História Vida e morte de Oxum - Axoxô

No dia seguinte, eu estava voltando para o acampamento de Oxossi, segurando um prato de Axoxô que eu mesma fiz. Tudo bem, confesso que eu estava interessada por ele, e por isso, eu já criava expectativas. Eu imaginava uma vida junto com ele, reinando em Ketu, com vários filhos. Para que o futuro fosse assim, eu precisava investir no presente e seduzi-lo com os meus dotes culinários.

-Pra mim? –Oxossi sorriu, pegando o prato. –Você é sensacional, Oxum!

Oxossi comia o milho vermelho e as fatias de coco com voracidade. Eu havia conquistado sua barriga, e também seu coração. Em poucos dias, estávamos namorando, e esse camote acrescentou muito pra nós dois.  Enquanto eu vivia do luxo e da ostentação, Oxossi me apresentava outra visão de mundo, mergulhada na austeridade e no despojamento. Descobri com ele a doçura que o amor pode oferecer.

Meu pai finalmente havia voltado de Ifé, e me contou como foi sua viagem. Ele disse que lá, ele havia conhecido um novo método de adivinhação, realmente eficaz: a geomancia.  Esta é uma técnica de adivinhação baseada na observação de pedras atiradas sobre uma superfície plana e dos desenhos formados com elas. O que faltava agora era desenvolvê-la para ser mais eficiente. Meu pai estava muito animado por ver anos de procura finalmente serem recompensados, e eu estava muito feliz por ele.

Voltando ao meu namoro, certo dia eu e Oxossi decidimos ir ao rio. Obviamente eu queria isso bem mais que ele, e meu namorado fez questão de me agradar.

-Oxum! –Eu havia jogado água nele, brincando, e ele desviou. – Você vai ver só! –Ele mergulhou no rio em que estávamos e nadou em minha direção. Eu também nadava, fugindo.

-Você precisa ser mais rápido que isso, Odé! –Eu disse. Finalmente, ele havia me alcançado, e nós dois riamos, felizes. Ao fim dos risos, demos um beijo umedecido pela água.

-Você é lindíssima. Eu tenho muita sorte de conhecer você.

-Eu sou a verdadeira sortuda. Eu queria muito poder te apresentar ao meu pai, mas de forma nenhuma ele aceitaria nosso namoro agora.

-Mesmo eu sendo um príncipe?

-Ele acha que eu sou muito nova, sente muito ciúme.

-Bom, isso não nos impede de aproveitarmos um ao outro. –Oxossi beijou meu pescoço, despertando minha libido. Apesar de querer que ele continuasse, eu estava envergonhada. –O que foi? – Ele havia reparado minha vergonha.

-É que... Eu... -Eu não conseguia olhar em seu olhos. - Eu nunca...

-Tá tudo bem. –Ele levantou meu rosto. –Não precisa ficar nervosa.

Eu provavelmente não aceitaria fazer amor com ele em outras circunstâncias, mas o fato de estarmos dentro do rio me conquistou fortemente. Oxossi era um caçador, e eu, sua presa. Uma presa fácil, que fazia questão de entrar em sua armadilha.