História Somewhere Only We Know - "I walked across, an empty land...

...I knew the pathway like the back of my hand"

Harry caminhava a passos lentos, sem pressa, por aquele corredor vazio. Já estava tarde, ele deveria estar no seu dormitório, mas esses passeios eram rotina na sua vida, há quase 6 anos.

Escondido sob a capa, ele andava em silêncio, mal olhando o caminho que seus pés faziam. Aquele era um trajeto decorado, seu corpo sabia sozinho onde ir.

Ele sempre andava pelo castelo a noite. Era seu momento de paz, de libertação. Sozinho, no silêncio daqueles corredores, ele deixava seus pensamentos  fluirem, suas saudades se curarem, suas dúvidas serem ou não solucionadas. Ele adorava a companhia dos seus amigos, mas também adorava aqueles momentos sozinho.

Raras eram as noites em que ele não conseguia manter essa rotina.

Nesse momento ele sentiu um arrepio estranho passar pelo seu corpo, e parou de andar. Olhou ao redor, e estava sozinho, aparentemente, mas percebeu que estava em um corredor diferente. Não era o caminho que ele sempre fazia para a torre de astronomia, ou para a biblioteca, ou para a sala desativada do quarto andar. Tentou se localizar, e à sua esquerda viu que passou por uma tapeçaria. Decidiu continuar seu caminho, mas a curiosidade o venceu, e ele voltou para ler a plaquinha que havia embaixo. 

"Barnabas, o Maluco, tenta ensinar balé aos Trolls"

Ele riu baixo, e voltou a caminhar, pensando que talvez ele tinha se distraído tanto, que não percebeu onde ia. Mas assim que deu dois passos, Harry congelou no lugar, vendo uma pessoa andando na sua direção. Ele tentou se acalmar. Estava sob a capa da invisibilidade, ninguém poderia vê-lo, mas mesmo assim grudou o corpo contra a parede, ao lado da tapeçaria. 

A pessoa parecia perdida. Olhava para os lados, aparentemente também tentando se localizar. Se aproximou da mesma tapeçaria, para ler a placa, e então Harry viu quem era. 

Draco Malfoy estava sem uniforme, com uma roupa casual e um moletom preto. Ele cheirava a sabonete, os cabelos estavam úmidos. Devia estar aproveitando um tempo sozinho no banheiro dos monitores, Harry pensou. 

Mas esse banheiro era no quinto andar, Potter também tinha acesso a ele por ser capitão do time de quadribol, e pelo que ele percebeu, estavam alguns andares acima. Pelo visto ele não era o único distraído naquela noite. Ele decidiu seguir em frente , e passou pela tapeçaria pela segunda vez, andando o mais silenciosamente possível. 

Malfoy pareceu ter decidido o mesmo, e seguiu o caminho contrário ao dele. Assim que eles se cruzaram, algo aconteceu, fazendo ambos ofegarem de susto. 

Uma porta enorme, azul, de madeira entalhada, surgiu em frente a tapeçaria. Draco olhou para os lados, e pareceu não perceber que Harry ofegou junto com ele. Talvez o susto estivesse pregando peças em sua mente.

Os dois se adiantaram, Harry tendo a cautela de ficar dois passos atrás de Draco. O loiro estendeu a mão, a pele tão branca que era quase transparente, e parecia flutuar naquela escuridão. Ele tocou a porta, que se abriu suavemente, e ambos entraram.

Parecia um sonho. Harry piscou várias vezes, tentando entender o que estava vendo. Draco parecia chocado também, olhava para os lados e para cima.

- Eu pensei que essa sala era só mais uma lenda de Hogwarts - ele começou a dizer, para si mesmo. Potter o seguia de perto. - Essa só pode ser a sala precisa.

"Sala precisa?!" Harry pensou, consigo mesmo, se questionando se ele havia escutado direito.

- Mas porquê você se abriu assim para mim?! Pelo que eu sempre ouvi, a pessoa precisa passar três vezes em frente ao local da sala, e eu só passei uma vez. E precisa se concentrar com firmeza no objetivo que quer para a sala. Eu nem estava pensando em bosques! - Malfoy continuava devaneando sozinho.

"Pelas minhas contas, eu passei duas vezes. Então, essa tal sala decidiu se abrir para nós dois?! Mas eu também não estava pensando em árvores! Isso é loucura!" Potter continuou perdido em pensamentos.

Eles andaram pela sala, admirando como pareciam estar, na verdade, em um bosque fora do castelo. O teto era um céu estrelado! As constelações brilhavam, se destacando das demais estrelas, e havia uma luz como da lua cheia, mas a fonte dessa luz não era visível. Árvores, arbustos, flores rasteiras. Tudo isso dentro de uma sala! Ambos tentavam entender como tudo isso era possível, e, estranhamente, não sentiam medo de estar ali. 

- Parece que eu encontrei algo que eu nem sabia que estava procurando - Draco disse em voz alta, e Harry sentia a mesma coisa. Mas somente ele se perguntava: "e por que você está aqui, Draco? Por que encontramos essa sala juntos?".

O loiro deitou no chão, que era uma relva baixa, morna ao toque, e Harry fez o mesmo. Ele sentia uma paz inexplicável. Seu coração parecia mais leve do que já esteve, em qualquer outro dia da sua vida.

Malfoy fechou os olhos, e Harry se virou para vê-lo. Era uma visão hipnotizante. Como podia ser, eram inimigos declarados há tantos anos, e agora, pelo menos ele, sentia uma conexão, quase um imã, ligando os dois. Ele não conseguia desviar os olhos. O loiro era uma coisa linda de se ver naquele momento.

Harry nunca admitiria, nem para si mesmo, mas sempre achou Draco atraente. E naquele momento só conseguia reparar em cada detalhe dele. O cabelo loiro quase branco, jogado para trás, os olhos cinza azulados, os ângulos da face perfeitamente alinhados, os lábios avermelhados, a pele branca, e, muito provavelmente, macia. 

- Talvez essa sala seja o meu tormento, ou a solução dos meus problemas. Acho que nunca saberei... - Draco sussurrava, e Harry sentiu um aperto no peito, que ele não soube definir sobre o que era.