Eu fui espancado, quebrado e pisado
Eu fui feito para me sentir estúpido quando era jovem
E eles não são a resposta para as tentações
Quando esses demônios vêm correndo, não há como correrÀs vezes não sinto nada
Às vezes eu quero alguém para segurar
Às vezes eu continuo
Bem, só para tropeçar mais uma vez
Às vezes, eu quero cair
Assim que chegamos em frente aos portões da mansão, soltei a mão de Shu e segui apressada até o quarto, trancando-me lá dentro. Peguei um objeto qualquer e taquei contra a parede, totalmente enfurecida, pensando como posso ser tão estúpida e fraca... Sou uma vergonha. Eu deveria dominá-los, deveria ditar todas as regras, mas não, eu chego a me importar com eles, sendo que eles obviamente não dão a mínima para mim, e se dão é por conta do meu sangue e do meu corpo, foi sempre assim a minha vida toda.
Despi-me, vesti meu pijama e encostei a cabeça no travesseiro, porém, mesmo estando cansada, o sono não vem. Bufo irritada até que alguém bate a minha porta. Estou pronta para mandar quem quer que seja para o quinto dos infernos, quando Yuuki se identifica. Abro a porta e permito que ele entre, o mordomo trouxe um chá calmante e um remédio para me ajudar a dormir, tudo isso a mando de um dos sanguessugas — eles devem estar zoando comigo. Após isso, consegui dormir até que relativamente bem, apesar que meu mau humor ainda persiste.
Passei o dia todo trancada e preferi ir ao colégio de moto, para ficar um pouco longe dos sanguessugas, o que é preferível para que eu não perca o controle total. Assim que cheguei ao colégio fui diretamente ver Lia, a qual estava me esperando no laboratório.
—Aconteceu alguma coisa? —Pergunta a ruiva com certo tom de preocupação, provavelmente deve ser a minha cara péssima.
—Só dormi mal. —Respondo sem me importar.
—Mais pesadelos? —Será que ela não percebe que não quero falar sobre isso.
—Cadê o colar? —Vou direto ao que quero.
—Aqui. —Ela apanha em sua bolsa e eu tomo-o rapidamente. —Por que de repente ficou interessada nele?
—Ele é meu, não é? —Indago revoltada. —Essa pessoa desconhecida deu para mim.
—Azu, o que está acontecendo? —Questiona olhando-me com piedade. Eu odeio esse olhar! —Você está estranha.
—Se eu estou estranha, por que você não se manda? —Minha resposta assusta a caçadora. —Sabe, eu não preciso da sua pena. Eu literalmente não preciso.
—Azurah, você está bem?
—Estou maravilhosamente bem, não pode ver? —Estou cheia de sarcasmo para livrar-me da minha frustração.
—Guarde esse seu sarcasmo para os seus sanguessugas. —Rebate ela ficando furiosa. —Eu sou sua amiga, não sou? Está assim por conta do castigo que pegou?
—Eu estou pouco me fudendo para essa merda de escola! —Exclamo com todo o meu rancor. —Eu quero logo pegar as minhas coisas e me mandar... Quero me livrar de tudo que envolva vampiros.
Não percebi o poder das minhas palavras, apenas quando vi a expressão daqueles olhos castanho-esverdeados que me toquei. Quando disse que gostaria de me livrar de tudo que envolvesse vampiros, isso incluía Lia, visto que ela é uma caçadora de vampiros. Foda-se, é melhor eu tirar logo a minha máscara e mostrar que sou alguém que não me importo com ninguém além de mim mesma.
“Você não percebe o quanto é egoísta, Azu. Você não é melhor do que os outros.”
Lola tinha razão, eu não valho nada. O melhor é ficar longe das pessoas antes que eu acabe machucando-as com o meu veneno.
Saio do laboratório a passos largos, deixando para trás uma ruiva confusa e nervosa.
—Azurah... O que aconteceu com você? —Questiona Lia confusa e preocupada quando a cabeleira negra está longe o suficiente. —Há algo de muito errado com você e eu irei descobrir o que é.
—//—
O dia, ou melhor, a noite no colégio foi uma droga, não que já não seja, mas foi ainda pior. Felizmente o diretor nos deu uma folga e não chamou os cinco detentos, porque eu acho que literalmente mataria um se me encontrasse com eles, e, sem dúvidas, o escolhido seria aquele ruivo de araque. Evitei tudo e todos, porque a única conversa com quem tive foi um desastre, e olha que foi com a Lia. Acho que o melhor é tirá-la do jogo, eu já a expus ao perigo aquele dia e Ruki está na minha cola... Sim, o melhor mesmo é afastá-la e deixar eu me virar sozinha, como sempre faço, e se precisar de ajuda posso chantagear Reiji.
Preparo-me para dormir, vestindo uma camisola de seda da cor creme, contudo novamente sou assolada por essas visões. Estou em uma floresta, a qual parece ser muito com esta que fica ao lado da mansão, está tudo tão escuro que só posso enxergar a lua, a qual está quase que completamente coberta por um eclipse; escuto o uivo de lobos e passos pequenos e apressados. De repente, a figura da loira falecida aparece e ela está exatamente como a encontrei da primeira vez, toda ensanguentada e fugindo desesperadamente de algo, até que escuto um tiro.
A cena se altera e eu estou em outro lugar, por mais que a floresta ainda seja muito parecida com a anterior. Estou de frente a um lago e posso ver que nele há um garotinho se afogando, tentando inutilmente nadar quando não sabe; não consigo controlar meus impulsos e pulo na água, nadando até seu resgate. A água é tão gelada que parece congelar os meus músculos, todavia mesmo assim eu nado até ele e consigo elevá-lo, enquanto ele tosse querendo desafogar.
Então o reconheço, o garoto com que sonho por muito tempo que está se afogando é Ayato, posso perceber pelos cabelos avermelhados e agora por seus encharcados olhos verdes, os quais estão incrivelmente surpresos em me ver ali. Eu seguro-o em meu colo enquanto mergulho nesse brilho demoníaco e posso perceber a dor de ter sido jogado ali, a dor da negligência e o desejo de ser uma criança “normal”, com esses sentimentos transformando-se em ódio por... Ela.
—Se você não for ser o melhor, então também não será o meu filho!
Posso ouvir Cordélia esbravejar, enquanto tudo o que ela quer é que seu amor louco seja correspondido.
Volto a encarar o pequeno Ayato ao passo que essa cena começa a se desfazer. Não entendo, eu venho tendo essa visão com esse garoto do lago há muito tempo, sendo que Ayato nunca me mordeu — qual o significado disto? Por que eu tenho essas visões? Isso apenas me deixa ainda mais confusa.
Agora estou em um belo jardim, muito semelhante àquele que sonhei com as mães Sakamakis, a paisagem ao fundo é parecido porém desta vez não há apenas girassóis, há as mais diversas plantas. Mesmo com o sol da aurora dificultando um pouco a minha visão — o qual pelo menos aquece meu corpo gelado após mergulhar naquele lago —, eu posso ver uma mulher a minha frente, com longos cabelos negros, um vestido amarelo leve e florido. Meus olhos negros se arregalam ao verificar como somos parecidas, poderia até dizer que sou eu, mas ela é bem mais velha e tem uma boa aura, diferentemente da minha sem dúvidas.
—Lamento ter que abandoná-lo, meu amor... —Lamenta a cabeleira negra com um lírio nas mãos. —Mas somos de mundos completamente diferentes e eu tenho meus deveres a cumprir.
—Selene! —Uma voz familiar chama-a.
Viro para encara-la e posso observar aquela figura loira correndo até a outra que parecia mais velha que ela. Ela estava tão diferente, usando um vestido rosa leve, contudo ainda formal e elegante.
—Ele já está aqui? —Pergunta sem olhá-la.
—Precisamos nos reunir. —Pede preocupada com a cabeleira negra.
—Beatrix... —Os olhos negros da desconhecida encaram aqueles olhos azuis celestes. —Você precisa mesmo fazer isso?
—Eu já decidi o meu caminho. —Diz parecendo decidida. —Serei finalmente útil.
—Você sabe que aquele homem é um mentiroso. —A tal Selene não parece esconder o seu rancor.
—Karlheinz-san precisa de um herdeiro e eu posso dar isso a ele.
—Espero que esteja certa disso, Beatrix. —A cabeleira negra desvia o olhar. —Nunca duvide do poder do destino, ele sempre sabe como nos surpreender.
Após essa mulher misteriosa e parecida comigo dizer tais palavras, tudo desaparece e eu sou levada até um outro jardim, este, todavia, não é florido, é apenas um jardim que termina com uma alta parede branca. Uma árvore, a única daquele lugar, tem um balanço amarrado nele e há uma garotinha que se balança nele; seus cabelos negros estão tão bem penteados e presos em um laço de fita, além de um vestido creme rodado o qual deixava-a quase com uma aparência de boneca. Ela balança sem vontade, encarando a parede branca a sua frente. Lembro-me vagamente desse lugar e isso me assusta.
—Azurah!
Sou… eu. Sabia que reconhecia, este é o local onde vivi até os meus onze anos e aquela ali sou eu com uns cinco ou seis anos, não me lembro ao certo. Ao fundo posso ouvir outras garotas brincando, enquanto eu estou ali sozinha; após ouvir a voz do Sensei, viro meu rosto para encarar ele e um outro homem ao seu lado.
—Venha cá, rápido. —Ele ordena e eu vou correndo até ele, muito alegremente. —Não corra, Azurah. Que falta de respeito com o senhor.
—Desculpe-me, Sensei. —Peço envergonhada.
—Essa é a garota que você falou? —Questiona o outro homem muito curioso, olhando para mim de um jeito enigmático.
—Exatamente. Azurah, a minha melhor aluna e também a mais bela de todas.
—Azurah, eu trouxe algo para você. —Diz o homem ajoelhando-se para ficar do meu tamanho.
Ele estende a mim um pequeno ramalhete de rosas brancas, os quais fazem aqueles olhos negros se arregalarem, encantados.
—Você não irá agradecê-lo, Azurah? —Pergunta Sensei um pouco enfurecido.
—Obrigada. —Agradeço gentilmente sorrindo ao homem.
—Ela é tão fofa. —Comenta levando a mão aos meus cabelos. —Por que não saímos um pouco e você me agradece por lá?
Minha pequena eu concorda com aquela proposta, o que faz Sensei sorrir. O homem se levanta e estende a mão para mim, a qual a garotinha toma sem hesitar, neste momento, eu já não conseguia controlar as lágrimas.
Acordo e eu estou chorando, de desespero e pavor, sem nem lembrar direito daquilo, só sei que machuca. Quem era aquela mulher conversando com Beatrix? Elas pareciam tão íntimas. E por que Sensei tinha que aparecer justo agora? Será que eu já não estou abalada e sofrendo o bastante?
Começo a sentir uma falta de ar, eu tremo muito e suar frio, sentindo minha ansiedade atacar e o desejo crescer de forma insuportável. Eu preciso dela, eu preciso sentir algo. Quando olhei para os olhos daquela pequena eu, eles estavam vazios, não havia um único sentimento e isso é assustador. Eu quero sentir!
Acendo o abajur e vou rapidamente até a penteadeira, apanhando aquela que será minha amiga neste momento. Uma crise de abstinência, era tudo o que eu precisava agora para me foder de vez. Não me importo com nada, apenas preciso disto o mais rápido possível. Aqueço o pó e este transforma-se em líquido que eu injeto em minha veia; eu preciso de mais, por isso acabo aplicando mais de uma dose.
Eu solto uma risada. Uau, como é mágico e lindo! Por um momento sinto como se eu estivesse em um palco, as luzes direcionadas a mim e os aplausos — faz tanto tempo que eu não ouço, tanto tempo que não estou em um palco me apresentando. Fico na ponta dos pés como uma bailarina e começo a rodar, lembrando dos passos de Sensei, do quanto eu era talentosa e perfeita quando dançava... Aonde essa garotinha sonhadora e brilhante foi parar? Ela morreu. Acabo caindo no chão, zonza de tentar dançar nesse estado chapada, alucinando com flash felizes do meu passado... O que me faz querer rir. Eu poderia morrer assim que não me importaria, pois estou tão livre.
—Por que faz isso com você, Azurah?
—Pode ir embora, assombração. Não preciso de você. —Respondo sem tirar o sorriso de meus lábios.
Ela está deitada no chão, ao meu lado.
—É isso o que você quer? Morrer? —O tom de Yui é de preocupação.
—Você deveria estar feliz porque está morta e se livrou desses sanguessugas. —Digo enquanto deixo o ódio também prevalecer.
—Não conseguirá nada assim, Azurah. —Diz decepcionada. —Você acha que está livre, mas está apenas se afundando ainda mais.
—Por que está aqui? —Finalmente encaro-a.
Ela está vestindo um pijama, que consiste basicamente numa camisola rosada e totalmente sem sex appeal — que horror! Seus olhos brilham como safiras na escuridão e são até lindos de se ver. Ela segura a minha mão, de uma maneira que eu não entendo como é possível, mas deve ser efeito da droga, porque ela é gelada, quase como as dos sanguessugas.
—Você precisa de ajuda. —Responde segurando-me com firmeza.
—Como uma assombração como você pode me ajudar? —Ela não me responde. —Yui, cai na real... Ninguém pode me ajudar. Eu sou um caso perdido há muito tempo.
—Não Azurah, você não é. —Tenta insistir inutilmente com aquele seu jeito gentil. —Eu achei um lar entre os vampiros, você pode achar também.
—Você está brincando comigo, não está? —Indago ficando revoltada.
—Você está conquistando-os cada vez mais...
Separo nossas mãos, ficando de pé e olhando-a com severidade no meio da escuridão daquele quarto.
—Conquistando? Fala isso para o Ruki dos meus sonhos que acertou uma chicotada em mim ou para o Ayato que já me ameaçou de morte tantas vezes que não sei nem contar.
—Precisa ter calma... —Ela volta a insistir com isso, também ficando de pé em um salto.
—O que você ganha com isso!? —Berro enfurecida. —O que é isso de Eve? Por que está aqui?
—São perguntas demais que eu não posso responder. —Diz cabisbaixa.
—Sim, são perguntas demais e nenhuma resposta. —Eu não abaixo o tom. Essas paredes são grossas, veremos se irão conter o meu surto. —Já estou aqui há meses e sabe o que eu descobri sobre as minhas origens? Nada! Estou da mesma forma que estava quando entrei neste inferno.
Yui parece se assustar com a minha brutalidade e também parece assustada com o que vê em meus olhos... Não me importo, eu sempre fui esse monstro.
—Quer saber de uma coisa, Yui? —Esbravejo sem pudor. —Eu quero que você e essas mães Sakamakis vão se fuder! Sabe, eu não me importo com vocês, porque vocês também não dão a mínima para mim.
—Azurah, por favor... —Ela tenta insistir, mas eu já não tenho mais saco.
Abro a janela do quarto que dá até a pequena varanda, permitindo que o vento frio da madrugada refresque o meu corpo que queima em ódio mortal.
—Não! —Berro. —Você se importa com eles, não comigo!
—Isso não é verdade! —Ela tenta rebater, mas é inútil.
—Então por que eu tenho que viver isso? Por que tenho que ver as memórias desses sanguessugas? Por que tenho que reviver o meu passado?
—Eu sinto muito pelo o que você teve que passar, Azurah. —Ela lamenta abatida.
—Não, você não sente, porque você não me entende, ninguém me entende. —Digo dando passos para trás, indo até a varanda, afastando-me da falecida noiva.
—Suas visões servem para você ver o que tem em comum com eles. —Explica-me cansada.
—Eu não tenho nada haver com eles!
—Você acha isso mesmo? —Questiona desconfiada, o que me faz repensar por um segundo. —Azurah, você deveria ouvir o que as outras falam para você.
—Eu só quero me livrar disso. —Digo passando as mãos em meus cabelos negros, desesperada. —Eu não aguento mais isso, é mais dor do que eu suporto.
—Você sabe que consegue, Azurah. —Diz tentando me transmitir confiança. —Você é muito forte e pode ser ainda mais do que pensa.
—Mas para isso eu tenho pensar em me matar todos os dias? —Percebo o olhar triste da loira.
—Eu já vivi aqui, Azurah. Não tudo o que você viveu, claro, porém sei como eles são difíceis e como a relação pode ser bem complicada... —Confessa com muito pesar. —Só que você não pode desistir, Azurah. Eles precisam de você.
—Eu posso ajudar eles, mas quem irá me ajudar? —Yui não sabe o que me responder. —Eles precisam de alguém que os salve, mas quem virá me salvar? Não sei se posso lidar mais com isso sozinha.
—Eu só posso pedir que confie em você, Azurah. —Diz por fim. —Confie no seu poder.
—Que poder?
Yui tenta avançar até mim, é quando percebo que ela está encharcada de sangue. Isso me assusta e tento afastar-me dela, o que acaba acarretando na minha queda, visto que chapada, não tenho o controle total do meu corpo. A queda da varanda não é alta, são apenas dois andares, contudo eu gostaria que fossem mil, podendo esse ser o meu final definitivo.
—//—
A queda não matou Azurah e nem poderia. Surpreendentemente também não a deixou com muitas sequelas, apenas sangrava um pouco no chão dos fundos da mansão, totalmente desmaiada. Contudo, a sua queda não passou despercebida, mesmo que já fosse incrivelmente tarde naquela noite de lua minguante, alguém não conseguia dormir e do jardim de rosas brancas visualizou a queda da cabeleira negra. No começo pensou tratar-se de uma ilusão, todavia o barulho do corpo chocando-se contra o chão, provou que aquilo era real.
—Oi! —Berra ele correndo até a garota, a qual estava completamente desmaiada. —Porra! Não diga que tentou se matar?
Subaru nem precisou verificar o pulso dela, pois seus ouvidos vampíricos conseguiam ouvir os batimentos cardíacos, os quais estavam agitados e descompassados.
—Estúpida! Não pode fazer isso, idiota! —Esbraveja bem enfurecido. Ele começa a cutuca-la para ver se acordava. —Oi, acorda! ACORDA!
Lentamente, aqueles olhos de uma íris negra abrem-se, piscando repetida vezes tentando assimilar o que acontecera, enquanto percebia a presença do albino em cima dela.
—O-o que aconteceu? —Questiona confusa olhando para aqueles olhos vermelhos-sangue.
—Nunca mais faça isso, idiota! —Exclama parecendo desesperado. —Por que tentou se matar?
—E-eu não... —Azurah tenta se levantar, porém seu corpo está todo dolorido por conta da queda. —Eu não tentei me matar.
—Então o que estava fazendo?
Sua cabeça ainda girava, apesar disso ela acaba lembrando da sua discussão com a falecida noiva. Não poderia dizer que estava com Yui, primeiro que ele não acreditaria e segundo faria muitas perguntas. Ela ainda estava drogada, por conta disso seu raciocínio ainda é muito lento; a cabeleira negra tenta se levantar, contudo acaba gemendo de dor.
—Você está sangrando... —Comenta Subaru percebendo que a camisola creme ganhou um leve tom avermelhado. —Vira de costas.
—O que!? Ficou louco? —Indaga Azurah furiosa.
—Eu mandei você virar de costas. —Ordena novamente.
—Vai se ferrar, sanguessuga. —Esbraveja tentando empurra-lo, no entanto seus músculos não estão tão obedientes. —Não ouse encostar em mim.
—Tsh! Como você é difícil. —Reclama, agarrando-a.
Azurah tenta lutar, contudo suas forças estão prestes a abandoná-la e estão dopadas demais por conta da droga, o que apenas dificulta a vida de Subaru, o qual por fim acaba empurrando-a para baixo com a barriga colada no chão. Ele monta nela, enquanto ela ainda luta para resistir a ele, chegando até a choramingar.
—Eu só quero ajudá-la, sua louca. —Tenta justificar o albino segurando os punhos dela.
—Fica longe de mim, sanguessuga! —Berra esperneando. —Seu pervertido, tira as mãos de mim!
—Cala a boca, antes que eu lhe dê um soco para apagá-la e isso será bem pior. —Ela diminui a resistência, mas ainda persiste em choramingar. —Por que está chorando? Isso já é difícil, então não complique mais.
Ele levanta a camisola e percebe que em suas costas o sangue escorre em uma quantidade razoável, parecendo que a queda não provocou muitas feridas, sobretudo haviam outras ali, cicatrizes profundas e hematomas, os quais pareciam terem sido causadas por alguma espécie de espancamento.
“O que era aquilo?”, se perguntava horrorizado.
—Por favor, não faça nada. —Pede chorosa. Com a droga, é bem mais fácil confundir delírio com realidade.
—Eu não vou fazer nada. —Assegura a fim de acalma-la, porém não parece surtir tanto efeito.
Subaru começa a lamber as feridas e o fio de sangue que escorre da cabeleira negra, no entanto é quando consegue sentir o gosto mais do que amargo daquele sangue, que quase o faz engasgar.
—Que porra é essa!? —Indaga com nojo.
Ele lambe novamente e cospe tudo fora. O gosto era horrível.
—Você está drogada? —Questiona ficando nervoso. —Você tem merda na cabeça, sua idiota!? Por que faz uma merda dessas, hã!?
—Me solta! Me solta! —Volta a espernear.
—Eu vou terminar isso aqui. —Ele lambe cada uma das feridas dela, mesmo que Azurah relutasse bastante e o vampiro tivesse que cuspir tudo, visto que o gosto era tremendamente horrível.
Subaru sai de cima dela e a garota puxa a camisola dela para baixo, envergonhada, não por causa da sua situação com o albino, mas porque seu segredo sobre as drogas não era mais um segredo.
—Agora você vai me dizer porque está se drogando. —Diz autoritariamente.
—Você não manda em mim! —Esbraveja nervosa. —Além do mais são apenas cigarros.
—Não minta para mim! —Berra furioso. —Não pense que eu sou um completo estúpido, porque eu sei a diferença.
—Não tente me controlar. —Diz com seus olhos negros ardendo em rancor. —Assim eu posso ser feliz, posso ser livre de vocês, sanguessugas.
—Você acha que está livre? Isso aí vai destruir a sua vida!
—Eu não ligo para a minha vida! —Rebate acompanhando o mesmo tom de revolta de Subaru. —Eu quero fazer isso. Agora me deixe.
Ela tenta se levantar, contudo não consegue novamente, está muito fraca e sua cabeça gira mais do que é possível para alguém conseguir se equilibrar.
—Olha para você, nem consegue ficar de pé. —Subaru puxa a cabeleira negra e eleva-a, carregando-a em seu colo. —Você pede demasiada atenção.
—Eu não preciso da sua ajuda. —Azurah tenta resistir.
—É mesmo? Você mal consegue se equilibrar, sua drogada. —Esbraveja bem nervoso. —Tem que agradecer porque sou eu, não acho que outro faria algo assim por você.
Subaru pega impulso para voar e levá-los até o quarto da garota, ele carrega-a e coloca-a de volta na cama. Neste momento, ao encarar o rosto dela na escuridão é que percebe como as suas pupilas estão dilatas, evidenciando seu estado completamente chapada. O vampiro entende o que é querer fugir da realidade, porém não entende como Azurah pode ver a ideia de se drogar como uma saída para isso.
Ele deixa-a deitada na cama e pretende ir embora, quando seu braço é agarrado por ela.
—Subaru... Fica comigo...
—Como é? —Indaga confuso.
—Eu preciso de alguém essa noite, alguém que me faça sentir amada de alguma forma... —Ela pede aquilo com seus olhos negros implorando. —Só você pode me satisfazer, Subaru.
—Você está drogada. —Diz puxando seu braço para si.
—E daí? Eu sei que você me deseja, então porque negar agora que eu estou boazinha... —Fala sorrindo maliciosamente.
Subaru empurra-a na cama e segura os ombros dela, olhando-a seriamente.
—Se fizermos isso, amanhã, quando você acordar, não se lembrará disso. —Responde imutável. —Sem falar que você diz isso porque sou eu quem está, mas poderia ser qualquer um.
Ele se afasta, fazendo-a dar de ombros, como se para ela não fizesse diferença e isso atingiu o vampiro — ela não dava o menor valor para a vida dela ou para qualquer coisa. Ela puxou as cobertas e deitou-se de costas para ele, Subaru nem precisou esperar muito, pois rapidamente a cabeleira negra caiu em um sono profundo.
Após soltar um longo suspiro de cansaço, o albino decide que precisa fazer algo ou pelo menos falar com alguém, e ele sabe quem. Subaru deixa o quarto da garota e caminha para o outro que não era tão distante do dela, batendo na porta com certa impaciência, pois ele sabe que o outro está lá, já que este não faz outra coisa senão dormir. Alguém resmunga do outro lado, provavelmente acabou acordando-o.
—Shu, estou entrando. —Avisa adentrando o quarto do irmão mais velho.
—Subaru...? —Indaga o loiro sonolento e semi-desperto. —O que você está fazendo aqui? Eu quero dormir. —Diz dando um longo bocejo.
—Eu sei que você quer dormir. —Diz rudemente, porque ele sabe que Shu basicamente só dorme. —Mas eu vim aqui falar de algo importante.
—Não podia ser amanhã? —Pergunta ainda deitado na sua cama.
—É sobre a Azurah. —Ao dizer o nome da garota, Subaru sentiu que a reação do mais velho mudou.
—O que foi? Passou a noite com ela? —Pergunta com um sorriso malicioso.
—O que!? Não! —Nega rapidamente, sem jeito. —É que eu não estava conseguindo dormir e fui passear lá fora, quando vi ela caindo da varanda.
—Como assim ela caiu da varanda? —Indaga assustado.
—Não sei como ela caiu, mas ela está bem, supreendentemente não se machucou muito. —Conta, o que deixa o loiro desconfiado. —Mas você sabia que ela se droga?
—Ela fuma, não fuma?
—Outro tipo de droga... —Subaru gostaria de ser mais específico, porém ele não sabe identificar esse tipo de coisa.
—Não. —Responde um pouco distante. —Está preocupado com isso?
Shu finalmente se senta na sua cama e passa a encarar seriamente o mais novo de seus irmãos, ele sabe o quanto o albino é transparente em seu olhar e o loiro queria saber quais são os interesses de Subaru na cabeleira negra.
—Você não está? —Subaru tenta não soar desesperado, porém não parece ser muito eficiente.
—E se eu te dissesse o que acho sobre ela? —O mais novo ficou um pouco incrédulo, não entendendo o que o mais velho queria dizer. —Acho que ela não é humana e que ela controla o Reiji de alguma forma.
—C-como? —Os olhos vermelhos-sangue arregalam-se surpresos.
—Esses mal-estares que ela sente, o fato dela não ter uma anemia mesmo comendo mal... Tudo isso é muito suspeito. —Conclui Shu.
—Você tem razão. —Concorda Subaru, amaldiçoando-se por não ter percebido isso antes. —E por que acha que Reiji está com ela?
—Isso é mais intuição, pela maneira como ele reage... —O loiro é bem vago nesta resposta. —Além disso, tem o fato dela não ter cheiro. Você se lembra daquele dia que estávamos todos reunidos e sentimos um cheiro totalmente diferente?
—Lembro. —Confirma o albino, lembrando-se que era um cheiro bem tentador.
—Azurah desmaiou naquele dia, exatamente naquele corredor.
—Calma! Você acha que esse cheiro veio dela? —Questiona Subaru confuso.
—É a resposta mais óbvia. —Responde sério, de uma maneira que surpreende o mais novo. —Mas deve ter algo que nos impede de senti-lo, algo que ficou livre dela naquele momento...
—Deve ser o colar. —Conclui o albino.
—Sim, deve ser. —Concorda.
—É por causa disso que você acha que ela não é humana? —Subaru não parece totalmente convencido pela teoria do mais velho.
—Há mais coisas, mas seria perda de tempo tentar explicar. —Diz cansado.
—Ela também tem… umas cicatrizes nas costas. —Comenta o albino sem jeito.
—Eu já vi quando... —O loiro fez uma pausa, era preferível não falar, pois ambos entendiam do que se tratava. —Ela mostrou para você?
—Não, eu apenas vi. —Responde um pouco distante. —Sabe o que significam?
—Eu já perguntei a ela sobre isso, mas ela foi evasiva, por isso preferi não pressionar. —Diz ainda bastante pensativo, era óbvio que isso tinha haver com o seu passado, o qual ninguém daquela mansão fazia ideia de qual era. —Subaru, há algo que quero perguntar. —O mais novo, surpreso, permite que o loiro prossiga. —Você tem sonhos com ela?
Aquela pergunta pegou o albino totalmente desprevenido, sem saber muito bem como reagir ou o que responder ao mais velho.
—Pela sua reação, eu diria que sim.
—Que tipo de sonho? —Indaga desconfiado.
—Não é esse tipo de sonho que estou falando, pervertido. —Shu ri alto, deixando Subaru irritado. —Do tipo pesadelos. —O loiro é mais específico desta vez.
—Sim. —Confirma para nenhuma surpresa do loiro. —Não consegui dormir hoje por causa deles. Ela está lá, se afogando e eu não consigo salvá-la, e, de repente, eu começo a nadar em sangue, sei que é dela. —Aquilo causa um arrepio nele. —E você, Shu?
—Estamos na mansão, às vezes é o meu quarto, às vezes o dela, e tudo começa a pegar fogo e eu não consigo salvá-la antes das chamas consumirem tudo. —O mais velho desvia o olhar, abalado por falar aquilo daquela forma, porque o fogo sempre estava presente em seus pesadelos.
—O que acha que significa isso? —Pergunta confuso.
—Não sei. —Confessa pensativo. —Mas talvez seja algum efeito colateral do sangue dela, como Reiji nos alertou.
—Talvez devêssemos falar com quem ficou com ela por último... Tipo o Laito e o Kou. —Disse o último nome com certo rancor.
—Até o ídolo? Ah, femme fatale... —Shu ri sozinho. —Não sei se podemos confiar nos dois. —Subaru concorda. —Subaru, eu vou confessar algo a você... Eu não pretendo desistir dela.
O albino é pego novamente de surpresa pelas palavras do mais velho, ele podia ver naqueles olhos azuis celestes o quanto Shu estava certo sobre aquilo, enquanto o mesmo ainda está confuso sobre a cabeleira negra.
—Eu sei que você está interessado nela e que já ficaram uma vez. —Shu é direto. —Mas eu estou disposto a muita coisa para descobrir tudo o que puder sobre ela.
Isso abala o mais novo, que apenas concorda frente ao loiro. Subaru sabe que está um passo atrás e após ela ficar com Kou, isso ficou evidente — era só o sangue e o mistério, era isso que atiçava seu interesse, no final ela não é tão diferente de Yui. Shu, por outro lado, sabe que está deixando seu desejo carnal falar mais alto, contudo ele sabe que havia algo mais, alguma espécie de conexão com Azurah, algo que ele não sabe explicar e que queria desvendar. No fundo, eles sabem que terão que lutar por ela, assim como Kanato e Ayato lutaram por Yui.
—//—
Inventando a desculpa de estar doente ou com pouco sangue, Azurah falta ao colégio, ficando em seu quarto dormindo. Quando ela acordou, com os raios da manhã banhando-a, sentiu uma imensa dor por todo o seu corpo e sua cabeça parecia tão pesada, deveria ser porque ela estava com ressaca após ter usado mais de uma dose de heroína. No entanto, a cabeleira negra sentia que havia algo de diferente, um cheiro de rosas com orvalho, o que a fazia se lembrar de Subaru, mas não seria possível ela ter ficado com ele, pois ela se lembraria, não?
Ao constatar que a amiga não viria ao colégio, Lia sente o desespero tomar conta de si, principalmente após a discussão que tiveram. Azurah estava estranha, isso era inegável à caçadora, porém ela gostaria de saber o que há com a amiga, porque sabe que a cabeleira negra está sempre sofrendo em silêncio, guardando tudo para si e afundando em um mar de sofrimento, o qual ela tenta esconder por trás daqueles tentadores olhos negros como a escuridão de um eclipse. Sem outra alternativa, a única pessoa a quem a ruiva podia recorrer era o vampiro de óculos.
Não havia outra maneira de contacta-lo que não na sala de aula. Hesitante, Lia ousa sentar-se ao lado daquela figura séria e superiora de Reiji, o que o surpreende, porém a ruiva não pretende se deixar abalar por ele.
—Precisamos falar sobre a Azurah. —Diz sem olhá-lo, assim que o professor entra na sala.
—E para isso você precisa se sentar comigo na sala? —Questiona desconfiado.
—Que desculpa melhor eu teria para me aproximar de você? —Indaga tentando parecer indiferente a ele.
—Isso pode chamar atenção demais. —Aponta olhando para os outros três vampiros daquela sala, mas nenhum deles pareciam estar prestando atenção neles.
—Azurah é mais importante, estou preocupada com ela. —Confessa a ruiva.
—Conversamos após o fim do período. —Aquela é a palavra final de Reiji e Lia concorda.
As aulas seguiram normalmente, por mais que o vampiro tivesse dificuldade em concentrar-se com a pulsação acelerada da caçadora sentada ao seu lado, a qual estava descontrolada por conta da sua preocupação excessiva pela cabeleira negra, pelo menos na visão de Reiji. Lia foi a primeira a sair e Reiji esperou um pouco antes de seguir até o antigo laboratório do colégio — o segundo Sakamaki achava um desperdício deixarem um local como aquele abandonado. Chegando lá, encontrou a ruiva andando de um lado para o outro, aflita.
—O que ela tem? —Pergunta preocupada.
—Ela disse ao mordomo que estava doente, com pouco sangue... Mas desde que ela voltou da detenção, com aqueles quatro, está estranha. —Observa o vampiro pensativo.
—Também percebi isso. Discutimos ontem, ela parecia um pouco... Fora de si. —Comenta lembrando-se da reação exagerada de Azurah.
—Ela sempre foi um pouco fora de si mesma.
—Não ouse falar assim dela! —Exclama nervosa. —Azurah é uma pessoa cheia de traumas, não muito diferente de vocês.
—Não somos em nada parecidos com ela. —Rebate enraivecido.
—Você já parou para pensar como é ser ela? —As palavras de Lia chocam-o, colocando-o em uma situação de impasse. —Mesmo que ela não fale, é evidente que ela teve uma vida sofrida, cheia de violência e abusos... Talvez vocês realmente não sejam parecidos com ela.
Reiji agarra o braço da caçadora, olhando profundamente com seus olhos avermelhados naqueles castanhos-esverdeado. Desta forma ele sabia que estava expondo-se bastante, demonstrando naqueles olhos a solidão de um garoto que sempre buscou o amor e o reconhecimento de sua mãe, que não gostaria de viver para sempre na sombra do irmão mais velho. Lia poderia não ser uma perfeita analista como Azurah, contudo ela entendia o que o vampiro queria lhe transmitir e se surpreendeu ao lidar com alguém que não parecia ser um monstro tão horrendo e sedento por sangue como a imagem que a Igreja lhe vendeu a sua vida toda. Seus rostos estavam tão próximos, porque Lia não é nada baixa com seus 1,75 metros, sentindo a respiração de ambos e o clima esquentar.
—Então você está aqui... —Comenta aquela voz sem a menor vontade.
Lia e Reiji se separam na hora, incrivelmente desconfortados, contudo tinham que agradecer pelo mais velho não se importar com nada a sua volta.
—Então a caçadora é você. —Diz Shu analisando a ruiva. —A amiga dela... Deveria ser previsível.
Rapidamente a caçadora retirou uma pistola presa em sua cintura e apontou para o loiro; não hesitaria em atirar, mesmo que matar o herdeiro de Karlheinz poderia lhe causar mais problemas do que a Igreja poderia lidar.
—Pela sua cara, você está com mais medo de me matar do que se eu expô-la. —Fala com um sorriso provocativo em seus lábios.
—Shu, o que faz aqui? —Questiona Reiji ajeitando suas lentes.
—Eu não vim aqui atrás de você, caçadora. —Diz a fim de acalma-la. —Vim aqui porque já sei de tudo.
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