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História Uma nova Eldarya - Capítulo 95- Lance


Escrita por: ellanora

Capítulo 101 - Capítulo 95- Lance


Fanfic / Fanfiction Uma nova Eldarya - Capítulo 95- Lance

{ELLANOR}

Agora é a hora de dizer a eles para onde eu estou indo... Preciso ser clara e breve. Como posso fazer isso? Preciso encontrar uma palavra chave que elas consigam entender apesar da barreira da língua.

-Memória!

Eu mal havia pronunciado este nome e já senti a minha energia me abandonar. O Oráculo se virou na minha direção com os olhos cheios de lágrimas.

(Oráculo)- Espero ter conseguido te ajudar. Agora, o destino de Eldarya está nas suas mãos.

- O quê?

Com essas palavras, eu vi o Oráculo desaparecer pouco a pouco. O seu corpo já quase não era perceptível e a aura doce que a caracterizava se tornou cada vez mais fria. O meu coração ficou apertado e engoli em seco diversas vezes, tentando conter as lágrimas. Quando a silhueta desapareceu totalmente, um sentimento de tristeza intensa me invadiu. Eu tinha a impressão de que o oráculo acabava de dar o seu último suspiro. Comecei a chorar e percebi lágrimas rolarem nos rostos da Huang Hua e da Miiko também. Assim como eu, elas entenderam o que acabara de acontecer. Elas entenderam que o oráculo já não estava mais neste mundo. A sala das portas foi tomada por um véu negro e eu percebi que o meu espírito tinha voltado para o meu corpo.

Fui acordada pelo Lance, que me arrastou até o convés imediatamente. Eu ainda estava fragilizada pelo que eu acabara de viver. Os meus olhos ainda estavam úmidos e eu tinha um eterno nó na garganta. Eu acabei de perder um ser querido e eu sentia o luto envolver o meu coração com força.

(Lance)- Nós ainda temos um longo caminho a percorrer e não ache que eu a deixarei vadiar por este barco.

Ele desamarrou os meus nós e jogou um balde d’água na minha direção, assim como um esfregão.

(Lance)- Limpe o convés, não gosto de viver na sujeira. Não tente escapar jogando-se no mar, ou a minha nova amiga Kraken ficará muito feliz em capturá-la.

Obedeci sem dizer uma palavra. Na verdade, não tenho forças para lutar agora. Eu me sinto tão triste pelo Oráculo que eu só tenho vontade de chorar. Mas eu não posso, não vou deixar que o Lance descubra que o oráculo já não está mais entre nós.

O dia, apesar de tudo, passou rapidamente. Lance me deu muitas coisas para fazer. E quando a noite caiu, eu me apoiei contra o parapeito. Lance nem se incomodou em me amarrar. De qualquer forma, eu não tenho para onde ir. Fiquei no convés boa parte da noite, e ele também. Lance estava olhando fixamente o horizonte. Me senti impulsionada a ir falar com ele. Em silêncio, eu me aproximei dele e, quando ele entendeu que eu estava presente, ele deu um sobressalto.

(Lance)- O que você quer?

-Eu só vim falar com você.

(Lance)- Falar sobre o quê?

-Eu não sei... eu olho para você e de certa forma vejo o Valkyon... Não consigo entender as suas motivações.

(Lance)- Não tente ser gentil comigo, isso não vai mudar nada a sua situação. Eu não vou te libertar.

Ele se fechou em silêncio. Não é por nada que ele é o irmão do Valkyon. Fui para o meu canto e acabei adormecendo. Na manhã seguinte, quando acordei, constatei que alguém teve o cuidado de me cobrir com uma coberta. Não sei quem fez isso, mas foi atencioso. Claro, não acredito que tenha sido o Lance.

Após alguns dias em alto mar, nós chegamos a Memória. Eu subi em uma das embarcações para atracarmos na praia. Eu estou desesperada. Como posso escapar dele?

(Lance)- Pois bem, que viagem extenuante. Vamos estabelecer nosso acampamento no bosque e descansar.

Em um estalar de dedos, seus soldados obedeceram e foram na direção da floresta para montar algumas tendas. Lance foi muito claro nas suas ordens, deveriam montar algo discreto para que ninguém nos notasse. Em seguida, ele se virou para o Kraken e pediu que ela vigiasse os arredores. Como a guarda poderá passar por um monstro desses?

Cheguei ao acampamento montado na floresta e percebi que era perto de onde o Mery foi assassinado. Prendi o folego por um instante. Vendo o sorriso do Lance, tenho certeza de que ele sabe o que aconteceu nesse lugar e de que ele montou acampamento aqui intencionalmente. Mesmo que a sua atitude me dê nojo, prefiro guardar o meu rancor para mim mesma.

(Lance)- O que foi?

-Nada.

Ele me olhou com insistência, esperando sem dúvida que eu lhe explicasse o motivo do meu mal estar, mas eu não disse nada.

(Lance)- Diga logo.

-Você fez de propósito?

(Lance)- De propósito, o quê?

-Escolher esse lugar para montar acampamento.

(Lance)-Claro. É um lugar escondido e eu sinto que forças místicas protegem essa floresta. Sem dúvida, a alma das hamadríades e dríades que habitavam aqui antigamente.

-É só por isso...?

(Lance)- Sim. Por que você está me perguntando isso?

-Eu... Uma criança que eu conhecia e gostava muito, foi morta nessa floresta na minha frente. Estar aqui me deixa muito perturbada.

(Lance)- Eu sinto muito, eu não sabia. – Eu ouvi direito? O Lance está se desculpando? Ele realmente parecia sincero e isso me pegou de surpresa – Mas nós não iremos para outro lugar. Enfim, amanhã de manhã você me levará a morada dos meus semelhantes. Mas, por enquanto, eu gostaria que você me mostrasse o lugar.

-Como?

(Lance)- Você conhece bem essa ilha, não é? Mostre-me.

-Ééé.. ok.

Eu estou um pouco confusa com essa proposta. O que ele espera exatamente de mim? Primeiro levei ele até uma das praias.

(Lance)- Esse lugar não tem nada de interessante, por que me trouxe aqui?

-Você pediu para que eu mostrasse os arredores, só estou obedecendo.

(Lance)- Pois da próxima vez, tente me mostrar coisas mais interessantes.

Então, o levei até as ruinas de memória. Não pude me impedir de parar. Esse lugar está tão repleto de lembranças e de energia. Ainda posso senti-la correr pelas minhas veias. Se ela pudesse me dar forças para vencer o Lance, ou pelo menos permitir que eu escape...

(Lance)- Essa estátua é intrigante. Você conhece algo a respeito dela?

-Não muito. É uma estátua que representa a deusa Mnemosine.

(Lance)- É a deusa da memória, não é?

-Sim, é isso.

(Lance)- Entendo melhor por que os dragões encontraram refúgio nessa ilha. O que pode ser melhor do que uma ilha dedicada a guardiã da memória, quando queremos que todos nos esqueçam?

Lance é realmente desconcertante. Ele parece ser extremamente inteligente. Em todo caso, suas habilidades de reflexão me impressionam. Talvez ele nãos seja tão estupido quanto eu pensava. Então continuamos andando até o interior da antiga academia.

(Lance)- Uma biblioteca em ruínas. Excepcional.

Visto seu ar cansado e entediado, ele não sabe sobre as passagens secretas. Isso pode ser uma vantagem. Saímos de lá e eu o levei até o penhasco esquecido, nas ruínas do templo.

(Lance)- Era um templo dedicado a Zeus. O deus de todos os deuses.

-Como você adivinhou?

(Lance)- Está escrito em algumas colunas espalhadas pelo chão.

-Você entende grego, então?

(Lance)- Sim, por quê?

-Estou surpresa. O Valkyon não entende grego.

(Lance)- O meu irmão não conhece muitas coisas. Ele sempre se conteve por medo de não estar a minha altura.

Lance notou a admiração sem limites que o Valkyon tinha por ele... E o seu rosto tomou uma expressão triste. Ele avançou até a beira do precipício. Não pude evitar em pensar como seria se ele simplesmente caísse. Mas não mataria ninguém, nem mesmo ele.

(Lance)- Foi aqui que eles vieram?

-Quem?

(Lance)- Nada.  Só pensei alto, não é da sua conta. Bem, vamos voltar ao acampamento, acho que já vi tudo que havia para ver.

Retornamos rapidamente ao acampamento.

(Lance)- O sol vai se pôr em pouco tempo. Vamos descansar, amanhã é um grande dia.

-Eu não o levarei até os dragões, está fora de questão.

(Lance)- Como se você tivesse escolha...

Ele abriu um sorriso cruel. Vendo que a conversa com ele era em vão, eu me fechei no silêncio. Observei os companheiros do Lance. Examinei seus rostos para tentar entender por que tinham se aliado a alguém como o Lance. Todos eles pareciam marcados pela vida, pelos anos. Cicatrizes profundas decoravam o rosto já definhado de um deles. Seu olhar profundo e sombrio atravessava todo o meu ser... Então, perguntei como ele se chamava. Orion. Por reflexo, levantei os olhos ao céu, pensando inevitavelmente na constelação que tinha o mesmo nome.

Comecei a conversar com o Orion e ele se mostrou muito mais eloquente que seus outros sócios, então me aventurei a lhe perguntar por que ele tinha se aliado ao Lance. O dragão dirigia um ouvido atento a nossa conversa, mesmo estando afastado. Eu não sabia como me comportar. Será que eu devia me mostrar interessada? Casual? Ou parar a conversa?

Eu preferi continuar a conversar com Orion tentando não demonstrar nenhuma emoção. Eu não queria que o Lance pudesse me conhecer melhor. Soube que Orion tinha sido expulso da Guarda de Eel há uns vinte anos. Foi na época em que a guarda não tinha nenhum escrúpulo, nenhuma ética. Ele se recusou em me dizer mais sobre a ordem que lhe deram e que ele tinha se recusado a obedecer causando sua expulsão, mas eu imaginava que não era nada glorioso. Então, há um ano ou dois, ele tinha encontrado o Lance, que lhe contou sobre o seu projeto para Eldarya. Mesmo se isso significasse destruir esse mundo, Orion aceitou. Fiquei surpresa com a franqueza do Lance com o Orion, mas fiquei ainda mais surpresa pelo fato de que isso não incomodou o soldado.

-Por que você disse sim?

(Orion)- Salvar os habitantes desse mundo não valia a pena- Seu motivo era simples, mas assustador.

Essa confiança me aterrorizava. Como ele podia dizer algo assim? E pior, ele não era o único a pensar isso. Chocada, pedi para ir me deitar. Lance me acompanhou até a minha cama e me amarrou nela com firmeza. Tentei ver o lado positivo. Pelo menos, eu tinha uma cama para dormir.

Na manhã seguinte, acordei com dor por todo o corpo. Era preciso confessar que dormir amarrada aos pés da cama não era lá muito confortável.

(Lance)- Venha aqui. Nós temos um longo caminho a percorrer.

As minhas mãos ainda estavam atadas, não tenho escolha. Preciso segui-lo, aconteça o que acontecer. Ele me arrastou até as ruínas, no local onde montamos acampamento da última vez.

(Lance)- Foi aqui que vocês acamparam?

Balancei a cabeça. Apesar de não termos deixado nada para trás, nem mesmo os rastros da nossa fogueira. Esse lugar permanece carregado pela nossa presença. Eu consigo ver perfeitamente as tendas erguidas, todos nós sentados ao redor do fogo. A Ewelein, Alajéa, Colaia, Olohua, o Kero, Ezarel, Nevra, Valkyon, Leiftan e o Artie.... Nós estávamos aqui não faz nem duas semanas. Se nós soubéssemos o que aconteceria... O lance me tirou dos meus pensamentos.

(Lance)- Então, por onde devemos ir?

-Eu não te direi onde estão os dragões.

(Lance)- Ah, mas você dirá.

Mais uma vez, ele me pegou pelo pescoço. Tentei conter qualquer emoção. Eu me recuso a mostrar que ele me dá medo.

(Lance)- Onde eles estão?

A sua mão se fechou ainda mais... Estou tremendo ao sentir essa pressão no meu pescoço. Nós permanecemos assim por um tempo que me pareceu infinito. Então, Lance parou de me estrangular.

(Lance)- Perguntarei pela última vez. Onde estão os dragões?!

Não vou traí-los assim. Lance pode até dizer que ele só quer conversar com eles. Mas eu tenho medo do que ele possa fazer. Fáfnir está contando comigo para salvar Eldarya. Eu não posso entregá-los a essa pessoa abominável. Entretanto, eu sinto que morrerei se não disser o que ele quer ouvir.

-Está fora de questão você me ouviu? Eu nunca levarei você até eles.

(Lance)- Você tem certeza? É a sua última palavra?

-Sim.

(Lance)- Está bem. Você procurou.

Ele me pegou pelo punho e ordenou que eu o seguisse. Ele me fez andar até a beira do penhasco. O que será que ele pretende fazer? Então eu entendi... com um movimento de braço, ele me empurrou até os meus pés não tocarem mais o chão. Eu estava suspensa à beira do precipício, mantida unicamente pela mão do Lance. O meu coração batia a cem por hora, eu sentia o vazio sob os meus pés e o meu corpo balançar com o vento. Se ele me largasse, eu cairia e, sem dúvida nenhuma, seria esmagada contra os rochedos mais abaixo. Ou pior, eu me afogaria novamente.

A lembrança do meu afogamento voltou a minha mente e me aterrorizou. Eu me lembrei, sem dificuldade, do gosto da água salgada tomando inevitavelmente conta da minha garganta. A frieza do mar que gelava o meu corpo e fazia os meus batimentos enfraquecerem, apesar do pânico que eu sentia. Mas será que eu deveria ceder aos desejos do Lance e levá-lo ao Fáfnir por causa disso? Eu estava pronta para aceitar a morte se fosse preciso. 



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