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História Tiro Certeiro - Fogo Cruzado


Escrita por: worldyeol

Notas do Autor


fala meus meliantes, como é que vocês tão?
eu tô aqui, quase colocando meus bofes pra fora porque tava morrendo de ansiedade pra compartilhar isso com vocês, e agora finalmente posso dividir as raivas e emoções que esses dois me causam!!
deixo avisado desde já que eles são dois tontos, são bem infantis em alguns momentos, mas quem nunca foi, que atire a primeira pedra, né não?

os chanbaek são inspirados na amy e no jake em alguns aspectos. brooklyn 99 é uma das minhas séries atuais favoritas, e alguns acontecimentos da fanfic são inspirados na série, também!! apesar disso, não é necessário ter assistido para o entendimento do enredo. terão sim algumas referências, mas nada que atrapalhe!

quero agradecer, antes de tudo, à ray (RK), que fez essa capa MARAVILHOSAAAAA! ela tem um projeto lindíssimo de capas chamado apoloproject, eles estão com os pedidos fechados no momento, porém acredito que logo logo estarão abertos. indico bastante, caso alguém ai esteja precisando de uma capa! eles são tudo pra mim!!!
também quero deixar meu obrigada para a céuzinha (devilsehun) que betou esse primeiro capítulo e estará betando os próximos também, então vocês vão ver o user dela aqui com frequência kkkkk. te amo bastantão, obrigada por estar sempre comigo ♡
também não poderia deixar de agradecer à kel por sempre me apoiar e se dispor a aguentar meus surtos. sem você, com certeza eu não teria postado metade das fanfics que tenho aqui e com certeza já teria desistido de muita coisa. te amo, meu amor ♡
EEEEEEE por último, mas não menos importante, dedico essa fanfic aqui à minha erigom e pyro favorita, a sarah, que me marcou em muitas coisas dos chanbaek policiais pra me incentivar a escrever essa fanfoca aqui e me incentivou tanto que cá estou eu, capitulando o que era pra ser apenas uma oneshot kkkkkk. te amo te amo te amo ♡

acabadas as boiolagens, podemos dar início
ahhh, só pra esclarecer, a fanfic terá 10 capítulos (tava com saudade de postar longfic que não é tão long assim)
vou deixar o resto pelas notas finais onde INCLUSIVE estará a playlist de TC, para quem se sentir confortável em ler ouvindo algo, ok?
tiro certeiro também estará sendo postada no AO3, pra quem prefere ler por lá! eu fiz uma formatação muito bonitinha e o banner perfeito foi feito pela kel, então entrem lá pra dar uma olhadinha, também! o link do primeiro capítulo está nas notas finais, colocarei em cada um que postar aqui <3

dito istooooo
boa leitura :)

Capítulo 1 - Fogo Cruzado


 

GLOSSÁRIO 

1. ANPC: Agência Nacional de Polícia da Coreia

2. PNC: Polícia Nacional Coreana  

 

 

Park Chanyeol e Byun Baekhyun não se suportavam, e isso não era novidade alguma para todos que ocupavam a Agência Nacional de Polícia da Coreia. 

Como se isso já não fosse o bastante, eles ainda dividiam a mesma função dentro do Departamento de Investigação, o que  era o suficiente para protagonizarem várias discussões que beiravam o absurdo de tão tolas.

Quando Baekhyun completou dois anos de trabalho como detetive, sentiu que as coisas poderiam finalmente melhorar para o lado dele e que conseguiria se aproximar cada vez mais do sonho de se tornar sargento, assim que tivesse idade o suficiente para tentar ocupar este cargo. 

Porém, tudo foi por água abaixo quando Lee Donghae, parceiro de Baekhyun até então, pediu para ser afastado do cargo de detetive. Todos cochichavam pelos cantos que isso era derivado das exigências metódicas de Byun, que vivia gritando pelo departamento e polindo o outro rapaz à sua maneira. 

E, bom, ele pagou por tudo isso no momento em que Park Chanyeol entrou para ocupar o lugar de Donghae. 

Baekhyun gostava de mandar, mas Chanyeol odiava seguir regras e não obedecia nada de cabeça baixa. 

Só depois de muitas discussões —  algumas até perigosas, como a que aconteceu no estande de tiro da delegacia, quando estavam nos treinos semanais obrigatórios e Byun quis ensinar ao Park a maneira correta de empunhar uma pistola —  que eles foram ordenados pelo superior, Kim Junmyeon, a trabalharem separadamente, para que evitassem mais intrigas e não acabassem sendo afastados dos próprios cargos por esse motivo. 

Era exatamente dessa forma que conviviam, mesmo cinco anos depois da admissão de Chanyeol. Cada um em uma extremidade do departamento, com mesas separadas, cuidando cada qual de suas próprias pilhas de casos.

Todos os outros detetives e policiais tinham que tentar sobreviver em meio àquele fogo cruzado, e muitos até se esforçavam para que nada acabasse explodindo entre eles, controlando tudo para que sequer se trombassem pelos corredores. 

Eram como uma granada de pino falho, e qualquer coisinha, mesmo que mínima, poderia causar uma dor de cabeça imensa no Prédio Central inteiro.

De qualquer forma, eram os melhores exercendo as funções deles. Competiam indiretamente e sempre se esforçavam para superar os números de casos solucionados um do outro. Isso obviamente rendia muitas coisas positivas para a posição da agência 6-7, de Seul, no Ranking Nacional que acontecia entre as delegacias de todos os bairros locais, principalmente se levassem em consideração que cuidavam de uma quantidade muito grande de casos por estarem centralizados na metrópole do país.

Quem não sabia sobre a rixa que existia entre eles acabava até sugerindo para que se juntassem e se tornassem uma dupla imbatível, e talvez isso tivesse dado certo se seus métodos investigativos não fossem tão opostos quanto eles. O estilo regrado de Baekhyun irritava Chanyeol, e o estilo intuitivo e desleixado de Chanyeol vivia tirando Baekhyun do sério só de botar os olhos em sua mesa totalmente desorganizada.

Então, para o bem de todos, compensava muito mais mantê-los daquela forma, no estilo àgua e óleo.

E era assim que deveriam permanecer pelo resto de suas carreiras, para que elas continuassem sendo promissoras. Deveriam, mas não foi bem isso que aconteceu.

Uma situação ocasional levou tanto a água quanto o óleo para o ralo, misturando tudo de um jeito indesejado —  ao menos inicialmente.  

 

 

 

 

[...]

 

 

 

Tudo começou por causa daquela fatídica manhã de sexta-feira. 

Por um acaso do destino, Chanyeol chegou no horário pela segunda vez em toda a carreira policial, deixando todos surpresos quando estacionou o seu Corvette C4 inconfundivelmente vermelho na vaga que lhe pertencia, distante da BMW preta e sem graça — aos seus olhos — de Baekhyun. Sempre o julgou internamente pelo gosto duvidoso por carros atuais, mas também deduzia que ele não entendia nada de automóveis e era do tipo que comprava o que estava em alta mesmo. 

De qualquer forma, não estava enganado.

Saiu de seu carro assobiando, travando as portas. Lembrou que estava sem o distintivo e muito menos com a credencial, então correu de volta para a vaga apenas para pegá-los. Já havia se tornado um hábito, por isso que nem se surpreendeu consigo mesmo. 

Cumprimentou as pessoas que passavam por ele, até que finalmente conseguiu entrar no elevador, acreditando que estava atrasado por culpa de seu relógio, que marcava o horário errado. Ao chegar no décimo sétimo andar do prédio — o último daquela torre espaçosa —, deixou o elevador e voltou a assobiar. 

Como também já estava acostumado a chegar atrasado, nem se preocupava mais. Sempre compensava no final de seu horário de trabalho, ficando uns minutos a mais depois de todos do turno da manhã irem embora, então não via problema algum em agir daquela forma tão despreocupada. 

— Bom dia, Seungwan! — Passou pela escrivã, abaixando os óculos escuros para dar uma piscadela na direção dela, que apenas revirou os olhos, como de costume. Continuou andando normalmente, há tempos que não se sentia ofendido pelos foras que levava. — E aí, Kim! — cumprimentou seu colega de trabalho com um toque rápido de mãos ao passar pela mesa dele. 

Fazia isso sempre que chegava, cumprimentando cada uma das pessoas que ficavam próximas de sua mesa da maneira mais escandalosa possível. 

— Encaixa esse distintivo direito se não quiser levar uma coça do capitão logo cedo, Park! — Jongdae aconselhou, segurando a mão de Chanyeol para que parasse de caminhar —  E, vem cá, que milagre é esse que você chegou no horário? 

— Como assim no horário? — perguntou, tirando os óculos escuros para guardar no bolso interno da jaqueta de couro, que sempre usava por cima da camisa quadriculada.

Ajeitou o distintivo redondo, de ferro, com o símbolo da bandeira nacional em cores vermelho e azul, que havia pendurado porcamente no pescoço enquanto estava no elevador. Não mostrá-lo era um desrespeito à sua profissão, então mesmo que odiasse andar com aquilo balançando a cada passo, teria que continuar usando bem à mostra enquanto estivesse na delegacia e, especialmente, fora dela.

— São sete e meia ainda, cara — Jongdae disse e deu espaço para que visse que horas marcavam no monitor do computador ainda bloqueado.

Foi só então que percebeu que o departamento ainda estava praticamente vazio, havendo apenas ele, Jongdae e mais algumas poucas pessoas ao redor deles. Sempre que chegava, estavam todos por lá. Era sempre o último nesse quesito e isso foi tão estranho que chegou a ser incômodo.

— Porra… Isso quer dizer que eu perdi meia hora de sono? — Chanyeol soltou os ombros, suspirando. — Meu dia já começou uma bosta, então. Espero que aquele toco do demônio nem pense em cruzar o meu caminho, porque senão a merda vai tá feita—  resmungou, seguindo na direção da “Zona do Café”.

— Ô Park, pra onde é que cê tá indo? —  Jongdae se prontificou a levantar, empurrando a própria cadeira de rodinhas para frente, tenso.

— Tô indo tomar um cafézinho e comer uns biscoitos, ué? Não mereço sentir o sabor da felicidade pelo menos uma vez no dia? —  respondeu como se fosse óbvio, andando de costas para a porta apenas para sorrir na direção de Kim, que parecia aflito  — Tô morto de fome, saí sem tomar café porque jurei que tava atrasado e… —  Ignorou quando Jongdae se aproximou e só parou antes de entrar porque ele lhe segurou pelo braço.

— Chanyeol, pelo amor de Deus, não entra aí! —  implorou, engolindo seco —  Se alguma merda acontecer, eu tô lascado!

—  Que foi, cara? Tu escondeu um corpo aqui, por acaso? —  brincou, soltando o braço das mãos do Kim para seguir em frente, curioso para saber do que se tratava. 

— É pior ainda… —  Jongdae cochichou como se estivesse contando um segredo de estado —  Vai por mim.

—  Para com essas suas paranóias, irmão! Já te aconselhei a procurar ajuda psicológica ou tentar trocar de departamento porque isso tá passando dos limites — disse, por fim, girando a maçaneta e atravessando a porta, se deparando com a última coisa que gostaria de ver. 

Byun Baekhyun estava com a mesma expressão fechada de sempre, só que algo parecia pior naquele dia. Suas sobrancelhas estavam frequentemente franzidas e, normalmente, ficavam de maneira involuntária, mas agora... parecia proposital. Ele bufou ao perceber que era Chanyeol quem tinha aberto a porta daquele jeito barulhento, revirou os olhos e guardou o celular que tinha em mãos em um dos bolsos da calça social escura que usava. 

— E-eu tentei impedir ele de entrar… — Jongdae buscou se justificar, recebendo uma olhada mortal —  D-desculpe.

— Pera aí… — Chanyeol olhou para Baekhyun com as pálpebras estreitas. —  Calma lá! Por que me impedir? Quem ele acha que é pra alugar a Zona do Café desse jeito, hein? O prefeito de Seul?

Baekhyun pegou a caneca com o emblema da polícia que tinha deixado pelo balcão e seguiu em direção à porta com sua expressão de poucos amigos virada na direção do mais alto. Chanyeol esperou que algo acontecesse naquele instante, pelo menos um trombar de ombros proposital, mas, para a sua surpresa, ele apenas passou quieto, seguindo em direção ao lado dele do departamento.

Park o seguiu com o olhar, ainda desacreditado. Jongdae também continuava com o queixo caído. Baekhyun não era do tipo que evitava conflitos, ainda mais os que eram relacionados à Chanyeol, então aquilo soou particularmente duvidoso. 

Alguma coisa havia acontecido.

— O que será que rolou pra ele ter agido assim? —  Jongdae perguntou em outro cochicho, quebrando o silêncio — Da última vez que vocês se encontraram aqui, voou café para todo lado… 

Chanyeol se lembrava muito bem de tudo o que rolou naquele dia.

 

 

[...]

 

 

Também tinha chegado mais cedo e tentou entrar na Zona do Café, mas Baekhyun bateu a porta no meio da sua cara. Após espalmar a placa de madeira diversas vezes, o viu abrir e, sem qualquer aviso prévio, jogar o resto do café já frio na camisa quadriculada que usava às segundas, lhe surpreendendo o suficiente para que desse um pulo para trás e levasse os dedos para a parte melequenta, para checar se realmente não estava quente. Subiu os olhos grandes e arregalados para o rosto emburrado, ainda desacreditado. 

A sala é toda sua, Park — Baekhyun disse sério, saindo do local.

Por que você fez isso, caralho? Tu é babaca? —  Chanyeol o seguiu, tirando a jaqueta para em seguida se livrar da camisa e ficar apenas com uma camiseta cinza, que também estava com resquícios de café. — Como que eu vou trabalhar agora com a roupa toda suja? Vou ter que gastar a porra de uma roupa tática por sua causa! — reclamou, desviando de Jongdae a cada vez que ele tentava impedi-lo de ir até a mesa do Byun.

E o que você acha de comprar uma roupa adequada, hein? Que esteja dentro do padrão exigido? Não te parece uma boa opção? — Baekhyun retrucou sem nem olhá-lo diretamente, sentando na própria cadeira giratória —  Apesar de que nem você é adequado o suficiente pra estar aqui, né? Mas até que uma gravata daria uma ajudinha. Não que fosse resolver muita coisa, porque não é uma plástica… Mas, quem sabe? —  zombou com certo desgosto, fazendo Chanyeol parar onde estava.

Cego de raiva, deu meia volta e foi até a Zona do Café. Baekhyun riu soprado ao vê-lo se afastar, jurando que ele tinha desistido de encher o saco, e Jongdae suspirou e o seguiu, encontrando-o concentrado demais em pedir um café gelado para a máquina.

Chanyeol, pelo amor de Deus, cara, olha lá o que tu vai fazer… — Tentou alertar, desesperado, sabendo que não conseguiria conter um homem daquele tamanho todo sozinho. 

Só vou devolver o que esse filho da puta fez comigo. 

Chanyeol saiu com o copo nas mãos, ignorando o choramingo de Jongdae, que apenas se encostou na parede da sala, sentindo sua pressão baixar. 

Pisando fundo, Park desviou das outras mesas que os separavam e se aproveitou da distração de Baekhyun com algumas pastas de casos, jogando o café frio nele e manchando praticamente toda a camisa social azul clara que ele vestia, irritantemente bem passada. Sorrindo satisfeito, jogou até o copo plástico na direção dele, atingindo o peitoral um tanto volumoso, manchado pelo líquido marrom, assim como o seu. 

Baekhyun não pensou duas vezes em levantar e avançar em Chanyeol. A única coisa que os impediu de saírem no soco no meio do departamento todo foi a voz do capitão superior, Kim Junmyeon, que havia chegado no exato momento e presenciado praticamente tudo.

Os dois. Na minha sala, agora! —  disse ele, com a mesma expressão séria de sempre, seguindo em direção ao local indicado segundos antes — E não me façam repetir! — Usou um tom mais rígido, fazendo Baekhyun largar a gola da camisa de Chanyeol no mesmo instante, se ajeitar e seguir para a sala.

Chanyeol bufou e soltou os ombros, indo pelo mesmo caminho.

 


 

[...]

 

 

— É... com certeza deve ter acontecido alguma coisa — Park concordou, se recuperando de seus devaneios. Olhou para Jongdae e entrou na Zona do Café, ainda afetado. — E eu espero que tenha sido algo bem merda, porque é isso que ele merece.

— Cuidado ao desejar o mal pros outros! Pode voltar pra você, Park —  Jongdae repreendeu, pegando dois copos plásticos de uma vez só, entregando um deles para seu colega de trabalho.

— Nenhum mal supera a existência de Byun Baekhyun, meu caro —  respondeu, mexendo nos botões da máquina para ajustar o café do jeito que gostava. — Se o teto do departamento caísse bem na minha cabeça, doeria menos do que trabalhar com ele todo santo dia.

— Sinceramente, vocês dois são estranhos —  Jongdae riu soprado, ocupando a máquina que ficava ao lado —  Às vezes eu acho que vocês até não se bicam por serem parecidos demais em alguns sentidos.

Chanyeol não poupou a risada alta.

—  Que sentidos?! — questionou, com uma das sobrancelhas arqueadas. —  Endoidou? A gente não se encaixa de jeito nenhum, cara! Somos tipo peças de quebra-cabeças totalmente opostos, sabe? Que não encaixam nem se tu botar toda a força do mundo? E digo mais! Só vou me ver em paz quando ele finalmente resolver tentar o concurso que ele tanto estuda, virar sargento e cair fora desse departamento. — A máquina apitou, anunciando que o café de Chanyeol estava pronto. Ele pegou, dando uma leve assoprada para aliviar a quentura. — Já tô até ansioso para os meus dias de glória!

— E se ele um dia quiser se resolver contigo? Já pensou nisso? —  Jongdae perguntou, encostando o ombro na máquina e cruzando os braços — O Baekhyun não parecia estar no clima de briga, hoje… Pode ser, sei lá, um sinal de que vocês podem viver sem se bicar o tempo inteiro. 

— Kim… Meu querido… — Chanyeol abriu um sorrisinho irônico, se encostando próximo do balcão para pegar alguns pacotes de biscoitos. —  Tu acredita mesmo nessas palavras? —  Riu sozinho, deixando o copo na bancada para abrir o primeiro pacote, levando um biscoito inteiro para a boca. Mastigou olhando para o nada, pensando secretamente naquela possibilidade, mesmo que ainda parecesse totalmente distante. —  Ele é todo esquentadinho, só deve estar num dia ruim, ou talvez tenha finalmente transado a noite inteira. Se bem que aquela cara dele não é de quem transou, disso eu tenho certeza.

O café de Jongdae apitou assim que os dois riram em conjunto. 

— Você parece bem curioso sobre a vida sexual dele, não acha? —  Usou um tom brincalhão, abrindo o compartimento para pegar o copo que lhe pertencia. 

— Quê?! —  Chanyeol cuspiu o gole de café que tinha acabado de levar para os lábios de volta no copo, indignado. —  Sério, Jongdae, eu acho que a loucura dele tá pegando em você. Será que ele tossiu perto da sua mesa?

— Sério digo eu, Chanyeol! Vocês fingem que não ligam um pro outro, mas na verdade vivem se incomodando e reclamando de manias que ninguém nunca nem tinha reparado. Ninguém repara tanto em alguém que não suporta — falou tranquilamente, bebericando um pouco do café — Mas enfim, quem sou eu pra falar, né? Vocês que são estranhos, que se entendam. — Assim que concluiu a frase, seguiu para a porta com um sorriso divertido. — Agora irei me retirar porque daqui a pouco o capitão vai chegar e eu tenho que estar na minha mesa. Ah, e boa sorte com a sua saga de amor e ódio, tão bem feita que até Shakespeare sentiria inveja.

Chanyeol abriu a boca para retrucar, mas nem sequer teve tempo. Jongdae fechou a porta e o largou ali, sozinho, envolto de alguns pensamentos nublados. 

Pensou em tudo o que odiava em Baekhyun, em cada uma das frescuras dele para resolver casos, em como ele era metódico, organizado, certinho, cheio de regras… Tudo isso era um combo perfeito para tirar Park do sério.

Se fosse sincero consigo mesmo, admitiria que sentiu uma certa atração por Baekhyun no primeiro dia em que pisou no departamento, porque, convenhamos, ele não era de se jogar fora se visto de longe. Porém, essa mania de querer fazer as coisas do jeito dele não demorou para aparecer, e Chanyeol logo se arrependeu depois das primeiras dez palavras trocadas. 

Por isso que não se bicavam e provavelmente não se bicariam tão cedo. 

Rm… —  Chanyeol olhou para o copo, balançando a cabeça para afastar os pensamentos duvidosos que Jongdae deixou no meio daquela sala. —  Nunca. Nem fodendo. Literalmente. — Virou o último gole e jogou o pacote do biscoito no lixo, junto com o copo vazio. —  Credo! —  Fez cara de nojo, pensando em como deveria ser um saco transar com alguém tão cheio de não me toques. —  Ele deve ser um tédio na cama. E esse com certeza seria o título do vídeo pornô dele: tédio na cama —  murmurou sozinho, rindo e seguindo para a porta, fingindo não estar tentado a descobrir como realmente era tê-lo entre quatro paredes — O espírito é de velho mesmo, não deve ser tão diferente assim nessa situação… —  Maneou com a cabeça. — É, não faz meu tipo. Nem nisso… O que resta é aceitar mesmo, Kim Jongdae —  concluiu, abrindo a porta, tentando se preparar mentalmente para enfrentar mais um dia corrido. 

Chocou a placa de madeira contra o batente, ouvindo Baekhyun resmungar baixinho lá do outro lado.

Ele definitivamente não faz meu tipo, pensou, sentando na mesa completamente bagunçada e oposta à do rival. 

 

 

[...]

 

 

Mesmo tendo chegado cedo, Chanyeol resolveu ficar no departamento após o horário, como costumava. Morava ao lado de seu melhor amigo, Do Kyungsoo, e passava para buscá-lo no restaurante todos os dias após o expediente. Por isso, compensar as horas que perdia era bem mais vantajoso, pois só chegava a tempo de esperar por seu vizinho no balcão do bar e ajudá-lo a secar os copos que faltavam para que pudesse fechar, ao invés de ficar pelo local sem ter o que fazer além de paquerar algumas pessoas — o que nem sempre dava certo.  

Deu mais algumas lidas em seus casos, surpreso por não encontrar nada tão complicado. 

Delitos pequenos eram comuns, mas geralmente eram designados para detetives mais recentes. 

Resolveu não reclamar daquela vez porque estava exausto pelos meses anteriores, onde se dedicou totalmente a apenas um caso de grande escala. Prender um traficante de drogas já era cansativo, prender o cabeça desses traficantes era pior ainda. E foi o que Chanyeol conquistou, recebendo até mesmo um aperto de mão do prefeito —  esperava por mais, obviamente, mas só o fato de ver a cara de bunda que Baekhyun fez quando o viu ser parabenizado por alguém tão importante foi uma recompensa e tanto. Sorriu sozinho ao se recordar das sobrancelhas franzidas e dos braços cruzados dele. 

Fechou a pasta que estava em suas mãos, sabendo que resolveria aquele caso de pichação com facilidade no dia seguinte, e até por isso não viu problema em jogá-la no meio da pilha acumulada e desorganizada.

Levantou, pegando o celular do bolso para verificar se Kyungsoo tinha mandado alguma coisa, e não demorou a guardar de volta depois de ver que não havia nada além das inúmeras mensagens de sua mãe, perguntando se tinha se alimentado direito e bebido água durante o dia. Pegou as chaves do carro que sempre jogava em qualquer gaveta livre. 

Parou de frente à sala de Junmyeon, acenando rapidamente para avisar que já estava de saída, recebendo apenas um assentir como resposta. Se incomodava com o quanto ele era sério e quieto. Ninguém era próximo dele o suficiente para saber o que pensava ou supor o que acharia de qualquer coisa. Ele era uma incógnita para todos do departamento. 

Até Baekhyun, que não era lá muito amigável, tinha o Kim Minseok, da Perícia. E Chanyeol se pegou pensando nisso, se perguntando como alguém aguentava ser próximo dele por tantos anos… Isso também era uma grande incógnita, com toda certeza.

Seguiu pelo corredor, assobiando uma música qualquer para se distrair da demora do elevador. Apertou mais duas vezes o botão, mesmo sabendo que não adiantaria de nada. Entrou assim que a caixa metálica parou no andar em que estava e apertou o subsolo. Se despediu dos funcionários do turno da noite, sorridente como já era de se esperar, e rumou para o estacionamento, parando na própria vaga. 

Quando finalmente entrou no carro, sentou no banco estofado e suspirou, cansado. Ligou o rádio assim que deu partida, batucando os dedos no painel ao som de uma música que nem conhecia, pensando em uma forma de convencer Kyungsoo a lhe dar pelo menos uma caneca de chopp para conseguir relaxar antes que fossem para casa. Nem se preocupou em colocar o cinto de segurança, há tempos não utilizava. 

Foi o período certinho da música acabar para que conseguisse chegar. O restaurante não era muito distante da Agência Nacional de Polícia, então isso já facilitava bastante a locomoção, ainda mais naquele horário, com as rodovias praticamente vazias. Estacionou, desligou o rádio e o motor. Desceu do carro, trancando as portas. 

Seguiu em direção às portas principais do local, mas antes que pudesse abri-las, quase recebeu uma portada de um rapaz que estava saindo, aparentemente afetado pelas lágrimas que escapavam dos olhos. 

—  Ei! — Chanyeol repreendeu —  Cuidado, cara! Tu quase me acertou!

— Desculpa — ele respondeu sem nem virar para trás, rumando para longe.

— Babacão — Chanyeol murmurou, puxando a porta antes que fechasse por completo.

Entrou pelo restaurante praticamente vazio, ouvindo a música-ambiente que tocava, em conjunto com as conversas paralelas e os barulhos dos talheres nas louças que ainda rolavam. Parou e sentou de frente para o balcão, acenando para Kyungsoo, que estava conversando com um dos funcionários. Ao terminar o papo —  que mais parecia uma advertência —  Do seguiu para onde o melhor amigo estava, com um sorrisinho estranho no rosto. 

— E aí, chefia — Chanyeol brincou, estendendo uma das mãos para que fizessem o toque costumeiro.

Se conheciam há mais tempo do que saberiam dizer, caso fossem questionados. 

Eram vizinhos, quando crianças, e iam para a escola juntos. 

Quando se formaram na universidade, decidiram que a melhor escolha, para dois amigos solteiros, era se mudar para o mesmo condomínio para que dividissem a solidão. 

E foi o que fizeram. 

Não brigavam muito porque Kyungsoo era bem tranquilo, mesmo que não lhe faltassem motivos para gritar. Contudo, passou a se adaptar às manias de Chanyeol e optou por relevar muitas coisas apenas pela carona garantida e as risadas que o melhor amigo tinha para oferecer.

— E aí, autoridade — devolveu a brincadeira, ainda sorridente.

— Qual o motivo pra esse sorriso solto aí? Posso saber? —  Chanyeol perguntou, vendo-o aumentar o esticar de lábios ao apoiar os cotovelos no balcão. 

— Você viu aquele cara que acabou de sair chorando? —  questionou baixo, apontando discretamente para a porta.

— Sim…? —  respondeu como se fosse óbvio — Difícil seria não ver, né? Quase levei uma pancada na cara.

Ahhh! Não acredito que não levou mesmo! — Kyungsoo fingiu estar desapontado, levando um empurrãozinho no ombro, rindo da reação do mais alto. — Enfim, resumindo, ele tava sentado ali na mesa dois, junto com um certo rapaz… — Nem precisou finalizar para que Chanyeol virasse na direção indicada, encontrando algo surpreendente.

Byun Baekhyun, ainda trajado na roupa social que usava na delegacia naquela mesma manhã, estava servindo mais uma taça de vinho para si mesmo, com uma expressão frustrada. 

— É o seu colega de trabalho, não é? — A voz de Kyungsoo o puxou de volta para a realidade. —  Aquele que você vive falando mal.

— Como sabe quem é ele? — Se virou de volta para o balcão, umedecendo os lábios, tentando entender o que poderia estar rolando.

— Chanyeol… naquela foto de final de ano que vocês tiraram em equipe, você literalmente deu um zoom gigantesco na cara dele só pra ficar falando como ele era…

Antes que ele terminasse, Park interrompeu:

—  Ok! É o suficiente! 

Estava um pouco bêbado no dia em questão, porque tiraram aquela bendita foto em uma confraternização entre os membros da PNC. Mesmo assim, se recordava de ter batido às duas da manhã no apartamento do melhor amigo apenas para se jogar no sofá dele e dizer o quanto achava Baekhyun muito gostoso, com aquelas coxas bonitas apertadas pela calça social, a bunda redondinha em conjunto com o quadril um tanto largo…  mesmo sendo um porre de ser humano. E realmente achava tudo isso, apesar dos pesares. 

— Você sabe o que rolou entre eles? —  perguntou, curioso.

— Não vi de perto, mas, pelo o que o meu funcionário falou, parecia uma discussão de casal — explicou — E qual é a dessa curiosidade, ai? Pensei que ele não fosse importante, mas sua cara diz o contrário.

Chanyeol riu soprado, soando debochado.

— Tô cagando e andando pra ele. — Internamente, se perguntou o motivo de todos estarem o questionando sobre Baekhyun naquele dia. Passou a tarde inteira pensando no que Jongdae havia dito, não precisava de mais uma coisa para refletir, ainda mais vindo de Kyungsoo, que sabia como usar as palavras. —  Só tava curioso, mesmo. E impressionado, porque não imaginava que ele se envolvesse com homens. Na verdade, nem pensei que alguém em sã consciência teria coragem de se envolver com ele.

—  Sei… — Sorriu, recebendo um olhar tedioso de Chanyeol.

— Não me importo com o que você acha — mentiu, ainda estressado com o rumo da conversa — Agora me traz um chopp, por favor, porque diferente de você, eu sou um ótimo amigo e mereço um agrado por vir te buscar todos os dias.

—  Você vai dirigir. Não tem que ficar bebendo antes de pegar num volante, sabe disso — advertiu de maneira cuidadosa. 

— Quem é o policial aqui mesmo? —  questionou, cruzando os braços — É sexta à noite, Kyungsoo. Um copo de chopp não mata ninguém, pelo contrário, pode até manter vivo. E, além do mais, você pode dirigir por mim.

— Não pense que vai ser de graça — respondeu, cedendo, por fim.

Chanyeol gesticulou com as mãos para que ele se afastasse logo, como se estivesse o varrendo dali. Assistiu Kyungsoo ir cozinha adentro e aproveitou a deixa para voltar os olhos novamente para Baekhyun, percebendo o quanto ele parecia triste e solitário. Disfarçou a vontade de se aproximar com um sorrisinho pequeno, pensando na ideia cruel que tinha dominado sua mente.

Seria muito maldoso se fizesse algo do tipo?

Honestamente, nem perguntou isso a si mesmo quando decidiu pegar o celular do bolso frontal da calça jeans. Tinha o número profissional dele e, a julgar pelas vestimentas, ele tinha ido direto do trabalho para o restaurante, ou seja, provavelmente conseguiria fazer o que queria. Mexeu nas configurações de seu próprio aparelho, mudando para o número desconhecido antes de iniciar a ligação. Se animou mais ainda quando o toque ecoou pelo ambiente.

Observou pelo canto dos olhos Baekhyun se atrapalhar um pouco para pegar o celular certo dentro do blazer preto. Demorou um pouco para raciocinar também, analisando o aviso do número anônimo. Pensou se deveria atender ou não, deixando a primeira ligação cair para ver se era algo realmente importante. Chanyeol insistiu, iniciando outra logo em seguida, vendo-o bufar e dar um soco leve no tampo de madeira da mesa que estava ocupando.

— Caralho… — resmungou, revirando os olhos antes de deslizar os dedos pela tela, levando o aparelho até a orelha — Quem é? —  perguntou, irritado, soando tanto do outro lado da linha do celular de Chanyeol quanto pelo restaurante — Alô? Quem é, porra? Não tô no horário de trabalho! Jongin? É você? Que tipo de gracinha é essa? 

Chanyeol afastou-se da ligação um pouco, tentando controlar a risada. Pigarreou, tentando deixar a voz um pouco mais grossa.

— É assim que você me trata, Byun Baekhyun? — Fingindo ser outro alguém, Chanyeol perguntou. — Mesmo sabendo que está sendo observado?

—  O quê? — Alarmado, Baekhyun arregalou os olhos, olhando para trás. — Quem é?

— Alguém que já pode ser considerado próximo de você, porque sei tudo sobre a sua vida. Estou te seguindo há algumas semanas, te vejo entrando e saindo da delegacia central todos os dias, com a sua BMW… — Sentiu vontade de falar mal do carro dele, mas sabia que isso deixaria tudo evidente. — preta. 

Baekhyun levantou da mesa imediatamente, batendo os joelhos pelo desespero de se erguer. Olhou para os lados, tentando focar na janela ao lado de fora, preocupado por estar mesmo sendo perseguido por alguém.

Percebendo que estava passando dos limites assim que o viu tocar a pistola no coldre axilar por dentro do blazer, Chanyeol resolveu amenizar a situação, rindo do jeito que sabia que o irritava.

— Sério mesmo que você caiu nisso? — disse, usando seu tom de voz normal. Se virou em conjunto com o banco rotatório, abrindo um sorrisinho divertido e acenando ao ver Baekhyun encará-lo de longe, com os olhos semicerrados. —  E olha que eu nem precisei me esforçar muito!

—  Vai se foder, Park! — esbravejou, finalizando a ligação.

Enfiou o celular no bolso frontal da calça social, pegando suas coisas e retirando alguns wones da carteira para deixá-los estirados na mesa. Sabia que tinha bem mais do que a conta fechada, mas a única coisa que queria fazer era dar o fora dali. 

Pensou que a adrenalina da ligação tivesse sido o suficiente para cortar o efeito do álcool, mas percebeu que estava enganado assim que começou a caminhar em direção à porta do estabelecimento.

Chanyeol ainda se divertia com a situação, acompanhando Baekhyun com o olhar, e se levantou subitamente ao ver que ele estava saindo do restaurante. A ideia de segui-lo só se intensificou mais quando percebeu o quanto ele estava bêbado, cambaleando pelos cantos para conseguir se manter de pé. Bufou, guardando o celular de volta na calça para correr até ele, sabendo que estava cometendo um erro, porém, por mais que odiasse Baekhyun com todas as suas forças, se sentiria culpado caso acontecesse algo com ele por aí, ainda mais se estivesse daquele jeito.

— Ei! — chamou, tocando o ombro dele. Baekhyun tentou ignorar e continuar andando em direção ao próprio carro, que estava estacionado em uma das vagas para clientes — Qual é, Byun! Eu só quis brincar um pouco contigo! Não precisa sair de lá, ainda mais desse jeito! Quer que eu ligue para alguém vir te buscar?

— Cai fora! — gritou com a voz embargada, tirando as mãos de Chanyeol de si. Ao chegar no carro, tentou abrir a porta, mas Park empurrou-a de volta, impedindo. — Que inferno! Você não pode me deixar em paz por um minuto? Eu tô cansado de ter que ficar olhando pra essa sua cara ridícula! Não aguento mais as suas brincadeiras idiotas, parece que a sua única missão de vida é me tirar do sério! Vai procurar alguma merda pra fazer e me deixa quieto! Na minha! É pedir demais?

— Você sabe que é errado dirigir assim, nesse estado —  Chanyeol falou, ainda com a mão grande espalmada na lataria — E se você acabar batendo em algum lugar? Cadê os bons modos do Sr. Certinho que eu conheço, hm?

— Eu tô pouco me fodendo! Meu dia tá uma merda, bater o carro não vai ser nem de longe a pior coisa que me aconteceu hoje. — Com uma expressão chorosa, Baekhyun encostou-se no carro, encolhendo os ombros.

— E qual foi a pior coisa que aconteceu contigo hoje? — Chanyeol perguntou, tentando não baixar a guarda, ainda pressionando a porta para que ele não lhe pegasse desprevenido e desse um jeito de abrir.

— Tirando o término do meu relacionamento? — Riu de escárnio, fungando para não chorar. —  Ter que olhar pra essa sua cara ridícula fora da delegacia com certeza supera até isso. 

Chanyeol realmente se importou com as palavras iniciais, mas depois de ouvir o resto, percebeu que não valeria a pena passar por todo aquele estresse.

— Olha, Byun, eu tava mesmo querendo te ajudar. De verdade, tava mesmo. — Tirou a mão pesada da lataria, colocando-a no bolso frontal da calça jeans. — Mas tô vendo que isso daqui foi uma péssima ideia. Enfim, boa sorte pra chegar em casa, sozinho, nesse estado. 

Virou as costas, começando a caminhar em direção ao restaurante.

— Eu não preciso de você, Park Chanyeol! — embolado, Baekhyun gritou —  Diferente de você, eu sei me vir… 

Antes que completasse, Baekhyun sentiu uma tontura forte. Não estava acostumado a beber tanto como decidiu que seria uma boa ideia naquela noite, e por isso que acabou se abaixando, próximo ao carro. 

Chanyeol estranhou o fato de ele não ter terminado de falar, virando-se na direção dele novamente. Soltou os ombros, sabendo que poderia sim escolher não ajudá-lo, mas não conseguiria fazer isso com a consciência de que ele estaria armado, completamente bêbado e dentro de um carro, caso conseguisse entrar e dirigir para casa. 

Apesar de não ser um homem tão sério, ainda zelava pela vida de outras pessoas, e Baekhyun, naquela circunstância, mesmo com todo o treinamento que tinha, era uma ameaça em potencial. 

Se aproximou novamente.

— Me dá seu celular — ordenou, o assistindo negar com a cabeça inúmeras vezes, ainda abaixado — Vai, Baekhyun! Facilita!

— Não! — gritou, tentando se levantar.

E foi justamente nessa tentativa que sentiu a tontura retornar ainda pior do que antes. Fechou os olhos brevemente, quase caindo para trás se não fossem as mãos ágeis de Chanyeol, que lhe agarraram pela cintura. Irritado com a situação, principalmente pela proximidade, Baekhyun tentou o empurrar pelos ombros largos, sentindo seu corpo amolecer aos poucos contra o dele. 

Estava… arrepiado? 

— Se acalma, porra! — Chanyeol pediu, tentando encontrar onde estava o celular pessoal dele. 

Se surpreendeu quando Baekhyun foi se acalmando aos poucos, ainda que estivesse recebendo alguns socos fracos em seu peitoral — que poderiam ser ignorados com facilidade, exceto se ele não tivesse apoiado uma das bochechas na mão que espalmou bem ali, na pele quente que o acolhia. 

—  Você tem algum contato de emergência? — perguntou, assim que encontrou o aparelho —  Qual é a senha? Dá pra desbloquear com a digital? —  Erguendo o celular para não correr o risco de Baekhyun pegar, Chanyeol começou a analisá-lo, mas foi pego de surpresa novamente ao sentir o corpo menor que o seu se escorregar, desacordado.

Antes que Baekhyun caísse no chão, voltou a segurá-lo, sem saber como reagir ao vê-lo desmaiado em seus braços.

—  Merda… — murmurou, tentando raciocinar de um jeito prático e fácil.

Apalpou os bolsos de Baekhyun atrás das chaves do carro dele, até que as encontrou caídas no chão asfaltado. Suspirou, pegando o molho e erguendo o corpo dele junto consigo, abrindo a porta de trás. O colocou sentado no banco de couro, percebendo o quanto ele parecia leve e fácil de moldar. Ajeitou as pernas dele para dentro, puxando o cinto de segurança para prendê-lo. Não que se preocupasse com a segurança dele, só se prevenir para caso ele acordasse e tentasse avançar em seu pescoço. Nada além disso. 

Antes de fechar a porta do passageiro, pegou a arma que estava na costela dele e analisou o rosto inclinado por alguns instantes. Notou as pintinhas bonitinhas e como ele parecia muito mais calmo quando estava relaxado, com os olhos fechados. 

Nem parecia o mesmo Baekhyun que infernizava a delegacia, com as sobrancelhas franzidas o tempo inteiro, como se estivesse insatisfeito com tudo ao redor. Ele ficava bem mais bonito sem aquele vinco dominando o rosto, inclusive.

— Você com certeza fica bem melhor assim — cochichou, sabendo que não seria ouvido.

Se assustou com a vontade que sentiu de sorrir, se policiando do que estava fazendo e fechando a porta por completo. Arrepiado pela situação que tinha acabado de se colocar sem ao menos perceber, sentou no banco da frente do carro, pigarreando ao olhá-lo pelo retrovisor. 

Guardou a pistola no porta-luvas, em segurança, jogou o celular dele no banco do passageiro e pegou o seu próprio aparelho, mandando uma mensagem rápida para Kyungsoo, omitindo algumas coisas. Disse que tinha acontecido um imprevisto e que teve que voltar para a delegacia, pedindo para que o melhor amigo levasse o carro para o condomínio em que moravam, porque voltaria de ônibus.

Nem esperou por uma resposta, apenas procurou onde encaixar a chave, vendo que o contato era totalmente diferente do que estava acostumado. Demorou um pouco, encaixando no lugar certo para só então conseguir dar partida.

Conforme dava ré para conseguir sair da vaga, se lembrou de um fato importante: não fazia a mínima ideia de onde Baekhyun morava. Não eram amigos, muito menos próximos, e ele não era o tipo de cara que organizava festinhas para os colegas de trabalho ou até mesmo qualquer coisa que envolvesse o compartilhamento de seu endereço.

Foi então que sua mente brilhante lhe fez recordar de Kim Minseok, o melhor —  ou único —  amigo de Baekhyun. Conseguiu o número pessoal dele meses antes, porque tinha trabalhado em conjunto com a perícia em muitos casos, e ele era o responsável pelo departamento. Pensou em pedir para que o Kim fosse buscá-lo, mas já estava dentro do carro, então se contentou com a ideia de pedir apenas o endereço para que pudesse levá-lo. 

Dirigiu um pouco, tentando se acostumar com a direção automática, e parou mais a frente para que não corresse o risco de ser visto — e questionado — por Kyungsoo. Olhou para trás apenas para se certificar de que Baekhyun ainda estava desacordado, digitando o nome e sobrenome de Minseok na agenda para achar o contato ao ver que estava seguro.

— Vamos lá, Minseok… — murmurou, tenso ao ver pelo retrovisor o exato momento em que Baekhyun se remexeu um pouco — Atende…! — implorou, batucando no volante com o anel de prata, que circulava o seu dedo médio da mão direita.

Só foi atendido na terceira vez, depositando tudo de uma vez sem nem dar espaço para que Minseok achasse que era algo do trabalho. O perito ficou assustado por saber que eles estavam juntos, mas Chanyeol explicou que tinha encontrado Baekhyun bêbado em um restaurante, e que estava tentando ajudar. Por morar próximo do endereço de Baekhyun, Minseok disse que os encontraria na porta da residência dele, para que tomasse conta dali pra frente ao invés de render ainda mais trabalho para o detetive.

Assim que desligou, Chanyeol recebeu o endereço por mensagem, como haviam combinado. Antes de dar partida, resolveu surpreendentemente colocar o cinto, pois a estrada seria um pouco longa. 

Conforme dirigia, observava Baekhyun pelo retrovisor sempre que encontrava uma brecha. Tentou se convencer de que era apenas para se certificar de que ele não tinha vomitado em si mesmo, mas, no fundo, sabia que era apenas porque queria analisá-lo ao máximo que podia daquela forma.

Virou a esquina principal quando o aplicativo acionou, o liberando da atitude secreta. Parou em um sinal, rindo baixinho ao ouvir Baekhyun murmurar coisas desconexas. Ficou com um pouco de medo de acabar sendo visto por ele, mas ainda assim achou graça da situação, principalmente porque o rosto cheio de pintinhas perdidas estava sendo iluminado pela luz vermelha do semáforo e, depois de algumas frases soltas, Chanyeol percebeu que ele estava reclamando justamente disso.

Quando viu o sinal verde acender, voltou a dirigir, desacostumado com o tanto de opção que aquele carro tinha. Observou as casas nobres ao redor, percebendo que Baekhyun morava em uma área boa, chamada Migeundong. Já deveria imaginar pela forma que ele se vestia e pelas coisas que tinha, mas Chanyeol se surpreendeu quando passou pelo portão automático do condomínio de casas e estacionou em frente ao endereço mandado por Minseok. 

Só percebeu a presença do perito no instante em que o farol amarelado do automóvel iluminou a estrutura pequena, que se apressou na direção de onde estava estacionando. Ao tirar a chave da ignição, sabia que Baekhyun ficaria puto quando visse o carro estacionado de qualquer jeito, no dia seguinte. Riu só por cogitar a cena, descendo do carro primeiro. 

— Cadê ele? —  Minseok perguntou, parecendo preocupado e um pouco ameaçador, mas Chanyeol não conseguiu levar a sério depois de notar as pantufas de gatinho que ele estava usando. 

Sem dizer nada, Park foi até a parte de trás do carro, abrindo a porta já destravada pelas chaves que estavam em suas mãos. Segurou Baekhyun assim que percebeu que ele estava apoiado no vidro e, por isso, quase pendeu para o lado em que estavam erguidos.

—  Aqui — disse, o posicionando direito no banco —  É todo seu.

Minseok tomou a frente, sentindo a pulsação de Baekhyun antes de soltá-lo do cinto de segurança.

— Vocês não brigaram no caminho, né? —  perguntou, fitando Chanyeol —  É uma rota longa de onde vocês estavam pra cá.

— Não brigamos — certificou, apoiando um dos cotovelos na porta aberta — Ele ficou o tempo inteiro assim, morto.

Desistindo de pegar Baekhyun nos braços, Minseok bufou, colocando as mãos na cintura para respirar fundo. Chanyeol observou a dificuldade, sabendo que teria que ajudar de qualquer jeito.

— Deixa comigo — falou, pedindo licença em um ato mudo.

Quieto por saber que realmente precisava daquele auxílio, Minseok deu espaço, analisando atentamente o que ele ia fazer.

Chanyeol puxou Baekhyun — que agora estava caído no banco —  pelas coxas com uma facilidade gritante. O aperto teria sido dolorido caso o amigo estivesse acordado, Minseok concluiu. Ele ergueu a cabeça de Baekhyun, apoiando-a em uma das mãos grandes, usando a outra para espalmar a bochecha dele, devagar. 

— Byun! —  chamou, firme — Acorda! Você precisa entrar, já estamos na sua casa. 

Ele franziu a testa, umedecendo os lábios. Aos poucos, as pálpebras se mexeram, mostrando que estava despertando. 

— O que você tá fazendo aqui de novo, Chanyeol? — cochichou, sem ao menos abrir os olhos para fitar o homem que lhe segurava — Já disse que não quero você nos meus sonhos… — Seu tom era de ordem, mesmo que fraco.

Chanyeol riu, surpreso pelo o que tinha acabado de ouvir. Se fosse sincero, não poderia julgá-lo, porque teve uma fase difícil, cheia de sonhos estranhos que envolviam Baekhyun. Ficou até uns dois dias sem dormir direito, depois de acordar de um deles com uma ereção pesada dentro da calça de moletom que usava de pijama.

— Vai embora… — ordenou em um murmúrio murcho — Some daqui… — Abanou uma das mãos, até que os dedos longos tocaram no rosto de Park. Mexeu um pouco nas bochechas dele, apalpando para ver se era real mesmo antes de tomar coragem e abrir os olhos. Deu de cara com Chanyeol, com as bochechas espremidas. — O-o quê? O quê?! —  Ergueu o tronco para se soltar das mãos dele, se afastando um pouco. — O que você… Você! — Apontou para Chanyeol, se arrastando para a outra extremidade do carro. 

Parou apenas quando bateu a cabeça no vidro, ainda letárgico.

— Se continuar assim, tu vai acabar se machucando sério — Chanyeol sorriu.

— Você… — repetiu, piscando algumas vezes — Para de sorrir pra mim!

— Relaxa, Byun — pediu, apoiando o joelho no banco para conseguir se aproximar um pouco mais — Eu quero te ajudar a entrar na sua casa, pode ser?

— Nós… Nós não vamos… — Piscando devagar, Baekhyun foi se acalmando.

— O Minseok tá aqui. Pode ficar tranquilo, não vou tentar ou aprontar nada — garantiu, erguendo ambas as mãos para mostrar que não tinha nada demais — Só… colabora. Por favor.

Baekhyun cruzou os braços, fazendo um biquinho que Chanyeol até consideraria fofo se não fosse dele, ainda mais naquela circunstância. Teria que dar um jeito de voltar para casa, e se ele continuasse enrolando, só iria ferrar com tudo.

Minseok o viu suspirar e o tocou no ombro.

— Deixa eu falar com ele — pediu, fazendo-o se afastar para que aparecesse na porta — Baekhyun, caralho! Agiliza, meu, ninguém tem a noite inteira pra ficar aqui te adulando, não! — gritou, e até Chanyeol se assustou, vendo que as pantufas de gatinho eram só enganação — Ele te ajudou a chegar até aqui em segurança, você deveria agradecer e não agir dessa maneira, porra! — Se enfiou no carro, o puxando pelo pulso, vendo como ele era forte ao se segurar no apoio da porta depois de ser arrastado pelo banco.

— Me solta! — gritou, tentando se soltar de Minseok —  Eu só vou sair daqui quando ele for embora! Não quero olhar pra cara dele! Eu… odeio ele! Odeio!

Bufando, Chanyeol perdeu a paciência e fez Minseok soltar Baekhyun, o tomando mais uma vez pelas pernas até que ele estivesse completamente fora do carro. Em um movimento rápido, o pegou no colo e jogou o corpo dele sobre um de seus ombros, tentando segurá-lo com segurança para que não acabasse caindo pelo jeito que estava se debatendo.

— Se você quer saber, eu também te odeio, Byun — disse, ignorando os socos fracos que recebia nas costas e os gritos para que o soltasse —, mas não gosto de deixar nada do que eu faço pela metade. Se eu começo, eu termino —  completou, parando em frente à porta grande. 

— Me solta, Chanyeol! —  esbravejou, se balançando.

— Só quando você estiver dentro de casa — falou, se virando de costas para que Baekhyun ficasse com o rosto na trava de segurança — Coloca a senha.

— Não! —  berrou — Me coloca no chão!

— Coloca a senha da porta, Baekhyun! — Chanyeol mandou no mesmo tom, sentindo quando ele suspirou pesado — Agora, porra! 

Minseok riu sozinho, observando a cena logo atrás dos dois. Eles eram iguais. Sem tirar, nem pôr. Ambos eram chatos e mandões, por isso que se odiavam tanto. 

Chegava a ser cômico. 

Chanyeol se sobressaltou ao sentir uma das mãos bonitas apertar a sua bunda, mas percebeu que Baekhyun estava se apoiando para digitar os números. Ficou mais surpreso por saber que ele tinha cedido, diga-se de passagem. Ouviu o acesso ser negado duas vezes, e quando estava pronto para resmungar, escutou as teclas acima da maçaneta serem apertadas, desta vez, corretamente.

Se virou novamente, abrindo a porta, ainda com Baekhyun nos braços. Entrou pela casa espaçosa, se controlando para não analisar cada um dos cantos. Mas tudo, literalmente tudo, tinha a cara dele. Os tons terrosos e tediosos, os móveis modernos e simplistas... Era como se tudo gritasse a chatice do homem que, agora, já estava mais quieto.

Só se recordou que ele estava ali ao sentir o beliscão que levou na cintura.

— Ai! Por que você fez isso? — Sentiu o local aquecer, dolorido. Baekhyun o beliscou mais uma vez, rindo sozinho. — Para de me apertar!

Chanyeol fingiu que não, mas ficou chocado ao ouvir a risada do mais baixo. Nunca tinha visto Baekhyun sorrir, quem dirá rir ao ponto de gargalhar. Era raridade vê-lo assim, tão descontraído, e Park percebeu o quanto a bebida o deixava com o humor instável. Nem parecia o mesmo Baekhyun que estava bravo, minutos antes. 

— Você não tem nada de gordura, como que pode?

— Eu mandei você parar! — Segurou a mão dele, ouvindo quando Minseok fechou a porta de entrada.

— Só quando você me colocar no chão! — Voltou a mão para a região, fazendo Chanyeol segurá-la outra vez. 

Baekhyun ficou abalado pela diferença da grossura dos dedos que estavam sobre os dele. Ficou com vontade de analisá-los melhor, e foi por isso que encaixou mais as mãos nas de Chanyeol, o assustando o suficiente para que ele a retirasse de perto muito rápido.

— Pode deixar ele no… 

Se virou na direção de Minseok, que apontava para o sofá.

— Onde fica o quarto dele? —  perguntou, um pouco tenso pela forma que Baekhyun estava deslizando as mãos por suas costas largas.

— Eu não quero você no meu quarto! — Baekhyun protestou, tentando ajeitar o corpo, recebendo um apertão mais forte nas coxas grossas, que Chanyeol segurava apenas com um dos braços. 

Se pegou surpreso pela força dele, só então se dando conta do quanto Chanyeol era... firme.

— Eu deveria ter parado em uma loja de materiais só pra comprar um esparadrapo pra colar essa tua boca irritante! — disse, levando uma das mãos um pouco mais para cima, pegando Baekhyun desprevenido pelo toque repentino, mas tirou dali no exato momento em que conseguiu ajeitá-lo um pouco mais, para que não ficasse tão incômodo quanto estava — É no andar de cima? — perguntou para Minseok, indo em direção às escadas, vendo que cada um dos degraus eram vítreos e, apesar da coloração escura, ainda conseguia ver o que tinha embaixo.

— Sim. — Exausto da situação, Minseok apenas confirmou, apontando para cima com os ombros soltos, batendo nas próprias coxas logo em seguida. —  Na segunda porta, à direita.

Chanyeol assentiu, tirando os sapatos com o auxílio dos próprios pés antes de subir. Baekhyun conseguia ver as meias brancas dele, e resolveu parar de protestar quando percebeu que estavam cada vez mais alto. Não queria acabar caindo da escada, ainda mais porque Park ignorou a existência do corrimão que tinha ao lado.

Seguiu quieto, vendo se ele ia conseguir acertar a porta sozinho. Para a sua surpresa, Chanyeol a encontrou de primeira, abrindo o cômodo. Sem o mínimo de cuidado, Baekhyun foi jogado na própria cama, sentindo uma satisfação surpreendente com aquele ato vindo diretamente de Park. Sentiu até as bochechas esquentarem mais, o observando arrumar as próprias vestes quando ergueu o tronco outra vez, agora sem seu corpo sobre o dele.

— Tá entregue — disse. Sua voz grave se espalhou pelo quarto grande, fazendo com que Baekhyun se arrepiasse, ainda entorpecido pelo jeito que foi colocado na cama. Conseguia sentir as mãos firmes de Chanyeol ainda sobre as suas, ou por seu corpo. Era estranho sentir vontade de mais? —  Vou pedir pro Minseok te dar um banho. Daqui pra cá, é com ele —  continuou, seguindo para a porta novamente — Boa noite, Sr. Certinho. 

— Chanyeol! — Baekhyun o chamou, antes que ele saísse por completo.

—  Hm…? — Voltou a olhá-lo, notando como ele parecia pequeno em meio àquela cama enorme e luxuosa de casal.

Baekhyun não sabia exatamente por quê tinha o chamado assim, tão informalmente. 

Por mais que se xingassem o tempo inteiro, ainda se tratavam pelos nomes inteiros ou só pelos sobrenomes. Não costumavam usar apenas os primeiros nomes, porque não eram próximos, mas sentiu a necessidade de chamá-lo daquela forma. E não filtrou, apenas chamou, piscando algumas vezes por ter aqueles olhos grandes direcionados para onde estava. 

— Obrigado — murmurou, pigarreando em seguida — Pela ajuda.

Chanyeol não disfarçou a expressão de surpresa, tanto por ser chamado por ele assim, quanto por receber aquele agradecimento. Sabia o quanto Baekhyun conseguia ser ingrato, então não estava esperando por nada daquilo. 

Ele realmente estava muito bêbado, só isso explicaria aquela atitude.

—  De nada.  

Sorriu involuntariamente.

— Já mandei você parar de sorrir pra mim! — resmungou Byun, mostrando que ainda era o mesmo de sempre.

— Até segunda, otário! — Chanyeol se despediu, fechando a porta atrás de si para não ouvir os xingamentos que sabia que viriam depois daquele adjetivo. 

Passou pelo corredor e desceu as escadas, vendo que Minseok estava sentado no sofá cinza, de camurça cinza, com as mãos apoiadas em uma das almofadas e o celular entre os dedos. Chamou a atenção dele quando chegou ao meio das escadas.

— Ah! Ainda bem… —  Se levantou. — Já tava pensando em como ia conseguir separar vocês dois, caso uma pancadaria acontecesse. 

— Deixei ele na cama. Vê se dá um banho gelado nele e pede alguma coisa doce pra ele comer, pra ajudar — Chanyeol instruiu, calçando seus sapatos antes de subir os pequenos degraus próximos da porta de entrada. Nem percebeu a presença deles quando estava com Baekhyun nos braços. —  Deixei a arma dele no porta-luvas, caso ele procure amanhã, e o celular dele também tá no carro, no banco do passageiro.

Minseok ouvia tudo atentamente, o seguindo até a saída.

— Pode deixar que eu cuido de tudo, Chanyeol… — Franziu as sobrancelhas, estranhando a preocupação do rapaz que, até então, acreditava que odiava seu melhor amigo de volta. —  Ele vai ficar bem.

— Eu sei que vai — Park falou, virando-se para Minseok — Ele é um porre todos os dias mesmo.

Rindo, o Kim abriu a porta para que Chanyeol saísse.

— Valeu pela ajuda — agradeceu, vendo-o assentir.

— Ah, é… Você sabe se tem algum ponto de ônibus próximo daqui? —  Chanyeol perguntou, sabendo que não ficaria nada surpreso se Minseok dissesse que não, porque ninguém ali parecia ser adepto ao uso de transporte público.

— Eu pedi um Uber pra você… Se não for incômodo, é claro — o Kim falou, saindo em conjunto —  Já deixei a viagem paga como agradecimento pelo caos que aconteceu essa noite. 

Chanyeol até pensou em dizer que ele não precisava ter feito isso, mas aturar Baekhyun, ainda mais bêbado... Pelo menos iria voltar para casa confortável, e isso era o mínimo depois da situação doida em que se meteu para ajudá-lo.

Quando o carro chegou, se despediu do perito com um aperto de mãos, seguindo para dentro do veículo. Após cumprimentar o motorista, ficou quieto durante todo o trajeto, pensando em tudo o que havia acontecido em apenas uma noite. 

Pensou em Baekhyun dormindo, enquanto o observava pelo retrovisor, vendo como ele parecia fofo daquele jeito, quieto e com a expressão serena. Riu soprado ao pensar nisso, umedecendo os próprios lábios e balançando a cabeça, em negativa.

Analisando a paisagem noturna que passava borrada pela janela, Chanyeol constatou que Minseok estava certo.

Tinha mesmo sido um belo de um caos.

 

 

[...]

 

 

No dia seguinte, Baekhyun acordou com a luz do dia invadindo o quarto por uma fresta da cortina blackout. Para seu azar, o feixe estava batendo diretamente em seu rosto, o que lhe rendeu um incômodo momentâneo. Virou para o lado, sentindo uma certa dificuldade ao se mexer pelos lençóis porque estava com a cabeça dolorida, assim como algumas partes do corpo. Esticou o braço, sentindo que havia algo ao lado. Ainda de olhos fechados, mexeu a mão para tentar adivinhar o que era, até ouvir os resmungos vindos do que antes acreditava ser um travesseiro.

Estatelou as pálpebras, assustado, se tranquilizando ao ver que era Minseok quem estava deitado de lado, na outra extremidade da cama, com uma venda de gatinho rosa, as pernas encolhidas e as mãos entre as coxas. 

Com cuidado, Baekhyun tomou coragem para erguer o tronco, sentindo a cabeça latejar mais e mais.

Fazia tempo que não bebia tanto daquele jeito. Antes mesmo de Jongin chegar no restaurante, já tinha acabado com uma garrafa inteira de vinho, pelo nervoso que o consumia. Discutiram o dia inteiro a respeito da relação que tinham, porque Baekhyun estava se dedicando demais ao trabalho, consequentemente deixando o — ex — namorado de lado. Já conversaram sobre a necessidade assídua de trabalho que Byun tinha e o quanto isso poderia prejudicá-lo, mas ele não fazia questão de mudar, já que acreditava que aquela era a única fonte de alegria da vida. 

Gostava de Jongin, mas sentia como se não estivessem na mesma página.

De qualquer forma, se abalou e muito com a decisão dele de terminar tudo. Não pelo amor, mas pela mudança de rotina que teria que enfrentar. 

Baekhyun odiava mudanças. 

Se fosse sincero consigo mesmo, saberia que só insistiu naquele relacionamento pelo medo de acabar sozinho outra vez. Sabia que não estaria completamente sozinho, no sentido literal da palavra, porque tinha Minseok ao seu lado o tempo inteiro, mas ainda assim, não era um homem muito fácil de lidar e sempre demorava para encontrar alguém de total agrado para se envolver.

Jongin se encaixou nos requisitos por longos anos. Voltar agora para a pista depois de todo esse tempo com alguém fixo, seria mais complicado do que o normal para alguém com a personalidade “forte” de Baekhyun.

Não tinha como negar, era mesmo insuportável.

Procurou pelo celular, ouvindo o ronco baixo do melhor amigo conforme levantou, devagar. 

Percebeu que estava vestindo apenas uma cueca branca e uma camiseta da mesma tonalidade, lisa. Apenas isso. Não se importou porque Minseok já tinha lhe visto de maneiras muito mais constrangedoras, e estavam acostumados a lidar com as bebedeiras um do outro desde a universidade. 

Olhou nas gavetas algumas vezes, sem o mínimo de sucesso. Sentou na cama novamente, fechando os olhos dolorosamente pelo latejar que dominava o cérebro. Repassou tudo o que fez durante o dia anterior, percebendo que do momento em que Jongin chegou no restaurante em diante, era tudo um clarão. 

Não se recordava de nada. 

Nada, nada, nada. 

Preocupado em ter perdido os aparelhos —  tanto o pessoal quanto o profissional —  no meio do caminho, cutucou Minseok. Teve que chacoalhá-lo para que conseguisse despertá-lo. Percebeu que tinha dado certo quando o ronco pareceu travar na garganta dele, antes que, aos poucos, erguesse a cabeça soltando alguns murmúrios. 

Minseok tirou a venda no mesmo instante, umedecendo os lábios e virando a cabeça na direção do melhor amigo. 

—  Ah… Acordou cedo, princesinha? — brincou, se ajeitando para conseguir sentar no colchão —  Pensei que você fosse apagar depois de tudo o que rolou…

—  Cadê as minhas coisas? —  perguntou, sem ligar para nada do que ele dizia.

— Coloquei seu celular do trabalho pra carregar na suíte —  respondeu, bocejando — Longe da banheira, claro. 

— E o meu pessoal? — questionou em um tom assustado — E a minha... pistola?! Minseok, pelo amor de Deus! Me diz que tu guardou! Como que eu posso ser tão irresponsável? — perguntou a si mesmo, colocando as mãos nas têmporas para massageá-las —  Eu não acredito que bebi armado!

— Ei, relaxa, cara! Você já tá de ressaca, ainda vai ficar se martirizando aí feito um pobre coitado? — O tocou em um dos ombros. —  O Chanyeol deixou seu celular pessoal e a sua arma no seu carro. Inclusive, você deveria mandar uma mensagem de agradecimento para ele, viu? Era até bom comprar algum chocolatinho, também, porque foi um…

Baekhyun paralisou ao ouvir o nome de Park Chanyeol. Ergueu a cabeça lentamente, deixando de raciocinar as outras palavras que escapavam dos lábios de Minseok porque ainda estava desacreditado de quem havia sido citado. Demorou para piscar, percebendo como tudo ao redor parecia distante.

Como assim? O que tinha acontecido? Por que Chanyeol estaria envolvido nisso tudo? Ou melhor, quando ele apareceu nessa história?

—  O-o quê…? —  Foi a única coisa que conseguiu expelir, engolindo seco — O que você disse?

— A bebedeira te deixou surdo, foi? — Minseok perguntou retoricamente, revirando os olhos — Enfim, eu pedi um Uber e tudo se resolveu. Mas acho que tu ainda deve um pedido de desculpas a ele, hein? A cena foi terrível! —  Rindo pela lembrança, o Kim demorou para perceber o estado de choque que Baekhyun se encontrava.

—  E-e… ele quem? 

Se levantou da cama, com medo da resposta.

— O Chanyeol, Baekhyun. Park Chanyeol. Aquele lá que trabalha no mesmo departamento que você, que tu tanto ama… — disse ironicamente, erguendo um sorrisinho malicioso — Eu tinha até esquecido o quão gostoso ele é, falando nisso. Você anda bem acompanhado por lá, viu? Tem ele, aquele Jongdae que é bonitinho, também... O único decente que tem no meu é o Oh Sehun, aquele que foi transferido da Narcóticos… — Sem dar atenção ao que Minseok dizia, Baekhyun finalmente conseguiu se movimentar, saindo às pressas do quarto. —  Que foi? 

O Kim se ergueu junto, correndo logo atrás. Desceu as escadas com a mesma pressa de Baekhyun, pulando alguns degraus para alcançá-lo. 

— Onde você tá indo? — perguntou, ainda sem entender ao vê-lo caçar algo pela sala grande de estar — Me responde, Baek!

Ignorando como se estivesse em transe, Baekhyun encontrou o controle da televisão de plasma gigante, que estava à frente dos dois. Ligou, pegando um outro controle que estava guardado no suporte da mesa de centro. Apertou alguns botões até parar na tela inicial, que mostrava todas as câmeras espalhadas pela casa. Sabendo o que viria a acontecer, Minseok sentou no sofá, curioso para ver como ele iria reagir. 

Ainda desacreditado, Baekhyun mexeu em algumas configurações, até conseguir entrar nas imagens já registradas na sala de estar. Selecionou a data do dia anterior, adiantando todas as primeiras horas, vendo quando saiu de casa pela manhã, até a tarde inteira em que tudo ficou vazio. Quando finalmente percebeu que tinha anoitecido ao lado de fora, começou a passar devagar. Se aproximou mais da tela ao ver o movimento da porta, quase caindo para trás quando viu Chanyeol entrar pela residência com seu corpo jogado em um dos ombros largos.

Ainda em choque, pausou, dando um zoom para ver se estava enxergando direito. Levou uma das mãos para os lábios, tampando a boca entreaberta. Ouviu a risadinha de Minseok soar atrás de si quando despausou novamente, percebendo que passou as mãos pelas costas de Chanyeol de um jeito muito comprometedor, beliscando a cintura dele algumas vezes enquanto ria.

— Não é possível… —  murmurou, vendo-o tirar os sapatos no primeiro degrau antes de subir consigo pelas escadas. 

Esperou que sumissem do campo de visão da câmera para voltar a pausar, sem coragem de mudar para a do corredor de cima.

Com a mão ainda sobrepondo os lábios, Baekhyun sentou no sofá, um pouco distante do melhor amigo, sentindo os joelhos falharem. Minseok pegou a almofada cinza para colocar no colo, se virando para ele com um sorrisinho malicioso no rosto quando apoiou a bochecha em uma das mãos, deixando o cotovelo na superfície confortável.

— Não quer ver o que aconteceu do lado de fora? —  perguntou, provocativo — Foi bem pior do que isso daí. 

— Ele não… — Olhou para as poucas roupas que usava. —  Ele não me viu assim, não, né?

— Só eu tenho permissão pra te ver peladinho, bebê — brincou, recebendo uma almofadada na cara. Riu sozinho, admirando a desgraça do detetive. — Ele não ficou aqui. Como eu disse, pedi um Uber e ele foi embora.

—  Meu Deus, que vergonha… — Pegando outra almofada, Baekhyun deitou a cabeça no encosto do sofá e afundou o rosto corado nela. — Como que eu vou olhar pra cara dele na segunda-feira, Minseok?

— Pensei que você não suportasse olhar pra cara do Chanyeol e que por isso não faria diferença. — Usou um tom sugestivo, fazendo Baekhyun encará-lo de um jeito mortal.

— E eu não suporto! Mas vai que esse filho da puta usa isso contra mim, um dia? Ele é descarado a esse ponto, Minseok! Eu tenho certeza! 

— Deixa de paranoia besta! Ele poderia muito bem ter te largado lá no meio do restaurante, mas mesmo assim insistiu em te trazer pra cá, ainda me ligou pra pegar o endereço certo… O Chanyeol foi muito paciente e cuidadoso.

— Me arrastando daquele jeito? —  Baekhyun questionou, apontando para a televisão mesmo que a imagem não estivesse mais lá —  Caralho, mega cuidadoso!

— Para de reclamar! Pelo menos ele te ajudou!

— Ele tinha algum propósito por trás disso… Eu sei, tenho plena consciência de que ele não faria isso sem alguma intenção. — Respirou fundo, voltando a encostar as costas no sofá, escorregando o corpo pelo estofado de couro. —  Eu não disse nada comprometedor, né? Diz que não!

— Por quê? — Minseok ergueu uma das sobrancelhas, ainda zombeteiro. — Você esconde algo muito comprometedor dele?

—  Me respondeeee! — choramingou, batendo os pés no chão.

— Nada demais, pelo o que eu me lembro… —  Esperou o amigo relaxar para, só então, se sobressaltar e fingir que tinha lembrado de algo. —  Não, espera! Acho que teve alguma coisa, sim… Você disse algo sobre sonhar com ele…? Foi! No carro!

Baekhyun ficou pálido no mesmo instante, fazendo o Kim perceber que era mesmo verdade e que, pelo visto, eram sonhos bem diferentes do que imaginava inicialmente. Só pela reação de Byun, era notável do que se tratava. Pensou em perguntar de imediato, mas o assistiu se levantar apenas para enfiar a almofada na cara para abafar o grito que queria soltar, se jogando totalmente deitado logo em seguida.

—  Eu não acredito! —  voltou a choramingar, socando tudo que tinha por perto, dando a sorte de que encontrar coisas moles —  Eu me odeio! Me odeio! Odeio ele! Odeio tudo! Tudo! Não quero mais viver! Não quero!

Rindo mais um pouco da reação exagerada, Minseok ajeitou as meias de gatinhos nos pés e canelas antes de levantar. Caminhando em direção à cozinha, virou para trás mais uma vez, dizendo:

— Vou preparar um café pós-bebedeira dos bons, junto com algumas aspirinas pra ajudar na ressaca. — Sorriu, vendo Baekhyun se virar para ele com um biquinho emburrado no rosto. —  Tô vendo que você vai precisar de alguma coisa no estômago pra digerir isso tudo.

 

 

[...] 

 

 

O fim de semana passou mais rápido do que Baekhyun gostaria. 

Passou os dois dias de folga inteiros olhando para o teto do próprio quarto, pensando em maneiras de enfrentar o que lhe aguardava naquela segunda-feira. 

Não saberia dizer se estava irritado ou tenso com o fato de que, agora, Chanyeol conhecia o endereço em que morava e o caminho para ir até ele. Tentava ser o mais discreto possível quando estava no trabalho e odiava misturar as coisas, e ter a consciência de que um colega — isso se pudesse chamá-lo assim — de departamento havia presenciado uma situação tão constrangedora e tão informal, além de ter entrado em sua casa e conhecido seu quarto, era dolorosa. 

Estritamente dolorosa.

Passou um pouco do horário por se distrair enquanto se olhava no espelho. Nem mesmo estava prestando atenção no reflexo, apenas nas dúvidas que rondavam a mente.

Quando percebeu que estava atrasado pela primeira vez em toda a carreira de policial, terminou de ajeitar a gravata e passou as alças do coldre pelos braços, com sua pistola já encaixada. Tomou café em pé, empurrando as torradas prontas goela abaixo com o auxílio de um suco de maracujá industrializado, e saiu, vestindo o blazer escuro e encaixando o cordão do distintivo no pescoço fino.

Foi o caminho inteiro pensando em como —  e se — abordaria Chanyeol para pedir que ele não dissesse nada à respeito do que presenciou naquela maldita noite de sexta-feira, e não contou com a possibilidade de encontrá-lo estacionando aquele carro antigo, vermelho e chamativo numa vaga próxima à que estava. 

Era raro que chegassem juntos, então estacionou e esperou que ele descesse, sem saber lidar com aquela chance de conversa. Ia deixar passar propositalmente, o analisando pelo retrovisor lateral, atrás do vidro fumê, e até se distraiu o suficiente com o ponto fixo que encarava para não perceber que ele estava se aproximando.

Em um sobressalto, virou na direção de onde vieram as batidas na janela, dando de cara com quem menos queria encarar naquele instante. Respirou fundo, tentando controlar a tensão que estava sentindo, apertando os dedos longos no botão para baixar o vidro que os separava.

— Fala — disse, sério, sem ao menos olhá-lo.

Chanyeol riu soprado.

— Bom dia pra você, também, Sr. Certinho! — Abrindo um sorriso irônico, Chanyeol se apoiou na janela. Baekhyun odiava a capacidade dele de ser tão debochado. — Não pensei que você fosse ficar com vergonha o suficiente pra não descer do carro só porque me viu, mesmo sabendo que tá atrasado.

Byun sabia bem como Park era um ótimo observador. Por mais que ele não se atentasse a tantos detalhes profundos, conseguia notar os mais superficiais com muita destreza. Para pessoas comuns, isso poderia ser considerado estranho de ser relevante, mas muitos dos detetives eram tão focados em detalhes profundos que esqueciam da existência significativa dos superficiais. 

E era aí que Chanyeol se tornava muito útil para o departamento. 

— O que você ganha me enchendo o saco, hein, Park? — Tirando o cinto, Baekhyun abriu a porta com força, na intenção de espantá-lo dali. 

—  Uns dez anos de vida? —  zombou, analisando Baekhyun da cabeça aos pés enquanto ele travava o próprio carro, fazendo o vidro subir automaticamente —  Olha, sério… —  O seguiu até os elevadores, pressionando sua credencial contra o leitor para chamá-los antes dele. —  Eu sei que você deve estar achando que vou usar…

Assim que um dos elevadores chegou, Baekhyun entrou, tentando ignorar a presença do mais alto que continuava o seguindo com aqueles típicos olhos escuros. Apertou o décimo sétimo andar, se apoiando nas paredes metálicas de braços cruzados, tentando ficar o mais distante possível dele.

— … o que aconteceu contra ti, e não vou negar que essa possibilidade até passou pela minha cabeça, mas… —  Chanyeol prosseguiu, parando assim que recebeu um olhar em sua direção, seguido da porta se fechando.

— Do que você tá falando, Park? —  perguntou cinicamente. Baekhyun pensou por dias na alternativa de fingir que nada havia acontecido, e ela pareceu a mais apropriada naquele instante. — Não lembro de ter visto você fora daqui além das confraternizações da ANPC.

— Sério mesmo que tu vai ficar fingindo que nada aconteceu? —  Com um olhar divertido, Chanyeol o fitou. — Que tática incrível! Então quer dizer que eu te carreguei bêbado, fui beliscado, chutado e empurrado pra nada? Fora a hora em que eu te joguei na sua cama e…

— Fecha o bico, porra! — Aquilo era um atentado aos bons modos de Baekhyun. Preferia não saber de nenhum daqueles detalhes para não acabar ainda mais puto consigo mesmo. —  Cala a tua boca, tá legal? Você quer que eu faça o quê? Te agradeça por me arrastar, me pegar daquele jeito ridículo e invadir a minha casa sem que eu permitisse? É isso? — Com as sobrancelhas franzidas, se virou para Chanyeol por completo. —  Porque foi isso que aconteceu, Park. Você não foi um salvador da pátria por ter feito o que fez. Pra sua informação, aquilo foi invasão domiciliar!

Incrédulo com o que estava ouvindo, Chanyeol fechou o sorriso.

— Puta que pariu… Você não cansa de ser um babaca, filho da puta e mal-agradecido? — esbravejou, empurrando Baekhyun pelos ombros —  Tem noção do trabalho que eu tive só pra voltar pra porra da minha casa, caralho?

— Eu não pedi pra você me ajudar em momento algum! —  Baekhyun gritou, o empurrando de volta, fazendo com que as costas largas do mais alto batessem contra a parede do elevador, que já estava chegando no andar escolhido.

— E você queria o quê? Ser largado desacordado no meio de um estacionamento vazio?! —  Chanyeol não só o empurrou de volta, como grudou o corpo dele na parede contrária, pressionando-o com o seu enquanto apertava a gola da camisa social e a gravata preta que ele usava. Pela proximidade, conseguiam sentir seus perfumes opostos se misturando. —  Você não pode agir como alguém normal pelo menos uma vez na vida e me agradecer por ter te ajudado?

— Pela última vez, Park Chanyeol… — Irritado, Baekhyun tentou empurrá-lo, sem obter sucesso algum. — Você não me ajudou, caralho! Não vou agradecer por algo que não rolou! — gritou alto o suficiente para acabar escapando da porta metálica, que se abriu.

Todos do departamento, que já estavam por lá, ouviram a discussão. Demoraram um pouco para perceberem que estavam sendo observados. Chanyeol foi o primeiro a virar o rosto, vendo que Junmyeon estava com a costumeira xícara em mãos, intercalando o olhar entre um e outro, com uma expressão irritada. Soltou Baekhyun de imediato. 

Ambos se afastaram, tentando desamassar as vestes — destoantes — que usavam. 

Pegando todos desprevenidos, Junmyeon deu um grito alto e longo.

—  Senhor… — Baekhyun quebrou o silêncio constrangedor que veio em seguida, saindo de dentro do elevador em um passo longo. —  Eu posso explicar…

— Eu não quero explicações —  em um tom grosso, o capitão falou —  Pra minha sala! Agora! —  esbravejou, vendo que apenas Baekhyun se mexeu —  Os dois!

Chanyeol apressou os passos, seguindo ao lado de Baekhyun, de cabeça baixa. Se sentiu como um adolescente outra vez, se recordando das poucas vezes em que foi para a sala do diretor na antiga escola, quando ainda era um estudante de colegial. O nervosismo era ainda maior, porém, porque o seu cargo estava em risco e agora era um adulto cheio de responsabilidades, boletos e objetivos pessoais. Tinha muito mais coisa em jogo.

Sentaram lado a lado nas cadeiras disponíveis, de frente para a mesa grande do superior. Tudo estava bem organizado e limpo como já era de se esperar. Apesar da sala estar bem iluminada pela luz do dia, que entrava pelas janelas consideravelmente grandes, tudo ainda era muito intimidador.

Junmyeon entrou logo depois, batendo a porta no batente sem se preocupar com as vidraças que davam visão ao departamento, balançando até mesmo as persianas que as cobriam. Irritado, caminhou em passos pesados, sentando na própria cadeira de frente para os dois. Respirou fundo, colocando a caneca que segurava no porta-copos, também decorado com a águia amarela e as cores da bandeira coreana, o famoso emblema da polícia.

— O que eu faço com vocês dois, hein? — questionou retoricamente, fechando uma das mãos em um punho para levá-la até a frente dos lábios trêmulos, evidentemente irritado —  Me digam! —  gritou, balançando a cabeça negativamente — Eu não pensei que, aos meus cinquenta e dois anos de vida, iria presenciar duas pessoas tão infantis juntas. Vou ter que fazer o quê? Criar dois marmanjos bem agora que estou perto de me aposentar?!

— Senhor… —  Baekhyun murmurou, sentindo a mão de Chanyeol lhe tocar em uma das coxas discretamente, em um pedido mudo para que se calasse.

Abalado pelo toque quente, retirou os dedos grossos dali rapidamente.

— Não, Byun! —  Ele o encarou com os olhos raivosos. —  Eu não quero ouvir o que vocês têm a dizer. Não vou mais perder o meu tempo com as briguinhas idiotas de vocês. —  Apoiou as costas no encosto da cadeira estofada — Como separar vocês dois não adiantou de nada, eu quero que, a partir de hoje, vocês comecem a trabalhar em dupla. Só vou validar os casos que vocês resolverem em conjunto, porque se não aprenderem a trabalhar em equipe e começarem a conviver tranquilamente com as metodologias diferentes que cada um têm, serei obrigado a transferi-los para outra agência policial. Separados —  ordenou, fazendo Baekhyun estremecer só com a possibilidade de ter que ir para outro lugar —  Dou dois meses para que vocês juntem suas pilhas de casos e resolvam boa parte deles. Se eu ouvir briguinhas ou ficar sabendo de qualquer encrenca, vocês já sabem. Entendido? Ou vou ter que repetir?

— Entendido, senhor — disseram em uníssono.

— Agora saiam da minha sala, vocês já me estressaram o suficiente para um dia só. Dispensados — clamou, gesticulando para que os dois apressassem os passos. 

Levantaram no mesmo instante, fazendo uma breve e respeitosa reverência antes de seguirem para a porta. Chanyeol abriu, dando espaço para que Baekhyun passasse primeiro e assim foi feito. 

Ainda estavam abalados pela bronca que tinham acabado de receber, mas Park tentou se manter positivo, pensando que aturá-lo por dois meses ainda era melhor do que ser transferido ou afastado do cargo.

Já Baekhyun não pensava daquele jeito. Mesmo que odiasse mudanças, pensando bem, talvez preferisse ir para outra agência ao invés de ter que lidar com os métodos instintivos daquele homem alto e extremamente irritante aos seus olhos. 

Qualquer coisa seria melhor do que conviver oito horas ao lado daquele que tanto odiava.

Era um castigo de Deus? O que fez para merecer um fardo tão pesado como esse?

Trêmulo pela raiva e pela indignação, Baekhyun passou voando por Chanyeol, seguindo em direção à Sala de Arquivos. Resolvendo que aquele não era um bom momento — porque muito provavelmente acabariam em um bate-boca —, Park tentou caminhar calmamente até a própria mesa, afastando algumas pastas e ignorando as tentativas nada discretas de Jongdae, que buscava alternativas de chamar a atenção para perguntar o que tinha rolado, como o bom fofoqueiro que era.

Passou as mãos pelos próprios cabelos pretos, jogando-os para trás, respirando fundo.

Sozinho, se desligou por alguns instantes do que acontecia ao redor para tentar encontrar maneiras de enfrentar aqueles 60 dias corridos ao lado do metodismo de Baekhyun, e foi quando uma ideia clareou sua mente nublada. Foi quase como um luminol ajudando a evidenciar os detalhes quase apagados de uma cena de crime.

Abriu um sorriso involuntário, balançando a cabeça positivamente ao pensar em mais alguns daqueles detalhes. Mas, apesar de acreditar que seria uma boa sugestão, ainda havia uma questão muito maior para enfrentar: 

Será que Byun Baekhyun estaria disposto a deixar a trava de segurança que tanto aplicava em si mesmo, para então aceitar aquela proposta um tanto… imprevisível? 

 


Notas Finais


PLAYLIST: https://open.spotify.com/playlist/2PPzYeoZXTtZMJjO3uR2cE

LINK DO PRIMEIRO CAPÍTULO NO AO3: https://archiveofourown.org/works/28992882/chapters/71153502

bommmm, esse foi o primeiro capítulo, espero que vocês tenham gostado! tô ansiosa pra saber a opinião de vocês ♡

eles são dois bocós??? são sim!! mas eu amo os dois e irei protegê-los!

vou atualizar a cada duas semanas, às terças (como alguns de vocês decidiram através da enquete no twitter), então até lá ♡

pra quem leu até aqui, só tenho a agradecer, de coração mesmo ♡

twitter: https://twitter.com/wipedyeol
curiouscat: https://curiouscat.me/saddrdazex/post/877355861?t=156351512

tamo juntasso ♡


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