New Orleans, Louisiana.
08:00 AM.
Já era de manhã, os raios de luz de um novo dia estampavam sobre o rosto adormecido de Dean. Um coelho começa a fuçar umas folhas que estavam debaixo do braço do Winchester fazendo-o acordar. Dean estreita os olhos até se acostumar com a claridade. Ele se senta de lado e vê o coelho roer um biscoito caído.
- Olá amiguinho. – disse Dean segurando o coelho e depois o soltando. O loiro se levanta sentindo uma dor de cabeça semelhante a uma ressaca. - Uau! – Ele tateia o bolso da calça em busca do celular e ao ver que o aparelho estava com a tela destruída, ele solta um palavrão.
- E eu falei “Leon, para a próxima vez que a encontrar”. Sei que soou bobo, mas eu não sou idiota de ficar com um cara que não superou a ex... – disse uma mulher ao telefone que passava ali no parque, quando Dean tenta abordá-la:
- Ei, oi! Com licença! Você se importa se eu... – A mulher assustada tira uma nota de 10 dólares da bolsa e adverte:
- Só não compre bebida. – E depois retorna a sua conversa no telefone. - Eu sei, Ingrid.
Dean fica encarando o dinheiro ainda confuso, ele havia recebido uma esmola ou assaltado a mulher de forma passiva? Ele ignora os pensamentos e se foca no homem que corria com seu cachorro ouvindo música no celular, assim que ele fica perto o suficiente, Dean o aborda:
- Ei, ei, ei. Com licença. Eu não sou um vagabundo, tudo bem? Só preciso usar o telefone. Você se importa?
O homem olha receoso para Dean, afinal, ele estava sujo de terra, com o cabelo bagunçado, mas ainda assim decide ajudá-lo, tirando o celular do bolso e entregando ao Winchester.
- Obrigado. – disse Dean pegando o aparelho. - Tudo bem. – Dean disca o número de Sam que não demora para atender.
- Alô? – disse Sam na outra linha.
- Sam?
- Dean? Por que está me ligando de um número desconhecido? – questionou Sam abismado.
- Eu não tenho certeza. – respondeu Dean confuso.
- Você não tem... Espera, você não está em New Orleans?
- Também não sei. Eu... – Dean olha ao redor e vê uma placa de waffles e sorri. - Eu estou morrendo de fome. Que tal uns waffles?
- O quê? – Agora Sam era quem estava confuso.
- Pergunta idiota. Que psicopata não ama waffles? São macios. Tem espacinhos cheios de calda. É só cobrir com chantilly. Estou certo?
- Dean, onde está Bela? Não diga que... – indagou Sam ignorando os comentários culinários do irmão, já presumindo pelo pior.
- Eu sei lá. – Dean dá de ombros. - Enfim, me encontre no Waldos, tá bom?
- Ei, me... – Sam não consegue terminar de dizer, quando o irmão desliga na cara e devolve o celular ao moço.
08:41 AM.
A garçonete deixa outro prato de waffles para Dean que faz um joinha com as mãos. A seguir, Bela entra no estabelecimento, avistando Dean detonar o prato de waffles, ela suspira e depois pensa “Pelo menos o idiota está vivo!”.
- Bom dia, Dean. – disse Bela chamando a atenção do loiro, se sentando ao seu lado, ela nota que ele estava completamente sujo. - Céus! Como não te expulsaram daqui ainda? – disse ela segurando a manga da jaqueta de Dean apenas com a ponta dos dedos.
- Estou pagando. – respondeu o loiro tirando os 10 dólares que ele havia recebido mais cedo de manhã e depois guardando de volta. - Ei, você por acaso não teria alguma... - Ele aponta para a própria cabeça. - Aspirina com você?
- Sim, eu tenho. Depois que o Sam me ligou. Achei que você iria precisar delas. – Bela retira o potinho de aspirinas do casaco e depois entrega a Dean.
- Por que o Sammy te ligaria? – questionou Dean abrindo o potinho de aspirinas. Aquilo não fazia sentido.
- Porque você ligou para ele mais cedo? E ele ligou para mim bancando o advogado de acusação? – respondeu Bela o óbvio.
- Eu liguei para ele? – perguntou Dean fazendo uma careta.
- Ontem foi tão difícil assim? – perguntou Bela se referindo ao franco-atirador, imaginando que Dean possa ter sido nocauteado, isso explicaria o porquê ele estava parecendo um vagabundo.
- Manhã difícil. - respondeu Dean tomando uma aspirina.
- O que aconteceu depois que você me deixou na suíte?
- Não sei. – disse Dean dando de ombros.
- Como não sabe? – questionou Bela franzindo a sobrancelha.
- Acho que apaguei. E a julgar por essa ressaca, foi épico. Espera, eu te deixei na suíte? Agora as peças estão se encaixando... – Dean dá um sorriso sacana.
- Ok, você está pior do que Sam descreveu. Você realmente não lembra que viemos roubar o Livro dos Condenados e que você me deixou na suíte para procurar o franco-atirador? – disse Bela sendo o mais clara possível para situar Dean.
- Claro. Claro. – disse Dean dando um sorriso sem graça. - Sim, o esquema do livro dos condenados. O franco-atirador. Como esquecer?
- Bem, espero que saiba responder se conseguiu lidar com o franco-atirador ou devo presumir que superestimei sua competência? – alfinetou Bela apenas para irritá-lo, por tê-la feito passar a noite em claro, alternando entre ligar para telefonista e tentar consultar os espíritos em busca da localização de Dean sem sucesso.
- Olha, primeiro, esqueceu de com quem está falando? Segundo, eu posso caçar qualquer coisa com uma mão amarrada nas costas. Terceiro, eu não sei, mas se estou aqui e o atirador não está, então tire suas conclusões... – rebateu Dean arrancando com o garfo um pedaço de waffles e depois mastigando enquanto encara a ladra com um olhar convencido.
Bela revira os olhos.
- Tudo bem. Apenas termine logo isso e vamos logo retornar para o bunker com o livro antes que surjam mais problemas ou posso deixar você ter um momento a sós com os waffles... – disse Bela apontando para o prato e depois se levantando do banco.
- Está bem. – Dean solta o garfo. - Espera aí. – Dean pega um guardanapo de papel e limpa a boca.
- Você pagou? – perguntou Bela vendo que Dean iria sair sem pagar.
- Opa, não. Certo. – Ele tira a nota de 10 e joga sobre o balcão. Bela apenas meneia a cabeça em reprovação.
Os dois saem do estabelecimento, Bela tira as chaves do Impala do bolso do casaco para devolver a Dean quando nota algo que jamais pensou que veria: Dean ignorando o Impala e passando direto.
- Dean, para onde você pensa que está indo? – disse Bela balançando as chaves do carro com uma mão e apontando com a outra para o Impala.
- Uhm... Eu fui verificar o trânsito. – desconversou Dean coçando a nuca. A verdade é que ele não lembrava que tinha um carro.
- O quê? – Bela estava começando a achar aquilo no mínimo bizarro.
- Esquece... Apenas me dê as chaves, tá bom? – disse Dean gesticulando.
- Ok... – disse Bela lançando as chaves para Dean e começando a desconfiar de que havia algo extremamente errado com ele.
No instante seguinte, ele destrava a porta para que Bela pudesse entrar. Bela entra e vê Dean mexendo no molho de chaves procurando a chave do carro. Ele parecia meio aéreo.
- Dean, você realmente está bem? É a chave quadrada. – Bela se inclina para analisar o loiro.
- Estou. E sim, eu sei que é a quadrada. – respondeu Dean desviando do olhar da britânica e colocando a chave na ignição. Ele coloca um braço na janela e olha para trás para sair de ré, mas acaba pisando no acelerador batendo o carro em duas estantes de jornal e quase acertando uma mulher. Por pouco também, Bela não dá de cara no pára-brisas, se não fosse pelo seu bom reflexo que a fez espalmar as mãos sobre o porta-luvas e evitar o impacto a tempo.
- Filho da puta! – exclamou Dean pisando no freio imediatamente.
- Olha por onde anda, babaca! – xingou a mulher mostrando o dedo e depois se retirando.
- Inacreditável! – exclamou Bela chocada com o que acabará de acontecer. - R de “ré”, Dean. – afirmou Bela quase sem paciência. Ela respira fundo e se acalma. Ela volta sua atenção para o loiro que parecia perdido encarando o volante. - Tudo bem, eu entendo que você deve estar esgotado depois de tudo o que aconteceu ontem, mas...
Dean se vira para Bela, o rosto da britânica para sua visão estava borrado e sua voz parecia ecoar.
- Nós conseguimos-mos lidar com o Midnight-night, conseguimos o livro-livro e... – Dean encara a boca de Bela tentando ler as palavras que se tornaram indistinguíveis aos seus ouvidos. Ele pisca os olhos repetidas vezes e vira o rosto para frente desistindo de tentar entender. - Dean?
Bela toca no braço do loiro e chama seu nome novamente. Ele se vira para a britânica e questiona:
- Quem é Dean?
10:00 AM.
- Já disse que tô bem. – disse Dean abrindo a porta da suíte.
- Dean, você esqueceu seu próprio nome. – afirmou Bela fechando a porta.
- Por um segundo. – Dean balança a cabeça concordando. - Tá bom, foi esquisito. – admitiu Dean.
- Ontem você foi enfeitiçado pelo Papa Midnight, talvez quando você saiu atrás do franco-atirador, você tenha sido de novo. – supôs Bela tirando o casaco e o colocando sobre a mesa,
- Olha... Se um bruxo chegasse perto de mim, eu já estaria morto. Eu não daria uma de Dory. – justificou-se Dean caminhando em direção a Bela.
- Dory? – Bela arqueia uma sobrancelha.
- Não vou me desculpar por adorar aquele peixe. Pode me julgar. – Dean levanta o queixo e infla o peito pronto para ser bombardeado por zoações.
- Ok. – Bela sorri com a referência. - Responda-me três perguntas simples sobre você, se me provar que está em seu juízo perfeito, sigo com você de volta pro Kansas, certo?
- Um teste sobre mim? Moleza. – disse Dean convencido.
- O que você faria se eu roubasse aquele livro? – disse Bela apontando para o Livro dos Condenados.
- Nada. Não gosto de ler e não sei porque você roubaria um livro velho. – respondeu Dean olhando pro livro com desdém.
- Bom saber. – disse Bela baixinho como se tivesse fazendo uma anotação mental. - Próxima pergunta, qual o modelo do seu carro?
- Fácil. Chevy Impala 69.
- 67. – corrigiu Bela.
- Foi o que eu disse. – retrucou Dean. Bela rola os olhos.
- Última pergunta. Se concentra, Dean.
- Pode mandar. – disse Dean fazendo um joinha com a mão.
- O que você faria se eu atirasse no Sam? – perguntou Bela dando um sorriso breve ao se lembrar do caso do pé de coelho.
- Antes ele do que eu.
- Você sabe que o Sam é seu irmão, certo? – questionou Bela só para ter certeza.
- Pufff... Claro que eu sei. Estava só brincando. – disse Dean sorrindo torto e dando de ombros. Ele havia esquecido o nome do irmão e não queria admitir que tinha algo de errado com ele.
- Ok, se está só brincando, diga qual meu nome. – Bela já estava convicta de que Dean estava com problemas, agora só precisava convencê-lo disso.
- Seu nome?
- Sim, diga meu nome. – insistiu Bela.
- Heisenberg? – debochou Dean não levando à sério.
- Dean, é sério! – repreendeu Bela.
- Olha, isso é ridículo! Eu estou bem, tá? Estou ótimo. Veja... – Dean se desloca apressado até a mesa e pega o casaco de Bela. - Isso é um casaco. – Ele toca sobre o Livro dos Condenados. - Isso é um livro. – Ele aponta para a luminária. - Isso é uma... Uma... Coisa de luz. – afirmou Dean com um sorriso confiante.
- Uma coisa de...? – Bela franze o cenho. - Certo. Vamos procurar ajuda e resolver logo isso. Porque não está dentro do meu contrato bancar a sua babá. – disse Bela tirando o telefone do gancho.
- Ei, ei, ei. Não vai chamar o Sam e nem o Cass. E muito menos a Ruby, principalmente a Ruby. – protestou Dean pronunciando o nome da loira com um rancor fingido, tudo para evitar que Bela ligasse e a loira desce com a língua entre os dentes e revelasse que ele havia pedido a senha do celular da britânica.
Bela arfa.
- Como quiser, mas até você deixar de ser a Dory... – Bela escreve o nome luminária em um papel e cola no objeto.
- Luminária. Isso. Cheguei perto. – disse Dean dando um soco no ar.
13:50 PM.
Orlando, Florida.
Rowena jogava Texas Hold’em, um tipo de poker, com outros três jogadores. Sua mão não estava boa, ela tinha um três de paus, um quatro de copas, um cinco de espadas, um sete de copas e um dez de ouro. O jogador em sua frente tinha full house, uma trinta de K sendo eles de ouro, espada e paus e uma dupla de nove, sendo um de copas e outro de ouro. Ele aposta tudo e diz convencido de que levaria essa rodada:
- Vamos acabar com o suspense? – Rowena permanece imutável. O jogador revela suas cartas, ela olha com desdém e também põe suas cartas sobre a mesa, revelando uma quadra de Às e um sete de ouro. O jogador abaixa a cabeça frustrado, se questionando como aquilo era possível.
- Essa foi qual? A sexta seguida? – perguntou Rowena dissimulada, ela estava roubando no poker com magia. - Sorte de principiante. – Ela se inclina sobre a mesa e puxa todas as fichas que estavam no centro. O celular da ruiva toca, ela verifica o número, era Bela Talbot. - Se os cavalheiros me permitem.
A ruiva se levanta e se afasta da mesa para ter uma conversa privada.
- Bela, minha querida. Espero que tenha ligado para dizer que achou o livro de Osíris? Porque o de Anubis foi uma decepção total, só fala em morte... Nunca fiquei tão entediada... – disse Rowena apoiando uma mão na cintura.
- Na realidade, eu liguei porque preciso de sua ajuda, Rowena. – disse Bela se sentando na cama.
- Oh, sério? Desculpe, eu adoraria ajudar, mas estou um tantinho ocupada no momento. – Rowena olha de relance para a mesa, observando um dos jogadores redistribuir as cartas.
- Quem é Rowena? – perguntou Dean se sentando ao lado de Bela tentando ouvir a ligação.
- Uma cliente que pode ajudar. Agora deixe os adultos resolverem as coisas e procure alguma coisa para se entreter. – disse Bela para Dean, ela se levanta da cama para ganhar privacidade e se foca na conversa do telefone. - Por favor, Rowena. Prometo te dar um desconto na próxima vez que negociarmos.
- Beleza. – disse Dean numa boa também se levantando e indo olhar o que tinha no frigobar. - Ei! – Dean chama a atenção de Bela. - Mini vodkas. Eba! – Ele balança uma pequena garrafa em cada mão empolgado, ela sorri devido a cara de pateta que ele estava fazendo e depois dá as costas.
- Oh, sério? Quando penso que estamos nos tornando amigas, você quebra meu coração. Eu esperava que se eu estendesse a mão amiga, você me presentearia com um favor e não dando descontos. – dramatizou Rowena se fazendo de ofendida.
- Não é como se fosse difícil para você conseguir dinheiro, eu posso ouvir daqui o barulho das máquinas de caça-níqueis. Você está em um cassino, não é? Usando magia para fazer sua própria fortuna. – debochou Bela.
- É impressão sua, querida! Não tem nenhuma máquina de caça-níquel por aqui. – Rowena afasta o celular do rosto e solta um feitiço fazendo todas as máquinas se quebrarem.
- Não tem? Isso é maravilhoso, pois significa dizer que não tem nada que possa impedi-la de me ajudar a reverter o que aconteceu com o Dean. – disse Bela com uma quantidade de sarcasmo moderada.
- Quem diabos é “Dean”? – indagou Rowena fazendo uma careta, mas a verdade que ela sabia que era o caçador da família Winchester.
- Alguém que é importante para... – Bela olha de soslaio para Dean mexendo nas coisas. - Meus negócios. A propósito acho que ele foi enfeitiçado. Ele está esquecendo as coisas.
- Vai ver ele está bêbado. – disse Rowena sem se importar. Depois repreende um dos jogadores que tenta roubar suas fichas, enquanto os funcionários foram verificar o que havia de errado com as máquinas.
- Ele não está bêbado. – testificou Bela.
- Precisamos de gelo. – disse Dean abrindo o pote vazio, Bela apenas gesticula para ele esperar um minuto. Dean fica apontando com a tampa para o pote esperando Bela dar atenção, coisa que não ocorre.
- Um feitiço para a memória... O cabelo dele caiu? – questionou Rowena. - Do corpo inclusive? – Ela especifica.
- O quê?
- Do pescoço para baixo, ele está lisinho como o boneco Ken?
- Acho que não, reparei na barba mal feita abaixo da linha do maxilar.
- Menos mal. Isso elimina a maldição mnemônica. O feitiço de remoção apaga toda a memória com o tempo, mas é magia complicada.
- Como se quebra?
- Teoricamente? Matando o bruxo.
- Entendido. – Bela desliga o celular sem se despedir ou agradecer a Rowena. - Dean, eu des... – disse Bela se virando e deparando com a ausência do Winchester. - Dean? – Bela nota a porta da suíte entreaberta. - Dean! – Ela corre para fora da suíte e olha de um lado para o outro. - Dean! – Bela desce um andar pela escadaria corre por todo o corredor e não o acha. Seu coração começa a acelerar, se algo acontecesse a Dean, ela não queria nem pensar na possibilidade.
Bela pega a escadaria novamente e sobe de volta para o andar de sua suíte, verifica a suíte de novo para ver se ele havia retornado, mas ele não estava lá. Ela sai da suíte novamente pega a escadaria e dessa vez sobe um andar.
- Dean? – Ela chama pelo Winchester ao virar a esquina do corredor, ela vê Dean tentando abrir a porta do quarto 47 com o cartão, enquanto com a outra mão segura o pote de gelo. – Dean, o que está fazendo? – perguntou Bela colocando as mãos na cintura para recuperar o fôlego e controlar os batimentos.
- Pegando gelo. O que você está fazendo? – disse Dean voltando a pergunta contra Bela.
- Essa não é nossa suíte, querido. – disse Bela preferindo usar palavras adoráveis, mas no fundo ela queria bater nele, xingar ele e quem sabe atirar nele.
Dean olha ao redor meio desnorteado.
- Esses quartos chiques são todos iguais. – Ele passa por Bela que meneia a cabeça e pensa “Agora eu que vou ter que virar a psicopata do café, ótimo!”. - Então essa droga de feitiço é tipo o filme “Amnésia”? – disse Dean abrindo o elevador.
- É o que parece, Leonard Shelby. E para quebrá-lo, basta matar o bruxo. Simples assim. – Bela aperta o botão do andar da suíte deles.
- Até que enfim, droga! – comemorou Dean.
- Mas para isso, precisamos relembrar o que você fez. Então, se concentre. Qual foi a última coisa que lembra ter feito?
Dean pensa um pouco, abre o pote e diz:
- Fui pegar gelo.
- Não brinca? – disse Bela desacreditada já imaginando a dor de cabeça que aquilo iria lhe dar.
16:00 PM.
- Sobre ontem, a última coisa que me lembro mais ou menos é a gente em algum lugar desse... Museu... Se pegando. – disse Dean sentado no banco do passageiro do Impala apontando para o museu.
- Por que não estou surpresa? - disse Bela com o cotovelo sobre o volante apoiando a cabeça com a mão.
- Você vai me ajudar ou me julgar? – Dean a encara emburrado.
- Eu estou aqui ajudando, não estou? – Ela sorri. - Enfim, depois disso o que mais consegue se lembrar? – Ela se ajeita no banco.
- Do Livro. Eu peguei ele em algum lugar dessa grama e tinha um cara nocauteado.
- Havia mais alguém além de você e o homem nocauteado?
- Não que eu lembre. – negou Dean fazendo um beicinho.
- Se realmente não estiver se esquecendo de nenhum detalhe... – Bela olha de relance para Dean, enquanto gira a chave na ignição. - Podemos descartar o museu como o marco zero da sua amnésia.
Bela refaz o caminho que eles tomaram do museu para a suíte na noite anterior.
- Alguma lembrança? – Ela para no sinal de frente ao City Park. Dean encara o lugar, olha para a pequena ponte de concreto ao longe e nega balançando a cabeça:
- Não. Não acho que andei por aqui.
- Dean, pensa bem. Nós voltamos para suíte, você foi procurar o atirador. O que aconteceu depois? – disse Bela encarando o loiro.
- Depois...? O quer que eu diga? Eu comi? – Dean faz uma careta confuso.
- Quer saber? Vamos voltar para o Waldos, pedir as filmagens e ter uma noção de que direção você veio.
19:00 PM.
- Os agentes vão querer mais alguma coisa? – perguntou a garçonete com a caderneta e o lápis na mão, após falar com o gerente para cedê-los a gravação de hoje mais cedo.
- Não, obrigada. – disse Bela mexendo no notebook, adiantando os minutos da gravação para achar Dean entrando no estabelecimento.
- Eu vou querer apenas dois waffles caprichado com muito chantilly. – respondeu Dean. A garçonete anota o pedido e logo se retira.
- Como você ainda consegue pensar em comida? – perguntou Bela espantada.
Dean franzi a testa confuso, ele não entendeu o por quê daquela pergunta.
- Desculpe, pergunta idiota. – disse Bela concluindo que a amnésia o deixa a par da situação real.
Depois disso, Bela coloca o vídeo para reproduzir, mostrando várias pessoas aleatórias passarem de frente ao Waldos, ela adianta mais um pouco.
- Ali! Pare! – alardeou Dean apontando para a mulher fazendo Bela pausar o vídeo.
- O que tem ela? – perguntou Bela abismada, porque a mulher não parecia ter nada de suspeito.
- Ela me deu 10 dólares hoje de manhã.
- E...? – perguntou Bela esperando ele dar mais alguma informação que fosse útil.
- Eu comprei waffles.
Bela abre a boca para dar uma bronca em Dean por ter feito um alarde pra nada, mas se impede. Ela só tinha de ser paciente. Novamente Bela coloca o vídeo para reproduzir, quando Dean arrasta a cadeira para se sentar mais perto dela, passando seu braço por cima dos ombros da ladra. Bela vira o rosto para Dean que estava focado na tela do notebook, ela até pensa em questionar, mas desiste. Não era momento para flertar ou criticar.
- Ok. Olha eu ali. – alardeou Dean novamente.
- Parece que você veio do City Park. – supôs Bela.
- Parece que eu vim do City Park. – repetiu Dean ingenuamente. Bela rola os olhos.
- Não se lembra de nada que antecedeu isso?
Dean nega meneando a cabeça e acrescenta:
- É como assistir a mim mesmo na Netflix.
- Bem, acredito que você deve ter encontrado o franco-atirador e o confrontado no City Park, o que justifica eu encontrar você totalmente sujo de terra. – concluiu Bela.
20:15 PM.
Depois que Dean termina seu prato de waffles, ele sai do Waldos acompanhado de Bela e seguem o percurso de acordo com as gravações. Ao chegar no City Park, Bela sugere para ir a ponte, afinal, todo mundo passava por lá. Ao chegar nela, ela nota marcas de sangue ressecado.
- Uma trilha de sangue. Parece que estamos perto. – disse Bela iluminando o sangue com a lanterna. Dean fica parado observando a britânica, sua visão borra novamente por uns segundos e depois normaliza.
- Espera. Espera aí. Você disse trilha de sangue? – perguntou Dean pasmo dando um sorriso mais nervoso do que o habitual.
- Dean... – Bela encara o loiro e segura o seu braço de forma doce. - Nós estamos investigando. Você é um caçador de monstros e eu sou uma caçadora de artefatos mágicos, mas nesta noite estou lhe ajudando a caçar um bruxo. – disse Bela minimizando os detalhes.
Dean fica em silêncio por um momento e Bela aguarda sua reação. Ele franze o cenho desconfiado encarando a ladra que estava séria. Ao concluir que realmente ela não estava tirando uma com ele. Ele sorri bobamente e diz:
- Incrível. Isso é incrível.
- Óbvio que é. Agora vamos, temos trabalho a fazer. – Bela dá uma piscadela com um sorriso, ele devolve o sorriso, assim que ela dá as costas, a feição “alegre” da ladra se desfaz. Já Dean sente um peso no bolso do casaco, ele revista e acha uma lanterna, Dean solta um “A-ha!”, testa a luz da lanterna e segue Bela caminhando parque à dentro.
20:44 PM.
- Ok, espera. Então... Isso me faz concluir que cães são do mal. Se tem cães que podem nos arrastar para o inferno e cães que se infiltram em famílias para virarem os donos da casa... – Dean balança a cabeça em choque com a informação. - Eu sabia que tinha algum motivo para eu não ir com a cara do Beethoven. Aquela bagunça que ele fazia, era para manter o marido longe e a esposa perto... – analisava Dean enquanto seguia Bela que por sua vez seguia a trilha de sangue.
- Por isso que prefiro gatos. – comentou Bela rindo.
- Isso é loucura. – afirmou Dean pensando sobre tudo.
- O que? – questionou Bela.
- Eu tendo que ter esse papo com você.
- Nisso, eu não posso discordar. Sabe, chega a ser irônico... Você passou a viagem toda de vinda para cá com a conversa de que não ia tirar os olhos de mim em nenhum momento e agora eu não posso tirar os olhos de você. – disse Bela rindo da situação.
- Se quer saber, eu ainda não consigo tirar os meus olhos de você. – disse Dean brincalhão como se contasse um segredo.
- Vamos ver se vai continuar sendo adorável depois que você for curado e começar a se lembrar. – debochou Bela com sutileza, depois notando um glifo na árvore feito com sangue.
- Ok, agora, isso? Piração. – disse Dean apontando de relance para o símbolo na árvore.
- Não, são só glifos. Eu vi uns similares quando viajei para Cartum no Sudão. – disse Bela se lembrando da pior viagem que fez na vida, por ter que passado 13 horas de vôo recebendo cantadas de pedreiro do Rudy. - Talvez Rowena os conheça. – Ela tira o celular do bolso para tirar uma foto do símbolo.
- Talvez. Quem é Rowena? Nome estranho. – disse Dean andando seis metros empolgado atrás de mais pistas quando se depara com um corpo. - Bela! Bela! – chamou Dean quase gaguejando.
- O que foi, Dean? – perguntou a britânica indo ter com ele.
- Isso é um cara morto? – perguntou Dean nervoso apontando para o corpo.
- É. – Bela se abaixa, tira uma mecha de seu cabelo colocando atrás da orelha e observa o corpo. - Acho que é o nosso franco-atirador, veja a roupa preta, as luvas, tudo revestido de nanopolímero. O ferimento da barriga. Deve ter usado o próprio sangue para fazer o feitiço.
- Legal. – disse Dean empolgado.
- Não, Dean. Se ele é o feiticeiro e está morto, então, por que você não é... Você? – analisou Bela ligando os pontos.
- Nada legal. – disse Dean fazendo um beicinho. Bela fica de queixo caído com o comentário de Dean. Ele olha para ela parecendo mais confuso do que antes. - Ok, e agora?
- Agora a gente sai daqui, antes que alguém apareça. Vamos. – disse Bela o puxando pelo braço.
21:37 PM.
- Não. Não pode ser. – disse Bela vendo a porta da suíte entreaberta. - Por favor, não. – Ela corre para dentro da suíte e Dean a segue sem entender nada. Ela começa a revirar o quarto de alto a baixo. - Cadê? Cadê? Estava aqui. Não. Isso definitivamente não está acontecendo.
Dean observa a britânica derrubar as toalhas e lençóis do armário, ele abre a boca três vezes para perguntar, mas fica receoso por vê-la tão nervosa. Ele olha para o lado como se também procurasse algo, apesar de não saber o que é que procurava e observa a luminária.
- Ah, isso é uma luminária. Sabia que lembraria o nome. – disse Dean sorrindo por se “lembrar”, após ler o nome do objeto no papel.
- Maldito filho da p... – Bela pega uma das canecas personalizadas do hotel e arremessa contra a parede. - Eu vou te ferrar, Midnight. Eu juro, eu vou. – murmurou Bela baixinho respirando lentamente para se acalmar, enquanto pensava em mil e uma maneiras de vingar do feiticeiro. Ela não tinha dúvidas de que foi ele quem roubou o Livro dos Condenados, pois, ele era o único que além dela e Dean que estava interessado no livro.
- Você... Está bem? – perguntou Dean preocupado, depois de observar a caneca despedaçada.
- Sim. – disse Bela se recompondo.
04: 13 AM.
- Isso é um cara morto? – perguntou Dean ao ver Bela olhar no notebook as fotos que ela tirou momentos atrás no City Park.
- Sim. – disse Bela entediada por estar respondendo a mesma pergunta pela quinta vez e também porque tudo seria mais rápido se os espíritos cooperassem e se comunicassem pelo tabuleiro ouija, mas de alguma forma, eles se recusavam aparecer. Era como se alguém tivesse os ameaçados, só isso para justificar a ausência deles ou talvez Midnight fez algum vodoo, concluiu Bela.
- Uau. Eu nunca vi um cara morto antes. – disse Dean empolgado como se fosse a primeira vez que aquilo lhe ocorresse.
- Já viu, sim. Acredite em mim. – reafirmou Bela colocando mais café na caneca, enquanto massageava a testa. Aquilo estava sendo um pesadelo.
Posteriormente, ouve-se batidas na porta. Dean caminha despreocupado para atender.
- Dean, não! Espera... – disse a britânica ficando de pé e sacando a arma, mas antes que ela se preparasse Dean já havia aberto a porta, revelando que a visitante era ninguém menos que Rowena.
- Quem é você? – perguntou Dean olhando para Rowena e depois para Bela esperando uma resposta.
- Rowena MacLeod. – disse a ruiva estendendo a mão. Dean encara a mão da ruiva como se tivesse olhando para nada, depois olha para a ruiva e pergunta:
- Quem é você?
- Vejo que o feitiço progrediu. – disse Rowena recolhendo a mão, passando por Dean e se acomodando na suíte.
- Rowena, eu disse que queria informação e não uma visita. – reafirmou Bela de forma clara.
- Pressinto que você vai me agradecer depois. – disse Rowena soltando as malas.
- Seu cabelo é tão esvoaçante! – elogiou Dean pegando uma mecha do cabelo da ruiva e depois a soltando. Bela arqueia as sobrancelhas e entorta um pouco a boca. Aquilo só podia ser brincadeira.
- Obrigada! – disse Rowena amando o elogio e depois se vira para Bela. - Tem certeza de que ele precisa de conserto? Para mim ele parece perfeito!
- Olhe ao redor, isso parece ser perfeito? – questionou Bela mal-humorada apontando para toda a suíte que havia sido coberta de adesivos com os respectivos nomes dos objetos assim como a luminária
- Você me convenceu. – disse Rowena vendo que até no chão tinha um adesivo com o nome “chão” e depois se vira para Dean. - Os glifos que encontraram são africanos. Inkumbulo isula. – Rowena pega a mão de Dean com delicadeza e a analisa como se estivesse a lendo. - Os zulus usavam em seus rituais, chamavam de “linguagem da mente pura”.
- Zulus? Zulu-doo, não? – corrigiu Dean, enquanto Rowena o analisava.
- Zulu o quê? – Bela franze o cenho sem entender.
- Zulu-doo! Aquele cachorro que anda com uma gangue resolvendo... – Dean para de falar e solta uma pequena risada ao sentir Rowena cutucar sua costela. - Faz cócegas.
- Ok... – Bela dá um sorriso forçado e puxa Dean pelo braço para evitar que ele continuasse a ser “bulinado” por Rowena. - Que tal assistir Scooby-doo no Cinemax?
- Skinemax. – Sorriu Dean empolgado.
- Ótimo. Tudo bem, vem cá. Nós vamos só... – Bela segura o braço do loiro e o conduz até a cama. - Vamos sentar bem aqui. E... Sim, vá em frente... – Bela induz o loiro a sentar na cama. - Gostou? Confortável? – Ela disse com uma voz tão doce que Dean apenas balançou a cabeça encantado, depois ela se foca em procurar o controle da TV.
- Vai rolar Skinemax ao vivo ou... – disse Dean dando um sorriso idiota para Rowena que retribui com uma piscadela. Bela liga a TV que transmitia Scooby-doo. - Oba! – Dean se empolga inclinando para frente para focar ainda mais sua atenção no desenho.
- Perfeito. Fique aí e se comporte. – disse Bela passando a mão com leveza em um dos ombros de Dean e depois faz sinal para Rowena acompanhá-la.
- Só existe um bruxo nesse tipo de magia. Pensei que ele estivesse morto há anos, mas quando vi aqueles glifos... Vi que ele sobreviveu. Linton Midnite ou popularmente conhecido como Papa Midnight.
- Você o conhece? – questionou Bela surpresa.
- Um pouco.
- Conte-me sobre ele.
- Há três séculos atrás, Linton saiu da Jamaica e foi morar em New York, onde conheceu um escravo chamado Cuffee, esse escravo pediu para Linton fazer um feitiço que fizesse Cuffee ser a prova de balas. Linton o enganou e houve uma chacina. Cuffe se vingou forçando Linton a decapitar sua irmã e depois o amaldiçoou com a imortalidade.
- E o que aconteceu como o tal Cuffee?
- Deve ter morrido de cólera, varíola ou peste... Ele não é importante aqui. – disse Rowena com desdém, o foco da conversa é quebrado quando Dean dá uma risada com o desenho chamando a atenção da bruxa e da ladra que o encaram sérias, ele fica sem graça e imediatamente volta a se focar no desenho.
- Com Midnight sendo imortal, fica impossível quebrar a maldição, a não ser que eu possa manusear um livro tão poderoso que pode desfazer qualquer feitiço ou maldição. Ele é conhecido como... – Rowena faz um pequeno suspense. - O Livro dos Condenados. – afirmou Rowena tentando disfarçar sua ambição.
- Que você possa? Pensei que era por isso que você veio, que você seria capaz de desfazer o feitiço.
- É claro que eu sou capaz, mas uma bruxaria tão complexa levaria tempo, mais do que o seu amado Dean tem. Ele já começou a esquecer de si mesmo, todos que ele já conheceu, que já amou. – disse Rowena dramática olhando para Dean. - Até você. – A ruiva olha para a britânica. - Logo, ele vai esquecer como falar, como engolir, e então... O pobrezinho vai morrer.
- Esse cara tá ferrado! – comentou Dean ouvindo a conversa.
Rowena olha para Bela como se dissesse “Olha aí, a prova!” e a ladra apenas engole seco.
- Nós precisamos achar esse livro, Bela! – reforçou Rowena com paixão demais. - Claro, se quisermos salvar o Dean.
- É claro. – Bela sorri ao compreender toda aquela dramaturgia. - Corte a encenação. Eu sei que você quer o livro. Assim que entrou por aquela porta, eu sabia que você tinha vindo por uma razão e não era para ser altruísta, não faz seu estilo.
- Perdão? – disse Rowena se fingindo de ofendida.
- Rowena... Não tente enganar um enganador. – debochou Bela.
- Verdade. – Rowena sorri com cinismo. - Você quer consertar seu namoradinho, eu quero o livro. Uma mão lava a outra, certo?
04:57 AM.
- Então depois de tudo... Acabou. Vou simplesmente morrer sem nem saber quem eu sou. Não me parece justo. Quanto tempo será que vai demorar para me esquecer do meu próprio rosto? – disse Dean revoltado sentado sobre a tampa do vaso sanitário encarando as mãos.
- Não. Dean, isso... – Bela segura firme a mão de Dean, sentindo os olhos começarem a arder. Ela não podia chorar agora. - Isso não vai acontecer, tá bom?
- Bela, você acabou de contar a história da minha vida. Quem eu sou. E confesso que agora mesmo sinto que tudo está escorrendo da minha cabeça. Eu... Eu não quero esquecer. Bela, eu não... – Dean abaixa a cabeça, se esforçando para não chorar, para não demonstrar fraqueza.
- Dean, nós vamos... – Bela agora segura a mão de Dean com as duas mãos fazendo um carinho e reprimindo as lágrimas, ela não queria admitir, mas vê-lo naquele estado está lhe apertando o coração. - Vamos dar um jeito. Tudo bem? Eu prometo. – disse Bela quase gaguejando, sentindo um nó se formar em sua garganta.
Dean funga o nariz e Bela decide verificar se Rowena localizou o livro.
- Como ele está? Ele já começou a se lembrar? Ele se curou sozinho? – perguntou Rowena debochada, fazendo pressão para Bela ceder o livro. Bela permanece com o rosto duro como um mármore. - Não me odeie, eu te dei a solução, apenas aceite e prometo consertá-lo. – Rowena levanta a mão como se fizesse um juramento.
Dean abre a torneira da pia, lava o rosto e suspira.
- Está bem. – Ele funga e encara seu reflexo no espelho. - Meu nome é Dean Winchester. Sam é meu irmão. E Cast... Cass e Ruby são meus melhores amigos. Bela Talbot é minha... Bela é...
- Tudo bem... – Bela se dá por vencida, pelo menos aparentemente. - Me dê a localização desse livro, cure o Dean e o livro é seu. – Bela põe o casaco e checa sua 9 mm com silenciador.
- Boa escolha. – disse Rowena apontando de relance para a ladra. - O livro está na Carter Street, número 8.
Enquanto isso no banheiro...
- Meu nome é Dean... – Ele se esforça para lembrar o sobrenome. - Winchester. – Ele para e pensa “eu já estou esquecendo?”.
Suas pupilas se mexem rápido procurando lembrar o que ele diria a seguir, mas ele não consegue lembrar. Dean sente seus olhos começarem a queimar e a se encher de lágrimas. “Maldição! O que vem depois do meu nome? O que eu disse?”, pensou Dean. Ele abaixa a cabeça, ele não pode esquecer. Não pode. Seus lábios tremem, ele toma coragem para se encarar novamente no espelho e tentar de novo. Quem sabe assim ele não lembra? É só refazer os passos, como diria qualquer psicologia barata.
- Meu nome é... Meu nome... Meu... – Ele começa a se desesperar, seu olhar se desvia do espelho. - Meu nome é... – Insistiu Dean mais uma vez olhando para o espelho, ele vê seu reflexo, mas não consegue lembrar qual é seu nome. - Meu... Meu... Eu não sei. – disse Dean com os lábios tremendo, enquanto as lágrimas escorriam em seu rosto.
- Claro que você precisará de mim para ajudar... – disse Rowena empolgada observando a ladra mexer na mala e tirar uma pequena bolsa, talvez fosse de cartões de crédito.
- Não. Você fica aqui com Dean. – disse a ladra colocando a pequena bolsa dentro do bolso do casaco.
- Eu certamente não ficarei, eu sou uma bruxa poderosa e não uma babá. – protestou Rowena.
- Ele não pode vir comigo e não pode ficar só. E vocês pareciam se dar tão bem... Prometo voltar antes que ele precise usar fraldas. – debochou Bela apenas para provocar Rowena, ela definitivamente não queria que chegasse àquele ponto. Ela pega as chaves do Impala e caminha em direção a porta.
- O livro está escrito no dialeto sumeriano obscuro muitíssimo antigo. Como você, uma ladra, não uma bruxa poderosa como eu, propõe encontrar um feitiço adequado? – disse Rowena arrogante.
- Hum... – Bela tomba a cabeça de lado e faz um beicinho. - Talvez eu tenha uma bruxa poderosa dentro do bolso. – Ela pisca para a ruiva e dá as costas.
-E o que espera que Midnight faça? Que ceda de boa vontade o livro super poderoso para você? Você armou para que ele fosse preso. Ele vai provavelmente preferir te decapitar como uma das irmãs e usá-la como informante no inferno. – retrucou Rowena usando todos os argumentos possíveis.
- Bem, vou ensiná-lo como profissionais lidam com concorrentes. – disse Bela esnobe, já tendo um plano em mente e finalmente indo atrás de Midnight, mas antes ela tinha que passar em um brechó.
05:30 AM.
- Pare de tocar em tudo. – disse Rowena dando um tapa na mão de Dean, para voltar a focar em montar o altar para o feitiço.
- Desculpe. – disse Dean inquieto andando para lá e para cá, ele novamente tenta mexer no altar, Rowena o repreende de novo e entrega um boneco de vodoo.
- Aqui. Brinque com isso e te conto uma história.
- Ok. – Dean sorri torto e começa a cutucar o boneco com a agulha.
- Era uma vez, uma linda bruxa que, de novo, foi expulsa do seu país por aqueles selvagens, hipócritas, psicopatas assassinos. Você os conhece como caçadores.
- Hum. – Dean balança a cabeça concordando.
- Ela buscou refúgio no pais que dizia ser o sonho americano. Tudo que ela queria era um lugar a qual pertencer e poder praticar sua magia. E mesmo assim a expulsaram... Como um lixo. De novo. Disseram que era pouca bosta.
- Esses bruxos parecem ser bem babacas. Eu acho que você é muita bosta. – elogiou Dean.
- Você não se lembra de nada mesmo, não é? – perguntou Rowena franzindo o cenho desconfiada e depois a expressão boba de Dean, ela ri. - Que presente não se lembrar das coisas que fez.
- O que eu fiz? – perguntou Dean confuso.
- Você é um assassino, Dean Winchester.
06:15 AM.
- Não se vire ou eu atiro. Só vou perguntar uma vez. Papa Midnight, se encontra? – perguntou Bela apontando sua arma com silenciador para a nuca do homem que fazia a vigilância do lado de fora do centro vodoo.
06:16 AM.
- Espera... Eu mato pessoas? – perguntou Dean desacreditado. Bela gira a arma para segurar pelo cano e golpeia a nuca do vigia com o cabo, fazendo ele apagar.
- Aos montes. – respondeu Rowena. Dean se espanta. - Mas... Apesar de ser um mala e fazer o meu filho, Fergus, você deve conhecê-lo por Crowley, como sua putinha. Tudo o que você fez... – Rowena faz uma cara de nojo. - Foi para o bem maior.
- E isso deveria deixar tudo bem? – questionou Dean achando aquilo um absurdo.
- Para mim, sim. Fergus é burro, não tem a inteligência, a astúcia e muito menos o talento da mãe, então ele merece o que ocorre a ele. Já para o mundo... Bem, eu não saberia. Você ajuda outros além de você. Mas eu? – Rowena se põe ao lado de Dean. - Eu já fiz coisas horríveis e me convenci de que estava tudo bem. A única coisa boa que fiz foi vender Fergus por três porcos.
Dean olha assustado para Rowena com tal absurdo.
- Eu simplesmente não poderia ser uma bruxa poderosa e babá, eu tinha que escolher. Seguir meu sonho ou limpar fraldas. Era o preço do poder. E o poder é o que importa, não? Então depois de viajar mundo a fora conheci Papa Midnight. O ex escravo arrogante que transformou você em um palerma, não que você já não fosse. Ele apenas amplificou sua estupidez. – Dean apenas reflete sobre o que ouviu. - Ele era o mestre vodoo mais poderoso, desperdiçando seus talentos com rebeliões estúpidas e decapitando “irmãs”.
Dean arregala os olhos.
- Então percebi que, se ele não era capaz de pensar grande, o que poderia existir de bom ali para mim? Ser uma “irmã” decapitada e lhe informar do inferno? - desabafou Rowena.
- Por que está me contando isso? – questionou Dean arqueando a sobrancelha.
- Porque sei que não vai se lembrar. – disse Rowena com satisfação e depois toca na ponta do nariz de Dean que repete o ato em si mesmo.
06:22 AM.
Os tambores tocavam no centro de vodoo ao som de vocais alternados de homens e mulheres, enquanto as pessoas dançavam ao redor da fogueira. Bela avança sorrateiramente pelo centro que não tinha uma janela que permitisse a entrada da luz solar.
- Ainda bem que os idiotas preferem tochas à eletricidade, porque senão eu já teria sido descoberta. – cochichou a ladra para si mesmo se esgueirando pelas sombras. Ela verifica o bolso tirando um frasco de sonífero, Midnight pode ser imortal, mas não quer dizer que ele seja imune a sono. E se era, ela estava prestes a descobrir.
Bela aguarda dois homens que agiam como seguranças do centro realizarem a ronda para liberar as escadas que levariam a sala privada de Midnight que tem a visão privilegiada do centro, assim que eles saem, ela avança.
Olhando de um lado para o outro, para certificar de que estava só, ela retira uma gazua e destranca a porta. Vendo o livro sobre a mesa totalmente exposto, Bela decide colocar seu plano em ação antes que Midnight apareça. A ladra escolhe uma garrafa de uísque na estante, Woodford Reserve, que estava na metade. Ela deposita em um copo para ela e abre o frasco de sonífero depositando todo o conteúdo dentro do que sobrou. O cenário estava pronto.
Não demora mais que cinco minutos, Midnight retorna a sua sala vip e se depara com Bela Talbot sentada em sua poltrona, bebendo seu uísque e folheando o seu livro recém-adquirido.
- Há pouca diferença entre o estúpido e o corajoso, Srta. Talbot. – disse Midnight tirando um charuto do bolso e o acendendo, enquanto seus capangas, os dois homens que Bela havia esperado fazer a ronda miravam as armas para ela.
- Homens. Hum. Pensam que inventaram a coragem. – disse Bela com desdém, balançando o uísque no copo.
- Se veio tentar roubar o livro, bem, você pode tentar. – disse Midnight se sentando relaxado na poltrona em frente a ladra, ele tira o revolver do coldre e aponta para ela.
Bela dá um sorriso largo.
- Na verdade, o real motivo pelo o qual me trouxe aqui foi de agradecimento. – disse a ladra colocando o Livro dos Condenados sobre a mesinha de centro e empurrando para Midnight.
- Uhm, agradecimento? Pelo o quê? Por enfeitiçar o seu amigo? Por ter reavido meu livro sem precisar de você? – escarneceu Midnight com descrença, enquanto apagava o charuto no cinzeiro. Midnight estrala os dedos e aponta para um copo vazio que estava na estante, o capanga pega e o entrega.
- Você sabe que não é bem assim, eu facilitei as coisas para você, se eu não tivesse roubado o livro do museu, ele não estaria aqui agora, mas não vim aqui cobrar dinheiro até porque não preciso de mais conflitos em meu dia. O fato é que vim aqui negociar... – Bela dá um pequeno gole no uísque.
- Negociar? Não existe nada que você tenha a me oferecer para me convencer a ceder o meu livro. E também não estou interessado em nada no momento. – disse Midnight pegando a garrafa de uísque e se servindo.
- Esqueça o livro. O que tenho a oferecer vai além do conhecimento humano, descobri um lugar onde nenhum ser vivo jamais pisou e onde o conhecimento é ilimitado. E se você se interessar, eu posso te mostrar como chegar lá. – disse Bela dando um longo gole no uísque, ela se inclina para pegar a garrafa, mas Midnight a impede, ele coloca a arma sobre o livro, pega a garrafa e a serve.
- Conte-me mais sobre esse lugar. – disse Midnight interessado também dando um longo gole no uísque.
- Nesse caso... – Bela olha para os capangas, depois para Midnight e sinaliza com a cabeça para dispensá-los.
Midnight estrala os dedos e os capangas saem.
- Bem, como garantia. Preciso que em troca da informação, espero que venhamos ficar quites e que você não envie franco-atirador ou qualquer coisa mais atrás de mim. Combinado? – Bela levanta o copo para brindar.
- Como quiser, Srta. Talbot. – concordou Midnight brindando. Bela finge beber seu uísque, enquanto Midnight dá um longo gole. - Agora me... Diga. Que lugar é esse...? – Midnight começa a ficar zonzo, a visão turva. - O que fez comigo, Talbot?
- E ainda dizem que mulher é o sexo frágil, eu pensei que você aguentasse um simples uísque. – debochou Bela colocando seu copo sobre a mesa e recolhendo o revolver de Midnight antes que ele pegasse.
- Eu juro por Loa que matarei você. – disse Midnight tentando se levantar, mas ele tinha a sensação que sua cabeça estava girando.
- Não se estressa. Serei boa e direi onde é o lugar... Ele fica abaixo, bem abaixo de nós, se você chegar de frente de um portão e tiver o nome “inferno”, então você está no lugar certo, porque lá vai além do conhecimento humano e nenhum ser vivo jamais pisou, porque estão todos mortos e o conhecimento de dor é ilimitado. Resumindo: vá para o inferno! A propósito levarei isso comigo. – disse Bela pegando o Livro dos Condenados e o balançando na frente de Midnight para humilhá-lo.
- Eu vou te mat... – Midnight não termina a frase e apaga. Bela passa por cima de Midnight e sai da mesma forma que entrou, sem ser percebida.
06:40 AM.
Bela estava no corredor do hotel vigiando para se certificar que nenhum funcionário ou qualquer pessoa atrapalhasse o feitiço de reversão. Após alguns minutos, uma forte luz amarela surge abaixo da porta e logo desaparece.
Rowena abre a porta acompanhada de Dean.
- Acabou? Deu certo? – perguntou Bela não negando as expectativas.
- Quem é ela? É amiga sua? – perguntou Dean a Rowena e depois encara Bela que fica paralisada sem palavras. Dean não segura o riso, assim como Rowena. - Olha a cara dela! Hilário! – Dean comenta para Rowena rindo. - Eu estou de volta, baby! – Dean disse sorridente para Bela.
- Idiota. – disse Bela abrindo um sorrindo aliviada.
07:00 AM.
- Não acredito que você chamou uma bruxa. – comentou Dean caminhando ao lado de Bela com as malas, enquanto Rowena ia na frente apressada com o livro dentro de uma bolsa enorme.
- Não acredito que não surtei cuidando de você. – comentou Bela olhando de relance para Dean.
- Qual é? Eu sei que você adorou cuidar de mim. Eu posso sentir seu perfume em minhas roupas ainda. – brincou Dean cheirando a gola da jaqueta.
- Talvez porque eu esteja usando Chanel n° 5, não fique convencido. – rebateu Bela parando ao lado de Dean para se despedirem de Rowena.
- Se lembrar de coisas estranhas de quando esteve enfeitiçado, conversas, me avise. – disse Rowena para Dean prestes a entrar no taxi.
- Deu branco. Sério. E espere um segundo. – disse Dean segurando a porta do taxi.
- Se quiser me agradecer, pode mandar um presente. – desconversou Rowena.
- O livro. – exigiu Dean.
- Bela. – chamou Rowena para que a ladra interviesse.
- E lá vem bomba... – murmurou Dean se virando para Bela.
- Dean, eu fiz um trato com a Rowena. Sua memória de volta pelo livro. – disse Bela sem rodeios.
- Você só pode estar tirando uma com minha cara. – disse Dean desacreditado caminhando até Bela.
- Não tenho culpa se você não quis que eu chamasse a cavalaria. – disse Bela dando de ombros se referindo a Sam, Ruby e Cas. - Você me deixou sem recursos, Dean.
- E desde quando você escuta o que eu digo? – questionou Dean quase surtando.
- Não sei porque está tão bravo, tigre. Eu recuperei sua memória, não recuperei? – rebateu Bela.
- Talvez porque você negociou o livro que viemos roub... – Bela segura o rosto de Dean e faz suas bocas se encontrarem interrompendo o discurso de revolta. Inicialmente ele deseja romper o beijo e se focar em recuperar o livro para que seus esforços não fossem em vão, mas ele não tem forças para fazê-lo. Ao invés disso, ele aperta Bela contra seu corpo, afundando uma mão em seus cabelos macios, enquanto com a outra deslizava pelas suas costas.
Rowena observa os dois e nota Bela fazer sinal com uma das mãos para que ela vazasse.
- Cada vez mais você me surpreende, Bela Talbot. – disse Rowena baixinho. O taxista também estava olhando os dois se beijarem, Rowena dá um tapa no ombro do taxista. - O que está esperando? Pé na tábua!
O táxi finalmente sai e Bela quebra o beijo, antes que Dean proteste ou reclame sobre Rowena ter fugido, Bela se pronuncia enquanto limpa o batom borrado na boca de Dean:
- Agora precisamos ir, antes que ela note que troquei o Livro dos Condenados por um que achei no brechó sobre o folclore latino.
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