(Y/N) POV
Me questionei se era possível uma pessoa viver sem sentir seu coração bater e bombear sangue para o restante do corpo. Sim, era possível. Eu estava ali, diante de Newt morto... Apenas habitando meu corpo sem vida, totalmente oco.
Thomas foi muito atencioso em fazer todo aquele ritual. Tenho certeza de que ele estava pior que eu e assumiu a situação com tanto amor que me senti anestesiada com tudo aquilo.
Um a um vi meus amigos e também desconhecidos entrar por aquela porta para se despedir de Newt. Meu olhar era estático, mas mesmo assim observava tudo a minha volta e ouvia comentários maldosos sobre minha aparência e meus machucados ou sobre como aquele Crank morto acabara com a minha vida, como se eu nem estivesse ali...
Minho voltou mais uma vez para a sala após Teresa retirá-lo de lá aos prantos. Ele estava mais calmo e decidiu estabelecer algum contato comigo:
“(Y/N), me desculpe por não poder ajuda-lo. Eu teria dado minha vida a ele... Acredite. Olhe pra mim! Diga alguma coisa!”, ele insistia, mas eu não tinha forças para absolutamente nada. A dor era mais forte do que qualquer coisa que havia sentido na vida.
Brenda observou a cena e tentou mais um contato comigo:
“(Y/N), precisamos cuidar de você”.
Continuei parada, tentando respirar, tentando fingir que estava tudo bem... só que não estava! Meu mundo havia desaparecido no instante em que Thomas puxou o gatilho, jogando com violência o corpo de Newt sem vida para trás. Aquele cena se repetia na minha cabeça sem parar.
Bang! Corpo caído. Lágrimas. Bang! Corpo caído. Lágrimas. Bang! Corpo caído. Lágrimas....
“(Y/N), por favor, me escute. Precisamos cuidar de você também. Se estiver me ouvindo aperte a minha mão”, Brenda insistia em fazer algo por mim.
Queria sumir, desaparecer... queria ter morrido no lugar dele, assim desejei.
“Precisamos fazer alguma coisa!”, ouvi ela já preocupada com a situação, “Olhem o estado dela! Toda ferida e machucada!”, jogou as mãos para o ar dando as costas.
“Thomas, pelo amor de Deus cara, faça alguma coisa!”, disse Minho prevendo que Tommy seria o único ali capaz de me entender.
Thomas, que até então estava distante de todos acuado e mudo em um canto, veio ao meu encontro e se agachou na minha frente, repousando suas mãos em meus joelhos, retirando meus cabelos que cobriam parcialmente minha face:
“Eles tem razão (Y/N). Precisamos cuidar de você. Você precisa tomar um banho e deixar que cuidem desses ferimentos”.
Movi meu olhar estático e passei a encará-lo, igualmente perdida.
“Ótimo! Um contato visual. Já é um começo”, ele suspirou, “Vou pedir que Brenda, Hayley e Teresa te levem para o banheiro, tudo bem?”.
Movi os lábios para a direita e tomei folego, tentando preencher de ar o vazio em meu peito.
“Ok! Vou tomar isso como um sim. Meninas, levem ela. Qualquer problema me chamem, eu estarei logo atrás de vocês, ok (Y/N)?”.
Brenda e Teresa me pegaram pelo braço, seguindo para o banheiro. Na verdade estava sendo arrastada dali. A cada passo que dava, as pessoas pelo caminho me olhavam com dó e piedade. Fechei os olhos e deixei que me carregassem pra fora da enfermaria.
No banheiro, gentilmente começaram a me despir, tirando primeiro minha jaqueta, minha calça e minha blusa, enquanto Hayley ligava o chuveiro quente e enchia uma banheira com água. Não havia notado antes, mas estava bem de frente a um gigantesco espelho já embaçado pela fumaça da água morna. Parei a ação das meninas pela metade, ficando só de lingerie e caminhei lentamente de encontro a ele, esfregando minhas mãos na superfície a fim de enxergar minha imagem refletida.
Pude ver uma carcaça. Nunca (Y/N).
Estava literalmente acabada, cheia de cortes pelo corpo que provavelmente me causariam cicatrizes. Hematomas em todos os estágios possíveis e imagináveis, além de um corte horrível nos lábios causado por Newt. Alias, tudo ali havia sido causado por ele, mas eu nem ligava. De alguma forma aquilo me deixava mais perto de quem amava...
Minha cabeça doía e latejava e me lembrei do porque. Apenas suspirei e deixei escapar uma lágrima. Minha cara mudou de catatônica para louca em um milésimo de segundo quando coloquei a mão em meu peito e o colar de Newt não estava mais lá.
“ONDE ESTÁ MEU COLAR?”, urrei a plenos pulmões, totalmente descompassada.
Uma gritaria tomou conta do banheiro e vi que acertei Brenda no rosto após ela tentar me acalmar. O sangue escorreu de seus lábios e pingou no chão a sua frente. Estava tão louca quanto meu namorado possuído pelo FULGOR.
Hayley me agarrou com força pelos braços e me enfiou debaixo da ducha, a fim de me acalmar, enquanto Teresa gritava desesperada por Thomas.
“THOMAS! THOMAS! CORRE AQUI! (Y/N) ESTÁ SURTANDO!”.
Eu me debatia e aranhava a pobre Hayley, que estava perdendo a paciência comigo, dando severos trancos em meu corpo.
“Não me obrigue a te machucar!”, ela ameaçava.
Nunca havia reparado nisso, mas ela era realmente forte e corajosa. Agora sei porque Minho estava apaixonado por ela; seus olhos verdes perfuraram os meus, tentando entender o que estava acontecendo, como se quisesse me resgatar do buraco onde eu estava.
Não demorou muito e Thomas já estava lá, seguido por Minho e Gally, que praticamente arrombaram a porta do banheiro. Tommy correu e prensou meu corpo contra os azulejos molhados, dando espaço para Hayley sair do meio do furacão.
“Onde está o MALDITO colar!”, eu gritava sem parar, transtornada com aquilo.
“Saiam todos daqui! AGORA!”, ele gritou, mas todos estavam chocados com meu ataque, “PELO AMOR DE DEUS! SAIAM!”, ele pediu mais uma vez, a fim de me acalmar sozinho ali.
Gally tomou a dianteira e puxou todos para fora, deixando nós dois sozinhos no local.
Tommy ainda pressionava meu corpo contra a parede e já estava igualmente ensopado pela água da ducha que caia sobre nós dois. Aos poucos ele foi soltando meus ombros e eu lentamente escorreguei de encontro ao chão, me encolhendo como um bebê acuado. Ele passou a puxar meu tronco pra cima, de encontro ao seu corpo, tentando sustentar minha fraqueza.
“Eu estou aqui”, disse baixinho no meu ouvido me abraçando.
“Faça parar Tommy, por favor!”, implorei, “Faça parar toda essa dor...”, afoguei-me em lágrimas, me entregando por completo aos seus braços...
“Está doendo tanto... bem lá dentro Tommy... Não consigo respirar…"
Thomas limitou-se a chorar junto, comprimindo com força nossos corpos. Senti o coração dele disparar e seus pelos ficarem eretos. Ficamos naquela posição uns cinco minutos, até que ele decidiu:
“Vamos sair desse chão gelado, venha”, levantando-se e me carregando no colo até a banheira de água quente. Mergulhou aos poucos meu corpo nela, parando abaixado do lado de fora, bem de frente pra mim.
“Eu vou cuidar de você (Y/N)”, disse com a voz firme, já pegando a esponja e o sabonete. Fechei meus olhos e tombei a cabeça para o lado chorando, deixando ele me banhar. Seu toque era delicado e carinhoso, bem diferente de quando transamos no Berg.
“Quer permanecer de lingerie?”, ele questionou com medo.
“Aham...”, saiu com muito custo da minha garganta.
Ele apenas sorriu fraquinho e continuou a cuidar do meu banho, lavando minha cabeça com cuidado para não pressionar muito meu machucado e o restante do corpo também. Pediu que eu me afastasse do encosto da banheira para lavar minhas costas. Deslizou a esponja com cuidado para não ferir mais ainda minha pele.
Quem olhasse em volta provavelmente acreditaria que estávamos numa cena de terror ou que eu acabará de tentar me matar. A água da banheira estava tomada por sangue e sujeira escura, fazendo o perfume do sabonete evaporar pela quantidade de ferro ali presente.
“Preciso tirar você daqui agora”, disse ele passando os braços embaixo das minhas axilas, me direcionando para a ducha novamente.
Me posicionou de costas a ele e ligou a água morna, que fez meus cortes arderem levemente, deixando escapar uma careta. Apoiei a palma das mãos no azulejo a frente e gemi.
“Já estamos acabando. Seja forte”, ele pediu com carinho, dando um beijo em minha bochecha ao desligar o chuveiro.
Buscou uma toalha, me enxugando com calma e depois um roupão, ajudando-me a colocá-lo para seguirmos para a enfermaria novamente em seu colo.
Lá, retirou todos do local, deixando apenas eu, ele, Brenda e o corpo de Newt. Ajeitou uma cadeira e pediu que eu sentasse nela, retirando meu roupão, expondo meu frágil corpo a morena, que me encarou com tristeza.
“(Y/N), Brenda precisa dar uma olhada em você, ok? Estou aqui do seu lado e não vou deixar nada acontecer contigo”, disse pegando em minha mão e sentando-se no chão, com o queixo tremendo de frio, formando uma pequena poça d’agua a sua volta.
Mais uma vez, apenas limitei-me a suspirar como resposta positiva.
Brenda então passou a cuidar dos cortes e ferimentos, limpando-os com água oxigenada e antisséptico. Puxou uma seringa, preparou algumas vacinas e aplicou em meu braço diversas doses, enquanto Tommy assistia tudo com os olhos vidrados nos meus, como se estivesse tentando se comunicar telepaticamente comigo. O que estava se passando na cabeça dele? Como ele estava se sentindo? Precisava tanto conversar com ele, mas não tinha forças para isso e lamentei. Apenas insisti:
“Meu colar Tommy... perdi meu colar...”, disse franzindo a testa.
“Qual colar (Y/N)?”, ele perguntou em seguida. Brenda só ouvia tudo atenta enquanto fazia algumas ataduras pelo meu corpo.
“Newt me dera um colar de ouro, com um pingente de...”
“De floco de neve!”, disse ele espantado, “Eu sonhei com isso! Sonhei com você e seu colar enquanto estava na van indo para o CRUEL, antes de topar com vocês na rua!”.
“O que você viu Thomas?”, perguntei incrédula endireitando meu corpo na cadeira.
“Levei você entre os prédios da cidade e do nada estávamos na praia. Te arrastei para o mar e nos beijamos...”
Interrompi ele - “Ai Newt apareceu e..”
“Sim. Você sabe... nós três nos beijamos”, disse ele com o rosto corado, “E ai eu arranquei seu colar do pescoço e joguei ele para longe no mar...”
“Antes de me/ te afogar na água”, dissemos juntos.
“Wow, wow, wow, wow, wow!”, Brenda interrompeu, “Como é que é? Vocês tiveram o mesmo sonho? E Thomas beijou Newt num ménage?”.
“Acho que sim Brenda”, ele disse sem graça.
“Vocês sabiam que isso é sério né? Provavelmente significa alguma coisa! Todo sonho significa alguma coisa. Precisamos analisar cada detalhe e...”.
“BRENDA... Isso não vem ao caso agora”, cortou Thomas mudando de assunto, “Precisamos providenciar o funeral de Newt. (Y/N), necessito conversar com Lawrence e Vince e preciso que se comporte ficando quietinha aqui com Brenda cuidando de ti. Você acha que consegue?”.
“Acho que sim...”, disse desanimada, com a voz em pequena falha.
“Você precisa é de um banho quente Tom”, pediu Brenda toda zelosa.
Realmente, ele precisava de um banho quente mais do que qualquer coisa... Devia estar exausto e merecia aquilo.
“Vou pedir que Minho e Gally fiquem de olho em você”, disse dando um beijo na minha testa e saindo do local, antes mesmo que eu pedisse que cuidasse primeiro dele.
“Bom, vamos então vestir essa afronta antes né? Não sei como Tom aguentou ver você assim; só de calcinha e sutiã, que por sinal, foi ele quem escolheu!!!!”, debochou Brenda me entregando algumas roupas. Calça jeans, regata branca e meus coturnos pretos.
Me vesti com sua ajuda e fiquei ali ao lado de Newt com os meninos até Tommy voltar.
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