"Torne-se um homem que ajuda os outros, mesmo que tudo ao seu redor se distorça, seja uma boa pessoa. Proteja os fracos, ajude os órfãos… Para você, não existe muita diferença entre ações boas e más, porém… Talvez isso transforme-o em alguém um pouco melhor"
Essas palavras, a ordem em que elas foram ditas e o rosto de quem as proferiu estão marcados na mente detalhista de Osamu Dazai desde seus 18 anos de idade. Hoje ele tem 22 anos e trabalha para a Agência de Detetives Armados, buscando o caminho de ser essa "pessoa boa".
Mas o que definiria isso? Dazai definitivamente encontrou vários tipos de pessoas, sendo elas idealistas dedicados ou pessoas com quase tanto sangue nas mãos quanto ele, todas poderiam ser heróis ou vilões dependendo de quem os olhasse, então não existia uma resposta definitiva para aquilo? Dazai passou 4 longos anos longe da sociedade, longe das sombras que conhecia, longe das coisas que o faziam humano, tudo para cumprir essa promessa, mas quanto mais lutava por uma resposta, menos clara ela parecia.
- Dazai-San, estamos de volta! Achamos a pasta, exatamente como o senhor falou! — O garoto de cabelos brancos irregulares anuncia enquanto caminha para dentro, seguido pela garota de kimono.
O garoto-tigre que seria executado e agora o provável sucessor de Dazai no que seria o futuro Double Black. Atsushi é um garoto gentil e puro, uma das poucas pessoas que afirma, sem medo, ver bondade em Dazai e o faz acreditar que talvez ele esteja conseguindo mudar. Mas sempre que olha para o jovem, lembra do que já sofreu com os erros de Dazai.
"Akutagawa disse que conheceu alguém com os olhos como os meus" Dazai ouvira Kyouka falar uma vez, dentro da enfermaria Yosano e Kyouka passavam o tempo "Disse que, assim como eu, esse homem conheceu alguém que conseguiu tirar a dor dos seus olhos… Essa pessoa, você, a conhece, Yosano-San?"
O jovem Akutagawa é a maior marca de que tudo o que Dazai fez no passado não pode ser apagado. O rapaz de cabelos escuros foi o primeiro discípulo de Dazai, uma criança salva das Favelas mas presa na cruel Máfia do Porto. Dazai sabe o quanto foi cruel, mas se fosse mole como é com Atsushi, Akutagawa seria morto por pessoas muito piores que Dazai, sequer teria sido salvo para começar. Morto por si mesmo. Ainda assim, ver o quão longe o jovem vai apenas por um pedido seu, pra se provar alguém digno de si e que apenas com esse incentivo ele decide continuar vivendo... É realmente triste, apesar de que Dazai usa esse comportamento como achar necessário, afinal, Akutagawa é parte importante do futuro Double Black.
Duas pessoas tão iguais que não se suportam, habilidades que se complementam, saindo de dois ramos diferentes para aumentar a perspectiva e que facilmente conseguem estar na mesma página, essa é a essência que fez a combinação funcionar por gerações. Assim como Mori e Fukuzawa e Dazai e Chuuya, Akutagawa e Atsushi estão com a obrigação de defenderem a cidade quando necessário. Yokohama é a única coisa que pode unir as luzes e as trevas em uma só sintonia.
- Dazai, vou precisar abrir as cortinas por um momento. — Yosano avisa e Dazai se põe a ficar de cabeça baixa deitado sobre a mesa, murmurando sobre como era mais fácil se concentrar sem se preocupar com o sol.
Houve um caso envolvendo o irmão mais novo de um velho amigo da senhorita Yosano há pouco menos de uma semana. Esse velho amigo dela morreu por ela se recusar a usar a habilidade para alimentar a guerra, como vingança, esse irmão mais novo sequestrou Dazai — A única pessoa imune à cura da Doutora Yosano — e fez uma chamada de vídeo para a ameaçar. Teria feito um verdadeiro estrago se a vítima não fosse o Dazai. Durante a chamada o "sequestrado" se soltou, saiu da sala e voltou avisando o endereço que estava. Logo ele desligou a chamada e fez sabe-se lá o que com o pobre rapaz com espírito de justiceiro que quando a Agência chegou para levar Dazai de volta, o garoto chorou e pediu desculpas à Doutora, reconhecendo a justiça dela e o tipo de pessoa que ela era. Apesar de não ter sido nada grave, a substância que ele usou para dopar Dazai ainda lhe dava dores de cabeça ao longo da semana. Nada novo na vida de um membro da Agência de Detetives.
- Ranpo e Poe saíram para uma convenção de contos, falaram que vai ter um livro tão bom quanto o Guia de Suicídio para leigos. — Atsushi comenta, deixando papelada na mesa de Dazai.
- Sério, qual o nome? — Dazai levanta a cabeça.
- Se chama: Aproveite e viva, não tente se matar o tempo todo. — Atsushi diz suspirando — Dazai-San…
- Que diferença faz quantas vezes eu tento se eu só falho? — Dazai dá de ombros ao observar o olhar de reprovação do mais novo.
No fim, ele sabia que não era esse o seu empecilho. Ele sabia que precisava viver e cumprir o pedido de Oda, coisa que ele ainda não tinha sentido que fez. Cumprir o pedido de Oda, só morrer quando for uma boa pessoa… Enquanto mergulhava nestas filosofias, Atsushi o olhava tentando parecer bravo.
- Quando eu morrer, vai ser de uma forma limpa e linda, então não tem que se preocupar por agora, Atsucchi. — Dazai diz com tranquilidade e volta a se deitar na mesa.
- Eu preferiria se você não fosse… — O rapaz diz apreensivo e Dazai o olha, a expressão que ele faz lembra a expressão dolorosa de Akutagawa — Por favor, não diga essas coisas…
Dazai poderia estar na Agência de Detetives o tempo que fosse e ler todos ali com a maior facilidade, mas ele ainda assim não os entendia completamente. Atsushi era a única pessoa ali que parecia saber se conectar com todos, ainda melhor que Tanizaki, mas ainda era muito complicado esses pequenos códigos sociais e impessoais. Na máfia, um senso de lealdade unia a todos, mesmo uma hierarquia poderia ser quebrada por suas relações, a lealdade entre si era tão importante quanto a lealdade ao chefe. Seja da forma dos Bandeiras ou de Oda, a máfia entende a definição de lealdade e de trabalho em conjunto. Talvez seja por isso que seja tão importante que na dupla de vigilantes, um seja da máfia.
A agência é um território completamente diferente, eles tem o chefe como único cargo diferente dos detetives, um núcleo composto apenas por indivíduos que não conseguem se sentir confortáveis com a vida banal que poderiam ter e trabalhos individuais. A agência pode ser menor mas faz todos parecerem mais distantes. Faz pessoas como Dazai, uma Desgraça Humana, não se aplicar aos termos de normalidade que eles tentam aplicar. Um jogo limpo, onde pessoas como ele são sujas demais para passarem despercebidas. Talvez alguém como Chuuya ou o próprio Akutagawa tivessem se encaixado melhor nesse ambiente, eles sabem expressar o que realmente sentem com palavras e expressões, coisas que Dazai já não acredita conseguir fazer.
"Você acha que eu realmente sou esse tipo de pessoa boa?" Sempre que Dazai faz essa pergunta ele espera uma resposta negativa ou uma confirmação surpresa, mas quando Atsushi o responde com convicção, ele o faz acreditar nisso.
"Seu lugar é no submundo. O sangue em suas mãos já não pode ser limpo. Estamos juntos no fundo desse buraco, Dazai-Kun" A voz de Mori volta a ecoar em sua mente. Os 5 chefes já decidiram que a cabeça de Dazai em uma bandeja de prata seria muito melhor que em sua cabeça, mas Dazai aprendeu que a melhor forma de pessoas como ele garantirem sua sobrevivência, é se fazer necessário onde quer que esteja. Chuuya precisa dele, ele é o intermediário entre a Máfia e a Agência, ele consegue ler as pessoas e suas malícias onde Ranpo não consegue, ele descobre o meio de virar o jogo… Ele faz o que precisa para sobreviver, mas vive em um eterno vazio... Ele não sabe viver. A máfia não pôde preencher isso, Oda disse que nada nesse mundo preencheria...
Ele se pergunta como seria sua vida se não tivesse ouvido as últimas preces de Oda ou até mesmo se Chuuya não existisse… Chuuya e Dazai confiam um no outro de uma forma que nem eles entendem, talvez seja uma conexão que segue a teoria da ponte suspensa, mas ainda assim sua vida poderia ser mais fácil ou simplesmente mais breve. Yokohama teria sido destruída ou talvez nunca sido gravemente ameaçada.
Mori confia em Chuuya, Dazai também. Mas Chuuya e Dazai são mesmo algo além do controle de Mori? Quantas vezes o que eles são foi algo decidido da forma deles e não da forma de Mori? Existe uma forma deles que não seja a de Mori?
Dazai sai de seu transe ouvindo seu celular vibrar e então levanta, era hora de uma negociação com um informante. Ele sente o celular vibrar mais uma vez. Para Dazai, era engraçado receber uma notificação que não fosse uma ordem ou uma prece, mas era só uma idiotice comum.
"Mudei de número, múmia idiota" Dizia a primeira mensagem e logo em seguida vinha uma foto de um gato branco em cima do chapéu extravagante de Chuuya.
"Só de falar com um folgado igual a você, atraí outro" o ruivo envia por fim.
Chuuya não era alguém difícil de entender, Dazai não tentava também, era muito fácil ler alguém e ser superficial. Dazai não acha que seria a melhor prova de amizade oferecer mentiras para Chuuya e o deixar quebrar, isso atrapalharia muito, ainda mais do jeito que ele é emotivo... Mas no dia em que eles se reencontraram e o dia em que eles lutaram juntos contra a guilda ligaram uma chave na mente de Dazai, algo que ele entendia não só de forma superficial, mas dessa vez ele estava em um papel diferente;
Chuuya se importa com o que Dazai tem a dizer, apesar de não ouvir o tempo todo, ele se preocupa com Dazai e escolheu confiar nele mesmo após ser sentenciado como um traidor;
Chuuya ficou magoado por Dazai desaparecer sem lhe dizer nada… Dazai entendia o que estava acontecendo ali, porquê Dazai viveu o que Chuuya está sentindo, mas os papéis mudaram, dessa vez Dazai está vendo aquilo pelos olhos de como Oda o via... Mas... Isso significa que existia uma chance de Chuuya ter vindo para agência junto de Dazai?
- Isso teria sido… Divertido. — Dazai fala pra si mesmo enquanto sai da agência. Concluindo o pensamento e seguindo em frente, era mais um dia de trabalho.
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