A manhã nascia bem calma, mãos frias e delicadas acariciavam os ombros de Gon, pela delicadeza só podia ser Killua, uma respiração compassada soprava em seu ouvido, e ele soltou um murmúrio de satisfação, sentindo a mão fria e macia percorrer seus ombros, passando pelo pescoço e chegando até o rosto. Não ousou abrir os olhos, queria que aquele carinho fosse eterno, a ideia de que em um momento a mão de Killua pararia de toca-lo lhe pareceu até meio assustadora, mas resolveu não pensar assim e se viu entregue aos afagos do amigo.
O problema principal não era esse...
Killua sentiu a pele arrepiar, uma mão forte e decidida, levemente fria tocava seu rosto fazendo leves movimentos circulares, acariciando suas bochechas, só podia ser Gon. Continuou de olhos fechados, apreciando a sensação, até que falou:
-Huumm.. Gon, obrigado pelo carinho mas acho que temos que nos levantar -odiou ter que dizer aquilo, porém era a mais pura verdade. O amigo, os olhos colados no travesseiro de repente levantou a cabeça, confuso, e falou:
-Mas, Killua, eu não estou fazendo carinho em você, é você que está -abriu os olhos, a presença das mãos sumiram e Killua abriu os olhos também, assustado:
-Não, eu nem toquei em você essa manhã, estava sentindo suas mãos no meu rosto... -os dois amigos começaram a ficar cada vez mais intrigados.
-Se nós dois sentimos isso, mas nenhum de nós estava fazendo... Q-quem foi? -Gon olhou em volta, já se assustando, e Killua se ergueu de sobressalto, numa postura defensiva.
-Fui eu. Bom dia Gon, olá Killua -uma voz cantarolou, estalando a língua e umedecendo os lábios com a mesma. O som vinha de cima.
Os dois oharam para o teto, da qual um homem estava suspendido por uma aura de borracha rosada e quase que sólida, como se estivesse sentado numa nuvem, dava um sorriso e os olhos estavam semicerrados, os cabelos coloridos quase tocando no teto.
-H-hisoka! -Gon falou, já estava ficando nervoso- o que você quer?
-Seja mais educado, Gon -ele deu um sorriso debochado, revirando os olhos- primeiro, quero meu bom dia, por favor -olhou os dois com intensidade e um olhar divertido, não teria pressa alguma e poderia passar o dia enrolando eles.
-Ah, vá se danar -Killua interrompeu- Eu quero saber o que você está fazendo aqui, por que estava nos observando enquanto dormíamos, e se sequer passou na sua cabeça tocar na Alluka, é hoje que você não escapa vivo daqui -o olhar de Killua tornou-se rapidamente sombrio, a aura de assassino profissional se manifestando, e Gon engoliu em seco, se Killua ficasse com raiva coisa boa não iria acontecer.
-Duas coisas para você, Killua: -Hisoka praticamente babou o nome dele, falando cada letra numa entonação variada para acentuar bastante o próprio, num tom de brincadeira maldosa- você é fraco, Illumi não te ensinou tão bem que não deve enfrentar o inimigo mais forte, por que ainda não bateu em retirada? Desculpe, mas suas ameaças vem dos seus medos infantis, são só palavras vazias, Kill -murmurou deliciosamente o nome dele, e Killua perdeu a compostura em segundos, só Illumi e Gon o chamavam assim, o medo se estampou em sua face- eu não tenho medo de você, Kill, estou apenas me deliciando com suas ameaças sem rumo, você é um cão que late, mas não morde -riu, e Gon instintivamente ficou na frente de Killua, na expectativa de protegê-lo.
-Segunda coisa: não se preocupe, não machuquei aquela coisa que você chama de irmã, não gosto daquela fruta -murmurou, e Gon ficou confuso:
-Desde quando Alluka é uma fruta? Que história estranha, Hisoka!
-Ah, vocês não poderiam entender -Hisoka falou num ar meio desapontado, então olhando para os dois e murmurando, como se pensasse em voz alta- Por que as frutas verdes são tão tentadoras?
Lambeu os lábios, tinha um olhar de fome especialmente para Gon, o fitava como se Gon fosse um pobre animal indefeso e ele o lobo, prestes a devorar a pobre presa inocente e pura, estava louquinho por isso, mas sabia que precisava esperar um tantinho mais, a fruta não tinha amadurecido corretamente, ah como essa tentação o fazia sofrer, mas em seu espírito de masoquista era até bom, ter de esperar por Gon enquanto morria de vontade de comer e engolir cada parte do corpo dele, esses minutos que se escorriam longos e eternos, fazendo seu peito apertar e o baixo ventre pulsar tiravam sorrisos cada vez mais perversos de Hisoka.
Killua se recompôs, seu olhar de ódio era mais que evidente, mas Gon segurou firme o seu braço, ainda sem tirar os olhos de Hisoka por um segundo, concentrou a aura nos olhos, Gyo, desde sua última luta com Hisoka aprendera que o mesmo poderia tirar vantagem sobre ele se utilizasse do Gyo, afinal Hisoka só tinha tanta vantagem usando o Bungee Guum quando o oponente nem sabia que estava capturado pela aura elástica. Isso causava medo em muitos, oferecendo diversas possibilidades para que Hisoka ganhasse a luta.
Killua fez o mesmo, e os dois viram fios finos da aura de Hisoka presos em seus rostos e membros superiores.
-MERDA HISOKA! -Killua falou alto, fazendo até Gon se assustar, mas o mágico o olhava com surpresa, dando um sorriso longo e sem mostrar os dentes, estreitando ainda mais os olhos e arqueando uma sobrancelha.
-Killua, você está bem? -Gon tirou os olhos de Hisoka por um segundo para olhar o amigo, Killua parecia um tanto quanto abalado.
Fora tempo suficiente para Hisoka puxar sua aura elástica, e Gon foi arremessado do chão ao teto, ficando suspendido no ar, fios do nen modelavel de Hisoka envolvendo seu corpo, apertando tanto que ele não conseguia se mover.
-Gon, vou ver como a Alluka está -balbuciou as palavras, por algum motivo Hisoka havia soltado a aura que prendia Killua, ele percebera isso e era o momento perfeito para fugir, quer dizer, olhar sua irmã.
Vejamos, pela lógica de Killua, se Hisoka estava ali era porque Illumi poderia estar por perto. E considerando que os dois estavam presos no quarto pelo nen de Hisoka, quem sabe Illumi não estaria matando a irmã dele nesse exato momento, aproveitando de sua ausência?
Killua sabia bem do ódio de Illumi por sua maninha, mas enquanto corria em direção ao quarto outro lapso de pensamento quase o fez voltar.
E se na verdade Hisoka o tivesse feito pensar assim, para que fosse ao quarto de Alluka, enquanto Gon estava lá com o mágico, sozinho, poderia muito bem Illumi entrar no quarto aproveitando sua ausência para liquidar seu amigo?
Era melhor voltar e proteger Gon ou ir ver se sua irmã estava bem?
Não sabia o que fazer, mas a adrenalina no corpo movia suas pernas por conta própria, ele arrombou a porta do quarto dela e mal sentiu a dor quando o quadril bateu violentamente na madeira.
Alluka estava de pé, a cabeça baixa.
Killua, tremendo, colocou a mão delicadamente no ombro da irmã, sussurrando:
-Você está bem?
-Killua, o que o Hisoka esta fazendo machucando o Gon?
"Oh não" foi o que conseguiu pensar "Era mais um truque sujo de Hisoka, ele estava aproveitando que eu não estou lá para machucar o Gon, eu praticamente o abandonei nas garras daquele mágico".
O coração dele apertou, pegou Nanika e colocou nas costas, e bateu em retirada para voltar para o quarto.
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Assim que Killua saiu do quarto, Hisoka puxou Gon para perto de si, estava praticamente lambendo os lábios.
-O que você quer!? -Gon falou alto.
-Parceria -Hisoka murmurou- Não, uma amizade, querido Gon, por que não se alia a mim? Por que continua com aquele assassino?
-Você fala como se também não fosse um. Ou melhor, você não é um assassino, é um crápula total, um psicopata -Gon rosnou, estava com raiva daquela insinuação de que Killua era um assassino.
-Ora Gon, não precisa ser tão malvado comigo -Hisoka riu- Vamos, posso ser útil a você mais do que aquele garoto é.
-EU NÃO VOU ABANDONAR O KILLUA! -Gon tentou gritar, mas Hisoka tampou sua boca com a aura de borracha.
-Caladinho Gon, vamos, não gosto de ver crianças esperneando. Quer doces? Posso te dar tudo o que quiser e até mais -Hisoka falava enquanto praticamente salivava, não iria conseguir se conter por tanto tempo.
-Eu nunca iria te machucar, Gon. Vamos ser amigos? -a forma como falou a última palavra, uma forma um tanto quanto sugestiva fez Gon sentir medo. Killua estava sozinho, talves com Illumi, e ele precisava se livrar daquele pedófilo.
Hisoka soltou os fios de aura que prendiam Gon, fazendo-o cair ao chão, mas manteve sua boca fechada pelo nen elástico.
-Se não for por bem, vai por mal mesmo -Hisoka começou a se alongar- vou te castigar um pouco,. cachorrinho -olhou no fundo dos olhos de Gon, sorrindo como nunca.
Gon estava,por sinal, mais confuso que cego em tiroteio. Falou:
-Hisoka, você tomou alguma coisa estranha hoje? Falando que a Alluka é uma fruta e agora me chama de cachorro? Você está louco?
-Claro. Louquinho louquinho para fazer uma amizade com você.
Foi aí que Killua entrou, com Nanika nas costas.
Killua estava com um olhar de ódio. Como Hisoka tinha machucado Gon? O que pretendia fazer?
-K-Killua! -Gon arfou, a voz abafada pelo Nen do mágico.
Nanika sorriu, olhando no fundo dos olhos de Hisoka, e pediu:
-Me dá o seu coração.
Parecia que o mundo havia parado. Tudo ficou cinza, parecia que o tempo não existia mais, porém Hisoka se manteve firme.
-Não vou dar não -falou, encarando a garota com firmeza.
-Me dá o seu braço direito -Nanika pediu.
-Como quiser -Ele deu do ombros, arrancando o braço e sentindo o sangue escorrer com força, manchando o chão.
Claro, Gon e Killua estavam totalmente assustados com isso. Se Hisoka atendesse aos pedidos, poderia pedir também. E eles nem queriam imaginar as atrocidades que o mesmo pediria.
Usando o braço que restará, entregou o membro arrancado, deixando ele no chão ao lado da menina.
-Agora me dá o seu braço esquerdo -Ela mandou, e Hisoka observou tristonho o braço restante. Pensava em voz alta:
-Uh, agora com que braço eu vou arrancar este?
Nanika ouviu sua reclamação e fez questão de arrancar ela mesma o braço restante de Hisoka. Mais sangue no chão.
-Hora de fazer meu pedido -ele riu- torne o Gon só meu.
Os dois amigos estremeceram, e Nanika respondeu, a fala compassada parecia que durava uma eternidade. Tensão no ar:
-Pedido impossibilitado.
Era a primeira vez na história que Nanika teve que descumprir as próprias regras.
Mas havia um motivo que não permitiria aquele desejo, um motivo da qual nem Nanika conseguia controlar.
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