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História Teenager Sucks - Winrina - Adolescentes são um saco


Escrita por: aestasy

Notas do Autor


MEU DEUS AINDA NÃO É PRA CHORAR PQ TEM MT HISTORIA POR AÍ, a gente se ve nas notas finais! vai ter uns avisos importantes então é melhor ler!

Capítulo 23 - Adolescentes são um saco


 

 

— Aceita uma água? — Mesmo perguntando, Minjeong já enchia o copo do homem. 

— Obrigado — Ele sorriu simpático — Acho que ainda não fomos bem apresentados, meu nome é Kiwoo. 

— Minjeong — Retribui o sorriso. 

Depois de Karina ter corrido igual um raio pela vizinhança, ficou com tanta pena do mais velho que o convidou para entrar, ofereceu uma água, alguma coisa que quebrasse o clima de merda que ficou. Ele se sentou na mesa da cozinha, mas a Kim ficou de pé, apoiada no balcão.

— Acha que ela vai voltar? — Perguntou meio incerto, batendo os dedos no copo.

— Depende — Minjeong suspirou e passou a mão na parte de trás do pescoço, já sabendo que não seria fácil — Quando alguma coisa chateia a Karina ela some. 

— Acha que ela ficou chateada?

A garota sorriu irônica.

— Bem, você passou uns anos fora, né cara — Enfiou as mãos no bolso — É óbvio que ela não curtiu muito a ideia de te ver.

— Não foi porque eu quis — Kiwoo esfregou os dedos no cabelo — Com a Minhee me jogando na justiça ela conseguiu uma ordem de afastamento, e no divorcio ficou com a guarda da Katarina. Eu não podia chegar perto dela sem ser ameaçado com uma arma no meio da cara. 

Minjeong amoleceu a testa franzida, ele parecia realmente triste. Talvez ele fosse de fato um bom pai. 

— Sua ex é louca — Apoiou as mãos no balcão atrás de si — Eu também fui ameaçada por ela com uma arma. 

— Então eu não preciso ficar aqui descrevendo o quão horrível foi essa época da minha vida — Bebeu um gole d'água — Você sentiu na pele, pelo que diz.

— Infelizmente — Sentiu um arrepio passar pela espinha só de lembrar do dia que a Yu mais velha abriu a porta e encontrou ela e Karina na casa — Mas sei lá, você poderia ter tentado se aproximar dela de outras formas. 

— Eu tentei e isso aconteceu — Kiwoo puxou a gola da camisa para o lado, revelando seu ombro com uma cicatriz tão grande que parecia deformar a região — Foi no aniversário de quinze da Katarina, eu jurei que tava sendo cauteloso quando tentei encontrar ela depois da aula, na escola, como eu ia saber que a Minhee ia buscar ela? Sorte a minha que pegou de raspão.

— O que?

— O tiro. 

Minjeong engoliu em seco. 

— Quando eu soube que ela tinha sido presa, fiquei tão feliz, você não tem noção — Ele continuou — Finalmente eu posso tentar me reaproximar da minha filha, sem ser ameaçado — Suspirou triste — Mas parece que eu cheguei tarde demais, ela me odeia. 

— Ela só te odeia porque não te conhece — Minjeong tentou aliviar a barra — Escuta, Kiwoo, a Karina pode ser difícil de lidar. Ela é paranoica, tem problemas de raiva, é mal educada, homofóbica, insolente, boca suja, cheia de traumas, mas ela é uma boa pessoa. 

— Igual a mãe — Kiwoo olhou para a garota — Eu acho que a maçã não cai muito longe do pé. 

— Karina foi criada todos esses anos com a mãe, óbvio que seria uma cópia, mas ela não é um monstro, só precisa saber falar, insistir muito, ela vai começar a entender. 

— Eu queria muito conversar com ela, de pai pra filha — Sorriu triste, encarando o copo — Eu quero muito falar com minha menina. 

Kiwoo era um coração de manteiga, foi o que a Kim percebeu. Total oposto da filha, seria engraçado ver a dinâmica dos dois. Olhando bem, em questão de aparência, eles eram bem semelhantes. Os mesmos olhos grandes, nariz arrebitado, a mesma fuça, ele era muito bonito. 

— Eu posso tentar fazer ela falar com você, mas vai ser só uma vez, você não pode desperdiçar. 

— Você faria isso? — Ele perguntou desacreditado, seu sorriso aumentando.

— Eu fui com sua cara, você parece um cara bom — Cruzou os braços — Eu não quero saber que ela foi maltratada por mais ninguém, ouviu? — Fuzilou ele com os olhos — Karina já teve o suficiente. 

— Muito obrigado! — O homem sorriu largo, levantou-se da mesa e andou até a garota, dando um abraço apertando. Minjeong deu uns tapinhas na sua costa — Eu vou ser eternamente grato por isso — Se afastou, ainda com o sorriso no rosto. 

— Bom, espero que você consiga, ela merece algumas respostas. 

— Sim, ela merece — Suspirou fundo, ainda não acreditando que teria outra chance de ver a filha — Eu vou te passar meu endereço, vocês podem ir qualquer dia nesse horário, é quando eu volto do trabalho. 

— Certo.

— Eu tenho uma pergunta — O homem tombou a cabeça para o lado de leve — Você é o que da Katarina?

— Então... foi como você mesmo disse, a maçã não cai muito longe do pé — Sorriu quadrado, levantando as sobrancelhas. 

(...)

Pela primeira vez procurar Karina não demorou três meses de busca com um cão farejador. Bastou algumas rodas batendo perna pela cidade e quando a noite caiu seu telefone tocou. Era Jungwoo, barista da do clube. 

— Esse capeta tá aqui desde que abrimos — O garoto falava alto, a música de fundo alta demais, o suficiente para Minjeong conseguir ouvir do outro lado da linha. 

— Quem? 

— A Karina.

Fechou os olhos com força, esfregando a mão na testa. 

— Ela estacionou aqui e tá saindo por nada, fora que tá espantando a maioria dos clientes do bar, se você não resolver isso eu vou chamar a polícia. 

— Calma! Já já eu chego — Olhou para o relógio no canto da cozinha — Me dá meia hora. 

— Vinte minutos — Jungwoo respondeu e desligou na sua cara. 

Franziu a testa pensando em tudo no que tinha se metido. Só queria uma namorada e acabou entrelaçada em um caso de família. Boa, Minjeong. 

— Fala, — Levantou a cabeça quando ouviu Sunoo, o garoto tinha acabado de entrar pela porta da frente — Que cara é essa? 

— Ah, muita coisa acontecendo — Enfiou o telefone no bolso — E você? Como tá? 

— A Gi me convidou pra assistir um filme novo que ela pirateou, ela tá aqui?

— Lá no quarto, acho que tá se arrumando, eu acho.

O garoto começou a olhar em volta, cauteloso. 

— E a Karina, tá por aqui? 

— Não, fugiu. 

— Ah — Encarou a amiga — Tá tudo bem? 

— Não poderia estar melhor — Sorriu forçada — O pai dela deu as caras, o viado queria conversar mas ela deu no pé, nem quis saber dele. 

— Uau. Você tem talento pra se meter nessas coisas. 

— É um dom eu acho — Andou até o garoto, dando um tapinho no ombro — É melhor eu ir buscar ela antes que a polícia faça isso. 

— Quer ajuda? — O garoto olhou para trás vendo a amiga chegar até a porta.

Minjeong riu. 

— Como se eu não soubesse lidar com minha namorada sozinha. 

— Acho que você é a única que consegue. 

Sorriu e saiu pela porta da frente, andando ligeiro pela calçada esburacada do bairro. Estava frio, as festas de final de ano se aproximavam, natal, réveillon, passou correndo mas tão lento ao mesmo tempo, era como se tivesse vivido umas três vidas só naquele ano. Enfiou os dedos no casaco preto, o coturno pisando em uma poça d'água, capaz de começar a chover a qualquer momento, precisava acelerar mais ainda o passo. 

Demorou quinze minutos sofridos para chegar até os subúrbios da cidade, perto das pessoas que faziam ponto, lá ficava o clube. Entrou no clube já caminhando em direção ao bar, encontrando um Jungwoo de braços cruzados, impaciente. 

— Cadê ela? — Perguntou. 

O garoto apenas apontou com o queixo para o bar, mas não havia ninguém lá. Olhou para ele confusa, mas não ganhou nenhuma resposta. 

Se aproximou mais do balcão, passando os olhos pela madeira. Foi aí que algo na sua mente apitou. Apoiou as mãos no galpão e impulsionou o corpo, pulando por cima dele, caindo do outro lado, se agachou e lá estava sua dor de cabeça. Karina estava encolhida, pernas dobradas até o peito com ajuda dos braços. Uma visão até incomum vindo da mais velha, frágil e escondida. 

Mas não durou muito tempo, quando percebeu que Minjeong tinha lhe achado, foi rápida em tentar sair de baixo do balcão, pronta para fugir novamente. Nesse tempo, a Kim agarrou o capuz do seu casaco e o puxou de volta, virando a mais velha de frente, derrubando-a em seguida. Se aproximou.

— Kari- 

A mais velha empurrou seu rosto com as duas mãos, afastando. Estava deitada no chão sujo e usava a perna para tentar chutar a namorada. 

— Eu não vou ver aquilo puto! — Disse entredentes, ainda empurrando Minjeong. 

— Se acalma, cacete — Minjeong agarrou os dois braços e os forçou os dobrar, segurando com força para Karina não ter chance de se soltar — Me escuta, eu conversei com ele... — Disse ofegante — Ele quer conversar com você, dá uma chance, por favor.

— Nem fudendo! — Arqueou as costas para se soltar, parecia um animal raivoso — Eu não quero.

— Pode ser uma boa, você não tem nem um pingo de curiosidade de conhecer ele? 

— Não!

— Deixa de ser besta, dá uma chance.

— Você ainda conversa com ele? Como você pode fazer isso? 

— Eu conversei e ele não é tão ruim assim, parece que ele é um bom pai. 

— Um bom pai não iria me abandonar igual ele fez — Encarou os olhos da Kim — Não me faz fazer isso. 

— Usa a cabeça pelo menos uma vez na sua vida, ter ele por perto vai te fazer mais livre, uma pessoa da sua família que realmente vai se importar com você, não vê isso? 

— Ele vai me fazer livre? O cara que me abandonou? 

— Karina, por favor, só uma chanc- Ai!

A mais velha parecia só estar ganhando tempo com aquela conversa, aos poucos, puxava seus braços presos para que as mãos da Kim que os enrolavam estivessem mais perto do seu rosto, foi a deixa perfeita pra morder uma delas.

Minjeong recolheu as mãos e esfregou a parte mordida. Não teve muito tempo para se lamentar, Karina já estava em pé, pronta para pular o galpão do bar e fugir. Bufou de raiva, nem fudendo que iria deixar ela fugir para ter que procurar novamente. 

Ficou em pé e puxou seu braço com força, impedindo de conseguir pular. Karina quase rosnou de raiva com a teimosia da mais nova, virou-se para ficar de frente a ela e agarrou seu colarinho e com força, chutou pela lateral as duas pernas dela com força, fazendo a Kim cair de costas no chão com seu corpo por cima. 

— Eu já falei, eu não vou ver aquele puto — Disse bem perto do rosto da outra. 

Se afastou do corpo caído e se levantou. Do outro lado do bar, prestes a fazer um pedido e inconscientes da situação, estava um casal de homens usando apenas umas tangas, encarando confusos. 

— Cristo — Contorceu o rosto vendo — Não tinha uma mais apertada? — Pulou o galpão passando pelos dois — Se vão usar coisa dessa é melhor se depilar antes — Gritou para que eles pudessem ouvir. 

Minjeong, que estava se recuperando da pancada, finalmente conseguiu se levantar, passando a mão pelas costas. Olhou para o casal na frente no galpão, parecendo ainda mais confusos com outra aparição. Com muita força, conseguiu pular de forma desajeitada pelo galpão. 

— Pela tanga, meninos — Comprimentou para não parecer mal educada. 

Deu uma passada de olho rápida pelo clube para procurar Karina, a achou indo em direção a pista de dança, mas não para se juntar e curtir a música que começou a tocar, e sim para se misturar com os outros e fugir. 

YMCA do Village People estourou no clube, deveria ser noite de discoteca ou algo parecido. 

Andou apressada até a namorada, que olhou para trás, confirmando sua teoria de estar sendo seguida. Minjeong era muito cabeça dura e uma simples pancada não ia derrubar ela, já deveria saber.

No meio da pista, milhares de corpos seminus se esfregando, Minjeong agarrou Karina pelo ombro, puxando com força. 

As duas eram as únicas com roupas casuais no meio de todo mundo.

— Karina, vem, vamos pra casa — Disse entredentes — Isso não é um pedido.

— Pra que? Pra você ir me fazer conversar com ele? Não acredito que fez isso — Encarou séria — Você sabe que eu odeio ele e ainda teve a cara de pau de conversar? 

— Se voce parasse de dar chilique e me ouvisse, porra, iria saber que não é tão ruim quanto pensa. 

— Quem vai me obrigar? Você? 

Minjeong revirou os olhos e agarrou a gola do casaco de Karina.

— Sim, eu — Aproximou o rosto — Com medo? 

O pequeno gesto foi suficiente para atordoar a mais velha por uns segundos, Minjeong usou de oportunidade para empurrar o corpo dela com força em direção ao chão, tentando virá-la para conseguir prender os braços atrás das costas. Karina era astuta e conseguiu impedir que isso acontecesse, agarrou a gola da roupa de Minjeong e virou as posições. 

E assim, as duas ficaram rolando uma por cima da outra pela pista de dança, afastando as pessoas ao redor. 

It's fun to stay at the Y-M-C-A

A música era a trilha sonora da briga idiota e sem querer, abriram uma rodinha, criando um tumulto na pista. Só isso foi o suficiente para os seguranças chegarem, dois homens ridiculamente altos e terno, cada um segurando uma. 

Minjeong era arrastada mas cooperava, Karina teve que ser carregada e foi preciso chamar outro segurança, cada um segurando-a de um lado. 

— Me solta, porra! Eu não vou sair — Se contorcia, tentando se soltar — Eu vou matar vocês dois, viados do caralho. 

— Cala a boca! — Minjeong gritou para a outra, cansada de ouvir seus berros. 

Os seguranças não tiveram nenhuma delicadeza em jogar as duas para fora, seus corpos se amassando no chão de concreto. 

Minjeng se levantou, sentindo uma dor chata percorrer seu corpo, Karina, por outro lado, ainda estava jogada no chão, ofegante. Se aproximou dela com passos lentos, chutando de leve a lateral do seu corpo. 

— Morreu? — Brincou enquanto levava a mão para a região da costela, sentindo uma dor aguda — Acho que vou ter que ligar pra Krystal então. 

— Vai se fuder, Kim — Karina disse ainda deitava no chão, olhos fechados e respiração irregular. 

Minjeong se agachou e conseguiu virar seu corpo para que estivesse de peito para cima. Sentou-se perto da cabeça dela.

— Vem, vamo pra casa — Tirou os cabelos suados dela da testa — Você não comeu nada o dia todo, tá toda fraca. 

Karina abriu um dos olhos, bem de leve, foi o máximo que conseguiu. Olhou para cima, encarando o rosto da Kim. 

— Ainda tô... — Respirou fundo — Puta com tua cara. 

— Não é a primeira vez — Minjeong sorriu fraco — Com ou sem o seu pai aqui, eu nunca vou sair do seu lado. 

— Quer tanto... que eu fale com ele? — A voz de Karina era fraca, a mais nova não sabia se era por cansaço ou tristeza.

— Vai ser bom pra você, me escuta. 

— Quer se livrar de mim? — Abriu os dois olhos, ambos quase se fechando, mas cheios de receio. 

— Se eu quisesse, tinha parado de te seguir na primeira surra que você me deu. 

Ambas riram, mesmo com toda dor espalhando pelo corpo. 

— Minjeong, — Karina esticou a mão, agarrando a manga do casaco da Kim — O que eu e você temos, me faz livre. 

A mais nova encarou com um sorriso no rosto, sentiu seu coração bater na velocidade de asas de beija-flor. Desceu o corpo o suficiente para que seu rosto estivesse próximo ao de Karina, deu um beijo de cabeça para baixo. A mais velha levantou a mão para tentar segurar a nuca da mais nova, tentando aprofundar o beijo que era cheio de vontade e saudade. 

Minjeong se afastou, ambas sorrindo. 

— Vem — Ficou de pé, puxando Karina pela mão — Eu te ajudo. 

Karina, se escorando do seu corpo, conseguiu ficar de pé. Passou o braço dela por cima do seu ombro e agarrou a cintura, firmando o aperto, impedindo que ela caísse. 

— Viados malditos — Karina murmurou com raiva — Me jogaram quase no meio da rua — Franziu a testa com as dores no corpo. 

— É o que acontece quando você arranja briga em um club gay. 

— Acha que eles vão nos proibir de entrar? 

Minjeong deu de ombros. 

— Droga. Eu gosto das músicas que tocam lá. 

As duas voltaram para casa a passos de formiga, andando bem lento ou então Karina começava a se queixar de dor, mas não a queixa bonitinha de fazer beicinho, desferiu alguns tapas na costa da namorada e gritava grosso, sem se importar de estarem andando no meio da calçada, qualquer um que atrevesse a olhar ganharia um dedo do meio da Yu seguido do xingamento mais bem pensado na terra. Karina tinha talento para ofender não importa a idade, segundo ela, não tinha preconceitos. 

Em algum momento, Minjeong concordou em levar Karina nas costas, mas só porque estava cruzando a esquina da rua de sua casa, não iria aguentar, afinal, também estava machucada, mas não tanto quanto a mais velha. Soltou um suspiro aliviado quando chegaram em frente a casa. 

Karina com muito cuidado saiu de suas costas, subindo as escadas da varanda, negando a ajuda da Kim. 

Até que ela tropeçou, e se não fosse por Minjeong segurando por trás, iria descer escada abaixo. 

As duas entraram em casa e já deram de cara com Sunoo, Giselle e Ning na sala assistindo a algum programa qualquer. Os três voltaram a atenção para o casal. 

— Olha só quem resolveu aparecer — Giselle sorriu — Seu papai tava te procurando. 

Karina sorriu e mostrou o dedo do meio. 

— Você tem pai? — Sunoo tombou a cabeça.

— Sim, um viado igual voce. 

— Quem tem pai hoje em dia? — Ning perguntou retoricamente, voltando sua atenção para a Tv. 

— Vem, — Minjeong segurou o braço de Karina — Vamos tomar uma ducha. 

— Urg, não demorem, o banheiro de cima é o único que tem chuveiro — Giselle ainda encarava as duas — Não fiquem de viadagem lá, eu também quero tomar banho. 

— Que péssimo, ainda bem que eu não sou você — Minjeong agarrou a Yu pela cintura — Já planejamos fazer sexo selvagem na banheira — Puxou a mais velha até que chegassem as escadas do segundo andar. 

— Vacas — Giselle se enterrou no sofá, cruzando os braços. 

— Eu nem sabia que a Karina tomava banho — Sunoo voltou sua atenção para a TV. 

— Ela é a garota mais suja dessa cidade — Ning acrescentou, ainda prestando atenção no programa.

No andar de cima, no banheiro, as duas não estavam fazendo nada do que a mais nova afirmou antes. Karina estava sentada no vaso e Minjeong estava agachada na sua frente ajudando tirar suas calças. 

— Ai! — Karina levantou um pouco a bunda para a calça sair — Que merda, eu acho que fodi o joelho. 

— Você acha? — Minjeong se levantou já com a calça da mais velha em mãos. O joelho de Karina, de fato, estava com hematoma — Ele te arremessou com força. 

— Babaca — Karina xingou o segurança, tirando o casaco e jogando pelo chão do banheiro — Ainda volto lá pra dar uma surra nos dois. 

— Aham, vai sim — Minjeong disse irônica, também tirando o casaco em seguida de sua blusa, ficando apenas de sutiã e calça. 

— Eu vou, ele tá marcado comigo — Karina tirou sua regata, levando as mãos atrás da costa para desfazer o sutiã. 

— Você não vai comprar briga com dois seguranças com o dobro da sua altura, eles vão fazer purê de você — Desfez as calças, tirando a roupa íntima também. 

— Foda-se, eu posso acusar eles de homofobia, caralho a quatro, dá pra fazer, né? — Jogou o sutia — Ajuda tirar minha calcinha. 

— Poder você pode, mas não colar ser vítima de homofobia quando você foi homofóbica também — Minjeong se inclinou sobre a outra apenas para conseguir ajudar Karina a se livrar da peça — Quem usa calcinha box hoje em dia?

— A sua mãe  — Karina se contorceu de dor quando sem querer mexer o joelho — Me ajuda — Foi mais uma ordem do que um pedido. 

Minjeong andou até a banheira e desligou o chuveiro, já estava cheia o suficiente. Tirou o sutiã e jogou no chão entrando na banheira logo em seguida, sentando-se na ponta apoiando as costas no porcelanato. Fechou os olhos quando sentiu a água relaxar seus músculos, deu um mergulho rápido para molhar o cabelo, submergindo em seguida, jogando-os para trás. Karina só encarava a namorada tomar banho como se não tivesse ouvido sua ordem. 

Mordeu o interior da bochecha e apoiou uma mão na pia, outra no vaso, erguendo-se com o joelho reto. Com muita força, conseguiu ficar em pé, mancando até a banheira onde Minjeong esfregava o shampoo pelo próprio cabelo. Virou-se de costas de sem pensar duas vezes, jogou seu corpo na água, caindo em cima da mais nova.

— Palhaça — A Kim disse tentando afastar o corpo da Yu.

— Pedi pra me ajudar — Karina continuou sentada de costas para a mais nova, esticando suas pernas dentro da água. 

— Pediu?

— Ped-

Prestes a rebater, Karina foi interrompida quando Minjeong esticou a mão para ligar o chuveiro, a água caindo bem na sua cabeça.

— Para de reclamar, chorona — Pegou um pouco do shampoo e esfregou o cabelo da mais velha. 

— Vai me dar banho mesmo? — Karina fechou um dos olhos quando sentiu um pouco do shampoo cair sobre. 

— Alguém tem que dar — Desceu as mãos para esfregar as costas tensas — Se você mesma não faz isso. 

Karina continuou quieta, apreciando em segredo o gesto da mais nova, fora que era bom demais ter aquelas mãos esfregando suas costas, soltava alguns suspiros baixos de vez em quando. 

Ficaram alguns minutos quietas, apenas o barulho da água se fazendo presente no banheiro. Com Karina sentada entre suas pernas, quase deitando no seu peito, Minjeong queria que aquilo durasse pra sempre. 

Se voltasse um pouco a fita e encontrasse a Minjeong do começo do ano e dissesse que estava namorando aquela criminosa de guerra, não iria acreditar nem por um caralho. E por mais tortas que as coisas tivessem sido, não se arrependia. 

Por Karina valia a pena. 

— Então, — A mais velha começou logo após tirar o shampoo do cabelo, ainda de costas para a namorada — E a faculdade. 

— Tá lá no lugar dela — Brincou e ganhou uma cotovelada. Respirou fundo, tirando o sorriso do rosto — Eu começo ano que vem, ainda temos um tempinho pra curtir. 

— Qual o curso?

— Direito.

— Vai fazer em outra cidade mesmo? 

— Vou, mas eu sempre venho visitar quando conseguir uma chance, pra você não morrer de saudade — Sorriu de canto, falando perto do ouvido da outra.

Karina levantou o braço e deu o dedo do meio. 

— Você tá ok com isso? — A mais velha perguntou — Com a distância — Deitou as costas na frente da Kim, apoiando sua cabeça no ombro dela. 

— Eu não parei pra pensar nisso, na verdade — Minjeong apoiou os braços nas laterais da banheira. 

Silêncio, outra vez. Só o barulho do chuveiro pingando ecoando. 

— Eu penso nisso toda hora — Karina admitiu, olhando para frente. 

Minjeong olhou para baixo, encarando o perfil da outra. 

O cabelo molhado jogado para trás, apenas alguns fios pretos grudados pela testa e pelo pescoço. Desceu mais ainda os olhos, Karina estava de braços cruzados, tapando os seios, mas conseguia ver a tatuagem que ela tinha, a de caveira. Sorriu besta. 

— Acho que distância é o menor dos problemas, comparando com que a gente já passou juntas — Desceu uma das mãos, passando pelo ombro da mais velha, chegando até a tatuagem de caveira, roçando os dedos por ela — Quer dizer, eu enfrentei voce na epoca que tava no armario, distancia não vai me matar.

— Não fode, — Karina revirou os olhos, mas ainda sorria — Voce tentou me matar com uma chave grifo. 

— Você correu atrás da minha prima com um taco.

— Aposto que eu não fui a única pessoa que tentou matar ela. 

— Você roubou um carro, quer mesmo continuar?

— Tá bom, beleza — Karina dei de ombros — Mas é que é diferente agora, antes eu nem queria olhar na tua cara. 

— E agora? — Minjeong sorriu de canto. 

— Eu suporto. 

— Aham, sei — Sentou-se reta, a outra ainda apoiada em si — Eu vou sentir sua falta também, muita. 

Karina virou o rosto, ficar longe da outra era algo que lhe assustava. Minjeong no começo era só uma válvula de escape pra todo inferno que era sua vida, depois passou a ser a chave para sair dela. 

Do contrário de suas outras experiências, não era algo forçado, forjado ou superficial. Era natural, Minjeong mostrou que amar era bom, quando era com a pessoa certa. Tudo com ela era tão fácil, por isso se assustou no começo, não poderia ser tão fácil assim, era o que pensava. Sempre foi complicado a sua vida toda, por que justo quando era em relação a essa magrela as coisas eram simples? Talvez sempre fora apaixonada pela Kim, muito antes de brigarem pela primeira vez. 

Já tinha a visto de longe nos corredores da escola, andando por aí com o típico grupo dos fracassados, aquele sorriso de canto que fez seu coração levar uma agulhada na primeira vez que viu, mesmo que de longe. Ficou com raiva de si mesma, como poderia achar atraente uma zé ninguém como aquela, que vivia na sombra da prima. Seu ódio foi aumentando, não acreditava no que sentia e seu orgulho doía toda vez que lembrava que talvez ela nem soubesse quem era. Por isso começou a implicar com as amigas dela, uma tentativa de chamar atenção, de ser notada, de ser alguém no mundo barulhento da Kim. 

Foi por isso que foi atrás dela no mercadinho, por isso encurralou ela no beco, um jeito estranho e nada convencional de chamar atenção de alguém, mas esse era o único jeito que arranjou de se aproximar dela sem que seus sentimentos fossem reconhecidos. Mas sua fachada não durou muito tempo, cedeu ao desejo que sentia depois de brigarem no banheiro daquele bar. Os sentimentos só se intensificaram depois disso, não conhecia essa sensação nova, tentou reprimir, mas não deu certo, era muito maior que si. 

— Acho que já deu, — Karina cortou o assunto, sentando reta — Vamo antes que sua prima arrombe a porta e expulse nós. Me ajuda. 

Minjeong soltou um riso debochado e chegou mais perto da mais velha, encostando sua frente nas costas dela, apoiou seu queixo no ombro, suas mãos deslizando pela cintura.

— Você quer mesmo que eu acredite que tá com dor no joelho? — Beijou atrás da orelha — Tá é fingindo o tempo todo, só pra ficar se esfregando em mim. 

Karina virou o rosto para a Kim não ver seu sorriso, mordeu o lábio para tentar conter, mas já tinha sido pega. 

— "Me carrega até em casa", "Tira minha calcinha", é só uma desculpa, como se você precisasse de uma pra eu te agarrar .

Minjeong traçou a ponta dos dedos pela pele por baixo da água, uma mão subia e a outra descia entre as pernas da maior. Karina arfou assim que sentiu os dedos longos da Kim esmagarem seu peito, esfregando delicadamente o polegar pelo mamilo, apalpando o seio molhado. 

— Fala pra mim, bonitona, era o que você queria? — Sussurrou ao pé do ouvido da Yu, mordendo o lóbulo. Sorriu quando sentiu ela se contorcer. 

Sua outra mão desceu mais, chegando entre as pernas de Karina, que só de sentir os dedos longos de Minjeong esfregando a região, soltou um gemido arrastado. Já estava cega com o prazer que crescia no seu ventre, fechou os olhos com força, virando a cabeça para o outro lado, enterrando seu nariz no pescoço de Minjeong. 

— Min... — Mordeu o lábio inferior, erguendo a pélvis para gerar mais atrito com os dedos da namorada. 

— Shh — Com a mesma mão que estimulava os seios, Minjeong subiu até segurar a mandíbula da outra, impedindo de abrir — Você tem que ficar quietinha, eu não quero ninguém ouvindo a gente. 

— Filha da puta — Karina disse num murmurando, amando quando a mais nova era ríspida assim. Era bom ser mandada de vez em quando. 

— Quieta — Minjeong enfiou dois dedos na boca da namorada, uma maneira de mantê-la calada. 

Na realidade não tinha nenhum problema se alguém escutasse as duas transando, só gostava de ver a mais velha submissa. 

Inseriu um dedo na entrada apertada, ganhando um murmuro satisfeito de Karina, sentia ela lamber seus dedos. Começou a fazer movimentos rápidos, aproveitando que a cada penetração o interior começava a apertar e ficar mais molhado, logo deslizou outro dedo. Karina se agitava, arqueando a costa, agitando as águas da banheira que vazava pelas laterais. 

— Que tesão ter você assim, amor — Minjeong dizia com a voz rouca perto do seu rosto — Você me aperta tão bem...

Karina fechou os olhos com força, tentando ignorar a conversa suja, ainda não queria gozar, mas se viu à beira do orgasmo quando Minjeong começou a morder, beijar e lamber seu pescoço, sua mão estocando tão rápido seu interior, a palma da mão estimulando seu clitóris. Fechou as coxas inconscientemente, o prazer inundava seu cérebro e seu corpo. As coxas juntas só davam mais atrito entre sua intimidade e a mão rápida da Kim, logo começou a escorrer nos dedos da namorada. 

Minjeong tirou os dedos de sua boca, levando até a própria a mão que antes penetrava a namorada, chupando os dedos. Karina recuperou o fôlego e sentou ereta na banheira, ainda sentindo o corpo mole. 

— Eu quero tomar banho, cacete — Giselle socou a porta do banheiro — Se não saírem logo daí eu vou arrombar. 

— Vamo — Minjeong levantou-se, saindo da banheira e procurando sua toalha, enrolando no corpo — Sua toalha tá ali, consegue sair sozinha?

Karina apenas balançou a cabeça, ainda fraca para responder. 

Riu do estado da namorada, abrindo a porta e indo até o quarto. Giselle estava sentada em um puff, mexendo no telefone. Minjeong secou o corpo com a toalha e pegou o primeiro conjunto de roupa que estava à sua frente no guarda roupa, uma calça xadrez e uma camisa preta do blink-182, provavelmente da prima. 

— Cadê outra? — Giselle perguntou guardando o celular, cruzando os braços. 

— Tá vindo. Aí. 

Apontou para a mais velha que entrou no quarto, apenas a toalha enrolada no seu corpo, expondo suas coxas fartas e seu decote, os cabelos molhados pingando. Sentou-se no beliche de baixo, passando a toalha pelos cabelos. 

— Porra, finalmente — Giselle se levantou — Achei que não iam sair de lá. Era muita sujeira pra tirar? — Encarou Karina, que tinha atenção em Minjeong — Não vai me dizer que vocês vão se comer aqui também? — Revezava o olhar entre a prima e a outra, sentindo atrapalhar a tensão que exalava de ambas. 

— Se não quiser ver, é só se mandar, Uchinaga — Karina encarou a outra de canto de olho, andando em direção a namorada, ficando em pé na sua frente — Ou será que você quer me ver pelada?

— Não fode, nojenta — Giselle revirou os olhos. 

Para sua sorte, saiu do quarto bem a tempo, fechando a porta. Não queria ter pesadelos com sua prima e a namorada transando. 

Ouvindo a porta fechada, Karina - ainda de pé na frente da Kim - segurou seu rosto com a mão, forçando-a olhar em seus olhos. 

— Eu também quero brincar — Sorriu de canto. 

— Tá esperando o que? — Minjeong tombou a cabeça para o lado, apreciando o toque firme no seu rosto. 

— Você tirar essa toalha da sua namorada.

E assim, Minjeong, com apenas um puxão, tirou a toalha que cobria o corpo da Yu, deixando-a a nua em tempo record. Sorriu largo enquanto encarava a figura esbelta. Seu sorriso apenas se desmanchou quando Karina subiu em seu colo e colidiu seus lábios com urgência, lambendo sua boca, mordendo, maltratando, do jeito que gostava. 

Não seria a única a ver estrelas naquela tarde. 

 

(...)

 

— Tem certeza que a gente pode entrar? — Ning perguntou com a sobrancelha franzida — Quer dizer, precisamos provar que somos gays?

Alguns dias depois, em um final de semana de bobeira em casa, Minjeong achou uma boa ideia arrastar todos os amigos para o clube, que era para onde estavam indo agora. Andavam pelas ruas noturnas da cidade em direção a balada, estava de mãos dadas com Karina. Vestia uma calça cintura baixa com uma camisa apertada dentro das calças, sua namorada usava uma blusa justa de alças finas preta, um decote profundo mostrando sua tatuagem. A blusa é curta, deixando a cintura exposta com a calça cintura baixa folgada. 

Giselle que emprestou a blusa, dizendo ela que não aguentava mais ver Karina andando por aí com aquele cropped de caveira. A mesma que andava com os braços interligados com Sunoo de um lado, Ning interligando o outro lado. O garoto tinha um sorriso enorme no rosto, afinal, Giselle tinha topado usar sua sombra de olho. 

— Sim, na entrada você pede pra guarda abaixar as calças e daí você mama — Giselle respondeu irônica. 

— Foi assim que a Karina entrou — Sunoo respondeu rindo. 

— Tá mais pra você — A Yu rebateu. 

Minjeong só conseguia rir do vinco na testa da namorada. 

Quando chegaram perto da balada, Giselle chamou atenção do grupo, perto da porta de entrada estava um cartaz. Em preto e branco, com letras exageradamente grandes dizendo "Proibida entrada" estava a foto de Karina. Uma captura de tela das imagens da câmera de segurança, provavelmente. A foto não tinha uma definição boa, mas quem conhecesse a Yu sabia que era ela. Provavelmente depois do seu último escândalo tinha ficado marcada de entrar. 

Todos com exceção da Yu começaram a rir. 

— Fala sério, me fez parecer feia — Apontou para o cartaz. 

— Eu achei genial — Giselle levantou o celular para tirar uma foto — Vou colar um na porta de casa. 

— Eles tem que se precaver de alguma forma — Minjeong disse assim que se recupetou da crise de riso — Quer dizer, você é gay e tem problemas de raiva, perigo na certa. 

— E como vamos entrar agora? — Ning coçou a cabeça.

— A gente deixa a Karina aqui fora e vai dançar — Virou-se para a dita cuja — A gente te trás uma bebida. 

— Vai engasgar em um-

— Já sei — Minjeong cortou a namorada — Eu conheço outra entrada pelos fundos, sem segurança, só espero que esteja aberta — Segurou firme a mão de Karina — Vamos. 

Todos deram de ombros e seguiram Minjeong.  A entrada secreta não era nada mais nada menos do que escalar até o buraco do duto de ventilação que dava para o banheiro feminino. Era isso ou nada. 

Os arruaceiros já estavam acostumados com esse tipo de coisa, foi mole improvisar escadinha nas costas do Sunoo para cada uma subir por vez, sobrou para Minjeong e Giselle puxarem o garoto depois. O grupo caiu no banheiro feminino como planejado, algumas das mulheres que estavam se maquiando os encararam confusas, sem saber de onde tinham saído. Todos - com exceção de Karina - ignoraram. A Yu encarava de volta e ainda ameaçava ir para cima, por sorte tinha Minjeong ali para lhe puxar pelo braço. 

O clube estava estourado, casa lotada, Poker face tocava tão alto que fazia o chão tremer, Ning já correu para pista de dança, Giselle por trás segurando seus ombros fazendo uma espécie de trenzinho, Sunoo se juntou as duas, o casal os seguiu pelo multidão, as mãos nunca se soltando. 

Chegaram perto da cabine do DJ, tudo com muito esforço, hoje estava mais cheio que o normal. As luzes piscavam, as pulseiras e colares neon brilhavam quando o breu predominava, não estava tão escuro, ainda conseguiam enxergar os rostos. 

Karina, por incrível que pareça, estava se soltando para dançar, nada de extravagante, balançava o corpo no ritmo da música, ao contrário de todos ao seu redor que estavam quase se dobrando no chão. 

Minjeong não era besta, percebeu que a namorada estava acanhada de se soltar, por um lado achava besteira, por outro até entendia. Karina nunca tinha feito algo que realmente gostava até lhe conhecer. 

Virou-se de costas as encostando na frente da mais velha, nem foi preciso guiar as mãos dela até sua cintura, foram por instinto. Agarrou com força, pressionando mais ainda a bunda da Kim da sua pélvis. Minjeong começou a dançar, aproveitando para grudar mais ainda os corpos - como se fosse fisicamente possível. 

Ergueu uma das mãos livres até chegar na nuca de Karina, passando os dedos por lá, já sentia o arrepio na pele dela. Sorriu largo quando sentiu uma das mãos dela tirar sua blusa de dentro da calça, passando por baixo de sua camisa, amassando sua cintura. 

Virou o rosto para o lado, beijando o queixo da Yu, essa que não aguentou a sensação dos lábios macios na pele e também virou o rosto, colidindo seus lábios. 

Foi um beijo lento, explorando cada canto dos lábios da outra, como se já não tivessem decorado cada pedacinho de seus corpos. 

Perderam a conta de quanto tempo ficaram grudadas, estavam dançando e aproveitando o calor uma da outra, Minjeong só separou os corpos para virar-se de frente para a mais velha, agarrando a sua cintura e puxando para si, beijando-a mais uma vez. 

Karina agarrou seu rosto, retribuindo o beijo, passando o polegar pelas maçãs do rosto da Kim, lugar que secretamente amava beijar. Se separaram no final da música, ansiosas para ouvir a próxima, mas assim que tocou, Karina franziu a testa. 

You are my fire.

— Backstreet boys? — Sua voz era de pura indignação — É sério? 

— O que você tem contra eles? — Minjeong arqueou a sobrancelha. 

— Tudo. Aqui não é lugar pra tocar essas coisas, você toca isso em uma formatura ou no aniversário de tia. 

— Fala sério, cinco caras dançando, todos bem arrumadinhos — Deu de ombros — Pra mim isso é bem gay. A galera parece ter gostado — Olhou em volta, todos cantavam energizados, principalmente Giselle, ela era uma grande fã do grupo — Olha só. 

— Sua prima não conta, ela não é gay. 

— Deixa de ser mal humorada, canta junto — Minjeong segurou os ombros da namorada, sorrindo enquanto cantarolava — But we — Chacoalhou os ombros, incentivando a cantar — Are two worlds, apart.

Karina revirou os olhos, desviando da Kim, já mordia o interior da bochecha para evitar de rir com o jeito besta, se encarasse um pouco mais iria ceder. E também não era nada mal ouvir ela cantar. 

That i want it that way. 

Quando o refrão estourou mal dava para ouvir a música que saía da caixa de som, um coro de gays cantando em uníssono som. 

Minjeong chacoalhava mais a namorada, querendo ganhar sua atenção, e quando conseguiu, continuou cantando. 

Tell me why! — A Kim praticamente gritava, ganhando um riso da mais velha — Ain’t nothin’ but a mistake. Tell me why.

I never wanna hear you say! — Foi a vez de Karina gritar, fechando os olhos, colocando toda sua energia na voz. 

I want it that way!

As duas não se aguentaram, começaram a gargalhar. Além de estarem cantando extremamente alto, as vozes não eram lá tão afinadas quando se gritava. Foi uma experiência única. 

— Não gosta é o caralho — Minjeong disse ao pé do ouvido da outra — Aposto que você tem todas deles no seu cd.  

— Até parece. 

— Caralho! — As duas viraram sua atenção para três corpos colidindo contra os seus, Giselle gritava animada. 

Sunoo, Giselle e Ning estavam interligados com os braços ao redor do ombro de cada um. A chinesa logo passou os braços pelos ombros da Kim, que passou pelos da namorada. Os cinco no meio da pista pulando ao mesmo tempo, tentando não perder a voz de tão alto que cantavam. 

Foi a vez de Let’s get it started do Black Eyes Peas tirar todos do chão, mesmo cansados, ninguém iria resistir a um clássico daqueles. Estavam em uma bolha de euforia, pulando, rindo, curtindo mais do que nunca. 

Ning sorriu enquanto cantava, e em algum momento achou que seria uma boa ideia tirar o objeto que estava no cós da calça e balançar no ar. Tirou a mão que segurava o ombro da Kim e tirou a arma da calça, erguendo no ar, balançando. 

Minjeng - ainda pulando - arregalou os olhos quando viu o que ela tinha em mãos, não parecia ter sido a única pois sentiu a mão de Karina cobrir a sua boca, a Yu sabia que estava prestes a soltar um berro, era melhor não chamar atenção. 

Mas foi tudo em vão, quando Giselle estava prestes a erguer a mão para abaixar o braço da amiga, ouviram um grito horrorizado pela pista. 

— Ela vai atirar! — Alguma voz aguda gritou, e o efeito manada começou dali, todos na pista entraram em pânico. 

Todos começaram a sair correndo, tropeçando em outras pessoas, muitos caindo pelo chão no processo. 

Minjeong tomou a arma da mão da amiga e jogou no chão, chutando em seguida como se fosse uma bola de futebol. Bom, pelo menos agora tinham se livrado dela. Não foi preciso dizer nada, o instinto natural dos cinco os fizeram correr até a saída, se misturando na multidão para não levantar suspeitas. 

No meio do pânico, o DJ vazou tão rápido que deixou a música tocando no volume máximo, uma cena bem cômica. 

Prestes a fugirem de uma bela encrenca, na saída, Karina encontrou um dos seguranças que tinham lhe jogado de cara no asfalto outro dia. Não iria perder essa chance. 

Se separou do grupo, e mesmo ouvindo os outros gritarem por seu nome, ignorou e foi em direção ao segurança. O homem estava tão ocupado em tentar manter a calma na saída que nem notou a presença da garota, estava um caos afinal. Só percebeu quando sentiu um punho firme se chocar contra sua mandíbula, forçando a virar a cara. O impacto foi forte e o soco tão certeiro fizeram se desequilibrar, caindo de costas contra a parede de tijolos atrás de si. 

Ergueu os olhos e franziu a testa quando reconheceu de cara a garota na sua frente. 

— Avisa teu amigo que o dele tá guardado — Karina disse com um sorriso convencido. 

Apesar de sua mão estar doendo horrores, a cara do infeliz era dura. 

— Você não pode entrar aqui! — Ficou em pé. 

— Vem logo! — Minjeong puxou a namorada pelo braço, tirando-a da frente do segurança. 

— Ei! — O homem seguiu com os olhos o grupinho se afastar correndo pelas ruas. Começou a segui-los também — Parados! 

Mesmo de fora, o som da música era tão alto que dava para ouvir. 

Let's get it started.

Let's get it started in here, yeah.

Os cinco deram um gás assim que perceberam que estavam sendo seguidos, começaram a correr espalhados pela rua, hora ou outra quase tropeçando em alguma garrafa de cerveja e pulando uma lata de lixo.

And runnin', runnin', and runnin', runnin'.

Quando a música começou a ficar mais distante, desaceleraram os passos olhando cautelosamente para trás. A barra estava limpa. 

Os cinco pararam de andar para recuperar o fôlego, a adrenalina os fez correr como loucos. Jamais imaginavam que eram capazes disso. 

— Bom, — Ning disse entre arfadas, as mãos apoiando nos joelhos — Pelo visto não é só a Karina que vai ser proibida de entrar na balada. 

 

(...)
 

Após duas semana do episódio na balada, todos concordaram em ficar em casa pelo resto do mês, apenas por precaução. Isso era, nada de baladas, nada de bares, iriam virar caseiros. 

Apesar de ter sido ideia sua, Giselle já quis quebrar o acordo depois de dois dias em casa, segundo ela, precisa sair urgente pois sua vida social importava mais do que a de todos ali. 

Conseguiram convencer ela a ficar, e assim seguiram. Por incrível que pareça, conviver na casa das Kim deu super certo para Karina, que parecia criar afinidade com cada uma. Jogava baralho com Hyoyeon e Sooyoung, ajudava Yuri com os alguns trabalhos chatos como trocar lâmpada, consertar a pia quebrada e etc. 

Se dava bem com a sogra também, apesar de Karina ainda se sentir um pouco sem graça perto da mulher mais velha. Irene gostou da cunhada desde que rebateu Krystal, então estava ótimo. 

Mas a maior surpresa foi a amizade entre Giselle e Karina. Minjeong não sabia dizer ao certo quando começou, mas se surpreendeu ao descer para a cozinha e encontrar as duas rindo enquanto preparavam algo pra comer. 

Era como se Karina estivesse sempre ali, fazendo parte da família. 

Mas Minjeong ainda precisava cumprir sua promessa, por isso estava ao lado de Karina, ambas paradas na porta da frente de uma casa classe média num bairro bacana. 

— Eu tenho mesmo que fazer isso? — Karina quase batia o pé no chão de birra. 

— Tem, é seu pai — Minjeong criou tocou a campainha.

— Foda-se, voce sabe que eu nem conheço ele. Isso é esquisito pra caralho, tipo, voce tá me levando pra me encontrar com um homem de meia idade — Fez uma cara de nojo. 

— Ele só quer conversar com você. 

— Poderia ter escrito uma carta, sei lá. 

— Como se você soubesse ler. 

Karina estava prestes a rebater o comentário quando a porta foi aberta, mas não foi Kiwoo que apareceu. 

Uma garota na casa dos treze anos, relativamente alta para sua idade, sobrancelhas grossas, cabelos pretos lisos e longos as atendeu. Usava uma regata branca por baixo de um casaco fino jeans, um short e tênis preto, olhava para as duas com a testa franzida. 

— Viu só, ele não mora aqui, vamo embora — Karina deu as costas, pronta para ir embora. 

— Boa tarde —Minjeong sorriu — Kiwoo mora aqui? 

A menina não disse nada pois uma voz masculina ecoou dentro da casa. 

— Minji, quem é na porta? — O homem apareceu atrás da garota, mas não era Kiwoo — Boa tarde — Comprimentou simpático. 

— Olá, estamos aqui pra falar com o Kiwoo. 

— Ai meu deus, você deve ser a Minjeong, ele avisou que você viria, pode entrar — O homem colocou as mãos nos ombros da tal Minji, tirando-a do caminho para as duas conseguirem entrar. Olhando agora, os dois se pareciam muito. 

— Obrigada — Minjeong entrou — Essa é a Karina — Apontou para a namorada que lhe seguia. 

— Ah sim, — O homem disse admirado, fechando a porta — Você se parece muito com seu pai. 

Karina apenas acenou com a cabeça, mudando o peso de uma perna para outra. 

— Desculpem, eu não me apresentei, meu nome é Doyoon, sou marido do Kiwoo, aquela ali é a Minji — Apontou para a jovem que se sentava no sofá da sala, nunca tirando os olhos das duas — Minha filha — Riu — Do meu primeiro casamento. 

— É um prazer — Minjeong sorriu simpática. 

— Por que vocês gays gostam de fazer filhos? — Karina arqueou uma sobrancelhas — Quer dizer, essa não é a “graça”? Não fazer filho? 

— Karina… — Minjeong suspirou fundo, descrente do que tinha ouvido.  

— Olá — Kiwoo surgiu do andar de cima, descendo as escadas —  Minjeong, que alegria te ver.

— É bom te ver também. 

Karina cruzou os braços, ficando tensa. 

O pai e a filha trocaram olhares, depois de anos sem se verem. Kiwoo era coração de manteiga e tinha vontade de chorar, sua garotinha tinha crescido e agora era uma mulher feita, sua filhinha que foi brutalmente arrancada de si.

—  É… —  Doyoon limpou a garganta — Minji, pode terminar aquela tarefa que eu te pedi mais cedo querida? 

A garota apenas balançou a cabeça, saindo de vista assim que se levantou do sofá e foi até a porta dos fundos. 

—  Minjeng, aceita um café ou uma água? — Virou-se para a Kim. 

—  Água tá ótimo —  Sorriu e seguiu o homem mais velho até a cozinha deixando pai e filha na sala. 

O clima era estranho e desconfortável. Karina estava petrificada no canto da sala, braços cruzados e sequer olhava para o pai. Kiwoo sentou-se no sofá, sorrindo sem mostrar os dentes. 

— Você cresceu — Disse orgulhoso — Eu sempre soube que iria ser alta — Seu sorriso sumiu aos poucos quando não recebeu resposta alguma — Katarina, eu-

— Para de me chamar assim — Foi a primeira vez que falou com ele em anos — Eu odeio que me chamem assim. 

—  Odeia? —  Perguntou triste, foi ele quem havia escolhido o nome — Por quê? Desde quando?

Finalmente olhou para o pai. 

— Desde que você foi embora. 

Kiwoo engoliu o caroço da garganta, não podia chorar, pelo menos não agora. 

— Eu não fui embora, eu fui expulso de casa. 

— Você precisava mesmo fazer aquilo? —  Karina franziu a testa com raiva, sua voz cheia de ressentimentos —  Trair a sua mulher? Ok, foda-se, ela é uma vadia, mas ao menos pensou em mim? Que se ela descobrisse, isso iria me afetar? 

—  Era tudo que eu mais pensava, eu aguentei anos naquele inferno de casamento pela minha filha, por você. Eu não fui cuidadoso o suficiente com minhas ações, ela descobriu e me tirou você —  Encarou a filha, os olhos cheios de tristeza —  Eu tentei por anos, décadas ser um marido bom suficiente, mas nunca podemos correr de quem realmente somos, não é? 

Karina engoliu seco, sabia muito bem do que ele estava falando. 

—  Eu deveria ter sido forte, por você —  Passou as mãos pelo próprio cabelo — Você merecia um pai normal, não uma bicha de merda que mentia pra todo mundo —  Suspirou fundo, tentando conter as lagrimas — Eu só queria ser o melhor pai, era tudo que eu queria. Mas até nisso eu falhei — Sorriu triste, já sentindo os olhos ficarem úmidos — Eu entendo que você me odeie, mas eu só queria uma chance de fazer o certo — Voltou a olhar pra filha —  Se você me deixar ser o pai que sempre mereceu, claro. 

Karina já tinha desviado os olhos dos dele fazia tempo, mordia o interior da bochecha com força. 

— Eu tentei chegar perto de você durante esses anos, mas com a Minhee por perto era quase impossível. Os presentes de aniversário que eu mandei eram todos devolvidos, isso quando ela não os jogava fora — Suspirou fundo — Eu só quero tentar recuperar os momentos que ela arrancou de nós… — Olhou para as próprias mãos que estavam no seu colo. 

— Eu não sou mais uma criança, sei me virar — Ainda não encarava o pai. 

— Eu sei disso, você é a mais durona de todas — Sorriu — Eu ouvi muitas histórias sobre você.  

—  Crescer com uma psicótica te criando não te deixa uma princesa. 

— Eu sinto muito por isso, você deve ter passado por coisas horríveis, e eu não estava lá. 

— É, — Engoliu em seco de novo — Ninguém tava. 

— Eu imagino as coisas tenebrosas que ela deve ter feito, e mesmo assim, olha só pra você —  Sorriu sem mostrar os dentes — Foi a única pessoa que conseguiu por ela no lugar que merecia. Você cresceu tanto, filha — Sorriu largo quando os olhos de Karina encontraram o seu — Eu tenho muito orgulho de você, Katarina, de quem você é.

Mordeu o lábio inferior assim que ouviu aquelas palavras. Nunca tinha ouvido nada assim antes, e por algum motivo, aquelas palavras mexeram com um pedaço de si mesma que achou que nunca mais iria sentir. 

Parece que tinha voltado a ser uma criança. 

 

(...)

 

Os dias se passam mais rápido quando você não quer que passe, era assim que Karina achava. 

Aquele foi o primeiro natal que não passou jogada em um bar beijando algum garoto estranho. Sempre via os bobocas falando que natal era sobre familia e essas merdas, mas todos os seus natais tinham sido uma porra, logo aquilo era mentira, tudo conversa pra vender cartãos e fazer filmes.

Mas pela primeira vez tinha uma família para comemorar junto. As Kim não eram perfeitas, longe disso. Eram barulhentas, pinguças, desorganizadas e caóticas, por isso se encaixou tão bem ali. A casa era pequena, mas sempre cheia, sempre colorida e com vida. 

Isso era ter uma família, então. Sentir-se bem no lugar onde morava. 

O natal foi basicamente jantar todas juntas e logo após ir para o meio fio soltar alguns fogos ilegais antes que a polícia aparecesse e acabasse com a festa. 

E é claro que tudo só melhorava quando estava ao lado da pessoa que amava. Preferia morrer do que contar para a Kim, mas cada dia que passava, sentia-se mais apaixonada por ela. Poderia ser o jeito besta pra fazer piadas ruins, ou como sempre agarrava sua mão em qualquer oportunidade, mas eram uma série de pequenos atos que deixavam as portas do seu coração escancaradas para a mais nova. 

Não mentiu quando disse que estava de quatro para ela. 

Na manhã de natal, acordou com um peso familiar por cima do seu estômago. Abriu os olhos e sorriu quando viu a mais nova adormecida, braço agarrando sua cintura e o rosto muito perto do seu. 

Estava encrencada, iria sentir falta dessa idiota como uma louca. 

Sentiu uma urgência de ir ao banheiro, e com todo cuidado do mundo, tirou o braço da namorada de cima de sua barriga. Ambas estavam peladas, haviam transado horrores noite passada que até Giselle resolveu ir dormir no sofá. 

Se sentou na cama procurando sua calcinha, sutiã e alguma peça de roupa para cobrir o corpo, estava frio lá fora. Ficou em pé e vestiu as peças íntimas, colocou uma calça xadrez - provavelmente de Minjeng - e uma camisa de rock que estava jogada pelo chão. 

Andou até o banheiro que ficava ao lado do quarto e assim que abriu a porta tomou um susto quando encontrou a figura de Ning desmaiada lá, umas dez latinhas de cerveja amassadas ao redor do corpo jogado, babando no chão. 

Nem a pau iria se dar o trabalho de levantar uma porre, por isso desceu as escadas e para usar o banheiro de baixo, aquele que tinha uma marca de bala na porta. Após aliviar sua bexiga e jogar uma água no rosto, saiu e foi em direção a cozinha. 

Abriu a porta da geladeira e bebeu uma água direto do gargalo da garrafa, limpando a boca com as costas da mão. 

A casa estava uma bagunça, tudo fora do lugar, milhares de latinhas de cerveja espalhadas pelo chão, mesa e em qualquer lugar que tivesse espaço. A decoração lutava pra ficar viva, mas devido a farra de ontem estava quase toda destruída, fora que alguém desenhou um pinto na cara do cartaz do papai noel. 

Já que tinha acordado cedo, poderia fazer algo legal para sua namorada, um café da manhã talvez, Minjeng comia igual um pedreiro. Seria algo bacana da sua parte, e poderia conviver com as piadinhas sobre ser uma bichinha pela namorada. 

Andou até a porta da frente, desviando dos corpos jogados pelo chão - Sooyoung e Hyoyeon. Após sair da casa, desceu as escadas da varanda e começou a caminhada até o mercadinho da esquina. Até ver um carro parado na calçada. 

Não qualquer carro, uma viatura. 

Era ela, Minhee. 

Estava apoiada na lateral do carro, de braços cruzados, encarando sua figura com uma expressão amarga.

Sentiu seu corpo paralisar. Não, não, dessa vez não iria deixar o medo vencer, engoliu em seco e continuou a andar.

— Mora aqui agora? —  A outra mulher perguntou. 

— Te interessa? —  Chegou mais perto dela, ficando alguns passos de distância. 

— Urg, — Mordeu o interior da bochecha, encarando a figura mais nova com desdém — Olha só pra você, virou mesmo a puta daquela sapatão.

—  Veio fazer o que aqui? —  Perguntou já no limite de sua paciência — Me matar? Se quiser, aproveita que não tem ninguém na rua e vai logo. Eu prefiro morrer do que ter que escutar sua voz. 

— Eu deveria ter atirado naquela merdinha quando tive a oportunidade — Se desencostou do carro, chegando mais perto da mais nova — Em vocês duas. 

— Você só fala, Minhee — Sorriu irônica — E não faz nada. 

A fala provocante parecia ter ativado a raiva da mulher. Ela tirou a arma do cós e pressionou contra o queixo da filha, forçando o objeto frio de metal na região, fazendo-a inclinar a cabeça um pouco para cima, mas seus olhos nunca se desconectaram. 

— Vai, atira. 

Silêncio predominava, apenas uma troca intensa de olhares acontecia. 

— Que foi? Vai me dizer que acabou a bala — Sorriu de canto, provocando mais a ira da mãe. 

Antes de falar qualquer coisa, as duas viraram a cabeça quando outro carro estacionou atrás da viatura. De dentro dele saiu Kiwoo.

— Sai de perto dela — Disse furioso, marchando em direção às duas — Sai de perto da minha filha. 

— Olha só, —  Foi a vez de Minhee sorri irônica — É o marido do ano. 

— Se afasta, Minhee — Kiwoo ficou ao lado da filha. 

— Então você quer voltar a fazer o papel de pai? Ou será que quer ser a mãe? —  Abaixou a arma, se afastando dos dois — Que porra voce tá fazendo aqui? 

— Cuidando da minha filha, deixando ela bem longe de você. 

— Agora ela é sua filha? 

— Ela sempre foi. 

Mais uma vez, silêncio.

— Você nunca esteve lá por ela. Eu sou a mãe dela, eu que criei ela sozinha. 

— Criou porra nenhuma — Kiwoo praticamente cuspiu as palavras. Se moveu para ficar na frente da filha — Ela se criou sozinha, ela nunca precisou de você pra nada. 

— Se você falar isso mais uma vez… —  A mulher levantou a arma, apontando em direção ao ex-marido. 

— Você não me assusta mais, Minhee. Já tá ferrada na justiça, se eu for te denunciar por ameaçar dois civis indefesos, eu garanto que você não sai mais da prisão. 

A mulher abaixou a arma. 

— Vai embora, —  Kiwoo chegou mais perto — E dessa vez, é você que não pode nem sonhar em chegar perto da Karina. 

Minhee continuou encarando o homem, conhecia ele tempo suficiente para saber que ele não estava blefando. Era real. E agora, já não tinha mais a única coisa que lhe favorecia: o medo.

Suspirou fundo e guardou a arma, entrando na viatura em seguida. Os dois seguiram com os olhos atentos ela indo embora, talvez pra sempre, talvez não. 

Nunca saberiam se realmente estavam seguros. Teriam que conviver com isso. 

— Você tá bem? —  Kiwoo virou-se pra filha, os olhos preocupados escaneando seu rosto.

— Tô, relaxa — Karina respondeu meio sem jeito — Sabia que ela viria me procurar? 

— Não. Eu vim te desejar feliz natal e vi a viatura, só pensei que poderia ser ela —  O homem suspirou frustrado — Sinto muito por chegar atrasado. 

— Não é sua culpa, além do mais você finalmente peitou ela — Deu um sorriso discreto para o pai.

— É, tô ficando bom nisso, eu acho — Sorriu todo sem jeito, coçando a nuca — Aprendendo com você — Andou em direção ao próprio carro, tirou de lá uma embalagem e andou até a filha — O Doyoon fez pra você, ele não pode vir, a Minji pegou um resfriado e tá de cama.

Karina olhou para a embalagem, um bolo decorado no estilo natalino com um papai noel deveras gordo desenhado com glacê. Doyoon era padeiro, graças a esse dote Karina ganhava deveras delícias pra experimentar.

A relação com o seu pai tinha melhorado também, não era mil maravilhas, mas era um começo. Ele até tinha oferecido um emprego de meio período no bar que era dono, quando contou a notícia, Giselle implorou para aceitar e pediu pra que conversasse com o pai para dar uma migalha de emprego pra ela também. As coisas aos poucos iam se ajustando. 

— Valeu — Pegou o bolo.

— Ele mandou um abraço pra Minjeong também, por falar nisso, onde está ela? 

— Dormindo de bunda pra cima, eu vou acordar ela pra gente comer esse bolo. 

— Ótima ideia — Kiwoo gargalhou — Aposto que ela vai gostar — Olhos de volta para o carro, em seguida para a filha — Bom, é melhor eu ir, Doyoon não sabe cuidar de doente e vai acabar pegando um resfriado — Se afastou da garota com passos lentos, aproximando-se do carro — Se quiser aparecer por lá mais tarde, tá convidada, pode levar a Minjeong — Abriu a porta do veículo — Feliz natal, Karina. 

Ambos tinham um leve sorriso no rosto, mas o de Kiwoo se alargou em níveis astronômicos quando ouviu a filha dizer:

— Feliz natal, pai.


 

(...)


 

Todas as brigas, socos trocados, xingamentos ao longo do relacionamento pareciam menos dolorosos do que agora. 

Karina odiava despedidas. 

Depois de um final de ano fantástico, era difícil acreditar que o verão chegou e levou embora o inverno mais quente que teve em toda sua vida.

Para Minjeong não era diferente. 

Quando colocou a última caixa de mudança no porta malas do táxi, sua ficha caiu, estava mesmo indo embora. Claro, não era algo tão dramático assim, iria voltar, mas mesmo assim sentia um gosto amargo na boca. 

Não era um adeus, longe disso, era um até logo. 

Até logo da casa que cresceu, cheia de barulho e cheia de figuras maternas incríveis. Um até logo da cidade, do bairro, da lojinha em que trabalhava. Um até logo da família, e do amor da sua vida. 

Talvez Karina estivesse certa, estava mesmo ficando dramática.

— Essa foi a última — Disse batendo as mãos uma na outra, tirando a poeira, fechando o porta malas — Não é como se eu tivesse muita coisa. 

— Menos peso, melhor ainda — Giselle disse. Foi ela quem ajudou a levar as caixas até o taxi.

— É melhor eu dar uma conferida pra ver se ainda tem mais alguma — Disse e voltou para dentro da casa, subindo as escadas e indo até seu quarto. 

Parecia mais vazio agora, quer dizer, três pessoas moravam lá nos últimos meses, não tinha espaço pra nada. Não encontrou nenhuma caixa, mas encontrou sua namorada em pé na frente da janela. 

Sorriu triste, sabia que ela estava sentindo o mesmo. 

Se aproximou e passou os braços ao redor da cintura, encaixando seu queixo no ombro da mais velha. 

— Sabia que você fica uma delícia nessa saia? — Disse enquanto sorria e beijava a região, tentando arrancar alguma risada da mais velha — Ei, não fica assim.

— Vai se fuder, Kim — A voz dela estava trêmula — Olha só o que você fez comigo, tô igual um boiola chorando. 

A mais nova riu, seu peito apertando ainda mais só de imaginar passar um dia sem conviver com a mulher em seus braços. Sem poder tocá-la, cheirar, beijar… seria difícil. 

— Eu vou voltar, já disse — Beijou o pescoço — Quando você menos esperar vamos estar agarradas de novo, eu prometo, bonitona. 

— Urg, — Fungou a mais velha — Você sabe que eu odeio despedidas, era só pra você ter ido embora escondido sem falar nada. 

— Jamais eu iria fazer isso — Apertou ainda mais sua cintura — Não posso ir embora sem dizer que te amo. 

Karina finalmente virou-se, agarrando a Kim, passando os braços pelo pescoço, iniciando um beijo. 

Não era de despedida, mas era longo o suficiente para tentar reprimir a saudade que iriam sentir segundos depois de se separarem. Apertando mais ainda a cintura da Yu, abrindo sua boca, dando espaço para a língua colidir com a sua. 

Karina mordeu seu lábio inferior, superior, passou a ponta da língua por eles, como se estivesse desenhando. Arranhou a nuca da mais nova puxando cada vez mais perto, como se fosse possível. 

Minjeong apertava sua cintura e inclinava o rosto, dando mais espaço para Karina brincar com sua boca. 

As suas se afastaram quando o ar se fez falta, um fio de saliva unia suas bocas inchadas. 

— Eu vou sentir sua falta — Karina brincava com o colarinho da camisa da outra — Que porra eu faço? Você tá na minha pele — Encarou os olhos da namorada. 

— E você na minha, bonitona — Sorriu unindo os lábios mais uma vez.

— Aposto que sua mãe ainda tá chorando — Karina soltou um sorriso.

— Sim, Irene tá tentando acalmar ela, mas fazer o que, mãe é mãe — Tirou uma das mãos da cintura da maior e levou até seu rosto, Karina se inclinando para o toque — Eu vou sentir sua falta, muito. 

Karina engoliu em seco, um sorriso triste ainda na boca. 

— Você não é nem louca de me trocar por uma dessas vadias universitarias —  Agarrou o colarinho dela com as duas mãos — Eu te mato. 

— Amor, se você soubesse que eu penso em você desde que acordo até a hora que eu durmo…

— Nossa, isso foi gay demais, — Karina riu — Até pra você. 

— Eu sou gays demais por você — Voltou agarrar a cintura da mais velha, puxando até suas frentes estarem encostadas — Só por você. 

Karina inclinou a cabeça até suas testas estarem grudadas, narizes roçando. 

— Promete que vai me ligar?

— É claro que eu prometo, vou encher mais o saco de quem com meus devaneios universitários e tesão acumulado?

— Já disse que eu não vou fazer sexo por telefone, cacete.

— Você fala isso agora… — Beijou a mais velha mais nova vez. 

Karina a beijou de volta, segurando firme o rosto da namorada, se afogando na sensação que somente aqueles lábios poderiam lhe proporcionar. 

Só eles e de mais ninguém.

— Esse ano foi uma loucura — Minjoeng suspirou, afastando-se — Eu jamais iria imaginar pra onde tudo iria, e sabe de uma coisa? 

— O que? 

— Eu faria tudo igual, não mudaria nada.

— Você gosta de sofrer, né? —  Karina sorriu, passando a mão pelo rosto da namorada — Eu também faria tudo de novo. 

As duas riram, as lembranças passando pela mente de cada uma. O primeiro encontro, a primeira vez que se encurralaram no beco, a primeira briga, a chave grifo, o beijo no carro roubado, tudo. Foi um relacionamento de altos e baixos, mas sabiam que agora estavam prontas pra tudo que viesse.

Ainda eram jovens, mas não eram mais adolescentes, uma nova fase de suas vidas estava prestes a começar, e é claro, iriam lidar com tudo do seu jeitinho. 

— Ainda não acredito que voce tentou me matar com uma chave grifo — Karina murmurou com o rosto enterrado no pescoço da namorada. 

— Fala sério, — Minjeong riu — Você tentou me matar dezenas de vezes. 

— E quem eu não tentei matar? 

— Isso é verdade, e eu espero que até voltar, você tenha mudado isso.

Karina se afastou um pouco da namorada, sorrindo convencida. 

— Você se apaixonou por mim desse jeito, eu sei que você ama.

— Pode ser… talvez — Deu de ombro, mas no fundo era verdade — Deveríamos escrever um livro de todas as merdas que fizemos até começarmos a namorar. 

— Ninguém vai ler, certeza — Karina passou os braços pelos ombros da Kim, aproximando o rosto, dando um selinho demorado — Além de nós duas. 

— Foi cada coisa que fizemos e cada uma que passamos juntas — Os olhos de Minjeong faltavam escorrer mel enquanto olhava os de Karina. 

— Foi um saco, na verdade. 

— Sim — Minjeong sorriu — Adolescentes são um saco. 
 


Notas Finais


O CHORO É LIVRE AGORA.
gnt serio, obg td mundo que acompanhou a historia desde o começo, eu jamais iria imaginar a proporção que teenager sucks iria tomar, td graças a vcs!
pros que são fans da historia, vão ter caps bonus, sim, elas vão voltar!
e pra quem gosta de ler, podem me seguir pra mais historias winrina, tem mt coisa boa vindo por aí!

obg por lerem! :D


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