Um ano e três meses depois...
Acordei com a mesma sensação que me assolava nos últimos dias. Esgueirei meu corpo para fora da cama, caminhando até o banheiro e me ajoelhando em frente ao vaso sanitário.
Coloquei para fora tudo que havia comigo nas últimas horas, fazendo o meu melhor para ficar em silêncio.
— Amor? — A voz de Jungkook fez minha coluna arrepiar. Pensei em levantar e trancar a porta, mas mais uma vez a vontade de vomitar me dominou. Sem se importar com a nojeira que era aquilo, ele entrou no banheiro, erguendo meu cabelo para que não sujasse. — Será que foi a pizza? — Perguntou de forma inocente, passando uma mão em minhas costas. — Vamos para o hospital.
— Não. — Falei já me sentindo um pouco melhor. Ele me ajudou a levantar e eu dei descarga em tudo aquilo, pegando minha escova de dentes. — Está tudo bem.
— É obvio que não está. Por que não me disse que estava se sentindo mal?
— Está tudo bem, amor. — Forcei um sorriso, tirando o resto de pasta de dente da minha boca.
Ainda faltavam três meses para que Jeon terminasse o serviço militar obrigatório. Sempre que podia ele usava seus dias de folga para visitar a mim e a Liz. Faziam quase dois meses desde a última visita.
O começo foi a pior parte. Todas as noites em que Liz acordou de madrugada, chorando e chamando pelo pai. Ela não conseguia entender por que ele não podia voltar para casa e não se contentava com os poucos minutos livres que ele tinha e fazia chamadas de vídeo com ela.
— Como você pode dizer que está bem? Você estava vomitando agora mesmo! — Ele diz indignado.
— É normal. — Digo cuspindo o enxaguante bucal.
— Normal? Em que realidade? — Ele coloca as mãos na cintura e eu encaro sua expressão de insatisfação pelo espelho. Respiro fundo, sentindo meu coração bater forte.
— É normal porque... eu tô grávida. — Os olhos de Jungkook se arregalaram, sua boca se abriu, formando um "o". Ele apoiou o corpo contra a parede atrás de si, como se tivesse perdido o equilíbrio. Me virei, esperando alguma reação, mas ele parecia completamente chocado. — Eu sei que não conversamos sobre ter mais filhos. E eu juro que não planejei, quando você veio dois meses atrás estávamos tão afobados que... — Comecei o discurso que havia ensaiado desde a descoberta da gestação, mas Jeon me cortou, segurando minha nuca e colando seus lábios aos meus em um selinho demorado. — Você não tá bravo? — Perguntei, olhando seus olhos agora cheios de lágrimas não derramadas.
— Bravo? Meu deus, amor! — Ele respira fundo. — Vamos ter mais um bebê, meu deus! — Ele parecia querer pular, não conseguia ficar parado e distribuía beijos desajeitados por todo o meu rosto. O sorriso em seus lábios era tão grande que seria possível contar todos os dentes. — Liz já sabe?
— Não. Eu queria que você fosse o primeiro a saber. — Passei os braços em seus ombros, mais tranquila agora.
— Estou tão feliz, linda. — Ele me puxou para perto, me capturando em um abraço apertado. — Eu te amo tanto. — Sussurrou. — Porra, eu vou ser pai de novo. — Continuou falando baixinho, como se tentasse convencer a si mesmo daquilo. — Vamos ter mais um bebezinho para correr por essa casa e fazer perguntas constrangedoras. — Brinca, lembrando a nova fase de Liz, onde ela perguntava tudo que vinha a cabeça.
— Estou aliviada em saber que você está feliz. — Admito.
— Você sabe há muito tempo?
— Só alguns dias. Mas eu fiquei uma pilha de nervos. — Sorrio sem graça.
— Como eu não ficaria feliz? Você e Liz são as melhores coisas que já me aconteceram. Esse bebê vem completar a nossa família, fortalecer ainda mais o nosso amor. — Ele diz colocando a mão sobre minha barriga, que sequer aparece ainda. — Não consigo acreditar que tem mesmo um bebê aqui. — Ele ri.
— Pois acredite.
— Quando desconfiou?
— Há umas duas semanas. Comecei a dormir mais do que o normal, e depois começaram os enjoos.
— Você foi ao médico, certo? Fez os exames? Está tudo bem com vocês? — Começou a fazer uma pergunta atrás da outra. Ri, achando sua preocupação uma gracinha. Peguei uma das mãos grandes, puxando-o para me acompanhar até a cama. Ainda estava com um pouco de sono.
— Eu fiz todos os exames necessários para o início da gestação. E está tudo bem. Eu e o bebê estamos muito saudáveis. — Falei me deitado de bruços, esticando a coluna. Mas Jeon deu um pulo na cama, me virando pela cintura.
— Você vai amassar o bebê! — Praticamente gritou, me fazendo gargalhar.
— Amor, não é assim que funciona. — O tranquilizo, mas ele sequer me escuta, erguendo a camiseta do meu pijama e se aconchegando com a cabeça sobre a minha barriga. Uma das mãos faz carinho abaixo do meu umbigo e ele distribui beijos molhados por ali.
— Oi bebê. — Fala baixinho. — Eu sou o seu papai. — Não consigo evitar o sorriso. Durante a gravidez de Liz passei horas imaginando como seria se ele estivesse presente, se seria o tipo de pai babão que conversa com o neném mesmo dentro do ventre. — Eu nem acredito que você tá aí, mas já amo muito você. — Deixou um beijo. — Quando você chegar, vamos fazer uma festa bem grande. Seus tios vão ficar loucos e a sua irmã vai querer usar você como boneca. — Rio, porque essa provavelmente é a verdade. — O papai e a mamãe já estão ansiosos para verem seu rostinho, hum?
— Espero que se pareça comigo. — Debocho, deixando um carinho em seus cabelos recém raspados.
— Não mesmo, você vai se parar com o papai, não é? Igual a sua irmã.
— Isso não é justo. — Reclamo.
— Os próximos vão se parecer com você, amor. — Ele diz se ajeitando na cama e me puxando para deitar em seu peito, mas a mão permanece sobre a minha barriga.
— Próximos? — Questiono erguendo uma sobrancelha.
— Claro. Mais dois. Assim fica justo. — Ele sorri.
— Eu não vou passar por isso mais duas vezes! — Nego com a cabeça. — A gestação é linda, mas o parto é horrível.
— Tanto assim? — Deixa um beijo em minha testa.
— Você sabe como é um parto, certo? Sabe por onde o bebê sai. — Jeon me encara por alguns segundos e então faz uma careta.
— Acho que dois filhos está ótimo. — Declara.
Ficamos mais algum tempo jogados na cama, rindo como dois bobos e imaginando o nosso bebê. Quando a manhã chegou, decidimos contar a Liz, que correu pela casa gritando de animação com a notícia de que seria uma "noona".
— Eu não quero ir. — Jeon reclamou, já vestindo seu uniforme.
— Eu sei que não, meu amor. — Tentei esconder as lágrimas que se formavam em meus olhos. A despedida era sempre a pior parte, e agora, ele só retornaria no final do serviço militar, em três meses.
— Eu quero que me conte absolutamente tudo sobre a gravidez, tá bom? E que me mande fotos da sua barriga todos os dias, quero acompanhar o crescimento do nosso neném. — Declara, deixando uma série de beijinhos em meus lábios.
Os hormônios em excesso da gravidez fizeram os meses restantes ainda piores. Eu chorava descontroladamente, comia mais do que devia e me irritava com facilidade.
Decidi esperar Jungkook voltar para saber o sexo do bebê. E quando o dia finalmente chegou, estávamos nós três dentro da sala de exames.
Liz estava com os bracinhos em volta do pescoço do pai, enquanto eu estava deitada na maca com a barriga de 5 meses exposta.
— Estão prontos? — A obstetra perguntou e nós assentimos rápido. — É um menino. — Jungkook explodiu em um grito, girando com Liz pela sala enquanto eu tentava controlar as lágrimas.
— Eu disse, eu disse! — Liz comemorava. Desde o início ela tinha plena certeza de que seria uma irmão, inclusive brigando comigo quando estávamos em ligação com seu pai e sugerindo nomes de menina.
— Você estava certa, querida. — Jeon falou, dando um beijo na bochecha da filha e se abaixando para deixar um selinho em mim. — Uau, um menino!
— Espero que ele não puxe a você. — Debochei. — Ou nós dois vamos estar de cabelo branco antes dos quarenta.
— Ei! Nós temos seis babás, não vamos ficar de cabelo branco. — Disse me fazendo rir alto.
Saímos do consultório em êxtase. Jungkook havia feito o seu melhor para esconder dos meninos sobre a gravidez, ele queria fazer uma surpresa e os convidou para um jantar, alegando ser uma comemoração ao comeback do Bangtan.
Assim que escutei a algazarra na sala, ajeitei meu vestido, que deixava a barriga em evidência e desci as escadas.
— Cadê a S/N? — Jin perguntou.
— Estou aqui. — Falei descendo o último degrau. Jeon abriu um sorriso de orelha a orelha enquanto os outros me encaravam estáticos.
— Não! — Jin praticamente berrou. — É sério? — Colocou as mãos sobre a boca.
— Eu sou uma noona agora! — Liz falou orgulhosa, abraçada a Taehyung.
— Eu não acredito. — Namjoon riu fraco, me puxando para um abraço. — Parabéns, S/A.
— Obrigada. — Murmurei um pouco envergonhada por ser o centro das atenções.
Todos eles me abraçaram, desejando felicitações e depois fizeram piadas com JK, sobre o quão fértil ele conseguia ser.
Já estávamos jantando, Liz comia tranquilamente no colo de Hobi e meu namorado passava a mão em minha barriga. Nos encaramos, assustados quando sentimos um movimento diferente.
— Está tudo bem? — Yoongi foi o primeiro a notar nossa surpresa, chamando a atenção dos outros.
— Ele chutou. — Falei, emocionada.
— Ah, o garoto do papai é forte! — Jeon sorria, derramando tantas lágrimas quanto eu.
— Ah, eu quero sentir! — Jin falou se levantando.
Logo, haviam oito mãos em minha barriga, todos ansiosos pelo próximo chute do pequeno, e quando ele o fez, todos comemoraram.
Eu estava completa.
Jeon, nossos dois filhos, nossos amigos. A família perfeita. E eu não poderia ser mais feliz do que já era.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.