Jimin suspirou pesado ao entrar em casa, trancou a porta e colocou as chaves em cima da mesa como sempre fazia. Igual todos os dias. Deu passos rápidos pelo curto e escuro corredor até seu quarto e lá acendeu a luz antes de jogar o casaco em cima da cama. Ele não queria estar ali, não queria estar sozinho.
Não só porque a companhia de Kim Namjoon e a comida do restaurante onde estavam eram deveras agradáveis, mas porque Jimin não suportava mais aquele lugar. A partir do momento em que botava os pés para dentro do apartamento, sentia sua mente ligar no automático. Ele se sentia vazio.
Vazio como o apartamento em si, que era belo e limpo, mas sem Hoseok parecia um inferno. Não era mais seu lar aconchegante, não tinha mais aquela energia alegre que o Jung espalhava por lá.
O apartamento 103 tinha apenas um quarto e todos os cômodos eram pequenos, mas funcionais. Os móveis e a decoração tinham tanto de Jimin quanto de Hoseok mesclados, formando uma harmonia bonita de se ver, mas que só era percebida pelas pessoas mais próximas dos dois. Mas depois de perder o namorado, Jimin percebera que quase tudo ali refletia Hoseok.
Cada peça boba de decoração lembrava o moreno, ele havia deixado tanto de si ali... não só na casa, mas em Jimin. Onde quer que o loiro ia, parecia levar o namorado consigo, e isso doía. Doía como o inferno.
O Park se amaldiçoou por estar pensando nele mais uma vez, mas era inevitável. Esfregou as mãos no rosto e seguiu para um banho rápido, pensando se seria bom conversar com alguém ou não. No fundo Jimin só estava cansado e queria dormir. Fazia dias que não dormia.
(...)
"Se você continuar demorando tudo isso no banho, vou ter que arrumar mais um emprego para pagar a conta de água", Hoseok riu baixinho antes de deixar um selinho em Jimin.
"Aish, amor!! Está tão frio, não conseguia sair debaixo da água quente", o loiro sentou-se na mesa e começou a servir o próprio café da manhã.
"Tudo bem, só não quero que se atrase".
"Ah, estou de folga hoje", Jimin sorriu grande, "queria passar o dia com você e minha chefe deixou".
Hoseok sorriu tão grande quanto o namorado. Fazia poucos dias que se mudaram para o novo apartamento e as coisas por lá ainda não estavam arrumadas, na verdade estava bem longe disso. O casal pretendia se casar para depois morar juntos, mas acabaram pulando uma etapa e escolheram a nova morada antes das alianças. E estavam felizes assim.
Quando terminaram de comer, abraçaram-se no sofá, escolhendo qualquer coisa para assistir, sem sequer se importar com as caixas ainda fechadas que os rodeava.
"Somos muito preguiçosos", o loiro disse, "com tanta coisa para fazer aqui, estamos assistindo tv".
"Depois arrumamos o que falta, Jiminnie", o Jung murmurou, apertando ainda mais o menor em seus braços.
"A máquina de lavar ainda está dentro da caixa", Jimin riu baixinho, "o microondas também, e já faz mais de uma semana que nos mudamos".
Hoseok riu também, realmente estavam sendo preguiçosos, mas não era como se tivessem muito tempo para arrumar a casa tendo que trabalhar todos os dias. O moreno deslocou-se no sofá para que conseguisse ficar de frente para o namorado.
"Quero ficar um pouco com você, amor", sussurrou, "estou com saudades disso, sabia?".
"Eu também estou, Hobi. Eu também."
(...)
Vestiu-se rápido depois de sair do banho e foi deitar mesmo sem esperanças de ter uma boa noite de sono. Era uma noite fria e Jimin odiava o frio. Por mais que estivesse com vários e pesados cobertores, demorou para se aquecer.
A cama ficava fria sem Hoseok, vazia.
Ao sentir uma lágrima escorrer pela bochecha, a cabeça de Jimin se encheu de pensamentos desordenados. Devia ter ficado na casa de sua mãe ou até de um amigo. Ele não queria ficar sozinho, também não queria falar porque sentia que se dissesse em voz alta a falta que sentia do moreno, ficaria ainda pior. Era verdade. Mas só ter alguém consigo na mesma casa, no mesmo quarto, já era de imensa ajuda. Porque o Park odiava ficar sozinho.
"Aish", resmungou virando-se na cama, "eu não aguento mais isso".
Então veio mais lágrimas, tão pesadas e irritantes. O rastro morno queimava em suas bochechas, e a agonia no seu peito ardia mais a cada segundo.
Ele jamais teria Hoseok de volta.
E doía pensar nisso, doía como o inferno. Apertou o travesseiro com força entre as mãos pequenas, tentando descontar ao menos um pouco da dor que sentia, mas não adiantava. Não parecia certo, sofrer daquela forma não parecia certo. Era injusto, cruel. Cogitou ligar para sua mãe, mas ele precisava daquele momento, precisava deixar cair todas as lágrimas que guardava.
Permitiu-se chorar, murmurando baixinho a saudade imensa que tinha de Hoseok, até que pingos de chuva começaram a bater na janela, formando uma melodia calma que o embalava em um sono que chegava aos poucos.
O céu chorava junto consigo.
(...)
Jimin até pensou que era cansaço, mas era só preguiça. Não passava das quatro da tarde e ele já não via a hora de ir para casa. Não é que não gostava de seu trabalho, também não amava, mas aceitava de bom grado.
O emprego como balconista naquela loja de roupas era provisório, o suficiente para pagar sua parte do aluguel do novo apartamento enquanto não encontrava nada na sua área. E com salário melhor, claro. Mas o Park se divertia lá, adorava a gerente Chaeyoung e sabia que sentiria falta de trabalhar com ela quando saísse de lá.
"Está sonhando acordado, Jimin?", a gerente tinha no rosto seu clássico sorriso gentil. Encantadora.
"Sonhando com a hora de ir para casa", o loiro respondeu com bom humor, "Nas quintas-feiras eu assisto filmes com Hoseok, estou ansioso para poder relaxar um pouco".
Chaeyoung piscou contente, amava ver o brilho nos olhos de Jimin ao falar do namorado. Ela não o conhecia, mas um dia iria, uma promessa do próprio Park.
"Agradeça que hoje estamos sem muito movimento".
"É porque ninguém tem dinheiro para comprar roupas na metade do mês", Jimin zombou fazendo a gerente rir. Sentiu o celular vibrar no bolso e ao ver quem o ligava murmurou um pedido de licença para a ruiva antes de atender.
Era Gaeun, a irmã mais nova de Hoseok. A garota era um anjo, o Park a adorava, mantendo uma boa amizade além da ligação que tinham. Ele até já havia dito que a namoraria se não amasse tanto o irmão dela. Mas veja bem, Jimin jamais encontraria alguém como Jung Hoseok. Jamais.
"Olá, Gaeun!", o loiro sorria como se a Jung pudesse vê-lo pelo celular, mas seu sorriso se desmanchou ao ouvir o tom de voz da garota.
"Jimin", ela soluçava, parecia estar chorando, "É... é o Hoseok".
"O que foi, Gaeun? Está me assustando", Jimin disse preocupado, chamando a atenção da Chae em frente a si.
Sentiu sua barriga gelar, mas torceu para não ser nada de ruim.
"Ele sofreu um acidente, estou no hospital, mas não tenho notícias. Por favor, Jimin, venha aqui. Por favor".
O Park sentiu suas pernas fraquejarem, o desespero tomava conta de seu corpo com a rapidez em que seu rosto ficou pálido. Pediu licença para Chaeyoung, explicando rapidamente a situação, mas a garota fez questão de levá-lo de carro até o hospital.
Poderia ser coisa boba, não é? Acidentes pequenos aconteciam o tempo todo, certo? Jimin orou durante todo o trajeto para que não fosse nada sério. Ele queria chegar no hospital e ver Hoseok com apenas alguns curativos, arranhões ou, no máximo, um braço quebrado. Já estava preparando a bronca que daria no namorado por ter dado aquele susto em si.
Mas não era isso que o desespero na voz de Gaeun mostrava.
E Jimin teve certeza disso ao chegar no hospital e encontrar a garota aos prantos encostada na parede. Foi correndo até ela, tocando seu braço para mostrar que estava ali. O coração martelava no peito com tanta força que parecia que as costelas iriam ceder e partir. A Jung abraçou o loiro com força apesar dos braços trêmulos, Jimin notou tremer também.
"Nós perdemos ele, Jimin".
(...)
Havia chorado até dormir. Um sono pesado e profundo, como fazia dias que não o tinha. As olheiras escuras não combinavam com seu rosto delicado, assim como os olhos inchados. O luto não lhe caía bem.
Dormir era uma benção para si. Era a única coisa que lhe relaxava a mente tanto quanto o corpo, e por mais que Jimin se distraisse com diversas coisas durante o dia, quando a noite caia, a dor se fazia presente. Pois lá estava ele sentindo por inteiro a falta de Hoseok, sentindo os lençóis gelados em sua pele e um vazio pesaroso do outro lado da cama. E Jimin só queria ficar um pouco livre daquele sentimento horroroso, ele queria descansar. Pela primeira vez em cerca de duas semanas, o loiro dormiu bem.
Até ser acordado por um barulho alto vindo da cozinha.
Scrash.
Algo havia quebrado, alguma coisa frágil.
O Park amaldiçoou em um resmungo por ter acordado. Conferiu o horário no celular e bufou irritado ao ver que já era madrugada. Por que era tão difícil ter uma noite inteira de sono? Afastou as cobertas do corpo, pronto para se levantar, mas parou sentado na cama, tinha algo estranho. A porta estava entreaberta. Jimin lembrava com clareza de tê-la fechado, afinal odiava dormir com a porta aberta. Esfregou as mãos pelo rosto numa tentativa de acordar melhor, devia estar um pouco confuso apenas.
Levantou a contra gosto, andando devagar e a passos leves. Jimin odiava o frio do piso contra seus pés, ou talvez fosse só o momento de irritação. No final do corredor, acendeu a luz da cozinha e franziu o cenho pela claridade ardendo nos olhos. Procurou pelo que havia feito aquele barulho alto, mas devia estar sonhando acordado já que não achou nada por ali.
Até pisar em cacos de vidro.
Era um copo simples quebrado, caído no chão. No centro da cozinha. Era impossível com todos os armários e janelas fechadas, Jimin sentiu um arrepio subir pela sua coluna ao se dar conta disso. Talvez ele tenha deixado o copo na borda do balcão antes de dormir, mas mesmo assim...
Não fazia sentido, assim como a corrente de ar frio que entrou no cômodo de repente.
Existem dois tipos de medo; medos reais e irreais. O medo real, o que nos protege de um perigo de verdade, como uma fera selvagem. Já o medo irreal é criado pela nossa mente, medo de algo que não pode nos machucar ou sequer existe.
Jimin sentiu todos os pelos do corpo se arrepiarem e não soube dizer se era pelo ar frio que se arrastava pela sua pele ou se pelo medo irracional que sentiu. Não, não era um medo bobo, irreal como o Park pensara, mas por não saber o motivo dele, achou adequado chamá-lo assim. Ele quis sair dali e voltar a dormir, quem sabe estivesse só alucinando pelo cansaço acumulado, entretanto, antes que pudesse mover um músculo sequer, um som alto e familiar preencheu a cozinha.
Seu medo era, de todas as formas, real.
O loiro correu os olhos pela cozinha em direção ao som, com as mãos suando em nervosismo, estava assustado. Era a porta do armário da pia que havia batido.
E quando Jimin a olhou, bateu outra vez, fazendo o barulho caracteristico de madeira batendo em madeira. O Park era acostumado, Hoseok sempre batia os armários distraidamente quando ia cozinhar. Mas Hoseok não estava mais ali e aquele som ecoou como um estouro em seus ouvidos.
A pequena porta abria devagar, rangendo tão baixo que ele não ouviu na primeira vez, então ela voltava com força, fazendo um baque.
Assustado, saiu dali a passos largos, se enterrando nas cobertas já geladas de sua cama. Era bobo, mas ele sentia que estava protegido ali, e não estava. Percebeu a respiração descompassada, talvez fosse pela corrida. Engoliu um seco, esfregando os pés uns no outro em uma tentativa de aquecê-los. Estava tudo bem, estava tudo silencioso e ele poderia voltar a dormir para parar de ver e pensar bobagens.
Bam! Outro baque, o mesmo armário da cozinha. Jimin se encolheu ainda mais na cama.
Bam! Mais um, mas esse era um pouco diferente, outro armário. As mãos de Jimin começaram a suar.
Bam! Bam! Os armários batiam juntos, mas não em harmonia e, mesmo se fosse, seria um som horrível e alto, desengonçado. A cada batida ficava mais alta, parecia que todos os armários da cozinha estavam com as portas batendo. Jimin estava coberto até a cabeça, assustado como nunca antes.
Bam! Bam! Bam! O barulho alto machucava seus ouvidos, trazendo a agonia que queimava na pele e uma simples pergunta: "o que está acontecendo?".
E de repente, tudo parou. Silêncio novamente.
Mas não um silêncio confortável, era um silêncio que o agonizava ainda mais. Ele ouvia seu coração acelerado bater forte contra o peito, tão forte que doía. O loiro prendia a respiração sem ao menos perceber, tinha receio até de respirar aliviado e tudo começar de novo. Apertou o lençol com as mãos, tentando descontar ali o medo que sentiu. Aquele apartamento nunca pareceu tão assustador.
O pior, estava sozinho.
Isso até seu celular vibrar no criado mudo ao lado da cama.
(...)
Jimin observou com cautela o garoto sentar ao seu lado, colocando os cadernos em cima da carteira branca com alguns rabiscos. Ele sabia o nome dele, mas apenas porque o professor o havia anunciado como "o aluno novo", já que o próprio rapaz parecia tímido demais para o fazer.
Deveria ter uma boa razão para ele ser transferido de colégio no último ano do ensino médio. Jimin perguntaria o motivo em um momento mais oportuno, com certeza ainda teriam muito a conversar.
"Bonita a letra", o Park sorriu ao ver a caligrafia do rapaz moreno.
"Obrigado", respondeu baixo.
"Hoseok-hyung, posso te chamar assim?"
"Claro", acenou com a cabeça. Jimin não ficou irritado por ter que fazer o trabalho de história com o novato Hoseok, mesmo que amasse fazer trabalhos com o inseparável amigo Kim Namjoon. No fundo o Park queria conhecer o garoto novo.
"Espero que não se importe em fazer comigo", disse se referindo ao trabalho, mas era apenas uma tentativa de puxar assunto.
"Claro que não! Eu adoro história, Jimin-ssi, e você?", a voz de Hoseok estava um pouco mais alta, mostrando que o garoto se soltava aos poucos.
"Ah, eu acho legal... mas sou péssimo, não entendo nada que o professor Han fala", o Park riu sem graça, arrancando um riso de Hoseok.
"Não seja por isso! Posso te ajudar, se quiser."
Jung Hoseok era gentil. Foi a primeira coisa que Jimin pensou dele. A segunda, que seu sorriso era lindo.
O Park sorriu em resposta, o sinal alto anunciando que a aula havia acabado lhe interrompeu antes mesmo que pudesse dizer algo em voz alta. Claro que ele queria, iria adorar ter a ajuda do Jung, ainda mais em uma matéria que era péssimo.
Namjoon era pior ainda, na verdade o Kim era péssimo em todas as matérias. O que não fazia o menor sentido, já que o garoto era praticamente um gênio que entendia todo o universo de forma que mais ninguém fazia. Assim, Jimin não tinha nenhum reforço, até porque não tinha a menor disposição de estudar sozinho.
Separou a carteira da de Hoseok antes que a próxima professora chegasse e lhes desse uma bronca. A aula seguiu como normalmente era, a voz plena da professora ecoando pela sala quieta. Era entediante, como a maioria das aulas eram.
Jimin dormiria se não fosse um leve cutucão que recebeu no braço, e sem perceber como, havia um pequeno papel dobrado em dois em cima de seu caderno. Ele desdobrou e ali estava a caligrafia bonita que tinha elogiado mais cedo.
"Quer almoçar comigo hoje?"
Olhou para o lado, encontrando Hoseok sorrindo terno, calmo, esperando a resposta. Jimin meneeou com a cabeça, sorrindo contente e murmurando um inaudível "sim".
Ele não sabia, mas naquele momento seu coração e sentimentos já não eram mais seus, e sim de Hoseok.
(...)
"Alô."
Sussurrou com a voz trêmula. Tinha aceitado a chamada do número privado sem sequer pensar direito. Ouvir a própria voz ecoando no quarto lhe deu uma sensação esquisita, quebrar o recente silêncio parecia errado.
Do outro lado da linha ninguém lhe respondeu. Jimin conferiu se a ligação ainda estava ativa ou se não estava no mudo. Tudo normal, franziu o cenho.
"Alô?"
Mais uma vez, silêncio. Deveria ser algum engano ou até um trote, mas porque o agonizava tanto? O medo que sentiu antes havia retornado com um soco. Se tivesse qualquer coisa do outro lado da linha se sentiria mais tranquilo. Fosse um chiado, uma voz distorcida. Quem passaria um trote em alguém naquela hora da madrugada? Para piorar, logo depois dos armários da sua cozinha baterem sem explicação.
Jimin iria pedir por uma resposta mais uma vez, mas deixou o celular de lado ao ouvir a porta de seu quarto ranger. Correu os olhos por cima dos cobertores até encontrar com a porta abrindo vagarosamente.
Ele quis correr dali, quis gritar por ajuda, mas seu corpo não conseguia mover nem um músculo.
A porta do quarto abriu por completo, e depois pode ver pela fresta a do banheiro fazer o mesmo, para depois fechar com força. A luz do corredor piscou.
O loiro sentia o estômago embrulhar em puro desespero. Ele não sabia o que era aquilo e por mais que tentasse se convencer que era um problema qualquer nos móveis ou na instalação elétrica, não conseguia. Também não podia ser sua imaginação, era real demais. Os cacos do copo que havia pisado, o som das portas batendo e, principalmente, sua agonia, eram reais.
A luz piscou mais uma vez e uma lágrima escorreu pelas bochechas quentes de Jimin. Suas mãos suavam apertando a coberta grossa contra si, mesmo que soubesse que aquilo de nada adiantaria.
"Se tiver alguém aqui, por favor, me deixe em paz. Pode levar qualquer coisa, mas me deixe em paz", sussurrou para si mesmo na esperança que resolvesse algo. E ele não se importaria se fosse roubado, quase tudo ali era de Hoseok e desde que o moreno se fora, parecia ter perdido o valor.
A mobília, os quadros, cada parte do apartamento pareceu ter morrido com Hoseok.
Não só do pequeno corredor, mas a luz da cozinha começou a piscar também, agora com mais frequência. De repente todas as luzes, menos a do quarto do Park, piscavam descompassadamente. Jimin apertou os olhos, se enterrando nas cobertas, ele não queria ver. Ele queria acordar daquela droga de sonho ruim, ele queria que ao menos fosse um sonho ruim.
Outra vez, os armários e portas começaram a bater. Dessa vez mais rápido, mais barulhento. O loiro pode ouvir a televisão ligar e o microondas apitar.
Bam! Bam!
Outra lágrima grossa escapou de seus olhos, o celular foi de encontro ao chão, mas o Park sequer percebeu com todo aquele barulho.
Bip! Bip!
Toda a casa parecia se mexer, cada parte fazendo um barulho diferente, formando uma sintonia desorganizada e agonizante. Toda a casa, menos o quarto de Jimin. Ele percebia a porta aberta, como se fosse para conseguir ver aquele caos, mesmo que pela pequena fresta.
Scrash!
Vidro quebrado. Eram os quadros do corredor, ele sabia. Não tinha certeza de como, mas sabia. Os quadros de momentos preciosos, que não teve coragem de tirar, mesmo com a dor que o causavam, deslizaram de encontro ao chão, despedaçando.
E então, tudo voltou a ficar silencioso. As luzes permaneceram acesas, mas nada mais batia ou quebrava. Jimin suspirou aliviado, talvez já tivesse acabado. Ele orava para que fosse isso.
Ding! Dong!
Qualquer coisa, ele esperava qualquer coisa, menos a campainha tocar.
Ele não queria sair dali, tinha medo de levantar e deixar seu refúgio infantil de cobertores. Mas poderia ser algum vizinho que ouviu aquela barulheira, poderia ser ajuda. Jimin achou estranho ninguém ter ido reclamar daquele escarcéu, levando em conta a rigidez das regras do condomínio. Respirou fundo, puxando o ar com força antes de se levantar por fim.
A campainha tocou novamente, quem quer que fosse, ainda estava ali. Caminhou a passos lentos, desviando os pés descalços dos cacos de vidros no corredor. Evitou olhar para os retratos quebrados no chão.
"Quem está aí?", perguntou antes de chegar na porta de entrada, mas não teve resposta alguma.
Engoliu um seco, pensando se realmente havia sido uma boa idéia levantar da cama. Mas o que iria fazer? Ficar escondido enquanto seu apartamento desabava sem motivo algum? Não poderia ser tão medroso assim.
Sua pele se arrepiou ao sentir uma brisa fria, não saberia dizer de onde ela vinha. Deu mais um passo cuidadoso, nas pontas dos pés, e parou em frente a porta. Pegou com calma as chaves em cima da mesinha e destrancou a porta, naquela altura já não devia ter mais ninguém do outro lado dela. Engoliu um seco ao levar a mão até a maçaneta e abri-la. Ele não esperava aquela visita, ah, não.
Seu mundo desmoronou. Ele desmoronou.
"Hoseok?"
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