- Garoto, que bom que você fez um desenho, em? - o tatuador riu de lado, olhando para as duas linhas grossas que Scott havia desenhado em um pedaço de papel qualquer.
Scott deu uma pequena risada e olhou para Stiles, que folheava um dos portfólios de tatuagem em cima da mesa.
- Scott, tem certeza que não quer uma assim? - o garoto ergueu o portfólio em suas mãos e o mostrou um desenho de um mostro extremamente parecido com o Kanima. Scott não respondeu, só encarou o amigo com um olhar aborrecido. - Muito cedo? Okay.
O garoto colocou a pasta no lugar e observou o tatuador se sentar na cadeira ao lado de Scott. Não estava nada confortável com isso. Odiava agulhas. Só de pensar que, em alguns instantes, seu melhor amigo seria perfurado milhões de vezes seguidas por uma delas já lhe dava náuseas.
- Cara, você tem certeza disso? - tentou mais uma vez. - Essas coisas são bem permanentes.
- Eu não vou mudar de ideia.
- Ok. - suspirou, derrotado. - Mas por que duas faixas?
- Porque eu quis. - Scott deu de ombros.
- Não acha que a primeira tatuagem tem que significar alguma coisa?
- Fazer tatuagem já significa alguma coisa.
- Mas...
- Ele está certo. - O tatuador entrou na conversa. - Tatuagens existem há milhões de anos. A palavra tatua em taitiano significa "deixar uma marca". Como um ritual de passagem.
- Viu? - Scott sorriu. - Ele me entende.
- Ele é coberto de tatuagens, Scott. Literalmente.
E ele também quer o seu dinheiro - Stiles pensou, mas não disse nada.
- Está pronto? - o homem se virou para o beta, já com a agulha em mãos.
Não! - Stiles sentiu seu estomago revirar.
- Claro. - Scott respondeu, respirando fundo.
- Você não tem problemas com agulhas, não é?
Sim!
- Não.
- Ah... - Stiles deu um passo para frente, querendo ficar mais próximo do amigo. - Eu meio que costumo ficar enjoado perto de agulhas. Eu... - o barulho do maquina de tatuagem o cortou. Bastou ver as primeiras gotas de tinta para fazê-lo querer vomitar. Sentiu a pressão cair, e, em menos de um segundo, tudo ficou escuro.
***
Quando finamente acabou, Scott estava com o braço enfaixado e um sorriso no rosto, enquanto Stiles segurava uma saco de gelo em sua cabeça no local em que havia batido ao desmaiar, na esperança de não ficar com um galo.
Entraram no jipe, Stiles começava a ficar irritado com a felicidade radiando ao seu lado, tudo por causa de uma tatuagem idiota. No entanto, quando se virou para o amigo com um olhar aborrecido, percebeu que este não carregava mais um semblante alegre, mas tinha as sobrancelhas franzidas.
- Você está bem? - pergunou, preocupado.
- Isso queima um pouco. - o beta sacodiu o braço, parecendo incomodado.
- Pois é. É o que acontece quando você fura sua pele cem mil vezes. Repetidamente.
- É, mas... eu acho que não era pra doer assim.
Stiles bufou e se virou para ligar o carro, deixando o saco de gelo cair em sua coxa.
- Ah! - um grunhido de dor de Scott o fez pular de suso. - Eu tenho certeza que não é para doer assim. Eu tenho que tirar isso
- Ah, não, Scott. Por favor, não. - o garoto gemeu, voltando a ficar enjoado, mas Scott não lhe deu ouvidos. Quando tirou a faixa, ambos os garotos arregalaram os olhos. - Wow.
A pele em volta da tatuagem estava completamente vermelha, e a tinta ia se esvaindo aos poucos, como se estivessendo sendo absourvida pela pele.
- Ah não, por favor não... - tudo o que Scott podia fazer era implorar, enquanto via as faixas sumirem de seu próprio braço. Quando não tinha mais nada para ver, deixou o corpo cair no banco do carro. - Ela se curou.
Um silêncio se instalou sobre eles por alguns segundos.
- Ah, graças a Deus. - Stiles soltou todo o ar que estava prendendo, aliviado. - Eu odiava.
Ligou o jipe. Tinha que deixar o amigo em sua casa para que ele pudesse passar a noite toda se lamentando. Sua cabeça ainda latejava pela pancada, mas ele ia sobreviver.
- Está pronto para ver a Allison de novo amanhã? - perguntou delicadamente depois de um tempo, parando em um sinal vermelho. Allison havia ido para a França naquelas férias, e este meio que se tornara um assunto proibido entre os dois, visto que qualquer um podia ver que Scott ainda não tinha superado muito bem.
- Não acho que ela vai estar lá. - o beta deu de ombros, mas sua voz estava pesada. - Nós concordamos em dar um tempo no verão. Nada de mensagens, nada de telefonemas, nada.
- Então como sabe que ela não vai estar na escola? - Stiles se virou para o amigo e paralisou no lugar. Pela janela, podia ver Lydia em seu carro ao lado deles, rindo e conversando com ninguém menos que a própria Allison.
Falando no Diabo...
- Depois de tudo o que aconteceu, eu nem sei se ela ai voltar pra Beacon Hills. - Scott continuou falando, sem perceber o que estava acontecendo.
- Olha, eu acho que ela volta. - Stiles ainda encarava as garotas. - Acho mesmo. Tipo, cem por cento de certeza.
O beta franziu as sobrancelhas, sem entender, então se virou para a janela.
Ele finalmente a viu. Parecia diferente depois de quatro meses, tinha cortado e alisado o cabelo, e parecia mais leve que da última vez que se viram. O garoto não conseguia fazer nada além de ver aquela cena que acontecia bem ao seu lado, sentindo seu peito pesar conta as costelas. Tudo aquilo pareceu um transe, até que que Allison finalmente o viu.
Ela arregalou os olhos. Seu sorriso desapareceu quase imediatamente.
A primeira reação de Scott foi se abaixou no banco, tentando desesperadamente se esconder.
- Ai meu Deus, Stiles, ela não pode me ver. - ele se amassou contra o assento do carro, como se aquilo o tornasse invisível.
- Tarde demais, cara. - Stiles acenou despreocupado para Lydia e Alisson, que também tentava se esconder no banco.
- Podemos ir?
- O sinal está vermelho.
- Eu não ligo Stiles, liga o carro.
Stiles revirou os olhos.
Drama Queen.
- Pra que todo o drama? Vamos dar um oi. - ele se esticou para o lado e abaixou a janela do lado de Scott, apesar dos inúmeros protestos do amigo. - Oi!
No mesmo instante, Lydia ligou o carro e saiu em disparada, ignorando completamente o sinal vermelho. Stiles bufou.
Eu digo oi e todos saem correndo. História da minha vida.
- É, elas provavelmente não nos viram. - ele engoliu a frustração e voltou seu corpo para o banco do motorista.
Scott suspirou aliviado e sentou-se propriamente. Os dois continuaram permanesceram ali em silêncio, até o sinal mudar para verde e Stiles pisar no acelerador de novo.
- O que você está fazendo? - a voz de Scott era alarmada.
- Dirigindo.
- Nós estamos bem atrás delas!
- Você está vendo algum desvio, Scott? - Stiles apontou para a estrada que continuava reta por mais um quilômetro.
- Eu não quero que pensem que estamos seguindo elas!
- E o que você quer que eu faça?
- Sei lá, qualquer coisa!
O garoto fez a unica coisa que lhe veio a cabeça: parou o carro.
Bufou, irritado. Será que resto do ano seria assim também? Scott e Allison se encontrando sem querer, e Stiles e Lydia tendo que fazer o possível e o impossível para salvá-los de olhar um para o outro. Seria um inferno. Stiles mal tinha imaginado aquilo, e já estava de saco cheio.
Os garotos viram o carro de Lydia continuar andando por mais alguns metros, até que desacelerou e parou no meio da rua, assim eles fizeram.
Os dois trocaram olhares confusos. Não tiveram muito tempo para pensar no que tinha acontecido, pois logo ouviram os gritos assustados vindo do outro carro e sairam correndo do jipe, indo até elas o mais rápido possível. As garotas desceram rápido do veículo, se afastando trêmulas.
Scott foi direto para Allison, perguntando se estava tudo bem. Stiles correu até Lydia, que tinha as mãos enterradas nos cabelos.
- Ele apareceu do nada! - a ruiva gritou para Stiles, como se ele soubesse do que estava falando.
- Você se machucou?
- Ele estava correndo e nos atingiu! - ela continuou falando, olhando nervosa para os lados.
- Você está bem? - o garoto ouviu Scott perguntar, sua voz cheia de preocupação.
- Estou. - Allison respondeu com a voz baixa, devolvendo seu olhar intenso. - Estou sim.
- Bom, eu não estou! - Lydia gritou irritada e assustada. - Eu estou apavorada! Como foi que isso nos atingiu?! - se voltou para Stiles, exigindo respostas, mas ele apenas ergueu oes braços em sinal de rendição.
Os garotos finalmente viram o que estava acontecendo. Havia cacos de vidro para todo o lado. Um animal, um cervo, estava morto contra o para-brisa. Sua cabeça atravessava o vidro, espirrando sangue por tudo em volta.
- Eu vi os olhos dele antes de bater. - Lydia exclamou. - Era como se estivesse louco.
Scott se aproximou, hesitante.
- Não, - colocou uma das mãos no corpo do animal. - ele estava com medo. Apavorado, na verdade.
- Com medo de que? - Stiles perguntou mais para si mesmo do que para os outros.
Obviamente, ninguém respondeu. A cabeça de Stiles não tardou a começar a criar teorias e assumpções. Depois de tudo o que havia acontecido no último ano, não havia nenhuma chance que qualquer coisa estranha como aquela acontecesse com eles ao acaso. Seja lá o que fosse, eles estavam envolvidos.
Chamaram um guincho para o carro de Lydia. Eles esperaram até elas irem. Allison e Scott não trocaram mais nenhuma palavra. Pareciam se evitar de todas as maneiras possíveis.
- Você acha que vai ser assim o resto do ano? - Lydia havia cochichado para Stiles enquanto observavam os dois fingirem que não sabiam da existência do outro.
- Meu Deus, eu espero que não. - o garoto cochichou de volta.
Stiles tinha levado Scott para casa e agora estava em sua cama, virando de um lado para o outro, tentando dormir. Desistiu de tentar perto das duas da manhã. Se sentou e pegou o notebook, procurando tudo sobre ataques e acidentes recentes com animais em Beacon Hills para formular alguma teoria do que pode ter acontecido. Não conseguiu nada. Não achou nenhuma notícia de um acontecimento parecido.
Suspirou, esfregando os olhos cansados. Seja lá o que fosse, aquilo era um probema novo.
***
- Você quer pedir ajuda ao Derek? - Stiles arregalou os olhos, levemente alarmado. - Por quê?
Não é bom eu ter esse tipo de emoção a essa hora da manhã. - pensou.
Estava na escola. Piscava os olhos com força, tentando ignorar o fato de não ter dormido nada na noite passada. Scott vinha logo atrás dele, e o garoto se perguntava como o amigo conseguia parecer disposto àquela hora da manhã. Devia ser parte de sua resolução de volta as aulas. De acordo com ele, seria melhor em tudo. Amigo melhor, filho melhor, aluno melhor.
Bom, Stiles não tinha resolução nenhuma. Ele estava cansado e queria que a escola explodisse, sem nenhuma alegria de primeiro dia de aula.
- Derek tem uma tatuagem. - Scott respondeu, convicto. - Então deve ter um jeito de fazer uma sem que se cure.
- Não acha que ele está meio ocupado? - Stiles apontou para um cartaz colado na parede do corredor enquanto passava por ele. Era um cartaz de desaparecido de Erica e Boyd.
Já fazia quatro meses. Derek e Isaac procuravam por eles sem parar. Stiles se sentia mal por Derek. Sabia que o Alpha estava colocando toda a culpa em seus ombros, como sempre fazia.
Scott não disse mais nada enquanto seguiram para a sala. Quase todos os outros alunos já estavam lá. E é claro que Allison tinha que ser a última a chegar. E é claro que só tinha um lugar vago na sala inteira. E é claro que esse lugar era do lado do Scott.
Meu Deus, esse drama não tem fim - Stiles suspirou. Ele podia sentir a tensão dos dois a quilômetros de distancia.
Então a nova professora de literatura entrou na sala: Jeniffer Blake. Parecia ser legal, apesar de um pouco estranha, na opinião de Stiles.
Alguns minutos depois, Scott foi chamado pelo diretor. Melissa havia ligado pedindo para que o liberassem. A curiosidade do garoto se atiçou na hora, mas teria que esperar até a aula acabar.
Mais uma vez, desejou que a escola explodisse.
Olhava para os lados, entediado. Pessoas fazendo lição de um lado, pessoas dormindo do outro, normal. Lydia estava sentada ao seu lado e parecia concentrada o que estava fazendo.
- O que aconteceu com a sua perna? - perguntou, curioso, vendo a marca vermelha no calcanhar da amiga.
- Prada me mordeu. - ela pareceu incomodada.
- Sua cachorrinha?
- Não, minha bosa de marca. - revirou os olhos. - Sim, minha cachorrinha.
- Ela já tinha te mordido antes?
Lydia balançou a cabeça.
Bingo. - Stiles arregalou os olhos.
- E se for a mesma coisa que aconteceu com o cervo? - se inclinou para mais perto da ruiva. - Sabe, tipo, animais agindo estranho antes de um terremoto.
- Então vai ter um terremoto? - respondeu em um tom debochado.
- Ou alguma outra coisa, algo ruim. Eu... - Stiles não conseguiu terminar sua fala. Algo atingiu a janela, assustando a todos na sala.
Tinha sangue por todo o vidro, um pássaro o havia acertado. Depois outro. E outro. E outro. De repente, dezenas de pássaros se jogavam contra o vidro, deixando rastros de sangue pelas grandes janelas. Então alguns conseguiram realmente quebrá-los, atravessá-los, se jogando dentro da classe e em cima de todos ali. E, de repente, a sala estava sendo invadida por dezenas de corvos enlouquecidos, voando de um lado para o outro e atacando o que encontrassem pela frente.
- Abaixem-se! - a professora gritou. - Abaixem-se!
Stiles não pensou duas vezes antes de se jogar no chão, assim como todo mundo, e se arrastar em direção a Lydia, tentando protegê-la com seu corpo.
***
- Scott? Nós temos sérios problemas. Na aula da Stra. Blake... - Stiles falava rápido enquanto entrava no jipe. Os alunos foram liberados depois do ataque dos pássaros suicidas e Stiles imediatamente ligou para Scott.
- Stiles, pode ser depois? - Scott interrompeu.
- Não, não pode ser depois! - ele exclamou indignado. - É um assunto de urgência!
- Tá bom, me encontre na casa do Derek. - Stiles sentiu seu estomago revirar.
- O quê? O que você está fazendo na casa do Derek? - seu coração batia mais rápido só de dizer seu nome, o que fazia Stiles se achar uma adolescente de filme clichê.
- Só vem pra cá, Stiles. - foi tudo o que disse antes de desligar.
O garoto encarou o celular indignado por alguns segundos antes de ligar o carro. Casa do Derek. Ótimo. Stiles preferia evitar Derek a todo o custo. Sempre ficava extremamente incomodado, e falava e fazia coisas estúpidas quando estava perto dele, como se seu cérebro não funcionasse propriamente quando o maior estava envolvido. Droga, por que ser um adolescente era tão difícil?
***
Ele não conseguia acreditar.
Estavam na casa queimada e destruída de Derek. Isaac estava inconsciente no chão ao seu lado. Scott e Derek haviam acabado salvá-lo de um Alpha desconhecido que invadira o hospital onde estava. Um Alpha. Em Beacon Hills. Stiles não sabia o que era mais preocupante, o Alpha, ou Isaac em um hospital.
Stiles não sabia bem como funcionava. Em sua cabeça, outros Alphas não podiam simplesmente entrar em Beacon Hills, já que era o território de Derek. Será que lobisomens eram possessivos quanto a território? Se sim, esse outro Alpha estava invadindo. Aquilo poderia ocasionar uma guerra entre packs? Oh, Deus, não ia acabar bem.
Contou a eles tudo o que havia acontecido na aula da Stra. Blake.
Derek ficou tenso.
- Animais tendem a agir estranho quando há algo sobrenatural acontecendo.
- Algo sobrenatural? - Stiles perguntou. - Tipo o quê?
- Tipo um novo Alpha na cidade. - Derek respondeu o óbvio e Stiles se sentiu muito burro. Como sempre: falava e fazia coisas idiotas perto dele.
- Quem é ele? O que ele quer aqui?
- É o Alpha de um pack rival. - Stiles teve a impressão de que ele sabia muito mais do que estava contando. - Não se preocupe. É meu problema.
- Como assim "não se preocupe"? Tem um pack inimigo na cidade, Derek.
- De novo: É problema meu. Não seu.
Scott parecia não se importar com nada disso, o que irritava Stiles em um nível completamente novo. O amigo estava sentado na frente de Derek, que analisava seu braço esquerdo, onde antes estava a tatuagem. Pedira a Derek que o ajudasse. Havia outro Alpha na cidade. Um pack inimigo. Animais estavam se matando. E Scott se preocupava com a tatuagem.
Deus, me dê paciência. - Stiles bufou. Podia ver que o Alpha tinha coisas mais importantes para fazer, mas devia uma a Scott por tê-lo ajudado.
- Estou vendo. - Derek disse, analisando o braço com sua visão de lobo. - Duas faixas. O que significa?
Nada.
- Eu não sei. - Scott respondeu. - É só algo que desenhei com os dedos.
- E por que isso é tão importante?
O beta ficou em silêncio por um tempo antes de responder, como se escolhesse cada uma das palavras.
- Sabe o que significa a palavra "tatuagem"?
- Deixar uma marca. - Stiles respondeu mais rápido que qualquer um. Derek se virou para ele e seu estomago embrulhou.
Por que eu disse aquilo? Eu tenho que parar com isso. - Stiles sacudiu a cabeça.
- Isso no taitano. - Scott continuou. - Em samoano significa "ferida aberta". - houve uma pausa. - Eu sempre quis fazer uma tatuagem quando fizesse dezoito. Resolvi fazer uma agora como recompensa.
- Recompensa pelo quê?
- Por não... não ligar ou mandar mensagem para Allison durante o verão. - fez outra pausa. - Mesmo quando eu realmente queria... Quando era muito difícil de resistir. Eu quis dar o espaço que ela pediu. E agora, depois de quatro meses, ainda dói. Como... como uma ferida aberta.
Meu Deus, que drama. Alguém me mata.
Stiles revirou os olhos. Esteve apaixonado por Lydia por anos, e agora por Derek, sabia que nenhum dos dois nunca iria correspondê-lo, sabia que doía. Mas quando algo dói assim, você esconde a dor com sarcasmo e séries de TV.
- Vai ser a pior dor que você já sentiu. - Derek avisou.
- Tudo bem.
Tudo bem?!
- Ah, parece ótimo. - Stiles engoliu em seco.
Derek se virou e tirou um maçarico de trás dele. Um maçarico. Stiles ia vomitar.
- Okay. É a minha hora de ir embora. - o garoto começou a correr até a porta, mas Derek o segurou pelo braço.
- Não. - disse. - Você vai segurar ele.
Stiles arregalou os olhos. Tinha que segurar seu melhor amigo enquanto ele se contorcia de dor por ter um maçarico queimando sua pele. Não era assim que ele pensou que passaria o dia.
Lançou um olhar para Derek, meio que implorando para que o deixasse ir embora. O maior entendeu seu olhar, mas apontou para Scott com a cabeça como se dissesse "não sou eu, é ele".
O garoto respirou fundo e foi para trás de Scott, segurando-o pelos ombros. Derek lançou um último olhar de confirmação ao beta, que assentiu com a cabeça. Stiles apertou os ombros do amigo a sua frente e respirou fundo, fechando os olhos com força.
***
Scott havia desmaiado depois que tudo acabou. As mãos de Stiles estavam tremendo e ele queria vomitar. Os gritos de Scott ainda soavam em seus ouvidos.
- Você está bem? - ouviu a voz de Derek atrás de si e se virou, se deparando com seu olhar preocupado.
- Estou ótimo. - forçou um sorriso. - Da próxima vez que quiser torturar meu amigo, não se esqueça me chamar. Eu ainda não completei minha cota de experiêcias traumáticas desse ano.
- Desculpe por isso. - ele soava sincero. - Eu precisava de alguém pra segurar ele.
- Tudo bem. - Stiles o encarou por um momento. - Foi assim quando você fez a sua?
- Foi pior. - ele deu um meio sorriso e Stiles sentiu seu coração se apertar.
- Quem te ajudou?
- Um amigo.
- Ah, você tem amigos? - o garoto provocou.
- Eu tinha.
Um silêncio desagradável se instalou no lugar.
Ótimo Sitles, ótimo.
- Desculpe. - Stiles abaixou a cabeça. Ótimo, ele também não tinha completado sua cota de coisas idiotas que dizia na frente de Derek naquele dia. Teve a impressão de que Derek ia dizer alguma coisa, mas desistiu. - E quanto a Erica e Boyd? - perguntou, querendo desesperadamente quebrar o silêncio.
- Nós temos algumas pistas de como encontra-los. - agora Stiles tinha certeza que Derek sabia mais do que estava contando. Não que o menor esperasse que o Alpha o contasse tudo. Por que contaria? Stiles não era nada para Derek. Os dois eram apenas conhecidos.
- Isso tem alguma coisa a ver com o Alpha no hospital e o pack inimigo?
Derek não respondeu. Bingo. Stiles ia continuar falando, mas Scott pulou na cadeira, olhando para os lados de modo assustado. Olhou para seu braço recentemente tatuado e sorriu.
- Funcionou! - disse como se fosse a melhor coisa do mundo.
- É, parabéns. - o menor revirou os olhos enquanto o beta analisava o braço maravilhado.
- Obrigado pela ajuda, Derek.
Derek acenou com a cabeça e Scott se levantou, pronto para ir embora.
- Parece permanente agora. - Stiles comentou, olhando para a tatuagem.
- Ótimo. - ele sorriu. - Eu precisava de uma coisa permanente. Depois de tudo o que aconteceu com a gente... Tudo muda tão rápido, tudo é tão... efêmero.
- Tá estudando pras provas, né?
- É.
- Legal.
Scott sorriu e abriu a porta, saindo da casa. Stiles estava bem atrás dele, mas parou no meio do caminho para encarar a porta. Ela estava pintada de vermelho, recentemente pintada de vermelho. A casa estava toda queimada, caindo aos pedaços, por que Derek se incomodaria de pintar uma porta?
- Você pintou a porta. - ele falou alto para Derek ouvir. - Por que pintou a porta?
- Vá para casa, Stiles. - Derek se aproximou, ele parecia estar escondendo seu nervosismo.
- E por que só de um lado? - Stiles o ignorou.
Scott parou ao lado do amigo e sacou as garras. Arranhou a porta superficialmente, retirando a tinta ali. Derek protestou, mas Scott já tinha percebido que o Alpha escondia alguma coisa, com suas garras, ele arranhou toda a extensão da porta, retirando a tinta e revelando um desenho pintado na porta. Era estranho, como um triskele, só que triangular.
- O cervo ontem... - Stiles disse, sua mente trabalhando e tentando juntar todos os fatos. - E os pássaros na escola... é como quando Scott foi mordido. Como quando ele foi atacado por um Alpha. - ele olhou para Derek e percebeu que havia descoberto. - Mas são muitos animais agindo estranho para um Alpha só. Quantos são?
Derek respirou fundo, como se estivesse decidindo se os contava ou não.
- Derek, quantos são? - o menor repetiu com firmeza. Derek levantou os olhos e o encarou por um tempo até responder.
- Um pack. - ele disse, sem tirar os olhos dos de Stiles. - Um pack de Alphas.
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