Pov. Ellie
Acordei as seis e trinta da manhã, com o despertador tão estridente que, por impulso, bati mais forte que o normal, o coitado acabou caindo chão se espatifando em vários pedaços.
Definitivamente não era uma pessoa matinal.
Atrasada.
- Belo jeito de começar o dia ne Chu- resmunguei comigo mesma, coloquei os óculos e pulei da cama num salto, precisava me trocar rápido, as 6:40 tinha que estar ali do lado dos trilhos já auxiliando.
Eu sei, uma parte de vocês deve estar achando um máximo eu ter esse emprego e quanto sou sortuda por fazer parte de algo tão legal. Outra parte, penso a mais sensata, odeiam acordar cedo como eu, e imaginam o quão é cansativo fazer sempre a mesma coisa. Aster pensa como a primeira parte de vocês.
Aster... Antes que pudesse checar no meu celular qualquer mensagem, o horário me fez correr como uma maluca. Enquanto segurava as luzes sinalizando a passagem correta pro trem, acabei me perdendo em lembranças que envolviam a senhorita Flores, cara... até o sobrenome dela é perfeito, sem condições ne minha filha.
A forma como Aster ficou empolgada por apenas segurar as lanternas, meu coração errou as batidas só com essa memória, imagina o tamanho do meu gay panic na hora. Falando em gay panic, a parte em que fomos pro lago... okay, chega de lembranças por hoje, mas será que aquele dia foi um delírio coletivo?
...
DiegaRiveira: “Você sabia que nem sempre nosso cérebro está descansando durante o sono? Essa noite meu cérebro não descansou um segundo, pensando em você, ou melhor, sonhando contigo. Realize meus sonhos, mande-me um emoji”
Okay, não surta. Entrei dentro da pequena cabine e soltei um pequeno grito. Agora que voltamos a programação normal
Não sei se tem um significado, mas ela mandou exatamente as 6:40, deve ser só uma consciência, essa foi a primeira mensagem que trocamos desde o beijo de ontem e foi um “sonhei com você”, literalmente. Não me julguem, mas acho que a minha coragem se foi inteira com o beijo que eu roubei dela, talvez não foi tão roubado, Paul tinha razão, ela tem uma coisa, uma expressão, não sei. Se eu não o fizesse nunca iria me perdoar.
SmithCorona: "Seu sonho é praticamente impossível, emojis são pra fracos, sou do tipo que manda cartas, por acaso a senhorita já recebeu uma?
Caiu da cama hoje?”
Eu realmente não via necessidade em emojis, uma perca total de tempo, eu não entendo o significado, mas pelo visto Aster gosta de implicar com isso, tive que falar das cartas, to pensando em continuar a escrever pra ela. Seria uma ideia ruim?
É que antes eram no nome do Paul, mesmo que segundo a mesma, já sabia que era eu quem mandava, quero algo ainda mais eu agora.
Enquanto esperava a cafeteira terminar de passar o café comecei a fuçar nas poucas redes sociais que eu tinha além das mensagens, Tumblr e twitter. Me preparando psicologicamente para ir para escola de bicicleta e ter que ouvir aquela piadinha diária do barulho do trem.
DiegaRiveira: Acordei querendo fazer uma boa ação, aceita uma carona?
Ai.meu.deus
Sabe aquela cena do Ross falando que ta tudo bem quando pega o Joey e a Rachel juntos? Literalmente sou eu agora repetindo a frase “I’MFINE”
SmithCorona: Não vai ser muito fora de caminho pra você?
No mesmo minuto ela respondeu
DiegaRiveira: Não se eu tenho uma necessidade de te ver, até daqui a pouco. ~Um não-emoji de coração pra ti~
[...]
Ouvi a buzina e fui quase deslizando pelo corrimão da escada, sem conseguir me conter, nervosismo ou felicidade? Os dois?!
- Não corre na escada, cuidado filha – Meu pai alerta, nem sabia que tava acordado
- Bom dia pra você também – falei dando um beijo no seu rosto o fazendo sorrir
- Quem está lá fora buzinando? – perguntou curioso, nem precisava falar, mas sabia que pensava que era um novo namorado- humm?
Me olhou sugestivo levantando as sobrancelhas
- Pai – ralhei revirando os olhos – okay, quase isso. Tchau.
- Boa aula
...
Seu carro amarelo estava com os vidros embaçados pelo frio, porque antes não estava tão frio assim?
- Hey – Aster cumprimentou sorrindo e fechei a porta antes de responder
- Oi- ela se aproximou do meu rosto olhando nos meus olhos, seu olhar aos poucos desceu pra minha boca e por impulso passei a língua entre meus lábios ressacados. Aster me deu um curto abraço desajeitado, por um segundo e uma falta de atitude minha não nos beijamos, bom jeito de começar Chu
- Você ta bem? Com frio? – Ela disse tentando quebrar o gelo – Seu nariz ta vermelhinho de frio, é fofo
Então ela não estava olhando minha boca?
Acho que não sirvo para gostar de garotas, vou enlouquecer
- Um pouco, não parecia estar tão frio assim antes ou tava com muito sono pra perceber – falei esfregando minhas mãos
- Tem uma jaqueta jeans no banco de trás do carro, você pode usa-la hoje – Aster disse enquanto dava partida no carro, assenti e com um pouco de dificuldade consegui pegar
A mesma que ela estava vestida ontem, será que era uma boa hora pra falar do beijo?
- Ficou linda em você Ellie – Aster falou colocando a mão na minha coxa mas não ficou nem 10 segundos pois já teve que mudar a marcha do carro. Porém, foi tempo suficiente pra eu sentir minha pele formigar
- Obrigada, você tava com ela ontem ne – falei levando a manga da jaqueta até o meu rosto sentindo o perfume, ela assentiu sorrindo. Okay, consegui falar a palavra ontem sem gaguejar, agora como falar beijo?
Depois de uns minutos em silencio, Aster ligou o radio e começou a tocar uma música chamada “Unholy” da Hollie Col (Referencia pro final do capitulo, procurem o clipe), como eu gostava muito só fiquei cantarolando baixinho olhando pela janela
As vezes olhava pra ela tão concentrada dirigindo, sei lá explicar o que sentia, mas que da “uns coiso” da. Como as vezes a peguei me olhando de lado, aquele sorriso de canto é uma das características mais marcantes nela
Caralho que maldito sorriso
[...]
- Café? – Aster pergunta apontando pra dentro da escola
- Eu pago – falei em relação a ela ter gasto gasolina
- Acho que você ganhou uma jaqueta – ela brincou, abri a porta pra entrarmos na escola, vazia ainda, chegamos cedo
- Juro que te devolvo limpa e cheirosa amanhã – me sentia estranha com uma jaqueta que não fosse grande, mas ficou legal em mim
- Seu perfume é muito bom então nem quero que lave- Aster disse ficando de frente pra mim – Expresso? – tínhamos quase a mesma altura, não consegui desviar os olhos da sua boca, tinha passado um batom vermelho ou era assim ao natural? Porque tão chamativa?
- Quente- falei sem pensar e ela riu – quer dizer, sim. É claro que os cafés daqui são quentes mas também tem um frio que é horrível, quem que toma café frio no inverno ne?!
Comecei a falar coisas sem sentido sobre café e clima, okay, acho que me daria melhor até com emojis agora
- Aqui – sentamos numa mesinha que tinha ali do lado apenas apreciando a bebida
- Sobre ontem... – tomei coragem pra falar, é agora ou agora- o beijo, eu gostei muito, não queria te forçar, não te forcei ne? Você pareceu gostar, se eu tiver interpretando errado por favor me interrompa agora
- Não, calma. Eu queria, eu queria muito. Na verdade – Aster falou colocando seu café na mesinha e se aproximou significativamente – Eu quero – olhou pra minha boca. GAY PANIC.
- Baby, vi seu carro lá na frente e fiquei te procurando por tudo – Trig surgiu do nada, nos afastamos num salto, não foi dessa vez – ta tudo bem?
- Ta sim – ela disse seca, Trig deu um selinho nela e eu não queria mais meu café, minha garganta se fechou contra o nada
- To atrasada pra devolução de um livro, tchau – falei a primeira coisa que venho na cabeça e sai dali o mais rápido possível
Eu tinha esquecido totalmente da existência do Trig, o quarterback, filho do dono da metade da cidade, o perfeito clichê hétero-normativo. Me senti culpada sem nem ser a pessoa que ta traindo, mas também não queria ser “A outra”.
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