Sarada estranhou tudo naquela noite desde quando havia entrado no carro do Uzumaki, estacionado no ginásio do colégio.
O cobertor jogado no banco de trás, o jeitinho como o garoto estava especialmente mais nervoso ao lado dela, ao ponto de corar com uma simples troca de olhar. Receoso de ser descoberto antes da hora e estragar toda a surpresa que havia preparado com tanto carinho.
Era para ser uma coisa inesquecível.
Tinha que ser desta forma. Ela merecia isso. A prova das provas.
Boruto suspirou. Em silêncio, concentrado enquanto dirigia. Os olhos azuis fixos na pista. As mãos apertando o volante na intenção de disfarçar o quanto estava ansioso para chegar logo ao destino final.
– Bolt... Eii... Bolt... BORUTO!
A Uchiha o chamou insistente. Tocando com uma das mãos sobre a coxa direita do loiro o fazendo tremelicar por inteiro. Os cabelinhos da nuca do garoto se eriçando e uma sensação de choquinhos elétricos percorrendo cada veia dele.
– Sas...Sarada... céus! – ele murmurou. O rosto vermelho, pegando fogo, a fazendo vincar a testa estranhando o excesso de sensibilidade que o Uzumaki apresentava.
– Que foi? Tô tentando te chamar pra perguntar aonde a gente vai... Até agora você não me explicou nada.
Sarada rebateu ainda confusa, notando uma das mãos de Boruto deixar o volante e buscar pela sua. Os dedos dele entrelaçarem aos seus, dando um leve aperto.
– É que... que... é uma surpresa minha bravinha, pra você. Mas a gente já tá chegando... relaxa.
O loiro respondeu hesitante, pegando um desvio à direita na avenida principal, rumo à reserva florestal da cidade. Onde ficava localizado o observatório de Konoha. Um lugar pouco conhecido do público em geral, mas muito apreciado pelos apaixonados por astronomia.
Boruto estacionou o carro logo na entrada e desceu aflito, indo direto buscar alguns itens no porta-malas.
Desconfiada, a Uchiha observou o garoto ajeitar nas costas uma grande mochila, quase do tamanho dele e pegar no banco de trás o cobertor que ela tinha notado quando entrou no veículo.
– Pronta...vamos? – ele estendeu a mão, fazendo menção de que seguiriam a pé o restante do caminho.
– É sério isso? A gente vai andar no meio desse mato todo? – a morena franziu cenho descontente com a ideia.
– Tá com medinho amor? Não precisa ficar... Eu tô aqui bem do seu lado e a protegerei sempre. – Boruto declarou meio debochado, meio carinhoso, arrancando um longo suspiro dela.
– Não tô com medo idiota... só não gosto de me enfiar no meio do nada... a noite... com risco de algum maldito inseto grudar no meu cabelo.
Sarada retrucou, revirando os olhos e colocando o capuz do moletom que vestia na cabeça.
– Linda... – o loiro murmurou baixinho, observando sob a luz da lanterna do celular, reparando em como a Uchiha estava fodidamente bonita naquela noite.
– Hãã?
– Eu disse que você fica linda com esse moletom preto... que aliás é bem parecido com aquele que eu uso sempre né... que coincidência... ou não? Comprou pra não me esquecer?
Boruto insinuou, antes de abrir um sorriso de canto, com uma expressão de molequinho travesso estampada no rosto, que o deixava ainda mais charmoso.
– Jura? Pois eu achei bem diferente do seu... quando escolhi e comprei na loja. – ela replicou, mentindo descaradamente.
– Sei... é tão difícil assim, Sarada?
– O que ?
– Você admitir em voz alta que gosta de mim? – ele sorriu triunfante ao perceber o rubor crescer nas bochechas dela e se espalhar pelo rosto todo.
– Eu gosto de você igual eu gosto de sorvete de menta, satisfeito?
A morena respondeu. Os lábios repuxados, exibindo um mínimo, quase imperceptível sorriso, que quase ninguém perceberia. Porém Boruto notou no ato, com maestria, como se tivesse previamente estudado cada expressão dela. Adorando ver como tinha êxito em mexer com a morena, tirando-a de sua zona de conforto.
– Larga de ser teimosa e admita logo que eu não fui o único que ultrapassou a linha da amizade por gostar de você...quando você também se apaixonou por mim.
Gostar.
Gostar de alguém no sentido romântico.
Ter sentimentos genuínos, fortes e intensos de atração por uma pessoa ao ponto do coração disparar e a boca secar.
Era definitivamente sobre isso que o Uzumaki falava e Sarada sabia, embora tentasse disfarçar.
Caminharam em meio a mata fechada da reserva por mais ou menos uns cinco minutos em completo silêncio, até alcançarem uma campina toda aberta, forrada de tulipas vermelhas, contrastando com o escuro do céu limpo repleto de estrelas.
Incrível. Incrivelmente bonito e sinistro, o lugar.
Sarada pensou atônita.
Os olhos ônix se arregalaram diante de tamanha beleza natural. A luz da lua cheia refletia no mar de flores vermelhas cor de sangue, ocasionando uma sensação de calor e de aconchego. Como se os dois adolescentes estivessem dentro de um grande coração vivo e pulsante.
E bem no centro, numa espécie de plataforma de concreto, havia uma pequena construção ovalada, toda branquinha com uma abertura no telhado.
– Boruto... – envolvida pela magia icônica do lugar a Uchiha sussurrou, deitando a cabeça no ombro dele. – Lindo... é lindo demais...Como você conhecia aqui?
– Meu tio Neji costumava me trazer, desde pequeno. Era uma coisa nossa... sabe? Observar as estrelas juntos.
Boruto comentou em um tom saudosista que Sarada conhecia muito bem e ela o encorajou a continuar a falar apenas incentivando-o com o olhar.
Passando o braço pela cintura dela, o Uzumaki a conduziu em direção ao observatório, ao mesmo tempo em que prosseguiu com a sua narrativa.
– Ele dizia que quanto mais estudamos os céus, mais saberemos sobre os próprios seres humanos.
O loiro fungou, enxugando com o antebraço os olhos azuis marejados e apontou na direção de um grande telescópio que pôde ser visto, assim que se aproximaram da construção.
– Aqui é tipo o meu lugar secreto... E você é a primeira pessoa que vem comigo, desde quando meu tio "se foi"...
Boruto finalizou destrancando a porta do observatório com um tipo de chave bem pequenininha, de formato especial que lembrava um parafuso e que ele carregava no pescoço feito um pingente.
– Sinto muito Bolt... pelo seu tio... De verdade.
Sarada sussurrou doce, assim que entraram, enquanto Boruto deixava a mochila que levava nas costas em um canto no chão.
E notando a fragilidade do loiro estampada no olhar, a Uchiha o abraçou, encostando o rosto no peito dele que subia e descia rapidamente, conforme Boruto buscava respirar fundo algumas vezes a fim de tentar se acalmar.
Em silêncio, os dois permaneceram juntinhos, apenas curtindo a companhia um do outro. Sarada entendia bem o que era aquilo. Compartilhava do mesmo sentimento do Uzumaki.
A dor da perda. De perder alguém importante e querido.
Ela perdera Itachi no ano anterior.
Os olhos ônix da garota então, miraram nos azuis cheios de tristeza de Boruto, a deixando com o coração apertado ao vê-lo daquele jeito amuado, feito um gatinho ferido.
– Bolt... – ela o chamou com o intuito de ganhar toda a atenção dele. E usando a pontinha dos dedos, a Uchiha acariciou alguns fios de cabelos, afastando-os da testa e depositando um beijo casto, mas com ternura por lá, antes de complementar.
– Eu também perdi alguém ... E entendo como você se sente... – Sarada suspirou, recordando-se de Itachi. – Pode contar comigo sempre, tá bom? Estamos juntos nessa...
– Juntos? – Boruto vincou a testa, arqueando uma das sobrancelhas, e fitou a morena com descrença.
– Sim, Bolt. Juntos... – Sarada confirmou, achando graça de como o rosto dele se iluminou e o sorriso alargou, diante de uma simples declaração.
– Valeu bravinha... eu precisava disso.
Boruto a envolveu pela cintura com os braços fortes, de modo possessivo.
– Sabe...desde quando eu te conheci naquele dia na praça... Eu senti, Sarada... – ele deu um leve aperto, colando seus corpos, um no outro. – Que você era diferente... um diferente bom, especial. Você me devolveu algo que eu achei que tivesse perdido pra sempre...quando meu tio faleceu... – ele encheu o pulmão de ar e prosseguiu. – Esses seus olhos negros... tão escuros e ao mesmo tempo tão cheios de luz... Me trouxeram de volta a vontade de viver intensamente... com você, Sarada.
Visivelmente tocada, odiando ver as orbes azuladas do Uzumaki sofridas daquela forma, a Uchiha o puxou pela gola da camiseta, chocando seus lábios nos dele em um beijo repleto de significados, pegando o garoto de surpresa.
Mesmo com certas travas emocionais, Sarada queria demonstrar todos os sentimentos que nutria por ele. Não aguentando ver o loiro idiota com aquela carinha tristonha. Era a energia vibrante e contagiante de Boruto em conjunto com o sorrisinho debochado dele o que mais a cativava e ela adorava ver no garoto.
– Eu tô aqui... pra você Bolt e sempre vou estar... com você! – a morena voltou a dizer, desta vez mais incisiva.
– Linda... você é todinha linda, por dentro e por fora, Sarada. E bem surpreendente também. – o Uzumaki sugou o lábio inferior dela, a fazendo arfar. – Agora vem cá...preciso te mostrar o porquê viemos até aqui.
Boruto deu mais alguns beijinhos pelo rosto da morena e se afastou dando uns passos para frente, seguindo em direção ao telescópio profissional, instalado no lugar.
A paixão do loiro pela astronomia havia começado apenas como uma forma de passar algum tempo junto de seu tio Neji, que trabalhou boa parte da vida no observatório de Konoha. Todavia a curiosidade em explorar o desconhecido, a ideia de observar milhares de corpos celestes, planetas e estrelas tornou-se um hobby que o garoto passou a se dedicar com afinco, mesmo após o falecimento do Hyuga.
Sarada não entendia nada sobre o céu ou as estrelas. Mas gostou de assistir com atenção, como Boruto empenhava-se em ajeitar as lentes e digitar coordenadas na tela de um pequeno computador, acoplado ao telescópio.
Mordendo o cantinho do lábio inferior, segurando em uma das mãos uma folha de papel como se fosse um precioso tesouro, o loiro se certificou de que havia colocado todas as informações necessárias e então chamou a Uchiha.
– Vem linda... – ele estendeu a mão na direção dela, a guiando até o telescópio e colocou-se atrás do corpo da garota, a fim de instruí-la. – Feche um dos olhos e olhe com o outro bem aqui, nesse buraquinho...
Seguindo as instruções de Boruto, Sarada fez exatamente como ele orientou, sentindo o corpo quente dele grudar em suas costas e as batidas aceleradas do coração do garoto em pura ansiedade. Ao mesmo tempo em que, observava maravilhada uma porção de estrelas bem de pertinho, através das lentes do telescópio.
– Tá vendo aquela estrela bem brilhante de coloração meio avermelhada? Do lado esquerdo da constelação de sagitário.
Boruto sussurrou próximo ao ouvido dela. A voz saindo mais rouquinha do que o habitual, arrepiando grande parte dos pelinhos do corpo da Uchiha.
– Sim... tô vendo. Parece um mini coração vibrando no céu. Bem diferente essa estrela... gostei!. – ela exclamou alheia às segundas intenções dele.
– Que bom que gostou bravinha... porque é sua.
Boruto contou exibindo um sorriso triunfante e envolvendo a Uchiha com os braços em um abraço apertado.
– Mi-minha? Como assim?
– Sim! Toda sua... Oficialmente batizada por mim de Estrela Sarada Uchiha, a minha paixão. – ele deixou um beijo no pescoço dela. – Pode conferir... eles emitem até um certificado com as coordenadas da estrela no céu, seus dados pessoais de proprietária e o nome que eu escolhi...tirando a última parte
Disse o garoto mostrando o documento oficial emitido pela NASA com o registro da estrela de coloração avermelhada, semelhante a um coração.
Perplexa, a Uchiha pegou o certificado das mãos dele, sem evitar de fazer brotar um sorriso de satisfação em seu rosto.
– "Estrela Sarada Uchiha, a paixão de Boruto Uzumaki" – a morena leu palavrinha por palavrinha extasiada.
Era tudo mesmo verdade.
– Céus... isso é real. – disse ela, ao analisar o documento atentamente com os próprios olhos. – Você é maluco Boruto... Maluco demais... Porque fez isso? Eu... eu AMEI. É a coisa mais sensacional que eu ganhei na vida.
– Já disse que sou louco por você Sarada... E agora temos uma coisa que nos ligará pra sempre. Uma estrela que lembra um coraçãozinho.– ele respondeu dando de ombros, como se aquela fala melosa fosse o óbvio.
E virando o corpo da Uchiha de frente para o seu, Boruto a beijou sedento, consumindo a boca dela por inteiro. Como se morena lhe pertencesse e ele fosse seu único dono.
Totalmente entregue ao Uzumaki, Sarada correspondeu na mesma intensidade, embrenhando os dedos pelos fios loiros dele, os puxando com vontade. Enquanto o garoto descia os beijos molhados por toda a região sensível de seu pescoço, arrancando um gemido tímido dela.
– Eaí? Consegui te provar, bravinha? Que eu realmente quero ficar com você? E somente com você?
Boruto murmurou sem descolar os lábios da pele leitosa da Uchiha..
– Humm... uma vitória no jogo... uma bola de basquete com dedicatória especial e uma estrela oficialmente só pra mim?! – Sarada o fitou com um sorrisinho ladino de canto. – Será que foi suficiente, Bolt? – ela beijou os lábios dele rapidamente. Apenas porque sabia que eram somente dela.
– E foi? Porque por você eu sou capaz de fazer qualquer coisa, minha paixão... te daria o mundo se você me pedisse, Sarada.
Sorrindo, com o coração quentinho e as borboletas em seu estômago agitadíssimas, diante da cantada barata do loiro, Sarada respondeu manhosa.
– Eu não preciso do mundo... quando já tenho você, Boruto.
E feito um verdadeiro príncipe, ele se abaixo passando um dos braços por de trás das pernas dela, a erguendo no colo e a levando até o cobertor estendido estrategicamente embaixo da abertura do teto oval. Com uma visão privilegiada do céu estrelado.
– Pois eu vou te fazer ser a minha garota, Sarada... a garota de Boruto Uzumaki.
– A única? – ela replicou, o cenho franzido, ao se deitar ao lado do loiro, aconchegando a cabeça no tórax dele.
– E assim como a estrela vermelhinha é a única no céu, com essa coloração. Você, Sarada Uchiha, é a única que reina absoluta no meu coração.
– Ai Boruto...só você...
A Uchiha revirou os olhos diante da fala clichê dele e o abraçou apertado. Tentando disfarçar que por dentro estava explodindo de felicidade.
"Sarada Uchiha, uma estrela... Sarada Uchiha a garota de Boruto Uzumaki"
Continua...
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