Onze leu atentamente a carta escrita do Jim Hopper, mas a largou no chão do quarto, e estava aos prantos com a cara enfiada no travesseiro ao saber pela carta que Mike Wheeler estava namorando uma garota de cabelo de fogo. Lori estava sentada na ponta acariciando as costas de Onze e dizendo coisas como "não fique assim querida". Lori vendo que seu consolo não estava funcionando se levantou devagar e foi até o velho rádio, onde apanhou um fita e a colocou. Uma música agitada começou a tocar, Lori foi para o meio do quarto, e começou a dançar na tentativa de estimular Onze. Ela dançava pra lá e pra cá, mas Onze não tirava a cara do travesseiro, Lori tentou fazer umas cócegas nela, mas ela recusou com certa agressividade. Lori então desligou a música, e se abaixou ao lado da cama.
- Olha pra mim. - Lori diz.
Com olhos vermelhos cheios de lágrimas e rosto molhado, Onze volta seu olhar pra Lori. Ela delicadamente estende sua mão que toca o rosto de Onze, dedos gelados como a neve, que deslizam sobre sua bochecha limpam as lágrimas.
- Não precisa chorar.
- O Mike me abandonou. - Onze diz entre soluços.
- Garotos são assim mesmo, acho que ele só seguiu em frente.
- Seguiu em frente?
- Sim, ele seguiu em frente. Você deveria fazer o mesmo.
Onze fica atenta às palavras de Lori que se levanta, antes dando um beijo em sua testa e indo para a porta.
- Daqui a pouco você vai ter que descer pra o almoço. Lava o rosto, e vem, depois do almoço vamos até o topo da montanha.
Lori sai e fecha porta deixando Onze sozinha no quarto. Onze tem a triste sensação de ter sido trocada, sabe aquele momento em que você lida diretamente com a sensação de tomar um fora? Ou de saber que a pessoa que você ama está beijando outra pessoa? Era exatamente aquilo que Onze estava sentindo. A doce tragédia do amor juvenil.
Mike estava nervoso, ansioso, meio trêmulo, ele sabia que tinha que usar camisinha, e lá estava ele olhando para aqueles pacotes pendurados num canto escondido da mercearia. Steve poderia vender camisinhas em seu estabelecimento? Claro que não. Mas ele vendia, volta e meia aparecia alguém pra comprar, igual drogas. Mike precisava pegar uma escondida, se ele levasse até o caixa onde Steve estava batendo boca com Dustin que queria uma promoção melhor, ele iria saber os planos de Mike para uma noite de Sexo selvagem no sábado.
Mike apanhou a camisinha tão rapido que poderíamos chamar ele de "trombadinha", ele enfiou a camisinha no bolso e caminhou com um pacote de "Nachos Machos" até o balcão.
- Cara, são $3,70 cada um, Você não pode querer simplesmente levar cinco desses por $1,70 cada. - Diz Steve.
- Qual é cara, pela nossa amizade. - Diz Dustin.
Steve bufa lançando uma mecha de seu cabelo para cima, ele fita Dustin meio indignado e diz:
- Só essa vez.
- Yes. - Comemora Dustin.
Steve bipa os cincos sacos de Nachos Machos ao mesmo tempo em que vê Mike se aproximando do balcão com uma cara tão pálida quanto um queijo Minas.
- Que cara é essa Wheeler? - Pergunta Steve.
- Caramba, até parece que ele tá doente. - Diz Will.
- Doente de amor, ele tava dando umas beijocas agora a pouco. - Dustin zomba.
- Cala a boca. - Diz Mike em protesto.
- Sério? - Steve pergunta erguendo sobrancelhas.
- É, ele tá pegando uma novata ruiva. - Diz Lucas.
- Uou. - Diz Steve impressionado. - Aí Wheeler, já deu um tapa no chimango? - Pergunta Steve em voz baixa.
- O que ? - Mike estranha o termo.
- Que nada Harrington! Ele fica no cinco contra um. - Diz Lucas fazendo o sinal da punheta. Todos riem.
- Ele tem uma revista pornô toda melada, eu já vi. - Diz Dustin.
- Cala a boca. - Mike protesta.
- Sabe como é? Molhar o biscoito, escorregar o pato na Lagoa. Uma coisinha que não envolva, você e sua mão.
Mike não entende nada e se revolta saindo do estabelecimento.
- Olha aí, magoaram ele. - Diz Steve.
- Eu não tenho nada a ver com isso. - Diz Lucas erguendo os braços.
- Mike espera aí. - Diz Dustin saindo atrás.
Mike caminha direto pela calçada, está meio irritado por tecnicamente ter sido insultado. Dustin vem atrás aos berros chamando seu nome, mas Mike não quer saber, ele apanha sua bike e some na próxima esquina.
- Caralho. - Diz Dustin.
- Depois a gente se desculpa com ele. - Diz Will.
- Partida de Atari lá em casa? - Dustin indaga.
- Não, valeu, eu vou pra casa da Max, ela me chamou pra mostrar uma coisa nova.
Dustin olha para Lucas meio indignado. Ele se volta para Will que diz:
- Não olha pra mim, minha mãe quer que eu ajude ela a limpar a casa.
- Porra, então eu tô sozinho nessa. - Dustin apanha a bicicleta e sai andando ao lado dela. - Que se foda, não preciso de vocês.
A caminho de Hawkins, Ville e Lucas do futuro estavam ouvindo uma música meio country. Lucas estava com seus olhos vidrados no campo de trigo da fazendo de Folks, ele ainda sentia sua perna latejar, mas a sensação de liberdade era maior agora.
- Esses campos de trigo.
- O que tem eles? - Pergunta Ville.
- Foram queimados pelos nazistas.
- Porque?
- No lugar tem um campo de concentração. Hawkins é um epicentro, é uma cidade dividida entre japoneses e Alemães. Tem uma cerca no meio, divide a cidade. Os japoneses são desumanos.
- Mais que os nazistas?
- Sim, eles estupram qualquer mulher estrangeira, só não podem fazer com alemãs, matam a sangue frio qualquer um que não seja um japonês, menos os alemães.
- Eu lutei na primeira fase de Okinawa, os japas eram muito violentos, mas não sabia que eram a esse ponto. Hoje são muito pacíficos.
- Rum. - Lucas ri. - Eles se julgam superiores.
- O que houve com a China ou as duas coreias?
- Não existem, aliás todos os países da Oceania, Ásia e sudeste asiático são fantoches do império chinês.
- Meu Deus. - Diz Ville perplexo.
Ele recobra a atenção e surge uma dúvida.
- O que houve com Adolf Hitler?
- Sabia que ia perguntar isso. Hitler teve três filhos, dois meninos e uma menina no final dos anos 50, Hans Hitler Braun é o mais velho, hoje ele é o Fuhrer, Ella Hitler Braun é a do meio, uma médica desgraçada, aprendeu coisas com Joseph Mengele, o último, Jonas Hitler, o mais jovem e o que deserdou do império alemão e se uniu a resistência de Davi em Israel fortificada.
- Israel fortificada?
- Um dos últimos lugares que resiste a qualquer império, tanto japonês, quanto alemão ou até italiano. Já tentaram destruir, mas não conseguem, o domo de ferro impede que isso acontece.
- Meu Deus, que mundo horrível.
- Tem um lado bom nisso.
- Qual é?
- Posso concertar as coisas, ao menos um pouco.
Mais tarde, depois de chorar muito, Onze estava subindo uma trilha extensa para o topo da montanha ao lado do lago, Lori ia a frente como se guiasse Onze para o alto. Onze percorreu o seu olhar pelo corpo de Lori que usava um short curto mostrando suas pernas finas e meio longas. A respiração estava ofegante, o ar mais frio, mas a vista era impressionante. Quilômetros de florestas densas que as escondiam dos perigosos agentes do governo. Em certo ponto, elas pararam, ali era o topo.
- Eu venho aqui as vezes. - Diz Lori. - Eu paro, me sento e fico aqui olhando pra tudo isso.
- É lindo. - Diz Onze baixando o olhar meio triste.
Lori percebe a tristeza de sua amiga, e se aproxima dela erguendo seu rosto com a ponta dos dedos. Lori a encara nos olhos e diz:
- Ei, eu tô aqui tá? Eu sou sua amiga, eu sei que garotos são uma droga, mas, você sabe, alguns deles valem a pena, eu sei que você vai encontrar alguém especial pra esquecer esse tal de Wheeler.
Lori deposita seus braços sobre os ombros de Onze ficando de frente pra ela. Onze abaixa o olhar meio envergonhada, mas depois os ergue novamente fitando o olhar sereno de Lori.
- Você pode confiar em mim. - Diz Lori em voz baixa.
Onze sente uma sensação estranha, um turbilhão quente que mexe sua barriga e embaralha seus pensamentos. Elas se olham, já se conhecem a dois anos, mas nunca se olharam daquele jeito. Sutilmente e quase que involuntariamente, Onze ergue suas mãos e toca na cintura de Lori, a segurando. Sentindo essa firmeza no toque, Lori então se inclina devagar para frente, e seus lábios tocam os lábios de Onze.
É frio.
Frio como o gelo, como a neve, mas é sutil. Olhos fechados, segredo guardado. Um beijo, revelado.
O ariano chegou até Hawkins vindo por uma rota alternativa, depois que ele matou quase todos os mineiros deixando apenas 1 para contar a história. Ele retirou um dispositivo que mais se parecia um celular antigo (sabe igual aqueles abre e fecha), ele estendeu um pequena antena e discou um número, depois o levou até a orelha e disse:
- Mein Anführer, ich bin in die Stadt gekommen, ich suche das Mädchen und auch diesen schmutzigen schwarzen Mann. (Meu líder, eu vim para a cidade, estou procurando a garota e esse negro sujo também). - Ele cospe no chão. - Wenn ich sie beide finde, werde ich sie töten. (Quando eu encontrar os dois, os matarei).
O rapaz caminha até uma mercearia a frente, ele adentra ao local, onde há um homem negro de bigode "village people" lendo um jornal qualquer. O rapaz olha por cima do jornal e vê aquele homem branco de cabelo de tigela com uma roupa da SS cheia de símbolos nazistas. Achando estranho, ele se levanta dizendo:
- Posso ajudar amigo?
O Ariano ignora, caminha por um corredor e segue devagar enquanto suas botas fazem um som oco.
- É uma bela fantasia, mas eu recomendaria que você utilizasse ela no alabama ou quem sabe me Nova Orleans em um desfile da Ku Klux Klan.
O Ariano apanha um chocolate qualquer e caminha até o caixa. Ele põe o chocolate sobre o balcão enquanto fita o rapaz que observa as a cruz de ferro no seu peito, a bandana da SS em seu braço.
- Olha cara, se você for algum simpatizante nazista, só pega esse chocolate e da um fora da cidade, você vai ter problemas aqui.
O Ariano sorri, seu sorriso soa como um maléfico deboche.
- O que foi? - Pergunta o rapaz.
- Está cheio de porcos como você no mundo, cabe a mim eliminar todos.
PAAAA. Som de tiro.
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