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História Something About You (Stony) - Capítulo Único


Escrita por: theosgood

Capítulo 1 - Capítulo Único


Quando Steve Rogers acordou após derrubar o próprio avião no mar, ele sabia que algo estava errado. O jogo passando na rádio estava errado. O cenário não era tão bom assim. Sua fuga apenas serviu para que ele tomasse um choque de realidade gigante. Depois, foi levado para a sala de Nick Fury, onde ficou ouvindo várias explicações enquanto pensava o quanto a ampulheta em cima da mesa era interessante e, ao mesmo tempo, completamente entediante.

Quando o diretor lhe ofereceu uma vaga para trabalhar para SHIELD, o Capitão achou uma boa ideia, mas por enquanto não, obrigado. Ele ainda precisava se adaptar àquele novo mundo. Lhe ofereceram então suporte durante o período de adaptação. Aceito, obrigado. E Steve, inteligente como era, sabia que nada nesse mundo vinha de graça, e ele tinha certeza que 70 anos não haviam mudado isso.

Por isso, no dia em que Nick invadiu sua sala de treinamento - não sua, mas a sala que usava às vezes - ele sabia que era chegada a hora de “pagar” por tudo o que SHIELD estava fazendo por ele. E, claro, com o Tesseract envolvido, era realmente difícil negar.

— Vamos te enviar ao QG da SHIELD. Lá você conhecerá algumas pessoas que ajudarão na localização do Tesseract. Doutor Banner, Agente Coulson, Stark-

— Stark? — era a primeira vez que um nome conhecido por Steve era citado de maneira casual. Pelo que lembrava, Howard já havia morrido. Então…?

— Oh. — a Agente Hill, responsável por lhe passar as informações a respeito da missão para o qual estava sendo mandado, pareceu entender sua hesitação com o nome. — Anthony Stark, ou Tony, como ele prefere. É o filho de Howard.

— Howard teve um filho. — ele afirmou, sem conseguir acreditar muito bem. Howard nunca havia parecido o tipo de homem que desejava construir uma família.

— Capitão, não sei qual tipo de relação você e Howard tinham, mas não tente espelha-la em Tony. Ele e o pai nunca se deram muito bem, então Tony odeia quando os comparam. Isso é, se Stark decidir nos ajudar.

Steve soltou um baixo “hum”, fazendo um sinal para que Hill prosseguisse com as explicações, apesar de sua mente agora estar no fato de que Howard Stark havia tido um filho. Talvez Tony pudesse ser um tipo de link que Steve teria com seu passado. Trabalhar com um Stark ao seu lado seria quase nostálgico, e mesmo que aparentemente os dois não houvessem se dado muito bem, Tony ainda era filho de Howard e Steve mal podia esperar para conhecê-lo.

***

Era difícil acreditar que logo em sua primeira missão Steve estava de volta à Alemanha. Ele havia pensado que apreciaria uma carga de nostalgia, mas não era esse tipo de nostalgia que ele esperava. Mas uma missão era uma missão, e por mais recordações que aquele país pudesse trazer, Steve tinha apenas um foco: capturar Loki.

O que foi muito mais fácil do que ele esperava, graças a chegada do Homem de Ferro. O famoso Tony Stark. Fury não havia dito que o homem apareceria em combate. Pelo que Hill havia falado, Stark entraria em ação apenas para ajudar na localização do Tesseract, em conjunto com Doutor Banner - isso é, se ele aceitasse ajudar, o que aparentemente ainda não havia sido confirmado. Até agora. 

Apenas quando estavam dentro do jato da SHIELD Steve finalmente viu quem era Tony Stark. O homem não mais usava o capacete de sua armadura, o rosto exposto. Era impossível não ver a semelhança física com Howard. Na verdade Tony era praticamente uma cópia do pai. E lá estava a pequena nostalgia de Steve.

Mas aquele ainda era um momento em que Steve precisava focar em sua missão. E a captura de Loki havia sido fácil demais. Alguma coisa deveria estar errada, e apenas essa possibilidade já era o bastante para deixar Steve preocupado. 

— Não gosto disso. — ele falou baixo, para que apenas Tony ouvisse. 

— O que, o Rock of Ages desistindo tão fácil? — Tony usou o mesmo tom de Steve.

— Pelo que eu lembro, não era tão fácil assim. — Steve ignorou a referência que Stark havia feito. Já era algo com o qual estava começando a se acostumar naquele século. Ele ainda teria um pouco de trabalho para entender cada coisa que as pessoas falavam. — Esse cara bate bem.

— Bom, você também está muito bem para um cara velho. Qual o seu segredo, pilates? — Steve encarou Tony, sem entender muito bem onde o homem queria chegar com aquilo. E nem era apenas por mais uma referência que Steve não entendia. — É tipo um exercício de relaxamento. Você deve ter perdido algumas coisas no seu tempo como Capicolé.

Então era aquilo. Era com aquele Stark que Steve Rogers estaria preso pelo decorrer daquela missão. Qualquer idiota diria com certeza que ele teria muito menos nostalgia e mais raiva do que havia esperado.

***

Tony Stark era, de fato, uma pessoa irritante. E Steve realmente havia chegado a duvidar da integridade do homem. Ele realmente não parecia muito alguém que enxergasse além do próprio umbigo. Mas o engenheiro havia provado que realmente era uma pessoa muito mais altruísta do que deixava transparecer. Arriscar a própria vida para salvar uma cidade inteira havia sido uma excelente maneira de fazer com que Steve engolisse as próprias palavras.

E por todos os minutos em que Rogers realmente acreditou que Tony estava morto, ele sentiu raiva de si mesmo. Por ter falado tantas coisas duras para o homem, por ter duvidado de suas intenções, de como ele era, de fato, um excelente herói. Ele não sabia porque durante boa parte do tempo Tony parecia insistir em ser rebelde, insubordinado e um completo idiota, mas já havia ficado claro para Steve que o uniforme do Homem de Ferro não era a única armadura que Tony Stark usava.

Thor havia partido com Loki e o Tesseract de volta para Asgard, onde os três pertenciam. Havia chegado a hora dos Vingadores se separarem. Steve iria oficialmente trabalhar para SHIELD, com um pouco de sorte sempre ao lado de Natasha e quem sabe até mesmo Clint.

— Para onde agora, Capitão? — Stark se aproximou, os óculos de lente vermelha cobrindo o rosto sem porém escondê-lo. 

— Voltar para meu apartamento, esperar a próxima missão da SHIELD… — Steve balançou os ombros e colocou a mão no bolso, um pequeno sorriso cobrindo seu rosto.

— Após a reforma da Torre Stark, futura Torre dos Vingadores, sinta-se a vontade para se mudar. — Tony mexeu no próprio bolso, puxando a chave de seu carro. — Garanto que a acomodação será melhor em… Bom, todos os sentidos, com certeza.

— Você chamou todos os Vingadores? — Steve franziu as sobrancelhas. Aquele era um convite que ele realmente não esperava. 

— Obviamente, Capitão. Infelizmente não teremos o espaço apenas para nós. — Stark piscou e deu uma risadinha. Steve ainda não entendia muito bem o senso de humor do homem. —  Bruce já aceitou o espaço. Não julgue, eu vou manter a maioria das salas e laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, é quase injusto pedir a um cientista que resista a isso. Sem contar as salas de treinamento que eu aposto que você adoraria. 

Steve sorriu, imaginando como seria uma sala de treinamento projetada por Tony Stark exclusivamente para uso dos Vingadores. Era realmente muito tentador, algo que a SHIELD nunca seria capaz de lhe oferecer.

— Irei considerar sua oferta, Stark. — mas Steve sabia que seu tom de voz deixava óbvio que ele iria aceitar. 

— É tudo o que peço, Rogers. — Tony então levantou o braço e acenou para Banner, que logo aproximou-se para se despedir do Capitão e sentar-se no banco de carona do carro de Tony.

Steve apenas observou enquanto o conversível se afastava, levando os dois homens embora, provavelmente para mais e mais pesquisas. Ele então seguiu para sua moto, finalmente pilotando em direção ao seu apartamento, imaginando que em pouco tempo ele teria que fazer suas malas. Viver na Torre dos Vingadores realmente havia soado como uma excelente ideia. 

***

Demorou pouco mais de um mês para que Stark entrasse em contato com Steve novamente, reforçando o convite para que fosse morar na mais nova e totalmente reformada Torre dos Vingadores. Steve não pensou muito nem fingiu “se fazer de difícil”, aceitando o convite imediatamente. Seria bom estar em um local mais acessível, com instalações melhores e maior conforto. 

E ele imaginava que não seria um lugar exatamente simples, afinal havia sido re-projetado pelo próprio Tony Stark, além de ser um local específico para que os heróis mais poderosos da Terra morassem. Steve sabia que deveria esperar muito da tal torre. Mas mesmo assim, ao ver seu interior, ele se permitiu ficar surpreso.

O choque cultural havia sido grande desde que ele acordou neste século, e o maior que tinha tido até o momento havia sido a base da SHIELD. Steve honestamente não acreditava que pudesse se impressionar ainda mais com tecnologia. Mas, claro, ele estava errado. A Torre dos Vingadores era provavelmente o lugar mais contemporâneo que Steve Rogers já havia visto em toda sua vida. Tudo ali gritava “inovação e tecnologia”, além de uma decoração impecável.

— Espero que essa cara de choque seja um sinal positivo. — a chegada de Tony não o surpreendeu por muito pouco. 

Ele virou a cabeça, vendo o engenheiro sorrindo ao seu lado. Tony trajava roupas simples, o reator arc brilhando por baixo da blusa de tecido claro. As mãos dele estavam no bolso da calça jeans escura e lisa. E o cavanhaque, como sempre, perfeitamente aparado. Steve abriu um sorriso, feliz em ver um rosto conhecido.

— É ainda maior do que eu imaginava.

— Foi o que ela disse. — Tony deu uma risadinha, recebendo apenas uma careta confusa do Capitão. O moreno então suspirou e fez um gesto com o mão para que deixasse para lá. — Fico feliz que tenha aceitado o convite, Capitão. O seu quarto é incrível.

— Meu quarto? 

— Eu projetei quartos para todos, que combinem com as coisas que vocês gostam. — Stark balançou os ombros como se tivesse falado a coisa mais simples do mundo. Como se ele não houvesse sido absurdamente prestativo com seus colegas. — Até para o Thor, caso ele venha para a Terra. Nunca se sabe.

— Isso é muito importante, Stark. — Steve, ainda sorrindo, colocou a mão sobre o ombro de Stark. — Obrigado. 

— Isso não é nada. — Tony balançou a mão fazendo pouco caso, delicadamente dispensando o apreço de Steve. — Vem comigo, vou te mostrar o seu quarto. 

De fato o quarto era incrível. Além de uma cama enorme, uma janela gigantesca e uma televisão maior do que Steve achava que existia, seu quarto ainda contava com um cavalete de pintura, algumas telas em branco e uma estante com materiais para pintura, além de um cadernos e alguns materiais para desenho.

A boca de Steve estava aberta, surpreso. Ele não imaginava que Stark soubesse que ele tinha aquela alma de artista, e que desenhar e pintar ainda eram duas de suas grandes paixões. Então ele encarou o moreno, que por sua vez parecia ansioso, como se esperasse que Steve dissesse que aquele quarto era horrível.

— Nós podemos mudar o que você quiser, sabe, eu só achei que-

Steve não o deixou terminar, o puxando para um apertado abraço. Ele precisava abraçar o homem porque apenas palavras nunca seriam capaz de mostrar sua gratidão. Demorou um pouco, mas logo ele sentiu os braços de Stark retribuírem o abraço, dando alguns leves tapinhas nas costas de Steve. Quando os dois homens se separaram Tony parecia levemente avermelhado.

— Obrigado, Stark.

— Pode me chamar só de Tony, Capitão. — o homem suspirou, abrindo um pequeno sorriso. — Se precisar de algo, meu quarto é no andar de cima, próximo ao de Bruce. Natasha  está nesse andar também, a próxima porta. A cozinha está totalmente abastecida, se quiser cozinhar fique à vontade. E eu já coloquei um mapa básico da Torre no seu Starkpad.

— Eu não tenho um Starkpad.

— Bom, agora tem. Está na mesa de cabeceira. Para acessar qualquer um das áreas comuns protegidas é só passar a senha de acesso para o JARVIS. A sua é “Capitão Bonitão”. — o novo sorriso de Stark mostrava os dentes, completamente provocativo.

— Sério mesmo, Tony? — apenas uma sobrancelha de Steve levantou. Qual a dificuldade em deixar apenas “Capitão América” ou mesmo “Steve Rogers”?

— Eu nunca brincaria com um assunto desses, Cap. Bem vindo à Torre dos Vingadores!

Com um sorriso provocativo Tony balançou a mão, despedindo-se de Steve e o deixando sozinho em seu mais novo quarto.

***

Fazia mais ou menos três meses que Steve havia se mudado para a Torre dos Vingadores e ele passava mais tempo dentro dela o que havia imaginado que aconteceria - o Capitão América era chamado apenas para missões muito específicas. Além disso ele ainda não havia se acostumado com algumas coisas.

Por exemplo os sons estranhos que sempre ouvia vindos do quarto de Natasha. Ela não ficava na Torre com muita frequência, era verdade, e quando ficava passava a maior parte do tempo ou na sala de treinamento ou em seu quarto. Steve gostava quando ela ficava na sala de treinamento, permitia que eles aprimorassem muitos seus movimentos. Mas quando ela ficava no quarto, no mesmo corredor do quarto de Steve, sempre havia um ou outro barulho estranho.

— Não tem porque se preocupar, Steve. — Clint balançou os ombros quando Steve comentou sobre Natasha. — Ela nunca para de treinar, acredite. Seja seu corpo ou sua mente.

Era uma resposta absurdamente vaga, mas Steve sabia que era o máximo que ele conseguiria então ele iria aceitar.

Haviam também os constantes sumiços de Clint. Ele era o que menos ficava na Torre. Além das constantes missões para SHIELD - muitas delas com Natasha - o Gavião frequentemente apenas desaparecia por dias, e então voltava como se nada tivesse acontecido. Steve sabia que não deveria perguntar o que acontecia; era um assunto de Clint e ninguém mais.

Banner, por outro lado, quase nunca deixava o prédio. Em compensação também quase nunca deixava o laboratório. Fosse em época mais antiga o homem provavelmente faria diariamente o trajeto biblioteca-laboratório-quarto, mas com um notebook acessível Bruce limitava-se a laboratório-quarto, quase sempre pedindo para que algum robô de Tony levasse almoço e petiscos para o cientista.

O que levava Steve ao principal entre as coisas das quais ele não havia se acostumado. A presença de Tony era a única constante. Claro, ele também passava bastante tempo trancado em sua oficina e com vez ou outra precisava comparecer a alguns eventos das Indústrias Stark - não que ele não tentasse a todo custo evitar e deixar que Pepper cuidasse de tudo. Mesmo assim parecia que Tony sempre estava por perto.

Todos os dias o engenheiro aparecia para tomar café da manhã e almoçar com Steve. Ele sempre falava muito, contando todos os seus projetos e ideias. Steve não entendia metade dos termos que ele usava mas sempre captava a ideia geral, dando uma ou outra opinião de vez em quando. A noite, quando Steve se sentava em frente a televisão e tentava atualizar suas referências populares, Tony sempre se sentava ao seu lado com um Starkpad, fazendo comentários aqui e ali e respondendo tudo o que Steve falava, apesar dos olhos castanhos raramente desviaram da tela de seu aparelho eletrônico. E um pouco mais raramente Tony aparecia em alguns treinos de Steve, apesar de nunca treinar realmente, apenas ficar observando.

— Eu não venho aqui para treinar, Rogers. — o engenheiro disse quando Steve o questionou a respeito do motivo para que Tony nunca treinasse. — Eu apenas quero ver em qual nível minhas máquinas estão comparadas a você. Se eu não dificultar as coisas esse treinamento não tem sentido.

— Mas o treinamento é essencial para batalha, Tony. — Steve mal havia começado seu discurso quando viu Stark revirar os olhos.

— Não, Rogers, nós não vamos ter essa discussão. De novo. — o moreno suspirou e endireitou a coluna, preparando-se para sair da sala. — Você já sabe o que vai assistir hoje a noite?

— Clint disse que preciso assistir Gladiador. Algo assim.

— Ah, esse é bom. Até mais tarde, Capitão. — com um rápido aceno Tony saiu da sala, deixando Steve sozinho.

Era com aquilo que ele não conseguia se acostumar.

Tony estava presente em sua vida todo o tempo, como um verdadeiro amigo. Mas mesmo assim Steve sentia que o homem colocava uma barreira entre eles, como se a aproximação pudesse ser um problema. E Steve realmente não conseguia entender o porquê. 

***

— Hm. — foi a única coisa que Steve conseguiu ouvir além de sua própria tosse.

Virou o rosto rapidamente, vendo o vulto de Tony se aproximar através da cortina de fumaça que agora tomava boa parte da cozinha. O loiro suspirou, derrotado. Não conseguia acreditar que havia esquecido aquela carne no forno por tanto tempo! Estava completamente carbonizada. Nada ali poderia ser salvo.

— Como tentou colocar fogo na cozinha? — Tony finalmente estava perto dele, abanando a mão na frente do próprio rosto para afastar a fumaça. Ele então encontrou a travessa com um pedaço completamente destruído de carne. — Ah, cozinhando. Uau, Steve. 

— Não piora as coisas. — o desânimo era óbvio na voz do Capitão. Agora que a fumaça começava a dissipar ele conseguia vir um resquício de sorriso no rosto de Tony. Não entendia qual parte de tudo aquilo poderia fazê-lo sorrir. — Eu destruí a carne. E a forma, aparentemente.

— O único problema que eu vejo aqui é nossa falta de almoço. — dessa vez Tony realmente riu, fazendo a careta triste de Steve aumentar ainda mais. — Awn, Steve, não fica triste. Vamos, eu te levo para almoçar fora.

A mão de Tony tocou o braço de Steve, dando leves tapinhas de compaixão. Steve encarou o outro homem, vendo que ele parecia não dar a mínima importância para o que tinha sido perdido. Por um lado, ele entendia. Tony substituiria tudo aquilo muito facilmente.

— Você vai chamar o Banner? — era óbvio que, no fim, Steve apenas aceitaria o convite. Era mais fácil e eles não tinham comida.

— O Bruce não tá na Torre. — a resposta de Stark rendeu uma expressão que oscilava entre curiosa e chocada no rosto de Steve. — Algo sobre uma pesquisa em outro país. Ou palestra. Eu não prestei tanta atenção assim, desculpa. Enfim, vamos para o restaurante, eu conheço um excelente.

Steve não esperava realmente que eles fossem a pé, mas eles caminharam até o restaurante. Não era muito longe da Torre, apenas algumas quadras. Quinze a vinte minutos de caminhada, dependendo da velocidade. Um tempo que Rogers sequer via passar ao lado de Tony.

As pessoa encaravam curiosas, mas pouquíssimas se aproximavam para comentar algo ou até mesmo pedir fotos. Aquele seguia sendo o tipo de coisa que causava um certo desconforto em Steve, e era uma das coisas que nunca mudaria. A fama ainda era algo com o qual Steve sentia que dificilmente aprenderia a lidar.

Era legal ver Tony em momentos como aquele. Ele era sempre absurdamente polido, mesmo quando estava sendo duro. Seu treinamento de relações públicas era totalmente impecável e ele sabia como exatamente se movimentar e expressar.

Diferente do que acontecia na rua, dentro do restaurante ninguém parecia se importar tanto com os dois. Tony cumprimentou algumas pessoas e se dirigiu para uma mesa mais afastada ao canto, perto de uma janela que dava para um lindo jardim nos fundos do estabelecimento.

— Boa tarde, senhor Stark. O de sempre? — uma garota jovem mais de sorriso magnífico se aproximou da mesa e sorriu, parecendo realmente feliz. Não era algo que Steve via com frequência então sentiu-se aliviado.

— Boa tarde, Cindy. O de sempre, por favor. E você poderia fazer um grandíssimo favor e trazer um cardápio para meu amigo aqui? — Tony piscou simpático, apontando para Steve.

— Não precisa, pode ser o mesmo para mim. — Steve deu um sorriso amarelo. Mesmo que não tivesse ideia do que se tratava, estava com fome demais para perder tempo procurando pelo prato perfeito.

A garçonete - Cindy - se afastou ainda sustentando o sorriso. Steve olhou ao redor, tentando compreender melhor o ambiente. Confessava que não havia saído muito nesse novo século, pelos mais diversos fatores. Portanto não sabia dizer com certeza se aquele restaurante era chique demais ou não.

No geral, um local excessivamente rebuscado era algo a se esperar de Tony. Era o que pensaria alguém que não conhecesse o engenheiro o bastante. Steve sabia melhor. Sabia que Tony não trocaria o café coado na hora com um salgado simples na padaria da esquina pelo rebuscado café com essências e french toast da cafeteria de franquia mundial.

— Por que você parece assustado? — as sobrancelhas de Tony estavam franzidas, parecendo realmente preocupado. Steve riu, torcendo para conseguir amenizar a situação.

— Eu não estou assustado. Só… É diferente. Não era aqui que eu esperava acabar almoçando hoje.

— Eu também não esperava que tentassem colocar fogo na minha cozinha. — Tony balançou os ombros e abriu um sorriso leve. Steve sentiu o rosto esquentar em vergonha, tanto pelas palavras de seu amigo quanto pela maneira como era encarado. Tony claramente se divertia com toda aquela situação. Em ver Steve tão envergonhado.

— Eu realmente sinto muito pela forma. — a voz de Steve mal passava de um murmúrio. Ele torcia para que seu rosto não estivesse totalmente vermelho mas sabia que não era possível. Era uma das coisas que o soro não havia ajudado-o a superar. — E pela cozinha inteira.

— Tudo bem. Cozinhar é difícil, eu sei. Sou horrível na cozinha, já desisti de tentar. — era um alívio ver que Tony mantinha o tom leve e o ajudava a se sentir mais à vontade.

Era quase engraçado que no início Steve tivesse realmente acreditado que tony pudesse ser alguém egoísta. As manchetes e noticiários nunca tinham ajudado nesse assunto. Stark era sempre tratado como alguém que pensava apenas em si mesmo, que não tinha o mínimo de apreço pelo próximo.

O conhecer era quase uma dádiva.

Ainda parecia que Tony fazia um esforço para não se aproximar demais de ninguém - com exceção de Bruce, os dois eram bastante grudados - mas ainda assim o moreno estava sempre fazendo de tudo para transformar a vida de todos mais leve a prática. Sempre desenvolvendo novas flechas para Clint e nunca o deixando ficar sem vídeo games. Aprimorando as picadas da Viúva e garantindo que Natasha tivesse um local tranquilo para praticar balé. Estudando os treinos de Steve para sempre o manter em forma e fazendo piadas e comentários que o faziam se sentir alocado naquele mundo que muitas vezes ainda parecia totalmente diferente.

— Achei que você fosse bom. — finalmente um sorriso adornou os lábios de Steve. — Cozinhar não é tipo ciência?

— Eu amo essa frase porque ela deveria fazer todo sentido. — os ombros de Tony balançaram enquanto eles viam Cindy se aproximar novamente com dois pratos que pareciam belos e deliciosos. — Mas no fim, cozinhar não tem a ver com ciência, pelo menos não com o tipo de ciência que eu e o Bruce fazemos, por exemplo. — uma rápida pausa para que eles pudessem agradecer o serviço prestado por Cindy antes de Tony continuar: — De qualquer maneira, eu sou um desastre, tudo que tentei fazer até hoje saiu um lixo.

— Engraçado, nunca tinha imaginado o grande Tony Stark fazendo algo que não saísse totalmente perfeito. — a intenção era de que aquilo fosse um elogio. Steve pretendia que fosse um elogio. Mas o sorriso de Tony desfez no mesmo instante, um brilho triste envolvendo seu olhar.

— Nem tudo que eu faço sai perfeito, Cap. Mas agradeço o voto de confiança. — as palavras de Stark eram um sussurro triste que realmente feriram o coração de Steve.

Depois daquilo, o almoço seguiu praticamente em silêncio. Steve queria saber porque suas palavras tinham tido um efeito tão negativo, especialmente porque elas realmente deveriam ser um elogio. Não deveria existir uma leitura ambígua a respeito daquela frase.

Mas quando tentou voltar ao assunto, Tony o cortou rapidamente. Eu sou apenas humano, sabe como é. Era inconclusivo e evasivo. Mas Steve não tento ir além. Novamente Tony estava erguendo aquela barreira entre eles, e Steve tinha a sensação de que ele não a tiraria tão cedo.

***

A parte mais engraçada de toda aquela história era que Steve não estava bravo com Tony por causa da criação de Ultron.

Ele não a aprovava, obviamente. Steve ainda acreditava que construir algo de tamanho magnitude sem informar toda a equipe era perigoso e um tanto prepotente. Não era uma decisão que cabia apenas a Tony ou a Bruce. Era algo que deveria ser discutido.

Ainda assim, não era a criação de Ultron que mais o irritava.

Era o fato de que Tony tinha escondido isso dele.

E mesmo que nos últimos anos cada um deles tivesse passado por problemas grandes e complexos, fosse a nível global ou apenas pessoal, os Vingadores permaneciam juntos, unidos, morando sob o mesmo teto, dividindo as mesmas preocupações. Aos poucos eles tinham se tornado mais do que uma equipe e colegas de trabalho. Eles eram praticamente uma família.

E tinha Tony.

Tony, em especial, havia se tornado uma das partes mais importantes da vida de Steve. A presença de Tony não era mais acidentalmente constante. Estar fisicamente perto dele sempre que possível já havia se tornado proposital porque era bom. Eles riam juntos, abriam o coração, conversavam sobre o time e uma nova série de televisão que estavam assistindo nos momentos de ócio.

Depois que perdeu Bucky, Steve acreditou que nunca mais encontraria ninguém que o fizesse tão bem quanto o melhor amigo, ninguém em que ele pudesse confiar a própria vida da mesma maneira. E isso tinha mudado com Tony.

Por isso machucava tanto que Stark não tivesse lhe contado sobre Ultron. Agora Steve sabia que não era recíproco. Mesmo após tantos meses, a barreira continuava. Tony não queria se aproximar demais de Steve e não confiava nele. Não o bastante. Nada era recíproco.

Aquilo doía, para parafrasear Fury, como um maldito filho da puta. Tal qual uma dor física, a falta de confiança de Tony o atingia diretamente no estômago e o fazia querer gritar. Entender. O que ele tinha feito de tão errado para não merecer a confiança de Tony Stark?

— Pode ficar na cama. Eu fico com o chão. — Steve estava encarando Tony há tempo demais, era a explicação para que o moreno tivesse sugerido aquilo.

— Não. — piscar duas vezes fez Steve sair de seus devaneios. — Você precisa descansar mais. Pode ficar na cama.

A fazenda de Clint não era gigantesca. Laura e o Gavião estavam fazendo um imenso favor apenas por lhes dar um lugar para ficar. Eles precisavam dividir quartos e os Barton tinham sido bons o bastante em deixar as crianças juntas para que eles pudessem ter o quarto para eles.

Steve deveria ter dividido o quarto com Natasha, mas ela e Bruce tinham algumas pendências a serem resolvidas. Não era algo que interessasse a Steve. Então agora estava dividindo o quarto com Tony, que possuía apenas uma cama de casal que honestamente parecia pequena demais.

Depois de mais uma briga entre os dois.

— Não… Não complica isso, por favor. — o suspiro de Tony foi cansado e Steve sabia que o homem não estava tentando ser chato ou algo do tipo.

— Eu não quero complicar. — Steve também suspirou. Por favor, que isso não vire uma briga. Ele não aguentava mais brigar. — Eu não preciso dormir muito, tenho uma resistência maior, eu vou dormir melhor no chão.

Tony balançou a cabeça, parecendo  concordar a contra gosto. Steve sabia que ele não se sentia confortável com isso mas, talvez, assim como Steve, Tony simplesmente estivesse cansado demais para brigar.

— Eu não queria ter brigado. — a voz de Tony não passou de um sussurro e talvez, se Steve não tivesse a audição melhorada, ele nem tivesse ouvido. Mas ouviu, portanto apenas encarou Tony, esperando por um continuação. — Eu só… Queria fazer algo por todos. Tentar proteger vocês. Só isso. Nunca imaginei que pudesse se virar contra nós dessa maneira. Eu não queria ter te decepcionado.

— Tony, eu não-

— É isso que eu sempre faço, né? — Steve foi cortado por Tony. O Capitão observou em silêncio enquanto Stark caminhava até a cama de casal e se sentava, escondendo o rosto entre as mãos para em seguida passá-las pelo próprio cabelo moreno, soltando um suspiro derrotado. — Eu sempre erro e decepciono as pessoas com quem eu me importo. Eu não me arrependo de Ultron, Capitão, eu só me arrependo de como as coisas aconteceram. Eu queria ser perfeito como você imaginava.

A última vez que o coração de Steve pareceu tão pequeno foi quando ele descobriu que havia se passado setenta anos desde a queda de seu avião. Foi a última vez que Steve sentiu-se tão impotente, tão perdido.

Caminhou até a cama e se sentou ao lado de Tony. Stark agora parecia perdido em seus próprios pensamentos, distante. Steve sentiu urgência em tocá-lo e abraçá-lo, mas também sabia que não podia. Não era certo. A barreira de Tony ainda estava ali e o Capitão não podia simplesmente atravessá-la quando bem entendesse. Por mais que parecesse a única coisa certa a se fazer.

— Você não precisa ser perfeito, Tony. — honestamente, Steve não sabia muito bem o que estava falando. Ele só precisava falar. — Ninguém é. Eu- Todos nós te amamos mesmo assim. Só pedimos que você confie em nós.

Por um segundo, tão dolorosamente curto, os olhos de Tony encontraram Steve. Por esse único segundo, os olhos de Tony pareceram cheios de esperança. Mas, nos segundos que seguiram, isso desapareceu. Tudo ficou novamente frio e cansado.

Com um suspiro baixo, o engenheiro pediu licença e alegou que precisava descansar. Steve concordou e, ainda sentindo o coração doendo, deitou sobre os lençóis no chão.

Naquela noite, Steve não dormiu. Ele ficou olhando para o teto. Para Tony. Para o teto. Para Tony. Seu coração ainda estava apertado, sua mente ainda gritava para que ele tomasse alguma atitude, seu corpo inteira ansiava em abraçar Tony, tocá-lo, dizer que tudo ficaria bem. Eles saíram dessa juntos. Mais do que nunca, ele precisava estar perto do moreno. Derrubar a barreira de uma vez por todas.

***

Estar no exército tinha ensinado algumas coisas a Steve. Ser herói apenas reforçou alguns desses ensinamentos. No meio da jornada eles sempre acabariam perdendo alguém. Nunca era possível salvar todos, não importa o quanto eles tentassem. A perda de Pietro ainda seria dolorosa por mais algum tempo, especialmente para Wanda. Mas eles conseguiram lidar.

Em uma nota mais egoísta, agora que estavam em um novo complexo dos Vingadores, Steve sentia que havia perdido algo após a batalha. 

— Então… Você vai mesmo voltar para Malibu? — eles estavam em frente ao carro de Stark. Thor havia acabado de, novamente, voltar para Asgard e Tony tinha acabado de anunciar que não ficaria no complexo, voltaria para sua casa recém-reconstruída em Malibu.

— Acho que vai ser o melhor para todos nós. — Stark sorriu o sorriso mais lindo do mundo, destruindo o que restava do coração de Steve. Ele se perguntou se realmente seria mal visto se ele simplesmente segurasse Tony e o impedisse de ir embora. — Tente não sentir muito minha falta, Cap.

Era como em um dos filmes que ele sempre assistia com Tony. Aquelas palavras despertaram muitas lembranças na mente de Steve. Todas as vezes em que ele e Tony riam juntos, quando Steve pegava no pé do moreno apenas para vê-lo fingir estar cansado. Cada pequena provocação de Stark, que Steve sempre esperou que fossem flertes. A vida que ele havia construído tão baseada em sua relação com Tony, em como era Stark quem ainda parecia lhe segurar e dar forças para continuar mesmo quando tudo parecia frio e vazio.

— Impossível. — as sobrancelhas de Tony ergueram com a resposta de Steve. Ele realmente estava impressionado com essa resposta? Não era possível. Steve sempre tinha sido óbvio demais… Não tinha? — Eu vou sentir sua falta a cada minuto.

— Steve? — engraçado. A convivência tinha ensinado a Steve muitas coisas sobre Tony, vários pequenos detalhes. Por exemplo, naquele momento a risada do moreno era totalmente nervosa. — Não precisa fingir também.

— Eu não estou fingindo. — o passo que ele deu na direção de Tony foi automático. Os olhos de Stark pareciam gigantes, chocados, ansiosos. O estômago de Steve revirou com a antecipação. — Queria que você continuasse aqui. Do meu lado. E…

— Steve, por favor, não… — as palavras de Tony o travaram completamente. Seria possível que ele estivesse prestes a forçar o engenheiro a fazer algo que ele não queria? Claro que sim. Tony nunca tinha demonstrado sentir o mesmo pelo Capitão. — Não faz nada que vá se arrepender depois, tá bom? Eu não vou conseguir conviver com a ideia de que eu poderia ter você, mas…

Steve piscou. Ah.

— Eu não vou me arrepender. — foi apenas o que ele disse antes de finalmente beijar Tony.

Quando Steve Rogers acordou após derrubar o próprio avião no mar, ele sabia que algo estava errado. Depois que perdeu Bucky, Steve acreditou que nunca mais encontraria ninguém que o fizesse tão bem quanto o melhor amigo, ninguém em que ele pudesse confiar a própria vida da mesma maneira.

Mas agora, enquanto beijava Tony, ele entendia o quanto tinha se enganado.

Tudo estava certo. Tony era a pessoa que Steve queria, amava, confiava. Talvez a barreira ainda existisse, mas ela estava caindo. Aos poucos. Enquanto Steve segurava a cintura de Stark, enquanto sentia os braços do moreno ao redor do seu pescoço, tudo fazia sentido novamente. Tudo ficava certo com Tony ao seu lado.

— Steve… — Tony partiu o beijo e se afastou para poder encarar o Capitão. Os braços do engenheiro ainda estavam ao redor do pescoço do loiro, e os olhos castanhos pareciam procurar alguma coisa. Steve não fazia ideia do que Tony tentava encontrar em seu rosto, mas sabia o que queria que Stark achasse. Por isso o Capitão abriu um sorriso doce e confortante. — Assim você dificulta minha volta para Malibu.

— Então não volta. Fica aqui, comigo. — um sorriso repleto de sentimentos cobriu os lábios de Tony e, delicadamente, ele tocou o rosto de Steve, fazendo um leve carinho.

— Obrigado. — Steve não sabia ao certo porque Tony estava agradecendo, mas gostava de como ele sorria. Por isso segurou a cintura de Stark com mais firmeza, o trazendo para mais perto de si e o prendendo em um abraço apertado. — Eu vou voltar logo, prometo.

— Eu vou cobrar.

O mundo pareceu mais colorido quando Tony riu. Steve roubou mais um beijo longo e, não sem antes relutar muito, finalmente o soltou e deixou que Tony entrasse em seu carro. Com um último sorriso, Stark partiu do complexo dos Vingadores.

Steve não sabia como aquela história acabaria. Naquele exato momento, absolutamente nada estava resolvido. Mas ele sabia como se sentia, o que queria. E talvez, se ele tivesse sorte, Tony queria exatamente o mesmo. As barreiras iriam cair de vez, e tudo ficaria perfeito.

E mesmo que sua história tivesse começado de maneira trágica, talvez Steve e Tony finalmente pudessem ter seu final feliz.


Notas Finais


Eu não revisei antes de postar, desculpa os erros :(


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