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História Tempos Modernos - A Volta - We can't be friends (wait for your love) - Ariana Grande


Escrita por: lidiabaldini

Notas do Autor


Postando cedinho pois hoje o dia será corrido. tem a menção honrosa a True Love da Pink, que fazia parte da trilha original do capítulo, mas com a reescrita dele, optei por não pôr a fundo, para não ficar discrepante.

Espero que gostem.

Capítulo 15 - We can't be friends (wait for your love) - Ariana Grande


 

 

       A festa havia sido linda, repleta de luzes e sorrisos que contrastavam com o sentimento de algo não dito, algo guardado. Hélia estava lá, vivendo a euforia dissonante do momento, mas também se permitindo sentir as lacunas deixadas pelas suas próprias histórias, as completas e as incompletas. No discurso para minimizar o falatório que se seguiu com a revelação do não casamento e com a saída abrupta de Antonello, o prometido que pôs fim a história – irresponsavelmente, diga-se de passagem – Fidélio, amigo da noiva desprezada ao pé do altar, havia dito durante a noite uma frase que ficou gravada em nossas mentes: "A maior ironia da arte é a dor também produzir beleza." Ele falava com a tranquilidade de quem já havia experimentado ambas – a dor e a beleza. E não estava errado. Tem algo de incrivelmente belo e poético na tristeza, especialmente naquela noite. A fragilidade, a humanidade…
       Ou talvez fosse a maneira como as luzes refletiam nas lágrimas discretas de Hélia, ou como sua risada, por mais sincera, escondia uma dor que ela não verbalizava. A vulnerabilidade pairava no ar como uma poesia não escrita, e aquilo tinha uma força magnética. Era como se, na exposição das fraquezas e medos, Hélia encontrasse o que há de mais humano. As festas podem ser para celebrar, mas às vezes elas também servem para trazer à tona o que fica escondido nos silêncios entre as palavras. 

Leda  Bertollini, para coluna Vida e Sociedade

 

***

 

       Ainda odeio o fato de minha vida ser manchete. É algo da fama que nunca me acostumei. Tudo meu é visto, implacável e duramente analisado, questionado e com tomadas de decisões por pessoas que eu nem conheço, que não me conhecem, mas acham que pode ditar como devo viver. Ler essa carta de Nello, me fez ter mais essa certeza. Amo viver de arte, mas esse ônus da fama é doloroso de aceitar.

       Não que a tal Leda Bertollini tenha sido cruel comigo. Com exceção óbvia de Lídia e de alguns poucos jornalistas sérios, a tal Leda foi justa. O que me incomoda é o fato dela ter me lido tão bem e eu nem faço ideia de quem ela seja ou como ela esteve presente na cerimônia, que era para ser intima. A única jornalista presente era Lídia, que era minha madrinha de casamento. Eu não sei como ainda fico abismada com a capacidade dos jornalistas brasileiros…

       E, claro, me senti exposta. As debilidades que tanto fiz para esconder, escancaradas para quem quisesse ler. E eu volto àquele famigerado dia.

 

***
 

       Meu coração errou as batidas quando a vejo parada na entrada da cerimônia. Mesmo linda em seu nada clássico vestido de noiva, a beleza do vestido, em conjunto cabelo e maquiagem, era enfraquecida pelo resquício de coragem que se agarrava mal em si, quando se viu parada diante de um grupo de pessoas atônitos de ver a noiva aparecer e o noivo não estar à sua espera. Algo não estava certo, seus olhos inchados, rosto e colo avermelhado, demonstrava tudo, menos ansiedade comum de noivas. 

       Cada passo que dava em direção ao altar vazio, sem a outra parte protagonista, meu cérebro e coração brigavam entre si. Ela não estava se casando, mas eu não podia ficar feliz com isso. Como ficar feliz se eu vejo a mulher que eu amo tão malditamente quebrada na minha frente? 

       O seu discurso de rompimento, explicando o desenlace da união, me deixava inquieto à medida que eu ouvia. Senti, um a um, pedaços dela se espatifando no chão e se partindo em mil pedaços, assim como um vidro temperado. Minha Hélia estava destruída. E isso me deixou em alerta. Me mantive ereto, na cadeira, olhando para ela atentamente, tentando de algum jeito apoiá-la, ao sentir sua voz oscilando enquanto se explicava aos seus convidados. Uma onda de raiva passou por mim ao olhar para trás e ver o homem que teve o privilégio de chegar até ali, deixá-la sozinha para dar uma satisfação a quem veio aqui celebrar a união deles. Ele ali, parado, um semblante inatingido, apenas ouvindo a mulher que disse amar, se despedaçar na frente de todos. Como eu queria esganá-lo. Como daria tudo para ser o cara que estaria esperando por ela naquele altar.

       Voltei para frente, antes que eu cedesse à tentação de dar uma surra nele, apenas para ver onde ela e todos olhavam. Ironicamente ou não, Iolanda e Antonello estavam lado a lado, com pouca distância entre eles. Ali estava, num alinhamento estranho e cruel, duas das três pessoas que mais fizeram mal a ela. Porque eu estou aqui, sentado. E covardemente permanecerei.

       A todo momento me mantive distante, mesmo ansioso por estar ao seu lado. Desde que ela me olhou em seu discurso, senti a necessidade de estar pendente a ela. Principalmente depois do confronto dela com Iolanda, quando foi atrás da Hélia para pedir perdão, há três semanas. Ainda me estremeço quando relembro o que ouvi.

 

***

 

       – Pronto, aqui estou. O que tanto quer conversar comigo? – Ouço Hélia dizer, quando estou prestes a entrar na sala, depois de ouvir a campainha tocar. – Não vai dizer nada? Iolanda, tenho a última prova do meu vestido de noiva, não posso me atrasar.

       – Nós terminamos. Acabou. Meu casamento acabou.

        – Eu… Eu não sei o que dizer. Eu… Eu…  – Hélia gagueja. – Por que está me contando isso?

        – Porque eu queria que soubesse a verdade da minha boca.  – Sinto a voz de Iolanda embargar.

        – Olha, se me chamou aqui numa tentativa de dizer que foi você quem terminou ou qualquer coisa do gênero, para evitar que eu faça alguma coisa ou… ou volte para o Leal…

        – ... Não é nada disso…

        – … Quero que saiba que não tem a menor necessidade porque eu não vou desistir do meu casamento. Eu amo o Nello e quero continuar construindo uma vida com ele.  – Sinto minha garganta se fechar com essa fala tão contundente. Morte de uma tola esperança, que mesmo não cultivada, estava ali.

        – Não é isso!  – Hélia se cala diante da firmeza na voz de Iolanda.  – Me deixa terminar, por favor, antes que eu perca a coragem. Depois eu ouvirei calada tudo o que tem a dizer.  – O silêncio que se seguiu podia ser cortado com uma faca. Expectativa e tensão brigando por um espaço.

        – Claro, eu…  – O medo na voz de Hélia estava me corroendo. Havia uma certa noção do que seria falado e por isso acredito que ela tenha se calado.

        – Eu preciso te pedir perdão. Por tudo o que fiz com você. Desde o início. Desde o momento que me intrometi na vida de vocês, desde que eu contribuí para desgastar até findar o que tinham. Até sobrar desconfiança e ressentimento, angústia e mágoa. Não, não, por favor. Eu sei o que eu fiz. Você também sabe. Eu não gosto do que fiz a vocês, principalmente a você. Eu…

       – Iolanda, não…

       – Eu estou com isso engasgado há tanto tempo, Hélia. Foi por isso que desde de sempre quis me manter à margem, não conseguia olhar mais para você. Eu fui cruel, desumana. Eu sei que o que fiz foi grave e não tem um dia que eu não pense nisso. Não foi justo com você antes, nem há três anos e meio. Eu fui imatura e inconsequente te contando sobre a traição. Eu deixei o medo me dominar, me fazer agir com imprudência. E ainda tenho na memória o seu olhar de desamparo, ainda vejo seus olhos refletirem o quão quebrada você ficou. Eu consigo ouvir os estilhaços. Por que você acha que fiquei tão distante quando você retornou na primeira vez, no nascimento do Pedro? Eu nem conseguia olhar para você sem ver o que te fiz. Eu me senti mais deslocada ainda vendo você conversar com as meninas e sequer lançar a mim um olhar feroz, mordaz. Eu queria que você gritasse, que fosse mais como você era. Eu não entendi sua calma diante ao que fiz. 

       – Eu não estava. Eu não estava calma. – Senti sua respiração fraquejar e fico parado na entrada, mas nenhuma das duas pareceu notar minha presença. Ela abria e fechava a mão, tentando se controlar.

       – Então por que não brigou? Por que não me expôs? O erro que cometi não foi apenas um ato isolado, mas uma sequência de comportamentos cruéis e impulsivos.

       – Porque não era o momento para isso, era o nascimento do meu neto. E porque não sou você. Eu não sou tão melhor que você, já fui amante também e não me orgulho disso. Ironicamente ou não com o mesmo homem. Mas eu não fui cruel, não expus isso a Vivi deliberadamente, com a clara intenção de machucar. – Hélia se senta, colocando a mão no peito. Iolanda vira de costas.

       – Na festa do Pedro – Iolanda continua, como se não tivesse sido afetada pelas palavras de Hélia, mas sabia que estava apenas bloqueando para prosseguir – você estava tão relaxada quando disse que não acreditava que duas pessoas que se amaram tanto como vocês se amaram, deveriam se odiar e odiar seus novos parceiros. Por um momento acreditei que você, de alguma forma, tinha me perdoado, mas eu senti na superfície. Não era perdão, não quando mantínhamos esse segredo guardado entre eu, você e Goretti, ainda que fosse um acordo selado fragilmente. –  Pega a foto de todos juntos na festa do Pedro. – Ainda não entendo…Ainda não entendo porquê não falou depois de ter aquela crise aqui na sala. Porque foi ali…Foi ali que a paz, com a qual me agarrei com a sua fala na festa, se esvaiu tão rápido de mim. Eu vi o quanto ela era frágil e a partir dali vivi com uma bomba relógio, pisando em minas, esperando o momento de pisar em falso e tudo explodir. Mas você nunca veio. Nunca falou. Agiu como se o que fiz não tivesse importância e eu não aceitei isso. Eu fui definhando ao longo dos dias remoendo isso. Fiquei com raiva porque pensei que você estava se vingando de mim. Achei mesquinho e torpe. Bem baixo e me convenci que havia uma igualdade na gente, nas ações. – Solta uma risada seca. – Como se fosse possível! Depois achei certo essa punição, achei justo me fazer pagar silenciosamente já que eu nunca expus o que fiz a você. Era o troco perfeito. Afinal, eu fui covarde. Que eu apanhasse em silêncio.

       – Eu não fiz porque queria te dar um troco. Não falei sobre isso porque não cabe a ninguém. Só diz respeito a mim. Eu me deixei afetar pelas suas palavras. Eu fui responsável por dar poder ao que disse, um poder que você não deveria ter porque não faz o menor sentido, já que ele não me quis. Leal não me queria. Foi ele quem deu o pontapé final. E, na minha visão distorcida da realidade, você ao menos tinha sido honesta comigo, coisa que ele, que era meu namorado e quem me devia satisfação, não fez. Mas eu já sabia. No fundo eu sempre soube que vocês tiveram alguma coisa naquela época, eu só não quis enxergar. Eu só não quis dar poder a isso porque seria quebrar tudo dentro de mim. – Balança a cabeça negativamente. – Terminar de quebrar o que já estava quebrado. – A vejo apertar a ponta do sofá. – Eu sempre soube. Eu posso te perdoar e perdoá-lo, mas sei que não totalmente. – Fez um movimento para Iolanda não se aproximar ou falar. – Não quando isso ainda dói em mim. Ainda reverbera. –  Ela se levantou e virou para mim. – Vocês tem parte do meu perdão porque eu quero uma nova vida e eu não quero que essa nova vida esteja atrelada a um passado podre, a vocês e toda essa sujeira. Eu vou eventualmente chegar a totalidade, mas no meu tempo. – Volta a olhar para Iolanda. – No meu tempo de cura, não porque agora sua consciência pesou e você resolveu pedir perdão e finalmente pagar pelo que fez.  –  Pegou sua bolsa e caminhou até a porta. – Resolva você sua consciência. Resolva vocês suas pendências. Elas são suas. Esse fardo não é meu e não vou deixar sua irresponsabilidade ser jogada em mim de novo. Você não é psicóloga? Você entende suas ações e sabe que essa conversa não faz lá muito sentido. Então, não, não venha atrás de mim de novo com esse propósito.

 

***

 

       Um calafrio percorre meu corpo, enquanto danço mais uma vez com meu filho. Me aconchego mais a ele, que me aperta de volta, sentindo minha necessidade de abrigo. Sinto os olhares de Leal como um falcão. Cada movimento meu é minuciosamente observado por ele. E eu não sei como me sentir.

       Quando chega sua vez de dançar comigo, uma brincadeira que Sophie inventou para me animar, me fazendo dançar com todos os homens solteiros presentes, com exceção do meu filho, que era o único que podia dançar livremente comigo, senti meu corpo retesar. Senti seus olhos em mim a cada passo desengonçado, embalado por True Love, da Pink. Mas foi quando o trecho “there's no one quite like you” (“não há ninguém como você”), que meus olhos encontraram os dele e nunca mais desviou.

       Ainda assim, tudo o que eu vi não foi um pedido para voltar para ele, mas um silencioso pedido de amizade. Ainda que o amor esteja bem ali no fundo. Porém, como conciliar o desejo de manter uma conexão com alguém sendo que a realidade dura me diz que essa relação não pode se desenvolver em amizade?

 

We can't be friends

(Nós não podemos ser amigos)

But I'd like to just pretend

(Mas eu gostaria de simplesmente fingir)

 

       Aos poucos os convidados vão embora e eu me retiro para o quarto em que estava hospedada nesse haras. O haras dele, da família Cordeiro. Pego meus sapatos perdidos pelo caminho, olhando tudo em volta. Resquícios de um dia que não foi feliz do jeito que planejei. Vestígios de um futuro abortado, um sangramento que não sei como vou superar.

 

***

 

       Esses dias no haras tem sido confusos e incomum. Depois da chuva de notícias sensacionalistas sobre o casamento que não aconteceu, das especulações ferinas, dos julgamentos tendenciosos e na culpa recaindo sobre Hélia, já que foi Antonello quem foi embora, decidimos todos ficar aqui. Seria um bom respiro e afastamento, depois de acusações infundadas. Hélia permanece cada dia mais reclusa, vagando pelo haras, em longas caminhadas e pequenos sumiços.

       Até o dia da fatídica visita e da maldita carta.

       Estávamos lanchando no lado de fora, na área da piscina, aproveitando o frescor do fim de tarde depois de um dia calorento, quando ouvimos vozes acaloradas vindo de dentro da casa. Hélia estava recebendo a visita do ex-enteado e todos apenas ficamos aqui, esperando seu retorno. Tinha sido um bom dia e eu vi partes da Hélia que eu conheço reaparecer. Olhei para meu filho e nós dois fomos até a sala, entender o que estava acontecendo.

       – Eu sou a pessoa que quando todo mundo está precisando, sou eu quem está lá para ajudar. Mas e quando eu cair? E quando eu precisar? E quando eu cansar de ser forte? Porque eu estou cansada de ser forte! Porque nesse momento eu cansei de ser forte! Eu cansei de me sobrecarregar com problemas de todo mundo… E ninguém olhar para mim. O sofrimento do seu pai não é melhor que o meu. Eu também preciso que cuidem de mim! Eu preciso de colo. Eu não sou essa rocha que todo mundo pensa que eu sou… Eu estou sangrando aqui! Eu estou me desfazendo! Não é só seu pai. Ele foi embora! Ele me traiu! E com sua mãe! Com a mulher que ele disse que havia destruído ele, tirando ele de si… Ele decidiu pôr fim a tudo que construímos juntos e o que estávamos prestes a construir. ELE! NÃO EU! – Caiu exausta no sofá. Com a respiração entrecortada. – Fácil para você vir aqui fazer acusações, jogar toda a responsabilidade pelos atos dos seus pais, sobretudo seu pai, em cima de mim. Não querer ver seu pai, não querer ler a maldita carta dele, não querer ouvir as desculpas de sua mãe não é fugir. Não é não dar o benefício da dúvida, uma chance de explicar. É respeitar meus limites, meu corpo. Eu estou exausta. Não aguento mais carregar mais nenhum peso acumulado como venho fazendo por tanto tempo. – Olho para meu filho e o vejo tremer ao ver como  a mãe atingiu o seu limite emocional. – Vocês esperam demais de mim. Não quero mais ser sobrecarregada de expectativas, de ver vocês esperarem mais do que eu posso dar.

       Vejo o garoto sair pela porta, resignado e em conflito. Seja lá o que ele tenha vindo propor, entendeu que não conseguiria. E que não era justo. Ponho a mão no ombro do meu filho e agradeço silenciosamente Nelinha, que deve ter sentido a necessidade vir e tirar Zeca daqui. Esse grito de socorro que Hélia deu, quebrou essa imagem que todos nós aprendemos a ter dela: a de ser inabalável. 

       Abraço Hélia, que se encolhe dentro dele. Acolho todos os seus soluços. Dentro de mim algo se quebra com esse desabafo dela. Como eu não vi isso? Como não vi que essa fortaleza que sempre admirei nela também a fere? Como eu nunca enxerguei suas fragilidades?

 

***

 

       – Nós não podemos ser amigos, mas eu gostaria de simplesmente fingir.

       O vejo recuar assim que digo. O frio, que havia sumido com o abraço no meio da madrugada, se instalando novamente. Eu sei que parece atroz, ainda mais depois desses dias aqui e da constante companhia que ele dedica a mim. Apesar de toda a história e os sentimentos entre nós, há uma barreira emocional e circunstancial que impede que sejamos apenas amigos. Já tentamos isso uma vez. Não dá certo. Não com a atração, a dor e o passado compartilhado tornando isso impossível. Fingir, neste caso, soa como uma tentativa de manter algo familiar e confortável, mesmo sabendo que a verdade é muito mais intensa e desconfortável.

 

I didn't think you'd understand me

(Eu acho que você não me entenderia)

How could you ever even try?

(Como você poderia sequer tentar?)

I don't wanna tiptoe, but I don't wanna hide

(Eu não quero pisar em ovos, mas não quero me esconder)

 

       – Você considera tão inviável assim? – Apenas assinto, com medo de minha boca voltar atrás e dizer o contrário.  – Entendo, juro que entendo. Eu sei que tem muitos sentimentos latentes, que fazem parecer tudo impossível. – Sua confissão cheia de resignação me deixa sem ter o que dizer. Me sinto estranha. – Mas eu me apego à esperança. Eu não posso te oferecer mais do que isso e sei que você entende isso porque é o mesmo para você. Por mais que desejamos manter as coisas simples e apenas amigáveis, o peso do que compartilhamos no passado é grande demais para isso.

       – Temos um passado entrelaçado demais. Estamos apenas começando a nos redescobrir em uma nova fase. Obrigada por estar comigo nessa madrugada. Por ficar ao meu lado quando não consegui segurar as lágrimas. – Ele enxuga a lágrima perdida que caiu.

       – Não tem o que agradecer. Quando Regeane estava perdida e todos à minha volta se resignaram de imediato e a deram como morta, era você quem estava comigo. Você foi muito mais que minha namorada, ali você foi minha amiga. – Levanta meu rosto pelo queixo. – Quando se pegar se perguntando sobre como vai se reerguer emocionalmente e quem estará lá para você quando as coisas mudarem, lembra de mim. Estou falando sério, Hélia. Mesmo com o passado entrelaçado demais, como você disse, eu ainda acredito que podemos ser amigos. Mesmo com essa música que tem escutado direto, diga o contrário. – Franzo as sobrancelhas e olho o celular tocando a mesma música da Ariana, Nem era para ele. Era a música que Nello pediu para eu escutar. Mas deixo ele pensar assim. Serve um pouco para ele também. –  Maria Eunice me contou do que se trata. – Sorrio e reviro os olhos com a explicação dele. Fico feliz com o fato de ele ainda saber me ler. – Acredito que podemos ser capazes de estar aqui, como amigos, para nos apoiarmos nas quedas. Um passo de cada vez, Hélia. Não quero deixar o passado definir o futuro. Quero aprender com ele. Reconstruir requer paciência e abertura.

       – Nosso passado está cheio de memórias compartilhadas, momentos bons e difíceis… Isso cria um terreno sensível para essa nova fase… Eu…

       – Não estou te pedindo para você voltar para mim. Apenas para nos dar uma chance de  experimentar a solidão de uma forma nova. De entender quem somos. O que podemos ser uma para o outro. Nós somos da mesma família. Eu não vou sumir da sua vida, nem você da minha. Vamos nos preocupar em entender o que significa estar sozinho, e se, depois disso, ainda faz sentido caminhar lado a lado novamente. Sem pressão. Só pensa nisso. Não preciso de uma resposta imediata. – Ele beija meu rosto e me deixa aqui sozinha.

       Não sei o que aconteceu com esse Leal, mas eu gostei. Será que é possível ser amiga dele ou é igual ao Antonello, esperando por um amor que não dá para ter de volta?

       “Alguns quase são mais lindos do que os feitos.”

       “Alguns amores não foram feitos para durar.”

       Passo o dedo nessas duas falas de Nello nessa carta. Eu não consigo não pensar nesses últimos dois relacionamentos fracassados. Na carta Nello menciona isso porque soube que eu permaneci aqui no haras e eu sei que foi uma maneira maldosa de expor o orgulho e ego ferido. Ele queria me atingir e equiparar o que fez. Tal qual Iolanda fez. Mas o feitiço virou contra o feiticeiro. Ou pelo menos quase.

       Alguns finais são inevitavelmente impossíveis de interromper. Essa é a única coisa que consigo tirar disso tudo agora.

 

Just wanna let this story die

(Só quero deixar essa história morrer)

And I'll be alright

(E eu vou ficar bem)




 


Notas Finais


Até terça!


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