Limpo minha testa pela terceira vez em oito minutos. O estádio está lotado de pessoas enquanto andamos até a primeira fila de cadeiras. Hoje é a final do campeonato e todos estão eufóricos. Não que eu acompanhe o futebol americano, não, definitivamente, eu não acompanho. Apenas tenho uma amiga que além de ser a louca do futebol, tem um namorado que é o linebacker do time.
— Seu namorado quem te deu as entradas, V? — pergunto enquanto tiro um cabelo que escapou do meu rabo de cavalo e grudou na minha testa suada. Eca!
— Já falei mil vezes que ele não é meu namorado, Betty! Porque não entende? — Ela bufa irritada.
— Talvez seja porque vocês vivem juntos e parecem ser um casal fofo. — sorrio para minha divagação.
— Fofo? — Ela torce o nariz em desgosto.
— Estamos mais para um casal idiota e selvagem, digo no quesito sexual. — ela explica, então é minha vez de torcer o nariz.
— Você sempre tem que fazer essas observações? Você leva tudo para o lado sexual. Isso é irritante. — digo e me esquivo de um cara possivelmente bêbado já que está cambaleando. Quem bebe antes do jogo? Pelo amor de Deus.
— Irritante é ter uma amiga virgem que me recrimina por transar. — Verônica diz com os olhos presos a numeração das cadeiras.
— Eu não recrimino Verônica! — digo frustrada. — Só não quero ouvir sobre suas noites vergonhosas. — completo dando de ombros.
— Em que mundo você vive? Deve ter injetado por engano alguma medicação naquele hospital para essa sua loucura, Kayla. Não é possível. — Ela me olha como se eu fosse louca.
— Por que diz isso, V? — pergunto confusa.
— Porque transar não é motivo de vergonha. É prazeroso e com certeza irei te levar para perder esse V imenso que está na sua testa, como um letreiro. — ela suspira quando acha nossas cadeiras.
— Eu não vou a lugar algum! Para com essa idiotice. — digo apertando meu refrigerante entre meus dedos. Não sei qual o problema que Veronica tem com minha vagina lacrada. Por favor, ela é minha, não dela.
— Vamos marcar querida, Betty. — ela diz e chupa o canudo da sua bebida. Cerveja, especificamente.
— Sonhe querida V. Sonhe. — Reviro os olhos e olho para o campo esperando o tempo passar.
Conheci Veronica assim que entrei na faculdade. Mas foi bem isso mesmo, assim que pisei na faculdade ela me atropelou com seu carro. Quero dizer, tudo bem. Ser atropelada no seu primeiro dia no campus nunca é uma coisa demais.
Veronica chorou o que eu não chorei por isso. E sua boca falou tantas desculpas que eu parei de contar quando chegou nas cem. Ela ficou comigo o tempo todo e cá estamos nós, discutindo a minha vida sexual, ou, quero dizer, a falta dela.
— Já vai começar. — ela avisa e eu logo avisto os jogadores entrarem no campo.
Não vou dizer que gosto disso, porque, sinceramente, não sei nada que envolva esportes, mas Veronica me convenceu a vir, pois, palavras dela, preciso encontrar um namorado. E claro, ela achou que eu iria encontrar ele no meio de bêbados idiotas. Maravilhoso.
— Olha, esse é o Archie. — ela aponta para um cara ruivo que está todo vestido com um uniforme apertado nas cores azul e branco. — Você está vendo a bunda dele? Eu a aperto sempre que estamos foden... — a interrompo.
— Eu já entendi. Ver você é muito... arg — gemo irritada e ela sorri feliz. Vaca.
O jogo passou sem maiores complicações, claro que Veronica divagou o quanto seu namorado ou sei lá o que, é bom de cama e o quanto esse exercício no campo o deixa mais gostoso.
Como eu cansei de mandá-la calar a boca, só revirei meus olhos constantemente.
— Vamos, irei te apresentar ao Archie... — ela me puxa em direção à saída que dá acesso aos vestiários e eu paro de andar.
— Tá louca? Eles devem estar pelados. — digo depois de puxar meu braço do seu aperto.
— Melhor para você, quem sabe assim você acende esse fogo que tem no seu interior. — ela sorri maliciosa e me puxa novamente, claro que dessa vez ela consegue me levar.
Ao entrarmos no lugar a primeira coisa que vejo são dois caras entrando no vestiário. De jeito algum vou entrar ali. Nunca, jamais.
— Eu não vou entrar Veronica. Pare já de me puxar, droga. — digo tentando me soltar.
— Que feio, a enfermeira Betty Cooper falando palavrão. Isso é novidade. — ela ri e me puxa para o lugar fechando a porta em seguida. Me solto dela e me viro para a parede com as mãos nos olhos. Que vergonha. — Vamos lá Betty. Eles estão acostumados. — Verônica fala numa tranquilidade que me irrita em proporções que não sou capaz de falar.
— Verônica, sua vadia! Tire-me daqui agora! — bato o pé, ainda cobrindo meus olhos.
— Baby, o que? — escuto uma voz confusa e minha pele queima pensando que ele deve está nu. Ele no caso, o namorado da minha melhor amiga. — Ela é sua amiga? — Archie questiona divertido. Não vejo diversão nessa situação.
— Sim. É. Betty, Archie quer conhecer você. Dá para parar de ser infantil? — ela questiona e eu aposto que está cruzando os braços. Pouco me importa.
— Verônica, eu não quero ficar nessa droga de vestiário. Tire-me daqui droga. — gemo envergonhada.
Será que eles estão olhando para mim? Com certeza.
— E você seu idiota, mande ela me tirar daqui. — mando irritada e ele ri.
— Okay, Betty... — Verônica começa, mas uma voz dura a interrompe.
— O que esta acontecendo aqui? — minha curiosidade vence e eu tiro a mão dos meus olhos.
A primeira coisa que vejo é seu tanquinho. Sim, e é quente. Suspiro quando vejo uma toalha em sua cintura. Graças a Deus. Encontro a porta atrás de mim e saio correndo de lá. Chego ao estacionamento do estádio e suspiro.
Não sei como me tornei amiga de Veronica, porque essa garota me mete em cada uma... E o pior, ela pensa que é o certo. Estou muito irritada com ela. Muito mesmo.
— Betty! Pare com isso você sabe que não posso correr! — ela corre atrás de mim e eu paro respirando fundo. Só parei porque sei do seu problema no joelho. Mas, enfim.
— Você está louca, Betty? Era só uma brincadeira, eles estão acostumados... — a interrompendo.
— Não estou para brincadeira, Veronica. Eu não gostei do que fez. Se você se sente bem olhando homens pelados, Okay! Eu não vou te julgar, até porque eu não sou assim. Mas eu não gosto, eu não me sinto confortável e se você gosta da minha amizade pare de agir como se minha opinião não valesse nada. — Falo de uma vez, em um único fôlego.
— Eu não sabia que se sentia assim, Bee. — Verônica me olha com os olhos confusos. — Eu te faço fazer coisas que não gosta? — Ela pergunta intrigada.
— Sim, V. Várias vezes. — respondo suspirando.
— Em qual das vezes, Bee? — Ela anda até mim em passos curtos. Eu ri. Por que tudo que faço com ela em algum momento foi por que ela quis e não por mim.
— Semana passada a gente foi à festa de Kesha... Você parou para pensar se eu não queria estar lá? Amiga, eu fui trabalhar no outro dia. — digo suspirando. — Não quero que fique com raiva, só peço que considere minhas opiniões de vez em quando. — explico.
Verônica é minha melhor amiga. Eu a amo e não quero que ela se sinta mal por eu ter falado essas coisas. Eu só peço que ela considere minhas opiniões. Somente.
— Desculpe Betty. Juro que... Eu sou terrível! Perdoe-me. — ela suspira limpando uma lágrima que desceu por seu rosto. — Eu prometo que não farei mais isso. — seu lábio treme e eu a abraço.
— Eu te amo, V. Não peça desculpas. — digo e tiro seus cabelos do rosto.
Vejo Archie andar em nossa direção e me afasto de Veronica.
— Seu namorado vem aí. — aviso e ela me manda um olhar de aviso.
— Ele não é...
— Seu namorado. Okay. Entendi. — a interrompo e beijo sua bochecha.
— Hey! Tudo certo aqui? — Archie pergunta puxando V para seus braços fortes.
— Tudo... V, eu já vou indo... — paro de falar quando o vejo.
Como não o vi? Deve ter vindo com Archie, e mesmo assim não o percebi.
— Não vai me apresentar sua amiga Veronica? — Ele diz e eu engulo em seco. Sua voz acende lugares em meu corpo que não quero e nem sabia que existiam. Seus olhos verdes me analisam e eu me remexo desconfortável. O que diabos está acontecendo comigo?
— É... Sim. Betty esse é Jughead, o quarterback do time. — Verônica fala me inspecionando. Com certeza deve está pensando se eu quero conhecê-lo. Ela vai permanecer assim por muito tempo, então depois irei conversar novamente com ela.
— Prazer, Loira. — Reviro os olhos para esse apelido idiota que todos me chamam.
— Prazer, Jughead. — Estendo minha mão e aperto a dele.
Meus pés formigam e eu penso ser o efeito que ele causou em mim, mas quando abaixo meu olhar, meus pés estão literalmente cheios de formigas. Merda.
— Verônica! — pulo no chão tentando tirar as formigas deles. Passo a mão e a maioria caem no chão. Eu sou tão idiota. Quando não tem mais uma sequer formiga, restando somente as dores eu volto minha atenção para Jughead.
— Você está bem? — Ele questiona.
— Sim. É... Eu já vou. Você vai ficar com Archie... — fecho a boca quando lembro que não me apresentei para o namorado da minha amiga. — Archie foi um prazer te conhecer. Espero que você cuide da minha amiga. Ela é a melhor! — sorrindo me afasto do abraço que trocamos.
— Betty! — Verônica repreende e eu mostro a língua para ela. Eu sei muito maduro.
— Foi bom te conhecer, Jughead... — falo voltando minha atenção para o lugar que ele estava.
Sim, ele sumiu. Quando o encontro está agarrado com uma garota loira e peituda. Reviro os olhos para mim mesma, eu sou patética. Despeço-me de Veronica e Archie e entro no meu carro. Não falei para Veronica, mas hoje vou cobrir uma enfermeira que me pediu claro que aceitei, até porque ela é uma mulher boa e não faz mal ajudar alguém.
Em quinze minutos estou entrando no lugar da cidade que mais amo. O hospital Central é o maior da cidade e é particular, mas o dono fez uma ala para pessoas que não tem condições de arcar com as despesas. Eu o admiro mais e mais por isso.
— Boa tarde, Betty. Como vai a enfermeira mais cotada do hospital... — Susan, a recepcionista do meu andar pergunta assim que saio do elevador.
— Ótima! Obrigada por esse bebê aqui e uma ótima tarde para você, querida. — beijo sua bochecha e ela ri feliz. Susan e Cheryl depois de Veronica são minhas únicas amigas. Não sou tão social, mas as três conseguem fazer alguns milagres.
— Chegou um médico novo, talvez você pudesse... — dou tchau para ela e me vou.
Susan é igual ou tão pior que Veronica , elas são terríveis. Só pensam em me arrumar um namorado. Eu não quero um namorado. Ponto final. Visto meu uniforme e faço todos os procedimentos de limpeza antes de encontrá-los. Quando chego perto todos estão meio que dormindo. Difícil. Passo o dedo pelo rostinho de Samantha e aos poucos ela vai despertando. Quando sei que ela já despertou totalmente a pego em meus braços e lhe dou banho. E assim sucessivamente. Com todos eles.
Ser enfermeira sempre foi meu maior sonho e o segundo deles foi trabalhar diretamente com crianças. Então eu sou a enfermeira do berçário. Dá até nome de livro. Sorrio com esse pensamento. Quando estou no intervalo para o jantar meu celular começa a tocar. Respiro fundo e atendo “Mamãe”.
— Oi mãe.
— Eu acho que o vi por aqui, Betty. Tenho quase certeza. — mordo meu lábio inferior quando as lágrimas começam a inundar meus olhos. Ele não está lá. Ele nunca está. Sempre é seu desejo que sobrepõe sua razão.
— E como ele está vestido, mamãe? — pergunto por quê... Uma vez eu disse que era sua imaginação, então ela ficou sem falar comigo por uma semana. Eu não posso suportar sua ignorância de novo. Eu a amo demais para isso.
— Ele estava lindo, querida. Com seu habitual cabelo espesso e uma blusa vermelha bem bonita. Acho que eu que dei de presente para ele... — ela começa a divagar e eu...
Bem, eu me acabo em lágrimas, como todas às vezes. Suas ligações sempre me levam ao fundo do poço. E quando a ligação acaba eu choro. Um choro inconsolável.
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