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História Volterra - Fiame Bianche; único


Escrita por: sbklight

Notas do Autor


Boa noite! Deixarei agradecimentos nas notas finais, por enquanto, apenas informo que e essa fanfic se passa no mesmo universo de Partigiano, acontece que eu meti uns conceitos de reencarnação, o que não é novidade para quem já leu outras fics minhas hehe, Timoteo Martini, nosso Sehunzinho noviço, é tio avô de Giuseppe Martini, o Baekzinho de Partigiano!

Capítulo 1 - Fiame Bianche; único


 

 

“Era bello il cielo d'inverno come i tuoi denti
(Era belo o céu do inverno como os seus dentes)
Era bello sentire le tue mani fredde cercare qualcosa di me
(Era belo sentir as suas mãos frias buscando algo em mim)”
Il Mondo Prima – Tre Allegri Ragazzi Morti

 

 

Monreale, Sicilia – 1886

 

Sempre que terminava de proferir as preces em latim, Timoteo abria os olhos e encarava o teto. Seus joelhos já doíam pelo tempo em que se sustentaram no chão de pedra, mas ele permanecia lá o quanto pudesse. Ele acreditava ser merecedor da dor que aquilo causava, era digno de punição. Os olhos mirados lá em cima pareciam implorar a Deus por sua misericórdia. Porque Timoteo se sentia sujo, não gostava de quem era. Então imaginava que Deus também devia não gostar.

Era o que qualquer um que ele conhecia diria, se soubesse o que ele escondia entre o crucifixo em seu peito e a subserviência à palavra do Senhor.

Não que fosse escolha sua, ele já fizera o possível e o impossível para tentar mudar isso; nada bastava, apenas fazia queimar mais aquele inferno que era viver achando que havia algo errado com ele. Então restava chorar a cada prece e implorar pelo perdão de Deus. Sentia-se uma fraude, um verdadeiro impostor. Era como se mentisse a todos ao fazer com que acreditassem em sua moral cristã. Timoteo Martini acreditava ser o maior dos hipócritas, e carregaria a culpa disso até o fim de sua vida.

Sendo um solícito noviço, com o destino prometido pela família à fé, os dias de Martini se resumiam à religião. Na verdade, dependiam dela, porque era ao que ele se agarrava para a possibilidade de um perdão divino confortar um pouco a sua cabeça atordoada pela quase certeza de que iria para o inferno, afirmada pela mesma religião a que ele se dedicava tanto. Talvez Deus tivesse mais misericórdia ao ver seu empenho ao destinar a vida à fé. Talvez Deus o perdoasse, pois sabia que ele realmente tentava mudar quem era.

Timoteo cometia apenas três pecados: comia carne, bebia vinho, e desejava homens.

Certamente muito menos do que a maioria das pessoas que conhecia, mas um deles era grave o suficiente para afastá-lo da graça divina. Porque nem mesmo aqueles mais desonestos no comércio, ou aqueles que blasfemavam despudoradamente, cometiam aquilo que o rapaz sentia ser algo tão terrível. Não era porque ele achava que pessoas assim deviam ir para o inferno. Se o perguntassem, diria que não. Entretanto, ele cresceu aprendendo que aqueles que desejavam a um igual só poderiam ter o destino das trevas.

Ele acreditava nisso. E sofria por não entender o motivo de Deus odiá-lo por algo assim. Por mais que tivesse fé na sabedoria divina, não conseguia ver razão em seu pecado; não fazia mal a ninguém. Ainda assim, respeitava a vontade superior. Restava somente lamentar-se e implorar por perdão, mesmo sem saber o porquê de aquilo ser errado.

Sua família era pobre. Os Martini eram humildes comerciantes da periferia de Monreale, vendiam ovos e os poucos legumes que plantavam em sua propriedade. Seu pai e seu irmão mais velho ainda eram ferreiros. Certamente não era nada fácil sustentar uma família grande. Quando Timoteo ainda estava na barriga da mãe, ele já tivera a sua vida prometida à igreja. Seus pais fizeram um compromisso com o convento de San Martino Delle Scale, o garoto seria um servo de Deus, iria se dedicar exclusivamente à carreira religiosa. Desde cedo, seria ensinado sobre a palavra divina, para então se tornar um noviço e, mais tarde, frei. Em troca, a família receberia uma pequena ajuda financeira da igreja a cada ano.

Timoteo sentia-se vendido. Como se seus pais se limitassem a vê-lo como uma forma de comprar alguns legumes e carnes a mais no fim do ano. Coisa que atestava a sua impressão era a diferença entre a forma com que travam a si e a seu irmão. Matteo sempre fora o filho predileto, isso era notável, seu pai o ensinou o ofício de um ferreiro desde cedo. Enquanto o mais novo era tratado em uma constante repressão, onde não podia fazer nada além de rezar e fazer as tarefas domésticas. Com seis anos já tinha que se ajoelhar na pedra fria para escovar o chão. E que fizesse de modo impecável! Porque, se sua mãe achasse que tinha sido mal feito, o castigo seria físico.

Por conta da constância dessas tarefas desde pequeno, nunca houve um único dia em que seus joelhos não estivessem com hematomas; roxos, verdes, amarelos... Era cruel. Com doze anos já foi mandado para o convento, e a pior parte nem era ter que continuar se ajoelhando para limpar o piso. O terror, na verdade, ocorria durante a madrugada, quando mãos o calavam e o ameaçavam para garantir o seu silêncio. Aquelas vozes repugnantes, de homens e mulheres, diziam que, se alguém soubesse do que acontecia, ele teria que ir embora. E como um garoto poderia reagir quando ouvia um “Como você vai explicar à sua família que eles irão passar fome por sua causa?”.

Timoteo tinha medo. E, por mais que parte de si sentisse a frieza por parte da própria família, ele cresceu ouvindo que tinha algum tipo de obrigação com eles. Lembrava-se claramente de sua mãe dizendo que ele deveria ser eternamente grato por “desperdiçarem comida” com ele. Isso porque ele era uma criança pequena, sem tanta força, e vez ou outra acabava se machucando ao fazer alguma tarefa em casa. Mesmo assim, o sentimento de dever de Timoteo o fazia suportar o inferno a que era submetido entre as paredes daquele convento, de onde nada saía.

O rapaz aprendeu a se defender somente com quinze anos. Foi quando passou a assumir uma postura completamente agressiva com todos aqueles que tentavam tocá-lo. E Timoteo não se orgulhava de dormir com a faca que pegou da cozinha escondida sob o colchão, mas era necessário. Ninguém mais ousou tentar mexer com ele, porque seu sono era leve, e ele era rápido em saltar da cama com a arma branca na mão a cada vez que abriam a porta do seu quarto à noite. Ele a apontava na direção do intruso, ordenando que fosse embora. As pessoas até mesmo evitavam passar perto dali.

Mas o inferno que teve fim deu lugar a outro. Foi com dezessete anos, ao ser oficialmente nomeado como noviço juntamente com outros rapazes, que Timoteo conheceu um garoto. Eles tinham a mesma idade e a mesma ordem no convento. Martini jamais disse isso em voz alta, mas aquela foi a primeira vez em que sentiu desejo. Ele não sabia bem se era a gentileza do moço, ou alguma de suas diversas outras qualidades, mas ele trouxe sentimentos a Timoteo. Certamente, não tentou qualquer aproximação que não fosse puramente amistosa, e deixou que aquelas sensações despertadas em si morressem assim que o rapaz partiu para um convento no norte do reino italiano.

Aquela situação trouxe a descoberta que atormentaria a moral cristã de Timoteo: ele gostava de homens. E definitivamente foi tortuoso quando o pensamento sobre ir ao inferno o atingiu pela primeira vez... Porque nunca mais abandonou a sua mente. E ele sofria diariamente por pensar nisso.

As dores nos joelhos não eram nada perto de todo o pavor em sua mente, por todos os infernos que já passou. E ele tinha certeza disso a cada vez que se ajoelhava para rezar, como fazia naquele exato momento, no seu quarto, mas na casa da sua família. Timoteo estava a alguns dias de abandonar a ordem de noviço, para então se tornar um frei. Portanto, foi mandado para passar alguns dias com a família. Depois disso, dificilmente deixaria o convento outra vez.

Quando terminou sua prece, o rapaz se levantou e buscou um pouco de dignidade ao secar o rosto com as mangas da camisa; as lágrimas, já misturadas ao suor, umedeceram o tecido branco. Precisava de água, ou então o calor e a tontura o derrubariam ali mesmo. Ele caminhava lentamente até a cozinha, com a mão protegendo a chama da vela que carregava, e olhava para os lados, certificando-se de que não havia acordado ninguém. Assim que pôs a caneca metálica sob a torneira do filtro de barro, ouviu a voz de sua mãe e se assustou.

— Está tarde, vá dormir — exigiu a matriarca. — Amanhã você parte cedo.

O problema era esse: tinha que retornar ao convento. E, por mais que odiasse viver com seu pai e sua mãe, não gostava de viver naquele lugar. Tampouco queria seguir uma carreira religiosa. Honestamente, ele não tinha ideia de qual era sua verdadeira paixão, porque desde sempre só fora apresentado ao caminho da fé. E, tudo bem, ele era extremamente fiel a Deus, mas restringir a vida à sua palavra não estava nos planos de Timoteo.

— Não sei se quero voltar — respondeu baixo, já levando a caneca aos lábios para esconder o rosto.

— O que você está falando?! É claro que você precisa voltar! Seu destino é servir, pela sua família. — A cada palavra, o garoto encolhia mais os ombros. — A mulher de seu irmão está esperando o segundo filho, como você não consegue pensar nisso? Está querendo colocar as suas vontades à frente da necessidade da sua família?

Se fosse somente por sua mãe ou seu pai, ele não ligaria tanto. Mas a carta jogada foi seu irmão. Falando de Matteo, Donatella, o pequeno Stefano, e o bebê que estava por vir, a conversa já era totalmente diferente. Eles sim eram como uma família para Timoteo, seu irmão sempre o tratou tão bem, assim como a esposa. Era crueldade utilizá-los para chantagear o noviço. Isso tinha algum efeito sobre ele, porque não houve qualquer capacidade de pensar racionalmente, e assim ele se calou, tomando as palavras da mãe como uma verdade.

Pelo menos por enquanto.

— Eu sei... Sinto muito. — O garoto deixou os olhos caírem para os próprios pés. — Vou dormir, boa noite.

A mulher não disse mais nada, e ele somente voltou para o seu quarto. Entretanto, não foi, de fato, descansar. Na verdade, parou um pouco na janela para observar os fundos da casa. Ignorava os canteiros artificiais para prestar atenção no solo seco, quase arenoso. O clima no sul era quente, abafado, ele odiava. O calor era infernal, o sol parecia queimar a sua pele com gosto quando era dia, e ainda fazia questão de deixar aquele rastro de mormaço à noite. Era terrível de todas as formas. Timoteo não gostava de viver ali. Não bastaria deixar o convento ou a casa da sua família; tinha que deixar a Sicília.

Martini não sabia exatamente a razão para uma vontade súbita de agir estar apertando tanto o seu peito. Ele sabia que precisava fazer algo, não tinha a menor ideia do que era ou para quê. Mas não teria como se acalmar até entender. Foi apenas ao olhar para o dinheiro que tinha deixado sobre a cômoda que ele descobriu o seu verdadeiro destino. E ele não tinha absolutamente nada a ver com a fé.

Timoteo recebia um valor do convento mensalmente, era uma miséria, mas ele mandava para a família sempre que podia. Ele deixaria aquele valor ali para que a sua mãe comprasse taças novas. Mas o rapaz percebeu que sua mãe não precisava de taças.

Era ele que precisava de uma vida.

Sem pensar muito, colocou suas coisas dentro da mala e o dinheiro no bolso. Para não correr o risco de acordar ninguém, saiu pela janela e se esgueirou pelo quintal até a estrada. De lá, pôde ver o pequeno Stefano brincando com o cachorro na porta de casa. Com quase sete anos, o menino já era um tantinho independente. Quando avistou o tio, ele acabou o chamando.

— Tio! Aonde você vai?!

Rapidamente, o mais velho fez sinal para que ele fizesse silêncio. Por sorte, ninguém acordou. Timoteo não era louco de dizer que iria fugir, ainda mais porque ainda nem sabia para onde ia. Então buscou a melhor resposta.

— Eu vou morrer, Stefano — respondeu com um sorriso.

Não iria morrer, mas preferia que o menino dissesse isso à família, seria conveniente que eles interpretassem como bem entendessem. Tecnicamente, estaria morto para seus pais. Doía apenas o fato de que seria um adeus para o seu irmão.

— O que é morrer, tio?

De fato, era estupidez dizer isso a uma criança que ainda não entendia o que a morte significava.

— Eu vou virar uma estrelinha, diga isso aos seus avós!

Dito isso, Timoteo correu para chegar o mais rápido possível na estação de trem mais próxima.

 

Volterra, Toscana – 1886

 

Timoteo gastou todo o seu dinheiro em passagens de trem. Quando já chegava longe, queria ir mais longe ainda. O mais distante possível da Sicília. Entretanto, sua última lira foi gasta em uma passagem de Florença para Volterra. Perdido na estação, sem ter para onde ir e sem nem saber o que fazer, o desespero consumiu o rapaz por inteiro. Estranhamente, ao mesmo tempo, uma sensação de liberdade o fazia querer gritar. Estava tão limítrofe, entre o caos e a ordem.

O sol tinha acabado de nascer, e sua barriga já doía de fome. Ainda assim, ele se sentia agradecido, de certo modo, por estar longe de suas correntes. Seu único medo era relacionado ao fato de não saber o que fazer, a fome não o deixava pensar. Talvez fosse boa ideia deitar no banco e fechar os olhos por um tempinho, pelo menos até a dor passar e suas pálpebras pararem de pesar tanto. Até lá, conseguiria encontrar alguma forma de resolver seu problema... Ou pelo menos tentar.

Com a cabeça encostada na madeira áspera, as orbes já marejadas — pelo que ele não sabia distinguir entre a felicidade e o medo — e a respiração fraca, Timoteo sentia-se em uma espécie de limbo, sem uma direção exata, mas não conseguia se arrepender de ter fugido. Ele seria o dono do próprio destino, não importa o quanto fosse difícil, era melhor do que deixar na mão de qualquer outra pessoa. Nunca se sentiu tão vivo antes. O seu estado mental era indescritível, ele estava confuso. Martini não tinha a menor ideia de como agir. Talvez pudesse procurar um trabalho... Mas ele não sabia fazer nada além de limpar e falar latim. E era loucura pensar que ele encontraria uma ocupação naquele mesmo dia, o que significava que iria dormir com fome. Esse pensamento fez a primeira lágrima descer por seu rosto.

Era angustiante, mas ele daria um jeito.

Acontece que, aparentemente, Deus não o odiava tanto quanto ele pensava. Porque, quase como se pudesse adivinhar a necessidade que o rapaz estava passando, talvez tenha sido ele quem mandou o que seria a sua salvação. Uma sombra se fez presente, impedindo que a luz do sol seguisse tocando a pele do noviço. Com isso, Timoteo abriu os olhos, e assustou-se ao encontrar um homem à sua frente. Não conseguia ver bem seu rosto, o capuz grande cobria até parte do nariz. Havia uma certa apreensão com a presença desconhecida, mas não chegava a ser medo.

— Posso ajudar? — perguntou ao estranho, segurando a mala com firmeza, tamanho o medo de ser roubado.

— Qual é o seu nome? — A sua pergunta fora ignorada. E o homem, apesar de ser relativamente bem menor do que Timoteo, tinha uma postura intimidante.

Martini não era estúpido, e ainda era alguém com algumas paranoias constantes. Uma delas dizia que alguém — fosse de sua família, fosse do convento — iria atrás dele, e que ele seria punido por ter fugido. Mesmo sabendo que ninguém poderia fazer nada com ele, a possibilidade o assustava. Portanto, não seria burro de usar seu nome verdadeiro.

— Sehun — mentiu —, por quê? Quem é você?

Aquele era o nome de um guerreiro asiático que ele leu em um de seus livros favoritos. Justamente um daqueles proibidos pela igreja. Não era uma ideia tão boa, porque ele tinha que torcer muito para que aquele cara não conhecesse a história do livro. Mas foi a melhor saída em que ele conseguiu pensar. Ainda era melhor do que arriscar dizendo a verdade.

— Meu nome é Kyungsoo. — Tomou a liberdade de se sentar ao lado de Sehun. — Perdão se te assustei, mas eu vi você de longe... E não me parecia estar bem. Precisa de ajuda?

— Não preciso, obrigado. Eu estou ótimo.

Foi então que o rapaz reparou que o homem carregava uma cesta de madeira, ela não estava totalmente fechada, tamanha a quantia de verduras ali dentro. E, bem, se carregava comida, acabava de certa forma chamando a atenção de Timoteo, e certamente não era somente porque as chances de alguém que estava especificamente atrás dele se tornavam menores. Na verdade, Martini abandonou a apreensão de estar diante de alguém mal-intencionado.

— Você tem certeza? Eu não acho que alguém que estava chorando esteja ótimo.

Sehun respirou fundo. Ele não era tão bom assim em esconder a sua frustração em meio ao desespero causado pela fome e a dor que esmagava cada parte de seu corpo, claro, depois de cinco dias viajando de trem. Obviamente não era louco de dizer que ele fugiu do convento quando estava prestes a se tornar frei, tampouco que fugiu do acordo — lê-se venda — que sua família fez com o convento. Aparentemente aquele tipo de oferta era bem comum em comunidades humildes, era um método bem fácil de angariar cabeças para a instituição.

— É... Na verdade, eu estou péssimo. A minha barriga queima de fome, a sede é terrível, e eu mataria por um banho e um lugar para dormir que não seja um banco de madeira. — Depois de jogar tudo aquilo de uma vez, ele acabou se envergonhando por falar demais. — Perdão... Minha cabeça não está muito boa também.

Kyungsoo riu e colocou a mão na cesta para procurar algo. De lá, tirou uma maçã e entregou ao maior. Os olhos de Timoteo se arregalaram um pouco, surpreso com o gesto gentil, mas ele aceitou a fruta e abaixou a cabeça minimamente em sinal de respeito.

— Muito obrigado, que Deus lhe pague — agradeceu e deu a primeira mordida na maçã.

— Você está longe de casa? — perguntou Kyungsoo logo em seguida, quase como se ignorasse o agradecimento.

— Sim.

— E não tem como voltar?

— Eu não quero voltar... Não posso! — o loiro respondeu com certo desespero. — Voltar para casa está fora de cogitação.

— Cometeu algum crime e está fugindo? — Kyungsoo riu outra vez.

— Não exatamente. Problemas com a família...

— Entendi... Eu sinto muito por isso. — Seu tom era gentil, e parecia ser sincero, Timoteo encontrou certo conforto. — Então você não tem para onde ir?

— Não... Eu preciso arrumar um trabalho, não sei, um lugar para dormir essa noite já seria perfeito.

— Venha comigo, Sehun! — O homem se levantou, olhando diretamente nos olhos do outro rapaz, dessa vez o capuz já não escondia seu rosto. — Eu posso te ajudar.

— Você... — tentou falar, mas foi interrompido.

— Confie em mim, eu sirvo a um homem muito bom. Meu senhor tem muito dinheiro, ele não irá se negar a te dar um trabalho, e você vai ter onde ficar!

— Você tem certeza de que isso é possível?

— Que outra opção você tem, Sehun?

Kyungsoo tinha razão. Davvero, Sehun não tinha qualquer outra esperança a qual podia se agarrar, nenhum outro lugar para ir, ou qualquer outra direção para tomar. Sua única chance era apostar naquele homem.

E ele apostou. Seguiu o desconhecido por uns bons minutos, até estarem em uma estrada que se elevava sutilmente sobre um monte.

Os pés de Sehun tremiam conforme ele avançava sobre o caminho de pedra, e o enorme castelo ia ficando cada vez maior. Ele não conseguia entender a postura relaxada de Kyungsoo diante de uma construção tão imponente e de aura tão obscura. E, pior ainda, com todos aqueles gritos. Pessoas esparsas em frente ao portão do castelo, segurando cruzes, foices e forcados, enquanto rezavam e declaravam ódio contra alguma figura profana. Foi uma das situações mais assustadoras que Martini presenciou em sua medíocre vida.

O mais bizarro, entretanto, foi o modo como se afastaram abruptamente ao notarem a sua aproximação e de Kyungsoo. Usavam aqueles crucifixos como escudos, como se tentassem se proteger. Certamente era por conta do sujeito encapuzado, que já escondia novamente o rosto inteiro sob a sombra do tecido carmesim. Seria ridículo pensar que, de alguma forma, temiam a Sehun. Com as feições assustadas e aquelas roupas sujas, ele era uma figura fraca; digna de pena.

— Quem são aquelas pessoas?

— Paisanos amedrontados, fanáticos religiosos... Chame-os como quiser, mas mantenha-se longe.

Eles atravessaram a eclusa, e quando o segundo portão se fechou, Timoteo sentiu que já não tinha volta. Se antes não tinha medo, agora estava apavorado. Quem devia ser o dono daquele lugar imenso?

— Eu vou te levar até o seu quarto, você pode tomar um banho se quiser, vou levar roupas limpas para você.

— Muito obrigado, Kyungsoo, é muita gentileza! — Apesar de toda a apreensão, não iria fugir, sentia-se verdadeiramente grato por aquela oportunidade.

Era um ótimo começo para quem acabara de se tornar dono do próprio destino.

— Eu vou falar com o meu senhor, mas é provável que você tenha que ajudar na limpeza... A empregada já é de idade e não dá conta sozinha. Você acha que pode se encarregar disso?

— E-eu posso sim! — Não diria que era uma das poucas coisas que sabia fazer. Era triste ter que continuar se ajoelhando para limpar o chão, a diferença era que agora tinha um mínimo controle sobre sua própria vida.

— Preciso te alertar sobre algumas coisas, Sehun. — Kyungsoo abriu uma grande porta de mogno e deixou que o noviço entrasse primeiro. O rapaz ficou maravilhado com o interior do castelo, era tudo tão inalcançável para alguém como ele. — Você pode entrar e sair daqui quando bem entender, pode ir até a cidade ou onde quiser, mas você não deve trazer absolutamente ninguém para cá. Jamais deixe qualquer pessoa entrar sem me consultar, você entendeu?

— Sim, senhor.

— Agora... Algo muito importante. — Ele guiava o menino entre os corredores escuros, eles eram muito maiores do que qualquer lugar em que Sehun já esteve, e havia um eco perturbador lá dentro. Era de se questionar o fato de não haver praticamente nenhuma janela lá dentro. — Jamais olhe nosso mestre diretamente nos olhos.

— Como é? — Timoteo arregalou os olhos, quase não acreditava no que acabara de ouvir.

— Apenas olhe para baixo quando estiver conversando com ele, entendeu? Não olhe para os olhos dele, nunca.

— Tudo bem...

Os dois chegaram ao local onde supostamente seria destinado ao novo empregado. Era pequeno e frio, as paredes eram de pedra. Entretanto, era o único lugar do castelo que Sehun viu, até então, decentemente iluminado. A janela tinha um tamanho considerável e estava aberta. Os lençóis limpos sobre a cama criavam uma atmosfera confortável. Era melhor do que no convento, onde o cheiro de mofo impregnava as paredes, e os lençóis tinham manchas horrendas.

— Sinta-se à vontade. Volto aqui em alguns minutos, mas por hoje você pode descansar.

— Kyungsoo, posso fazer uma pergunta? — questionou o maior, antes que o homem deixasse o cômodo.

— Diga.

— Como é o nome do homem a quem irei servir? Quem é ele?

— Lorde Baekhyun Daeva. Não o chame pelo nome. Refira-se a ele como senhor ou mestre, nada além disso. Fui claro? — Aquela frieza com que Kyungsoo respondeu sua pergunta foi como uma lâmina no estômago. Seus olhos, então, se fixaram no crucifixo que Sehun carregava em seu peito. Ele era de prata, bem pequeno, preso por uma corrente delicada. — E eu recomendo que você deixe isso por baixo da camisa, ou então que o guarde. Não é nada pessoal, é que a prata é mortal para o seu senhor.

— Ah... Sim, eu entendo. Ele é alérgico à prata?

— É — Kyungsoo respondeu, já andando até a porta. — Mais ou menos isso.

 

(...)

 

Na primeira vez em que Timoteo viu Baekhyun foi em uma manhã fria. Ele estava em uma pequena escada de madeira, tirando o pó de uma das cortinas do maior corredor daquele castelo. Não era um trabalho tortuoso, nem mesmo maçante. Kyungsoo era rígido ao passar as tarefas do dia para o rapaz, mas nunca eram em grande quantia. Sem falar que ele basicamente ficava com o trabalho que a empregada — uma senhora de idade — já não conseguia executar. Isso envolvia limpar coisas altas, esfregar o chão, lavar os tapetes, ou qualquer outra atividade que exigisse um maior esforço físico. Geralmente ele tinha umas três tarefas por dia. Não era tão rápido conclui-las, considerando o tamanho daquele castelo. Mas já era bem melhor do que no convento, onde os noviços tinham que fazer tudo todos os dias. Era cansativo demais.

Naquela manhã, Sehun esfregava a cortina delicadamente com um pano, tinha medo de quebrar o suporte, a madeira parecia ser fraca. Ele já estava um tanto aéreo, a mente em qualquer outro lugar, exceto ali. Às vezes seus pensamentos eram um pouco abstratos, ele tentava imaginar como aqueles corredores seriam com mais janelas, com mais luz, e se perguntava sobre o motivo de não haver quase nenhuma ali. Talvez Lorde Daeva não gostasse de tanta claridade, mas... Por quê? Aquele lugar era tão frio, mesmo no verão, devia ser insuportável no inverno. Se ele não tivesse uma lareira em seus aposentos, Timoteo estava certo de que não suportaria aos meses de frio.

Isso despertava uma curiosidade sobre como deveria ser Baekhyun. Já tinha mais de uma semana que Timoteo estava lá, e ainda não tivera a oportunidade de conhecer o homem a quem servia. Imaginava que pudesse ser alguém velho, talvez pela exigência de Kyungsoo para que não o olhasse diretamente nos olhos, ou pela aversão à claridade, talvez até pela sensibilidade à prata, embora isso não fizesse tanto sentido. Era divertido, e um tanto assustador, pensar sobre, algo que costumava consumir bons minutos de seus últimos dias.

E o que o distraiu de seguir pensando sobre como poderia ser seu senhor foi algo atípico no silencioso castelo toscano. Vozes. Dificilmente alguma voz era ouvida além da de Kyungsoo. Mas Sehun ouviu a voz de mais alguém. E definitivamente não era a de um homem velho.

Ele virou seu rosto na direção do som. Encontrou um rapaz conversando com Kyungsoo. Estavam longe, próximos à porta da biblioteca, mas era possível ter uma boa percepção do sujeito. Suas vestes não estavam à vista, uma capa longa e preta as cobria, e se estendia a talvez um metro no chão, atrás de seu dono. Seu rosto, no entanto, era o que mais chamava a atenção — era de se supor, afinal. Seus traços eram delicados, a pele pálida se aproximava da porcelana, chegava até mesmo a possuir um aspecto mórbido. Os fios negros, do tom mais escuro, caíam sobre sua testa, chegando a cobrir uma parte dos olhos, dos quais era difícil identificar alguma coloração naquela distância. Mas ele era frio, no sentido literal da palavra, e não em um mero distanciamento emocional, esse era o único fato passível de dedução.

Sehun nunca viu alguém como aquele homem. Isso o assustava.

A única característica minimamente calorosa que o noviço pôde encontrar naquele sujeito foi a sua voz. Ela era confortável à pele que se arrepiava pelo tom dominante, intrigante aos ouvidos que temiam diante de tanta imponência, e agradável a audição que ansiava por saber mais daquele que a possuía.

— Sinto muito que esse infortúnio tenha perturbado o seu sono, meu senhor. — Kyungsoo se curvava respeitosamente. — Farei tudo o que estiver ao meu alcance para que jamais se repita.

Aquele era Baekhyun Daeva?

— Será de bom senso, obrigado — respondeu o outro. Sehun permanecia encarando, algo naquele rapaz o prendia, ele não conseguia não olhar. — Agora, se me dá licença, retornarei ao meu descanso.

— Sim, senhor!

Perturbar o sono? Descanso? Por Deus, era meio-dia. Talvez fosse uma conclusão precipitada a partir de eventos isolados, ainda que o fato de que Timoteo jamais viu Baekhyun naquele castelo corroborasse a suposição. Mas a mera possibilidade de que aquele homem tenha trocado a noite pelo dia tornava as coisas muito apavorantes. Mais do que elas já eram no dia em que Sehun chegou naquele lugar. Como alguém podia dispensar a luz do dia para viver durante o breu da noite?

Antes de deixar o corredor, o Lorde se virou na direção do empregado, que se assustou ao ser flagrado enquanto o observava. Martini teria caído da escada, se já não estivesse apoiado na parede. Seu coração acelerou por conta da adrenalina, e ele rapidamente voltou a atenção à sua tarefa: tirar o pó da cortina. Assim, tudo o que restou foi contar os passos que ecoavam entre as pedras frias até que Baekhyun sumisse de vista.

Kyungsoo se aproximou, e Sehun teve a certeza de que seria repreendido por ter olhado diretamente para o rosto de seu senhor. Pelo menos, não o encarou nos olhos, o que já seria uma defesa útil.

— Você está bem, Sehun?

— Sim, estou! — Tentou disfarçar, aliviado por não receber uma represália. Se possível, até mesmo fingiria que não um ouviu uma única vogal daquela conversa.

— Eu preciso que você preste atenção nisso, se você encontrar algum desconhecido aqui dentro, ou em qualquer lugar entre os muros, grite. Não hesite em gritar por ajuda, ou então se defender. Mas não deixe que se aproxime de nosso senhor. — Aquelas instruções deixavam Timoteo um pouco perturbado, sem entender a gravidade da situação para que elas sejam necessárias. — Pessoas estão conseguindo entrar aqui, e elas não vão pensar antes de ferir a qualquer um, inclusive você. Entendeu?

— Entendi, com certeza.

Às vezes Sehun se perguntava sobre com o que acabou se envolvendo. Mas, certamente, o medo constante por conta do mistério era muito melhor que uma vida de medo fadada por correntes e imposições morais. Era melhor ter a liberdade para sentir o medo, e não ter de escondê-lo.

 

(...)

 

Na segunda vez em que Timoteo viu Baekhyun, era noite e estava chovendo. Chuvas tão intensas, com tantos trovões, não eram comuns onde ele vivia. Ele definitivamente não estava acostumado, e talvez toda aquela umidade, o barulho... tudo o atormentava. Era difícil conseguir dormir. Sehun não sabia se tinha frio ou calor, revirando-se sob o lençol, apenas sabia que não seria capaz de fechar os olhos naquele desconforto terrível. Era inútil insistir em tentar descansar, quando estava agonizando a cada trovão, a tempestade parecia não ter fim.

Buscando uma forma de se acalmar, Martini pensou em tomar um chá. As ervas cultivadas na horta do castelo eram maravilhosas e, nutrindo essa ideia, ele resolveu ir até a cozinha para preparar a bebida quente. Chegando lá, colocou a água com algumas folhas para ferver no fogão à lenha, então apoiou os braços no balcão, enquanto aguardava pelo característico som da chaleira.

O barulho da chuva, até o momento, era a única coisa que preenchia o ambiente. Apesar de se sentir perturbado pelos trovões esporádicos, havia certo comodismo em ouvir o som das gotas caindo com força abafado pelas paredes de pedra. Entretanto, algo atípico tomou sua audição. A porta da cozinha que dava acesso externo do castelo se abriu com certa força, revelando a figura de um homem. Sehun saltou de susto, sem conseguir reconhecer quem estava lá, já pronto para gritar. Mas, apesar da iluminação medíocre das velas, foi possível identificar o rosto de Baekhyun. Olhando melhor, o rapaz pôde ver algo vermelho... Ao redor da boca do lorde.

Era sangue.

Aquilo tudo já não era esquisito o bastante, ainda precisava presenciar algo tão... Não havia como descrever. Era apenas um medo do absurdo que aquilo poderia representar. Talvez pudesse crer que Baekhyun havia se ferido, ou que fora atacado por alguém, até mesmo aquelas pessoas bizarras que ficavam em frente ao portão. Mas era difícil crer nisso, considerando a serenidade que Daeva carregava.

Timoteo engoliu em seco e voltou a atenção à chaleira no fogo, torcia para não ser notado no cômodo. Mas foi. E ele sentia um pavor imensurável.

— Você não devia estar aqui — disse inexpressivo, olhando para o empregado. Sehun mantinha os olhos baixos.

— Me perdoe, senhor. Eu não conseguia dormir, vim preparar um chá.

Baekhyun encarou o rapaz loiro da cabeça aos pés, não praticava julgamentos, apenas era bem incisivo ao analisar os ombros encolhidos, a nuca curvada, as mãos escondidas atrás do corpo e tantos outros detalhes que constatavam aquilo que ele já sabia. Afinal, uma criatura como aquela sabia farejar o medo.

— Beba o chá e retorne aos seus aposentos.

— Sim, senhor. — Sehun permanecia com os olhos presos no chão, evitando contato visual, mas ainda sentia a necessidade quase que desesperada de alguma afirmação que o fizesse ter a mínima sensação de que não corria perigo perto daquele homem. Era complicado dizer, mas ele não confiava em Lorde Baekhyun Daeva, tinha medo. Portanto, não conteve o próprio instinto. — O senhor está bem? Alguém o atacou?

Baekhyun riu fraco, não conseguia crer em tamanha ingenuidade. Talvez não fosse uma inocência genuína, talvez aquele garoto buscasse uma resposta que apenas o tranquilizasse. Era até preferível que o siciliano fingisse que não tinha notado tantas coisas que o levavam a uma constatação lógica, embora mística. Daria o que ele queria.

— Sim, fui atacado. Eram criaturas enormes. — Sehun não era estúpido, identificou a ironia sublime na fala. — Mas estou bem.

O noviço nada disse, tirou a chaleira do fogo e serviu o chá na caneca. Preferiu permanecer calado, fosse pelo deboche daquele homem, fosse por não ter nada bom para dizer. Agora, de costas para Baekhyun, não percebeu os passos soturnos atrás de si. Apenas segurou a respiração ao sentir o calor da voz do mais velho atingindo a sua nuca, seu corpo estava imóvel.

— Se eu fosse você, evitaria ficar perambulando por esse castelo à noite... Você vai acabar vendo coisas que não quer.

Novamente, Sehun não disse nada, não sabia reagir. Entretanto, não se sentiu desconfortável, apenas nervoso. Baekhyun, notando o silêncio, e que o outro sequer soltava o ar em seus pulmões, achou graça e riu outra vez. Depois disso, afastou-se e caminhou até a saída do cômodo.

— Bom descanso, Sehun. Se precisar dormir até mais tarde, diga a Kyungsoo que tem a minha permissão.

Sehun bebeu seu chá, mas não conseguiu dormir. Na verdade, estava ainda mais atordoado, porque não conseguia parar de pensar no rosto de Baekhyun. Ele acabou sendo vencido pela exaustão apenas quando o sol nasceu, e nem mesmo em seus sonhos foi deixado em paz. Baekhyun Daeva era perturbador, mas aguçava a curiosidade do noviço em níveis absurdos.

Talvez ele fosse tomar chá em outras madrugadas.

 

(...)

 

Embora quisesse, Sehun não teve coragem de sair do quarto à noite. Então, novamente, ficou sem ver Baekhyun por um bom tempo. Limitava-se a fazer seu serviço, ir à cidade comprar especiarias, e dar um jeito de ter uma boa noite descanso. O que nem sempre era possível, considerando que havia um horário bem específico em que seu sono ia embora, e uma vontade enorme de caminhar por aquele lugar o consumia: quatro da manhã. Até então, não conseguiu seguir o ímpeto. De certa forma, era angustiante acordar de madrugada, saber que o lorde também estava acordado, e que poderia ser facilmente encontrado no castelo, mas ter medo de procurá-lo, mesmo que ainda houvesse a vontade de vê-lo.

Timoteo sentia a culpa desses pensamentos, um homem não deveria mexer com ele de tal modo. Entretanto, era inevitável. Se ele pudesse escolher, não se sentiria atraído por alguém que o deixava com medo. Quer dizer, ele não tinha medo de ser ferido por Baekhyun, ele já tivera a oportunidade e não o fez. O seu maior medo era de descobrir aquilo que não queria. Justamente como Daeva falou. E, em oposição a isso, a curiosidade pelo sombrio o instigava.

Por que aquele homem era tão estranho? Por que aquele lugar todo era tão frio e escuro? Por que diabos havia sangue em sua boca naquela noite? Intolerância à prata...? Sim, Sehun sabia o que era um vampiro, não era estúpido. Mas, exatamente por não ser estúpido, não acreditava nessas criaturas sobrenaturais. Julgava-se alguém muito lúcido por não crer nem mesmo em possessões e exorcismos, mas somente em figuras divinas. Baekhyun definitivamente não havia de ser um vampiro, ou qualquer outro símbolo supersticioso. Martini não era entendedor da medicina, mas julgava se tratar de algum transtorno. Ele buscava qualquer explicação minimamente razoável. No fim de tudo, era na lógica que ele preferia acreditar. Crer na hipersensibilidade à luz que seu senhor podia possuir o fazia se sentir mais seguro do que cogitar a possibilidade de viver sob o teto de uma criatura que se alimentaria de toda a sua vitalidade na primeira chance.

Pensar nessas questões perturbava o noviço. E elas o atingiam toda vez em que estava ajoelhado na pedra fria, esfregando o chão. Às vezes era melhor deixar que essas preocupações o distraíssem das insuportáveis dores nos joelhos, que clamavam por algum descanso. Isso refletia em sua expressão de sofrimento, mas ele não podia parar, sequer pensava em reclamar. Servir Baekhyun foi uma oportunidade única que surgiu em um momento de imenso desespero, quase como se fosse um presente de Deus. E as coisas bizarras que ocorriam naquele castelo não eram nada perto do terror da vida que levava na Sicília.

Era livre. Inclusive livre para temer. E não seria louco de arriscar perder o que havia conquistado. Ainda não era o ideal, muito menos o que sonhava para si. Mas Sehun era novo, tinha só dezenove anos, ainda tinha tempo para saber o que queria, e o que o faria plenamente feliz.

Em algum instante, já não aguentando mais a dor, seus joelhos cederam. Seu corpo, fraco naquele momento, caiu para o lado. E ele quase não teve qualquer força para se levantar outra vez e terminar a sua tarefa — faltava tão pouco —, mas acabou vendo Baekhyun no outro lado do corredor. E Sehun sentiu que sua vida dependia de esconder a fraqueza e mostrar competência. Não queria que seu senhor se arrependesse de ter mostrado bondade ao dar a ele um trabalho, um teto, e comida.

Sustentando-se pelas mãos, sentiu seus braços tremerem pelo esforço exigido, mas pelo menos conseguiu ficar sobre os joelhos outra vez. E torceu para que a aproximação do Lorde não fosse por conta disso. No entanto, era difícil se manter calmo quando ele estava cada vez mais perto. Timoteo pediu a Deus para que não fosse mandado embora, pediu para que não fosse visto como um estorvo, e apenas abaixou a cabeça quando notou que Daeva estava próximo o suficiente. Havia uma imponência perigosa no fato de estar ajoelhado diante de Baekhyun, enquanto o outro estava em pé, e o olhando de cima.

— Algum problema, Sehun?

— Não, senhor — negou, as mãos escondidas atrás do corpo. — Apenas me desequilibrei.

A atitude do moreno assustou Sehun. Não esperava que o outro se abaixasse, tampouco que segurasse seu queixo de um jeito um tanto rude e o forçasse a encará-lo. Seus dedos eram extremamente frios, e nem foi o que mais chamou a atenção. O que menos esperava de tudo isso era ver o que viu: os olhos de Baekhyun. Era a primeira vez que reparava neles, e eles eram vermelhos. Não era um castanho que se aproximava do rubro, não, eram vermelhos escuros, tal qual sangue. Nunca havia visto nada minimamente parecido em sua vida, nunca sentiu tanto pavor. O que era aquilo?

— Olhe para mim quando eu estiver falando com você — exigiu frio.

Kyungsoo o instruiu justamente ao oposto, mas não era como se Sehun conseguisse reagir o suficiente para formular alguma frase coerente. Seu corpo inteiro tremia, sua boca estava seca e sua testa queimava. Aquilo era medo, do mais puro e explícito.

— E-eu... — Sua mirada quase não conseguia abandonar a íris carmesim do olho direito do menor, e a sua pele parecia ainda mais desumanamente branca de tão perto. Não encontrou uma única veia azul ou roxa em seu rosto, era terrivelmente como porcelana. Não havia veias nem mesmo em seus olhos. Era tão assustador. — Quem é você?

— Lorde Baekhyun Daeva — respondeu, como se fosse óbvio, e então sorriu. Era a primeira vez que fazia isso.

O coração de Sehun quase saltou para fora da boca quando ele viu os caninos proeminentes. Ele tinha presas. Martini jogou o próprio corpo para trás, enquanto empurrava Baekhyun para longe, em uma tentativa patética de se afastar. O homem gargalhava, achando tudo aquilo muito engraçado. Achava Sehun tão adorável, seu medo era lindo.

— Fique longe de mim! — gritou o rapaz, mostrando o pequeno crucifixo que carregava no peito, sob o tecido branco da camisa.

Daeva riu mais um pouco, para então ficar em pé. Tal atitude contrariou um pouco a quase certeza de Timoteo de que iria morrer ali mesmo, servindo de alimento para uma criatura nefasta. Seus olhos assustados não deixaram escapar um único movimento de Baekhyun.

— Se você sente dor, não se ajoelhe, você pode usar um esfregão para limpar o chão. — Ele olhava para os hematomas nos joelhos de Sehun, estavam expostos porque ele tinha uma mania um tanto estúpida de dobrar as barras das calças para não as molhar ao limpar o piso. — Ou não limpe, não sei por que Kyungsoo faz tanta questão. Você pode só varrer.

— V-você vai me matar? — questionou sem pensar, ajeitando as calças para esconder as pernas. Sequer entendeu o que acabara de ouvir.

— Te matar? — Baekhyun riu. — Por que eu faria isso?

— Por favor, se o senhor quiser eu sumo daqui hoje mesmo, vou para o mais longe possível e finjo que nunca o conheci, mas tenha misericórdia de mim. Não beba do meu sangue, eu imploro, me deixe viver.

— Não seja ridículo, Sehun. Você acha que eu me alimento de qualquer porcaria?

Ao ouvir aquilo, Martini quase assumiu uma expressão indignada, sentiu-se ofendido, mas logo o alívio o atingiu. Talvez fosse bom ter um sangue indigno para a apreciação de um vampiro. Ainda assim, feriu um pouco seu ego a resposta que recebeu, e Daeva parecia não sentir qualquer culpa enquanto se afastava. Apenas parou para olhar brevemente para o empregado. Jamais deixaria de achar graça naquele homem alto caído no chão, com as pernas trêmulas, os ombros encolhidos e a respiração ofegante.

— Eu não beberei seu sangue. Se eu provar dele, nenhum outro irá me satisfazer. — Baekhyun, então, retornou aos seus aposentos. E não se importou nem um pouco ao deixar para trás o outro rapaz em completo estado de choque.

 

(...)

 

Sehun quase foi embora daquele castelo. Quase sumiu da Toscana, talvez até da Itália. Mas ele decidiu ficar. Ele já aguentou coisas muito piores, e uma oportunidade não surgiria tão facilmente outra vez. Certo, o homem a quem servia era um vampiro, e Timoteo não sabia se era prudente confiar que ele não iria beber seu sangue. Mas, em outro lugar, ele talvez tivesse que lidar com outras situações ainda mais assustadoras. Por exemplo, a exploração que sofreu da própria família, os abusos dentro do convento, e a exploração que lá ocorria também. Ainda acreditava ter sorte por Baekhyun ser um homem tão compreensivo em relação ao seu estado físico e qualquer necessidade momentânea, também não era exigente, dificilmente iria servir a qualquer outra pessoa com a mesma flexibilidade. Sehun não seria idiota de chamar aquilo de bondade ou empatia, podia muito bem ser algum truque para criar alguma aproximação e atacá-lo no momento mais imprevisível. Novamente, ele não confiava em Baekhyun Daeva. Mas, entre todos os males, aquele parecia ser o mais seguro.

Muito dificilmente ele estava acordado durante o dia, e ele se mantinha vigilante. À noite, não saía de seu quarto. Trancava a porta e encaixava uma cadeira abaixo da maçaneta. Também escondia uma faca de prata sob o colchão, para utilizar em último caso. Ele não era inocente de crer que era fisicamente capaz de se defender de uma criatura daquelas, mas sendo inteligente e conhecendo as fraquezas de um vampiro, podia se manter a salvo.

Uma das coisas que notou foi que, sempre que seu crucifixo estava à mostra, Baekhyun não se aproximava. Apenas olhava, mas não chegava tão perto, e geralmente desviava o caminho. Isso já era uma boa defesa. Mas, ao mesmo tempo, havia a possibilidade de aquilo não ter qualquer efeito. O lorde podia muito bem estar fingindo que temia a figura religiosa para fazer Sehun de idiota e rir de sua cara. Timoteo sabia bem disso, porque Baekhyun era alguém com esse tipo de atitude. Aquele vampiro era terrivelmente debochado, isso irritava Martini.

Kyungsoo não sabia o que Sehun havia descoberto sobre seu senhor, e o noviço preferia que permanecesse assim. Tinha medo de ser visto como alguma ameaça por falar demais, e tudo o que ele menos precisava era dar motivos a Baekhyun para que fizesse aquilo que Timoteo mais temia.

Todavia, aquilo que Sehun odiava admitir para si mesmo era um pouco mais revelador. E falava muito mais sobre toda aquela situação do que as presas de Baekhyun Daeva. Mas ele até que gostava daquela adrenalina que o outro o fazia experimentar. Era algo que deixava seus dias um tanto emocionantes. Aquilo o fazia saber que podia sentir, no mais simples senso da palavra, e que tinha algum controle sobre a sua própria vida. Pois ao mesmo tempo em que Sehun sentia em perigo, Baekhyun ainda conseguia parecer tão indiferente, não tocava um único dedo nele, nem mesmo chegava muito perto. Na verdade, não trocaram nenhuma palavra desde aquele dia. E era por isso que o rapaz começava a sentir falta do sarcasmo grosseiro do lorde, e o coração acelerando absurdamente dentro do peito.

Ele já desistira de tentar compreender sua mente.

— Sehun! — Kyungsoo chamou da porta da cozinha, atraindo a atenção do empregado que varria o chão. — Lorde Baekhyun precisa da sua ajuda na biblioteca.

— Da minha ajuda?

— Sim, as estantes são altas, ele quer que você vá até lá e coloque os livros na ordem que ele pedir.

— Tudo bem...

Sehun obedeceu. Caminhava até o local exigido com aquela típica sensação de embrulho na barriga, e chegava a ouvir as próprias batidas, de tão forte que estavam. Era a sensação do medo e, logo, a adrenalina. Quando ele entrou no cômodo, encontrou diversos livros espalhados pela mesa, e sobre ela estavam também os pés de Baekhyun, que se sentava de modo desleixado na poltrona luxuosa. Ele tinha um pequeno sorriso tendencioso, sem mostrar os dentes.

— No que posso ser útil, senhor? — questionou, como sempre, com os olhos presos no chão e as mãos atrás das costas.

— Em muitas coisas. — E o tom zombeteiro jamais o abandonava. — Mas, agora, quero que você organize os livros para mim, não gosto da ordem em que eles estavam.

— Ah, tudo bem... Quer eles em ordem alfabética?

— Não. Comece colocando os livros de capa azul, todos juntos.

Timoteo achou aquela especificação questionável demais, mas preferiu se manter em silêncio. Era melhor evitar qualquer conflito. E, enquanto se ocupava em colocar os livros na estante, um por um, a voz de Baekhyun acabou quebrando o silêncio do ambiente.

— De que tipo de livro você gosta, Sehun?

— Eu só li a bíblia, não sou capaz de dizer — mentiu, sempre que podia se enfiava em alguma biblioteca em Monreale. Mas ele queria entender onde Baekhyun tentava chegar com aquele assunto. Era difícil demais ler as intenções do vampiro, mas elas sempre estavam lá. E não era bom revelar tanto de si.

— Tem certeza? Porque eu imagino que você tenha pelo menos lido o livro de onde tirou o seu nome.

Sehun subitamente parou de organizar os livros, ficou encarando a estante, de costas para o lorde. Sua boca estava terrivelmente seca, e ele não sabia como agir diante daquilo. Merda, Baekhyun conhecia o livro.

— Não sei do que está falando, meus pais me deram esse nome — devolveu, e continuou a fazer sua tarefa.

— Um guerreiro oriental, é? Seus pais têm um gosto bem aberto para a leitura, é bem difícil pessoas mais velhas se abrirem para livros condenados pela igreja. Onde está a sua família, Sehun?

— Minha família vive na Sicília.

— Eu me pergunto o que um rapaz tão jovem faz tão longe de casa... O que você veio buscar aqui?

Pelo tom de Baekhyun, Timoteo conseguia notar que ele sabia bem que entrava em um assunto delicado, e que conseguia descobrir a seu respeito muito mais do que ele gostaria de revelar. Quando Sehun pensava que uma resposta simples e sem explicações bastaria e encerraria os questionamentos. Mas não, a cada resposta, Baekhyun pescava alguma ponta solta, apenas para pressionar e chegar às suas fraquezas.

Talvez Daeva tentasse mostrar que não havia como esconder qualquer coisa dele.

— Eu não gostava da Sicília, apenas quis ir para algum lugar novo.

A única pessoa que sabia minimamente sobre a situação que o fez estar na Toscana era Kyungsoo. E, ainda assim, Sehun não deu detalhes, tampouco disse que fugira do convento. Era bom saber que ele não havia contado isso ao Lorde. Em contrapartida, era angustiante saber que Baekhyun estava quase conseguindo arrancar a verdade com pouquíssimo esforço.

— E a sua família sabe que você está aqui?

— O senhor quer que eu coloque os livros de que cor agora? — Martini ignorou completamente a pergunta, não queria ter que responder. Porque, se mentisse, o outro saberia.

— Organize os verdes.

Sehun se ocupou novamente com os livros, ainda em silêncio, e Baekhyun viu isso como uma tentação; um motivo para descobrir tudo o que pudesse sobre aquele garoto. Discretamente, levantou-se e foi até o mais novo, parando logo ao seu lado. O noviço agia como se aquela aproximação não fizesse tanta diferença, apenas continuou com o que fazia, sabendo que era diretamente observado. Era angustiante não ter a menor ideia do que se passava na cabeça dele.

— Você não gosta de falar sobre a sua família?

Timoteo desistiu. Apoiou os braços na estante e abaixou a cabeça. Ele bufou frustrado, ainda estava nervoso. E a adrenalina o deixava tenso. Falar a verdade talvez fosse um alívio para o seu estado ansioso.

— Não, senhor, eles não sabem que estou aqui.

Sehun, então, sentiu uma mão tocando a sua cintura e serpenteando pela lateral de seu tronco. Mesmo com o tecido da camisa, era possível notar o quanto a palma era fria. Um arrepio intenso o fez tremer e prender a respiração. Ainda assim, não olhou para o menor. Baekhyun aproximou-se o suficiente para sussurrar no ouvido do rapaz, que sentia a boca ficando seca a cada segundo.

— Então você fugiu de casa? — Aquilo fez Sehun fechar os olhos, sem saber como reagir. Mas ele já não conseguia mais se esforçar minimamente para manter sua história em segredo.

— E-eu era noviço, estava por me tornar frei... Minha família precisava do dinheiro. Mas eu não podia fazer isso.

— Ah, Sehun, isso está ficando muito interessante. — Timoteo se odiou tanto por se afetar com o jeito com que Baekhyun falava, com seus sussurros, com o jeito que ele o tocava. Sentia-se dominado, e a adrenalina que o consumiu por estar à mercê do Lorde era indescritível. — Diga, por que não podia se tornar frei? O que te fez fugir disso.

— Eu não suportaria dedicar a minha vida à fé, e mesmo assim ouvir todos os dias que eu vou para o inferno.

Daeva sorriu, estava chegando aonde queria.

Inferno? Você matou alguém, Sehun? — Ele sabia qual era o suposto pecado de Sehun, apenas queria saber como soava naqueles lábios vermelhos e vívidos.

Entretanto, não recebeu qualquer resposta sonora. Ainda com a cabeça abaixada, meneou em negação. Seus ombros se tensionaram mais quando a mão fria invadiu o tecido de sua camisa, para acariciar a sua pele diretamente. Ele tremeu, e sabia que Baekhyun havia notado. Porque o sorriso estava lá outra vez, e, novamente, aquilo não deveria afetar o siciliano tanto assim. Mas ele reconhecia a si mesmo: era fraco diante de Lorde Baekhyun Daeva.

— Você deveria saber... — A língua do vampiro deslizou brevemente pelo pescoço do rapaz loiro, que arfou baixinho, e então começou a sentir o pecado o consumindo. Cada parte de seu corpo que se despertava, e que ele jamais tocou porque ouvia que era errado, era tudo um sinal para que ele corresse. Mas ele não queria fugir. Ele queria aquilo ali, gostava do que estava acontecendo. — O inferno não existe.

— Ele existe... É para onde vão todos aqueles que não se arrependem de seus pecados — respondeu em um sussurro, sua mente era uma bagunça, nem mesmo conseguia se preocupar em distinguir o tom de voz que usava.

Baekhyun, então, segurou Sehun pelos braços e o prensou contra a estante. Ele não teve tempo para se assustar com o ato, foi logo calado da melhor forma possível. O lorde tomou seus lábios com gosto, e o noviço não encontrou qualquer motivo para resistir. O peso em suas costas parecia ter sumido, e ele se entregava facilmente aos toques do mais velho. Talvez fosse a total inexperiência, mas o aperto firme em sua cintura era algo até perigoso para a sua moral. Ele não conseguiria seguir o caminho divino, aquilo era bom demais para que Sehun não pensasse em pecar. Sem perceber, suas mãos fizeram caminho até a camisa de seda que o menor usava, e ali se agarraram, como se buscasse sustento para as próprias pernas. E foi aí que Baekhyun se afastou, mostrando os dentes e achando graça quando o outro, involuntariamente, tentou alcançar seus lábios outra vez.

Ao perceber a própria atitude, Timoteo se sentiu envergonhado. Seu rosto corou terrivelmente, e ele já se penalizava pela sua promiscuidade. Odiava a si mesmo naquele momento, fora seduzido por um vampiro que se divertia com o seu desespero, e ele nem precisou usar seu poder para isso — Daeva jamais recorreria a isso, tinha seus próprios princípios. Odiava Baekhyun por ter despertado o lado que ele mais tentava esconder. Odiava Baekhyun por ser tão atraente. E, principalmente, odiava Baekhyun por ter lhe apresentado algo que ele não conseguiria se ver sem.

— Se arrepende disso, Sehun?

Ele negou silenciosamente, outra vez. Ele queria se arrepender, mas não conseguia.

— Nesse caso, você já está no inferno. Cabe a você dizer se ele é algo tão ruim.

Sehun, pela primeira vez, como dono do próprio destino, entendeu o que aquilo significava. Não permitiria que o terror da fé o controlasse, seria quem ele queria ser, faria o que ele queria fazer. E Baekhyun se tornara uma de suas maiores vontades.

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Eu quero agradecer imensamente a @sf9feminist por, novamente, fazer uma capa tão perfeita! Deito demais para esse talento. Também quero agradecer muito muito muito a @beehcarolina pela betagem e todo o trabalho atencioso com a fanfic!


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