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História Wolf Child - I. O caçador e os lobos


Escrita por: burka

Notas do Autor


atualizações semanais aos domingos
— 🐺 Aqui na fanfic, existem todo o conceito de maldições e jujutsu do mangá, com alterações na história de alguns personagens, citado abaixo.
— 🐺 Contém spoiler sobre os poderes de Megumi.
— 🐺 A aparência do Sukuna não é igual ao do Itadori, aqui na fic a aparência dele é quase fiel à forma original, tirando que ele tem quatro braços e olhos e o fato dele ter tipo uns três metros de altura o resto é igual! Vou colocar isso aqui para ficar melhor na hora de visualizar. Ignorem a aparência dele na capa, foi a única arte que achei com ele com um arco.
O Sukuna aqui não é uma maldição, ele é um feiticeiro jujutsu.
— 🐺 As falas do Megumi terão erros propositais, como visto na sinopse e aqui no primeiro capítulo, o Megumi viveu anos isolados só com lobos então ele não "falava", sendo assim, sua comunicação foi um pouco afetada. Ele também tem hábitos mais parecidos com os de um lobo do que um humano.
— 🐺 Esta história não contém nenhum aviso de gatilho além de morte, menções leves a tentativa de suicídio e Sukuna não ser alguém que liga para animais (ele é um caçador por diversão). Vamos ter tragédia, mas nada muito pesado confia
— 🐺 Slowburn meus amores, isso quer dizer que o romance vai ser um pouco lento mas isso não quer dizer que não teremos momentos fofos sukufushi!
— 🐺 ABO. falei tanto mal, onde estou agora? O ABO aqui é mais um acréscimo pra história do que para ser uma cereja no topo do bolo para o relacionamento, em minhas pesquisas vi que poderia inventar algumas coisas dentro do ABO então além do básico ABO vai ter alguns adicionais que serão explicados com o passar da história.
Soulmate? Amo, eu nem ia deixar exposto mas acho que dá um peso a mais para *spoiler*
— 🐺 em alguns capítulos poderemos ter "cenas extras", imagine que seja como aquelas ceninhas que tem após as ending de um episódio de anime. Essas cenas vão dar explicação ou curiosidade sobre a fic ou será só umas cenas fofas SukuFushi – as vezes penso em cenas fofas, mas não tem como inserir no capítulo e preciso de um lugar para por elas sem deixar o capítulo sem contexto

Após essas notas enormes, tenha uma boa leitura

Capítulo 1 - I. O caçador e os lobos


— Parte Um:

O caçador e os lobos.

⚘⸙

 

Mesmo que estivessem passando pelo pior inverno de suas vidas, aquela casa nunca pareceu tão quente.

Yuuji Itadori andava saltitante de um lado para o outro cantarolando alguma música que Sukuna não conseguia entender, talvez fosse algum pop atual ocidental no qual o meio irmão vivia escutando. O mais novo nunca pareceu tão feliz e energético, ele já era naturalmente alguém que transmitia uma aura animada e boba mesmo que fosse um alfa, se não o tivesse visto em batalhas falaria que Itadori era no máximo um beta com habilidades extraordinárias.

Ele era como o sol, brilhante e radiante, quente e querido por todos, não foi à toa que acabou sendo a paixão à primeira vista de Gojo Satoru.

Mesmo que seu casamento fosse polêmico, não por serem homens, mas por serem ambos alfas – e ter dois alfas sendo noivos era algo tão estranho quando dois ômegas namorando. Mas tanto ele como o próprio Satoru nunca foram de se importar com coisas tão triviais como aquelas.

Contanto que não transassem perto dele, Sukuna sempre foi indiferente. Ainda era assombrado por lembranças de uma viagem onde pode comprovar como dois alfas podem ser verdadeiramente ferozes durante o sexo.

— Então, quando vai ser mesmo?

— Daqui alguns meses, queremos casar no início da primavera — Itadori comentou animadamente.

Sukuna realmente não devia ter perguntado aquilo, pois agora o rosado não parava de falar sobre o casamento e os preparativos, a mesma coisa que já tinha ouvido umas cinquentas vezes desde que ele veio passar um final de semana em sua casa após o apartamento que morava ter pegado fogo – os pombinhos foram “dormir” e esqueceram o fogão aceso com um monte de batatas fritas.

— Essas coisas, por que elas tem que estar em todo canto? — Itadori fez uma careta apontando para uma coruja empalhada.

Ryomen Sukuna era conhecido por muitas coisas; o feiticeiro jujutsu mais forte da atualidade, uma personalidade arrogante e agressiva, um rico irresponsável e claro, o motivo de seu sorriso presunçoso: um grande caçador, desde criança seu hobby sempre foi a caça que com o tempo evoluiu de coelhos a presas maiores.Tinha em particular um animal que fazia seu coração acelerar a cada caçada, os lobos.

Enormes, ferozes e selvagens, aquela fera o cativava profundamente com seu olhar predador e beleza mortífera, a emoção de ver um daqueles gigantes em sua frente pela primeira vez foi enorme - mas não maior que o sentimento que foi matá-lo, aquilo sim fez seus olhos brilharem.

Não querendo perder nada, Sukuna até mesmo aprendeu todo o processo para transformar o couro do animal e costura-lo para fazer roupas e acessórios. Sua casa era decorada com suas peças e as exibia com orgulho genuíno enquanto não poupava detalhes das noites de caçadas.

— São meus prêmios, minhas maiores conquistas — Sorriu orgulhoso enquanto seu olhar nostálgico vagava pelas almofadas e tapeçarias.

— Você não tem pena deles? — Perguntou olhando descrente para a aura envaidecida do irmão.

— Teria mais pena se eles não se tornassem uma linda carteira ou algo útil para mim.

Itadori fez uma careta de desgosto.

— Que horror, você é cruel.

— Você não falou isso quando te dei aquela bolsa.

— Pare, está me fazendo sentir horrível! E outra, como eu poderia negar um presente feito a mão pelo meu irmão?! Não significa que eu aprovo.

— Basta negar, mas se não me falha a memória, você parecia muito empolgado — Sukuna apenas balançou os ombros sem se comover.

 — Espero que se apaixone por um vegano ou defensor dos animais.

Foi a vez de Sukuna fazer uma careta.

— Não aja como se eu me importasse… De qualquer forma, estou saindo em breve e deixo a minha casa em suas mãos, porém se tiver um único arranhão saiba que vou fazer uma carteira com sua pele!

Itadori deu uma risada nervosa enquanto seu rosto ficava pálido aos poucos, os conhecimentos de Sukuna faziam aquela ameaça soar ainda mais realista e amedrontadora.

— Vai a onde?

— Uma caçada — Sukuna deu uma piscadela — Soube de um rumor sobre lobos enormes nas montanhas ao norte.

— Você não acha que tem lobos suficientes empalados por aqui? Tipo, qual é! Não tem mais espaço nessa mansão.

— Quem disse que seria para mim? — Itadori o olhou com interesse — Vai ser meu presente de casamento, uma bela capa feita da pele dos lobos do norte.

Um brilho de excitação apareceu nos olhos castanhos, mas logo foi reprimido pois não queria que suas alegações anteriores de piedade aos animais soassem superficiais. Ele voltou a andar para casa cantarolando a mesma música novamente. 

 

 

 

 

Ao longe pode ver a pequena cidade que iria passar o final de semana, quase imperceptível se não estivesse no meio do nada, literalmente. Ao redor havia apenas um grande manto branco e gélido que cobria as plantações com riachos estreitos passando pelo meio e cercas de madeira marcando seus limites.

Mais a frente estavam as montanhas, grandes e imponentes, com uma floresta densa ao seu redor. Seria uma bela imagem para um cartão postal, uma vila com montanhas pontudas ao fundo coberta de neve sob o céu cinza claro. Sukuna tirou o celular do bolso e tirou uma foto da paisagem.

A cidade era realmente pitoresca, como havia sido descrita Nanami. As casas eram pequenas e tradicionais construídas com madeira e telhados pontudos. Havia apenas uma única pousada de poucos quartos na vila toda, o que mostrava que o turismo não era o forte dali. O dono da pousada era o mesmo de um dos únicos dois restaurantes da cidade.

Como aquele fim de mundo se mantinha? Era uma grande pergunta.

O ponto positivo foi a hospitalidade, todos eram simpáticos e pareciam bastante dispostos a ajudar Sukuna no que precisasse, o que se fez perguntar se  eram assim naturalmente ou porque era um alfa realmente poderoso.

Alfas sempre estiveram no topo da sociedade, sendo venerados e servidos, tratados como deuses, não era atoa que a maioria era um bando de insuportáveis inconsequentes – não que fosse um bom exemplo. Alfas naturalmente eram seres difíceis de conviver e seu maior traço era o territorialismo, principalmente com outros alfas e ficava ainda pior quando era alguém novo chegando.

Em resumo, alfas sempre iriam querer estar no topo mostrando seu poder e força e estavam mais que dispostos a brigar por isso.

Mas desde que chegou ali, não sentiu a presença de nenhum outro.

Aquele lugar cheirava a flores, mesmo que não existisse nenhuma a desabrochar. Ômegas estavam em abundância por ali, um deleite para alfas que poderiam tornar dali seu harém. Eles viam aos montes até Sukuna, sendo atraídos pelo magnetismo natural e cheiro marcante de canela.

Particularmente, era irritante. Sukuna sempre foi do tipo que gostava de homens e mulheres difíceis do que aqueles que só se atiravam e abriam as pernas com palavras bobas e charme barato. Os ômegas daquela cidade eram do pior tipo, ansiosos para serem domados e ligados por algum alfa como se seu único propósito fossem esse.

Para Sukuna, eles eram lastimáveis.

A filha do dono da pousada no qual não havia decorado o nome era uma bela ômega de cabelos curtos e pretos esverdeados de expressão severa, mas seus olhos se tornaram doces assim que pousaram em Sukuna. Constantemente ela passava em frente ao quarto com seu cheiro doce denunciando sua chegada, batendo suavemente na porta e perguntando em um tom forçadamento meigo se precisa de algo a mais. Ela circulava pelos cantos com roupas reveladores demais para o  clima o que a fazia tremer constantemente. Desesperada e patética, essa foi a sua conclusão.

Ômegas geralmente eram para ser dóceis e inocentes, o que não estava acontecendo ali, ou estavam loucos pelo seus feromônios ou apenas iriam se atirar para qualquer turista se aquilo significasse sair daquele fim de mundo.

Particularmente, estava cansado de ouvir aquela mesma história que alfas e ômegas eram perfeitos um para o outro, a maioria dos ômegas eram chatos forçando um ar de fofura que o irritava. Mesmo aqueles que eram mais rebeldes, acabavam cedendo aos padrões impostos ou era apenas uma fachada.

Por isso grande parte de seus parceiros eram betas, não eram tão emotivos e lidavam melhor com términos e sexo sem compromisso.

 — Sukuna! Bom dia! — A menina apareceu sorrindo.

Sukuna apenas se limitou a um sorriso forçado. Ela até era bonitinha se ficasse calada.

— O café da manhã está pronto. Aqui toma — Ela entregou um pequeno pote de geleia de morango — Por conta da casa.

— Obrigado.

Não, ele não comeria. Conseguia sentir que havia algo além do que aquela simples geleia de morango poderia ser e pelo jeito que a família o encarava, como se fosse se tornar seu genro, a comida toda poderia ter sido enfeitiçada.

Não havia muito coisa a se fazer além de comer fora. Suspirando enquanto ajeitava o sobretudo preto no saindo da pousada, apenas desejava que os boatos fossem verdadeiros para compensar todo o aborrecimento que passava. Seus passos eram rápidos e Sukuna não perdeu muito tempo olhando a paisagem, quando viu já estava em frente a única loja de artigos de caça e pesca da cidade e com um café nas mãos.

Caça era realmente comum naquela região, até mesmo na pousada havia alguns animais empalhados e se olhasse o interior das lojas veria ao menos alguma decoração que remetesse a caça.

Sua entrada foi anunciada graças a um sino dourado que estava na porta.

— Você é o alfa que estão falando? — Um senhor perguntou sem o encarar e toda sua atenção focada em limpar uma estátua de madeira de coruja sob o balcão.

— Bem, talvez? — Respondeu monótono sem interesse em continuar no assunto.

A loja tinha armas do chão até o topo das paredes, já havia visto organizações melhores. Estavam expostos vários artigos para pesca, varas longas e cheia de apetrechos que alguns nem tinha visto ainda, inúmeros anzóis diferentes e uma estante com pacotes de iscas com redes penduradas e ao lado estava um cabeideiro com chapéus e coletes. Tudo com bastante desleixo, realmente não havia uma preocupação com organização ali.

Do outro lado estavam as armas para caça, bastante antiguidadas, mas para sorte Sukuna era um grande apreciador dessas, sua forma favorita de caçar era com um arco e flecha ou usando besta. Muitos diziam que aquilo era um atraso e tornava tudo mais complicado, mas a graça para Sukuna sempre foi essa: o valor de uma presa é estimado pelo seu esforço e força de vontade em tê-las, se quisesse facilidades então compraria um animal já morto.

As armas foram evoluindo, mas os animais não. Então no final, não faria diferença entre seu arco e uma escopeta.

— Veio procurar o lobo dos nortes, não é?

— É tão óbvio?

— Digamos que os alfas que vêm até aqui são todos são caçadores em buscas desses malditos.

— Que decepcionante, queria ser o primeiro.

O homem soltou um suspiro olhando pela primeira vez para o rapaz tatuado, ele tinha um olhar cansado e sua boca estava contraída.

— Nenhum deles teve sucesso.

— Hm? — Sukuna sorriu em descrença — Sério? Porque?

— Voltaram machucados, alguns à beira da morte — Uma mulher saiu da porta dos fundos — Esses lobos estão mais para demônios.

Ela tinha o mesmo olhar cansado. Ambos usavam a mesma aliança nos dedos, então só poderiam ser um casal.

— Que triste… Acho que eles deviam rever seus postos como alfas — Sukuna balançou as mãos — Mas fico feliz em ver que esses lobos são reais, quando me contaram e pesquisei parecia tão fantasioso.

O homem trocou olhar com a mulher numa comunicação muda, ela apenas abaixou os olhos e voltou para dentro.

— Você é um feiticeiro jujutsu, não é?

Sukuna ficou em silêncio. Jujutsu ainda era algo muito sigiloso, os feiticeiros eram heróis que passavam imperceptíveis na sociedade e era para continuar assim. Seria um pânico geral se as pessoas soubessem que existiam coisas que poderiam matá-las e elas nem ao menos podiam ver.

Mas ao contrário de coisas como identificar se alguém era alfa, ômega ou beta, achar um feiticeiro jujutsu era como uma agulha no palheiro. Energia amaldiçoada não era algo tão sensível para pessoas comuns.

— Por que não usa seu poder ao invés de armas? — O homem continuou o seu trabalho de polir a coruja.

— Não é tão emocionante, eu gosto da caça tradicional. A dificuldade faz tudo ficar desafiador, além disso, quando chega num nível como o meu, tudo fica tão chato por ser fácil demais.

— Confiante você, não acha? — Uma outra voz falou atrás de Sukuna.

O sino na porta não era para bater? Estranho. Atrás dele estavam dois rapazes, um parecia ser mais velho por volta dos vinte anos, o cabelo cinza comprido preso e que precisava de uma hidratação urgente, ele tinha todo o corpo costurado, cicatriz profundas e longas por onde olhasse. Ele sorriu, algo diabólico e feio, seus olhos azuis profundos não passavam a mesma sensação de empolgação que seu sorriso, eram mórbidos.

O menino ao lado era novo, um adolescente pequeno e magro de cabelos escuros com a franja escondendo metade do rosto, era uma figura totalmente diferente do amigo. Ele não sorria, na realidade, nem encarava Sukuna ou qualquer outra pessoa, seus olhos estavam presos no chão e parecia que ia chorar a qualquer momento.

Sukuna farejou o ar, o rapaz de cabelos cinzas era um alfa, mas sua presença era tão fraca quando de uma maldição nível quatro. O moreno era um beta e por um momento sua fragilidade quase o fazia parecer um ômega.

— Me chamo Mahito, este é Junpei — Ele apontou para o beta que era tão insignificante quando ele.

— Não achei que vivesse outras alfas por aqui — Havia um tom maliciosamente venenoso em sua voz.

Mahito apenas sorriu, mas não se incomodou em ser chamado de fraco por outra pessoa.

— Nós sabemos onde os lobos ficam, podemos levar você até lá.

— Mahito! — Junpei exclamou apreensivo, no entanto, recuou diante do olhar severo do amigo.

Estranho, conseguia sentir uma energia suspeita em torno daqueles dois, mas olhar aquela cara costurada e sorriso psicopata o fazia se sentir enjoado o suficiente para não fazer uma análise profunda. Mahito era nojento e Junpei um fracassado, os dois lhe davam ânsia.

Mas podia ser apenas um alarme falso. Não era bom confiar em seus instintos que os mesmo estavam loucos. Seu alfa interior estava inquieto, na realidade, desde que chegou ali uma estranha queimação no seu peito começou misteriosamente e toda vez que tirava cochilos, sonhava com imagens abstratas e um rosto sem definição, só conseguia notar os dois pequenos círculos verdes brilhantes no meio daquela face borrada. 

— Está com medo de ver os lobos sozinhos e quer um alfa para proteger você? — Sukuna debochou — Eu caço sozinho.

Mahito não parecia afetado por suas palavras, era um pouco irritante aquela passividade e falta de reação, tudo que recebia era apenas um arquear das sobrancelhas como se já estivesse acostumado com provocações.

— Se acha, tudo bem! Mas se perder a viagem, não diga que não avisei. Seria uma pena voltar de mãos vazias.

Sukuna soltou uma risada anasalada.

— Tudo bem, mas se não encontrarmos os lobos, vou encher você e seu amigo de porrada.

Junpei tremeu se agarrando ao braço de Mahito, aquele cara realmente tinha que vir junto? Ele seria apenas uma pedra no sapato.

— Vocês são loucos!

Quem seria a próxima pessoa a aparecer do nada? Sukuna revirou os olhos se voltando em direção ao caixa, o dono da loja continuava com sua expressão neutra apesar dos tremeliques de suas sobrancelhas.

Um cadeirante apareceu, ele empurrou as rodas até que ficasse em frente ao Ryomen. Ele estava enfaixado por completo, tufos de cabelo escuro saiam entre os vãos do tecido branco ao redor de sua cabeça. De seu rosto, era visível somente a boca fina e ressecada e os olhos profundos com olheiras.

— Lá vem o menino louco! — Mahito provocou com uma risada.

— Eu sei o que eu vi! — Ele gritou feroz.

— Filho, fique calmo.

— O perigo está nas sombras. Olhos verdes. Olhos verdes — Com um resquício de forças ele segurou nos braços de Sukuna e tentou se levantar da cadeira, Sukuna recuou como se aquele ser pudesse lhe transmitir alguma doença — A criança lobo!

— Querida, leve ele para dentro — O senhor gritou um pouco irritado.

A mulher correu até o rapaz, inúmeras desculpas saindo de sua boca enquanto tentava acalmar o filho e levá-lo novamente para dentro.

— Olhe as sombras, o perigo está nas sombras, não são os lobos! Não são os lobos — O garoto continuou a sussurrar "olhos verdes" repetidas vezes até desaparecer pelas portas do fundo.

A loja se mergulhou em um silêncio um tanto esquisito, um misto de vergonha vinda do dono, uma risada contida de Mahito, o ranger ansioso dos dentes de Junpei e a expressão confusa de Sukuna enquanto arrumava seu casaco. Aquilo havia sido tão aleatório que havia o deixado realmente surpreso.

— Nos encontramos na entrada da floresta às dez horas! — Mahito falou puxando Junpei para fora da loja — Não fique com medo!

Sukuna riu com a audácia, mas não retrucou.

 

 

 

 

A noite estava ainda mais fria mesmo que não caísse um floco de neve dos céus.

Sukuna olhou para os dois rapazes que estavam ao seu lado, Mahito a direita segurando uma espingarda calibre doze e óculos de visão noturna que estavam pendurados em cima da touca de lã. A esquerda, Junpei também segurava uma calibre vinte, apesar da apreensão em seu olhar e seu rosto descontente, sua postura dizia que estava acostumado com a caça.

— Vocês caçam? — Sukuna quebrou o silêncio durante a caminhada.

— Sim, não tem muitas coisas para se fazer por aqui — Mahito respondeu — Apesar que Junpei é mais habilidoso que eu.

— Pare de mentir.

O amigo apenas riu.

— Você tem uma arma, mas a besta é que está no melhor alcance — Junpei comentou.

— Eu prefiro caçar com arco e flechas.

— Eles serão eficientes contra os lobos?

— Bem, eu sempre digo que nossos antepassados podiam caçar grandes animais só com isso  então… — Balançou os ombros —Sigo apenas um único conselho de um amigo: basta encontrar o ponto fraco.

— Esse amigo deve ser bom — O homem de cabelos cinzas ponderou.

— Sim, mas não um caçador. Seria bastante bom se fosse um. Ele sempre acerta os lugares certos, mesmo com uma lâmina cega faz estrago.

Mahito soltou um som de admiração.

Eles continuaram a caminhar mergulhados no som da floresta como o som das corujas, as raposas correndo de um lado para o outro ou o vento que trazia uma brisa que congelava até seus ossos. Conforme mais profundamente iam, mais a neve no chão subia e deixava seu caminhar lento e exaustivo.

Sukuna olhou para céu, as árvores altas exibiam seus galhos secos e longos, a lua ao alto brilhava majestosa iluminando o seu caminho com sua luz azulada e havia poucas estrelas naquela noite que brilhavam intensamente no céu noturno.

— Então, sobre aquele rapaz que surtou na loja — Começou novamente uma roda de conversa — Ele se chama Kokichi Muta, mas todos o chamam de Mechamaru por algum motivo aí — Mahito respondeu de modo grosseiro, sempre que lembrava daquele pobre azarado sua cara se retorcia em algo que misturava nojo com zombaria.

— Kokichi é muito bom em robótica, essas coisas. Mas não adianta ter muito esse tipo de aptidão aqui e seus pais não tem condição de pagar uma bolsa mesmo que passem a vida toda economizando — Junpei falou amargurado.

Sukuna ficou em silêncio e aquela informação sendo esquecida rapidamente por ser algo realmente inútil para si. Não era como se ele fosse se comover por uma história triste de um desconhecido, já havia escutado muitas outras tão sofridas quanto.

— Mas você não deve querer saber disso, né? — Mahito era bom em decifrar as coisas ou só inteligente o bastante para saber o que importava — Uma noite Muta saiu para ir atrás dos lobos junto com outras pessoas, mas quando chegou na manhã seguinte ele apareceu todo ferrado, se arrastando e o pessoal que estava com ele morto. Aí ele surtou de vez e fica falando de um menino demônio que anda junto com os lobos.

Sukuna sentiu o estômago revirar mais uma vez, uma estranha visão de seu sonho vindo a mente, pontos negros grandes sobre um fundo branco e um menor logo atrás rabiscados como se fossem desenhados por uma caneta de tinteiro com traços rapidos e agressivos.

— Mas não ouvimos coisas assim de outras pessoas? — Junpei murmurou.

— Aposto que foi só um delírio porque só depois que o Kokichi falou sobre ele que surgiu outros relatos.

— Um menino que anda ao lado dos lobos? — Sukuna falou para si mesmo encarando a lua.

Seria uma maldição que foi criada pelo medo dos lobos após o incidente de Kokichi? Possivelmente. No máximo um nível três para causar estragos em alfas tão facilmente. Suspirou derrotado, estava ali para relaxar e não a trabalho, mas não podia ignorar a existência de uma maldição mesmo durante suas férias. Ossos do ofício.

Só achava engraçado ela assumir uma forma humana, geralmente tinham formas indefinidas e assustadoras ou relacionadas a origem do medo.

Seria impossível um humano viver ali pacificamente com animais selvagens e tivesse tempo para protegê-los todas as noites.

— Tem algo a mais sobre ele?

— Não sei, só falam que ele tem olhos verdes e caminha pelas sombras.

Definitivamente, uma maldição. Se realmente for verdade, teria que usar seus feitiços antes que alguns daqueles dois ficassem feridos ou pior – mortos, como os outros. A caçada agora tomou um outro ar, menos divertido e com cara de trabalho disfarçado e não duvidaria que fosse algo desse tipo pois não seria a primeira vez que iam para um lugar e tinha que entrar em combate.

Eles seguiram em silêncio atento aos sons da floresta e a qualquer movimento. Quando mais entravam, mais os troncos engrossavam e a presença de arbustos secos aumentava assim como a neve que agora vinha até o meio de suas coxas, o que era muito considerando que ele chegava a quase dois metros. Junpei o mais baixo, estava quase sendo engolido.

— Ouviram isso? — Mahito parou virando a cabeça para todas as direções.

Os três ficaram quietos, mas tudo ali estava extremamente silencioso. Nem mesmo o som das corujas ou do vento, tudo havia sumido e agora havia somente eles, neve e as árvores secas.

Sukuna apurou mais os ouvidos e então escutou... rosnados.

Eles se entreolharam enquanto rastejava em direção ao som, às armas em suas mãos prontas para serem usadas e um brilho típico da adrenalina da caça em seus olhos e sorrisos com o sangue fervendo em seus corpos. A lua brilhava sobre eles, o coração de Sukuna batia fortemente de ansiedade em seu peito e ele exibia um sorriso animado, parecia uma eternidade mas logo eles avistaram uma clareira. 

Então, lá estavam eles.

Uma matilha de lobos, os maiores que já vira, era inacreditável que fossem realmente tão monstruosos com seu tamanho irreal. Um só seria o suficiente para fazer uma capa para Itadori, Gojo e ele próprio. Alguns tinham a pelagem tão escura quando o céu noturno e os outros eram tão brancos que se mesclavam na neve. Ao todo haviam dez, os menores possivelmente filhotes estavam brincando, os mais velhos estavam devorando algum animal e podia ver uma poça de sangue a distância e uns só dormiam.

Seus olhos estavam brilhando maravilhados, como os de uma criança, ele não podia acreditar naquilo.

Uma nuvem passou sob a lua e então um manto escuro foi caindo sob a floresta, começando das montanhas, passando pela clareira, os grandes lobos e chegando até o trio de caçadores. Silenciosamente, as sombras tomaram cada centímetro da floresta cobrindo como um manto. 

— Mahito eu… — Nem conseguiu falar antes que o cheiro de ferro invadisse suas narinas.

O líquido vermelho escorreu de ambos os lados, manchando a neve. Sukuna se levantou rapidamente com sua respiração presa no meio do caminho, os dois corpos ao seu lado tinham o mesmo padrão: olhos abertos numa expressão de eterno choque e cortes tão profundos na garganta que metade havia sumido. Quem havia feito aquilo tão rápido sem que o feiticeiro ao menos pudesse sentir sua presença? Quem poderia fazer aquelas fissuras como se a carne fosse dilacerada por garras de lobo?

E por que somente ele não havia sido atacado ainda?

Ele olhou para trás, depois esquerda e direita, não havia uma única presença de maldição e um lobo seria impossível de fazer aquilo, eram grandes demais para não serem notados.

— Merda!

Olhos verdes. O perigo está nas sombras.

As palavras do rapaz gritaram em sua mente.

— O que você é? — Sukuna sussurrou observendo ao redor — Apareça!

O vento passou pelos seus cabelos e a nuvem passageira deixou com que a lua brilhasse novamente. A sombra de Sukuna se estendeu sob o chão subindo pelo tronco de uma grande árvore e então o fraco cheiro de flores seguido por pinheiro, um piscar e a imagem abstrata de seu sonho apareceu por um momento à sua frente.

Sukuna esqueceu como respirar, na realidade, era como se o ar fosse roubado de si. A primeira coisa que emergiu de sua própria sombra foi uma mão pálida de dedos longos, o sangue vermelho escuro entrando em contraste com sua pele e pingando. Depois os olhos verdes, uma selvageria tão louca e desenfreada quando a própria natureza de Sukuna e até mesmo a fera mais perigosa, aquelas íris verdes pareciam brilhar sedentas e assassinas como de um lobo, eram ferozes e por mais que não tivessem dentes, sentia que podia devora-lo. Elas brilharam para Sukuna. 

Por fim, apareceu o rosto sujo de sangue e de traços que eram contra toda a agressividade de sua aura, mas ainda sim hostis, aquele ser tinha o rosto fino como se fossem desenhados por pinceladas do pincel de cerdas mais macias de um pintor enamorado. Sob o luar ele saiu de sua sombra.

Era mais baixo que si, muito mais, por que então sentia que ele estava o vendo debaixo? Só então notou que estava de joelhos.

O garoto se aproximou um pouco sem desviar o seu olhar, ele analisava Sukuna tão profundamente que parecia ver sua alma. A cada passo deixava um rastro de sangue para trás no qual não era seu, Sukuna sabia, aquele sangue que escorria dele era de Mahito e Junpei.

Por fim, ele abaixou o capuz do enorme mando negro que usava revelando fios rebeldes que iam para várias direções. Agora com seu rosto totalmente iluminado podia dizer que definitivamente era a beleza mais surreal que havia visto. Sukuna nunca imaginou que veria encanto em algo tão selvagem. Até mesmo seu alfa interior havia sido comovido por aquilo e abaixado a cabeça para ele.

O rapaz olhou para os lobos e então para a lua, sua respiração ficou mais profunda e seu peito projetou-se para frente enquanto de sua boca saiu um uivo, um som idêntico ao de um lobo! O caçador sentiu os pelos se arrepiarem com aquela visão e então ouviu os animais atrás deles responderem ao chamado, assim que se virou aqueles lobos já haviam sumido deixando somente os restos de seu jantar.

Sukuna piscou novamente e então moveu seus dedos para lançar sua técnica, mas quando aquele menino piscou e inclinou a cabeça franzindo a testa como se estivesse curioso, sua mão tremeu.

Não era maldição, era um humano.

— Saia daqui — Ele falou.

Sua voz era arrastada e baixa, com um sotaque no fundo que não era daquela região mas sim pelos tempos de desuso. Aquela voz soava mais como um grunhido furioso do que um alerta, como se aquele menino não usasse a fala para outra coisa além de uivar e rosnar.

— Se voltar. Eu matar você! — A falta de conjugação confirmou sua teoria.

Novamente, a lua foi escondida por uma nuvem. O menino apenas girou seu calcanhar fazendo seu enorme casaco voar e o cheiro de pinheiro com um leve toque doce borrifando novamente em Sukuna.

Desapareça, feiticeiro.

 


Notas Finais


Ainda não acredito, gente vocês ficariam chocados mas eu já falei muito mal de abo 😭 mas quando tava fazendo o plot vi que precisava de algo a mais aí notei

Era o Chernobyl ABO 

Já viu uma obra ABO saudável ou feliz? Acho que não! Essa fic também não é excessão 


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