de gala. É aquele tipo de roupa que as meninas usam vestidos longos e os meninos terno. Rodamos em algumas lojas, mas não achei nenhum vestido bonito. Para eu usar vestido, ele precisa ser O vestido. Encontramos uma loja cheia de vestidos de festa. Luana escolheu um vestido preto tomara-que-caia rendado, com uma faixa amarrada em formato de laço no lado da cintura. O vestido deixava apenas os seus pés de fora. Vivian escolheu um vestido completamente sensual. Preto, alça de um lado e aberto atrás. Babalu escolheu um longo vermelho com estampa de onça na cor preta. Ela ama chamar atenção, né. Eu resolvi ousar um pouco. Calma! Não escolhi um vestido de onça. Escolhi um vestido azul claro, curto na frente e longo atrás. Saia rodada e tomara-que-caia. Um pouco depois do busto, tinha um detalhe em prata. Achei aquele vestido perfeito!
Josh POV
Eu e os moleques estávamos um pouco enrolados sobre qual terno comprar. Então, resolvemos ir juntos. Obviamente que não fomos direto a loja, andamos pelo shopping, fomos naquele espaço arcade, paramos para comer e em último lugar paramos na loja. Um monte de ternos, mas para mim era tudo igual. Bob escolheu um terno todo preto e uma gravata cinza. Thiago escolheu calça preta, blazer branco e blusa preta. Disse que colocaria seu All Star. Cadu só comprou blazer azul marinho metálico. Tenho certeza que vai chegar no baile de bermuda e blazer. Escolhi um terno todo preto e em vez de gravata, usaria gravata borboleta azul. A cor preferida da Maya é azul e tenho certeza que ela colocaria um vestido azul também. Sei que parece clichê ou uma festa de 15 anos, mas de qualquer forma usarei.
Josh POV - END
O dia do baile finalmente havia chegado. Josh já me perguntou só umas 4 vezes hoje qual vestido que eu usaria. Falei que era surpresa e que as noivas não podem mostrar o vestido antes do casamento e que era para ele já ir se acostumando. Ele sorriu e concordou. Depois disso, ele não perguntou mais nada. Estava ansiosa para que a noite chegasse logo. Minha mãe nunca ficou tão feliz por eu ter comprado aquele vestido. Acho que para ela eu jamais compraria um vestido na vida.
Às 17 horas comecei a me arrumar. Já havia feito as unhas e o cabelo no salão. Minha mãe fez questão, por mim, faria em casa. Mães, sabe como é, né? Josh passaria para me buscar às 19 horas. Sim, preciso de duas horas para me arrumar. Acabando de tomar banho, me olhei no espelho. Ainda não estava arrumada. Faltava ajeitar o cabelo do meu jeito e me maquiar. De qualquer forma, estava me achando bonita, pela primeira vez me achei bonita. Geralmente quando me olho no espelho passa um "Ah, tá bom." na minha mente e saio assim mesmo. Porém um "Estou bonita." nunca. Estava rindo que nem boba. Não sei reagir a elogios, muito menos quando são meus. Parei de me olhar no espelho e fui continuar a me arrumar.
Josh POV
Estava terminando de abotoar o blusão branco, quando minha mãe entrou no quarto.
- Nossa, como você está bonito, filho! - passou a mão no meu cabelo.
- Valeu, mãe! - sorri de lado.
- Olha, como você já tem sua carteira de motorista, queria te dar isto. - ela entregou uma chave na minha mão. Eu havia passado no teste mês passado, já estava começando a procurar emprego para juntar pra comprar meu carro.
- Um carro?! Cadê ele?
- Na garagem. - desci correndo. Nem me importei que estava com metade da blusa abotoada, calça e sapato. Apertei o botão no controle do carro, para que ele destravasse. Um Fiat Uno Way preto quatro portas acendeu no salão.
- Caralho! - aproximei-me do carro. Passei a mão na lateral, abri a porta e sentei no banco de motorista.
- Gostou? - perguntou minha mãe.
- Claro, cara! - sai do carro. - Obrigado, mãe! - lhe abracei.
- De nada, filho! - ela beijou minha bochecha. - Agora vai acabar de se arrumar. A Maya não pode ficar esperando.
- Com esse carro ela não vai esperar nunca mais. - sorri. - Mãe, você também não ia sair?
- E eu vou, mas o seu baile é mais importante que minha saída com as amigas.
- Obrigado mais uma vez.
- É só o seu sonho desde moleque, não se preocupe.
- Não, mãe. Obrigado por tudo mesmo. - segurei sua mão e sorri.
- Não há de quê. - sorriu. - Agora, vai!
Subi correndo para terminar de me arrumar. Abotoei o resto dos botões e pedi para dona Michelle dar o nó na gravata borboleta. Quando você pega ela bonitinha, nem imagina o trabalhão que dá pra fazer aquilo. Depois da gravata estar feita, passei gel no cabelo e fiz um topete, porém não muito grande porque ficaria escroto. Vesti o blazer e ia sair do quarto, quando lembrei de uma coisa. O presente da Maya. Finalmente poderia usar. Lembrei também de tirar a toalha molhada de cima da cama. Mulheres odeiam isso. Antes de partir com o carro, olhei se estava tudo certo. Tanque cheio, freio de mão também. E por fim, coloquei a mandala que a Mah havia me dado pendurada no espelho retrovisor. Dei a partida. Andava na velocidade permitida. Chegando a casa da Maya, buzinei. Ela jamais imaginaria que sou eu.
Josh POV - END
Havia acabado de ajeitar meu cabelo. Ele estava ondulado mais que o normal e sua franja caía perfeitamente. Passava um pouco de perfume na nuca quando escuto um barulho de buzina. Na primeira vez não liguei, mas terceira, estava quase aparecendo na janela mandando a pessoa tomar naquele lugar. Josh mandou uma mensagem:
"Aparece na janela, meu anjo."
Corri até a janela e o vi encostado do lado de fora do carro. Finalmente um carro! Peguei minha bolsinha pequena prata. Fui me despedir da minha mãe, mas ela cismou de tirar foto. Tirou umas dez fotos e depois resolveu descer comigo porque queria tirar uma foto de nós dois juntos. Ao descer, vejo melhor a roupa do Josh e ele parecia um príncipe. Estava perfeito! Gravata borboleta azul, que fofoo! Minha mãe o elogiou para caramba e depois mandou que a gente juntasse para a foto. Ficamos ali mesmo na frente do carro. Na primeira foto, sorrimos olhando para a câmera. Na segunda, sorrimos olhando um para o outro. Depois da sessão foto, pudemos sair. Assim que entrei em seu carro, vejo a mandala que havia lhe dado.
- Você colocou!!
- Claro! Eu falei que só faltava o carro para usar o seu presente. - sorriu e depois me beijou. - A propósito, não falei na frente da sua mãe, pois sei que ela zoaria mas você está perfeitamente linda esta noite. - sorri sem graça.
- Você está um príncipe esta noite.
- Achei que não gostasse de príncipes.
- Gosto se o príncipe no caso for você.
- Pois bem, esta noite serei seu príncipe. - nos beijamos. Logo Josh avançou com o carro.
Josh parou o carro na calçada na escola. Todos os alunos que passavam naquele momento queria msaber quem estava ali. Quando Josh saiu do carro, todos ficaram boquiabertos. Joshua deu a volta para abrir a porta para mim.
- Milady. - esticou a mão para mim. Segurei sua mão e saí do carro.
- Obrigada, príncipe. - ele sorriu.
Ao entrarmos na quadra, ela estava perfeita. O teto todo coberto por balões em formato de estrela. Um lado só de mesas e o outro era pista de dança com o DJ. Estava tocando uma música pop.
t's been about a year now
Ain't seen or heard from you
I been missin' you crazy
How do you, how do you sleep?
I found a letter you wrote me
Still smells just like you
Damn those sweet memories
How do you, how do you sleep?
How do you sleep?
Todos ainda estavam sentados, certeza que quando começasse o funk, todos vão estar na pista rebolando até o mundo se acabar. Vimos o pessoal sentado na mesa e fomos falar com eles. Ao falar com Cadu, percebo que ele é o único sem terno. Vestia um blazer azul marinho metálico, calça jeans clara, tênis branco e camisa gola V branca. Cadu sendo Cadu. Eu e Josh puxamos uma cadeira para nos juntarmos a eles.
Claudia POV
Já havia colocado o meu vestido preto básico. O preto disfarçava a barriga. Fiz um coque e coloquei um salto baixo. Pedi para que Raphael fosse comigo. Ele vestia um terno preto, camisa branca e gravata preta. Bateu na porta antes de entrar. Deixei que entrasse. Eu estava apenas me olhando no espelho.
- Nossa, você está linda. - disse ao entrar.
- Obrigada. Rapha...
- Oi. - olhou em meus olhos. Me perco em seus olhos azuis, são muito bonitos.
- Eu queria lhe agradecer por tudo. Por me abrigar, se preocupar comigo... Obrigada. Assim que puder vou te pagar tudo em dobro, prometo!
- Não precisa. - sorriu de lado. - Claudia, - segurou minha mão. - Eu gosto de você. Gosto de verdade.
- Não deveria gostar. Isso é um grande erro, eu sou um grande erro. - soltei minha mão.
- Não, não é! Você é uma menina boa. - passou a mão no meu rosto.
- Estou grávida de outra pessoa. - afastei-me.
- Eu não ligo. - ele se aproximou de novo. - Sempre quis ser pai.
- De um filho que não é seu?
- O que importa é o amor pela criança e eu vou trata-la como minha, vou ama-la como minha. Na verdade, já a amo.
- Não é fácil... - mirei o chão.
- Eu sei que não, mas estou disposto a tudo. - beijou a minha barriga. O bebê chutou. Raphael sorriu. - Chutou!
- Ele gosta de você.
- Ele... É menino? - assenti com a cabeça. Raphael olhou para a barriga. - E aí, garotão! - o bebê chutou de novo. - Papai está te esperando aqui. - sorriu. Senti lágrimas escorrerem do meu rosto. Raphael as secou e depois me beijou.
Jamais passou pela minha cabeça que Raphael gostava de mim. Sempre achei que ele me acolheu por sentir pena e muito menos pensei que ele queria assumir o filho que estou esperando. Eu não sei muito bem o que pensar sobre tudo isso. Não mereço nada disso! Caio se matou praticamente por minha causa. Eu que falei sobre Josh ter morrido, pois achei que realmente aconteceria, mas não, Joshua já tinha saído do coma e eu que não sabia. Todos se perguntam quem disse à Caio sobre a morte do Josh. Ninguém sabe que fui eu e não quero falar tão cedo. Prefiro morrer com isso do que abrir a boca. Já está sendo bastante difícil para mim agora, todos estão contra mim, não quero mais um motivo para me apedrejarem.
Claudia POV - END
Ainda tocava algumas músicas pops. Vimos a Claudia chegar com um menino alto de olhos azuis. Ela parecia feliz, coisa que não demonstrava desde Agosto desse ano. Finalmente começou a tocar uma música dançante e fomos para a pista.
Grab you coat
Say goodbye
Come on let’s ride
Girl let’s ride
I feel the need, to sweep yeah…
Me and you we should be..
Dancing in the sheets
I can do what I want to.
I can play by my own rules
Come with me let’s just dance the night away
Don’t worry bout what I do
Watch me as I move on the floor
And let’s dance the night away
Ooh night away…
Come with me
And let’s just dance the night away
Da mesma forma que dancei no meu aniversário, dancei no baile. Josh segurava na minha cintura e rebolava na mesma sintonia que eu. Se minha mãe visse isso, acho que me mataria no mínimo. Ri ao pensar se ela visse essa cena. Logo o ritmo mudou e então veio o funk. Como havia dito antes, a pista lotou.
Essas mina é foda, elas são tudo sem limite
Convoca as amigas porquê hoje tá pro crime
A moreninha senta naquele pique
A loirinha senta naquele pique
A pretinha senta naquele pique
Na parte da morena, a Luana, única morena do grupo, foi até o chão. Na parte da loirinha, Vivian foi até o chão. Babalu como tem o cabelo castanho claro quase ruivo, não tem no funk, então ela desceu até o chão com a amiga. Quando cantou "A pretinha senta naquele pique" bom, aí fui que desci até o chão. Muitos me consideram morena por minha pele ser um negro mais "claro", porém, sou negra e com muito orgulho. Josh foi o que mais gritou quando fui até o chão. Certeza que ele está amando essa Maya que dança em festas. O chamei para dançar, pois desde que começou a tocar funk, estava no canto junto com os meninos apenas observando.
- Josh don't dance. - sorriu debochado. Arqueei a sobrancelha. - Josh dança sim! - disse mexendo os braços.
Depois dos funks, foram anunciar o resultado do rei e rainha do baile. Tenho certeza que não ganhei, as meninas do terceiro ano são bem mais populares que eu. Maya Telesco é uma invisível nesse colégio. Talvez o Josh ganhe por falar com todos, porém as pessoas votam mais pela beleza e o Bob é o mais bonito da escola. Porque do mundo, o Josh é o mais bonito. De qualquer forma, fiquei feliz por ser indicada.
- Vamos começar pelas damas? - perguntou Jorge ao microfone. Gritamos que sim. - Ok. A rainha do baile ganhou por alguns pontos à mais. A votação foi acerrada. - todos ficaram abismados. Eu inclusive. - A rainha do baile Kentucky é... - o DJ colocou barulho de tambores rufando. - Maya Telesco, da turma 221! - todos bateram palma. Josh me abraçou e me deu um beijo na bochecha, mas eu estava em choque. Como assim ganhei?! Isso era praticamente impossível! - Vem aqui, Maya!
- Mas... Como... Eu...
- Mah, é o poder Joshya. - Babalu piscou o olho direito para mim.
- Vai lá, meu anjo! Você ganhou!
Ainda em estado de choque, fui andando até o palco. Todos ainda batiam palma e dizendo que eu merecia. Chegando ao palco, Jorge colocou uma coroa prateada na minha cabeça. Todos começaram a gritar por discurso. Merda, não gosto de discursos! Principalmente nessa situação que estou.
- É... Eu realmente não sei o que dizer. - disse ao microfone. - Obrigada! - sorri de lado. Vi Josh sorrir, li seu lábios e entendi "Lindo discurso!". Dei língua para ele.
- Obrigado, Maya. Bom, agora vamos ao rei do baile. - disse Jorge ao microfone. A galera gritou. - Esse ganhou disparadamente. - Bob. Pensei. - O rei do colégio Kentucky é... - mais uma vez o barulho dos tambores rufando. - Josh Hutcherson, da turma 222! - abri o maior sorriso do mundo. Joshua e eu, reis do baile. Josh pulou em cima de Thiago que estava ao seu lado. Cumprimentou Bob e Cadu em seguida.
Subiu ao palco e fez reverencia para o público. Se não fizesse palhaçada não era o Josh. Jorge colocou uma coroa ouro com o forro azul. Combinou com a sua gravata borboleta. Gritaram para que ele fizesse discurso. Aproximou-se do microfone e começou a falar.
- Bom, gostaria de agradecer à quem votou em mim, aos meus fãs. - todos riram. - À minha família também, minha namorada... - olhou para mim.
- JOSHYA É VIDA! - gritou alguém no meio da plateia. Não foi a Babalu, mas ela bateu palma e gritou "Isso aí!".
- Também acho, bro! - Josh levantou os braços e depois riu. - Enfim, gostaria de agradecer à todos que colaboraram para a minha recuperação, se não fosse vocês, não estaria aqui com essa coroa de mentira. - sorriu. - Obrigado! Vocês são foda! Uhu! - fez o símbolo do rock e depois me abraçou. Todos gritaram mais uma vez. - Ah! E para os haters de Joshya. - mostrou o dedo do meio. Todos gritaram mais ainda. Certamente aquela indireta foi para Jorge, que não gostou daquele discurso. Ele havia falado que nós dois não daria certo juntos. Pois bem, estava errado.
- Obrigado, Josh. Agora a valsa do rei e da rainha. - disse Jorge.
- Me concede esta dança, milady? - Josh esticou a mão.
- Claro. - sorri.
Descemos do palco, o pessoal abriu um espaço na pista para que a gente pudesse dançar.
Just like a star across my sky
Just like an angel off the page
You have appeared to my life
Feel like I'll never be the same
Just like a song in my heart
Just like oil on my hands
Honor to love you
Josh colocou suas mãos na minha cintura e eu coloquei meus braços em volta do seu pescoço. Estávamos dançando lentamente, no ritmo da música.
- O dedo foi para o Jorge, né? - perguntei.
- Claro. - ele sorriu. - Esse ano mostrou que ele estava completamente errado. Nós merecemos ficar juntos. - assenti com a cabeça.
- Eu te amo.
- Eu te amo mais. - e me beijou. Todos gritaram, aplaudiram, assobiaram. Escutei gritarem "Joshya forever", "Joshya é vida", "Lindos!".
Depois outros casais começaram a dançar também. Luana e Thiago, Babalu e Cadu, Vivian e Bob. Até Claudia e o outro menino foram dançar. Acho que essa pode ser a melhor noite da minha vida.
A música alta voltou, e Josh e eu fugimos um pouco do baile. Essa história de Joshya está começando a ficar sério. Ninguém mais nos deixa em paz. Ficamos no corredor das salas. Estava escuro e quase não passava ninguém. Estava encostada na parede, Josh estava na minha frente.
- Quem diria que a gente teria tanto fã assim?
- Não queria ser famosa agora, mas é bom, porque quando eu for uma escritora famosa saberei lidar com os fãs.
- Espero que quando você for famosa não me abandone. - encostou sua testa na minha.
- Não vou abandonar você, nem as crianças.
- Crianças?
- Sim, você não quer construir uma família? - Josh abriu o maior sorriso do mundo.
- É tudo o que eu mais quero. - nos beijamos.
Depois do baile, fomos para casa do Josh. A pedido do seu filho, tia Michelle não dormiria em casa. Ela aceitou numa boa, pelo menos assim disse Joshua. Não voltamos muito tarde, eram 23 horas. Josh ainda estava com a coroa de rei e eu com a de rainha. Ainda não acreditava que tinha sido a rainha do baile! Segundo Babalu, somos o casal mais fofo, mais bonito, mais perfeito, mais sexy, mais tudo da escola. Admito que ri quando ouvi isso saindo da sua boca. Josh e eu ou simplesmente Joshya, não é assim. Não somos perfeitos, até porque fizemos muitas merdas durante o ano. Somos apenas dois adolescentes normais tentando curtir o resto da adolescência que nos resta. E é aprendendo que se acerta.
Entramos no apartamento rindo. Josh havia falado algo engraçado e é meio, quase impossível não rir de algo que ele fala. Trancou a porta, deixou a chave do carro em cima da mesa e abraçou-me por trás, entrelaçando seus braços na minha cintura. Beijou meu pescoço. Aos poucos fui parando de rir. Joshua sabe que o pescoço é o meu ponto fraco. Para falar a verdade, tudo é meu ponto fraco. Seu toque, seu beijo, sua caricia, fico arrepiada só de pensar. Colocou-me de frente para si e beijou-me na boca. Quando paramos de nos beijar, apoiou sua testa na minha e sorriu. Um sorriso sincero. Sorri de volta. Não fizemos a dona Michelle ficar fora de casa à toa, né?! Então, peguei a mão do Josh e o levei até seu quarto. Tirei sua coroa e o beijei passando a mão em seu cabelo. Não sabia exatamente o que fazer, seguia meus instintos, meus sentimentos. Tirei o blazer preto do Josh e joguei para o canto. Ele segurou minhas mãos.
- Ei, não precisamos fazer.
- Eu sei disso. - passei a mão em seu rosto. - Mas eu quero. - ele sorriu de lado.
- Tá bom. Então, vamos devagar, deixar acontecer. - assenti com a cabeça.
Josh apagou a luz do quarto. Pegou minha mão e guiou-me até a cama. Sentamos na beira. Joshua passou a mão em meus cabelos, colocando uma parte atrás da orelha. Minha respiração estava lenta. Beijou-me suavemente. Ouvi barulhos de sapato caindo no chão. Provavelmente eram os dele. Senti sua mão macia na minha perna, descendo até o meu pé. Tirou os meus sapatos. Minha visão estava começando a se acostumar com a escuridão. Via o rosto de Josh, que afrouxava sua gravata borboleta azul marinho e depois a jogou no chão. Começou a me beijar lentamente. Deitamos na cama.
- É atrás, né? - disse ele em cima de mim, com as mãos apoiadas na cama, entre o meu rosto.
- Sim. - ri ao vê-lo virando o rosto e falando um palavrão baixinho. Devagar fiz com que Josh se levantasse. Ficando de joelhos na cama, virei de costas e segurei o cabelo para ele abrir.
- Desculpa ser tão atrapalhado. - disse envergonhado. Enquanto abria o zíper, o vestido foi caindo. - Você é tão linda. - olhei para ele, tampando os seios com as mãos. Sorri timidamente. Josh colocou as duas mãos na minha nuca e me beijou.
Olhava atentamente para mim. Não de um modo tarado, mas de um modo carinhoso. Desabotoei sua camisa. Josh deitou-me na cama e terminou de tirar o meu vestido. Beijou do meu pescoço ao umbigo. Estava sentindo uma sensação inexplicável. Maior do que naquele dia que tentamos transar e a tia Michelle atrapalhou. Ouvi barulho de cinto. Ele estava tirando a calça. Voltou a me beijar. Enquanto o beijava, minha mão deslizava pelo seu abdômen, costas e quando passou pela bunda, eu ri. Josh riu também. Certamente se lembrou do mesmo dia que eu. Beijou carinhosamente os meus seios. Não tinha como negar, estava bom, mas o fato de que talvez iríamos até o final, me assustava. Só fomos apenas até as preliminares, nunca até o fim. Joshua saiu da cama e quando voltou, deitou-se ao meu lado.
- Se você quiser parar por aqui, tudo bem. Essa noite já vai ser a melhor de todas, com a gente transando ou não.
- Você é tão fofo. - acariciei o seu rosto. - Obrigada por mostrar que se importa comigo. - ele sorriu. - Você quer continuar?
- Quero. - riu timidamente. - Mas você...
- Eu também quero.
- Está bem. - ele beijou-me na testa.
Ele beijou-me e deitou-se por cima de mim. Beijou todo o meu corpo até chegar a calcinha. Enrolou o dedo indicador na lateral da lingerie e olhou para mim. Assenti, mostrando que podia continuar. Devagar, Josh, tirou a minha calcinha. Beijou minha barriga incontável vezes. Me estremeci. Os beijos foram descendo. Não sei explicar o que sentia, até aquele momento, ninguém nunca tinha ido até lá. Sentia um misto de cócegas e outras coisas que não sei como nomear, prazer deve estar entre esses nomes. Estava muito bom. Depois dos beijos, Josh, sentou-se na cama para colocar o preservativo. Olhei rapidamente e conclui que ainda não me acostumei a ver aquilo. É bem diferente dos livros de Biologia da escola, que por sinal, achava esquisito desde ali. Não gostava de ter aquela figura no meu livro. Estava relaxada, tranquila (dizem que é o mais importante), olhava para o quadro de fotos. Em alguma delas, nem sonhava que ia me apaixonar pelo Josh, muito menos que estaria aqui com ele. Não imaginava nada disso, mas agradeço por ter acontecido. Meus pensamentos se foram assim que senti os beijos do Josh no pescoço. Fechei os olhos. Na mesma hora, meus olhos se abriram e uma lágrima escorreu. Aconteceu. Estava acontecendo. Senti a respiração ofegante de Josh no meu pescoço. Estava tão nervoso quanto eu. Minhas mãos deslizavam pelas costas do Josh, seus movimentos eram suaves e lentos. Joshua tirou uma das minhas mãos das suas costas e entrelaçou seus dedos nos meus. Deu-me um selinho. Os movimentos ficaram mais intensos e rápidos. Chegando ao fim, beijou a minha boca e apoiou a sua cabeça no meu ombro. Apesar de ter escorrido uma lágrima, não doeu e também não sangrou. Estava emocionada, estava feliz. Por ser a primeira vez e por ter sido com o Josh, o cara que amo. Posso não ser expert nesse quesito, mas foi incrível. Melhor do que eu imaginei.
Estávamos deitados um ao lado do outro, debaixo de um cobertor, ainda estávamos nus. No início, estava tão nervosa com a ideia de ficar pelada perto do Josh e agora isso já não importa mais. Sempre fui muito tímida e sempre me achei feia. Quando o vestido caiu e ele disse "Você é tão linda", olhei em seus olhos. Eles brilhavam de um jeito encantador e aquilo fez com que eu me sentisse bonita de todas as formas.
Joshua pegou seu celular que estava em cima do criado mudo e viu as horas. Virou-se para o mim e disse:
- Meia noite. Faça um pedido.
- Não preciso. Já se realizou.
- Qual era seu pedido? - alisou carinhosamente o meu rosto.
- Você. Nós. Sem nos preocupar com nada.
- O meu pedido era o mesmo. - sorriu. - Te amo, meu anjo. - aconchegou-me em seus braços e beijou minha testa.
- Te amo. - o abracei.
Ainda aconchegada nos braços do Josh, que já estava dormindo, porém eu estava bem acordada. Não queria dormir com medo que fosse um sonho, não queria acordar no dia seguinte sabendo que tinha que voltar para casa. Queria que o mundo parasse naquele momento. O que aconteceu hoje, não sei se vai acontecer outras vezes. Talvez sim, talvez não. Minha opinião? Não morreria se não acontecesse de novo, mas se acontecer, sem problema também. Não queria perder logo a virgindade para tirar aquele rótulo de "virgem" das minhas costas, mas sim, para saber como era. Todos diziam que era bom, viciante, melhor coisa da vida! Aí, sempre quis ter essa sensação, saber como era, sentir. Curiosidade e ansiedade mesmo. Com o tempo, vi que não era bem assim, como tirar uma rolha da garrafa, sabe. Vi que tem muito mais coisa envolvida, como sentimentos. Provavelmente se fosse com um qualquer, eu não sentiria o que senti com o Josh. Sentiria um vazio enorme dentro de mim e ficaria chateada por ter feito tamanha besteira. Fiz a escolha certa para mim, porque pelo meu pai só depois do casamento. Apesar de quê, depois de descobrir sobre a Ana Clara, perder a virgindade com o Josh foi fichinha. Minha mãe já havia dito que preferia depois do casamento também. Pelo menos, vai apoiar minha decisão em vez de me incriminar ou julgar. Ainda preciso pensar em como contaria à ela. "Ei, mãe! Perdi a virgindade!" ou "Mãe, agora sou uma mulher." ou "Fiz amor, mãe!" Não! Nenhuma dessas! Acho que na hora saberei como dizer, pelo menos espero isso. É engraçado como um pensamento puxa outro. Comecei falando da noite de hoje e terminei falando dos meus pais. Todos esses pensamentos puxaram o sono também. Me cobri um pouco mais com o cobertor e encostei minha cabeça no peito de Josh, logo dormi.
Michelle POV
Na noite anterior, saí com algumas amigas e depois dormi na casa de uma delas. Não, não foi na casa da Debby. Ela jamais aceitaria os meninos sozinhos em casa. É difícil para a Débora ver que a Maya está crescendo, e ainda tem o seu grande medo que é sua filha cometer o mesmo erro que ela, ficar com um homem que não se importa. Meu filho é um ótimo menino, Debby sabe, porém fica com um pé atrás. Já eu, confio neles. Tive essa idade e sei como é, quanto mais proibir, pior é.
Chegando em casa, a sala não estava bagunçada, muito menos a cozinha. Isso significa que as crianças não saíram do quarto. Fui até o quarto do Josh e abri uma brechinha da porta. Tão lindos! Josh estava abraçado com a Maya, que dormia como um anjo. Reparando rapidamente no quarto, vi roupas e sapatos espalhados no chão. Olhei para o casal fofo de novo. Joshua estava sem camisa. Maya segurava o cobertor na altura do peito, fazendo um volume. É, tenho que parar de chama-los de criança. Fechei a porta e fui para o meu quarto dormir mais um pouco.
Michelle POV - END
Josh POV
Acordei achando que eram 10 horas, mas na verdade eram meio dia. Maya ainda dormia. Fiquei com pena de acorda-la, tão linda dormindo. Levantei e lembrei que estava pelado, vesti uma cueca boxer e uma bermuda azul marinho. Providenciei um lixo no meu quarto. Passando por ele, vi a camisinha lá. A noite anterior tinha mesmo acontecido. Fui até a cozinha, antes, passei no quarto da dona Michelle. Ela estava dormindo. Fechei a porta e segui até a cozinha. Fiz ovo remexido com presunto. Estava cortando o pão quando ouço passos, viro para ver quem era e dou um grande sorriso. Era Maya. Ela estava usando um moletom meu, que ficou enorme nela, parecia um vestido. Mas admito, Mah estava sexy com ele. Ela sentou-se no banco da bancada. Sua cara de sono é a mais linda que já vi. Jogou o cabelo da esquerda para direita e disse:
- Bom dia! - disse ela com um sorriso de orelha a orelha.
- Bom dia, meu anjo! - sorri e fui lhe dar um selinho.
- Qual o cardápio de hoje, chefe? - brincou, pois eu estava com um avental branco. Arregaçou as mangas do moletom.
- Pão com ovo e presunto. Está servida?
- Claro! Estou cheia de fome.
- Assim que é bom!
Terminei de cortar os pães e coloquei o ovo e o presunto dentro. A bebida era suco de maracujá. Sentei-me ao lado de Maya e comi o meu café da manhã também. Quando acabamos de comer, olhamos um para o outro. Sem dizer nada. Aquele silêncio já dizia tudo.
- Sobre ontem à noite... - comecei a conversa. Eu queria ter perguntado ontem, mas não seria uma boa hora e nós queríamos ficar juntinho e sem falar nada. Ontem eu estava bastante nervoso, mas tentei não demonstrar. Queria ter certeza se ocorreu tudo bem.
- O quê? - perguntou apoiando o cotovelo no balcão e a mão no rosto. Ela sorria delicadamente.
- Ocorreu tudo bem? Você sabe, eu...
- Sim. Não, você não fez nada de errado. - ela riu.
- Sabe que qualquer coisa você pode falar, né?
- Josh. - segurou a minha mão. - Está tudo bem. Ocorreu tudo bem, na verdade, foi tudo perfeito. - ela acariciou o meu cabelo.
- Tá bom. Agora posso relaxar. - rimos. Entrelacei minha mão em seu cabelo e a beijei.
Ouvimos passos no corredor e certamente era a minha mãe. Vestia um hobby preto. Separamos do beijo e eu peguei os pratos e os copos para lavar.
- Eu te ajudo. - disse Maya entrando na cozinha.
- Não precisa. - falei.
- Eu posso...
- Não, teimosinha. Relaxa. - ela riu levemente e voltou para o seu lugar.
- Maya, tem hora para voltar para casa?
- Bom, se eu voltar à noite, acho que a minha mãe pira. - brincou.
- Ela sabe que você vinha para cá, certo?
- Sim, claro! Eu a avisei.
- Ah, que bom. - sorriu dona Michelle. Aquele sorriso... Agora que vai começar o interrogatório. - Como foi ontem, no baile?
- Foi legal. - respondi. Ainda lavava a louça.
- Fomos o rei e rainha do baile. - disse Maya.
- Que legal! Parabéns! Vocês fazem um belo casal mesmo.
- Obrigada. - sorriu Maya.
- Mãe, eu e a Mah combinamos de sair agora a tarde. Tudo bem?
- Claro! Já estão de férias, né? Aproveitem!
- Sim, graças a Deus! - Maya ergueu as mãos. - Josh, vou tomar um banho.
- Tudo bem.
Dona Michelle esperou que a Maya saísse para abrir a boca.
- Não vou fazer interrogatório. Sei que você odeia. - olhava atentamente para ela. Já tinha acabado de lavar a louça. - Mas eu vi as roupas no chão. Bom, você já tem 18 anos, não é mais uma criança. É um homem agora. Só lhe peço para que tome cuidado. - passou a mão no meu cabelo.
- Mãe, eu sou um homem responsável. - sorri.
- Não estou brincando, Joshua Ryan. - cruzou os braços. - Vocês precisam ser muito responsáveis. - disse séria.
- Nós somos, mãe. Sério.
- Eu te amo, filho. - abraçou-me.
- Também te amo, mãe. - disse ainda abraçado com ela.
Josh POV - END
Entrei no banheiro para tomar banho. Já nua, prestes a entrar no boxe, paro para me olhar no espelho. Passei a mão no meu rosto, girei o rosto para um lado, girei para o outro. Por fora, continuo a mesma Maya. Nada mudou depois de ontem, porém por dentro muita coisa mudou. Me vejo de outra maneira, verei o mundo de outra forma. Vi o reflexo do meu sorriso no espelho e em seguida entrei no banho.
Vesti o vestido da noite anterior, pois não tinha levado muda de roupa. Saímos do baile e fomos logo para sua casa. Saí do quarto e peguei Josh e a tia Michelle se abraçando. Que cena linda! Fique toda boba olhando. Josh me viu parada olhando para eles. Me deu um beijo e foi para o banho. Voltei para o quarto para pegar meu celular quando a dona Michelle aparece.
- Você foi um anjo que caiu do céu, Maya.
- Oi? - sorri sem entender. - Por que?
- Se não fosse você, o Josh talvez nem estaria mais aqui. Você sempre esteve ao lado dele, o apoiando ou apenas como ombro amiga ou ombro namorada. - sorriu. Seus olhos estavam inchados d'água. - Você fez o Josh viver de novo e graças a Deus não perdi meu bem mais precioso. Enfim, eu só tenho a lhe agradecer. - uma lágrima escorreu do seu rosto. Queria chorar também. - Não importa o quanto você e o Josh briguem, a ligação é muito forte! Não conseguem se separar. Vocês merecem ficar juntos. Vocês precisam ficar juntos. - foi o suficiente para que eu começasse a chorar também.
- Sempre que precisar estarei aqui. - lhe dei um abraço. - E quanto ao Josh... Não imagino uma vida sem ele, não me imagino sem ele. Eu amo muito o seu filho, tia.
- Ele também te ama, meu amor. Daquele jeito bobão, mas ama. - sorriu e passou a mão no meu rosto.
Josh saiu do banheiro vestindo uma calça jeans e uma camiseta cinza e calçou um tênis preto. Fomos até minha casa para que eu trocasse de roupa. Josh ficou na sala conversando com a minha mãe. Contou que fomos rei e rainha, que seu carro é muito bom. Minha mãe prestava atenção em tudo. Acho que ela nunca amou um namorado meu igual ama o Josh. O tempo estava fresco, escolhi um vestido roxo de alça e calcei um All Star branco. Deixei o cabelo solto mesmo, jogado para o lado. Chegando a sala, Josh abriu o maior sorriso quando me viu. Minha mãe disse para termos juízos e assim saímos.
Fomos para o shopping, no cinema. Dividimos uma pipoca. Vimos uma comédia romântica. Não é o estilo de filme preferido do Josh, mas é o meu. Quando o filme acabou, fomos andar no calçadão da praia. O tempo estava nublado, parecia que ia chover. No calçadão, perto de um quiosque tinha um grupo tocando. A música me chamou atenção.
Tanto tempo esperando você
Te sentia sem te conhecer
Te enxergava sem te olhar
Te escutava sem ouvir tua voz
Tiramos o tênis e seguramos na mão. Josh pulou na areia e me puxou com ele. Esticou o meu braço e puxava para que eu voltasse girando. Fiz a mesma coisa com ele. Fomos até a água, como previ, Josh a chutou em mim. Chutei nele também e virou uma guerra. Senti um pingo de chuva cair sobre a minha cabeça. Logo em seguida, outro e outro, e mais outro. Até que começou a chover literalmente. Mesmo com a chuva, o grupo continuou tocando embaixo da marquise do quiosque.
De repente o sonho aconteceu
De repente o medo se perdeu
A semente de repente virou flor
E o universo conspirou
E de repente amor
E de repente amor
Josh começou a gritar:
- Chuva! Uhul! - saiu correndo e dando mortal pela praia. Ri ao vê-lo igual um maluquinho correndo pela praia.
De longe ria observando aquele menino. O menino que já fez tudo por mim, o menino mais bem humorado que conheço, o mais bobão também, o mais amigo, o mais atrapalhado, o menino mais lindo, mais fofo, mais gostoso, o menino pelo qual eu me entreguei, o menino pelo qual sou apaixonada faz tempo, o menino que eu amo. Ele limpou a mão na calça, pois estava cheia de areia e veio na minha direção. Josh não andava tão devagar, mas para mim estava em câmera lenta. Passou a mão em seu cabelo molhado. A chuva ainda caía. Olhou dos meus olhos para minha boca e então, beijou-me. Quem foi que disse que beijo na chuva é bom? Não sei quem foi, mas tinha razão, viu! Josh me pegou no colo igual daquela vez em Angra dos Reis, e foi até a água. A onda batia em sua perna, a chuva caía. Começou a girar comigo no colo. Abri os braços e fechei os olhos.
Dona Michelle tem razão. Não importa o quanto a gente brigue ou discuta, vamos sempre estar juntos. A gente não consegue se separar. Essa história de Stalker só serviu para isso mesmo, mostrar que nosso amor não é tão fácil de derrotar. Nunca sofri tanto na minha vida. Perdi dois grandes amigos. Passei tanto tempo odiando o Carl e quando começamos a nos dar bem, ele morre. Entendo que o Caio não estava em seu estado normal, mas não sei se um dia vou realmente entender tudo aquilo. Ele era meu melhor amigo e do nada quer me ver morta, mirou uma arma na minha cabeça. Eu o perdoei, mas isso ainda me assusta um pouco. Josh não quis demonstrar, mas ficou chocado com a morte do Carl e mais chocado ainda por saber que seu até então, melhor amigo matou três pessoas e queria acabar com a vida de sua namorada. Depois disso tudo, ainda se matou. Foi tudo muito difícil para ele. Cresceram juntos, eram como irmãos. Jamais acreditaria que Caio faria isso. Deus escreve certo por linhas tortas. Passamos por tanta coisa e ainda estamos aqui, ainda estamos de pé. A qualquer momento pode aparecer alguém para querer nos separar, mas vou aproveitar cada segundo dessa paz que agora ficou. De qualquer forma, é igual na música da Sandy & Júnior: "Nada será capaz de apagar esse amor em mim.". No caso, em nós.
Epílogo
Abaixei-me para pegar o sapato que havia parado embaixo da cama quando me deparo com uma enorme caixa vermelha. Curiosa como sou, resolvi abrir. Sentei-me na cama e coloquei a caixa no meu colo. Dentro haviam fotos, cartas, presentes, toda a minha adolescência estava ali. Fotos do baile, da formatura, das viagens que fiz com os amigos e com o Josh. Que saudade de tudo aquilo! Ainda lembro de quando Josh e eu fugimos para casa de praia da sua avó em Angra dos Reis. Ele havia me prometido que depois que tivesse um carro me levaria lá. Minha mãe quase me matou! Porém foi tão bom! Lá, Josh e eu tivemos nossa segunda noite juntos e foi incrível, melhor que a primeira. O terceiro ano foi com certeza o melhor ano da minha vida! Não sei qual foi o milagre, mas Joshua e eu acabamos na mesma sala. Na verdade, todos nós. Então era aquela bagunça. Fui expulsa da aula algumas vezes por falar ou beijar demais. Quando finalmente fiz 18 anos, fiz a minha tattoo. Foi a única, mas ainda a amo. Josh fez mais duas. Uma na lateral do corpo e outra nas costas. Uma âncora e um navio, respectivamente. Segundo ele, gosta de tatuagens tradicionais estilo marinheiro. Eu amo a do navio, mas a do pulso tem um significado tão maior. Sorri ao me lembrar de tantas lembranças. Agora não tenho mais 17 anos, tenho 30. Não posso fugir a hora que eu quiser, não posso passar o dia inteiro de bobeira, pois sou mãe de duas crianças. Carl, de 6 anos e Sophia de 4. Quando soube que estava grávida, falei que escolheria o nome do primeiro filho. Obviamente foi em homenagem ao meu amigo Carl. Josh não reclamou e disse que era um gesto muito bonito. Gostaria tanto que ele estivesse vivo para ver os meus filhos e eu ver os dele. Ainda penso em tudo o que aconteceu. Penso em formas que poderia ter feito para que todos continuassem vivos, porém minha mãe tem razão, não devo pensar nisso, mas é completamente inevitável.
- Mamãe! Mamãe! - disse Sophia correndo com seu vestido rosa entrando no quarto. Deixei a caixa em cima da cama.
- Oi, filha! - a coloquei sentada no meu colo. Ela me deu um beijo na bochecha. Lhe dei outro e a abracei.
- O que você tá fazendo?
- Olhando algumas fotos de quando eu era mais nova.
- Posso ver? - assenti com a cabeça e a coloquei sentada na cama para mexer na caixa.
Nisso, escuto barulho de gente correndo e vejo um vulto no corredor.
- Carl! - gritei. Certamente estava correndo com o Aiden (ler-se Eiden) filho do Bob e da Vivian.
- Oi! - disse colocando o rosto na porta.
- Vem cá. - ele entrou no quarto. - Já te disse para não correr pela casa. - disse endireitando sua camisa e a franja que caía em seu rosto. Ele rolou os olhos. Esse menino corre o dia inteiro!
- Oi, tia Maya! - disse Aiden entrando no quarto.
- Oi, meu amor! - sorri. - Todo mundo já chegou?
- Já sim. - respondeu Aiden.
- Tudo bem. Já vou descer. Carl e Aiden, parem de correr, por favor. - eles assentiram com a cabeça e saíram correndo. Pra quê pedir para não correr, né? - Vamos, Sophia? - a peguei no colo. - Gostou de ver as fotos?
- Gostei. Você era bonita, mamãe. - sorriu.
Mesmo depois do Ensino Médio e da faculdade, mantemos contato com todos os nossos amigos, aqueles de sempre. Todos nos casamos menos a Babalu e o Cadu. Carlos Eduardo a pediu em namoro no 3º ano do Médio. Eles se separaram na faculdade, a distância foi demais. Cadu é casado com outra mulher, Rebeca. Trabalha escrevendo para uma revista de esportes e não tem filho. Babalu é casada com Alessandro. É uma das melhores promoters do Rio de Janeiro. Tem um filho, Jonathan, de 7 anos. Bárbaro, irmão da Bah, mudou de nome e agora se chama Bryan. É casado com uma mulher mais velha, é dono de um bar balada e tem uma filha, de 10 anos.
Thiago e Luana foram os primeiros a casar, Josh e eu fomos os padrinhos tanto no casamento, tanto da Fernanda, sua filha de 4 anos. Thiago tem uma gravadora, vários músicos importantes já gravaram lá. Luana é uma psicóloga respeitada. Seu marido não abandonou as longas madeixas, não é até o ombro como antigamente, mas chega a cobrir a orelha.
Bob e Vivian têm 3 filhos. Andrew de 8 anos, Aiden de 6 e Nicole de 3. Sim, ela foi a primeira a engravidar. Segundo o casal, pretendem ter mais filhos. Bob é produtor musical e dono de uma gravadora, junto com Thiago. Vivian é estilista. Descobriu esse talento ainda no terceiro ano do Ensino Médio. Nossos vestidos de casamento foram feitos por ela. Bob não é mais maromba igual no tempo de colégio, mas continua em boa forma. A Bel hoje está com 28 anos e tem um namorado, Connor, que por sinal é primo do Josh. Se conheceram através do Facebook, não sei quem stalkeou quem e quem adicionou quem. Ela está terminando a faculdade de Direito.
Claudia, eu a vi outro dia na rua, estava acompanhada pelo mesmo rapaz de olhos claros que estava no baile do 2º ano e um menino alto, bastante parecido com Caio. Ela falou comigo rapidamente e me apresentou ao seu marido, Raphael e seu filho, Caio, de 13 anos. Disse que é funcionária pública e que está feliz com a vida que tem.
Dimitri voltou dos EUA e ficou no lugar do meu pai na empresa. Mais tarde fui saber que ele se sacrificou a fazer o que não gosta para o papai não ficar com a minha guarda. Hoje ele diz que isso não importa, o que importa é que está colocando comida dentro de casa com seu próprio dinheiro. Está casado com Daphne. Se conheceram na faculdade e estão juntos desde então. Têm dois filhos, Anthony de 7 anos e Antonieta, de 2. Ana Clara finalmente parou com as drogas e continuou nos EUA com seu marido, Ashton (não, não é o Ashton Kutcher). Quando jovem foi uma grande modelo. Até participou do desfile da Victoria Secrets e criou sua própria marca de roupas e lojas por toda a América, a Clanasso. Meu pai se aposentou e se separou da Lorena, pois a pegou com um vizinho no próprio quarto. Agora ele passa os dias vendo televisão ou viajando pelo mundo sozinho.
Josh e eu cumprimos a promessa de nos casarmos. Durante a faculdade foi difícil ficar junto. Quase não nos víamos e achei que íamos terminar, mas foi só uma fase ruim. Joshua descobriu que tem vocação para o cinema, agora ele é diretor. Algumas vezes já dirigiu vídeo clipe de banda que Bob estava produzindo, mas o seu forte é mesmo filmes. Ele sempre foi apaixonados por filme. Deve estar se perguntando, e a música? Bom, Josh ainda tem seu violão e ainda canta para mim e as crianças, porém bem menos. Quando se é jovem, tem todo o tempo do mundo para tocar, mas quando se é adulto, é diferente. Eu trabalho mais em casa, consegui realizar o meu sonho... Sou uma escritora! Não a altura da J.K. Rolling, mas um dia chego lá. Meu primeiro livro eu escrevi sobre o ano mais conturbador da minha vida. O nome do livro se chamava "Stalker". Mudei o nome de todos para ninguém ser parado na rua. Quando falo que aquilo aconteceu comigo, as pessoas se chocam, outras dizem que já passaram por algo parecido e foi tudo o que eu sempre quis. Queria que as pessoas se identificassem em algo ou ficasse abismada ou completamente apaixonada pelo livro. Dos meus 190 seguidores no Twitter passei para 10 mil seguidores depois que lancei o livro. Já lancei 4 livros e estou indo para o quinto.
Dona Débora está namorando. Nunca pensei que veria minha mãe com outro homem novamente. Christian, ele é da sua idade, tem o cabelo grisalho e é um cara muito bacana. Tia Michelle também está namorando e o nome do sortudo é: Roberto. Josh não quis aceitar no início por causa do seu pai. Mas poxa, ele não morava mais com ela, ficar sozinha não é bom. Ela precisava de uma companhia. Hoje, Josh já consegue aceitar este fato.
No decorrer dos anos, sempre fazemos de tudo para nos encontrarmos e matarmos a saudade e saber das novidades. Até para as crianças brincarem. Formamos uma grande família. Então, cada encontro é na casa de alguém diferente. Desta vez, era a nossa vez. Fizemos um churrasco em casa. Todos estavam lá. Depois que as crianças nasceram, não dava para continuar morando em apartamento. Compramos uma casa na Barra mesmo, com dois andares, quintal e piscina. Não é de frente para a praia, mas fica perto. Desci com a Sophia e fui para o quintal. Estava um dia delicioso. Céu azul e sol brilhando. Babalu, Vivian, Luana e a espoça de Cadu estavam sentadas no sofá do quintal e conversavam animadíssimas. Thiago conversava com Cadu e Bob. O marido de Babalu estava fazendo o churrasco. Ele mesmo se ofereceu para fazer. Sophia desceu correndo do meu colo para brincar com a Fernanda e a Nicole. Falei com todos e depois fui procurar o Josh. Andei até o final do quintal para procura-lo e o vejo correndo, brincando de pegar as crianças, que gritavam. Comprei um pula-pula, pois Carl sempre quis ficar horas dentro de uma cama elástica no shoppings e parques. Nunca deixava ninguém entrar. Era um inferno. Carl para fugir do pai, entrou dentro do pula-pula, ele entrou também e fez cócegas no menino. Joshua pode ter a idade que tiver, mas Josh Hutcherson sempre será brincalhão e bem humorado.
- Olá, meu amor! - gritou de longe. Sorri e dei tchauzinho. - Achei que não ia descer nunca. - sorriu e quando estava mais perto, me deu um beijinho. Esse sorriso ainda me deixa louca.
- Estava prestes a descer quando encontrei uma caixa cheia de fotos nossa. Na escola, em viagens, na praia, na minha casa, na sua... Bateu saudade.
- Verdade. Melhor época. - passou a mão no meu rosto.
- Você nem deve lembrar de nada, é todo esquecido. - cruzei os braços.
- Claro que lembro! - colocou a mão na cintura fazendo palhaçada. - Lembro do nosso primeiro beijo, embaixo da árvore do colégio. Lembro do nosso primeiro encontro, no colégio às escondidas graças ao Maurinho que deixou a chave comigo. - até hoje não acredito que o Maurinho havia deixado a chave da escola com a gente. Éramos confiáveis, mas também não era pra tanto. - Lembro do nosso primeiro baile, você estava linda com aquele vestido azul e a propósito, foi nesse dia que tivemos nossa primeira noite juntos. Lembro de tudo, meu anjo. - sorriu dando uma piscadinha com o olho direito.
- Você vivia me chamando assim! - coloquei a mão no rosto. - Quanto tempo não ouço isso. - sorri de lado.
- Muita coisa mudou de lá para cá, né? - assenti com a cabeça. - É engraçado pensar na adolescência...
- Tudo parecia o fim do mundo. - sorri.
- Exato! - riu. - Você gostaria de ter 17 anos de novo?
- Você já me faz ter 17 anos todos os dias. - Josh pareceu não entender. Segurei o seu rosto. - Você estava correndo dentro de um pula-pula ainda há pouco. - ele riu. - Sinto saudades da minha adolescência, mas estou ótima agora. Sempre vou lembrar dos meus 17 anos com carinho, mas acho que voltar realmente, eu não quero.
- Eu também não. - sorriu. Beijou-me rápido e me deu um abraço. Aquele abraço reconfortante que só o Josh sabe dar.
Mais tarde, perto das 18 horas, Josh e Thiago pegaram o violão e resolveram lembrar os velhos tempos. A voz do Thiago continuava perfeita e Josh ainda sabia tocar violão muito bem. Tocaram todo tipo de música, até Justin Bieber para as crianças. Para encerrar, tocaram uma música do Jack Johnson.
There is no combination of words
I could put on the back of a postcard
No song that I could sing
but I can try for your heart
Our dreams and they are made out of real things
Like a shoebox of photographs
with sepia-toned loving
Love is the answer at least
for most of the questions in my heart
Why are we here? And where do we go?
And how come it's so hard?
It's not always easy and sometimes life can be deceiving
I'll tell you one thing
it's always better when we're together
It's always better when we're together
Yeah we'll look at the stars
when we're together
Well it's always better when we're together
Yeah! it's always better when we're together
Cadu e Rebeca começaram a dançar juntos. Babalu e Alessandro também. Bob pegou seu celular e plugou na caixa de som. A música que eles tocavam, ecoava pela casa. Bob mexeu a cabeça fazendo com quê eles se levantassem e nos tirassem para dançar. As crianças obviamente não gostaram daquilo tudo e foram para o quintal. Thiago dançava coladinho com Luana. Josh andava na minha direção sorrindo.
- Me concede esta dança?
- Claro. - sorri. Pus meus braços em volta do seu pescoço e Josh colocou as mãos na minha cintura.
- Te amo, meu anjo.
- Eu te amo mais. - Josh sorriu e me beijou. Desta vez não foi um beijo rápido igual temos dado desde que nos casamos, foi um beijo mais elaborado. Como fazia tempo que não nos beijávamos assim! Quando paramos o beijo, sorrimos. Olhamos para os amigos a nossa volta e todos eles estavam em clima de romance também. Tudo mudou, mas de uma certa forma, nada mudou.
Não sei o que dizer sobre a minha história e a do Josh. Passamos por muitas coisas juntos e nem sempre ganhamos. Perdemos amigos e parentes, mas criamos uma nova família, uma família que jamais imaginei ter e agora não quero viver sem. Nunca imaginei que a minha maior inimiga e a festeira da escola se tornariam minhas melhores amigas, nunca imaginei que a nerd da sala seria minha maior confidente, na verdade nunca nem imaginei que teria amigAS. Josh e o Caio sempre foram meus únicos amigos. Caio... Nunca achei que o perderia daquela maneira. Josh, meu melhor amigo e agora amor da minha vida. Bob, Cadu e Thiago, nunca imaginei que seria amiga desses três e hoje não imagino um encontro sem suas palhaçadas. Carl... Demorei a perceber que ele era a melhor pessoa no mundo e eu quando percebi, o perdi, assim, tão de repente. Tanta coisa aconteceu e continua a acontecer na minha vida que eu sempre me perguntava: Será que pode rolar? E sempre ganhava como resposta: Sim! Claro!
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