- Oi papai. - Falei em meio a um soluço, ele ainda tinha seus braços a minha volta, apertando -me bem forte.
- Princesinha, como você cresceu! - Exclamou afastando-se um pouco. - Está tão linda. - Papai começou a chorar incontrolavelmente e eu abracei-o outra vez, tentando evitar que minhas próprias lágrimas caíssem, queria mostrar para ele o quanto eu podia ser forte, queria que ele soubesse que não desistiria até vê-lo livre.
- Não chore pai, estou aqui. - Respirei fundo. - Vai ficar tudo bem.
- Suzana, você não devia estar aqui, não queria que você soubesse que seu pai é um presidiário, eu... Você tem que acreditar que eu sou inocente, não posso suportar ser acusado por você.. - Implorou segurando minhas mãos.
- Eu acredito papai, eu conheço o senhor, me lembro de tudo. Senti tanto a sua falta, todos os dias... Tinha certeza que você nunca me abandonaria. - Declarei com um sorriso largo.
- Foi isso que a Ana disse? Que eu abandonei vocês? - Perguntou incrédulo.
Fiz que não com a cabeça. - Ela nunca disse nada, acabei chegando a essa conclusão por não ter mais o que pensar, mas no fundo eu não acreditava que pudesse ser isso.
Ele assentiu tristemente. - E a Isa? Deve estar tão crescida como você, não é? Como ela está? Já sabe sobre mim? - Meu pai despejou todas as perguntas muito rápido e eu não soube bem o que dizer.
- Eu não sei como ela está pai, e ela não sabe sobre o senhor, e-eu... ee-u, acho melhor que ela não saiba de nada. - Respondi com pesar.
- O que? Suzana, o que tem acontecido todos esses anos?
Quando ia explicar toda a história um policial invadiu a sala sem a menor cerimônia e pegou me pai pelo braço, arrastando-o para longe.
- Eu não moro com elas, nada mudou, as duas sempre me odiaram, lembra? - Falei meio alto e pela sua expressão derrotada eu soube que ele me ouviu.
********
Saí da penitenciária me sentindo meio esquisita, se alguém me perguntasse “Como vai?” ou “Tudo bem?” eu simplesmente não saberia o que falar, talvez eu dissesse o que todos sempre dizem, algo do tipo “Tô legal”, mas não seria totalmente verdade. A real é que eu não sei o que é real, estou me sentindo como num sonho, tudo está acontecendo muito rápido e eu não sei o que fazer com todas as informações que estou recebendo, me sinto como um computador velho e com vírus. Me sinto confusa e feliz, só que muito mais confusa.
- Suzana! - A voz que me faz tremer gritou, eu estava parada no meio da calçada, então levantei os olhos e o vi encostado em uma moto desconhecida.
Corri para os seus braços imediatamente e quando Ron me apertou contra si eu chorei convulsivamente.
- Ronnie, eu não sei o que fazer.. e-u..- Balbuciei, mas antes que eu concluísse ele pôs o indicador nos meus lábios.
- Shiu, eu sei que as coisas estão fora de controle, sei que você está surpresa, seu disso tudo, mas sei principalmente que você precisa relaxar antes de pensarmos sobre o que faremos a seguir. - Disse calmamente.
- Radke, eu não consigo relaxar! Meu pai está lá dentro – apontei pra prisão – porque minha mãe é uma vaca e eu não posso relaxar enquanto as coisas não estiverem resolvidas. - Admito que fui uma estúpida com Ron, mas não dava pra fazer o que ele estava pedindo.
- Você acha mesmo que tem condição de resolver alguma coisa nesse estado? - Ronnie gesticulou na minha direção, minha visão focou no me reflexo no vidro de um carro. Meu estado era deplorável, cara inchada, maquiagem borrada, cabelo bagunçado e eu nem quis pensar sobre meu emocional. - Deixa eu cuidar de você pelo resto do dia, amanhã você volta a ser a Mulher Maravilha. - Sua boca estava encostada no meu ouvido enquanto ele sussurrava, depois Ron me deu uma mordida que fez todo meu corpo arrepiar.
Não faria nenhum mal começar a pensar no que fazer amanhã de manhã, não é mesmo? Talvez eu precise relaxar mesmo. - O que você tem em mente?
- Não pensei em nada, conheço um pousada há algumas horas daqui, e bom, é tudo que tenho. - Respondeu dando de ombros. - Toma. - Estendeu-me um capacete preto que até então eu não havia notado.
- Está louco? O que vamos vestir?
- Paramos em alguma loja para comprar roupas novas.
- E o que vamos comer?
- É uma pousada Sus, eles têm comida e podemos comer a caminho de lá também, se quiser eu faço um jantar pra nós mais tarde. - Suspirou, eu sabia bem que paciência não era uma de suas virtudes, mas até que ele estava se saindo muito bem. - Mas alguma coisa?
- Onde conseguiu essa moto e o que faremos com o carro? - Perguntei mais por diversão do que qualquer outra coisa, ela havia me convencido quando sussurrou com aquela voz rouca.
- A moto é do seu tio, ele me emprestou até amanhã e o carro nós deixaremos aqui.
- Tudo bem, você venceu. - Declarei pegando o capacete que ainda estava estendido.
Ele sorriu torto. - Eu sempre venço.
Chegamos na pousada por volta das 16h da tarde, havíamos parado para comer um hamburguer numa lanchonete que o Ronnie já conhecia e também compramos algumas peças de roupa. O jantar estava por conta do Ron, ele levou meu ceticismo com relação aos seus dons culinários como um desafio, eu gostei bastante disso, mas continuo com receio de que a pousada pegue fogo.
Meu gibi humano estava dando entrada na pousada enquanto eu fiquei deitada na grama do jardim olhando as nuvens e desvendando suas formas, era algo que eu e papai costumávamos fazer antes dele ir embora, só que ele não foi embora. AAAAAAH, todos esses pensamentos estão me matando. Só queria poder ter controle sobre a vida, não me sentir tão insignificante e impotente com relação ao que acontece comigo e as pessoas que eu amo.
- O que se passa pela sua cabecinha, My Dear? - De repente Ronnie estava deitado ao meu lado e olhava pro meu rosto com curiosidade.
- Sinto como se estivesse sem saída, estou com medo de não ajudar meu pai. Ele só tem a mim. - Respondi ainda encarando o céu azul.
- Vou ignorar seus comentários porque estamos aqui pra esquecer os problemas, lembra? - Ele não esperou que eu falasse e levantou-se. - E vou te convidar para nadar na cachoeira comigo, vamos? - Radke me puxou pelos braços. - E antes que você diga alguma coisa, eu peguei um biquíni pra você.
- Controladoooor. - Cantarolei e seguimos de mãos dadas até o nosso chalé.
O lugar era adorável, pequeno e aconchegante, uma mistura de antigo e moderno que me deixou maravilhada. Sem perder tempo, segui para o banheiro, que era igualmente impressionante, e vesti o biquíni tomara que caia, a parte de cima ficou perfeita, mas a parte de baixo...
- Ronnie, essa porra é minúscula, eu não vou sair do quarto assim. - Gritei do banheiro.
- Vamos lá Suzana, não exagere.
Abri a porta e encontrei um par de olhos negros me fitando.
- Não ficou tão.. - Virei de costas – Puta que pariu, você não vai sair do quarto assim. - Ele olhava descaradamente para minha bunda. - Vista esse short até termos certeza de que a cachoeira estará vazia. - Pediu e arremessou um short jeans em minha direção.
- Isso é uma pousada Ronnie, existem outras pessoas no mundo além de você e eu, algumas delas deves estar aproveitando a cachoeira nesse momento. - Reclamei.
- Concordo que não somos os únicos no mundo, mas seremos os únicos da pousada porque eu sou Ronnie Radke e o dono desse lugar é um dos meus fãs. - Gabou-se.
Gargalhei - Peraí, você..? Não, você não fez ele expulsar os hóspedes? - Indaguei surpresa.
- Digamos que nem tudo tenha sido por acaso, eu já planejava trazer você aqui, então eu pedi pra que ele não atendesse ninguém essa semana, mas pode ter algum funcionário rondando por aí, portanto cubra-se. - Ele sorriu tão largo que seus olhos sorriram junto e suas bochechas grandes ficaram mais sobressalentes.
- Você é imprevisível. - Comentei vestindo o short.
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