A família Tomlinson era famosa na pequena cidade serrana, no norte da Califórnia. Troy era o prefeito de família tradicional na pequena cidade de 600 habitantes, a família possuía muitas terras, fazendas e pequenas indústrias, o que os deixavam ainda mais poderosos no quesito fortuna. Os Tomlinsons estavam na presidência há anos, até os tempos atuais de 1951.
Johanna, a esposa de Troy, mãe de cinco filhos, era uma ótima médica local, havia poucos na cidadezinha, mas era a mais querida pelos habitantes, talvez pelo fato da jovem mãe voltar seu trabalho para pessoas mais carentes. Vinda de uma família de tradição, Jay, como era chamada, se formou em medicina assim que terminou os anos no colégio, pois era o sonho de seu pai que sua única herdeira fosse uma médica bem sucedida e assim aconteceu.
As famílias do casal prometeram seus filhos para um casamento arranjado. No início para ambos, tudo parecia uma loucura e como pessoas de personalidades fortes, foram relutantes por serem obrigados a se casarem com uma pessoa que mal conhecia. Mas algo diferente e inesperado aconteceu, um sentimento cresceu entre os dois futuros amantes, dando tempo para que o casal colher amor suficiente para aceitarem se casarem, agora de uma forma natural e com sentimentos reais, acabando esquecendo a ideia de casamento de negócios. Quem diria que futuramente o tal casamento arranjado se tornaria em amor verdadeiro e teriam como fruto, seus filhos: Louis, o mais velho, Charlotte, Felicite, e as gêmeas Daisy e Phoebe.
Uma família vivendo em um tempo onde traição jamais seria perdoada. Poderia haver perdão entre o casal, mas a população jamais aceitaria e sempre iria julga-los. Onde meninas deveriam brincar apenas com meninas e ficar em casa, brincando de bonecas e casinha e aprendendo com a mãe como se cuida do marido, da casa e dos filhos. E meninos com meninos, livres para sair e brincar de qualquer coisa com os amigos nas proximidades, e para que isso fosse seguido à risca, os sexos tinham colégios separados, evitando ao máximo o contato entre ambos.
Viviam em um mundo de mente pequena e machista, onde a mulher deveria ser submissa ao homem por mais que trabalhasse, caso contrário, era tratada como indigente, capaz de ser deserdada por todos a sua volta.
E uma coisa que mal era cogitada, seria um pecado apenas imaginar: Homossexualismo. Amantes do mesmo sexo NÃO deveriam existir, e se caso acontecesse, uma lei era posta em prática por desrespeitar os princípios da natureza do homem.
O país estava em crise e os Estados Unidos da América começara uma guerra, logo todos os jovens homens do país eram obrigados a se alistarem para as forças armadas do exército, para servirem e protegerem a pátria com suas próprias vidas.
Louis poderia se considerar um rapaz de sorte, pois estava em uma família poderosa e que poderia ter controle sob essa situação, os pais do jovem garoto não deixaram que seu filho fosse para a guerra. Jay preferia tê-lo por perto e estudando ao invés de estar lutando, correndo o risco de morrer pelo país. Mas nem todos os jovens garotos ali tinham a mesma sorte que Tomlinson...
Anne era uma jovem mãe que se sacrificava todos os dias para dar o sustento de cada dia para seus dois filhos, Gemma e Harry Styles. A família havia perdido o marido e também pai, Des, em uma guerra militar no país, deixando Gemma com quatro anos e Harry com dois sobre total responsabilidade de Anne, restando a ela e seus filhos a dor da perda, a pequena fazenda que produzia apenas para seus donos e uma pequena quantia em dinheiro. O maior pesadelo da jovem mulher era ter que entregar seu filho para guerra e o pior era que Harry desejava lutar pelo seu país em honra ao pai.
Harry POV
Acordei bem cedo, como de costume, pois fazia trabalhos de entrega em uma pequena mercearia, era o único jeito de poder ajudar a minha família. Saia pela manhã depois de tomar um copo de leite e comer uma fatia de pão, pegava minha bicicleta com uma cesta para carregar as mercadorias na frente do guidão e pedalava até o centro, onde ficava a pequena loja da família Hudson. Chegava sempre no horário marcado, mas o senhor Brant resmungava sem motivos assim mesmo. Minha mãe dizia que ele era assim por ser italiano de sotaque forte, mas isso não justificava o mau-humor matinal do senhor bigodudo.
Meu dia começou com uma bronca de rotina e a senhora Bárbara já me entregava os primeiros pacotes de pães para entregar. Bárbara, a mulher do senhor Brant, uma ótima senhora, eu a tinha como uma avó, a figura de uma perfeita e típica avó. Minha mãe e ela se tornaram grandes amigas depois que os Hudsons me admitiram como entregador. Isso foi incrível, pois só havia familiares trabalhando na mercearia e na cozinha, fazendo bolos e pães junto a ela.
A senhora Bárbara nos ajudava bastante, mesmo me pagando pelo trabalho que eu fazia. Éramos eternamente gratos a ela.
Entrei na cozinha do local e vi a família trabalhando, Niall, neto de Bárbara e Brant, veio até mim sorrindo para me cumprimentar, e como de costume, me dar algumas de suas receitas e perguntar:
— Está bom? — Perguntou o louro italiano de sotaque igual ao do avô. O garoto sorria bobamente me admirando mastigar e suspirar virando os olhos ao comer o pequeno e delicioso pão doce.
— Eu já disse que você é ótimo na cozinha? — Disse e mordi mais um pedaço, suspirando fundo novamente. — Está ótimo como sempre, Niall!
— Grazie! — Agradeceu em italiano e depois olhou para os algarismos romanos do relógio e os arregalando. — Harry, acho melhor você correr e fazer a primeira entrega antes que a família venha reclamar e meu avô grite mais uma vez com você.
— Deus! É verdade. Tenho que para de vir aqui te ver e comer algo. – Disse recolhendo os pacotes de cima do balcão de madeira rústica e me virando para sair dali. — Até mais Niall.
O louro acenou e sorriu largo, retribui e me retirei, passando escondido pela mercearia e encontrando minha bicicleta encostada em uma árvore do lado de fora. Coloquei os pacotes ainda quentes no cesto e subi em cima da bicicleta, começando a pedalar rápido. Tenho apenas dez minutos para chegar à primeira casa.
Tenho que tomar cuidado com a pequena e estreita estrada de terra, havia buracos e pedras, o que poderia me causar uma queda e atrasar a entrega.
Pode parecer cansativo e chato ter que ouvir bronca de um senhor italiano todos os dias, mas apesar de tudo isso, de ter que aturar tudo isso que eu até considero engraçado, de ter que trabalhar para ajudar minha família, eu gosto dessa rotina. Me faz bem acordar pela manhã e ter a honra de avistar ao abrir a janela os primeiros raios de sol e ouvir os pássaros cantarem suas melodias no meu jardim, me faz bem se sentir parte de uma família, de ter uma avó e um avô, de ter um amigo que sorri todos os dias me fazendo testas suas novas receitas. Me faz bem ir até o quarto das pessoas mais importantes da minha vida e vê-las dormindo seus últimos minutos antes de terem que acordar e se arrumarem para cuidar dos afazeres da fazenda. Me faz bem seguir os caminhos tranquilos da cidade, ver as belas paisagens ao meu redor e vivenciar cada detalhe de cada canto que passo. Me faz bem sentir a brisa suave alisando minha pele, de sentir o sol me aquecer e me fazer sorrir durante todo os caminhos, pode chegar em cada casa e receber um sorriso como gorjeta ou prêmio extra.
— Droga! — Meus pensamentos foram bloqueados instantaneamente quando meus olhos avistaram um garoto logo a minha frente, me olhando assustado e sem reação. Estávamos muito perto um do outro, mas eu tentei desviar o mais rápido possível, mas não o suficiente para que o guidão se chocasse bruscamente na cintura do garoto e o fizesse cair no chão, me fazendo perder o controle e cair na grama ao lado da estrada, deixando os pacotes cair.
Por sorte não me machuquei, levantei rapidamente e fui até o garoto aparentemente menor que eu para ajuda-lo e me desculpar. O encontrei com as mãos na cintura e me aproximei, me abaixando de frente a ele que ficava seu corpo de cabeça baixa.
— Mil desculpas, eu me distraí e não te vi no caminho, por favor, me perdoa. — Me desculpei e ainda me sentia culpado, estendi a mão para que ele a pegasse e eu pudesse ajuda-lo a se levantar. O garoto perfumado de cabelos lisos e claros ergueu o rosto depois de ver minha mão e olhou em meus olhos, com um sorriso fraco no canto dos lábios finos e rosados. Olhos azuis e profundos.
— Não se preocupe, a culpa foi toda minha por não ter prestado atenção no caminho. — Disse e pegou minha mão e eu o puxei para cima ainda fitando em seus olhos. Sorri e ele fez o mesmo, ficando levemente corado e olhando para as mãos sem seguida. Estavam arranhadas e sagravam.
Durante alguns segundo, fiquei parado, apenas tentando encontrar seus olhos que vez ou outra se desviavam dos meus, algo estranho se passava dentro de mim e isso casou batimentos rápidos e desesperados no meu coração. Eu sentia algo, algo estranho, diferente, algo que eu jamais havia sentido. Não sei o definir o que senti, mas sei que quero descobrir o que isso significa.
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