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História Uma oportunidade para amar - trilogia 03 - Em solo americano


Escrita por: Kamy-Matarasu

Notas do Autor


Yo
Aqui estou eu arriscando a publicar mais uma fic sem ter terminado The Queen of Egypt. Faz muito tempo que não posto duas fics ao mesmo tempo. Espero conseguir dar conta, né? 😅 hehehe
Tenham paciência comigo gente hehehe
Mas n se preocupem, que me organizei e tal 😌

Bom essa fic é a trilogia final, embora eu pense em escrever uma com o casal Shikatema…
Enfim, essa história envolve algumas questões dramáticas e familiares. E lógico paixão, amor e hentai hehehe
Eu estava muito ansiosa para postar uma fic Nejiten mas outras me ocupavam. A trilogia nasceu desse casal e ironicamente a fic deles ficou na trilogia final hehehe mas tudo bem.
Ah, quem leu a primeira trilogia que era NaruHina. Então, chegou a vez de vivenciar a fase do casamento deles. É isso msm, eles estão presentes nessa fic 😌 lindos e maravilhoso como sempre. E com filhos 🙃

Hehehe
Bom espero que gostem
Boa leitura
Desculpe-me os erros

Postarei o próximo assim que possível. Agora tenho que intercalar com a outra que tbm tô postando 😅
Aiaia eu invento cada coisa
Enfim
Boa leitura 😊

Capítulo 1 - Em solo americano


 


 

Baltimore, Maryland, 1889



 

O Porto de Baltimore, Maryland, fervilhava de pessoas perambulando para o lado e para o outro impacientes. Vários homens usando colete e calças surradas carregavam pesados baús nos ombros, enquanto desciam pela escada de madeira que ligava o navio à calçada.

Tenten precisou acelerar o passo ou a qualquer momento seria atirada para fora da plataforma de madeira do navio. A movimentação dos passageiros lhe impulsionava a praticamente correr, mancomunados com os homens que levavam as cargas pesadas.

Ela apertou com firmeza a alça da valise e tentando não colidir com as pessoas em sua volta, especialmente aqueles que carregavam os baús nos ombros, caminhou depressa e finalmente alcançou a calçada. Estava impressionada com a capacidade de manter-se de pé no salto da bota e ainda de portar uma aparência decente.

A temperatura morna, as pessoas fervorosas, o modo peculiar de vestir-se e o sotaque mais cordial eram fatores que a levavam à realidade de onde se encontrava. Definitivamente, as histórias dos livros do velho oeste de sua tia eram a caracterização perfeita para descrever aquele ambiente. Embora as grandes usinas de carvão resplandecesse no horizonte e nas diversas construções de prédios, promovia um aspecto civilizado, mesmo que a maioria das pessoas pareciam aderir o mesmo vestuário ultrapassado.

Não estava mais na Inglaterra, muito menos em Bristol, sua terra natal. Não precisava se dar conta disso, a diferença era gritante.

— Saia da frente! 

Um grupo de pessoas a empurraram para o canto. Tenten teve a sensação de ser levada conforme a multidão. Alvoroçada, teve o cuidado de manter a valise firme ao lado do corpo e o chapéu preto na cabeça.

Doce ilusão. O objeto voou no ar até aterrissar no chão e ser pisoteado. 

Tenten olhou para o chapéu preto com pesar, como se estivesse diante de um animal de estimação sendo duramente calejado.

— Meu chapéu… — ela murmurou entre o espanto e as lágrimas. 

Aquele objeto foi um presente de natal vindo de sua mãe na intenção de ludibriá-la a esquecer a crueldade que fizeram. Embora sua mãe não fosse a verdadeira culpada, sua omissão para com o marido só a colocava na lista de pessoas que destruíram seu coração.

— Bom, não é tão importante assim. — disse ela, por fim, dando de ombros e desviando a visão para a rua movimentada.

Tenten respirou fundo e olhou em volta tentando distinguir todas as charretes que passavam na rua. Nenhum tinha o brasão da família Umino.

Ela suspirou exasperada. Sua tia Anko deixou claro que o marido de sua falecida irmã estaria à espera. Além de uma série de elogios alegando que o homem era pontual, caprichoso e solidário. Tenten descartava o pontualíssimo do sujeito, agora só restava averiguar se era mesmo um bom homem como sua tia afirma.

Desencorajada a esperar por mais tempo, Tenten atravessou a rua tendo cuidado com as charretes. Em seguida, postou-se na calçada do outro lado, observando as pessoas fervilhar na passarela do Porto.

À medida que o tempo passava, ela ia se perdendo nos pensamentos perturbadores. 

Tenten havia ocupado-se em ler o livro favorito de Anko durante toda viagem da Inglaterra aos Estados Unidos, mas nem mesmo aquela leitura fora capaz de tirar os devaneios. 

Tinha se passado nove longos anos quando perdeu o bem mais amado de sua vida. E para acumular o peso da dor em seu coração, não pôde evitar que seu pai tirasse seu filho de seus braços. Passou todos aqueles anos à procura do filho e tudo que encontrou foram respostas vazias, pessoas que provavelmente tinha medo de revelar o paradeiro da criança, uma vez que seu pai era uma grande influência em Bristol. Dono do Porto da cidade e amigo do conde de Norfolk era motivo suficiente para intimidar quem quer que fossem. Menos a sua cunhada.

Anko Mitarashi sua tia foi a única a apoiá-la no momento mais difícil de sua vida. Tenten seria grata pela eternidade aquela mulher bondosa e ao mesmo tempo escandalosa. Anko se comportava diferente das demais mulheres inglesas, não media esforços de retrucar e muito menos enfrentar o cunhado. Tenten por sua vez, precisou da ajuda dela para poder encontrar o seu filho. 

Era uma jovem imatura e inocente de dezoito anos quando deixou que um certo rapaz tomasse liberdades demais. Mas como poderia impedi-lo se estava completamente apaixonada? Ele era o rapaz mais lindo de Bristol, seus pais eram donos da fábrica de couro situada no centro da cidade e além disso escrevia poesias e as recitava com decoro esplêndido. Tenten se viu diante de um conto de fadas e mergulhou de corpo e alma naquela ilusão. 

Mais tarde descobriu-se grávida, mas não temeu a ira de seu pai. Ela tinha encontrado o melhor partido da região e o mais velho jamais se oporia. Bem, era isso que acreditava na época. Mas o seu príncipe encantado sumiu de sua vida assim que o confidenciou sobre a gravidez. Como se não bastasse, a família o apoiou alegando que a criança que esperava no ventre não era dele. Sendo assim, o sujeito havia sido enviado para bem longe da Inglaterra.

Tenten se viu desolado, não esperava que o homem que amava havia deixado-a. Pior! Com uma criança no ventre. E seu pesadelo só piorou quando revelou a notícia aos pais. Mais que depressa seu pai Yamato procurou a família do mais jovem, mas como previa os pais do garoto também sumiu. A única coisa que sabiam deles era a venda da fábrica e da propriedade situada no norte de Bristol vendida para um fazendeiro da região.

O escândalo tinha sido o assunto mais comentado em Bristol. A filha do poderoso Yamato Mitsashi estava destruída. Não passava um único dia que alguém não apontasse ou a encarasse na rua. Com o decorrer dos meses Tenten havia aprendido a viver com a mancha da família, ao invés de se esconder dentro do quarto como Yamato queria. 

Ela procurou em sua tia Anko o apoio que precisava. Durante toda a gestação teve a companhia da sorridente tia. Quando o bebê nasceu, Tenten mal se conteve em segurá-lo, mas a parteira sumiu com a criança. Exausta não teve forças para se levantar e seguir a mulher, mas Anko tivera.

Quando retornou seu rosto estava contorcido de raiva e ao mesmo tempo pesaroso. Foi naquele momento que recebeu a pior notícia de sua vida. Seu pai Yamato entregou o seu filho para as freiras do convento St. Pedro naquela mesma noite. Tenten passou o resto dos dias, semanas e meses à procura da criança, mas fora Anko que a orientou pausar e terminar os estudos. 

Ainda há salvação se você for uma mulher independente. Para isso termine a faculdade e aceite as oportunidades que a vida está lhe dando.

E tudo que ela queria era encontrar o filho que não tivera o direito de segurar nos braços, mas Anko tinha razão. Embora seu pai não a oprimia sobre ela estudar, sua mãe o convenceu que todas as damas da sociedade Londrina frequentavam a faculdade de Cambridge. 

Mesmo a contragosto, Yamato aceitou sua decisão de morar em Cambridge e frequentar a faculdade. Anko acompanhou-a e ambas moraram sozinhas na bela propriedade de sua mãe. Depois de finalizar os estudos, Tenten voltou às buscas, mas só obteve sucesso nove anos depois.

O detetive contratado por sua tia encontrou pistas preciosas e convenientes. Seu filho Brandon, nomeado por Tenten, estava na América. Seu pai teve o cuidado de mandar propositalmente o neto para bem longe. Ele havia sido enviado para o convento em Maryland. Eram as informações que esperou durante anos, mesmo não sendo tão objetivas.

Tenten não aguentou a ansiedade e foi contida por Anko, que mais uma vez teve a brilhante ideia de conseguir um emprego de professora em Baltimore. A cidade necessitava de uma tutora para as crianças da região. Seu cunhado e viúvo Iruka Umino era presidente do comitê da cidade e juiz regente de todo estado de Maryland, sendo assim seu alicerce naquela busca.

O futuro incerto aguardava por Tenten e a insegurança de não obter sucesso avolumavam-se dentro dela. Não suportaria ser traída pelo destino mais uma vez, precisava a todo custo encontrar seu filho.

— Tenten? 

Uma mão forte a tocou no ombro e a sacudiu, tirando-a do transe.

Aturdida, ela encarou o homem de olhos escuros e de rosto fino.

— tio Iruka? — ela arriscou a perguntar.

Ele abriu um largo sorriso antes de menear a cabeça em um gesto positivo e envolvê-la em um abraço amistoso e inesperado.

Tenten arregalou os olhos e sentiu seu rosto pegar fogo. Não estava habituada a tais costumes, principalmente em público.

Ele a soltou e analisou com satisfação como se estivesse diante de uma filha que nunca teve.

— Você cresceu. Lembro que mal passava da minha cintura quando a vi pela última vez.

Tenten disfarçou um sorriso sem graça e observou-o com atenção. Uma cicatriz encobria seu nariz alcançando as maçãs do rosto. 

Franzindo o cenho, ela perguntou:

— Não me lembro da cicatriz. Onde arrumou? 

Iruka sorriu e coçou a nuca, parecia mais jovem, embora algumas rugas acentuaram no canto dos olhos discretamente.

— Depois que minha querida esposa partiu dessa para uma melhor. — ele falou pondo a mão de encontro ao peito e juntou as sobrancelhas em uma expressão teatral. — Tenho criado hábitos vergonhosos.

Deus! Ele parecia mais um rapaz em apuros por aprontar do que um homem de quarenta e dois anos, ela pensou.

— Quais hábitos, tio? 

Iruka voltou a coçar a nuca, os olhos mais baixos e longe dos dela. 

— Tenho frequentado muito o Saloon. Jogado bastante e bebendo também.

Tenten estava chocada.

— Tabernas! O senhor está frequentando tabernas?! 

— Saloon. — Iruka corrigiu-a, categórico. — E sim, frequento de vez ou outra.

— Deus do céu, tio! O senhor é um juiz e presidente do comitê desta cidade. Esses hábitos são deploráveis! Não tem vergonha?

— Vergonha eu tenho mas… — ele parou de falar e empertigou o corpo, tomando uma postura séria. — Olha, não estou justificando meus péssimos hábitos, mas as coisas são diferentes aqui na América. Não sou o único juiz que frequenta Saloon. Você vai aprender que essas frescuras das cortes inglesas não existem por aqui. Vai se acostumando.

— Meu Deus. O senhor está se justificando e apoiando esses mais hábitos.

— Você parece muito sua mãe. — Iruka comentou de repente. — Ela continua tendo aqueles súbitos desmaios? Lembro-me que tinha desmaiado do nada naquelas festas cafonas na propriedade York da família e foi tão inesperado que nem pude segurá-la. Coitada.

— Sim. Ela continua desmaiando. — Tenten inquiriu. Lembrar-se da mãe era algo que não gostaria. Iruka não sabia que ela estava ali sem o consentimento de seus pais. 

— É uma bela mulher. Você herdou a beleza de sua mãe. Ainda bem. — disse com um meneio de cabeça. — Bom. Cadê suas coisas? 

— Não trouxe muitas. Só o necessário. 

Iruka percrustou-a minuciosamente e fitou a valise que Tenten parecia querer esconder detrás da barra do vestido.

— Achei que as mulheres usavam mais coisas em uma viagem longa.

— Pretendo comprar o que precisar em minha estadia. E obrigada tio por me acolher e conseguir um emprego para mim.

Ele voltou a abrir um largo sorriso.

— Você vai gostar daqui, sobrinha. E vai gostar mais ainda da escola. Conseguimos construir uma escola enorme para as crianças na vila de Orion. É um tanto distante da cidade, mas você vai gostar.

— Achei que a escola era na própria cidade e não em uma vila.

— Na verdade não é na vila, é em campo aberto entre a cidade e a vila. Mas não se preocupe com transporte, a minha charrete está a sua disposição ou até lá você poderá cavalgar.

— Cavalgar? — Tenten perguntou espantada.

— Pode conduzir uma carroça. Aqui as pessoas usam mais cavalos.

— Cavalos? 

Iruka sorriu ainda mais.

— Minha querida sobrinha inglesa. Você não está mais na Inglaterra. Vai ter que se acostumar com o modo que o pessoal de Baltimore vive.

— Frequentar tabernas, jogar e ingerir bebidas alcoólicas? 

— É Saloon. — ele voltou a corrigir. — Você parece a velha Koharu falando desse jeito. 

— Se a senhora Koharu zela pelas boas maneiras, então é uma mulher de princípios.

— Agora sim você está falando como ela. — Iruka meneou a cabeça e soltando um suspiro cansado disse: — Deixa para discutir sobre as boas maneiras de Baltimore depois. 

Dito isso, praticamente tomou a valise da mão dela e a puxou na direção da charrete estacionada alguns metros diante da calçada.

Tenten precisou acelerar o passo para acompanhar os de Iruka. Quase tropeçou nas próprias pernas e irritada ela finalmente livrou-se da mão dele.

— Toda essa pressa tem algo a ver com algum compromisso desavergonhado? — Tenten perguntou adentrando a charrete sem precisar da ajuda dele. 

— Não imaginei que fosse tão puritana, Tenten. — ele respondeu entrando na charrete.

— Não sou puritana. — ela rebateu desgostosa e irritada. — Um homem de sua estirpe não deveria ser tão omisso.

Iruka franziu as sobrancelhas e olhou para o lado avistando a variedade de pessoas perambular pela plataforma do Porto.

— Devo agradecer a Deus por encontrar alguém para me controlar. — ele resmungou ironicamente.

Tenten balançou a cabeça e respirou fundo. Ela não tinha só que se preocupar em encontrar seu filho, mas manter seu tio na linha. E pensar que acreditara nele sobre trabalhar em Baltimore. 


 

****



 

Com o barulho de passos ecoando por todas as extremidades da casa entre conversas e risadas, Neji suspirou com profunda resignação. Odiava qualquer tipo de evento que transformasse sua casa em um verdadeiro arsenal de guerra com pessoas entrando e saindo.

Ele odiava o barulho, até mesmo as pessoas em sua volta. E odiava mais ainda aquela ideia absurda de sua prima Hinata em forçá-lo a ir ao baile de boas-vindas vindas para conhecer a professora da nova escola que ajudou a construir depois de contribuir com uma quantia afortunada que os cidadãos de Baltimore e Orion tanto queriam. 

Sabia de suas limitações, mas se tratando do que seu filho precisava, Neji imaginou que uma escola entre a cidade e a vila fosse vantajosa para facilitar a caminhada do filho. 

Seu filho… Ele mal podia acreditar que todos aqueles anos passou tão depressa. A família que construiu não restava mais, apenas Aidan era uma parte do que sobrou. E o menino não era mais um bebê e sim um garotinho de nove anos que o procurava com os olhos castanhos estreitos e uma expressão de quem temia algo.

Neji sabia que depois da morte de sua esposa e do acidente que lhe comprometeu seu pé e a metade de sua perna, a amargura o dominou de maneira que deixasse de lado a fazenda sob os cuidados de Naruto. Mais do que isso, se afastou de tudo e de todos, mantendo-se isolado ou na sala onde seu piano abafava sua agonia interior. Porém, não desejava criar uma barreira entre ele e o filho. O amava tanto e não sabia mais como interagir com o garoto. Parecia um verdadeiro estranho.

Aidan chegou em sua vida há nove anos, no momento mais obscuro e triste que possuiu sua vida quando sua esposa foi diagnosticada sobre seu problema. Ela não poderia ter mais filho depois do aborto espontâneo. Mas milagrosamente o pastor da igreja e amigo informou que adoção era um ato simbólico e que o ajudaria. Neji o fez não por status, mas para ter uma criança para preencher a vida.

Quando ainda Aidan estava no berço em um dos quartos do convento de Baltimore, Neji logo se deu conta que aquele bebê de cabelos castanhos e olhos da mesma tonalidade seria seu filho. Sua esposa também não disfarçou a ideia de ter um bebê mesmo que fosse daquela maneira. Sendo assim, adotou-o e o encheu de amor e carinho, até mais uma vez a tristeza habitar a fazenda.

Após a morte de sua esposa ele se fechou, mas não se esqueceu de suas responsabilidades. Tinha Aidan. A criança precisava dele. Neji cumpriu seu papel de pai até sofrer o acidente na debandada que lhe obscureceu o coração. 

Preso em uma cadeira de rodas e em um quarto fechado, tendo apenas a sala o único cômodo habitável por ele, Neji se viu dominado a mergulhar naquela escuridão. Nada mais importava. Mesmo que tentasse dar atenção a Aidan, Hinata e Naruto já faziam isso melhor do que ele. E com o filho que o casal já tinha fora o desfecho para se manter ainda mais isolado.

Ele interrompeu os pensamentos e tornou a olhar para as teclas do piano. Iria tocar se não percebesse a pequena presença parado na soleira da entrada da sala.

Neji teve de se controlar para não pular para trás.

— O que você quer parado aí feito uma alma penada?

Aidan que parecia prestes a dar meia volta, apenas piscou os olhos e mordeu os lábios.

Se dando conta que havia assustado o menino, Neji soltou um suspiro e controlou o tom de voz quando voltou a falar:

— Venha aqui.

Aidan arregalou os olhos e disse depressa:

— O senhor vai me bater? 

— Por que diabos eu iria lhe bater? 

A criança olhou para os pés e respondeu:

— Porque eu quebrei a vidraça do escritório esta tarde. Achei que a tia Hinata tinha contado.

— Você o quê? 

Aidan encarou-o com os olhos esbugalhados, sem ter noção da tolice que cometeu em se auto se entregar.

—  Não fui eu não. 

— Você disse que foi.

O menino entreabriu a boca, ciente que não tinha saída. Mesmo assim pensou em se safar de alguma maneira.

— A culpa é do Boruto, pai. Ele me obrigou a brincar de atirar com aquele estilingue nos passarinhos. 

— Venha até aqui, Aidan.

O garoto sacudiu a cabeça e deu um passo atrás quando viu Neji virar-se na direção dele.

— Não. O senhor vai me bater.

— Diabos. Eu não vou lhe bater. 

— Então por que quer que eu chegue perto?

Respirando profundamente, Neji fez um sinal para que o garoto se aproximasse. 

Receoso, Aidan se aproximou e diante do pai ficou cabisbaixo como um cachorro que acabara de ser chutado.

— Ouça, filho. — disse Neji tocando nos ombros franzinos. — Não quero que minta, muito menos culpar alguém pelos seus atos. Eu não vou bater em você por ter quebrado a vidraça do escritório.

Aidan ergueu a cabeça e os olhinhos castanhos brilharam de satisfação. Como se fosse um condenado sendo absorvido de sua pena.

— Mas deveria lhe dar uma surra pela mentira.

O sorriso do garoto morreu nos lábios diante da ameaça.

Neji segurou-o firmemente nos ombros para impedi-lo de fugir.

— Eu disse que deveria, não precisa ficar com medo. Não vou te bater. Mas não faça mais isso.

— Sim, papai.

Ele não tinha certeza de que Aidan estava sendo realmente sincero, mas deu de ombros a situação.

— Agora diga-me: Por que acha que sempre vou bater em você? 

— O senhor está sempre sério e isolado. Tenho medo.

O coração de Neji confrangeu-se. Ele engoliu a seco, enquanto suas mãos se afastaram dos ombros do garoto.

— Eu nunca bati em você. — Neji falou desolado.

— Mas já me deu uns cascudos.

Neji arqueou uma sobrancelha ao fitá-lo.

— Porque você inventou de montar em um cavalo arisco. Arriscou sua vida com suas travessas.

Ele concordou.

— O senhor ficaria triste se eu me machucasse? 

— Claro que sim! Eu me importo com você. Por que diabos cogitou esse pensamento tolo?

— O que é cogitou, pai? 

Neji balançou a cabeça perturbado.

— Por que acha que não me importaria com você?

— Ora, o senhor está sempre sozinho.

— Isso não justifica! — ele gritou.

O mais novo deu um passo atrás assustado e Neji se arrependeu por ter sido rude mais uma vez. Ele parecia mesmo ter virado um animal selvagem, não sabia dialogar com uma criança. Diabos! Ele não tinha paciência nem mesmo para falar com adultos.

— Não pense assim, Aidan. Eu amo você e não quero que sofra nenhum arranhão.

— Ah, mas eu tenho muitos arranhões.

— Sim. Porque você é teimoso e danado. Mas quero dizer para não se meter em encrencas. 

Um sorriso iluminou os lábios de Aidan. Estava feliz pela solicitude do pai.

— Ah, você está aí. 

A figura feminina preencheu a sala.

Pai e filho olharam Hinata aproximar e parar diante deles, pondo as mãos na cintura e lançando um olhar cheio de advertência.

— Você já poderia se candidatar a vaga de espantalho vestido desse jeito. — disse Hinata pouco se importando com o olhar assassino de Neji sobre ela. 

Aidan riu.

— Pai. A tia te chamou de espantalho.

— Eu ouvi filho. 

— Com essa barba e vestido dessa maneira desleixada você está mesmo parecido com um espantalho. — Hinata voltou a falar.

— Se acha que me ofendendo vai conseguir me tirar de casa, está muito enganada.

Hinata fechou os olhos para abri-los. 

— É o baile do comitê de boas-vindas. 

— Eu não quero conhecer ninguém.

— Deus do céu! Neji. Você é o responsável pela escola. Como não vai conhecer a nova professora? Isso não existe.

— Existe para mim.

Enfezada, Hinata balançou a cabeça e bateu o pé.

— Você vai.

— Eu não vou. — Neji arrastou a cadeira de rodas para trás e seguiu para fora da sala. Mas Hinata interceptou-o. — Saia da minha frente!

— Não vou deixá-lo sozinho. Então você vai ao baile. E eu irei arrumá-lo. Começando por essa barba ridícula.

— Nem sonhando.

Hinata precisou pular para o lado, quando Neji avançou com a cadeira de rodas. Por pouco ele não colidiu com Naruto quando este surgiu no limiar de entrada.

— Saia da minha frente você também!

Como se tivesse sido picado por abelhas, Neji saiu da sala.

Naruto continuou olhando para o caminho que Neji fizera, ainda aturdido com os acontecimentos inesperados.

— Naruto. Por favor, convença-o a ir ao baile, sim?

Virando na direção da esposa, Naruto aproximou com uma expressão que não enganava ninguém.

— Já estou cansado de brigar com seu primo, Hina. Se ele não quer nos acompanhar, deixe-o em paz.

Ela soltou um suspiro exasperado.

— Eu poderia ficar se meu pai quisesse. Mas do jeito que saiu daqui acho que ele não quer ver ninguém mais hoje.

Os dois adultos olharam para criança com pesar, mas foi Naruto que se aproximou de Aidan.

— Seu pai não está bravo com você.

— Eu sei.

Naruto pousou a mão na cabeleira castanha do menor e bagunçou antes de dizer:

— Vai lá em cima apressar o Boruto, filho. E não demore.

Aidan concordou e saiu da sala, disparado.

Virando na direção da esposa, Naruto tocou-a no ombro ao mesmo tempo que tomou-a nos braços e beijou-a no pescoço. 

— Você sabe como apaziguar minha raiva. — ela falou se deliciando com os beijinhos sobre sua pele.

— Passei tempo suficiente para descobrir suas fraquezas.

Hinata sorriu e quase gemeu quando Naruto mordiscou o lóbulo de sua orelha. 

— Não deveríamos deixá-lo sozinho na fazenda. — ela comentou preocupada.

— Ele vai ficar bem.

— Ele não está bem há anos. 

Naruto cessou os beijos e afastou a cabeça para encará-la, sem desvencilhar os braços em volta da cintura roliça dela.

— Tem razão. 

— Já tentei de tudo. Nada o alegra. Nada o tira desse casulo que Neji criou para si mesmo. 

Lançando um olhar rápido na direção do piano, Naruto, voltou a falar:

— Neji poderia ensinar as crianças a tocar piano. 

— Ele não vai querer.

— Talvez eu possa convencê-lo. — ele disse agora afastando uma mecha teimosa do cabelo de Hinata para trás da orelha. — De certa maneira entendo seu primo. Assim como sei que permanecer na escuridão não é uma boa ideia. Ele precisa que alguém o salve, assim como você me salvou.

— Eu? — ela sorriu, envolvendo os braços ao redor do pescoço do marido.

— Você. — Naruto disse inclinando a cabeça. — Com esse seu jeitinho maluco conseguiu me tirar da culpa que criei.

— Maluco, é? — ela retrucou dando um leve tapinha no ombro dele.

— Convenhamos que suas atitudes inesperadas me tiraram muito do sério. 

— Ah é?

— Lembra de quando estávamos indo para Westfield e paramos no meio do caminho logo após nos livrarmos dos Comanches e você inventou de pescar atirando nos peixes? 

Desta vez ela gargalhou.

— Eu achei que era o melhor jeito de pescar.

— Sei.

Ele inclinou mais à cabeça e antes que capturassem os lábios rosados da esposa, as duas crianças entraram na sala como dois animais descontrolados, quebrando todo o clima que se formou no ambiente.















 


Notas Finais


Obrigada por chegarem até aqui 😊


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