“ – Olha onde você se mete! Você só sabe entrar em confusão Alec!
- Eu não consigo ouvir você falar depois de tudo que passamos mãe! _ Alec falou baixo enquanto segurava sua cabeça com os braços apoiados nos joelhos.
- Você quer chamar atenção, só pode! Primeiro aquele garoto... depois essa ideia absurda de criar uma criança! Criança essa que é filha de amigos que se envolviam com pessoas perigosas! Você está sempre rodeado de gente suja! Não me Admira se acordar com o olho roxo morando com esse aí! - Berrou amarga
- Escuta aqui! _ disse Alec se levantando passando de forma agressiva as mãos no cabelo_ Eu sei que você não concorda com a forma que levo minha vida. Que acredita que é na escolha... e que o fato de eu ser gay é a causa de todas as merdas que vivi. E apesar de não estar tudo bem_ abaixou a cabeça_ está tudo bem pensar isso, porque já não me dói tanto. Eu precisei de você, eu precisei muito de você mãe.. mas você não estava lá, você nunca esteve. Eu já acostumei com a sua ausência. Então porque não usa ela e me deixa em paz? Eu não admito que fale mal dos meus amigos! Eles estavam lá quando você não estava.. _ falava enquanto se direcionava para a porta da casa, abrindo-a_ por favor, vá embora e não volte mais aqui! Não quero a senhora estragando a harmonia dessa casa! Madzie já perdeu muito, e eu não vou deixar que ela perca mais coisas. Ela é minha filha agora! Minha e do Magnus. Se não consegue respeitá-los, está desrespeitando a mim de uma forma que eu não posso tolerar.
- Alec eu_ Maryse começou a dizer parada na soleira da porta com um olhar desolado_ eu me preocupo com você...
- Não! _ interrompeu_ Não se preocupa! Nunca se preocupou... pelo menos não depois que se desapontou comigo. E eu não preciso da sua preocupação se ela vem com acusações! Passar bem._ disse fechando a porta sem verdadeiramente se importar com os olhos avermelhados de sua mãe.”
Mais uma semana havia se passado desde a invasão da casa, três semanas no total, mas a recuperação das horas em cárcere ainda acontecia aos poucos. Madzie havia voltado a dormir na sua própria cama a dois dias atrás, demorava mais do que de costume para pegar no sono, e Alec e Magnus ficavam ao redor da cama até que ela estivesse embalado no sono.
A terapia havia passado de uma vez na semana para três, com uma nova Psicologa infantil, uma mulher de meia idade chamada Lizie. Uma mulher experiente, paciente e muito cuidadosa. Especializada em traumas infantis, com ótimas recomendações.
Magnus estava cada dia mais irritado, e por mais que tentasse dizer que estava tudo bem, era notável a pilha de nervosos que o homem se encontrava; sempre analisando documentos antigos e transferências para descobrir todas as possíveis pessoas envolvidas no esquema sujo de Valentim. Graças a sua “investigação particular” e olhos mais que atentos, conseguiu dar alguns nomes de sócios e empresas parceiras suspeitas a polícia, sem que seu nome estivesse envolvido de fato. O escândalo do roubo já estava em todas as mídias sociais, e era considerado um escândalo do ano, ainda mais depois da invasão de Valentim a casa dos “Lightwood Bane” como era chamado pela imprensa.
De forma involuntária, Magnus e Alexander estavam chamando mais atenção do que gostariam, e inconsistente culpando a si mesmos pela dificuldade de dar a Madzie uma vida normal, uma vez que a cada dia, novos nomes eram anunciados no desfalque e roubo da empresa, e logo a imprensa retornava com a informação da prisão de Valentim, as mortes dos Loss Fell e sequencialmente com a informação da “garotinha não mais órfã, adotada por um casal gay”. As matérias não podiam ser mais sensacionalistas, e isso vinha atraindo uma atenção desnecessária de fãs enlouquecidos pelo casal e a menina, e também vários preconceituosos de plantão que se faziam presentes em qualquer matéria ou foto nas redes sociais pessoais.
Alexander fingia estar bem com tudo aquilo, e tentava se manter forte, tanto pra pequena Madzie quanto pra Magnus, que parecia estar prestes a surtar a qualquer momento. Mas no fundo, sabia que não estava tão diferente assim dos picos de nervosismo e ansiedade do namorado, e talvez, estivesse um pouco pior.
Alec sabia que os picos de ansiedade que estava tendo estavam mais recorrentes e piores do que qualquer outra crise que já tivera durante a vida, sabia que estava tentando se controlar para não demonstrar, mas se percebia observando a pequena Madzie até o momento que estivesse dentro da escola, checava seu carro varias vezes, abria a porta de casa e acendia todas as luzes para ter certeza que não havia sido invadida outra vez, e as câmeras de segurança que foram colocadas depois da visita inesperada de Valentim eram checadas todas as noites religiosamente. Ele sabia que estava em um ponto perto de cair, mas não sabia necessariamente como pedir ajuda, ainda mais depois da visita nada agradável que sua mãe avisa feito dois dias depois do ocorrido.
Maryse havia despejado muitas coisas, e embora não acreditasse em nada que havia saído da boca da mulher, as palavras insistiam em invadir seus sonhos, e recendente, estavam aparecendo inesperadamente num momento qualquer de seu dia...
- Você está me ouvindo Alexander? _ Magnus perguntou estalando os dedos em sua frente_ estou te chamando tem um tempo...
- Me desculpa_ pediu sem olhá-lo nos olhos_ estava um pouco longe...
- Eu percebi_ murmurou_ o que foi?
- Nada Magnus..._ mentiu, não queria preocupa-lo
- Eu sei que está acontecendo alguma coisa Alexander... Qual é o nosso combinado desde que isso... nós_ mexeu o dedo apontando entre eles_ ...começamos?
- Não nos deixar se afastar por problemas..._ falou baixo sentindo seu rosto vermelho.
Magnus estava certo, ele só não conseguia contar tudo que sua mãe havia dito, nem porque estava tão inseguro depois daquelas palavras.
- Exatamente_ disse Bane tirando-o de seus devaneios_ sendo assim... você pode me falar tudo, eu estou aqui pra te ajudar.
- Eu sei.._ segurou a mão do mais velho entrelaçando os dedos_ Não é nada... se acontecer alguma coisa eu te aviso. Okay?_ sorriu sentindo o sorriso não chegar nos olhos.
- Vou te dar seu tempo Alexander, mas saiba que eu sei que tem algo te incomodando nessa sua cabecinha linda.. e eu não vou permitir que essa coisa te consuma. _ levantou-se e beijou a testa do mais novo_ eu te amo.
Alec observou Magnus se afastar, e se sentiu fraco. Sabia que podia contar tudo ele, mas não queria que ele pensasse que em algum momento duvidava do seu amor, ou que acreditava que poderia ser violento em algum momento da vida. Alexander não tinha dúvida nenhuma sobre o caráter de seu namorado. E era exatamente por esse motivo que não queria compartilhar as palavras de sua mãe, só queria que o tempo passasse e que essas palavras doessem menos, mas por mais que já estivesse calejado das palavras duras vindas da boca de Maryse, sempre doía muito.
Sentiu-se ser abraçado por trás e o cheiro de sândalo invadiu suas narinas.
- fala comigo meu amor..._ sussurrou_ você está chorando...
Alec não sabia em que momento havia começado a chorar, mas ao tocar seu rosto, notou que lágrimas grossas rolavam por seu rosto. Se deixou seu abraçado, e a sensação de segurança foi tanta que se permitiu se segurar em Magnus. Ouvia seus soluções e sentiu quando Magnus o colocou sobre seu colo, abraçando seu corpo que tremia ainda mais forte, deixando-o preso em seus braços.
- Ela nunca vai me deixar em paz..._ sussurrou entre soluços
- Quem meu amor? Quem não vai te deixar em paz? _ perguntou preocupado vendo seu menino dos olhos azuis quebrado em seu colo.
- Maryse... ela veio aqui...
- Quando?! _ alarmou-se. Nada de bom poderia sair da boca daquela mulher.
- Depois de tudo..._ Alec sussurrou
Magnus sabia o que “tudo significava” depois da aparição de Valentim, Alec nunca falou sobre o assunto. Fingia que o sequestro nunca aconteceu, e o indonésio sabia que assim como ele, o rapaz também não havia superado.
- O que ela veio fazer aqui Alexander?_ sua voz era calma e preocupada e vinha acompanhada de um carinho leve nas costas do rapaz.
- Ela veio me dizer que sou um fracasso, que só me meto em problemas e que os problemas me acompanham..._ não queria contar tudo, e nem conseguiria. Não queria chorar mais_ eu estou cansada dela Magnus, não aguento mais... ela falou um monte. De você, da Madzie, dos nossos amigos..._ limpou seu rosto na manga da blusa_ ela sempre vem pra machucar.. e ainda diz que se preocupa.
Magnus não sabia como responder aquele desabafo, preferiu continuar em silêncio acariciando lentamente as costas do rapaz, agradecendo mentalmente por te-lo em seu colo o abraçando forte, sentindo-se aliviado por ser confiável e confortável o bastante para Alec usá-lo como algum tipo de apoio.
Ficaram abraçados por um tempo indeterminado, Magnus não se afastaria do rapaz, e Alec não pareciam pronto ou afim de separar seus corpos que se acomodavam e se moldavam de forma tão confortável um no outro.
O cheiro de sândalo somado a temperatura quentinha de Magnus aos poucos foram tranquilizando Alec, que já não chorava mais, e já havia suavizado o aperto do abraço. Olhou nos olhos dourados com toques de um verde profundo e se perdeu naquela confusão de cores e sorriu. Sorriu ao notar os olhos atentos em si, os olhos preocupados com seu bem estar, olhos cheios de amor, tanto amor... que não sabia se só essa palavra poderia ser o nome de todo aquele sentimento.
- Eu queria poder tirar toda a sua dor e passar pra mim_ Magnus sussurrou tocando sua face.
- Você não precisa... você me cura sem saber_ tocou seus lábios levemente nos lábios pequenos.
A aproximação foi lenta e o beijo mais ainda, as mãos continuaram o carinho nas costas brancas, enquanto as mãos pálidas se aconchegavam na nuca dourada que ficava para fora da camisa. Não eram toques sensuais e cheio de desejo como normalmente eram os beijos feitos por eles; eram toques gentis, preocupados, amorosos, carinhosos... As línguas se tocavam tranquilas sem pressa acompanhando aquele momento. Os beijos eram substituídos por selares que logo se tornavam em novos beijos e assim ficaram por mais alguns vários minutos. Curtindo aquele momento só deles, um momento de cura. Um momento de máximo de confiança e troca que poderiam ter.
Batidas urgentes assustaram o casal, fazendo-os cair daquele céu onde se encontravam, afastando-os bruscamente um do outro. Magnus se colocou de pé do sofá que não sabia ao certo como havia chegado, e caminhou rapidamente para a porta. Sempre ficava irritado quando era tirado dos seus momentos com Alec, desde que não fosse Madzie ou sobre ela, ele sempre se irritava, e agora não seria diferente; talvez até pior, pois seu menino estava precisando do seu colo e alguém o fez sair rapidamente.
- Espero que seja importante_ disse abrindo a porta _ O que você quer aqui?! Veio despejar mais veneno?!
- Preciso falar com meu filho Magnus. _ disse Maryse tentando avançar o batente da porta sendo bloqueada pelo indonésio.
- Agora me chama pelo nome?!_ disse debochado_ Você não é bem vinda aqui.._ cruzou os braços no corpo_ Você não é bem vinda na nossa casa.
- Eu não tenho tempo pra você! Preciso falar com meu filho..._ avançou novamente em direção a entrada.
- Se você não tem tempo, então use esse tempinho para ouvir o que eu tenho a dizer. _ aproximou-se da mulher_ Você já machucou Alexander demais, e eu não vou mais permitir isso. Você não tem o direito de intervir na nossa vida, nas escolhas dele... e em hipótese alguma pode julgar nosso relacionamento sem me conhecer, e acima de tudo, nós conhecer! Entender em que nível de intimidade, transparência, confiança, cumplicidade e amor nos nos encontramos. Eu amo seu filho, e mesmo que isso não te importe nem um pouco eu vou te dizer. Eu o amo mais do que minha própria vida! E é por isso que se precisar eu vou comprar briga com você e com todo o inferno, só pra ver aqueles olhos azuis felizes. Porque ele sorrindo é a coisa mais linda. E toda vez que ele fala seu nome esse sorriso desaparece. Então, pela última vez... Você não é bem vinda na nossa casa!
Maryse parecia petrificada na frente do homem, nunca havia sido enfrentada com tanta classe e agressividade ao mesmo tempo, e não se lembrava de algum momento na vida onde havia ficado em silêncio depois de ser afrontada. Mas lá estava ela, muda, sentindo seus ombros caírem e suas pernas doerem em cima daquele imenso salto alto, sentia sua postura altiva se esvaído e seus olhos arderam como o fogo do inferno. Sentiu lágrimas descerem e seu corpo tremer como não sentia a anos talvez.
Magnus observava a mulher se quebrar em sua frente e secretamente se sentia bem por isso, mas as lágrimas começaram a cair e a culpa o invadiu. Esperou que a mulher lhe dissesse uma pilha de insultos despudorados talvez. Mas lá estava ela, tremendo em sua frente.
Observou de longe Madzie correndo em sua direção e Clary caminhando com a mochila da pequena em suas costas, e sentiu o baque do corpinho e as mãozinhas o abraçando. Abaixou-se em direção da pequena e correspondeu o abraço.
- Como foi o dia na escola princesinha?_ perguntou tentando desfocar a criança na mulher desmontada em suas costas.
- Foi muito legal! Brincamos de tinta.. pintamos a mãozinha e então fizemos..._ parou sua frase no meio, voltando sua visão em direção a mulher_ por que ela tá chorando Tio Mag?
Magnus não soube o que responder. Como responder que as lágrimas eram culpa dele e que secretamente ele estava se sentindo bem é culpado ao mesmo tempo?
Ficou paralisado ao notar o movimento rápido da menina em abraçar as pernas de Maryse que parou de chorar pelo choque da ação da menina. Olhando-a curiosa.
- Tio Mag diz que abraços curam dodó que a gente não vê_ sorriu gentilmente para a mulher_ daqui a pouco seu dodói sara.
- Madzie!_ Alec disse pegando a menina rapidamente em seu colo olhando com reprova em direção de Magnus_ não pode abraçar estanhos_ brigou
- Mas ela não é estranha_ disse confusa_ ela já veio aqui antes.. e tava dodói. Precisava de um abraço Igual o Tio Mag te da quando você tá chorando.
Alec não sabia como responder àquilo, então apenas olhou em direção de Clary que observava aquele momento de longe.
- Leve a Madzie para dentro por favor Clary, ela precisa trocar de roupa... o lanche dela eu já fiz, tá na mesa. _ passou a pequena para o colo da moça e as observou entrando na casa até que se perdessem no corredor do andar de cima.
- Alexa..._ Magnus iniciou lentamente, mas foi silenciado pelo rapaz com uma mão pedindo tempo em sua direção.
- O que você quer aqui Maryse? Achei que tinha ficado claro da última vez que apareceu na minha cara que não queria a senhora aqui.
A mulher permaneceu em silêncio, e os rapazes puderam observar toda a postura forte e poderosa retornar em segundos. Novamente maryse estava firme sobre seus saltos, rosto seco, ombros e rosto alto e bem posicionados. Se não fosse os olhos vermelhos, certamente que Magnus pensaria que toda a seção de lágrimas fora uma mera imaginação da sua parte.
- Eu lhe fiz uma pergunta.._ disse Alec
- Robert teve uma overdose de Yen Fen. Foi encontrado próximo do lixão em uma cabana abandonada.
Alec continuou encarando sua mãe, sentindo seu corpo tender para baixo. Não tinha ouvido as palavras ainda, mas sabia o que aquilo significava.
E a confirmação veio.
- Ele está morto Alec. Seu pai está morto.
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