1. Spirit Fanfics >
  2. Um caminho para dois >
  3. Uma pedra no meio do caminho

História Um caminho para dois - Uma pedra no meio do caminho


Escrita por: Analoguec

Capítulo 36 - Uma pedra no meio do caminho


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 36

Uma pedra no meio do caminho

Dois meses depois

Andando apressada pelos corredores da faculdade, Rin só pensava em entrar na sala e apresentar o último trabalho do semestre. Estava preparada, bem vestida com uma saia florida clara e uma blusa de mangas curtas para combinar com o verão, nada de ruim iria acontecer e o professor não brigaria e...

... Até sentir-se tonta e cair, batendo os joelhos e os punhos no chão.

Ficou daquele jeito por alguns minutos, olhando para o piso com olhos arregalados como se tentasse entender o que havia acabado de acontecer. O cabelo comprido formada uma cortina enquanto olhava para o chão, mas não conseguia arranjar forças prendê-lo no momento. Parecia também que havia machucado um dos joelhos.

— Ei, você está bem? – um rapaz e uma garota, ambos desconhecidos, aproximaram-se ao vê-la caída para ajudá-la. Ele a segurou por um braço para levantá-la como se fosse uma boneca enquanto a outra pegava as anotações e a bolsa caídas do chão.

— Hmm... – ela, ainda sem entender o que havia acontecido e bastante atordoada, murmurou querendo encontrar as palavras – A-Acho que sim...

— Quer que a gente acompanhe...? – ele perguntou e Rin balançou a cabeça para os dois, aceitando os pertences que a garota havia coletado do chão. Os dois tinham sido tão gentis ao ajudá-la daquela maneira e pareciam realmente preocupados.

— Está tudo bem agora... Obrigada! – ela agitou a mão em agradecimento para tentar sair logo daquela situação, curvando-se em uma rápida reverência antes de sair dali apressada.

Ao entrar na sala, reparou que já havia alguns colegas aguardando a vez de apresentar, mas sem sinal ainda do professor. Sentou-se no banco do fundo, como usualmente fazia, e reparou no joelho com um pequeno sangramento.

— Oh... – murmurou. Não estava doendo, mas qualquer um poderia ver aquilo por conta da saia.

Decidiu cuidar daquilo mais tarde, quando voltasse para casa. Depois da aula, ela encontraria Sesshoumaru para visitar alguns apartamentos. Já estava cansada de ter que acompanhá-lo, ainda mais que ele parecia ser tão exigente quanto ao tipo de moradia que queria.

Decidiu ver se tinha mensagens de Sesshoumaru no celular. Havia combinado de encontrá-lo depois da aula para ver alguns apartamentos e...

Os olhos arregalaram de leve ao notar o recebimento de outro tipo de mensagem, mais formal, uma resposta que ela aguardava sobre uma entrevista de emprego.

A ansiedade para abrir foi inversamente proporcional às primeiras palavras que leu: "Prezada Nozomu Rin, infelizmente..."

Deu um sorriso fraco e desligou a tela do aparelho, sentindo-se pensativa e chateada. Apoiou o rosto na palma da mão para olhar distraidamente outros colegas conversando alegremente e sem maiores preocupações como as dela.

Era mais uma resposta negativa desde que se formara. Quase todos os conhecidos estavam com empregos e apenas ela estava preocupada em como pagar as contas e o apartamento em breve depois do prazo estabelecido em comum acordo com o pai.

Teria que arranjar uma solução o mais rápido possível. Conversar com Sesshoumaru era a melhor alternativa porque ele sempre era o mais calmo e centrado dos dois, ao contrário dela que conseguia ficar muito ansiosa e poderia tomar decisões muitas vezes consideradas precipitadas.

Deu um suspiro cansado e olhou desinteressada para o professor que havia acabado de entrar e colocar a pasta em cima da mesa no palco. Em poucos minutos ela teria que apresentar um seminário. Deveria concentrar-se naquilo primeiro e depois na conversa que teria com o namorado.

Sim, Sesshoumaru poderia ajudar com algum conselho antes que ficasse desesperada.

o-o-o-o-o-o

O apartamento que Rin e Sesshoumaru visitavam naquele dia era um dos mais modestos se comparado aos outros que ela vira anteriormente – um pouco menor, quase do mesmo tamanho que o dela, com quarto e sala para ser usada como escritório em um andar e quarto com varanda e banheiro separado de toalete no outro.

— Este espaço foi reformado recentemente e estamos negociando apenas com casais sem filhos. – a corretora de saia e terno preto por cima da blusa branca avisou a Sesshoumaru e novamente Rin não o ouviu corrigi-la. Era a terceira ou quarta vez que ouvia aquele tipo de comentário.

Era mais um lugar longe do centro de Tokyo. Como ele ainda queria mudar da casa onde cresceu era uma coisa que já tinha desistido de tentar entender.

Decidiu afastar-se dos dois na hora que começaram a falar sobre o contrato e ir para a varanda para respirar um pouco do ar daquele distrito mais arborizado. Parecia ser uma vizinhança mais familiar e tranquila, sem o trânsito de onde morava ou a vista moderna de prédios. Viu pais caminhando com crianças em carrinhos de bebê ou de mãos dadas pelas calçadas, o parque do distrito, poucos carros e muitas casas de classe média alta com dois ou três andares.

— Gostou da vista? – Sesshoumaru perguntou atrás dela, assustando-a de leve. Não havia sentido a aproximação de tão distraída que estava enquanto olhava a paisagem.

— Oh... – ela piscou – É bem diferente do meu bairro. Lá a gente quase não consegue ver as árvores. Só os prédios.

Sesshoumaru ficou apenas em silêncio enquanto contemplava a vista. Era realmente uma bonita e dava o parque daquele distrito, uma vizinhança aparentemente muito mais tranquila e diferente do caos do centro da capital onde ela morava.

Rin sorriu moveu-se de forma que os dois ficaram frente a frente, com ela apoiando os cotovelos na grade do parapeito. Ao fazer aquilo, ele notou o joelho machucado: havia um ferimento com pontos em vermelho e roxo sem tratamento e que chamava a atenção na perna que ele adorava beijar em outros momentos.

— O que aconteceu com você? – ele perguntou e só então ela percebeu para onde ele olhava.

— Oh... – ela murmurou. Havia já esquecido completamente a queda na faculdade e que precisava fazer um curativo no local – Eu caí na faculdade.

— Caiu? – ele repetiu como se não entendesse o que ela havia falado.

— Foi vergonhoso, caí no meio do corredor antes da aula. – ela fez uma careta – Ainda bem que foi rápido e duas pessoas me ajudaram.

— E você ainda não cuidou disso. – ele apontou.

— Vou cuidar quando chegar em casa. Esqueci completamente. Nem dói mais.

Sesshoumaru a viu sorrir despreocupada novamente. Ela ainda tinha apenas os cotovelos apoiados no parapeito e a vista do distrito às costas. Era um boa imagem que queria manter dela com o que ele planejava falar.

— Pensei que tivesse conversado com o seu avô sobre ficar na sua casa. – ela comentou de repente.

Os olhos de Sesshoumaru deixaram de memorizar a bonita imagem para estreitá-los de leve, perguntando-se sobre o quão difícil era entender que não poderia mais ficar na casa e que já deveria ter mudado há tempos de lá.

— Você disse que seu irmão não quer ficar lá também. – ela insistiu como se os pensamentos estivessem conectados e tivesse conseguido lê-los – Não tem sentido você perder esse direito só porque não vai cumprir um acordo entre famílias.

Depois de alguns segundos em silêncio, Sesshoumaru começou:

— Isso é parte da vida adulta, Rin. Eu deveria sair da casa depois de formar. Ele deixou que eu ficasse por alguns meses até encontrar um lugar.

— Oh... – ela murmurou – Eu só achei que a casa fosse importante pra você por morar desde a infância lá e que não era justo ter que sair por causa daquele acordo. Quem vai ficar lá são só o seu avô e Kaede-sama, né?

Deu um sorriso mais largo:

— Acho que é isso que nossos pais querem nos ensinar: precisamos nos virar a partir de um momento, sair de casa de vez e ficar menos dependentes.

Evidentemente que não mencionou o fato de ainda não ter conseguido emprego e que começava a preocupar-se com o que viria mais pela frente, mesmo assim deu um sorriso que transmitia muita segurança sobre o que dizia.

Endireitou o corpo para alongar os braços para o alto, abraçando-se depois. Sim, era bom acreditar que as coisas ficariam bem. Poderia continuar estudando e encontrar um emprego em algumas semanas.

— E o que achou daqui? – ele perguntou olhando para a paisagem.

— Ah, achei bem confortável e tranquilo. Acho que seria um lugar pra eu morar também.

Segundos depois, o sorriso morreu diante do olhar fixo e silencioso de Sesshoumaru, ainda com mãos nos bolsos e absolutamente tranquilo.

Arregalou os olhos e não conseguiu emitir um único som, sentindo apenas o coração bater rápido e a cabeça voltar a girar.

— Eu não acredito que entendeu só agora, Rin. – ele comentou.

— Eu... – ela sentiu a cabeça dar mais uma volta e as pernas fraquejarem de novo, como na hora em que caiu no corredor da faculdade. As pernas cederam e só foi ao chão porque Sesshoumaru a segurou pela cintura.

Alguns segundos se passaram até ela conseguir erguer o rosto.

— Pensei que fosse gostar da ideia. – ele comentou num tom suave, estreitando de leve os olhos.

Rin continuou apenas olhando para ele, assustada.

— Está tudo bem aqui? – a corretora perguntou ao vê-los naquela posição.

Levou alguns segundos para Sesshoumaru virar o rosto e falar com ela por cima do ombro direito:

— Ela não está se sentindo bem. Vou levá-la para casa.

o-o-o-o-o-o

No carro, Rin continuava em silêncio, bolsa em cima das pernas, mãos firmes nos joelhos, enquanto Sesshoumaru dirigia com os olhos fixos na estrada no caminho de volta para o centro de Tokyo.

— Você não está mais passando mal. – ele comentou suavemente.

— Hmm... – ela deslizou um braço pela cintura como se quisesse se proteger – Já estou melhor... Desculpa por isso. Não sei o que aconteceu.

O silêncio dele indicava que queria continuar a ouvi-la sobre o que pensava da proposta.

— E-Eu fiquei surpresa. Não sabia que queria isso. Podíamos ter conversado antes.

— Pensei em ter um lugar nosso para nossa privacidade. Não temos muito isso na minha casa por causa da minha família e é quase impossível eu conseguir dormir no seu apartamento. – ele comentou sem deixar de dirigir, mantendo a voz calma e sem mostrar o incômodo que sentia por não vê-la feliz e falando muito como de costume. Ele sabia lidar com Rin falante. Era difícil manter a conversa com Rin silenciosa.

— Estou preocupada com o meu apartamento e outras coisas também. Não consegui emprego ainda e meu pai vai deixar de pagar o aluguel em breve. Não sei se fico só estudando e peço para ele continuar me ajudando...

Rin cruzou as pernas e abraçou-se com mais força, voltando ao habitual jeito falante:

— Se ficássemos juntos naquele lugar, eu ficaria preocupada sem saber como ajudar a pagar as despesas. Não posso deixar que você pague as coisas sozinho. Quer dizer, também a gente teria que apresentar algo oficial pra prefeitura que nem daquela outra vez? Acho que teria que falar com minha família. Meu pai iria ficar...

— Você pode pensar nisso depois. – ele falou para encerrar de vez a conversa.

Rin entendeu e abaixou o rosto. Era culpa dela ele sentir-se daquele jeito. Deveria lembrar-se que Sesshoumaru sempre tomava decisões daquele nível depois de pensar muito e ter certeza das escolhas.

Tentou reverter aquela situação de outras maneira:

— Você quer passar a noite comigo hoje?

Houve uma pausa que a incomodou profundamente antes de ele responder:

— Eu tenho que acordar cedo e você sabe que não consigo dormir quando estou lá.

Rin virou o rosto para observá-lo. Ele continuava olhando para a frente, rosto impassível que apenas comprovava que estava irritado não com elamas com o fato de não poder passar a noite com tranquilidade no apartamento como esperado.

— Claro... Entendo. – ela sussurrou um pouco triste.

Mais algum tempo depois, ele parou o carro na frente do prédio onde ela morava, mas Rin não fez menção de sair.

Tirando o cinto, ela saiu do assento para sentar no colo dele, recebendo um olhar extremamente estreitado. Pensou que fosse mais uma forma de tentar convencê-lo a passar a noite com ela, mas o que viu foi apenas tristeza no rosto.

— Eu não passei em mais uma entrevista. – ela finalmente revelou o que a incomodava tanto – Recebi a mensagem antes da aula.

Sesshoumaru esboçou uma reação mínima ao suavizar o olhar e analisar o rosto dela.

— Todo mundo já tem um emprego. Sango-chan e eu nunca mais nos vimos porque ela não tem mais tempo porque trabalha muito. Até Miroku-sama arranjou um emprego e eu não, e meu currículo é bem melhor que o dele.

— Houshi é um idiota trapaceiro. Deve ter copiado o currículo de alguém e mudado o nome. – ele atestou numa tentativa de deixá-la mais calma.

Rin forçou um sorriso que durou apenas alguns segundos.

— Sess... Eu estou muito ansiosa nos últimos dias. Eu achei que seria independente e ter um espaço legal pra morar aqui, mas só tenho recebido "não" de todas as entrevistas que fiz.

— Por que está tão preocupada com isso? Não é como se fosse passar dificuldades se não conseguir emprego depois que o seu pai parar de sustentá-la. Você pode ficar só estudando enquanto moramos juntos, Rin.

— Acho que meu pai também não vai gostar dessa ideia.

— Seu pai aparentemente vai se revelar mais conservador que minha família, se for o caso.

Rin fez um biquinho infantil e admitiu apenas em pensamento que ele tinha razão naquela análise. Por mais que o pai apresentasse ideias muito progressistas e apoiasse outras causas mais modernas, ainda assim preferia e seguia muitas tradições.

A mão dele deslizou suavemente pelas costas para ajudar a minimizar a ansiedade que ela sentia. Entendia o que ela estava sentindo porque ele também precisaria fazer algumas escolhas.

— Por que não aproveita hoje à noite para pensar na proposta de morarmos juntos e amanhã me fala o que decidir? Podemos ver isso antes de resolver essa questão do trabalho e dos seus estudos.

Rin concordou com a cabeça sentindo-se um pouco mais aliviada com o rumo que a conversa havia tomado. Desde o começo da relação ele sempre dissera para confiar nele e que tudo ficaria bem, mesmo na época que não havia perspectiva para ela continuar morando na cidade depois da formatura.

Inclinou o rosto para um beijo lento e suave antes de mudar de posição, voltando ao assento.

— Não quer mesmo passar a noite comigo? – ela insistiu.

— Eu não consigo dormir no seu apartamento, Rin. E eu realmente preciso dormir um pouco hoje porque preciso ir a um distrito bem cedo.

— Você quase nunca dorme comigo mesmo. – ela fez um beicinho.

Apenas quando viu um dos cantos dos lábios dele levantar, ela deu-se conta do que falou e cobriu rápido o rosto com as mãos para esconder o rubor.

— Amanhã podemos ir para a minha casa depois da sua aula. – ele sugeriu, afastando as mãos do rosto e erguendo-o pelo queixo para ver aqueles imensos olhos castanhos menos ansiosos e preocupados que antes.

— Eu tenho terapia depois da aula. Quer que eu vá direto pra lá?

— Não precisa, posso buscá-la na sua terapia.

Mais animada, ela concordou com um sorriso e preparou-se para sair.

— E cuide desse joelho. – ele a lembrou.

Ao invés de bufar como geralmente fazia quando ele era igualmente tão insistente e preocupado, ela continuou sorrindo e tocou na mão dele para reassegurar que atenderia ao pedido.

— Até amanhã, Sess.

Minutos depois, ela estava na cozinha do apartamento preparando um rápido jantar. Com os acontecimentos da tarde, esqueceu completamente de alimentar-se, então sentia o estômago mais agressivo que o normal depois de longas horas sem comida.

Em instantes, ela tinha em cima da mesa uma porção de arroz, nori seco, uma tigela de curry vegetariano, um pouco iogurte com geleia de morango e uma taça de vinho de Furano.

Sesshoumaru tinha dado uma boa sugestão: não havia problema algum em dividir um apartamento com o namorado e continuar somente estudando enquanto ele trabalhava pelos meses que tivesse que fazer pesquisa. Seria até melhor dedicar-se totalmente aos estudos e terminar o quanto antes.

Mas o que o pai diria...?

Rin sentou-se e começou a comer.

Isso seria outro nível de relacionamento.

Talvez Sesshoumaru tivesse razão em querer facilitar as coisas para ela para que se dedicasse mais aos estudos. Talvez ele não se importasse em trabalhar para manter a casa e algumas despesas.

Será que o pai aceitaria...?

Naturalmente que as duas famílias não deixariam de criticar caso decidissem mesmo morar juntos sem anunciar oficialmente, especialmente o senhor Nozomu, que nem ao menos conhecia Sesshoumaru.

Será que o pai ia gostar dele...?

— O que eu faço...? – perguntou-se ao remexer sem muita fome o curry com uma pequena colher de sopa.

Comeu uma porção e franziu a testa. A comida estava com um gosto estranho. Fez uma careta e cheirou o conteúdo da tigela, notando que parecia ser o mesmo de sempre.

Envolveu uma porção de arroz na folha de nori e começou uma porção, mastigando lentamente enquanto tentava provar mais uma vez o curry.

Franziu ainda mais a testa em estranhamento. Os temperos eram os da marca favorita e preparou da mesma maneira como outras tantas vezes, mas o sabor estava levemente diferente do que estava acostumada. Parecia que estava azedo.

Deixou a tigela de curry de lado e pegou e comeu mais duas porções de arroz, sentindo-se cheia apenas com aquilo, e tomou um gole do vinho.

A careta ficou mais forte. O vinho estava com gosto de rolha mofada. Preocupada, olhou o rótulo. Era impossível ter ficado com aquele gosto porque havia tomado um gole dias antes e estava bom.

Deu um suspiro pesado e finalizou a refeição com o iogurte e a geleia. Pelo menos aquilo estava bom.

Levantou-se e jogou fora o curry e o resto de arroz que não havia comido. Derramou o copo praticamente intocado de vinho na pia e observou lentamente a mancha vermelha se desfazer com a água corrente.

Depois de arrumar a cozinha, tomou banho e sentou-se na cama para encostar as costas em um par de almofadas e conversar confortavelmente com o pai por telefone, aproveitando para cuidar do ferimento com um curativo – borrifando uma solução antisséptica para limpar e tratar o local, além de colocar um band-aid para proteger.

— Nozomu. – ela reconheceu a voz do irmão quando este atendeu depois de dois toques do telefone fixo.

— Oh... Oi. – ela falou um pouco mais seca. Há tempos que não ouvia a voz dele e havia esquecido completamente que ele poderia estar em casa – Quero falar com o papai.

— Hunf. – ele murmurou em desdém.

— Hunf. – ela rebateu visivelmente irritada. Não queria sentir-se atingida por falar com alguém com quem não tinha mais uma boa relação.

Segundos depois, o pai atendia.

— Alô?

— Ah, papai! – ela começou num tom mais alegre – Tudo bem?

— Sim... – ele parecia confuso pelo tom de voz – Não pensei que fosse ligar hoje. Aconteceu alguma coisa?

Rin fez alguns segundos de silêncio, observando o ferimento já com curativo.

— Eu não consegui ainda emprego. – falou, por fim, com tristeza – Tive mais uma resposta hoje.

— Oh. – ele murmurou.

A linha ficou em silêncio.

— O que pretende fazer agora? Vai procurar outras empresas? Quer tentar alguma daqui? Seu tio pode arranjar uma vaga, se quiser.

— Hmm... – ela endireitou a coluna e preparou-se para revelar o motivo da ligação – Sesshoumaru me disse que poderíamos morar juntos e eu poderia ficar só estudando por um tempo.

Outra vez a ligação ficou em um silêncio incômodo.

— E o que foi que você respondeu? – ele perguntou num tom extremamente sério.

— Hmm... eu não falei nada porque queria conversar com o senhor. Eu estava bem triste porque tinha acabado de ler a mensagem sobre o emprego. Ele disse pra pensar na proposta. Não sei se foi só pra me consolar. Estou ficando ansiosa de não conseguir emprego e ele disse pra não me preocupar. Mas não consigo deixar de ficar quando penso no apartamento e em outras despesas.

— E ele achou melhor sugerir que morassem juntos nesse caso, Rin? Vai ficar dependendo dele? – o tom era de preocupação.

— Ah... Não. Meu receio é justamente isso. Mas eu não sei o que fazer.

O pai pigarreou antes de continuar suavemente:

— Talvez você não esteja conseguindo porque as empresas estão vendo o seu currículo e percebendo que não poderá cumprir todas as horas porque estará na Universidade.

— Oh... Então eu nunca vou conseguir assim. – ela baixou o rosto e era quase como se ele pudesse ver a filha triste e sozinha no quarto porque ela sempre ficava naquela pose em situações como aquela.

— É melhor conversarmos sobre isso pessoalmente. Poderia ser neste fim de semana. – ele preferiu não arriscar-se a apontar as causas para a filha continuar o emprego, guardando apenas para si as suspeitas – Creio que também deveria conversar com o seu namorado... É um Taisho, não?

Rin ficou rígida na cama, arregalando os olhos.

— Claro! – ela falou imediatamente, já mais animada e esperançosa – Neste fim de semana, né? Vou acertar com ele.

Houve um momento de silêncio na linha e ela franziu a testa.

— Eu a criei para tomar as próprias decisões. Você não precisava ter me ligado, mas eu fico feliz de ter feito isso porque essa ideia de morar com seu namorado não me agrada muito. Prefiro continuar pagando um apartamento para você durante seu mestrado do que vê-la morando sem emprego com ele.

— Oh... – ela franziu mais a testa – Entendi.

— Mas podemos conversar melhor quando vierem aqui. Acho que está na hora de conhecê-lo.

— Hmm... mas Hashi não estará aí, né? – ela perguntou um pouco receosa.

— Eu lido com o seu irmão.

Rin deu um sorriso. Sabia que aquela preocupação tinha um motivo. Mesmo criando-a para ser independente, estava preocupado e queria que ela ficasse bem morando longe de casa.

— Obrigada, papai.

— Boa noite, Rin.

— Boa noite.

Tinha ainda um enorme sorriso quando no display para ligar para Sesshoumaru.

— Oh... Está tarde... – ela lamentou ao dar-se conta de que possivelmente ele estaria dormindo.

Decidiu ligar cedo pela manhã para não incomodá-lo e jogou-se nos travesseiros, olhando para o teto. Tinha sido um dia e tanto e aparentemente mais estava por vir. Tinha certeza disso.

Fechou os olhos e tentou dormir. Vinte minutos depois, estranhamente ainda estava acordada. Havia um incômodo movimento na boca do estômago que a estava deixando preocupada e com náuseas.

Em um determinado momento, levantou-se depressa e correu para o toalete, lançando os conteúdos do estômago na privada.

Minutos depois, saiu do banheiro extremamente pálida e cambaleou até chegar à varanda do quarto. Afastou as cortinas e abriu a porta de vidro, deixando um pouco de vento fresco entrar no ambiente.

Respirou fundo várias vezes, mas nenhuma delas resolveu o problema. O resultado foi o retorno ao toalete para lançar mais conteúdo que nem sabia que ainda tinha no estômago.

o-o-o-o-o-o

Rin andava e respirava fundo andando de um lado para outro na sala de espera de um hospital do bairro. Disfarçadamente tocava a lateral direita do ventre, onde agora sentia dor, e soltava o ar lentamente. A cada minuto parecia que o estômago latejava mais.

Nunca mais ficaria tanto tempo sem comer, percebendo apenas naquele momento que a alimentação havia mudado bastante desde que começara o curso, com momentos em que tinha que comer às pressas e fora dos horários. Os acontecimentos do dia fizeram com que esquecesse de comer e o resultado era aquele – uma ida ao hospital já de madrugada.

Esperou quase meia hora antes de ser atendida. Ao entrar no consultório, viu um homem de mais de trinta anos sentado na cadeira que sequer levantou o rosto quando entrou.

— Por favor, sente e me conte o que aconteceu, Nozomu-san. – ele falou num tom sem emoção e sem tirar os olhos do computador.

— Sinto muita dor no meu estômago. – ela tocou a região como se pudesse acalmar o local – Tive alguns problemas pessoais hoje e fiquei muitas horas sem comer. No jantar comi pouco porque acho que a comida estava estragada.

O médico escreveu tudo no computador sem ainda olhar para ela. Era tão estranho aquele tratamento das pessoas da capital. Em Nagoya, os médicos que atendiam a família eram mais educados e receptivos.

— É a primeira vez que sente isso? – perguntou sem parar de digitar.

— Sim... – ela tocou mais a região para evidenciar o lado – Acho que foi do tempo que fiquei sem comer.

— Deite ali, por favor. – ele apenas apontou para a maca totalmente higienizada em um canto.

Rin deu um suspiro como se o movimento para levantar provocasse imenso desconforto e subiu lentamente para evitar provocar mais dores.

O médico aproximou-se depois de colocar as luvas e começou a tocá-la na região do estômago.

— O que comeu hoje?

— Curry com legumes e arroz. Eu joguei fora o curry porque parecia azedo. Ah, e acho que tomei um gole de vinho estragado.

— Hmm. – o outro comentou sem ainda encará-la, agora pressionando algumas partes na lateral – E quanto tempo ficou sem comer?

— Só o almoço antes do jantar.

— Mais de 6 horas, então?

— Sim.

O médico continuou pressionando a parte que ela indicava que estava incomodando e ouviu um gemido de reclamação baixinho.

— E aqui dói?

— Sim. – ela fechou os olhos e colocou a mão na testa. Aquilo era tão incômodo, tão desagradável. Tinha que estar dormindo, descansando, mas lá estava ela sentindo-se mal e com aquele homem que nem era educado o suficiente para olhar para o paciente. Tinha até dúvidas se era mesmo um bom médico.

Houve um suspiro pesado por parte de Rin ao imaginar o que poderia ser. Se fosse algo como vesícula e tivesse que operar, teria que faltar às aulas e perder algumas entrevistas de emprego já agendadas. Também teria que cancelar a ida para Nagoya.

— E o que foi isso no seu joelho?

Rin abriu os olhos e piscou. Ela nem lembrava mais do machucado.

— Oh, foi de uma queda.

— Parece recente. – ele comentou ainda pressionando o lado direito dela, mas agora interessado em olhar aquele curativo.

— Foi hoje. Fiquei tonta e caí.

Ao ouvir aquilo, o médico parou de fazer pressão e tirou as luvas, voltando à mesa para tornar a escrever no computador sem voltar a olhá-la.

Rin apenas ergueu a cabeça para observá-lo curiosamente.

— Você pode descer daí. – ele avisou.

— Oh. – ela sentou-se com um pouco de dificuldade para descer da maca e voltar a sentar-se na cadeira de paciente, aguardando seja lá o que ele tivesse que falar sobre o que ela tinha.

— Você tem alergia a algum medicamento?

— Hmm... Não.

Mais alguns minutos se passaram, ainda com o barulho do teclado ressoando no ambiente, até Rin começar a ouvir a impressora puxar várias folhas em um canto onde estava instalada.

Cerca de um minuto depois, ele levantou-se e pegou cinco folhas impressas e começar a carimbá-las e assiná-las.

— Desculpe... – ela começou timidamente como se tivesse medo de atrapalhá-lo enquanto assinava aqueles papéis – O que acha que tenho? Vou ter que operar?

O médico parou o que fazia e a olhou diretamente pela primeira vez desde que ela entrou no consultório e revelar:

— Você está grávida.

Rin arregalou os olhos, sentindo o sangue correr frio e um zumbido atacar os ouvidos enquanto o coração batia forte.

Mas o silêncio durou apenas alguns segundos porque uma onda de irritação tomou conta dela. Era impossível estar grávida. Sesshoumaru e ela protegiam-se muito bem, tanto com preservativos masculinos quanto com pílula. Tomavam todos os cuidados necessários.

Não poderia estar grávida quando tinha que estudar e arranjar um emprego.

— Isso é impossível.

O médico continuou a encará-la e estendeu uma folha de papel:

— Você vai fazer um exame para determinar de quantos meses. Vai ficar pronto em um dia, então acredito que você só vai poder pegar amanhã de manhã.

— Eu não estou grávida. – ela insistiu.

— E uma ultrassonografia. – ele entregou outra folha de papel assinada.

Rin puxou a folha da mão dele com raiva, quase amassando-a.

— Esses são outros exames para descobrir se há algum problema de saúde. – o outro entregou mais duas folhas e ouviu-a bufar em indignação ao aceitá-las.

— Vou procurar outro médico. – ela falou numa fútil tentativa de fazê-lo sentir-se desimportante, acreditando que aquilo poderia mudar o diagnóstico.

— E isso aqui é a medicação para o estômago. Vai melhorar em algumas horas. E também prescrevi os remédios para os enjoos e controlar as tonturas que está sentindo agora.

A folha de papel ficou na frente dela por alguns segundos, como se estivesse analisando se deveria aceitar ou não. Tocar naquilo significaria que o diagnóstico dele estava correto, que era um excelente médico e que deveria começar a cuidar-se.

Daí o pânico começou a tomar conta e a evidência estava no tremor que as mãos tinham ao tocar o papel e juntá-lo desajeitadamente aos outros que estavam já dobrados ao meio, quase para serem guardados na bolsa.

— No final do corredor há uma sala onde seu sangue será coletado. Traga o resultado assim que ficar pronto para começar o pré-natal. Não esqueça de fazer os outros exames, principalmente o de coração.

Quase roboticamente, como se ainda estivesse tentando entender a situação, ela guardou todos os papéis na bolsa e levantou-se.

No corredor, o zumbido ficou forte e precisou apoiar-se em uma parede.

— Está tudo bem? – uma funcionária que estava próximo perguntou num tom gentil ao notar a palidez e a forma como ela tentava manter-se em pé.

— Onde fica... onde devo fazer o exame de sangue?

— Eu a levo lá. – ela a segurou pelos ombros e a guiou pelo corredor até uma pequena sala com todas as funcionalidades necessárias para Rin ficar acomodada até alguém aparecer para a coleta, o que não demorou muito.

Vinte minutos depois, ela estava em um táxi voltando para casa. No banco de trás do veículo, ela controlava-se para não roer as unhas de tão ansiosa que estava. Tentou lembrar-se se houve algum problema ao tomar a pílula ou se algum dia Sesshoumaru deixou de usar preservativos, mas só conseguiria ter alguma comprovação quando chegasse em casa.

Não sabia como conseguiria esperar um dia pelo resultado.

— Você pode parar em alguma loja de conveniência que esteja aberta? – ela perguntou ao motorista e ele concordou.

Mais alguns minutos depois, estava em uma konbini procurando alguns chás e os remédios para o enjoo e para o estômago. Também começou a colocar muitos biscoitos e doces.

Em uma das seções, viu algo que a fez arregalar os olhos: várias marcas de teste de gravidez que poderiam tirar uma rápida dúvida em cinco minutos ou menos.

A mão estendeu hesitante.

— Hunf. – ela bufou indignada e deu as costas. Repetiu mentalmente que não estava grávida e ponto.

Retornou ao corredor cinco segundos depois e ficou novamente de frente para a prateleira. Os olhos correram ansiosos pelas marcas, procurando uma que fosse minimamente confiável para aquela emergência.

Finalmente, depois de dez minutos, escolheu duas caixas de marcas diferentes e dirigiu-se para o caixa.


Notas Finais


Quando escrevi esta parte pela primeira vez (láááá em 2005), muita gente não gostou do rumo que levou porque não queriam que isso tivesse acontecido com a Rin, achando que foi muito depressa o que aconteceu. Também achei que minha forma de escrever não era boa na época, mas vocês viram o que fiz até chegar aqui. Creio que vários capítulos mostrando a vida deles, principalmente depois de formados, pode compensar o que vai acontecer daqui para a frente.

Bem, diga o que acharam agora, estou curiosa. Quem reclamou dessa parte da primeira vez gostou muito do rumo que levou depois, hihihi.

Beijinhos,

Shampoo-chan


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...